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Abordagem centrada na pessoa - Wood LIVRO

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ABORDAGEM
CENTRADA
NA PESSOA
JOHN KEITHWOOD
ETAL ..
(ORG.)
~
Editora
, Fundação Ceciliano Abel de Almeida
Universidade Federal do Espírito Santo
SUMÁRIO
Prólogo
Parte I _Seis Artigos Seminais de Carl R. Rogers
Aspectos Significativos da Terapia Centrada no Cliente 17
Algumas Observações sobre a
Organização da Personalidade.................... 39
Conceito de Pessoa em Funcionamento Pleno... 69
A Equação do Processo da Psicoterapia. 95
Pessoas ou Ciência? Uma Questão Filosófica ··.···123
As Condições Necessárias e Suficientes para a Mudança
Terapêutica de Personalidade ························ 155
Parte 11 _ Da Abordagem Centrada na Pessoa à Terapia
Centrada no Cliente: Uma Retrospectiva de 60 Anos
John K. Wood
Introdução 181
Um Jeito de Ver 185
Tornando-se Terapia 188
Desenvolvendo um Ponto de Vista Próprio ·······191
ê· S· .xito e isternas de Mudança na Personahdade 192
Insight sobre a atureza Humana 200
Insight sobre a Pessoa em Funcionamento Pleno ................... 212
Insight sobre o Respeitável Cliente ........................................ 213
A Complexidade do Cliente ................................................... 218
Insight sobre o Papel do Terapeuta ···················· 225
Insight sobre a Compreensão Empática ············· 227
Insight sobre Congruência ...................................................... 235
O Método Supervalorizado (Embora Necessário) 239
Ambiente: Mais uma Omissão do que um Insight 242
Moralidade ................................................................ 247
O Fenômeno do Relacionamento Terapêutico Eficaz 252
Os Fatos Falando por Si: Um Resumo ············ 253
Em Direção a uma Psicologia para as
Aplicações da Abordagem Centrada na Pessoa ·· 260
Incerteza ou Confusão ............................................................ 264
Será Necessária essa Confusão? . ························ 269
Não tão Bom quanto se Acredita
Melhor do que se Imagina '...................................................... 271
Notas .................................................................. 277
Referencias Bibliográficas ...................................................... 294
PRÓLOGO
Carl Ransom Rogers (1902-1987) talvez tenha sido o psicólogo
mais importante do seu tempo. Numa consulta a psicólogos clínicos
e conselheiros norte-americanos, a quem foi pedido que indicassem
os dez terapeutas mais influentes, o nome de Rogers aparece no topo
da lista. (Smith, 1982)
No entanto, ainda mais impressionante que sua popularidade
foram suas realizações. Após muitos anos de um trabalho dedicado,
desenvolvendo uma psicoterapia verdadeiramente humanista, Rogers
foi eleito, em 1947, presidente da Associação Americana de
Psicologia.
Sua participação nessa instituição marcou um ponto sem volta
no reconhecimento que a sociedade norte-americana passou a dedicar
ao papel do psicólogo clínico, aceitando-o também como
psicoterapeuta. Isto porque, a prática inicial de Rogers no campo do
Aconselhamento Psicológico, tornando-o objeto de pesquisa
empírica, fortaleceu o reconhecimento de seu trabalho como atinente
à psicoterapia, legitimando-a como parte do campo de atuação do
psicólogo. Até então, era vedada aos psicólogos a prática da
psicoterapia, prerrogativa exclusiva de médicos psiquiatras .
Essa mesma associação conferiu-lhe um prêmio por
"Eminente Contribuição Científica" e outro por "Eminente
Contribuição Profissional". Foi também o primeiro presidente da
Associação Americana de Psicoterapeutas, no período
compreendido entre 1956 e 1958.
A EQUAÇÃO DO PROCESSO DA
PSICOTERAPIA 1
Há muito tempo venho tentando formular para mim o
processo pelo qual se atinge a mudança na personalidade e no
comportamento, através da psicoterapia. Essas formulações
mudam de várias maneiras, à medida que minha experiência como
terapeuta aumenta. Elas continuam a mudar enquanto vamos
ganhando, pouco a pouco, através da pesquisa, um conhecimento
mais exato do processo. Algumas vezes sinto que nosso progresso
nessa compreensão é desencorajadoramente lento. Outras vezes,
quando olho para trás e para o que se conhecia em matéria de
psicoterapia há 30 anos, quando me tornei terapeuta, sinto que
temos feito consideráveis avanços.
Tenho sido estimulado nos últimos anos por nossa
habilidade em propor alguns esboços de equação. Podemos
formular proposições, comparáveis a equações químicas
rudimentares. Podemos dizer que, havendo uma pessoa desejando
ajuda e uma segunda provendo um relacionamento com os
elementos a, b e c, então ocorre um processo de mudança que
envolve os elementos x, y e z. Podemos especificar quase que
definitivamente a natureza de cada um desses elementos.
