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PROBLEMAS MENTAIS & DO COMPORTAMENTO Julio Quaresma 2022 FPME Eunápolis – BA CONTEÚDO Clínica psiquiátrica ............................................................................................................................. 3 Semiotécnica .................................................................................................................................. 3 Transferência & contratransferência ........................................................................................... 3 Comunicação não verbal............................................................................................................. 3 Comportamento das principais síndromes ................................................................................... 5 Funções elementares ....................................................................................................................... 5 Consciência ................................................................................................................................ 0 Atenção ...................................................................................................................................... 2 Orientação ................................................................................................................................. 3 Vivências do tempo & espaço ...................................................................................................... 4 Sensopercepção .......................................................................................................................... 5 Memória .................................................................................................................................... 6 Afetividade ................................................................................................................................ 8 Vontade, psicomotricidade & ação ............................................................................................ 10 Pensamento .............................................................................................................................. 11 Juízo de realidade ..................................................................................................................... 13 Linguagem ............................................................................................................................... 14 Exames complementares ............................................................................................................... 15 Principais psicopatologias ................................................................................................................. 16 Fobia & fobia social ...................................................................................................................... 16 Definição ................................................................................................................................. 16 Transtorno de ansiedade generalizada ............................................................................................ 17 DEfinição ................................................................................................................................. 17 Diagnóstico + Diferencial......................................................................................................... 17 Tratamento .............................................................................................................................. 17 Abuso & dependência de álcool ..................................................................................................... 18 DEfinição ................................................................................................................................. 18 Diagnóstico + Diferencial......................................................................................................... 18 Tratamento .............................................................................................................................. 19 Transtorno depressivo maior ......................................................................................................... 20 Definição ................................................................................................................................. 20 Diagnóstico .............................................................................................................................. 20 Tratamento .............................................................................................................................. 20 Transtorno afetivo bipolar ............................................................................................................. 21 Definição ................................................................................................................................. 21 Diagnóstico .............................................................................................................................. 21 Tratamento .............................................................................................................................. 22 Ajustamento/Adaptação ............................................................................................................... 23 Definição ................................................................................................................................. 23 Diagnóstico .............................................................................................................................. 23 Tratamento .............................................................................................................................. 23 Espectro esquizofrênico ................................................................................................................. 24 Definição ................................................................................................................................. 24 Diagnóstico .............................................................................................................................. 24 Tratamento .............................................................................................................................. 24 Delirium....................................................................................................................................... 