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Organização Carine Teles Sangaleti Miyahara Capa e Diagramação Cristiano Walter de Farias Autores Alessandra Cristina de Paula Faria Zampier Aline Padilha Mattei Amanda de Paula Grad Bruna Zarpellon Calíope Pilger Carine Teles Sangaleti Miyahara Catiuscie Cabreira da Silva Tortorella Cristiano Walter de Farias Dannyele Cristina da Silva Eliane Rosso Fernanda Eloy Schmeider Francine Meira da Cruz Gabriele de Vargas Janete Dalmar dos Santos Hupfer Jessica Rodrigues dos Passos Kelly Holanda Prezotto Laryssa de Col Dalazoana Baier Leticia Gramazio Soares Lucas de Oliveira Araújo Maicon Henrique Lentsck Maria Regiane Trincaus Mariana Abe Vicente Cavagnari Pollyanna Bahls de Souza Saionara Zakrzevski Stoy Silvana Maria Sasso Soriane Loures Tatiana da Silva Melo Malaquias Tatiane Baratieri Vanessa Nerone Vera Lúcia Borges Ferreira FERIDAS crônicas: guia prático [e-book interativo] / Organizado por Carine Teles Sangaleti Miyahara. – – Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2021. 231 p. ISBN 978-85-5597-016-6 Bibliografia 1. Enfermagem. 2. Feridas. 3. Feridas crônicas. I. Título. CDD 610.73 Catalogação na Publicação Rede de Bibliotecas UNICENTRO Editora UNICENTRO Rua Salvatore Renna, 875, Santa Cruz 85015-430 - Guarapuava - PR Fone: (42) 3621-1019 editora@unicentro.br - www.unicentro.br/editora F356 Denise Gabriel Witzel Renata Daletese Beatriz Anselmo Olinto Suelem Andressa de Oliveira Lopes Cristiano Walter Farias Carine Teles Sangaleti Miyahara Direção Coordenação de Apoio à Divisão de Editoração Assessoria técnica Capa Revisão Final http://www.unicentro.br/editora SUMÁRIO Módulo 1 - Def inições e Guias para Avaliação Capítulo 1 - Feridas Crônicas......................................................................................13 Capítulo 2 - As Fases da Cicatrização....................................................................18 Capítulo 3 - Avaliação Global da Pessoa com Ferida Crônica.................30 Capítulo 4 - Avaliação das Condições Sociais.................................................64 Capítulo 5 - Avaliação e Manejo da Dor...............................................................76 Capítulo 6 - Classif icação das Feridas Crônicas..............................................91 Módulo 2 - Técnicas, Procedimentos e Produtos Capítulo 1 - Preparo do Leito da Ferida.............................................................113 Capítulo 2 - Técnica de Limpeza............................................................................117 Capítulo 3 - Desbridamento....................................................................................128 Capítulo 4 - Contra-Indicações.............................................................................142 Capítulo 5 - Malhas não Aderentes e Gaze......................................................149 Capítulo 6 - Pomadas e Hidrogéis........................................................................153 Capítulo 7 - Fibras e Hidrof ibras...........................................................................169 Capítulo 8 - Espumas e Hidrocolóides..............................................................175 Capítulo 9 - Bota de Unna e Terapias Compressivas.................................181 Capítulo 10 - Outros Produtos.................................................................................186 Capítulo 11 - A Fitoterapia no Tratamento de Feridas..............................198 Módulo 3 - Aspectos Legais Capítulo 1 - O Papel do Enfermeiro.....................................................................210 Capítulo 2 - Controle de Contaminação............................................................220 FIGURAS Módulo 1 1.1 - A Avaliação do Portador de Ferida a Partir da T.I.M.E 1.2 - Ferida em Fase Inflamatória 1.3 - Ferida em Fase Proliferativa 1.4 - Fase de Maturação 1.5 - Hiperqueratose ao Redor de Mal Perfurante Plantar 1.6 - Fluxograma da Cicatrização - Ferida Aguda e Crônica 1.7 - Tecido de Granulação 1.8 - Tecido de Epitelização 1.9 - Esfacelo Fibrinoso 1.10 - Necrose de Liquefação 1.11 - Necrose de Coagulação 1.12 - Eczema de Estase 1.13 - Dermatite Ocre 1.14 - Lipodermatoesclerose em Tornozelo 1.15 - Bordas Maceradas 1.16 - Exsudato Seroso 1.17 - Exsudato Serosanguinolento 1.18 - Exsudato Fibrinoso 1.19 - Exsudato Purulento 1.20 - Exsudato Seropurulento 1.21 - Exsudato Hemopurulento 1.22 - Exsudato Sanguinolento/Hemorrágico 1.23 - Ilustração Topográf ica para Identif icação de Feridas 1.24 - Algoritmo para orientar o encaminhamento de pessoas com feridas para o nutricionista 1.25 - Exemplo de Instrumento de Avaliação Social (Frente) 1.26 - Exemplo de Instrumento de Avaliação Social (Verso) 1.27 - Classif icação da Dor 1.28 - Sintomas Clínicos Relacionados à Presença de Dor (Dor Orgânica) 1.29 - Padrões Mínimos Necessários para a Avaliação da Dor 1.30 - Ferida Venosa 1.31 - Ferida Arterial 1.32 - Índice Tornolezelo Braquial (ITB) 1.33 - Ferida por Neuropatia Sensitiva 1.34 - Pé Diabético 1.35 - LPP de Estágio 1 1.36 - LPP de Estágio 2 1.37 - LPP de Estágio 3 1.38 - LPP de Estágio 4 1.39 - LPP Não Classif icável 1.40 - LPP em Região Sacral 1.41 - Úlcera de Martorell Módulo 2 2.1 - Preparo da Maca 2.2 - Preparo do Carrinho 2.3 - Posicionamento do Paciente 2.4 - Abertura do Campo Estéril 2.5 - Abertura da Agulha 2.6 - Abertura da Seringa 2.7 - Retirada do Curativo 2.8 - Técnica de Irrigação 2.9 - Técnica de Irrigação com Seringa 2.10 - Limpeza das Bordas 2.11 - Limpeza da Pele 2.12 - Aplicação de Cobertura 2.13 - PHMB em Gel 2.14 - Malha Não Aderente 2.15 - Malha Não Aderente com Matriz Cicatrizante TLC-AG 2.16 - Malha Não Aderente Impregnada com Prata 2.17 - Gaze 2.18 - Papaína em pó a 100% 2.19 - Pomada Hidrogel 2.20 - Pomada de Cadexómero de iodo 2.21 - Fibra Poliabsorvente com Matriz Cicatrizante TLC-AG 2.22 - Hidrof ibras 2.23 - Alginato de Cálcio 2.24 - Placas de Hidrocolóide 2.25 - Placas de Espuma 2.26 - Colocação da Bota de Unna 2.27 - Bota de Unna 2.28 - AGE 2.29 - Cobertura com Carvão Ativado 2.30 - Filme Transparente Não Estéril 2.31 - Aloe barbadensis Miller 2.32 - Calendula off icinalis L. QUADROS Módulo 1 1.1 - Inflamação Aguda X Inflamação Crônica 1.2 - Fatores de Risco de Infecção em Feridas 1.3 - Sinais Locais e Sistêmicos de infecção 1.4 - Mensuração do Exsudato em Feridas 1.5 - Nutrientes, Fontes Alimentares e seus Mecanismos Potenciais 1.6 - Escalas para a Avaliação de Parâmetros da Condição Social Durante Tratamento de Feridas Crônicas 1.7 - Escalas de Avaliação Multifuncional da Dor 1.8 - Tipos de Feridas e suas Etiologias Módulo 2 2.1 - Diluições da Papaína em Pó em Solução Fisiológica ou Água Estéril 2.2 - Produtos e Terapias Inovadoras APRESENTAÇÃO Nos dias atuais existem diversos manuais, disponíveis para consulta, voltados ao atendimento de pessoas com feridas. O diferencial deste Guia, apresentado na forma de ebook, é que seu principal objetivo é conversar com o prof issional de saúde de modo que possa orientar, de forma prática e cientif icamente embasada, o atendimento ao portador de Ferida Crônica. Todo conteúdo aqui apresentado tem relevância para guiar o atendimento, por isso este e-book busca ser interativo, levando o leitor a seguir uma sequência coerente durante todos os atendimentos, durante discussões de casos ou em momentos de estudo. Os organizadores têm vasta experiência no cuidado de feridas crônicas e, por isso buscaram elaborar os textos destacando pontos relevantes para a prática cotidiana, respondendo questionamentos que f requentemente ouvimos e ainda, esclarecendo equívocos que se perpetuam no cuidado de feridas. A vasta experiência citada não é apenas empírica, não se baseia na repetição de atos e procedimentos, é uma experiência construída com base em pesquisa, numa prática cotidiana qualif icada, que se inova constantemente e, numa prática questionadora, quebusca confrontar as bulas de produtos, os diagnósticos não esclarecidos, as situações sociais caóticas, a falta de recursos f inanceiros ou o mau emprego destes, que é realidade em diversos serviços de saúde. Nosso empenho é materializado no atendimento de portadores de feridas crônicas, no Serviço de Reabilitação Física e Projeto Feridas da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro/Guarapuava-Paraná). São projetos de extensão universitária destinados à prestação de serviços para a comunidade, e são pactuados com os serviços de saúde da região centro-oeste do Paraná. Esse projeto possibilita ainda o ensino e a pesquisa na área. Esperamos que nossa experiência estimule a renovação e qualif icação do cuidado nessa área de interesse. 1 Módulo 1 Definições e Guias Para Avaliação 13 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO CAPÍTULO 1 FERIDAS CRÔNICAS Maria Regiane Trincaus Maicon Henrique Lentsck Definição Ferida crônica é uma lesão que não cicatriza no período esperado, ou seja, entre 30 e 90 dias, e cujas características do processo de cicatrização estão alteradas. Desta forma, considera-se uma ferida crônica aquela lesão que não cicatriza em até 90 dias, se estagna num período da cicatrização e não evolui. Geralmente, é a fase inflamatória que se prolonga e às vezes perpetua, de forma a manter a lesão aberta. A compreensão sobre esse fenômeno é muito complexa, e, por isso, o atendimento ao portador da lesão crônica também é. São inúmeras as causas que fazem com que uma ferida não cicatrize, mas pode-se afirmar que as principais são aquelas que muitas vezes não damos atenção, como por exemplo, não tratar a causa da ferida, não eliminar tecidos desvitalizados, não manter a umidade ideal no leito da ferida e não identificar e tratar as causas da inflamação. Nas sessões seguintes será oferecido o suporte para o atendimento integral do portador de ferida crônica, com enfoque nos fatores que causam a dificuldade de cicatrização. Lembre-se: O tratamento de uma pessoa com ferida requer muito conhecimento, mas também iniciativa. Não basta buscar o conhecimento sem colocá-lo em prática; da mesma forma, não adianta manter práticas antigas, sem o suporte do conhecimento cientifíco, que constantemente se renova e se aprimora. O conhecimento é apenas o princípio da nossa atuação nessa vasta temática que abrange as feridas crônicas. Ser um profissional competente nessa área envolve também ter atitudes e habilidades, além do conhecimento. 