The Process Equation of Psychotherapy. American Journal of Psychoterapy,
vo1.l5( I): 27-45, 1961.
9S94
Obtivemos, em outras palavras, mais conhecimento objetivo de
causa e efeito em psicoterapia.
este artigo, gostaria de apresentar minha formulação atual
do processo de terapia, que incorpora parte do conhecimento mais
recente.
97
uma da final. Selecionou, ao acaso, nove unidades de interação
cliente-conselheiro - uma afirmação do cliente e uma resposta do
conselheiro - de cada uma das entrevistas. Tinha, assim, nove
unidades de interação do começo e nove unidades de interação do
final de cada caso. Isso lhe deu várias centenas de unidades dessas
amostras de entrevista, que foram então colocadas em ordem
aleatória. As unidades de entrevistas iniciais de um caso não bem
sucedido poderiam ser seguidas pelas unidades de entrevistas
finais de um caso bem sucedido, etc.
Três juízes que não conheciam os casos, nem seus graus de
êxito, nem a fonte de qualquer unidade dada, ouviram então esse
material em quatro ocasiões diferentes. Avaliaram cada unidade
numa escala de sete pontos, primeiro pelo grau de empatia;
segundo, pelo grau de atitude positiva do conselheiro em relação
ao cliente; terceiro, pela congruência ou autenticidade do
conselheiro e, quarto, pelo grau em que a resposta do conselheiro
correspondia à intensidade emocional da expressão do cliente.
Penso que todos nós, que conhecíamos o estudo, o
considerávamos uma aventura muito ousada. Poderiam os juízes,
ouvindo unidades isoladas de interação, fazer qualquer avaliação
confiável de qualidades tão sutis? E mesmo se atingissem uma
confiabilidade adequada, poderiam os 18 intercâmbios
conselheiro-cliente de cada caso - uma amostra de um minuto das
centenas ou milhares de intercâmbios que ocorreram em cada caso
- manter alguma relação com o resultado terapêutico? A
possibilidade parecia remota.
Os resultados foram surpreendentes. Foi possível alcançar
alta fidedignidade entre os juízes, ficando a maior parte das
correlações entre eles em torno de 90, com exceção da última
variável. Descobriu-se que um alto grau de compreensão empática
estava significativamente correlacionado, em nível 0,001, aos
casos mais bem sucedidos. Um alto grau de consideração positiva
incondicional estava, do mesmo modo, correlacionado com os
casos mais bem sucedidos, em nível .00 I. Mesmo a avaliação da
o Relacionamento Efetivo
Há dois estudos recentes cujos resultados me entusiasmam
porque representam um considerável avanço na definição objetiva
dos elementos efetivos que ocasionam a mudança terapêutica.
A Relação conforme Percebida por "Iuizes"
O primeiro estudo que queria relatar é o de Halkides (1), que
partiu de uma de minhas formulações teóricas, referente às
condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica (2).
Ela propôs como hipótese uma relação significativa entre a
extensão da mudança construtiva na personalidade do cliente e
quatro variáveis referentes ao terapeuta, quatro características
atitudinais sutis: (a) o grau de compreensão ernpática manifestada
pelo terapeuta em relação ao cliente; (b) o grau de atitude afetiva
positiva (consideração positiva incondicional) manifestada pelo
terapeuta em relação ao cliente; (c) o quanto o terapeuta é genuino
ou congruente, no sentido em que suas palavras correspondam a
seus própriossentimentos; e (d) o quanto a resposta do terapeuta
corresponde à afirmação do cliente na intensidade da expressão
af'eti va. Para investigar essas hipóteses, ela selecionou,
primeiramente, por múltiplos critérios objetivos, um grupo de dez
casos que poderiam ser classificados como "os mais bem
sucedidos" e um grupo dos dez casos "menos bem sucedidos".
Tomou de cada um desses casos uma entrevista da fase inicial e
96
•
autenticidade ou congruência do terapeuta - a extensão em que suas
palavras correspondiam a seus sentimentos - foi correlacionada
com o resultado dos casos bem sucedidos, e novamente a nível de
~ignificâ~cia de .001. Os resultados só foram ambíguos e
inconclusivos na investigação da intensidade' correspondente de
expressão afetiva.
É interessante também, que, escores elevados nessas
va~iáveis não foram correlacionados mais significativamente a
unidades das entrevistas finais, do que a unidades das iniciais. Isso
significa que as atitudes do conselheiro foram muito constantes no
decorrer das entrevistas. Se ele era altamente empático, tendia a
sê-lo do começo ao fim. Se lhe faltava autenticidade, isto tendia a
ser verdade tanto nas entrevistas iniciais como nas finais.