25 Definição ................................................................................................................................. 25 Diagnóstico .............................................................................................................................. 25 CLÍNICA PSIQUIÁTRICA Semiotécnica TRANSFERÊNCIA & CONTRATRANSFERÊNCIA A psique humana é de caráter imutavelmente subjetiva e variável de acordo com o sujeito. Assim sendo, é necessário a compreensão de que, para o cuidado e tratamento dos transtornos da psique, as vivências do próprio terapeuta ou psiquiatra são passíveis de interferências na sua conduta. Diferente das patologias infecciosas ou traumas, onde são geralmente delimitadas com critérios claros, os transtornos mentais possuem uma dimensão subjetiva, altamente influenciada pelas vivências do próprio indivíduo, o qual também pode sofrer influência das vivências do terapeuta ou psiquiatra ao ser tratado. A transferência é o fenômeno onde o paciente atribui ao seu cuidador o papel de uma pessoa a qual conhecia durante a vida passada. Esse fenômeno foi primeiro descrito por Freud, o qual acreditava que o sujeito adulto não passava dos hábitos infantis, fazendo do terapeuta uma figura de pai ou mãe. Por outro lado, também existe a contratransferência, onde o terapeuta atribui ao seu paciente um papelde uma pessoa que já conhecera durante a vida. Esses fenômenos podem influenciar negativamente sobre o desfecho de um tratamento, porém o conhecimento a respeito e a devida reflexão sobre pode minimizar o impacto. COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL Entre os aspectos a serem analisados durante a entrevista psiquiátrica, os sinais não verbais emitidos pelo paciente são um dos mais informantes. Desde a aparência física até a linguagem, a maneira com que o paciente se expressa por meios sem ser a palavra dita pode trazer informações sobre seu estado mental e sua possível condição. Aparência física: A aparência física é um sinal não verbal muito influente. Inclui-se aqui o corpo, forma física, altura, peso, cabelos, cor e tonalidade da pele, tipo de pele, beleza ou feira física. Além do aspecto físico, também deve ser levado em conta as roupas, maquiagem, óculos, adereços e acessórios e pertences, além dos odores emitidos (tanto pelo corpo, pelo hálito ou perfumes utilizados. Indivíduos com o transtorno depressivo maior tendem a não apresentar uma aparência física marcante, mas podem ter menos cuidados com a vestimenta, higiene pessoal e postura devido a diminuição do pragmatismo e volição. Mulheres com transtorno bipolar em fase maníaca podem apresentar um uso excessivo de maquiagem ou joias. Em transtornos esquizoafetivos a automutilação e cicatrização em membros distais é comum. Proxêmica: A proxêmica é a utilização e percepção do espaço e hierarquia que as pessoas estabelecem entre si, e como se uso e reage a essa disposição em relacionamentos humanos. Inclui também a ocupação do espaço, posicionamento em uma sala relacionados a gênero, status, papéis sociais, formação cultural, intensão ou recusa a se comunicar e interagir, afabilidade ou hostilidade entre as pessoas. Crianças com transtorno opositor desafiante (TOD) tem como uma característica central a agressividade, desprezo a regras sociais convencionais ou estabelecidas e discussão com figuras de autoridade. O transtorno afetivo bipolar e a esquizofrenia podem cursar com delírios de grandeza, onde o indivíduo comporta-se como uma figura de alta potência ou uma figura religiosa/histórica. Movimentos do corpo: Um dos aspectos mais importantes da comunicação não verbal são a maneira de expressão através da postura, gestos, toques, expressões faciais e movimentos oculares. Entre esses itens estão: Gestos relacionadas à fala (ou gestos ilustradores) – Quando um indivíduo utiliza do corpo para enfatizar uma palavra ou pensamento; Gestos independentes da fala – Incluem os gestos que substituem palavras, símbolos, expressões, xingamentos etc., além dos gestos de autotoque ou autoconforto, que podem denotar algum grau de tensão ou ansiedade (pentear o cabelo com os dedos, roer unhas, etc.); Postura – A postura pode ser indício do estado emocional e do nível de engajamento na conversa com o locutor. Uma postura erguida para frente é indicadora de empatia e maior interesse, a postura tensa e rígida é sinal de ansiedade ou raiva e a postura curvado geralmente indica tristeza. Comportamento tátil – O modo, frequência e intensidade com que as pessoas se tocam são importantes. É variável de acordo com a cultura, porém vale ser analisado. O aperto de mão (firme, forte, fraco, largado, demorado), abraço (longo, forte) e erotização do contato são indicadores do estado mental do indivíduo. Expressões faciais – O rosto é um lócus primário do afeto. Os olhos, sobrancelhas e boca são as principais vias de propagação de informação emocional, e a partir delas são revelados os afetos básicos como tristeza, raiva, alegria, surpresa, medo e nojo. Paralinguagem: Qualidades vocais e vocalizações, latência entre respostas, pausas que o indivíduo produz ou deixa de produzir podem refletir o arranjo emocional interno. A paralinguagem é sobretudo como se diz algo, e não sobre o que é dito. Pacientes em mania podem se apresentar logorreicas enquanto pacientes em depressão grave podem ter uma vocalização extremamente fraca ou ausente. COMPORTAMENTO DAS PRINCIPAIS SÍNDROMES Depressão Redução da expressividade afetiva; contato ocular diminuído; redução global das interações sociais; face melancólica ou apática; boca e ângulo da cabeça curvado para baixo; diminuição global dos gestos e movimentos; voz baixa e/ou monótona com pouca expressividade; desalinhamento postural. Ansiedade Expressão facial tensa, preocupada ou amedrontada; tensão muscular; descarga importante (luta ou fuga); palidez da face, midríase, ereção dos pelos, aumento do ritmo cardíaco; suor frio; tremores de extremidades (mãos, dedos, lábios); respiração dificultada, sensação de sufocamento; voz tensa e hesitante; hipervigilância. Esquizofrenia Emoções desagradáveis intensas, porém, sem expressão; gestos e movimentos faciais indicadores de medo e desconfiança; desorganização mental e comportamental intensa; diminuição da expressão afetiva; diminuição dos gestos e redução ou imobilidade na expressão facial. Autismo Ausência por interesse por seres humanos; evitação do contato ocular com outras pessoas; dificuldade em expressar e entender sinais não verbais; dificuldade na regulação da interação social; ausência de postura antecipatória (estender os braços para o abraço); resistência