14 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Gerenciamento do cuidado de pessoas com feridas crônicas Promover o tratamento de feridas crônicas, buscando o melhor resultado clínico, que é o fechamento rápido da ferida, sem recidivas, a melhora da qualidade de vida e redução dos custos¹, são os objetivos perseguidos por todos os prof issionais de saúde que atuam nessa área. As feridas crônicas afetam milhões de pessoas em todo o mundo.² A prevalência desse agravo na população pode ser considerada uma “epidemia silenciosa” ³, o que muitas vezes resulta em planejamento inadequado e baixa implementação de estratégias de prevenção, tratamento e gerenciamento do problema.4 Apesar de desaf iante, o gerenciamento do cuidado de pessoas com feridas crônicas não precisa ser uma tarefa assustadora, se alguns princípios básicos se tornarem rotina. Chegar a resultados favoráveis requer uma abordagem sistemática com uma avaliação minuciosa da pessoa e da ferida, capaz de orientar o tratamento subsequente.¹ Considerando a complexidade do quadro que culmina numa ferida crônica, recomenda-se uma ação interprof issional no gerenciamento do cuidado, pois a ação de um único prof issional não será efetiva.5 Para o tratamento bem-sucedido exige-se o conhecimento detalhado dos componentes moleculares e celulares presentes no leito de cada ferida. Partindo dessa premissa, que é praticamente impossível de ser atingida no nosso cotidiano, atualmente as feridas crônicas são tratadas utilizando uma abordagem com múltiplos passos, que se baseiam no conhecimento do processo de cicatrização. Essa abordagem é difundida amplamente pela sigla em inglês TIME6, que signif ica tecido, infecção/inflamação, equilíbrio da umidade e estímulo à epitelização da ferida.²,6 Entende-se que a TIME pode ser uma ferramenta para o gerenciamento do processo de cicatrização de feridas crônicas, olhando do leito para o todo.7 15 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO A letra T enfoca os tipos de tecido. Se tiver no leito da ferida necrose, esfacelo ou corpos estranhos, isso aumentará a inflamação, favorecerá a infecção e impedirá a cicatrização. Logo, esses tecidos devem ser removidos. A letra I se refere à presença de inflamação e infecção. Existem inúmeras condições que causam inflamação e favorecem a infeção. A colonização crítica e a formação do biofilme é uma delas. A letra M nos orienta a manter o equilíbrio na umidade. Se houver maceração nas bordas da ferida isso indica excesso de umidade, e se houver ressecamento das bordas e do leito isso indica falta de umidade. Se a borda da ferida não evolui, e também não há formação de ilhas epiteliais, percebe-se que a ferida está com a epitelização prejudicada. Buscar o alinhamento das bordas com o leito da ferida é o foco da letra E da TIME. T I M E O que essa sigla quer dizer ? Significa que a qualidade do tecido no leito da ferida, a proporção da inflamação, presença de infecção, equilíbrio da umidade no leito e as condições para favorecer a epitelização são aspectos que guiam o atendimento. E estes, por sua vez, se relacionam com as condições gerais da pessoa, ou seja, com doenças associadas, o estado nutricional, a exposição a situações que causam estresse, condições físicas, hábitos de vida e até com os procedimentos que são empregados no tratamento das feridas. 16 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Assim, guiando-se pela TIME, é possível avaliar todos os aspectos que interferem no processo de cicatrização e mantêm uma ferida aberta (crônica). A figura abaixo pode ajudar nessa visão ampla de um processo integrado de avaliação. Figura 1.1 - A avaliação do portador de ferida a partir da T.I.M.E Avaliação Global da Pessoa com Ferida Crônica Avaliaçao da ferida T.I.M.E Avaliação das necessidades Condição social e rede de suporte (familiar, serviços de saúde, seguridade social) O que já buscou e fez para tratar a ferida Aspectos psicológicos/saúde mental Histórico de doenças/doenças atuais Controle de doenças associadas a lesões como diabetes, hipertensão, distúrbios vasculares, anemias , hanseníase, distúrbios nutricionais Uso de medicamentos psicossociais , , Histórico de doenças/ doenças atuais Controle de doenças associadas a lesões, como diabetes, hipertensão, distúrbios vasculares, anemias, hanseníase, distúrbios nutricionais Uso de medicamentos Tabagismo e etilismo 17 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Os itens deste esquema serão desenvolvidos nos próximos capítulos, e a primeira questão abordada são as fases da cicatrização, pois elas nos ajudam a compreender o fenômeno da cicatrização normal, numa ferida aguda, e o prejudicado, alterado, de uma ferida crônica. Referências FRYKBERG, R. G.; BANKS, J. Challenges in the Treatment of Chronic Wounds. Adv Wound Care (New Rochelle). v.4, n.9, p.560-582. 2015. MCCALLON, S. K.; WEIR, D.; LANTIS, J. C. 2nd. Optimizing Wound Bed Preparation With Collagenase Enzymatic Debridement. J Am Coll Clin Wound Spec. v.6, n.1, p.14-23. 2015. MARTINENGO, L.; OLSSON, M.; BAJPAI, R.; SOLJAK, M.; UPTON, Z.; SCHMIDTCHEN, A.; CAR, J.; JÄRBRINK, K. Prevalence of chronic wounds in the general population: systematic review and meta-analysis of observational studies. Ann Epidemiol. n.29, p.8-15. 2019. JÄRBRINK, K. N. G.; SÖNNERGREN, H. et al. Prevalence and incidence of chronic wounds and related complications:a protocol for a systematic review. Syst Rev. v.5, n.1, p.152. 2016. UBBINK, D.T.; SANTEMA, T. B.; STOEKENBROEK, R. M. Systemic wound care: a meta-review of cochrane systematic reviews. Surg Technol Int. v.24, p.99-111. 2014. FALANGA, V. Wound bed preparation: science applied to practice. Position Document. Londres: Medical Education Partnership. 2014. LEAPER, D. J.; SCHULTZ, G.; CARVILLE, K.; FLETCHER, J.; SWANSON, T.; DRAKE, R. Extending the TIME concept: what have we learned in the past 10 years? Int Wound J. v.9, p.1–19. 2014. 1 2 3 4 5 6 7 18 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO CAPÍTULO 2 AS FASES DA CICATRIZAÇÃO Carine Teles Sangaleti Bruna Zarpellon Definição Toda vez que a integridade da pele é rompida e se forma uma ferida, essa lesão será cicatrizada graças a um processo dinâmico que pode ser dividido em três fases – a inflamatória, a proliferativa e a fase de maturação. 1 Essas três fases ocorrem num determinado período de tempo, que varia de acordo com as características da lesão e das condições da pessoa. Todo livro didático e manual sobre feridas apresentam essas fases, no entanto, na prática cotidiana pouca atenção é dada a essas informações, e não deveria ser assim. Essas três fases, que ainda apresentam subdivisões, guiam a avaliação do prof issional de saúde sobre o que está ocorrendo na lesão, ou seja, o conhecimento dessas fases torna possível reconhecer se o processo de cicatrização está ocorrendo de forma adequada, ou se há algum problema. Além disso, ao compreendermos as características teciduais e circulatórias de cada fase, podemos realizar intervenções corretas e, ainda, escolhermos o produto de curativo adequado a cada fase. No caso das feridas crônicas, o que dif iculta a aplicação dessa divisão é que as fases de cicatrização ou se sobrepõem, ou estagnam, como já foi abordado na apresentação deste manual. É comum uma ferida crônica f icar estagnada na fase inflamatória, mesmo após ter transcorrido o período considerado normal para inflamação. Assim, o reconhecimento das fases do processo de cicatrização ajuda a compreender não apenas o que está ocorrendo na ferida, mas no organismo como um todo da pessoa com ferida. 19 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Por que a fase inflamatória está durando mais que o esperado? Por que a exsudação está aumentando? O que está atrasando a fase de proliferação? Por que o tecido de granulação não parece saudável? Por que a maturação não se inicia? Estas e muitas outras perguntas podem ser respondidas se entendermos as fases do processo de cicatrização, que nas feridas crônicas se caracteriza como um processo prejudicado. Fase de Hemostasia e Inflamatória: Muitas vezes descrita nos livros apenas como inflamatória ou exsudativa, a primeira fase de cicatrização de uma ferida se inicia com a interrupção do sangramento, seja este induzido por cirurgia, causado por um ferimento ou causado pelo rompimento da integridade da pele devido a um processo patológico crônico, como ocorre na insuf iciência venosa. A hemostasia pode ser compreendida em três etapas: 2 Contração imediata dos vasos sanguineos, mediada por inervação Adesão plaquetária - formação de tampão plaquetário e liberação de fatores de coagulação Coagulação e a hemostasia Esse processo é complexo e envolve diversos componentes sanguíneos, proteínas da cascata da coagulação e células do sistema imunológico. Para a prática cotidiana, a informação mais importante desta primeira etapa da cicatrização é: 1 2 3 20 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Após a hemostasia há o início da inflamação. Tanto os f ragmentos celulares da lesão quanto as plaquetas envolvidas no processo de hemostasia dão início à resposta inflamatória. As plaquetas liberam fatores de crescimento, como o fator de crescimento derivado de plaquetas (do inglês Platelet- Derived Growth Factor– PDGF) e os fatores de crescimento transformantes alfa 1, 2 e beta (Transforming Growth Factor -TGF-α1 e TGF-α2, TGFβ), que atraem células inflamatórias como leucócitos, neutróf ilos e macrófagos para o local da lesão. Além dessa atração, os fatores de crescimento modulam o processo de cicatrização por propiciarem a diferenciação celular, a ativação e proliferação dos f ibroblastos e a angiogênese. As plaquetas também liberam citocinas e outros agentes indutores da reparação celular ou de apoptose. 