. ?utro resultado de interesse é que três das quatro variáveis
investigadas mostraram alto grau de correlação. As medidas de
empatia, consideração positiva incondicional e autenticidade ou
congruência correlacionaram-se altamente, de .72 a .89. É evidente
que essas três variáveis são muito interligadas ou podem
representar três medidas de um fator mais subjacente. A
correspondência do terapeuta à intensidade afetiva do cliente não
se correlacionou significativamente às outras três, nem com ao
fator êxito.
Os resultados de Halkides podem ser expressos de maneira
muito simples. A qualidade da interação do terapeuta com seu
cliente pode ser fidedignamente avaliada com base em uma
amostr~ .muito pequena de seu comportamento. Há uma grande
~robab[lIdade de uma efetiva relação de ajuda quando o terapeuta
e congruente, quando suas palavras correspondem a seus
sentimentos, quando gosta de seu cliente e o aceita
incondicionalmente e quando compreende os sentimentos do
cliente, como estes parecem a ele mesmo, comunicando-lhe essa
compreensão.
98
•
o Relacionamento conforme Percebido pelos Clientes
Um segundo estudo do relacionamento terapêutico foi
realizado por Barrett-Lennard (3). Ele também quis investigar a
teoria que eu tinha proposto quanto às qualidades essenciais da
relação que produz mudança terapêutica. Entretanto, em vez de
usar juízes isentos, ele estudou a maneira pela qual o
relacionamento era percebido pelo cliente e pelo terapeuta.
Desenvolveu um Inventário de Relacionamento que tinha formas
diferentes para clientes e terapeutas e foi planejado para estudar
cinco dimensões do relacionamento. Até o momento, ele analisou
somente os dados da percepção do relacionamento pelo cliente e
são esses os resultados que relatarei. Barrett-Lennard estudou uma
nova série de casos nos quais ele sabia que teria várias medidas
objetivas do grau de mudança. Apresentou seu Inventário de
Relacionamento a cada cliente, após a quinta entrevista. Com a
finalidade de oferecer mais detalhes desse estudo, vou desenvolver
cada uma das variáveis.
Ele estava interessado, em primeiro lugar, em medir em que
extensão o cliente se sentia empaticamente compreendido.
Incluiu, então, itens relativos ao terapeuta, que foram avaliados
pelo cliente numa escala de seis pontos, variando de muito
verdadeiro a extremamente não verdadeiro. Fica evidente que
esses pontos representam diferentes graus de compreensão
empática:
Ele aprecia o que minha experiência significa
para mim.
Ele entende o que eu digo de um ponto de vista
imparcial e objetivo.
Ele entende minhas palavras, mas não a
maneira C0/l10 sinto.
99
Em segundo lugar, Barrett-Lennard quis medir o nível da
consideração, o grau da afeição do terapeuta pelo cliente. Para fazê-lo,
havia itens como os listados abaixo, cada um novamente variando de
extremamente verdadeiro a extremamente não verdadeiro.
Ele se preocupa comigo.
Ele é indiferente a mim.
Ele me desaprova.
Para medir a incondicionalidade da consideração, a extensão
em que não havia condições para a afeição do conselheiro, itens deste
tipo foram incluidos:
Quer eu esteja expressando "bons" ou "maus"
sentimentos, isso parece afetar o modo como ele se
sente em relação a mim.
Seu interesse por mim depende do que eu esteja
lhe falando.
A fim de medir a congruência ou autenticidade do terapeuta
no relacionamento, itens deste tipo foram usados:
Ele se comporta extamente do jeito que é 110
nosso relacionamento.
Elefinge gostar de mim ou me entender mais do
que realmente sente.
Ele desempenha um papel diante de mim.
Barrett-Lennard também quis medir outra variável que
considerava importante - a disponibilidade psicológica do
conselheiro, ou a disposição, para se deixar conhecer. Para medi-Ia,
itens deste tipo foram utilizados:
100
Ele me contará livremente seus próprios
pensamentos e sentimentos quando eu quiser
conhecê-los.
Ele mostra desconforto quando pergunto algo
sobre ele.
Ele não se dispõe a me dizer como se sente a meu
respeito.
Os resultados de Barrett-Lennard são interessantes. Os mais
experientes de seus terapeutas foram percebidos como tendo mais
das quatro primeiras qualidades que os terapeutas menos
experientes. Na "disposição para se deixar conhecer", entretanto,
deu-se o inverso.
Nos clientes mais perturbados dessa amostra, as quatro
primeiras medidas se correlacionaram todas, significativamente,
ao grau de mudança na personalidade, medido objetivamente, e ao
grau de mudança avaliado pelo terapeuta. Compreensão empática
foi mais significativamente correlacionada à mudança, mas
autencidade, grau de consideração e incondicionalidade de
aceitação estavam também correlacionados à terapia bem
sucedida. A disposição para se deixar conhecer não se
correlacionou significativamente.