ao toque ou abraço; estereotipias motoras. Mania Comportamento global muito ativo, alegre, eufórico ou irritável; proxêmica alterada; pode não respeitar a distância mínima de corpo com corpo; perda da inibição social; alegrai e grandeza, contentamento transbordante; vestimentas chamativas, mais maquiagem, adereços corporais; hiperatividade; movimentos incessantes. Funções elementares É necessário o estudo das funções elementares e suas alterações isoladamente, mas vale ressaltar que a separação da vida e da atividade mental em áreas ou funções psíquicas é um procedimento essencialmente artificial. Trata-se de uma estratégia de abordagem das condições mentais bastante útil, mas pode levar a simplificações inadequadas e enganos. Entre as funções elementares estão: Consciência Atenção Orientação Vivências do tempo e do espaço Sensopercepção Memória Afetividade Volição Pensamento Juízo de realidade Linguagem CONSCIÊNCIA Definições Neuropsicológica – Estado vígil; grau de clareza do sensório; nível de consciência; Psicológica – Soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado momento; campo da consciência; dimensão subjetiva da atividade psíquica; capacidade de entrar em contato com o meio ambiente, perceber e conhecer os seus objetos; Ético-filosófica – Capacidade de tomar ciência dos deveres éticos e assumir as responsabilidades, os direitos e os deveres concernentes a essa ética. Alterações normais As alterações normais da consciência são regidas pelos ritmos circadianos, definido como oscilações endógenas e autossustentadas do ritmo biológico num período de 24 horas. Entre as propriedades do dos ritmos circadianos estão: 1. Sincronia com pistas ambientais (nível de luminosidade); 2. Modulação da homeostase interno do cérebro e outros órgãos e sistemas; 3. Expressado em vários níveis do funcionamento do organismo, desde o nível molecular até os sistemas sociais aos quais o indivíduo pertence. O sono se define como a principal alteração normal da consciência. O sono se caracteriza por: 1. Ser um estado reversível, tipicamente expresso pela postura de repouso, comportamento quieto e redução da responsividade; 2. Ter uma arquitetura neurofisiológica complexa; 3. Ter duração e intensidade afetados por mecanismos de regulação homeostáticos; 4. Ser afetado por experiências ocorridas durante a vigília; 5. Ter efeitos restauradores e transformadores que otimizam funções neurocomportamentais da vigília. Alterações patológicas Em diversos quadro neurológicos e psicopatológicosé possível notar a diminuição progressiva do nível de consciência, desde o estado normal, vígil, desperto, até o estado de coma profundo, no qual não há qualquer resquício de atividade consciente. Os níveis de consciência, além de poder ser quantificado pela escala Glasgow, são classificados como: 1° Grau – Obnubilação: Turvação da consciência ou sonolência patológica leve. Rebaixamento leve a moderado. Diminuição do grau de clareza do sensório, lentidão da compreensão e dificuldade de concentração. 2° Grau – Torpor: Rebaixamento mais acentuado. Sonolência evidente. Responde ao ser chamado. 3° Grau – Sopor: Marcante e profunda turvação da consciência. Sonolência intensa, da qual o indivíduo pode ser despertado apenas por um tempo muito curto. Paciente sempre se mostra intensamente sonolento, quase em coma. 4° Grau – Coma: Perda completa da consciência. Grau mais profundo de rebaixamento de consciência. Não é possível qualquer atividade voluntária consciente. A lipotimia se caracteriza por perda parcial e rápida da consciência, durando apenas segundos. Geralmente cursa com visão borrada, palidez da face, suor frio, vertigens e perda parcial e momentânea do tônus muscular dos membros, com ou sem queda do corpo ao chão. O termo síncope designa um colapso súbito com perda abrupta e completa da consciência e perda total do tônus muscular, com queda completa ao chão. Entre as possíveis causas de perda abrupta de consciência estão: Hipotensão ortostática Hipoglicemia Síncope vasovagal Hipocapnia por hiperventilação Síncopes por condições cardíacas Crise dissociativa abrupta e curta Crises convulsivas (epilepsia) Síncope por tosse intensa Síncope por micção, defecação, deglutição ou dor visceral ATENÇÃO Definição A atenção pode ser definida como a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado. Portanto, a atenção é o conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis e significativas, podendo ser organizado em 4 componentes: 1. Início da atividade consciente e focalização; 2. Atenção sustentada e nível de alerta (vigilance); 3. Atenção seletiva ou inibição de resposta a estímulos irrelevantes; 4. Capacidade de mudar o foco de atenção (set-shifting). Semiotécnica A atenção está intrinsecamente relacionada ao estado de consciência. Um déficit no nível de consciência invariavelmente afetará o nível de atenção. A atenção, porém, pode sofrer de outras alterações que não necessariamente implicam num rebaixamento do nível de consciência. Durante a entrevista psiquiátrica a capacidade de atenção pode ser avaliada por meio de testes de desempenho contínuo. Um dos mais utilizados é o CPT III (Conners’ Continuous Performance Test), realizados para detecção de TDAH em adultos e crianças. Semiotécnica simplificada O paciente... Tem dificuldade para se concentrar? Distrai-se com facilidade? Não escuta quando lhe falam? Tem dificuldade para terminar tarefas? Não consegue organizar as tarefas? Perde seus pertences com frequência? ORIENTAÇÃO Definição A capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente é elemento básico da atividade mental e fundamental para a sobrevivência do indivíduo. Divide-se a orientação em duas capacidades primordiais: autopsíquica e alopsíquica. Orientação autopsíquica – Relação do indivíduo a si mesmo. Revela se o sujeito sabe quem é ou foi condicionado a ser: nome, idade, profissão, estado civil, com quem mora, etc. Orientação alopsíquica – Capacidade de orientar-se em relação ao mundo, quanto ao espaço ou tempo. Alterações da orientação Desorientação por redução do nível de consciência Também denominada desorientação torporosa ou confusa, ocorre quando o indivíduo está desorientado por rebaixamento ou turvação da consciência. Produzem alterações da atenção, concentração, memória recente e de trabalho, consequentemente afetando a capacidade de percepção e retenção dos estímulos ambientais. Desorientação por déficit de memória Também denominada desorientação amnéstica, o indivíduo não consegue reter as informações ambientais básicas em sua memória recente. Desorientação