5,1 Lembrando que como os leucócitos são células fagocíticas, eles liberam espécies reativas de oxigênio e proteases que limpam a ferida de corpos estranhos e microrganismos. A combinação da vasodilatação, promovida por esses fatores indutores da inflamação, e o aumento consequente da permeabilidade vascular dá origem aos sinais característicos da inflamação da ferida: rubor, calor, edema e dor (Figura 1.2). Numa ferida aguda a resolução da fase inflamatória é acompanhada de apoptose de células inflamatórias, que ocorre gradualmente dentro de alguns dias após a ocorrência da ferida. O mecanismo para a resolução da inflamação é atualmente desconhecido. No entanto, estudos sugerem que citocinas anti-inflamatórias, como TGF-α1, Se a primeira etapa da cicatrização é a hemostasia, não há sangramento normal em feridas. Esfregar o leito de uma ferida até provocar seu sangramento é prática totalmente inadequada e contra o processo normal de cicatrização. A falha da hemostasia, caracterizada por sangramentos persistentes ou espontâneos, indica, por exemplo, distúrbios de coagulação, infecção ou neoplasia em feridas crônicas. 21 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO interleucina 1, lipídios bioativos, como as prostaglandinas e lipoxinas e células do sistema imunológico, com perf il anti-inflamatório, participam desse processo.5, 4 Assim, para a prática cotidiana, o conhecimento da fase inflamatória numa ferida aguda deve deixar claro que: No caso das feridas crônicas , que já passaram pelo período considerado normal de inflamação, observa-se f requentemente a presença de uma prolongada e excessiva fase inflamatória e, consequentemente da exsudação [Conf ira a página 41 sobre Avaliação do Exsudato] . Essa inflamação pode ser ocasionada pela manutenção, no leito da ferida ou nos tecidos adjacentes, de corpos estranhos como a necrose [Conf ira os Tipos de Necrose na Página 33] ; restos de gaze, hemácias extravasadas para o espaço extravascular [Dermatite Ocre, Conf ira a página 38] . A inflamação também pode se manter devido à contínua injúria tecidual por isquemia, como ocorre nas feridas arteriais; Figura 1.2 - Ferida em Fase Inflamatória A inflamação é um processo normal e necessário para o processo de cicatrização da ferida. A inflamação propicia a exsudação, logo é esperado que nessa fase a ferida exsude mais. Se a inflamação é normal, sua ausência pode indicar a presença de um quadro patológico como um estado de imunoincompetência, anemias, distúrbios nutricionais entre outros. Fonte: Ambulatório de feridas da UNICENTRO. (2019) 22 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO A inflamação na ferida crônica demonstra que há a permanência de um fator de injúria no leito da ferida ou nos tecidos adjacentes à lesão ou, ainda, há a presença do biofilme. A inflamação deve ser interrompida pela eliminação do seu fator causal, caso contrário manterá a exsudação abundante, provocará destruição e substituição tecidual, perda da função e, consequentemente, a ferida aumentará e permanecerá aberta. também por toxicidade de produtos de curativo inadequados, como a Iodopovidona e a água oxigenada; por f issuras na pele adjacente à ferida, ocasionadas por ressecamento por uso de sabões ou; perda do turgor cutâneo por distúrbios nutricionais, hormonais ou uso de corticóides. Além dos fatores citados acima, comunidades microbianas complexas formadas por bactérias e fungos, comuns nas úlceras crônicas, são capazes de sintetizar e secretar uma matriz protetoradenominada de biof ilme, que prolonga a inflamação. O biof ilme se f ixa f irmemente ao leito da ferida e promove o aumento da produção de proteases, especialmente metaloproteinases, que degradam a matriz extracelular e os fatores de crescimento que deveriam agir no leito e promover a cicatrização. A melhor estratégia de lidar com o biof ilme é evitar seu desenvolvimento. Ele pode se formar devido à limpeza inadequada do leito da lesão [Confira o capítulo sobre limpeza da ferida na página 118], pelo uso de antibióticos tópicos que são contra-indicados [ver capítulo sobre produtos contra- indicados] e pelo tratamento inadequado de infecções na ferida. Uma vez formado, o biof ilme não é penetrado por limpeza tradicional, nem tampouco pela maioria dos produtos tópicos de tratamento das feridas. A polihexanida é uma das escassas alternativas indicadas para limpeza ef icaz e segura para evitar e eliminar o bioflime. Assim, para a prática cotidiana, o conhecimento sobre a inflamação na ferida crônica indica: 23 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Fase Proliferativa: É facilmente reconhecida, pois é marcada pelo surgimento do tecido de granulação (tecido vermelho, brilhante e granuloso) e a produção de colágeno pelos f ibroblastos. É uma fase totalmente dependente da fase inflamatória, pois são as células recrutadas durante a inflamação que liberam os fatores de crescimento e diferenciação celular, necessários à fase proliferativa. As células epidérmicas e dérmicas atuam de forma autocrina, paracrina e justacrina para induzir e manter a proliferação celular, ao iniciar a migração celular. Estes eventos são necessários para a formação de tecido de granulação e posterior epitelização. À medida que as células dérmicas e epidérmicas migram e proliferam dentro do leito da ferida, existe um requisito de fornecimento de sangue adequado para que ocorra troca de nutrientes, gás e metabólitos. Portanto, para essa fase progredir normalmente, uma resposta angiogênica robusta deve ser iniciada e sustentada. Por isso o tecido de granulação apresenta a coloração vermelho viva, tem um aspecto edematoso e é caracterizado pela presença de muitos espaços vazios, pois os vasos neoformados são ainda imaturos, tanto que, ao ser observado de perto, parece ter grânulos. Assim, esse tecido também é muito exsudativo e sangra com facilidade, devido à sua f ragilidade.4 Fatores pró-angiogênicos como o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), o fator de crescimento de f ibroblastos 2 (FGF-2) e PDGF, lançados inicialmente por plaquetas e depois por células do leito da ferida, são os mediadores centrais da indução angiogênica induzida por feridas. Mais recentemente, revelou-se que as células progenitoras endoteliais (Endothelial progenitor cells-EPCs) também são necessárias para revascularização de feridas.5 24 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO A mobilização de células progenitoras endoteliais é mediada pelo óxido nítrico, VEGF, Metaloproteinases de matriz (MMP) e pelo fator de crescimento semelhante à insulina (IGF). Numa ferida aguda e não complexa essa fase pode durar semanas. A f ragilidade e a intensa atividade de proliferação celular, características da fase proliferativa (Figura 1.3), requerem condições ideais de umidade e temperatura. O leito seco dif iculta ou mesmo impede a migração celular e a formação dos vasos novos.7, 8 Se a temperatura do leito da lesão não estiver semelhante à temperatura corporal, as células envolvidas com esse processo de cicatrização levarão mais tempo para promover a cicatrização [Confira o capítulo sobre limpeza da ferida na página 118]. Usar coberturas que ressecam o leito, ou remover coberturas de forma brusca, podem lesar o tecido de granulação. Figura 1.3 - Ferida em Fase Proliferativa Fonte: Ambulatório de feridas da UNICENTRO. É importante destacar que no processo de reparação o leito da ferida é preenchido inicialmente por fibrina e fibronectina e, à medida que os fibroblastos se tornam ativos, sintetizam novas moléculas de colágeno, elastina e proteoglicanos. A fibrina, que é uma proteína com aparência esbranquiçada no leito da ferida, é a base inicial do tecido de granulação. Técnicas equivocadas de limpeza da ferida podem removê-la e, assim, prejudicar a cicatrização. 25 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Aqui temos outra informação importante: Nas feridas crônicas a fase proliferativa é retardada e inef iciente devido à persistência da inflamação, que promove a produção intensa de exsudato rico em f ibrina e colágeno, que se depositam no leito e impedem a formação de outros tecidos. A excessiva produção de f ibrina é nítida nas feridas crônicas, formando muitas vezes depósitos desta proteína e outros restos celulares nas bordas da lesão, o esfacelo [ver página 32]. A excessiva fase inflamatória impede a liberação e a ação dos fatores de crescimento necessários à fase proliferativa, por isso não há renovação dos f ibroblastos, e estes se tornam senelescentes. Além disso, o equilíbrio normal entre gênese de novas células e apoptose é rompido, havendo então o aumento da morte celular e aumento do esfacelo e até de necrose no leito da ferida.9, 10 Dessa forma, não se observa um tecido de granulação exuberante e os produtos de curativo não surtem o efeito esperado na promoção da cicatrização. Eliminar as causas da inflamação e promover as condições ideiais f isiológicas no leito da ferida são fundamentais para que haja evolução. Para a prática cotidiana, deve-se favorecer a fase proliferativa nas feridas crônicas da seguinte forma: A manutenção da umidade e de temperatura igual a temperatura corporal são fundamentais para promover a cicatrização. Deixar feridas abertas e secas, usar soluções de limpeza frias, podem retardar a cicatrização. Eliminar a causa da inflamação analisando-se atentamente as condições nutricionais, usos de medicações, doenças de base, técnicas de curativo, produtos tópicos contra-indicados. É necessário ainda manter o leito na temperatura corporal, úmido e limpo, evitando o depósito do exsudato. Estas condições devem orientar o cuidado prestado e o produto de curativo a ser utilizado. 