Assim podemos dizer, com alguma certeza, que um
relacionamento caracterizado por alto grau de congruência ou
autencidade do terapeuta; por uma sensível e acurada empatia por
parte do terapeuta; por um alto grau de consideração, respeito e
apreço pelo cliente por parte do terapeuta; e por ausência de
condicionalidade em sua consideração, terá alta probabilidade de
ser uma relação terapêutica eficaz. Essas qualidades parecem ser
os fatores básicos produtores de mudança na personalidade e no
comportamento. Esta declaração mantém-se, quer esses elementos
sejam classificados por um observador imparcial que ouve as
entrevistas gravadas, quer sejam avaliados pelo cliente como este
os percebe. Parece claro nos dois estudos que essas qualidades
101
podem ser medidas ou observadas em amostras reduzidas da
interação, já na fase inicial do relacionamento, e podem ser usadas
para predizer o seu resultado.
Esses elementos parecem necessários à terapia bem sucedida
do tipo centrada no cliente. Se são necessários a qualquer mudança
construtiva na personalidade, desconhece-se, mas eu levantaria a
hipótese de que isso é verdade. Se representam todas as condições
necessárias, é igualmente desconhecido mas é interessante que
duas outras qualidades do relacionamento que foram medidas,
provaram não estar relacionadas ao grau de mudança em terapia.
Uma Equação Provisória
Assim, podemos formular nosso esboço da equação de
diversas maneiras. Dado um relacionamento entre terapeuta e
cliente, podemos dizer:
Autenticidade, mais empatia e consideração
positiva incondicional pelo cliente equivalem a
terapia bem sucedida.
Mais acuradamente, podemos formular desta maneira:
A percepção que o cliente tenha da
autenticidade, da compreensão empática e da
consideração positiva incondicional do terapeuta
representa, para o cliente, terapia bem sucedida.
Ou talvez, ainda melhor:
Quanto mais o terapeuta é percebido pelo
cliente como sendo genuíno, como tendo uma
compreensão empática e consideração incondicional
102
por ele, maior será o grau de mudança construtivana
personalidade do cliente.
Estou certo de que essa questão será modificada e reescrita
à medida que estivermos mais bem informados através de estudos
posteriores. O fato de termos conhecimento empírico suficiente
para, de qualquer modo, registrã-Io por escrito, significa para mim
um avanço extraordinário.
o Processo conforme ocorre no Cliente
Tentei explicitar o lado esquerdo ou causal da equação da
terapia. É possível colocar em pormenores, igualmente concretos,
o lado direito ou o lado - efeito da equação? O que aconteceu no
cliente? Qual é esse processo de mudança, de aprendizagem, de
terapia que é desencadeado? Aqui, me parece, as formulações têm
sido mais variadas e nosso conhecimento é ainda mais provisório.
Entretanto, já existe um começo. Estamos identificando vários
tipos de aprendizagens que ocorrem, e os eventos seqüenciais que
caracterizam o processo.
Durante os últimos três anos, preocupei-me especialmente
com o processo de eyentos seqüenciais que ocorrem com o client~ o
(4). Mergulhei em gravações de sessões terapêuticas. Nelas, tenter
discernir as mudanças características ou aprendizagens que
ocorrem quando a terapia é proveitosa. Dessa experiência, resultou
uma formulação um pouco diferente de um continuum do
funcionamento psicológico. Gostaria de apresentá-Ia de forma
muito provisória. Vejo-a como um longo e árduo caminho de
mudança e desenvolvimento. Determinado cliente começa a
terapia em algum ponto desse caminho e, se for ajudado, caminha
uma distância variável, rumo ao objetivo.
Espero que a natureza desse caminho se torne mais clara no
que se segue. Deve ser suficiente, por ora, dizer que começa numa
103
extremidade, com um tipo de funcionamento psicológico rígido,
estático, indiferenciado, não-sentido e impessoal. Evolui, através
de vários estágios, até a outra extremidade, num nível de
funcionamento marcado por mutabilidade, fluidez, reações
ricamente diferenciadas, experienciação imediata de sentimentos
pessoais assumidos em profundidade, como próprios e aceitos.
Em qualquer terapia bem sucedida, eu aventaria, o cliente se move
para ascender nesse padrão, qualquer que seja o ponto onde
inicialmente se encontre.
Um de nossos grupos de Wisconsin tentou fazer observações
desse processo seqüencial, e colocando-as numa escala
operacional (5, 6). Chegamos pelo menos ao ponto em que, dado
um segmento de entrevista gravada, podemos dizer, com
satisfatória objetividade e fidedignidade, que isto é característico
de certo ponto no continuum. Gostaria de tentar oferecer-lhes
algumas impressões sobre as qualidades da expressão pessoal
características de diferentes estágios do processo, e também
sobre os diferentes fios a partir dos quais o processo parece ser
tecido.