apática/abúlica Ocorre por apatia marcante e/ou desinteresse profundo. O indivíduo torna-se desorientado devido a uma marcante alteração do humor e da volição, comumente visto em quadros depressivos graves. Desorientação delirante Ocorre em indivíduos que se encontram imersos em um profundo estado delirante, vivenciando ideias delirantes muito intensa, crendo com convicção pela que estão habitando o lugar (e/ou tempo) de seus delírios. Semiotécnica Orientação temporal: Que dia é hoje? Qual o dia da semana? Qual o dia do mês? Em que mês estamos? Em que ano estamos? Qual a época do ano (começo, meio, fim)? Aproximadamente que horas são agora? Orientação espacial: Onde estamos? Como se chama a cidade em que estamos? E o bairro? Orientação autopsíquica: Quem é você? Qual o seu nome? O que faz? Qual a sua profissão? Quem são seus pais? Qual a sua idade? Qual o seu estado civil? VIVÊNCIAS DO TEMPO & ESPAÇO “O ESPAÇO E O TEMPO SÃO AS ESTRUTURAS DENTRO DA QUAL A MENTE É CONSTRANGIDA A CONSTRUIR A SUA EXPERIÊNCIA DA REALIDADE.” - Immanuel Kant Definição As vivências do tempo e do espaço constituem-se como dimensões fundamentais de todas as experiências humanas. O ato de ser, de modo geral, só é possível nas dimensões reais e objetivas do espaço e do tempo. Assim, o tempo e o espaço são condicionantes fundamentais do universo humano e estruturantes básicos da condição humana. Alterações na vivência do tempo Nos quadros depressivos leves a graves, a passagem do tempo é percebida como mais lenta e vagarosa. Em contrapartida, nos episódios maníacos, o tempo é percebida de forma mais rápida e acelerada. Durante as intoxicações por alucinógenos ou psicoestimulantes (cocaína, anfetamina, etc.), nas fases agudas e iniciais das psicoses e em situações emocionais especiais e intensas, pode ocorrer uma deformação acentada da percepção da duração temporal, denominada ilusão. Alterações na vivência do espaço No estado de êxtase, há perda das fronteiras entre o eu e o mundo exterior. Nesse caso, o sujeito sente-se como se estivesse fundido ao mundo exterior. Quadro maníaco – Espaço dilatado e amplo, invadindo o espaço alheio. Desconhece de fronteiras espaciais e vive como se todo o espaço exterior fosse seu. Quadro depressivo – Espaço encolhido, contraído, escuro e pouco penetrável pelo indivíduo e pelos outros. Quadro paranoide – Espaço invadido por aspectos ameaçadores, perigosos e hostis do mundo. Em agorafobia, o espaço exterior é como sufocante, pesado, perigoso e potencialmente aniquilador. SENSOPERCEPÇÃO Definição Sensação – Fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados, originados fora ou dentro do organismo, produzindo alterações nos órgãos receptores, estimulando-os. Fenômeno passivo. Percepção – Tomada de consciência, pelo indivíduo, do estímulo sensorial. Fenômeno ativo. Alterações da sensopercepção As alterações qualitativas da sensopercepção são as mais importantes da psicopatologia. Entre elas estão: as ilusões, as alucinações, a alucinose e a pseudoalucinação. Ilusão – Percepção deformada, alterada, de um objeto real e presente. Sempre há um objeto externo, real, gerador do processo de sensopercepção, mas tal percepção é deformada, adulterada, por fatores patológicos diversos. Tais fatores podem ser o rebaixamento do nível de consciência, estados de fadiga grave ou intenção marcante, ou alguns estados afetivos. Alucinação – Percepção de um objeto, sem que esteja presente, sem o estímulo sensorial respectivo. Ou seja, percepção clara edefinida de um objeto (voz, ruído, imagem) sem a presença de objeto estimulante real. Alucinose – Fenômeno pelo qual o paciente percebe a experiência alucinatória como estranha a sua pessoa. O indivíduo tem percepção imediata de que determinada sensação é alucinatória e fora do normal, comum em quadros psico-orgânicos como intoxicação por substâncias alucinógenas (LSD, psilocibina, mescalina, antocolinérgicos, ayahuasca, etc.). Semiotécnica Alucinações auditivas: Tem ouvido vozes de pessoas estranhas ou conhecidas? Entende o que dizem as vozes? Vêm de perto ou de longe? São vozes desagradáveis? Têm medo? Alucinações visuais: Tem visto algo estranho que lhe chamou atenção? Animais, homens, figuras, sombras, fogo, fantasmas, demônios ou coisas do tipo? Se aproximam ou se afastam? Sente medo? De onde vêm? MEMÓRIA Definição Capacidade de codificar, armazenar e evocar as experiências, impressões e fatos que ocorrem durante a vida. Alterações patológicas da memória Alterações quantitativas: Hipermnésia – Memória autobiográfica quase perfeita. Relacionado à hipertrofia amigdaliana e a conectividade entre a amígdala e o hipocampo. Amnésia ou hipomnésia – Denominada, genericamente, como a perda da memória, seja da capacidade de fixar, manter ou evocar antigos conteúdos mnêmicos. De forma geral, o indivíduo que sofre de lesão ou doença cerebral, perde a memória na seguinte sequência: perde primeiro elementos recentemente adquiridos, depois os mais antigos → perde primeiro elementos mais complexos e, depois, os mais simples → perde primeiro os elementos mais estranhos, menos habituais, só posteriormente, os mais familiares. A amnésia também pode ser anterógrada (sem fixação após trauma ou evento) e retrógrada (sem evocação de eventos anterior ao trauma ou evento). Alterações qualitativas: Ilusões mnêmicas – Acréscimo de elementos falsos a elementos da memória de fatos que realmente aconteceram. Alucinações mnêmicas – Criações imaginativas, dotadas de sensorialidade, marcadamente com a aparência de lembranças ou reminiscências que não correspondem a qualquer elemento mnêmico, a qualquer lembrança verdadeira. Confabulações – Recordações falsas (quanto ao conteúdo ou ao contexto), a qual o indivíduo não sabe da falsidade dessas recordações, que sejam plausíveis ou parecidas com o que poderia ter acontecido, mas que não aconteceu. Alterações do reconhecimento: Agnosia – Déficits do reconhecimento de estímulos sensoriais de objetos e fenômenos que não podem ser explicados por um déficit sensorial elementar, por distúrbios da linguagem e atenção ou por perdas cognitivas globais. São sempre de modalidades sensoriais específicas, no qual o indivíduo perde a capacidade de reconhecimento (de objetos, faces, sons, etc.) por determinada via sensorial (visão, audição ou tato). As mais importantes são as agnosias visuais e auditivas. Semiotécnica Memória recente: Há quanto tempo está na enfermaria? Onde dormiu na última noite? Onde esteve ontem? O que comeu ontem? A que horas se levantou da cama? Há quanto tempo estamos conversando? Memória remota: Estado civil? Com que idade