26 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Fase de Remodelação: Também denominada como fase de maturação, é marcada pela contração dos tecidos neoformados e assim, remodelação da cicatriz. Isso se deve à diminuição da vascularização e dos f ibroblastos; aumento da força tensil da pele e reordenação das f ibras de colágeno (Figura 1.4). Em uma ferida aguda esta fase tem início em torno da terceira semana após o início da lesão, podendo se estender por até dois anos. Na ferida crônica o processo de remodelação pode culminar no espessamento anormal da camada externa da pele por aumento da produção de queratina. Essa condição é denominada hiperqueratose, comum em feridas de origem venosa e neuropáticas, como as feridas decorrentes de diabetes e hanseníase. A formação de rachaduras entre as camadas hiperqueratósicas pode causar inflamação e prurido10, e permitem que bactérias e fungos entrem nas camadas inferiores da pele. Se não for controlada, isso pode levar à celulite.12,13 Ao somar a excessiva inflamação, a falha na fase proliferativa e a hiperqueratose, tem-se o cliclo patológico que impede a cicatrização completa de feridas crônicas (Figura 1.5) Figura 1.4 - Fase de Maturação Fonte: Ambulatório de feridas da UNICENTRO. 27 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO A figura a seguir sintetiza as diferenças entre os processos de cicatrização aguda e crônica e os fatores que explicam o que dificulta a cicatrização nas feridas crônicas. Figura 1.5 - Hiperqueratose ao Redor de Mal Perfurante Plantar Fonte: Ambulatório de feridas da UNICENTRO. 28 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Fo n te : Th e W ou n d C ar e E xp er ts (W C E )- A d ap ta d o Fi g u ra 1 .6 - F lu xo g ra m a d a C ic at ri za çã o - Fe ri d a A g u d a e C rô n ic a In jú ri a te ci d u al � co m s an g ra m en to e fo rm aç ão d e co ág u lo D es tr u iç ão d o C oá g u lo lib er aç ão d e m ú lt ip lo s fa to re s d e cr es ci m en to P ro d u çã o d e h is ta m in a Fe ri d as A rt er ia is Fe ri d as V en os as Fe ri d as N eu ro p át ic as In fe cç ão d e b ai xo g ra u (C ol on iz aç ão ) A u m en to d a d or Q u e b ra n d o o C ic lo d a F e ri d a C rô n ic a 5 P a ss o s p a ra Q u e b ra r o C ic lo d a F e ri d a C rô n ic a 1. T ra ta r a I sq u e m ia / H ip ó xi a 2 . D e b ri d a m e n to A g re ss iv o 3. T ra ta r e p re ve n ir i n fe cç õ e s 4 . C o n tr o le d o E d e m a 5. A tu a r n o s fa to re s d e r is co A u m en to d os n ív ei s d e h ip óx ia / is q u em ia c om le sã o p or r ep er fu sã o M et al op ro te in as es d a m at ri z au m en ta m d e 50 à 7 5 ve ze s R ed u çã o d a fo rm aç ão , d e co lá g en o, f at or es d e cr es ci m en to e sí ti os d e lig aç ão c el u la re s In ib id or es te ci d u ai s d a m et al op ro te in as e ca em p ar a ze ro C el u la s n ão re sp on si va s e/ ou se n es ce n te s Le sã o p or P re ss ão Fe ri d a C rô n ic a se E st ab el ec e A lt er aç ão n a fa se d e h em os ta si a d a ci ca tr iz aç ão In jú ri a te ci cu al p or is q u em ia e le sã o p or re p er fu sã o is q u êm ic a E st ág io d e p ré -u lc er aç ão d ev id o a m an u te n çã o d e u m fa to r d e le sã o e/ ou p re ss ão /c is al h am en to p ro lo n g ad o Fa to re s d e R is co 1. D ia b et es M el lit u s 2. A n or m al id ad es V as cu la re s 3. In fe cç ão 4 . O u tr as D oe n ça s Si st êm ic as 5. T ab ag is m o 6. D es n u tr iç ão 7. C om p ro m et im en to d a m ob ili d ad e 8. H is tó ri co d e R ad io te ra p ia 9. H is tó ri co d e te ra p ia c om E st er ói d es 10 . H is tó ri co d e Q u im io te ra p ia 11 . Id ad e 12 . O b es id ad e 13 . E tc ... V as od ila ta çã o Fa se H em os tá ti ca 1º 2 4 H or as d o 1º a o 6º d ia ap ós a le sã o Fa se P ro lif er at iv a d o 4º a o 20 º d ia ap ós a le sã o Fa se d e M at u ra çã o d o 3º a o 10 0 º+ d ia ap ós a le sã o Li m p ez a d a f er id a, e q u ilí b ri o d a co n ce n tr aç ão m ic ro b ia n a Fe ch am en to d a fe ri d a Fe ri d a C u ra d a M at u ra çã o co m re al in h am en to d e co lá g en o p ar a au m en ta r a fo rç a te n si l M ac ró fa g os R ec ru ta m en to c el u la r e at iv aç ão d e m ac ró fa g os co m lib er aç ão d e fa to re s d e cr es ci m en to e c it oc in as M ac ró fa g os m an té m a li b er aç ão d e fa to re s d e cr es ci m en to , r es u lt an d o em s ín te se d e co lá g en o, c re sc im en to d e n ov os v as os s an g u ín eo s, c on tr aç ão d as b or d as d a fe ri d a, fo rm aç ão d e te ci d o d e g ra n u la çã o e ep it el iz aç ão fe r id a a g u d a fe r id a C r ô n ic a C a sc a ta d e c ic a tr iz a ç ã o a g u da e c r Ô n ic a 29 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Referências WEYRICH, A. S; ZIMMERMAN, G. A. Platelets: signaling cells in the immune continuum. Trends. Immunol., v.25, n.9, p.489-495. 2004. DEMIDOVA-RICE, T. N; HAMBLIN, M. R.; HERMAN, I. M. Acute and impaired wound healing: pathophysiology and current methods for drug delivery, part 1: normal and chronic wounds: biology, causes, and approaches to care. EMING, S. A; KRIEG, T.; DAVIDSON, J. M. Inflammation in wound repair: molecular and cellular mechanisms. J. Invest. Dermatol. v.127, n.3, p.514-525. 2007. BALBINO, C. A.; PEREIRA, L. M.; CURI, R. Mecanismos envolvidos na cicatrização: uma revisão. Rev. Bras. Cienc. Farm. [online]. v.41, n.1, p.27-51. 2005. LIU, Z. J.; VELAZQUEZ, O. C. Hyperoxia, endothelial progenitor cell mobilization, and diabetic wound healing. Antioxid Redox Signal. v.10, p.1869–1882. 2008. LEONE, A. M.; VALGIMIGLI. M. et al. From bone marrow to the arterial wall: the ongoing tale of endothelial progenitor cells. Eur. Heart J. v.30, n.8, p.890–899. 2009. MACFIE, C. C. et al Effects of warming on healing. Journal of Wound Care; v.14, n.3, p.133-135. 2005. MCGUINNESS, W. et al Influence of dressing changes on wound temperature. Journal of Wound Care; v.13, n.9, p.383-385. 2004. ENOCH, S.; HARDING, K. Wound bed preparation: The science behind the removal of barriers to healing. Wounds. v.15, n.7, p.213–229. 2003. FRYKBERG, R. G.; BANKS, J. Challenges in the Treatment of Chronic Wounds. Adv. Wound Care (New Rochelle). v.14, n.9, p.560-582. 2015. Management of hyperkeratosis of the lower limb: Consensus recommendations. London: Wounds UK, v.11, n.4. 2015. Wounds International Optimising wellbeing in people living with a wound. An international consensus. London: Wounds International. 2012. All Wales Tissue Viability Nurse Forum (AWTVNF). All Wales guidance for the management of hyperkeratosis of the lower limb. London: Wounds UK. 2014. 1 2 3 4 9 5 10 6 11 7 12 8 13 30 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO GLOBAL DA PESSOA COM FERIDA CRÔNICA Carine Teles Sangaleti Catiuscie Cabreira da Silva Tortorella Dannyele Cristina da Silva Mariana Abe Vicente Cavagnari Tatiane BaratieriDefinição Antes de realizar o curativo em si, é necessário que se realize uma avaliação completa da pessoa que tem a ferida, na busca de informações que possam esclarecer a causa da ferida e os motivos que retardam o processo de cicatrização. Como destacado anteriormente, devemos nos guiar pela ferramenta TIME. Assim, toda informação coletada deve ser relacionada às caraterísticas do leito da lesão, pois o leito expressa as consequências de doenças, de más condutas de tratamento, de processos infecciosos, de carências alimentares e até a falta de cuidado. Assim, é fundamental, que na primeira avaliação sejam realizadas as seguintes etapas: Avaliação das necessidades de saúde, em todas as suas dimensões, inclusive social, como, por exemplo, avaliação da disponibilidade da rede de suporte em saúde, disponibilidade de recursos materiais e de consumo. A avaliação social é muito relevante no tratamento de uma pessoa com ferida, especialmente em países com grandes desigualdades como o Brasil. Os protocolos internacionais que frequentemente são usados como exemplo para nossa prática, não destacam esse contexto social. Recentemente, um consenso britânico destacou a importância de se incluir fatores sociais na avaliação e propôs a mudança do nome da ferramenta TIME para TIMERS, incluindo o social nessa ferramenta. 1 31 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO No Brasil já estamos habituados, há muitos anos, a considerar as condições sociais para implantar as ações de cuidado das pessoas com feridas. Assim, dada a importância do tema, vamos destacar um capítulo destinado a instrumentalizar a Avaliação Social. Lembre-se: Nunca esqueça de envolver a pessoa que recebe o cuidado, os cuidadores e familiares. Se a pessoa que apresenta uma ferida crônica não tem cuidador e nem familiares disponíveis para o apoio, então uma das necessidades identificadasnesse item é a de compor uma rede de apoio Avaliação clínica: Exame f ísico geral, história familiar de doenças, avaliação de patologias atuais e pregressas, de resultados de exames laboratoriais ou a necessidades dos mesmos, avaliar o uso de medicamentos, prescritos e não prescritos, interações medicamentosas, polifarmácia, avaliação antropométrica, avaliação nutricional geral, análise dos pulsos periféricos, avaliação neurológica, com enfoque na detecção de neuropatias e da capacidade para o autocuidado. 