A Mudança em Relação aos Sentimentos
Tratarei primeiramente da maneira pela qual o cliente se
refere aos sentimentos e significados pessoais. Breves exemplos
poderão ajudar. Nesses fragmentos, não é o conteúdo e sim a
qualidade da expressão que é importante para nossos propósitos
atuais. Um paciente, num hospital público, diz: "Vozes continuam
me incomodando todo o tempo, dizendo coisas obscenas, e não
posso pará-Ias". Observe-se que esses sentimentos não são
reconhecidos como próprios. São completamente desconhecidos, ,
estão fora do seu controle e não são aceitos como lhe sendo
relacionados. Se ele fosse capaz de dizer: "Estou perturbado por
104
. .. I' t muito nlalS adiante nomeus impulsos sexuais . poc cria cs ar
corn inuurn.
Ou. tomando outro exemplo. característico de um ponto algo
mais adiantado na escala. encontramos exemplos como o que vem
a scauir. L 111homem diz: "Sentir dependência me dcscncoruja.
porque significa que sou, de certo 1110do. incompetente para
ajudar-me". Aqui. o cliente está descrevendo livremente seus
sentimentos como objetos existentes no presente e. até certo ponto,
assumidos como próprios. Não os expressa. descreve-os.
Determina o significado de seu sentimento mais por um processo
intelectual do que propriamente por perceber o significado em si
mesmo.
Ainda mais adiante na escala, encontramos colocações como
a seguinte. O cliente mostra-se muito perplexo quanto ao que esni
sentindo e finalmente se expressa deste modo: "Parece C0l110se eu
estivesse - não sei - tenho a sensação de força c ainda tenho
também um sentimcnto, que é uma espécie de medo, de terror".
Aqui, é claro que ele está expressando os sentimentos do
momento, vivendo-os. sentindo-os. diferenciando-os e se
apropriando deles. ao mcsmo tempo em que os cstá
expressando. .
Assim, sc eu fosse tentar descrever brevemente a maneira
pela qual esse "fio" muda do ponto mais baixo do continuum para
o mais alto, seria algo assim: no segmento inicial. o indivíduo
não reconhece ou não assume seus próprios sentimentos. Isso
se transforma numa descrição de sentimentos como algo
remoto, objetos não assumidos, no momento presente,
geralmente existentes no passado. Em seguida, são descritos
como objetos presentes com algum senso de propriedade.
Depois, os sentimentos são hesitantemente expressos - não
descritos - no presente imediato. Sentimentos que tenham sido
ne aados no pussudo agora borhulham dolorosamente crn
dil~ção J consciência. Finalmente. a pessoa passa a viver num
processo. c x p e r i c n c i a n d o um íl u x o de s c n t im c n t o s
105
continuamente mutável. ão está mais afastada de seus
sentimentos c de seus significados pessoais, que estão
continuamente ocorrendo dentro dela. Livre e aceitadoramente
passa a vi vê-los. '
Mudança na Maneira de Experienciar
o que venho dizendo sobre a maneira de experienciar do
cliente pode ser formulado de outro modo, como na proposta
desenvolvida por Gendlin e Zimring (7, 8). O cliente
move-se em direção a viver no seu processo experiencial,
usando-o como referente para guiar-se no seu encontro
com a vida. Não se caracteriza mais por um
distanciamento em relação ü sua cxpe r ienci ação, nem por
descobrir-lhe o significado somente muito tempo depois.
Assim, é típico de Ulll ponto baixo do continuum um
cliente que, tentando falar do problema que o trouxe ao
terupe utu. diz: "O sintoma era - simplesmente estar muito
deprimido". Podemos presumir que em algum momento
ele experienciou profunda depressão, mas o mais próximo
que pode chegar dessa experienciação é conceitualizá-Ia
no passado, afastando-a de si. Não é que ele estava
deprimido. Era apenas a existência de um sintoma.
À medida que progridem em terapia, os clientes chegam
mais perto de sua própria expcrienciação, tornam-se menos
amedrontados com ela. Reconhecem que ela pode ter valor como
referência, como base para a descoberta de significados. Assim,
um cliente diz, sobre o que se passa consigo: "Eu realmente não
entrei em contato com ela, estou apenas descrevendo-a". Aqui, ele
se dá conta de que não está inteiramente dentro de sua
experienciação mas desejaria estar. Ainda mais adiante no
continuum, um cliente diz: "Sinto-me parado neste
momento. Por que me 'deu u m branco' justamente
106
agora'Binto como se estivesse segurando alguma coisa,
se bem que esteja largando outras e algo em mim está
dizendo:' de que mais eu tenho que desistir'?" Nesta
passagem, ele está vivendo com aceitação sua experiência
imediata. Reconhece que, se puder simbolizar o que está
lhe acontecendo no momento, proverá um significado
para si, que servirá como guia útil. Essa é a espécie de
reação característica da pessoa que passou muito além da
extremidade superior do continuum.