casou? Como se chama seu cônjuge? Que idade tem seu cônjuge? Em que cidade casou? Tem filhos? Como se chamam? Que idade têm? AFETIVIDADE Definição A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas. Embora seja controversa a ordenação das experiências da vida afetiva, distinguem-se cinco tipos básicos de vivências afetivas: Humor, emoção, sentimento, afeto e paixão. Humor – Também conhecido como estado de ânimo, é caracterizado como o tônus afetivo do indivíduo, o estado emocional basal e difuso em que se encontra a pessoa em determinado momento. Emoções – Reações afetivas momentâneas agudas desencadeadas por estímulos significativos. Assim, e emoção é um estado afetivo intenso, de curta duração, originando geralmente como reação do indivíduo a certas excitações internas ou externos, conscientes, não conscientes ou inconscientes. Sentimentos – Estados e configurações afetivas estáveis. Comparado às emoções, são mais atenuados em sua intensidade e menos relativos a estímulos passageiros. Os sentimentos estão comumente associados a conteúdos intelectuais, valores, representações e geralmente não implicam concomitantes somáticos. Afetos – O tônus emocional que acompanham uma ideia ou representação mental. Paixões – Estado afetivo extremamente intenso que domina a atividade psíquica como um todo, captando e dirigindo a atenção e o interesse do indivíduo em uma só direção, inibindo os demais interesses. Alterações patológica da afetividade Alterações do humor Distimia – Qualquer alteração básica do humor, tanto no sentido da inibição como no sentido da exaltação. Disforia – Distimia acompanhada de uma tonalidade afetiva desagradável. Euforia – Humor morbidamente exagerado, predominando um estado de alegria intensa e desproporcional às circunstâncias. Puerilidade – Alteração caracterizado pelo aspecto infantil, simplório, regredido. O indivíduo ri ou chora por motivos banais, sua vida afetiva é superficial, sem afetos profundos, consistentes ou duradouros. Catatimia – Influência da vida afetiva sobre as demais funções psíquicas. Alterações das emoções e dos sentimentos Medo – Estado de progressiva insegurança e angústia, impotência e invalidez crescentes, ante a impressão iminente de que sucederá algo que o indivíduo quer evitar. Fobia – Medos determinados psicopatologicamente, desproporcionais e incompatíveis com as possibilidades de perigo real oferecidas pelos desencadeantes, chamados de objetos ou situações fobígenas. Pânico – Crises agudas e intensas de ansiedade, acompanhadas por medo intenso de morrer ou de perder o controle e de acentuada descarga autonômica (taquicardia, sudorese, etc.). Apatia – Diminuição da excitabilidade emocional. Indivíduos apáticos queixam-se de não conseguir sentir nem alegria, nem tristeza, nem raiva, nem nada. Anedonia – Incapacidade total ou parcial de obter e sentir prazer com determinadas atividades e experiências da vida. Indivíduos anedônicos não sentem prazer sexual, ao comer, ao realizar atividades anteriormente prazerosas. Semiotécnica Humor ansioso: Sente-se nervoso? Agoniado? Tem dificuldades para relaxar? Dificuldades para se concentrar? Humor irritado: Você tem-se irritado com mais facilidade que antes? Os ruídos alheios incomodam muito? Tem discutido ou brigado com facilidade? Humor triste, apático ou inibido: Tem se sentido triste ou melancólico? As coisas que antes lhe davam prazer agora lhe são diferentes? Humor hipertímico (alegre): Sente-se mais alegre que o comum? Mais disposto? Tem nos últimos dias, mais vontade de falar e andar que geralmente? Verificar se as alterações são mais frequentes pela manhã, tarde ou à noite. Emoções e sentimentos: Verificar o padrão de reações emocionais do paciente. Perguntar há quanto tempo o paciente tem os sintomas, o que os desencadeou e o que os faz piorar ou melhorar. VONTADE, PSICOMOTRICIDADE & AÇÃO Definição A vontade, ou volição, é uma dimensão complexa relacionada intimamente com as esferas instintiva, afetiva e intelectiva, além do conjunto de valores, princípios, hábitos e normas éticas socioculturais do indivíduo. Existem 4 fases principais na evolução do processo volitivo: 1. Fase de intenção ou propósito – Esboçam-se as tendências, inclinações e interesses inconscientes. 2. Fase de deliberação – Ponderação consciente, levando em conta os motivos implicados no ato. 3. Fase de decisão – Momento culminante do processo volitivo, instante que demarca a ação. 4. Fase de execução – Etapa final do processo volitivo, onde todos os atos psicomotores são postos em funcionamento. Alterações da vontade Hipoabulia/Abulia– Diminuição ou abolição da vontade. Indivíduos relatam que “não tem vontade para nada”, sentindo-se muito desanimado, sem forças ou sem energias. Típico na depressão grave. Ato impulsivo – Espécie de curto circuito do ato voluntário. O ato salta da fase de intenção à fase de execução. São automáticos, sem reflexão, ponderação ou decisão prévia, de tipo instantâneo e explosivo. São realizados sem fase prévia de deliberação e decisão e de caráter egossintônica (não percebido como inadequado). Ato compulsivo – Diferente dos atos impulsivos, são reconhecidos como indesejáveis ou inadequados, e há tentativa de refreá-los. Também conhecido como rituais compulsivos, podem ser movimentos ou atos estereotipados como coçar-se, picar-se, arranhar-se, até movimentos mais complexos como tomar banho de forma repetida ou lavar as mãos inúmeras vezes. PENSAMENTO Definição Uma das maneiras de definir o pensamento é quanto ao seu processo. Divide-se o pensamento em curso, forma e conteúdo. O curso é o modo em que o pensamento flui, sua velocidade e seu ritmo ao longo do tempo. A forma é a sua estrutura básica, sua arquitetura, preenchida pelos diversos conteúdos e interesses do indivíduo. Por último, o conteúdo pode ser definido como aquilo que lhe dá substância, seus temas predominantes, o assunto em si. Alterações do pensamento Alterações do curso do pensamento: Aceleração do pensamento – O pensamento flui de forma muito acelerada, com uma ideia sucedendo à outra rapidamente, tornando difícil acompanhar o ritmo do indivíduo. Lentificação do pensamento – O pensamento progride lentamente, de forma lenta e dificultosa. Há certa latência entre as perguntas formuladas e as respostas. Ocorre principalmente em pacientes gravemente deprimidos, em alguns casos de rebaixamento de nível de consciência e intoxicação. Bloqueio ou interceptação – O indivíduo, ao relatar algo, no meio de uma conversa, brusca e repentinamente interrompe seu pensamento, sem qualquer motivo aparente. O paciente pode relatar que, sem saber