2 Para que investigar tudo isso? Para identificar fatores que podem explicar a etiologia da lesão e os motivos da dificuldade de cicatrização da mesma. 32 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Avaliação da ferida: devemos avaliar usando a TIME, ou seja, com enfoque nos tipos de tecido no leito, presença de fatores no leito e na pele ao redor que indiquem inflamação e infecção, avaliação do grau de umidade, tipo e grau de exsudação e de fatores que comprometem a epitelização. Lembre-se: a TIME nos leva ao TODO. O diagrama abaixo apresenta os principais tópicos que devem ser abordados e registrados na avaliação da ferida: 3 Avaliação dos tipos de tecido: Segundo a ferramenta TIME, a avaliação dos tipos de tecidos no leito da ferida (sigla T) é fundamental para o preparo do mesmo. Todo tecido desvitalizado deve ser removido, e todo tecido viável, necessário à cicatrização, deve ser cuidadosamente manejado. [conforme o capítulo 1 do módulo 2 – preparo do leito da ferida.] Assim, abaixo estão destacadas as def inições e características dos tipos de tecido que o leito da ferida pode apresentar: A avaliação da ferida deve conter Tipo de tecido no leito da lesão Sinais de inflamação e/ou infecção Características de pele ao redor Investigação de outros fatores (locais e sistêmicos) Mensuração da lesão A avaliação da ferida deve conter Tipo e quantidade de exsudato Localização da lesão 33 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Tecido de Granulação Tecido conjuntivo que se forma na fase proliferativa da cicatrização. É vital a cicatrização. O tecido de granulação saudável é rosado ou vermelho vivo e é umido. O tecido de granulação não saudável é descorado ou vermelho escuro e sangra com facilidade. Isso pode indicar isquemia e a presença de infecção local. Tecido de Epitelização Novo epitélio que deve surgir após a granulação, na fase proliferativa. A epitelização tem cor rosa-claro brilhante (pele fina), e as células epiteliais proliferam das bordas da lesão para o centro. Nas feridas crônicas é comum surgirem ilhas de epitelização. Esfacelo Fibrinoso Tecido desvitalizado de coloração que varia de esbranquiçada ou amarelada. É composto por fibrina, elastina, colágeno, leucócitos intactos, fragmentos celulares, exsudato e grandes quantidades de DNA. Pode ter a presença de microrganismos. O esfacelo pode estar firme ou frouxamente aderido no leito e nas bordas da ferida. Chamamos esse esfacelo de excesso de fibrina. Fonte: Ambulatório de Feridas da UNICENTRO. Figura 1.7 - Tecido de Granulação Figura 1.8 - Tecido de Epitelização Fonte: Ambulatório de Feridas da UNICENTRO. Fonte: Ambulatório de feridas da UNICENTRO. Figura 1.9 - Esfacelo Fibrinoso 34 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Necrose de liquefação ou esfacelo mucóide Tecido delgado de coloração amarelada inviável. É resultado da morte celular devido a ação de uma agente de lesão, especialmente à colonização microbiana. Representa um importante fator de risco para contaminação e proliferação bacteriana, e amplia a resposta inflamatória, por isso prejudica a cicatrização. Necrose de coagulação Trata-se do tecido morto, inviável, no qual as células se convertem em uma placa opaca de coloração negra. É um tipo de necrose comum em processos isquêmicos, como os causados por pressão contínua e ressecamento, por exemplo. Essa necrose também amplia a inflamação, favorece a proliferação microbiana e impede a cicatrização. A cobertura total de uma ferida por necrose de coagulação recebe o nome de escara. Sinais de inflamação e de infecção: A inflamação é marca característica e determinante de uma lesão crônica. A inflamação constante, ocasionada pela manutenção de um fator agressor, seja ele biológico (biof ilme, má vascularização, doenças crônicas, medicamentos, estresse, necrose), Fonte: Ambulatório de feridas da UNICENTRO. Fonte: Ambulatório de feridas da UNICENTRO. Figura 1.10 - Necrose de Liquefação Figura 1.11 - Necrose de Coagulação 35 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO mecânico (traumas), químico (produtos inadequados para curativo, alteração de pH) ou f ísico (pressão, temperaturas inadequadas) é o que explica em grande parte a não cicatrização da ferida. Por isso, a avaliação da inflamação é um dos itens destacados na ferramenta TIME. Saber avaliar os sinais de inflamação e de infeccção na ferida é fundamental para guiar o tratamento, para evitar encaminhamentos desnecessários e para promover o uso racional de antibióticos. A presença de uma ferida por si só aumenta o risco de invasão local e sistêmica por microrganismos, por isso, antes de avaliar os sinais de infecção é importante f icar atendo às condições que aumentam seu risco, que são: Sinais de Inflamação Aguda Eritema ou Rubor Progressiva Destruição e Fibrose Tecidual Edema Edema Persistente Calor Local Lipodermatoesclerose e Hiperqueratose Dor Dor na Lesão, Insensibilidade na Região Peri-lesão Exsudato Limpo ou Seroso Fontes: ZHAO, R. et al.2016; Wounds UK, 2015. Exsudato Fibrinoso Duração de até 20 Dias Dura Mais de 4 Meses Sinais de Inflamação Crônica Importante: Apesar da ferida crônica apresentar constante inflamação (inflamação crônica), também pode ocorrer inflamação aguda, caso a ferida apresente infecção ou sofra um dano agudo (novo dano). Quadro 1.1 - Inflamação Aguda X Inflamação Crônica 36 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Sinais locais de infecção Exacerbação dos sinais inflamatórios agudos (atenção ao sinal do aumento do edema nas bordas da lesão) Febre, taquicardia, leucocitúria, hiperglicemia Aumento da extensão da lesão Mudança no odor, exacerbação do odor Tecido de granulação friável Descoloração da lesão . . . Insensibilidade na ferida, mas dor intensa ao redor, devido edema (aumento da dor) Aumento da extensão do eritema, para além das bordas da lesão Sinais sistêmicos de infecção Considerados os fatores de risco, no quadro abaixo estão apresentados os sinais de infecção em feridas: Comorbidades Sistêmicas Condições psicossociais Hospitalização, pobreza, más condições de higiene, hábitos de vida não saudáveis como tabagismo. Corticóides, imunossupressores e agentes citotóxicos. Hipóxia tecidual por insuficiência arterial ou venosa, presença de necrose no leito da ferida, extensão e profundidade (quanto maior, maior o risco), localizações potencialmente contaminadas (região anal, pés). Diabetes, obesidade, estados de imunocomprometimento, desnutrição, anemias, insuficiência renal, doenças cardíacas, arteriopatia periférica, neoplasias malignas, artrite reumatóide. Na área da ferida Medicamentos Quadro 1.3 - Sinais Locais e Sistêmicos de infecção Quadro 1.2 - Fatores de Risco de Infecção em Feridas 37 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Parada repentina da evolução no processo de cicatrização e aumento da extensão da ferida Aumento na exsudação serosa ou presença de exsudato purulento Gânglios linfáticos palpáveis, próximos à lesão Crepitação, endurecimento e descoloração que se expandem para além das bordas da ferida . . . Endurecimento da pele e tecidos subcutâneos ao redor de uma ferida, devido à inflamação exacerbada. Mal-estar ou outra deterioração inespecífica na condição geral da pessoa com ferida Fontes: World Union of Wound Healing Societies (WUWHS),2008. Importante: A presença de necrose NÃO é sinônimo de infecção na ferida, por isso a avaliação criteriosa é fundamental para evitar o uso desnecessário de antibióticos. Condições da pele ao redor: Demonstram a presença de processos inflamatórios, como é o caso da dermatite ocre e lipodermatoesclerose; problemas circulatórios como é o caso da palidez, edema, hematomas, perda de pêlos e também a dermatite ocre. Evidenciam ainda a manutenção do atrito como na hiperqueratose; demonstram uso inadequado de produtos, como exemplo a maceração, se a cobertura escolhida foi pouco absorvente, e ainda evidencia processos infecciosos. 38 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Abaixo serão abordadas as alterações mais prevalentes na área ao redor das feridas: Edema Sua avaliação auxilia na definição da etiologia da ferida crônica, pois pode indicar problemas vasculares, insuficiência cardíaca, alteração da função renal, déficit nutricional e quadro reacional a alguns produtos, medicamentos e alimentos. A redução do edema é importante para recuperação da pele ao redor, para melhora do padrão circulatório ao redor da lesão e, consequentemente o grau de nutrição e oxigenação da ferida, impactando na cicatrização. A diminuição do edema muitas vezes sugere melhora no padrão inflamatório e de remissão de processos infecciosos. a O edema evidencia uma condição clínica que deve ser tratada para que a ferida cicatrize, ou seja, é necessário tratar a causa do edema e não apenas orientar a elevação dos membros inferiores e repouso, como se toda causa de edema fosse a estase venose e linfática. Por exemplo: Edema consequente de alteração cardíaca contraindica terapia compressiva, mesmo que a ferida seja venosa. Como mensurar e registrar o edema? É possivel mensurar o edema por meio da escala de cruzes (de + a ++++ cruzes).3 Esse sistema requer que o seguimento do portador de ferida seja realizado pelo mesmo profissional, uma vez que incorpora um aspecto subjetivo na avaliação. 