Mudança nos Construtos Pessoais
Outra linha de aprendizagem integrada nesse continuum é
uma mudança no modo como o cliente constrói sua
experiência. Na extremidade inferior do continuum, seus
construtos pessoais, para usar a expressão de Kelly, são
rígidos, e não são reconhecidos como construtos, mas são
considerados como fatos. Assim, um cliente diz: "Eu nunca
consigo fazer nada certo -nunca termino nada". Isso parece
a descrição de um fato - é assim que as coisas são. À medida
que aprende, na segurança da terapia, começa a questionar
esse construto rígido. Umcliente nesse estágio mais
adiantado diz: "Não sei como cheguei a ter essa idéia de que
estar envergonhado de mim era um jeito adequado de ser".
Aqui ele está questionando e mudando um construto pessoal
que sempre lhe pareceu imutável. No segmento superior do
continuum, nunca é dada à experiência mais que uma
construção provisória, reconhecida como algo que "eu"
estou fazendo, não uma qualidade inerente à situação. O
cliente aprende que significado é algo que ele atribui a uma
experiência, não é um fato inevitavelmente inerente a ela.
107
Mudança na Comunicação do Self
Mudança em Relação aos Problemas
Ainda outra linha de aprendizagem nesse continuum total é
a da satisfação envolvida na comunicação de si mesmo. Na parte
inferior do continuum há uma falta de vontade real de falar de si.
Encontramos clientes fazendo colocações como esta: "Bem, vou
lhe dizer, sempre parece um pouco ridículo falar de si, a não ser
em caso de extrema necessidade". A comunicação ocorre somente
sobre temas externos e impessoais e não sobre assuntos pessoais.
Gradualmente, o cliente aprende que é seguro e satisfatório falar
de si como objeto. Depois aprende a se apropriar de seus
sentimentos e a externá-los. Eis um exemplo da metade superior
do continuum: "A verdade sobre esse assunto é que não sou um
cara bonzinho como tento me mostrar. Eu me irrito com as coisas.
Sinto-me agredindo as pessoas e sendo egoísta às vezes; e não sei
por que deveria fingir que não sou assim". Na extremidade superior
do continuum, o self como objeto tende a desaparecer. O indivíduo
perde a consciência do self. Encontra satisfação em ser e expressar
a complexidade de seus sentimentos do momento. Está
continuamente em processo de auto descoberta.
Braaten (9) corroborou esse tipo de movimento em
psicoterapia. Verificou que, quando são comparadas entrevistas do
início e do final de casos mais bem sucedidos, com entrevistas
iniciais e finais de outros menos bem sucedidos, aqueles mostram
um aumento significativamente maior no total de referências a si
mesmos. E ainda mais surpreendente é que. mostram um maior
aumento na expressão do self imediato. Além disso, quando se
compara a expressão dos aspectos íntimos do self - a comunicação
interior do indivíduo, sua consciência de ser e funcionar - essa
também tem um aumento significativamente maior nos casos mais
bem sucedidos.
Há pelo menos outros dois aspectos nesse continuul.n que
gostaria de descrever brevemente. O primeiro diz respeito ao
relacionamento do cliente com seus problemas. Kirtner (10) foi o
primeiro a observar e a formular as diferentes maneiras pelas qu<~is
os cl ientes apresentam e abordam seus problemas e a correlaçao
destas abordagens com os resultados. No meu entender,.podem~s
dizer que, no ponto mais baixo do continuum, o cliente nao
reconhece problemas ou os percebe como totalmente externos.
Um paciente de hospital público resume seus problemas deste
modo: "Aqui durmo um pouco demais. Tenho um problema nos
dentes e outros desse tipo". Não encontramos nenhum
reconhecimento do verdadeiro problema, nem qualquer
envolvimento com ele. Na medida em que o cliente vai se soltan.do
na terapia, há maior reconhecimento dos problemas e maior
sentimento de responsabilidade para com eles. Gradualmen.te, ele
é capaz de encarar o fato de que os assuntos que mais o presslOn~m
são os problemas de sentimento em relação aos outros, e há o
desejo de examinar as reações internas que possam estar
cont~'ibuindo para essas dificuldades. Gradualmente, aprende a
experienciar esses sentimentos-problema, .na relação CO~l o
terapeuta, e consegue utilizá-Ios mais construuvarnente, a partir da
aceitação deles.
Mudança nas Relações Interpessoais
Finalmente, existe o fio do relacionamento com os outros.
Num ponto mais baixo do continuum a. pessoa t:m medo. da
proximidade no contato pessoal e o evita atraves de muitos
mecanismos, incluindo a intelectualização. Ela faz perguntas ao
108
109
terapeuta. Quer desempenhar o papel adequado, mas não quer
entrar, como pessoa, nesse perigoso e desconhecido mundo do
relacionamento. Gradualmente, aprende que é seguro arriscar-se
de vez em quando na área dos sentimentos. Assim, um cliente ousa
dizer ao seu terapeuta: "Sim, está certo, não confio em você". Cada
vez mais ele se atreve a viver abertamente em relação ao terapeuta,
como um fluxo de sentimentos sempre mutável, mas integrado.
