Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MAQUETES Introdução à forma na concepção arquitetônica Unidade 1 1. CONCEITO DE ESPAÇO ARQUITETÔNICO O espaço é a matéria-prima da composição arquitetônica. Profissionais de arquitetura e urbanismo têm como premissa básica organizar e qualificar os espaços nos quais o ser humano vive. Por se tratar de uma atividade milenar, a arquitetura sempre estudou organizações e complexidades espaciais. Sabe-se que com o passar da história da humanidade, o ser humano vem se relacionando de uma maneira cada vez mais complexa com o espaço. No campo disciplinar da arquitetura, o conceito de espaço adquire uma peculiaridade. Para se conceituar o espaço arquitetônico jamais devem ser fechadas as possibilidades de, por meio da forma, revisitar uma noção de o que envolve o ser humano para além de seu próprio corpo. Logo, definir o espaço arquitetônico requer um entendimento de que um espaço, no tocante a seus aspectos formais, pode ser criado por três elementos básicos, os quais irão compor todo o efeito arquitetônico espacial. Esses três elementos podem ser sintetizados pela noção de chão, parede e teto. A partir do momento que um espaço físico ocupado pelo ser humano remete a essa tríade, podemos chegar à conclusão de que este é um espaço arquitetônico. Cabe também destacar que, por vezes, conceituamos o espaço por aquilo que é densamente construído por meio desses três elementos (chão, parede, teto). No entanto, nem sempre há atributos físicos delimitando tais planos. Destacamos, então, que o conceito de espaço permeia sempre uma noção de relação do corpo do ser humano com os atributos físicos (construídos ou não) que tal espaço possui. Nesse movimento de tentar conceituar o espaço arquitetônico, alertamos que serão apresentadas definições básicas constitutivas da forma e do efeito arquitetônico de uma maneira geral. É de extrema importância, porém, situar que por ser relacional, a noção de espaço em arquitetura está atrelada à questão temporal, já que esta define a relação corpo- espaço. Como estamos iniciando os estudos acerca da temática, procuramos apresentar questões básicas de composição direcionadas para o âmbito disciplinar da configuração arquitetônica. Não se trata, portanto, de exatidões, mas de composições, criações espaciais pertinentes a um contexto sociocultural. Assim, partimos da premissa que o ser humano, com seu corpo, ocupa um espaço físico. Ao entrar em relação com esse espaço, ele começa a manipular suas características, cercando regiões, aumentando alturas, fechando acessos, modificando direções. É nesse campo fértil das possibilidades de se organizar uma porção do território físico que nos situamos para estudarmos a composição arquitetônica. 1.1 Plano Baixo: Chão Situar um chão no espaço arquitetônico é dar a entender a existência de um plano horizontal que sustenta a base física desse espaço. É observado ao nível dos pés do ser humano, onde caminhamos. No estudo da forma, na execução de um modelo tridimensional, esse elemento designado chão é a base do modelo ou da maquete e é sobre ele que os demais elementos irão compor a totalidade espacial. A predominância direcional desse chão, por mais inclinado que possa ser, sempre é horizontal e organiza a composição espacial arquitetônica num plano baixo, com uma amplitude visual expandida ao nível dos olhos. Com o chão, o espaço arquitetônico ganha projeção e limites amplos e, por vezes, fugidios. O plano baixo, aqui considerado como chão, pode ser tanto o plano do solo, que serve de fundação física e base visual para as formas construtivas; como plano do piso, que forma superfície inferior de delimitação de um cômodo sobre o qual caminhamos. 1.2 Plano Médio: Parede O elemento parede traz uma primeira noção de limite físico ao espaço arquitetônico. Situa-se num plano intermediário e entra em relação direta com o corpo físico do ser humano por dar contenção e delimitações formais mais marcadas. É com paredes que começamos a modular o elemento chão, colocando dois planos, um predominantemente horizontal (chão) e outro predominantemente vertical (parede), trazendo, assim, configurações e demarcações especificas na forma arquitetônica. O olhar, assim como o corpo, percorre esse espaço físico fazendo pausas, desviando direções. Como plano médio, as paredes dão uma orientação vertical, sendo essas ativas em nosso campo de visão normal e vitais para a modelagem e a delimitação do espaço arquitetônico. Dessa maneira, chão e parede já começam a delimitar aquilo que entendemos por espaço arquitetônico, uma vez que organiza visualmente um território físico. Em modelos tridimensionais, percebemos ao compor planos horizontais (chão) com planos verticais (parede) a unidade espacial mais básica da arquitetura, demarcando lugares, setores, encontros físicos etc. Pode-se dizer, nessa composição de chão e parede, que iniciamos uma organização tridimensional do espaço a ser habitado. 