39 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Hematomas/eczemas/eritemas: Podem indicar pressão/impacto constante na região da lesão, estase venosa, alergias, distúrbios de coagulação, processos inflamatórios e infecciosos. Deve-se investigar a causa da alteração a f im de intervir. Eczema de estase: Comum nas feridas crônicas de origem venosa, é decorrente da estase venosa por insuficiência valvular ou tromboflebites. Se não for bem identif icado, pode levar a diagnósticos equivocados e uso de antibioticoterapia. Apresenta como sinais prodrômicos associados o edema e a dermatite ocre, com ou sem prurido. O eczema geralmente surge no terço inferior da perna. É um sinal importante para identif icação de ferida venosa.4 [Para saber mais sobre a ferida venosa consulte a página 92] Dermatite ocre: É uma dermatite de estase, comum na insuficiência venosa e que representa uma inflamação na pele e tecidos adjacentes. Essa inflamação ocorre devido à ruptura de pequenos vasos superf iciais, ou mesmo à dilatação de vasos ocasionada por pressão venosa excessiva, que faz com que componentes do sangue sejam liberados no espaço extra-vascular. Nesse local, tais componentes são considerados corpos estranhos, levando à resposta inflamatória de defesa. A degradação das células sanguíneas leva à formação de pigmento ferroso que impregna na pele e confere a cor ocre (ferrugem). A dermatite ocre apresenta- se na forma de petéquias ou equimoses de cor acastanhada e aparece nas pernas (terço inferior) e região perimaleolar, assumindo comumente o formato de bota. A dermatite ocre também b c d Fonte: https://www.mdsaude. com/dermatologia/eczema/ Figura 1.12 - Eczema de Estase https://www.mdsaude.com/dermatologia/eczema/ https://www.mdsaude.com/dermatologia/eczema/ 40 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO e f pode ocorrer em adultos e idosos que permanecem em pé por muito tempo, ou em outras condições que causam estase venosa como varizes, obesidade, atrof ias musculares por envelhecimento, desuso, desnutrição, artrites, deformidades ósseas e pés planos. Todas essas condições aumentam a pressão hidrostática e dif icultam o retorno venoso. Se não tratada a causa da dermatite ocre, a inflamação contínua pode levar à formação de ferida.5 Perda de pelos: A maior causa de perda de pelos é a dificuldade de circulação sanguínea, tanto arterial quanto venosa. Geralmente essa perda de pelos na pele ao redor da lesão está acompanhanda de outros sinais clínicos, como alterações da coloração e espessura da pele. Áreas com redução de pelo e suor são sinas de hanseníase. Lipodermatoesclerose: Também conhecida como hipodermite esclerodermiforme ou paniculite esclerosante, é um termo dado a um quadro de endurecimento da pele e tecido subcutâneo, progressivo, associado a um processo inflamatório, com evolução para fibrose local. Acomete membros inferiores, principalmente o terço distal das pernas. Está frequentemente associada à insuficiência venosa crônica, isquemia arterial e tromboflebite.4 Fonte: Ambulatório de feridas da UNICENTRO. Fonte: Ambulatório de feridas da UNICENTRO. Figura 1.13 - Dermatite Ocre Figura 1.14 - Lipodermatoesclerose em Tornozelo 41 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Esse endurecimento demonstra a substituição e perda da função do tecido original. Além disso, nas áreas próximas ao tornozelo pode ocasionar anquilose. Anquilose é a rigidez completa ou parcial da articulação, que pode ocorrer devido ao f ibrosamento das estruturas circundantes.9 A anquilose reduz a mobilidade da panturrilha e, assim piora o retorno venoso, além de favorecer quedas devido à dif iculdade de movimentação articular. Maceração: Processo de amolecimento com formação de dobras na pele, ao redor da lesão, que ocorre quando há excesso de umidade. O controle da umidade, por meio, do uso de coberturas adequadas e trocas frequentes (conforme necessidade – quando saturar a cobertura), é fundamental para evitar maceração. Ressecamento e descamação: Sinais de perda de umidade da pele que causam sintomas como desconforto, prurido, sensação de repuxamento e até dor. Indicam poblemas circulatórios, processos alérgicos e inflamatórios, déf icits nutricionais e de hidratação sistêmica ou local. O ressecamento pode indicar ainda a perda da função das glândulas sudoríparas e sebáceas, como ocorre na hanseníase. A pele ressecada ou descamativa dif iculta a cicatrização e propicia a abertura de novas feridas. Hiperqueratose: É um espessamento anormal da camada externa da pele (estrato córneo da epiderme), associado à proliferação g h i Fonte: Ambulatório de feridas da UNICENTRO. Figura 1.15 - Bordas Maceradas 42 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO excessiva de células produtoras de queratina. É comumente observada em pessoas que apresentam linfedema, insuficiência venosa crônica e alterações neuropáticas que causam inflamação contínua. O espessamento anormal da pele ocorre na tentativa de responder a um processo de lesão contínuo causado por pressão, cisalhamento, fricção, má nutrição vascular e drenagem linfática prejudicada. A hiperqueratose também é observada em condições de anidrose, como ocorre na hanseníase e diabetes mellitus. Também pode ocorrer devido à falta de limpeza da pele em pontos de pressão ou bordas de feridas, pois os restos celulares acumulados podem causar pressão, que é um fator de lesão, e com isso levar ao desenvolvimento da hiperqueratose. Avaliação do Exsudato: A produção de exsudato é uma parte natural do processo de cicatrização de feridas. É gerado como parte da resposta inflamatória inicial e durante o estágio proliferativo de cura, e é um componente essencial do processo de reparação. Geralmente, ocorre uma alta produção de exsudato na ferida após lesão inicial, diminui ao longo do tempo e varia dependendo da etiologia da ferida.Em uma ferida crônica, os exsudatos serão produzidos de forma contínua. 8,9 O exsudato cria um ambiente úmido ideal para a cicatrização, mas o aumento no volume e viscosidade está associado a um aumento da carga biológica e da contagem de células brancas, o que prejudicará a cicatrização. Tais problemas podem apresentar-se como maceração da pele ao redor da ferida, bem como um risco aumentado de infecção. A seguir estão apresentados os tipos e características de exsudato: 8 43 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Seroso Serosanguinolento Fibrinoso Purulento Características: Claro e aquoso. Aspectos: Esperado durante todo processo de cicatrização. O aumento na quantidade pode ser associado aos sinais de infecção. Em excesso durante todo o processo é necessário investigar ICC, desnutrição e, a depender da localização, fístulas. Características: Claro com pontos avermelhados/roseados e aquoso e/ou viscoso. Aspectos: Normal na fase inflamatória e proliferativa. Pode ser decorrente da remoção traumática de uma cobertura ou erro de desbridamento. Trauma no tecido de granulação. Características: Claro com pontos gelatinosos e aquoso e/ ou fino. Aspectos: Tem a presença de fibrinas. Indicativo de inflamação e pode ser associado a infecção Características: Leitoso de coloração amarelada, amarronzada ou às vezes esverdeada. Geralmente espesso. Aspectos: Composto pode neutrófilos, células inflamatórias e patógenos e frequentemente incluí necrose liquefeita. Indicativo de infecção. A coloração verde pode ser indicativoa de processo infeccioso, mas é preciso relacionar esse tipo de exsudato a outros sinais de infecção. Figura 1.16 Exsudato Seroso Figura 1.18 Exsudato Fibrinoso Figura 1.17 Exsudato Serosanguinolento Figura 1.19 Exsudato Purulento 44 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Na avaliação da quantidade do exsudato é fundamental acompanhar a evolução da lesão. Como destacado anteriormente, mudanças na quantidade do exsudato podem indicar evolução ou involução da ferida. Para a mensuração pode-se usar o sistema de cruzes, conforme quadro a seguir: 8 Seropurulento Hemopurulento Sanguinolento ou Hemorrágico Características: Leitoso de coloração amarelada, Geralmente fino Aspectos: Composto pode exsudato seroso com presença de pus. Pode ser sinal de infecção. Pode estar relacionado com a liquefação de necrose tecidual. Características: Leitoso de coloração avermelhada. Espesso. Aspectos: Composto pode exsudato sanguinolento na presença de pus. É sinal de infecção estabelecida. Características: De coloração avermelhada. Geralmente espesso, mas pode ser fino. Aspectos: Composto por glóbulos vermelhos, indicativo de rompimento de capilares ou trauma na ferida. Pode indicar uma infecção bacteriana Figura 1.20 Exsudato Seropurulento Figura 1.22 Exsudato Sanguinolento/ Hemorrágico Figura 1.21 Exsudato Hemopurulento 45 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Por se tratar de uma medida subjetiva, é preciso que a equipe esteja familiarizada com as medidas utilizadas. Para minimizar a subjetividade e diminuir a imprecisão, recomenda-se que a pessoa com a ferida seja atendida sempre pelo mesmo prof issional; quando isso não for possível, o diálogo constante, o registro e discussão dos casos entre os prof issionais é fundamental. Importante: A ferida vai exsudar até fechar e fatores como a intensidade da inflamação, presença de infecção, tamanho e profundidade (quantidade relativa ao tamanho) e etiologia da ferida influenciam no volume da exsudação. Na avaliação ambulatorial é importante perguntar qual foi a frequência da troca dos produtos para cobertura feita em casa. Localização da ferida: A localização da ferida pode variar dependendo da etiologia da lesão, logo essa informação auxilia muito o tratamento. A localização da lesão fornece importante informação sobre sua provável causa, ou seja, se é venosa, arterial, neuropática, hipertensiva ou lesão por pressão.10 Para o registro sugere-se uso de ilustrações topográficas que favoreçam a identif icação facilitada da localização da ferida, como segue: Cruzes + LeveSecreção ocupa