Pode expressar livremente seu medo, assim como seu amor pelo
terapeuta e sua raiva também. Descobre que pode viver um
relacionamento baseado nos seus sentimentos .•
claramente os objetivos para outra pessoa, mas nunca
posso vê-los para mini tnesmo - que pudesse fazer isso
por mim, sabe. É possível que possa querer realmente
cuidar de mim e [aier disso o principal propósito da
minha vida? Isso signijica que teria que lidar com o
mundo inteiro C0l/10 se eu fosse o guordião da mais
estimada e querida propriedade, que esse eu estaria
entre o precioso mim do qual quero cuidar e o mundo
inteiro. É quase como se eu me amasse - sabe, isso é
estranho, mas é verdadeiro ".
Exemplo da Porção Superior do Continuum
Gostaria de resumir as aprendizagens que me parecem tão
envolvidas no processo de terapia, usando passagens de um artigo
anterior. "Tentei esboçar, de modo cru e preliminar, o fluxo de um
processo de mudança que ocorre quando um cliente se experiencia
sendo aceito, bem-vindo e compreendido, tal como é. Esse
processo envolve muitos fios, separáveis de início,
aproximando-se mais da unidade ao longo do processo".
"Esse processo envolve uma liberação de sentimentos.
Sentimentos que não são reconhecidos, não são assumidos, nem
expressos, o cliente então se desloca em direção a um fluxo em
que sentimentos em constante mudança são experienciados no
instante em que ocorrem, de modo consciente e aceitador, podendo
ser acuradamente expressos."
"O processo envolve uma mudança na maneira de
experienciar. Da experienciação do evento orgânico, distante,
limitado pela estrutura da experiência passada, o cliente avança
Este é um bom exemplo de um estágio mais adiantado no
continuum.
Nos pontos mais altos da escala, todos esses diferentes
aspectos que descrevi tendem a se fundir e a se unificar. Apresento
um brevíssimo exemplo de um dos "momentos de movimento",
que ilustra isso em terapia. Observem-se as qualidades registradas
no depoimento do cliente. Ele está experienciando algo,
exatamente nesse momento, e tentando sentir o significado do que
lhe está acontecendo. Está mudando um constructo pessoal que
sempre manteve: "Eu não sou querido". Está se comunicando de
maneira profunda, não se contendo ou falando sobre si, mas
tentando ser a comunicação interna que está ocorrendo nele.
Finalmente, está fazendo tudo isso num relacionamento muito
aberto e fluente com o terapeuta. Aqui está o trecho:
o Processo Resumido
"Poderia até imaginar isso como U11'lCl
possibilidade, que eu pudesse ter preocupação
carinhosa por mim - mas como poderia eu ser
carinhoso e preocupar-me comigo mesmo, se ambos
são uma e a mesma coisa? No entanto, posso senti-lo
tão claramente. Você sabe, é como cuidar de uma
criança. Você quer dar-lhe isso e aquilo. Posso ver
110 I 11
para uma maneira imediata de experienciar, na qual percehe e
conceitualiza significados em termos do que é, não do que foi."
"0 processo envolve a liberação de mapas cognitivos da
experiência. A partir de um modo rígido de construção da
experiência, percebida como fatos externos, o cliente avança na
direção do desenvolvimento de mudanças, construindo
significados flexíveis a partir da experiência, construções que, por
sua vez, são modificáveis a cada nova experiência."
"O processo envolve mudanças no self. O clie;te avança
de uma fase em que o self está incongruente com a experiência,
para outra fase em que o percebe como objeto, para outra ainda
em que o self é sinônimo da experiência, tornando-se a
consciência subjetiva dessa experiência.. ,
"Existem também outros elementos envolvidos no processo:
um movimento de uma escolha ineficaz para umaeficaz, do medo
de relacionamentos para vivê-los livremente numa relação, de uma
diferenciação inadequada de sentimentos e significados para uma
diferenciação aguda dos mesmos."
"Em geral, o processo se move a partir de um ponto
caracterizado pela fixidez, onde todos esses elementos e ligações
são separadamente discerníveis e compreensíveis, para momentos
fluidos do auge da psicoterapia, nos quais todas essas ligações se
tornam inseparavelmente entrelaçadas. No novo experienciar da
imediatez que ocorre em tais momentos, sentimento e cognição se
interpenetram, o self está suhjetivamente presente na
experiência, a volição é simplesmente o acompanhamento
subjetivo de um equilíbrio harmonioso da direção
organísmica. Portanto, à medida que o processo alcança esse
ponto, a pessoa torna-se uma unidade fluida, em movimento.