1.3 Plano Alto: Teto O efeito arquitetônico, em sua totalidade, só consegue ser atingido com um terceiro elemento básico: teto. O teto delimita o plano alto da composição arquitetônica, cobrindo aquilo que está acima de nossas cabeças. O teto, como elemento da forma do espaço, contém o corpo do ser humano numa espécie de caixa, dá a sensação de proteção, traz a ideia de acolhimento, a qual é a essência do espaço projetado pelo(a) arquiteto(a). O teto traz sensações de amplitude, introspecção, abertura, fechamento no espaço arquitetônico. É um plano predominantemente horizontal, que se difere do chão justamente por estar situado acima deste. Como plano alto, o teto pode ser tanto o plano da cobertura, que abriga os espaços interiores de um edifício dos elementos climáticos, como o plano que forma superfície superior de delimitação de um cômodo. Veja um exemplo de plano alto, o teto de um posto de gasolina. Para concluirmos o entendimento dos planos na composição espacial arquitetônica, Ching (2002, p. 19) diz que: “Os planos, na arquitetura, definem volumes de massa e espaço tridimensionais. As propriedades de cada plano – tamanho, formato, cor, textura –, assim como a relação espacial dos planos entre si, em última análise, determinam os atributos visuais da forma que define e as qualidades do espaço que delimitam.” Logo, na composição de uma forma arquitetônica, o plano serve para definir os limites ou as fronteiras de um volume. A partir dessa visão, podemos seguir para compreender como articular esses diferentes planos em uma composição arquitetônica na criação da forma espacial. 2. CONFIGURAÇÃO DA FORMA ARQUITETÔNICA Agora que sabemos conceitualmente o que é chão, parede e teto na definição da forma arquitetônica, podemos pensar na modelagem tridimensional da arquitetura a partir desses três elementos, estudando suas potências espaciais e como estas entram em relação. Lembre-se que, a princípio, podemos sintetizar qualquer espaço arquitetônico identificando esses três elementos. Pense sempre ao observar, pesquisar e estudar uma obra de arquitetura, ou mesmo vivenciar um espaço arquitetônico, onde se encontra o chão, a parede e o teto desse espaço. Que tipos de relações espaciais com seu corpo ele proporciona? Como se delimita a modulação do chão pelas paredes? Como as paredes dividem o espaço plano do chão? Como o teto se aproxima ou se afasta de seu corpo e o que isso ocasiona em sua sensação de aconchego ao estudar ou vivenciar o espaço? Seria muito interessante a quem estuda arquitetura se ater num primeiro momento nessas relações do corpo no espaço e nos elementos físicos que conduzem esse corpo a entrar em relação com esse espaço. Chão, parede e teto são elementos arquetípicos do espaço arquitetônico e a materialidade da arquitetura depende da relação destes com o corpo humano. 2.1 Decomposição, forma e escala Desde os tempos mais remotos da históriada humanidade, arquitetos e arquitetas buscam em suas obras e projetos uma inquietação do/no olhar. Assim, jogos visuais e formais com pontos de fuga, proporções, deslocamentos espaciais, relações de cheios e vazios trazem uma espécie de distração e estranhamento a quem vivencia o espaço arquitetônico. Nesses jogos há decomposições dos elementos básicos constituintes do espaço arquitetônico, provocando reflexões das mais variadas em relação à arquitetura e sua concepção formal. Quando que um chão, ao entrar em relação espacial com parede e teto, proporciona uma experiência arquitetônica marcante? O espaço arquitetônico, ao quebrar regras de composição por elementos formais inusitados ou surpreendentes, enriquece a experiência estética e sinestésica da arquitetura. O Museu Guggenheim Bilbao, situado na cidade basca de Bilbao, um dos