menos da metade da gaze Secreção ocupa mais da metade da gaze Secreção ocupa toda a gaze ++ +++ Moderado Intenso QuantidadeQuantidade Quadro 1.4 - Mensuração do Exudato em Feridas 46 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Mensuração da ferida: A mensuração da ferida viabiliza o acompanhamento do processo de evolução do processo de cicatrização. Essa medida é o principal indicador de resultado do tratamento de pessoas com feridas, e pode ser realizada das seguintes formas: Mensuração simples: Com uma régua, medir em centímetros a região de maior comprimento, e depois a largura, com a régua em 90° ao comprimento aferido. A profundidade da ferida pode ser verif icada com uma pinça ou sonda uretral f ina, que deve ser inserida no ponto mais profundo da ferida. A precisão desse tipo de mensuração pode ser prejudicada se for realizada por várias pessoas, ou se existir tecido necrosado ou desvitalizado. O tamanho real da ferida só será evidente após o desbridamento.12 Figura 1.23 - Ilustração topográfica para identificação de feridas Ilustração: Cristiano Walter 47 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Decalque: Consiste em traçar a forma da ferida em material transparente. O mais utilizado é o papel de acetato. Esta mensuração não dá informações sobre a profundidade e aparência da ferida. A área pode ser calculada colocando-se o decalque por cima de um papel quadriculado e contando-se o número de quadrados inteiros.12 Fotografia: Proporciona uma evidência visual da aparência de uma ferida, no entanto, não detecta a profundidade da mesma. Esse método exige a repetição do procedimento, em intervalos regulares, sob o mesmo ângulo, luminosidade e distância focal constante, para permitir comparações futuras. O inconveniente deste método é que nem todos os prof issionais têm treinamento e acesso a uma boa câmera.12 Sistemas computadorizados de medição: Existem vários dispositivos/aplicativos para celulares/aparelhos planejados especialmente para calcular as dimensões das feridas. Com o avanço desta tecnologia, sistemas como este estão se tornando cada vez mais acessiveis e completos.12 Fatores que interferem na cicatrização: A análise das características do leito da ferida (usando a ferramenta TIME) guia a investigação sobre possíveis fatores, locais e sistêmicos, que explicam o que foi observado no leito e, consequentemente, o que interfere no processo de cicatrização. Assim, a seguir são 48 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO apresentados os principais fatores, locais e sistêmicos, que influenciam nesse processo. Doenças Sistêmicas: Alguns agravos crônicos podem comprometer as etapas de cicatrização e as mais importantes são: doença vascular periférica venosa e arterial, doenças coronarianas, hipertensão venosa, anemia, distúrbios de coagulação, doenças respiratórias, neuropatias e doenças imunossupressoras. A cicatrização depende do controle destas doenças. Os exames laboratoriais podem auxiliar o prof issional de saúde a fornecer o melhor plano de cuidado. Uso de Medicamentos Sistêmicos: Fármacos antiplaquetários, anticoagulantes ou que inibem a inflamação (corticoides, imunossupressores) podem reduzir a cicatrização de feridas, pois interferem na resposta imunológica normal à lesão. Também podem interferir na síntese protéica, redução na produção de colágeno, aumento na atividade da colagenase, tornando o tecido mais f rágil. Apesar de a ferida crônica apresentar uma inflamação persistente e que deve ser controlada, não é indicado o uso de anti-inflamatórios sistêmicos comuns. A inflamação deve ser controlada eliminando seu fator causal. Restrição da Mobilidade: A imobilidade pode causar tensão no tecido e reduzir o grau de oxigenação. Tabagismo:A nicotina reduz a força de tração e a deposição de colágeno tipo III, prejudica a angiogênese e a ação dos miofibroblastos. 49 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO O fumo ainda reduz a quantidade de hemoglobina funcional, o que dif iculta o aporte de oxigênio para as células. Estresse: O estresse está associado ao aumento da produção de cortisol, com consequente desregulação de processos relacionados à cicatrização. Consumo de Álcool: O consumo de álcool contribui para o processo de inflamação crônica e favorece os déficits nutricionais e hipovitaminoses. Atividade Ocupacional: Ficar muito tempo em pé ou realizar atividades que propiciam a contaminação pode retardar a cicatrização. O repouso é recomendado para a redução da estase venosa e da hipertensão venosa e consequentemente do edema [se ainda tem dúvidas sobre causas de edema, volte à página 38]. Pessoas com feridas ou que apresentam o risco de desenvolvê-las devem ser orientadas quanto ao uso de equipamentos de proteção, calçados adequados e uniformes, para evitar a contaminação da ferida ou novos ferimentos. Mais que orientar, o prof isisonal de saúde deve favorecer o acesso a esses equipamentos. Aderência ao Tratamento: A não adesão ao tratamento de feridas crônicas pode ter origem intencional ou não intencional. A causa da não aderência deve ser amplamente avaliada por uma equipe multiprof issional, visando favorecer o tratamento e a qualidade de vida da pessoa com ferida. 50 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Idade: Pacientes idosos podem ter baixa hidratação e ingestão nutricional, além de alterações nos sistemas circulatório e respiratório que podem prejudicar na cicatrização de feridas. Há sinais de involução da pele a partir dos 40 anos. Com o envelhecimento a epiderme torna-se mais f ina e a quantidade de f ibroblastos reduz. Há diminuição da elasticidade devido à modif icação das f ibras de colágeno e perda de água, o que altera a velocidade da cicatrização. Ocorre alteração do estado imunológico e os linfócitos pouco respondem aos estímulos blastogênicos. Estado Nutricional: A def iciência nutricional pode dif icultar a cicatrização devido à depressão do sistema imune, com prolongamento da fase inflamatória e redução da síntese e proliferação f ibroblástica, colágeno, proteoglicanos e angiogênese. Algumas def iciências são importantes, como a carência de proteínas e de vitamina C, que atuam na síntese de colágeno. A vitamina B aumenta o número de f ibroblastos. O zinco é um cofator envolvido no crescimento celular e na síntese proteica. Até mesmo na presença de obesidade poderá ocorrer def iciência de nutrientes importantes. A avaliação nutricional deverá ser contínua e os níveis de albumina e pré-albumina, contagem total de linfócitos e níveis de transferrina são marcadores da desnutrição e devem ser avaliados e monitorados regularmente. 51 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO No quadro abaixo estão apresentados alimentos que auxiliam no processo de cicatrização: AlimentoNutriente Função Carnes vermelhas e de f rango, ovos, leite e derivados (iogurte, queijo), soja, ervilha, grão de bico, lentilha, pasta de amendoim e amêndoas Frutos amarelos (laranja, cenoura, manga, caqui), abacate, cenoura, damasco seco, óleos de f ígado de peixes, derivados do leite, folhas de cor verde-escura Laranja, tangerina poncã, acerola, caju, goiaba, mamão, morango, kiwi, tomate, brócolis, couve, couve-flor, repolho (branco e roxo), espinafre Beterraba, couve, milho, espinafre, repolho, grão de bico, soja, lentilha, queijo, peixes, ovos, carne de vaca, leite integral, iogurte Fígado, carne bovina e de porco, cereais integrais, batatas, couve, brócolis, leite, ovos, ervilha, oleaginosas Proteínas Síntese dos tecidos, adequar a resposta inflamatória Aumenta a síntese e diminui a degradação proteica, inibe a decomposição de proteína Melhora a imunidade, síntese de colágeno, melhora do processo cicatricial Cofatores para o colágeno Coagulação sanguínea Ação antioxidante, auxilia a angiogênese, melhora a imunidade e favorece a síntese de colágeno e de novos tecidos Ação antioxidante, reparo e regeneração tecidual, estabilização da membrana celular Evitar a hipocalcemia para pacientes em tratamento com curativos de nitrato de prata ou acamados Óleo de girassol, milho e soja, vegetais verde-escuros e sementes oleaginosas Carne de porco, couve-flor e espinafre, óleos vegetais, hortaliças Leite integral, requeijão, queijo, ricota, iogurtes, brócolis, gergelim Glutamina Vitamina A Vitamina E Vitamina K Cálcio Vitamina C Vitaminas do Complexo B Quadro 1.5 - Nutrientes, fontes alimentares e seus mecanismos potenciais nas feridas . . . 52 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Carne bovina, f ígado, ovos, f rutas secas (ameixa) cereais integrais enriquecidos, melaço e beterraba Fígado, castanha de caju, leguminosas, banana, uva, tomate e carnes vermelhas Óleo de girassol, milho, soja, linhaça, gergelim, peixes (sardinha, atum, tainha, salmão), nozes, castanha do Pará, castanha de caju Leite integral, cereais integrais, ovos, f ígado, miúdos e carnes vermelhas, camarão, nozes, castanhas, ervilha Castanha do Brasil, carnes vermelhas, f rango, peixes e ovos, leite e derivados, alho, repolho, cebola, couve-flor, brócolis, cogumelos Ferro Otimizar a perfusão celular Cofator enzimático do metabolismo energético, essencial no processo de divisão celular, síntese de DNA, RNA e proteínas que auxiliam no processo cicatricial Angiogênese, fortalecimento da cicatriz por meio da polimerização do colágeno Ação antioxidante, protege da peroxidação Modulador da inflamação e promoção da cicatrização Zinco Cobre Selênio Autoria: Tortorella, Catiuscie Cabreira da Silva & Cavagnari, Mariana Abe Vicente; 2020. Ácidos graxos essenciais (ômega 3- ômega 6) . . . AGE: ácidos graxos essenciais; DNA: ácido desoxirribonucleico; RNA: ácido ribonucleico Para orientar a avaliação do estado nutricional e subsidiar o encaminhamento correto ao nutricionista, indicamos o uso do algoritmo a seguir: 53 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Fi g u ra 1 .2 4 - A lg or it m o p ar a or ie n ta r o en ca m in h am en to d e p es so as c om fe ri d as p ar a o n u tr ic io n is ta A u to ri a: A d ap ta d o To rt or el la , C at iu sc ie C ab re ir a d a Si lv a & C av ag n ar i, M ar ia A b e V ic en te , 2 0 20 . 