por que, “o pensamento para”, é bloqueado. Trata-se de alteração quase exclusiva da esquizofrenia. Roubo do pensamento – Frequentemente associado ao bloqueio do pensamento, no qual o indivíduo tem a nítida sensação de que seu pensamento foi roubado de sua mente, por uma força ou entre estranha. Trata-se de uma alteração característica da esquizofrenia. Alterações do conteúdo do pensamento: Pensamento persecutório – O paciente pode relatar a sensação de que está sendo perseguido por uma entidade ou grupo. Pensamento depreciativo – O paciente realiza ataques ao seu autoestima, diminuindo seu valor pessoal de forma exagerada. Pensamento de poder, riqueza ou missão – O paciente relata ser um indivíduo grandioso, incongruente com seu status socioeconômico real, ou se considera como estando numa missão importante. Pensamento religioso, místico ou mágico – O paciente relata que é iluminado, é a renascença de uma figura religiosa ou que é capaz de realizar atos mágicos. Pensamento erótico, sexuais ou de ciúmes – O paciente se considera um indivíduo procurado e desejado pelos demais. Pensamento de culpa – O paciente relata sentimento de culpa por algum ato ou evento que não lhe implica direta ou indiretamente. Pensamento hipocondríaco – O paciente relata estar doente ou estar infectado por alguma patologia não fisicamente presente ou diagnosticável. JUÍZO DE REALIDADE Definição O ser humano afirma sua relação, discerne a verdade do erro, assegura-se da existência ou não de um objeto perceptível a partir dos juízos de realidade. Alterações patológicas do juízo Ideais sobrevaloradas: Anorexia nervosa/Bulimia Em pessoa muito emagrecida: “Tenho certeza de que estou muito gorda” Dismorfofobia Em pessoa com nariz considerado normal: “Meu nariz é disforme, enorme e muito feio” Hipocondria Em pessoa sem dados médicos e laboratoriais: “Estou convencido de que tenho câncer no estômago” Apotemnofilia “Tenho a nítida sensação de que minha perna não me pertence. Teria de ser amputada para me sentir confortável.” Ciúmes patológico não delirante “Tenho certeza de que minha mulher está tendo um caso.” Estado paranoide litigioso “A companhia de seguros me deve milhões de reais como compensação.” Delírio: Os delírios são juízos patologicamente falsos. É um erro do ajuizar que tem origem no adoecimento mental. Existem 3 características básicas que identificam os delírios. 1. Convicção extraordinária por parte do indivíduo, inabalável, sem dúvida da veracidade. 2. Modificação impossível do delírio a partir da experiência objetiva, por meio de provas explícitas, argumentos lógicos e plausíveis ou aparentemente convincentes. 3. Apesar de que alguns delírios podem realmente se tornar verdadeiras (como um alcoólatra pensar que a mulher estar lhe traindo, e acabar acontecendo) não invalida o delírio, pois a construção da crença foi a partir de uma base patológica não fundamentada na realidade. Delírio Alucinação Formação de um juízo e convicção de um determinado fenômeno inabalável, baseado em estruturas reais e físicos. Percepção de sensações (visuais, auditivas) que não correspondem a nenhum tipo de fenômeno real fisicamente presente. Delírios envolvem pessoas reais, circunstâncias reais e fenômenos fisicamente plausíveis porém absurdas. Alucinações envolvem estímulos gerados corticalmente que atingem o órgão dos sentidos sem ter um equivalente no mundo real. Uma pessoa em delírio tem a convicção de que uma pessoa na rua é um espião que está lhe perseguindo. Uma pessoa que está tendo uma alucinação visualiza uma pessoa na rua que não está realmente lá, mas é capaz de descrever ela nitidamente. LINGUAGEM Definição A linguagem é uma das atividades mais distintas do ser humano, e também um dos mais marcantes da atividade mental. A linguagem pode ser dividida em 6 dimensões. Fonética – Sons produzidos, transmitidos e recebidos pela linguagem humana. Fônica – Referente aos fonemas, as unidades fonológicas mínimas, distintivas, de cada língua. Semântica – Significação dos vocábulos, das palavras, utilizadas em determinada língua. Sintática – Implica a relação e a articulação lógica das diversas palavras entre si. Prosódia – Entonação da fala, essencial na transmissão e reconhecimento das emoções. Pragmática – Emprego da linguagem em situações sociais concretas, os contexos, circunstâncias, implicações e repercussões da linguagem quando utilizada concretamente pelos seres humanos. Alterações patológicas da linguagem As disfunções da linguagem podem ser secundárias a disfunção ou lesão neuronal ou específicas de determinadas psicopatologias. As alterações mais marcantes são referentes a produção e a qualidade da linguagem. Semiotécnica Produção: Como é a fala? Espontâneo ou apenas quando solicitado? Caso não fale, é por incapacidade ou recusa? Fala lenta ou rápida? Fala incoercível, inibida ou interceptada? Qualidade: Respostas são coerentes? Discurso compreensível? Discurso gramaticalmente correto? Emprega palavras estranhas ou bizarras? Há neologismos ou paralogismos? Repetições estereotipadas? Exames complementares Condições médicas com manifestações psiquiátricas Neurológicas Doença cerebrovascular; esclerose múltipla; doença de Parkinson e de Alzheimer; epilepsia; lesão cerebral traumática; enxaqueca; transtornos do sono (narcolepsia, apneia); Neoplásicas Tumores do SNC (primárias ou metastáticas); carcinoma pancreático; síndromes paraneoplásicas; tumores endócrinos; Autoimunes Lúpus eritematoso sistêmico; sarcoidose; Infecciosas HIV; neurossífilis; tuberculose; meningite e encefalite viral e bacteriana; Nutricionais Deficiência de vitamina B12; anemia; deficiência de tiamina; deficiência de zinco,magnésio, etc.; Endócrinas Doença tireoidiana e paratireoidiana; encefalopatia hepática; diabetes mellitus; porfirias; uremias; feocromocitoma; distúrbios hormonais gonadotrópicos; hipo/hiperglicemia; hipo/hipercalcemia; Substâncias/Toxinas Toxinas ambientais; organofosfatos, metais pesados, monóxido de carbono; intoxicação/abstinência de substância; efeitos adversos de medicamentos prescritos e sem receita; PRINCIPAIS PSICOPATOLOGIAS Fobia & fobia social DEFINIÇÃO A fobia são medos determinados psicopatologicamente, desproporcionais e incompatíveis com as possibilidades de perigo real. Assim, o indivíduo tem um medo terrível e desproporcional de entrar em um elevador, de gatos ou contato com pessoas desconhecidas. No indivíduo fóbico, o contato com os objetos ou situações fobígenas desencadeia crises intensas de ansiedade. A fobia pode se dividir em fobia simples e fobia social. Fobia simples – Medo intenso e desproporcional