cinco museus pertencentes à Fundação Solomon R. Guggenheim no mundo e projetado pelo arquiteto canadense naturalizado norte-americano Frank Gehry, ilustra essa decomposição dos elementos formadores do espaço arquitetônico. Nessa obra, chão, parede e teto rompem possibilidades e transcendem aquilo que se esperaria a priori de um espaço de museu. Aí está a possibilidade de a arquitetura e seus atributos formais indagarem ao ser humano como é ocupar um espaço a partir da decomposição daquilo que me acolhe nos planos baixo (chão), médio (parede) e alto (teto). Expandindo essa noção de decomposição, pode-se entrar numa conceituação mais ampliada acerca da forma e escala em arquitetura. Atendo-se numa questão morfológica, forma e escala contribuem para o enriquecimento do efeito arquitetônico quando nos colocam em conflito com aquilo que esperávamos da obra arquitetônica em si. O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer em seus projetos brincava belamente com as formas, evocando por elas questões simbólicas tão bem estruturadas com a escala que o edifício possui e promove ao corpo do ser humano. Tomando como exemplo a catedral de Brasília, vê-se uma decomposição dos elementos chão, parede e teto ao romper seus limites claramente. Onde começa um e termina o outro? No entanto, não perdemos a visualidade, tampouco a noção dos planos compositivos (baixo, médio, alto), uma vez que Niemeyer utiliza a forma de mãos em prece que configuram as linhas curvas direcionadas para cima, formando paredes que culminam em um ponto, traduzindo esse gesto em teto, que acolhe um amplo chão horizontal, o qual é a base desse movimento ascendente. Há, nesse espaço arquitetônico, o rompimento de uma previsibilidade ancorada em um domínio da forma da linha, que delimita o plano do chão e ao curvar-se transforma-se em um plano vertical configurando parede. Por fim, a mesma linha toca pontos em um novo plano horizontal muito acima do chão, gerando o teto do edifício. Aqui nos interessa o conceito de escala para além do métrico. Escala em termos de configuração da forma arquitetônica, que traz o quanto o ser humano é enfatizado em suas dimensões físicas e sensórias, sendo acolhido de maneira mais ou menos intimista pela edificação em si. Mais uma vez, quando se estuda a forma arquitetônica, escala entra na esfera do relacional, colocando no centro dessa relação o corpo do ser humano, suas dimensões, alcances e sentimentos, o quanto chão, parede e teto proporcionam o efeito arquitetônico. FIQUE DE OLHO A Fundação Oscar Niemeyer apresenta um panorama geral das obras do arquiteto brasileiro dedicando sessões sobre sua vida e obra, além de belas imagens de suas obras, as quais sempre apresentam com maestria as relações de horizontalidade e verticalidade. Saiba mais pesquisando o site da fundação na internet. 2.2 Hierarquia e proporção Por hierarquia podemos entender uma questão de ordem e prioridade na composição arquitetônica. A forma da arquitetura se expressa por meio de ordens e pregnâncias visuais e formais, as quais podem trazer uma organização em torno de alguns elementos que merecem destaque em relação a outros. Hierarquia é, assim, o posicionamento de algum elemento na organização formal do espaço, que se destaque criando um desvio de atenção a ele próprio. Numa sequência ritmada, por exemplo, pode existir um elemento que destoe da mesma, “perturbando” a ordem, contribuindo para um olhar diferente àquela organização espacial. Podemos reparar essa questão formal de hierarquias quando planos verticais quebram diagramas de planos horizontais ou quando planos horizontais se desencontram em seu paralelismo. Quando isso ocorre, nossa atenção é capturada e a vivência do espaço ou sua leitura visual sai da zona de conforto ditada por um ritmo esperado em termos de percepção espacial. No tocante à proporção, ela está diretamente relacionada à escala humana e à sensação de mais ou menos intimidade e acolhimento espacial. O espaço engloba constantemente nosso ser. Através do volume do espaço nos movemos, percebemos formas, ouvimos sons, sentimos brisas, cheiramos as fragrâncias de uma flor. É uma substância material, como uma madeira ou pedra. Ainda assim, constitui uma emanação inerentemente informe. Sua forma visual, suas dimensões e escala, a qualidade da luz – todas essas qualidades dependem de nossa