54 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Importante: PANCS - Plantas alimentícias não convencionais. O termo, criado por Valdely Ferreira Kinupp em 2008, refere-se às plantas que possuem alguma porção comestível. São plantas nativas ou exóticas, cultivadas ou de origem espontânea, mas que não se encontram em nossos pratos e refeições cotidianos. São flores, tubérculos, folhas, caules, sementes, entre outros. São exemplos de Pancs: almeirão do campo, begônia, capuchinha, caruru, dente-de-leão, inhame e mastruz. Para mais informações, clique nos botões abaixo: Embrapa UFRGS Além das condições que afetam todo o organismo de uma pessoa com ferida (os fatores sistêmicos), fatores no local da lesão também causam grande interferência no processo de cicatrização e precisam ser tratados. São eles: Técnica de Curativo e produtos tópicos inadequados: Uma técnica de curativo inapropriada e a escolha inadequada de um produto de corbertura pode aumentar a ferida ou impedir sua cicatrização. A disponibilidade de produtos e a avaliação de benef ícios e custos são aspectos que devem ser considerados durante a escolha do produto para o curativo. O uso indiscriminado de produtos tópicos como antibióticos, antifúngicos e antissépticos prejudica o processo cicatricial. O prof issional deve conhecer a f inalidade do produto antes de indicá-loou fazer uso [veja o capítulo de produtos contraindicados]. https://www.embrapa.br/documents/1355126/2250572/ed22.pdf/59c6768c-62da-72a3-84c7-1d996101f1b6 https://www.ufrgs.br/viveiroscomunitarios/wp-content/uploads/2015/11/Cartilha-15.11-online.pdf 55 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Corpos Estranhos: A presença de corpos estranhos pode ampliar a inflamação e por isso prejudicar a cicatrização. Presença de Necrose ou Tecido Desvitalizado: Aumentam a inflamação, a carga bacteriana e reduzem a progressão de tecidos viáveis [ler em limpeza e desbridamento]. Infecção e Inflamação: Durante o processo de infeçção há produção intensa de exsudato rico em f ibrina e colágeno, que se depositam no leito e impedem a formação de outros tecidos (leia novamente sobre a avaliação da ferida). Grau de Tensão (pressão): Impede a oxigenação local [veja a página 101 sobre de LPP]. Grau de Oxigenação: Doenças ou condições que alteram o fluxo sanguíneo normal podem afetar a distribuição de oxigênio e dos nutrientes. Doenças sistêmicas afetam localmente o fluxo sanguíneo, reduzindo a oxigenação. Da mesma forma, pressão contínua no local da lesão diminui a oxigenação. Cuidado com curativos compressivos, coxins e outros dispositivos que possam reduzir a perfusão periférica e o grau de oxigenação. A presença de biof ilme também compromete a tensão de oxigênio no leito da ferida [leia mais sobre o biof ilme no capítulo sobre o preparo do leito da ferida]. 56 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO A diminuição do número de hemácias acarreta em anemia, que interfere no processo de reparação tecidual. Exames laboratoriais necessários para a avaliação da pessoa com ferida crônica: Não é raro receber uma pessoa com ferida que não conhece seu histórico de saúde, nem mesmo a história familiar de doenças. Na prática cotidiana é comum que a presença de uma ferida seja o motivo da busca de um serviço de saúde. Sendo assim, para avaliar adequadamente a ferida e investigar suas causas, alguns exames laboratoriais podem contribuir para diagnosticar doenças e distúrbios que explicam a causa da ferida. Além disso, os exames laboratoriais podem ser utilizados como um parâmetro para o acompanhamento e controle metabólico. No quadro abaixo destacamos os principais exames, com relevância clínica, para o atendimento de uma pessoa com ferida crônica: Hemograma Hemácias................................................................................ 4,0 a 5,5 x106/mm3 Hemoglobina....................................................................................... 12 a 17,4 gℓ Volume Corpuscular Médio.............................................................. 36 a 52% Hemoglobina Corpuscular Média............................................... 84 a 96 fℓ Concentração de Hemog. Corpuscular Média............... 32 a 36 g/dℓ Plaquetas............................................................................ 140 a 400 x103/mm3 Leucócitos ........................................................................... 4,5 a 10,5 x103/mm3 57 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Os níveis de glicose estão intimamente relacionados com o processo retardado de cicatrização, especialmente em diabéticos. Pessoas com diabetes podem permanecer na fase inflamatória, o que dif iculta a deposição de matriz extracelular e remodelamento da ferida. Outro fator relacionado é predisposição em desenvolver aterosclerose, que contribui para alterações microvasculares, causando diminuição no fluxo sanguíneo e fornecimento insuf iciente de oxigênio. A hemoglobina é responsável pelo carreamento de oxigênio, quando def iciente ocorre uma diminuição dos níveis moleculares de oxigênio entregue aos tecidos, contribuindo para o retardo da cicatrização. A oxigenação def iciente na lesão ou nos tecidos adjacentes aumenta o risco de infecção. As plaquetas são responsáveis pela formação do tampão hemostático, do qual são secretados os fatores de crescimento, como o derivado de plaquetas (PDGF), o de crescimento transformante beta (TGF-beta), o de crescimento epidérmico (EGF), o de crescimento transformante alfa (TGF-α) e o fator de crescimento de células endoteliais (VEGF), além de glicoproteínas adesivas como a f ibronectina e trombospondina, que são importantes constituintes da matriz extracelular provisória. Em feridas crônicas, alterações nos níveis das plaquetas referem-se a distúrbios hemorrágicos. Leucocitose pode impedir a cicatrização por hipóxia, visto que os leucócitos podem consumir o oxigênio necessário. Além disso, leucocitose indica inflamação contínua, levando à deterioração progressiva dos tecidos pela liberação de enzimas proteolíticas e espécies reativas de oxigênio prejudicando o tecido. Glicemia de jejum Glicose plasmática em jejum (GPJ)........................................≤ 100 mg/dℓ 58 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Outro ponto que vale ressaltar é que pessoas com diabetes têm uma maior propensão em desenvolver infecções. A albumina sérica é um componente protêico, tido como um dos principais antioxidantes do organimo. Foi demonstrado que esta proteína sof re modif icações por ação de espécies reativas de oxigênio, por ser facilmente oxidada, retirada da circulação e degradada. A albumina foi identif icada como a proteína mais proeminente oxidada no fluido da ferida aguda e crônica. A exposição às espécies reativas de oxigênio contribui para a redução da albumina sérica e local, correlacionando com o retardo na progressão da ferida crônica. Albumina sérica Cultura da Biópsia ou Swab da lesão Albumina sérica............................................................................. 3,9 a 5,0 g/dℓ Bactérias gram-positivas mais comuns Staphylococcus Aureus (incluindo MRSA) Staphylococcus Coagulase negativa Enterococcus spp. (incluindo as resistentes avancomicina) Bactérias gram-positiva anaeróbica mais comuns Peptostreptococcus spp. Clostridium spp Bactérias gram-negativas mais comuns Pseudomonas Aeruginosa Escherichia Coli Klebsiella Pneumoniae Serratia Marcescens 59 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Enterobacter spp. Proteus spp. Acinetobacter spp. Bactérias gram-negativa anaeróbicas mais comuns Bacteroides spp. Prevotella spp. Uma variedade de microrganismos compõe a microbiota da pele. As mais comuns de serem encontradas são: Micrococcus spp., Coryneforms (diphtheroids), Staphylococcus Epidermidis, Othercoagulase-Negative Staphylococci, Alpha Haemolytic Streptococci, e Propionibacterium spp. Em uma ferida, onde a barreira natural está rompida, estes e outros microrganismos podem penetrar, causando dano e interrompendo o processo de cicatrização. A formação de biof ilme, caracterizado por uma comunidade de microrganismos agregados, envoltos em matriz extracelular no leito da ferida, coopera metabolicamente para degradação de substratos e até trocas de material genético. Esta organização traz alguns benefícios aos microrganismos permitindo sua agregação, retenção de água, criação de uma barreira protetora, fonte de nutrientes, entre outros. O biof ilme é um dos fatores mais importantes no processo de cronif icação de uma ferida [leia como evitar e tratar o biofilme na página 113]. A osteomielite é a principal alteração relacionada às feridas crônicas, sendo aguda ou crônica, def inida pela predominância de leucócitos polimorfonucleares no tecido ósseo, evidenciando a reabsorção óssea de bordas e detrito ósseo. Na osteomielite crônica ocorre f ibrose ao redor do tecido desvitalizado. Por sua relevância e prevalência em feridas crônicas, a osteomilielite deve ser investigada com radiograf ia, tomograf ia, ressonância e cintilograf ia óssea. Exame de imagem 60 MÓDULO 1 - DEFINIÇÕES E GUIAS PARA AVALIAÇÃO Os diferentes estágios do processo de cicatrização são acompanhados de diferentes composições no exsudato. Tais composições modif icam o pH e metabólitos,
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