de determinados objetos, geralmente pequenos animais (barata, sapo, cachorro, etc.) Fobia social – Medo de contato e interação social, principalmente com pessoas pouco familiares ao indivíduo e em situações nas quais o paciente posas se sentir examinado ou criticado por tais pessoas. Agorafobia – Medo de espaços amplos e de aglomerações, como estádios, cinemas, supermercados. Inclui-se na agorafobia o medo de ficar retido em congestionamentos. Claustrofobia – Medo de entrar e ficar em espaços fechados como elevadores, salas pequenas, túneis, etc. Transtorno de ansiedade generalizada DEFINIÇÃO DSM-5: Ansiedade e preocupação excessiva (expectativa apreensiva), ocorrendo pela maior parte da semana por pelo menos 6 meses sobre inúmeras atividades (escola, trabalho, etc.) DIAGNÓSTICO + DIFERENCIAL Critério diagnóstico A ansiedade e preocupação deve estar associado a pelo menos 3 ou mais dos seguintes 6 sintomas (com alguns sintomas presentes pela maior parte da semana pelos últimos 6 meses): 1. Sensação de inquietação 2. Facilmente fadigado 3. Dificuldade de concentração ou dar branco 4. Irritabilidade 5. Tensão muscular 6. Distúrbio do sono (dificuldade em dormir ou ficar dormindo, sono de má qualidade) Diagnóstico diferencial Não se considera desordem de ansiedade ou ansiedade generalizada se caso o distúrbio for melhor explicado por outros desordens mentais: Preocupação sobre ataques de pânico na desordem do pânico Avaliação social negativa na desordem de ansiedade social Contaminação ou obsessão nas desordens obsessiva-compulsivos Separação das figuras de apego na ansiedade de separação Lembranças de eventos traumáticos no estresse pós-traumático Ganho de peso na anorexia nervosa Conteúdo das crenças delirantes na esquizofrenia ou desordem TRATAMENTO Para o tratamento adequado dos transtornos de ansiedade, é necessário eliminar as possíveis causas orgânicas. A primeira linha de tratamento é a psicoterapia, geralmente com uso de terapia cognitiva comportamental. Drogas como antidepressivos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina e inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina também podem ser utilizadas concomitante a terapia. Abuso & dependência de álcool DEFINIÇÃO As desordens relacionadas ao álcool podem variar dependendo da sintomatologia. O abuso de álcool é definido a partir do prejuízo social acarretada pelo consumo e pela embriaguez. A dependência ao álcool é caracterizada pelo aparecimento de sintomas de abstinência. DIAGNÓSTICO + DIFERENCIAL Abuso de álcool É necessário a manifestação de pelo menos 2 sintomas seguintes durante um período de 12 meses por um período prolongado: 1. Álcool é consumo numa quantidade maior e num período mais prolongado do que o intencionado 2. Há um desejo persistente, porém, insucesso na diminuição do consumo de álcool 3. Muito tempo se perde nas atividades relacionadas a obtenção, uso ou recuperação dos efeitos do álcool 4. Desejo intenso de consumo de álcool 5. Uso recorrente de álcool levando a disfunção nos papeis exercitados no trabalho, em casa ou escola 6. Uso contínuo de álcool apesar de prejuízo social 7. Atividades social, ocupacionais e recreacionais são largados ou reduzidos devido ao uso de álcool 8. Uso de álcool em situações onde é fisicamente perigoso (dirigindo) 9. Uso de álcool apesar do conhecimento do prejuízo fisiológico causado ou exacerbado pelo consumo 10. Tolerância caracterizado por: a. Necessidade de uma quantidade maior de álcool para tingir o nível de intoxicação desejado b. Efeito diminuído com uso contínuo da mesma quantidade de álcool Abstinência A abstinência é diagnosticada após o cessar ou redução do uso de álcool que tem sido intenso e prolongado. É necessário duas ou mais dos seguintes sintomas dentre as próximas horas ou dias após o cessar ou redução do uso de álcool: 1. Hiperatividade autonômica (sudorese, FC > 100 bpm, etc.) 2. Tremores nas mãos 3. Insônia 4. Náusea ou vômitos 5. Alucinações ou ilusões visuais, táteis ou auditivas transitórias 6. Agitação psicomotora 7. Ansiedade 8. Convulsões tônico-clônicas generalizadas Diagnóstico diferencial Uso não patológico do álcool – O elemento chave do abuso é o prejuízo físico e social relacionado a embriaguez. A maior parte dos consumidores de álcool bebem até se embriagar, mas somente 20% desenvolvem desordem de uso de álcool. Desordem de uso de sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos – É necessário a diferenciação pois o curso pode ser diferente, apesar da substância não ser condizente. Desordem de conduta e desordem de personalidade antissocial – O uso de álcool pode ser visto em pessoas antissociais e em crianças com distúrbios de conduta, não necessariamente levando ao diagnóstico de abuso. TRATAMENTO O início do tratamento de abuso de álcool geralmente inicia-se com a redução do uso de álcool. Benzodiazepínicos podem ser utilizados para poder melhorar os sintomas de abstinência caso surjam. O uso de psicoterapia também é indicado. Transtorno depressivo maior DEFINIÇÃO O transtorno depressivo maior, também conhecido como depressão clínica, é uma desordem mental caracterizada por pelo menos duas semanas de humor deprimido, baixa autoestima e perda de prazer ou interesse em atividades normalmente prazerosas. Os afetados podem sofrer delírios ou alucinações. DIAGNÓSTICO Para o diagnóstico de transtorno depressivo maior, é necessário 5 ou mais dos seguintes sintomas durante um mesmo período de 2 semanas e representar uma mudança do estado de funcionamento, sendo obrigatório os sintomas de humor deprimido ou anedonia: 1. Humor deprimido pela maior parte do dia, quase todo dia 2. Anedonia 3. Perda de peso 4. Insônia ou hipersônia quase todo dia 5. Agitação ou retardo psicomotora 6. Fadiga ou perda de energia quase todo dia 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva 8. Capacidade diminuída de pensar, concentrar, indecisão 9. Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida, planejamento ou tentativa de suicídio TRATAMENTO Para o tratamento de transtorno depressivo maior, é indicado psicoterapia, mudança do estilo de vida e uso de fármacos como antidepressivos. Em casos de não melhoria com antidepressivos, a terapia eletroconvulsiva também poderá ser prescrita e aplicada. Transtorno afetivo bipolar DEFINIÇÃO O transtorno afetivo bipolar, anteriormente conhecida como depressão maníaca, é um distúrbio do afeto caracterizado por períodos de depressão e períodos de anormalmente elevados do humo. Se o episódio de humor elevado vir associado de psicose, é chamado de mania, se for mais moderado ou leve, é chamado de hipomania. O transtorno afetivo bipolar é dividido em tipo I & II. O tipo I é o transtorno clássico, envolvendo mudanças de mania a depressão, enquanto o tipo II envolve estados dehipomania e estados de depressão severa. DIAGNÓSTICO Para o diagnóstico de transtorno afetivo bipolar I, é necessário o seguinte critério para episódio maníaco, podendo ter sido precedido por estado hipomaníacos ou episódios depressivos: Episódio maníaco A. Período de humor irritável, elevado ou expansivo anormalmente persistente com duração de pelo menos uma semana, presente pela maior parte do dia. B. Durante o período de mania estar presente: 1. Autoestima aumentado ou grandiosidade 2. Necessidade diminuída de sono 3. Logorreia 4. Fuga de ideias 5. Distração fácil 6. Agitação psicomotora 7. Maior envolvimento de atividades de alto risco C. Prejuízo social ou ocupacional devido ao episódio, necessitando de hospitalização para evitar danos a si ou a terceiros D. Não atribuível ao consumo de substâncias ou drogas Episódio depressivo A. 5 ou mais dos sintomas tem sido presente, sendo obrigatório a presença de humor deprimido ou anedonia 1. Humor deprimido pela maior parte do dia, quase todo dia 2. Anedonia 3. Perda de peso 4. Insônia ou hipersônia 5. Agitação ou retardo psicomotora 6. Fadiga 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva 8. Incapacidade de concentrar, indecisão 9. Pensamentos de morte recorrentes, ideação suicida, planejamento ou tentativa de suicídio TRATAMENTO O tratamento para o transtorno afetivo bipolar é diferente do tratamento de psicose e depressão isoladamente. O transtorno afetivo bipolar não faz uso de antidepressivos de primeira linha, mas sim, de estabilizadores de humor. O transtorno é ocasionado pela flutuação excessiva e exacerbada do humor, o que pode ser piorado com antidepressivos, que causam ciclagem dos humores. Os estabilizadores de humor como carbonato de lítio são capazes de atenuar os picos e vales humorais causados pelo transtorno. Ajustamento/Adaptação DEFINIÇÃO O transtorno de ajustamento é um dos diagnósticos diferenciais do transtorno de ansiedade generalizada. Diferente do TAG o transtorno de ajustamento ou adaptação requer obrigatoriamente um estressor identificável. No TAG os sintomas de ansiedade e preocupação são inespecíficos e muitas vezes não identificáveis. DIAGNÓSTICO A. O desenvolvimento de sintomas emocionais ou comportamentais deve acontecer em resposta a um estressor identificável dentro de 3 meses do início do estressor. B. Os sintomas ou comportamentos devem ser clinicamente significantes, evidenciados pelos seguintes: 1. Estresse desproporcional a severidade ou intensidade do estressor 2. Disfunção social, ocupacional ou funcional importante C. O estressor não deve atingir critério para outra desordem mental ou exacerbação de outro distúrbio pré-existente D. Os sintomas não devem representar o luto fisiológico E. Ao estressor cessar, os sintomas não devem persistir por mais de 6 meses TRATAMENTO O tratamento para o transtorno de ajustamento faz uso de antidepressivos e ansiolíticos. O foco é primariamente sintomático com ênfase na retirada do estressor, haja visto que se trata de um transtorno essencialmente transitória. A psicoterapia também pode ser utilizada como meio de melhorar o estado afetivo, além da atividade física. Espectro esquizofrênico DEFINIÇÃO O espectro esquizofrênico e outros distúrbios psicóticos que envolvem esquizofrenia são definidos por anormalidades em um ou mais dos seguintes domínios: delírios (delusões), alucinações, pensamento desorganizado, comportamento motor anormal e sintomas negativos. A principal diferença entre distúrbios psicóticos e a esquizofrenia são o aparecimento de sintomas negativos, entre as quais estão: Avolição Desinteresse social Anedonia Pouca expressão facial Mutismo ou fala diminuída DIAGNÓSTICO Para o diagnóstico de esquizofrenia, são propostos os seguintes critérios: A. Duas ou mais dos seguintes sintomas presentes por uma porção significativa de tempo durante 1 mês, sendo obrigatórios no mínimo um dos 3 primeiros sintomas: 1. Delusão/delírio 2. Alucinações 3. Fala desorganizada 4. Comportamento desorganizado ou catatônico 5. Sintomas negativos (expressão emocional diminuído ou avolição) B. Prejuízo no campo de trabalho, relações interpessoais, acadêmicos C. Duração dos sintomas superior a 6 meses D. Excluir episódios depressivos ou maníacos E. Não atribuível a medicações, drogas ou outras condições fisiológicas TRATAMENTO O tratamento de esquizofrenia é realizado principalmente a partir do uso de antipsicóticos. Os antipsicóticos podem ser divididos em típicos e atípicos. Os antipsicóticos típicos foram os primeiros a serem desenvolvidos e possuem ação dopaminérgica, concedendo lhes efeitos colaterais extrapiramidais. Os antipsicóticos atípicos são de ação primariamente serotonérgica, e menos efeitos colaterais extrapiramidais. Delirium DEFINIÇÃO Também conhecido como o estado confusional agudo, o delirium é um estado de causa orgânica que leva a declínio das funções mentais basais que se desenvolve ao longo de um período variando de horas a dias. O delirium é causado por um processo orgânico agudo que é, obrigatoriamente, um problema químico, funcional ou estrutural identificável ocasionado fora do encéfalo, que de uma maneira ou outra acaba afetando o encéfalo. Fatores predisponentes 65 anos ou mais Sexo masculino Demência Comorbidade física (falha biventricular, câncer, doença cerebrovascular) Comorbidade psiquiátrica (depressão) Distúrbio sensorial (visual, auditiva) Dependência funcional (depende de um cuidador) Desidratação/desnutrição Dependência e/ou vícios Etilismo Fatores precipitantes Manifestações Desatenção (100%) Distúrbio de memória (64-100%) Rebaixamento do nível de consciência (45-100%) Perda de orientação no tempo-espaço (43-100%) Onset agudo (93%) Pensamento desorganizado (59-95%) Distúrbio cognitivo difuso (77%) Distúrbio de linguagem (41-93%) Distúrbio de sono (25-96%) Mudanças de humor (43-63%) Mudanças psicomotoras (38-55%) Delírios (18-68%) Alucinações (17-55%) DIAGNÓSTICO A. Distúrbio de atenção e orientação. Sintoma obrigatório. B. Onset agudo com flutuações ao longo do dia C. Pelo menos um distúrbio cognitivo associado (memória, orientação, linguagem, etc.) D. Os distúrbios no critério A & C não podem ser causados por outro desordem neurocognitivo E. Evidência que os sintomas apresentados sejam de consequência fisiológica direta de outra condição médica como intoxicação, abstinência, entre outros
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