percepção, dos limites espaciais definidos pelos elementos da forma. À medida que o espaço começa ser capturado, encerrado, moldado e organizado pelos elementos da massa, a arquitetura começa a existir (CHING, 2002, p. 92). Há uma questão intrínseca na arquitetura, que é a sua capacidade de abrigar o ser humano dando-lhe proteção. Podemos, em termos formais, associar essa capacidade ao grau de proximidade que o teto, um plano horizontal acima de nossas cabeças e consequentemente do chão, possui. Nesse raciocínio, quanto mais afastado do chão e de nossas cabeças o teto estiver, maior a sensação de grandiosidade o ambiente tem, colocando-nos numa escala humana muito pequena em relação ao espaço arquitetônico. Por isso, a proporção em arquitetura reside justamente na dosagem desse sentimento espacial. Ainda podemos concluir que a proporção na forma arquitetônica organiza, por meio das diversas relações da escala humana do/no espaço, uma ordem dos planos baixo, médio e alto, articulando elementos horizontais e verticais da forma da arquitetura. Logo, enquanto hierarquia toca em questões de destaque, posicionamento e atenção da composição espacial arquitetônica, proporção diz respeito à organização de forças horizontais e verticais e a relação destas com o sentimento de mais ou menos acolhimento do ser humano no que se refere à escala de aproximação dessas forças ao corpo humano. 3. CONCEITO DE HORIZONTALIDADE E VERTICALIDADDE NO/DO ESPACO ARQUITETÔNICO Cabe agora nos aprofundarmos em duas relações extremamente importantes da forma e composição do espaço arquitetônico: horizontalidade e verticalidade. Esses dois conceitos estão associados à composição e predominância dos planos horizontais e verticais. 3.1 Horizontalidade Em um edifício, como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, percebe-se a horizontalidade de maneira clara. Os planos horizontais predominam e se abrem para a totalidade espacial. Não há uma altura excessiva do edifício, embora os planos verticais estejam presentes para harmonizar e enfatizar os planos horizontais da composição espacial. Outra composição arquitetônica que traz de maneira bem expressiva a horizontalidade é o Palácio do Planalto, em Brasília, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. As lajes planas predominantemente horizontais trazem a noção de horizontalidade com formas espaciais nitidamente marcadas. Semelhante ao MASP, os planos verticais dão suporte aos planos horizontais, mas o destaque é das linhas e dos planos paralelos do chão e teto. 3.2 Verticalidade A verticalidade, por sua vez, enfatiza a altura da composição arquitetônica.A predominância aqui fica nos planos verticais e os horizontais dão sustentação e modulam os verticais. Uma vez compreendida a noção de horizontalidade, verticalidade compreende-se mais facilmente, pois os dois conceitos formam um par compositivo por oposição e complementam-se. Assim, novamente podemos associar a relação de predominância dos planos e ao percebê-la entender se a composição é mais horizontal ou vertical e como esses planos se associam e se complementam, dando totalidade ao efeito arquitetônico pensado pelo(a) arquiteto(a). A verticalidade é percebida em edifício de grande altura, por exemplo. As lajes desse edifício configuram os planos horizontais, mas a associação e conexão deles dão suporte à predominância do plano vertical maior formado pelas paredes que crescem em altura em direção ao céu. 4. AGENCIAMENTO Estamos estudando a potência do arranjo compositivo e configuração da forma arquitetônica, compreendendo que tal estudo ancora-se numa esfera relacional de território físico e corpo do ser humano. Aprofundando esses estudos, chegamos na possibilidade de ampliar a noção de composição e estudo da forma espacial, partindo para conceituações mais apuradas para a criação da forma em arquitetura. 4.1 Conceito de Agenciamento A noção de agenciamento traz diversos significados e quase sempre tais significados tratam de mediações entre ações e/ou pessoas e situações. Em arquitetura, tal conceito adquire uma significação similar. Podemos compreender que o agenciamento de espaços no campo disciplinar da arquitetura se refere à uma possibilidade de correlacionar ambientes, melhorando questões funcionais da edificação no tocante à sua organização interna e/ou externa. Por meio do agenciamento, criam-se soluções que se adequam a um melhor conforto, otimização de áreas e uma qualidade espacial na vivência da arquitetura e suas relações diversas com o ser humano. Agenciamento em arquitetura se refere, ainda, a como dispomos os elementos compositivos da arquitetura, articulando horizontalidade e verticalidade por meio das diversas alternativas de organização dos planos baixo, médio e alto. Seria, nesse raciocínio, compreender como um elemento pode ser utilizado no projeto de composição espacial arquitetônica, com o intuito de conduzir o ser humano aos mais diversos pontos específicos do espaço arquitetônico. Como exemplo, podemos pensar na disposição de caminhos, entradas, aberturas na edificação, e como tais elementos acionam os planos compositivos horizontais e verticais, associando-os à uma atenção e dispersão de quem vivencia e utiliza o espaço da arquitetura em questão. Logo, sob a ótica de um agenciamento em arquitetura, cada elemento disposto em um espaço tem o objetivo de enfatizar relações entre o próprio espaço e a condução do corpo do ser humano nesse espaço. 4.2 Espaço Polo e Espaços Secundários Seguindo essa noção de agenciamento, nos deparamos com hierarquias espaciais que colocam os espaços em maior ou menor ênfase na experiência arquitetônica. Dessa maneira, surgem espaços que se destacam em um agenciamento de elementos compositivos e outros espaços que adquirem um caráter mais coadjuvante na configuração espacial. Aos que se destacam, denominam-se espaços polo, principais na compreensão e vivência da arquitetura experienciada pelo ser humano. São espaços que acabam por configurar ambientes de expressiva importância no edifício, por exemplo. Já aos espaços coadjuvantes, sua importância é secundária, razão pela qual podemos denominá-los de espaços secundários. Convém destacar, nessa taxonomia espacial, que o discutido aqui é uma questão de relação e vivência do espaço arquitetônico traduzidos numa expressão plástica de arranjos e, consequentemente, agenciamentos de elementos compositivos espaciais articulados pela predominância de planos horizontais ou verticais na configuração espacial. 5. SÍNTESE FORMAL E SUA TRASNFORMAÇÃO EM ESPACOS ARQUITETÔNICOS Fica a questão pragmática de como articular de maneira objetiva na configuração espacial arquitetônica os conceitos até então estudados. Podemos aprofundar uma aplicabilidade desses estudos buscando uma tradução desses conceitos em noções práticas e preliminarmente básicas na síntese formal e sua transformação em espaços arquitetônicos. Tendo isso como um desafio, surge a possibilidade do uso da maquete no processo de projeto arquitetônico, despertando experiências perceptivas durante a concepção dos espaços arquitetônicos. Percebe-se, então, a importância da maquete na experienciação da arquitetura desde sua concepção até a sua concretização, situando a modelagem de maquetes físicas como uma experiência perceptiva que auxilie na concepção do espaço arquitetônico. 5.1 Ponto focal, linha de força, traçado regulador, elementos de indução e condução Primeiramente, é interessante entender o que vem a ser ponto focal, linha de força e traçado regulador. Chamamos de ponto focal o elemento central de um espaço arquitetônico. A linha de força é o traço inicial de uma composição arquitetônica, e é a partir dela que se define o traçado regulador. Por traçado regulador entende-se os elementos compositivos que darão origem ao futuro projeto arquitetônico. FIQUE DE OLHO Ponto focal, linhas de força e traçado regulador são notadamente percebidos em praças e espaços públicos. Geralmente nesses locais há um foco de atenções (chafariz, parquinhos, gramados etc.), o qual articula todo o desenho de espaço. Comece a tentar entender essas configurações do espaço ao seu redor. Estar atento aos lugares que você vai e quais as forças que o delimitam fisicamente é um ótimo exercício empírico de composição de arquitetura. Assim, podemos entender outros dois conceitos de relevância à composição espacial arquitetônica: elementos de indução e elementos de condução. - Os elementos de indução são aqueles que nos convidam a entrar no espaço. Por vezes é o próprio ponto focal, outras vezes é a configuração de texturas do plano do chão ou a disposição dos planos de parede de maneira distinta de uma previsibilidade modular. Geralmente tais elementos nos passam uma sensação de entrada. - Os elementos de condução, por sua vez, são aqueles que marcam caminhos. Podemos vê-los nitidamente no arranjo espacial dos planos médios por meio de paredes e/ou elementos que conduzem um caminhar no espaço arquitetônico. Os elementos de indução e condução configuram na experiência arquitetônica os caminhos, percursos, acessos os quais enriquecem a vivência espacial. Quanto mais fluídos estes forem, mais rica a apreensão do espaço se dá. Como já estudado anteriormente, tais elementos possuem um propósito ao serem agenciado num projeto de arquitetura. 5.2 Maquete na concepção do espaço arquitetônico Pina, Borges Filho e Marangoni (2011, p. 115) apontam que a maquete orienta as percepções espaciais e sua manipulação possibilita maior compreensão de cor, equilíbrio, luz, textura e proporção para trabalhar o sentido da visão e do tato, melhorando a qualidade dos ambientes construídos. É possível perceber, ainda, que ao se ver e tocar os materiais, conseguimos materializar as ideias, entendendo códigos da matemática, momentos de inércia e fundações, além de conferir a construção e verificar a estrutura. Ao se conceber arquitetura o(a) arquiteto(a) deve ter atenção sobre as atividades de decisão, apoiando-se em metodologias que integrem o maior número possível de temas significativos. Temos à disposição vários modelos de representação, mas cabe uma pesquisa minuciosa em relação às maneiras mais adequadas, à complexidade arquitetônica de pensar o projeto. Destacamos, assim, que a maquete é um instrumento que pode ser utilizado na concepção do projeto de arquitetura. A maquete traz uma base acessível e mais agradável para discussões. Os espaços propostos criam uma sensaçãode proporção. Ainda de acordo com Pina, Borges Filho e Marangoni (2011, p. 122): “As maquetes desempenham um papel significativo no processo de projeto arquitetônico, embora secundário, talvez pelo predomínio de um ideal científico que considera o verbal e o computacional a expressão de uma teoria superior à práxis e à expressão visual. Contudo, em Arquitetura e Urbanismo, as duas habilidades não são suficientes, e há necessidade de recursos como o croqui, o desenho e a maquete física, que pode deixar de ser projeto e efetivamente se realizar. Ou seja, Arquitetura e Urbanismo não podem privar-se do seu caráter tectônico, e o projeto deve ser sua primeira condição de materialidade.” Compartilhamos com os autores citados a noção de maquete-croqui, a qual é um exercício solitário, que não é mostrado a ninguém. Trata-se de um ensaio dando vazão ao que está na imaginação e que encontra na maquete, e não no desenho, seu melhor instrumento de expressão. Com isso em mente, podemos destacar dois grupos de maquetes: as primárias e as secundárias. As maquetes primárias têm um caráter exploratório, com olhar diferenciado e diversos enfoques e se desenvolvem em conceitos abstratos. Já as maquetes secundárias são mais específicas, usadas para detalhar componentes exclusivos da edificação. Assim, independentemente do canal utilizado para expor o que a mente gera, na prática projetual arquitetônica o corpo é o suporte para todas as manifestações e o ser humano usa a habilidade corporal para se expressar, estruturando uma consciência projetual a partir de um centro sensorial. Sabemos que o uso de maquetes e sua manipulação criam experiências espaciais pela exploração tátil e que, no processo de projeto, a maquete física, assim como o croqui, introduz uma abordagem mais enriquecedora da experiência perceptiva da arquitetura, demonstrando que no processo de projeto arquitetônico as preocupações giram em torno daquilo que pode ser percebido e vivenciado pelo corpo. Por fim, podemos enfatizar as qualidades táteis na construção manual da maquete física, colocando o estudante de arquitetura em contato com o mundo real e, por meio dela, enriquecer ainda mais a experiência arquitetônica. Assim, devemos fortalecer técnicas manuais de construção de maquetes como parte do processo de projeto arquitetônico, revelando um caminho interessante e promissor, apontando o uso da maquete como uma possibilidade de estratégia essencial não apenas para o desenvolvimento e a comunicação de um projeto arquitetônico no próprio núcleo da prática projetual, mas, especialmente, para a formação em arquitetura.
Compartilhar