Ela mudou, mas, o que parece mais significativo, é que se
tornou um processo integrado de transformação." (4,
pág.149)
112
Corroboração Empírica
Será a descrição anterior simplesmente outra formulação
clínica, especulativa, não verificável? Acredito que não. Como foi
mencionado anteriormente, chegamos a construir, a partir dessas
idéias, uma "Escala Operacional do Processo em Psicoterapia".
V árias investigações têm sido feitas usando essa Escala, e outras
estão em andamento. Alguns dos resultados atuais de uma
investigação conduzida por Hart e Tomlinson (11) podem ser
relatados.
Esses investigadores selecionaram casos que, tanto eles
como os juízes auxiliares desconheciam, casos em que vários
critérios de êxito estavam disponíveis. Nove amostras, de dois
minutos cada, foram extraídas de gravações da segunda e da
penúltima entrevista de cada caso. Essas amostras foram retiradas
ao acaso e apresentadas a três juízes que as avaliaram
independentemente. A tarefa dos juízes era classificar cada
segmento de entrevista num continuum de 70 pontos conforme
estabelecido pela Escala. Quando concluídas, essas
classificações foram comparadas com o resultado dos casos,
que tinham sido divididos em mais e menos bem sucedidos,
com base em critérios objetivos.
Concluiu-se que a Escala Operacional de Processo em
Psicoterapia era um instrumento razoavelmente fidedigno. As
correlações entre juízes variaram de .60 a .85 dependendo da
experiência dos classificadores e da apresentação auditiva ou
visual do material:
Dois estudos (6, 11) mostraram que a Escala distingue
acuradamente entre casos mais e casos menos bem sucedidos nas
entrevistas iniciais. Os casos menos bem sucedidos começam e
terminam num ponto significativamente mais baixo do que os
casos mais bem sucedidos. Esta foi uma descoberta inesperada.
113
Isso tende a confirmar o estudo anterior de Kirtner e
Cartwright (10) e mostra que temos pouco sucesso na ajuda,
através da psicoterapia, àqueles clientes que inicialmente
obtiveram resultados baixos nessa Escala de Processo. Isso
significa que, com maior refinamento do instrumento, seríamos
capazes de predizer a quais clientes poderemos ajudar e a quais
não, considerando o atual estágio de nosso conhecimento.
Os estudos indicam um fato que dá o que pensar. A mudança
na direção da fluidez é modesta, mesmo nos casos mais bem
sucedidos. Desse modo, a mudança média nesses casos, em termos
da Escala de Processo, é usualmente menor que a diferença que
encontramos entre os casos menos e os mais bem sucedidos.
Talvez as mudanças creditadas à aprendizagem terapêutica
sejam sempre relativamente pequenas, embora importantes. Ao
menos, isso é o que sugerem esses resultados.
Provavelmente o resultado fundamental desses estudos é que
revelamos outra dimensão do processo terapêutico. Algumas de
nossas pesquisas anteriores indicaram que a mudança 'no conce~o
de self era uma dessas dimensões (12). Agora podemos dizer,
com alguma certeza que, naquele processo terapêutico bem
sucedido, comprovado por medições objetivas, há um grau
significativo de afastamento da fixidez e rigidez e de
aproximação à qualidade da mutabilidade. Esse movimento não
é encontrado nos casos mal sucedidos.(6, 11)
Quanto mais o cliente perceba o terapeuta como
real, genuíno, em p át ico . in a n ije st a n d o U1710
consi d eração incondicional por ele, mais se
distanciará de /11/1 tipo dejuncionamcnto estático, sem
sentimentos, fIXO, impessoal e mais se aproximará de
um modo de [uncionam ento caracterizado pela
experiência fluida, mut ável e aceitad ora dos
sentimentos pessoais diferenciados.
Implicações
Apresentei uma parte do conhecimento recentemente obtido
a respeito do aspecto causal da psicoterapia, o relacionamento.
Apresentei algo do conhecimento obtido recentemente sobre a
seqüência de eventos que o relacionamento engendra. Tentei
formular a equação. Quais são as implicações do que venho
dizendo? Gostaria de explicitar algumas delas.
Parece-me que estamos criando um sólido começo quanto
às relações de causa e efeito em psicoterapia. Esse conhecimento,
uma vez refinado e melhorado, poderá ter grande importância.
Isso significará que responderemos a questões relativas à
psicoterapia recorrendo mais a estudos factuais do que a dogmas
teóricos ou palpites clínicos.
Estamos adquirindo conhecimento mais detalhado de um
processo de mudança construtiva na personalidade, de uma
equação que podemos registrar por escrito nesse campo. Podemos
aprender que há muitos processos de mudança, cada qual com suas
condições antecedentes. Talvez cada orientação terapêutica
produza suas próprias mudanças distintas. Não sabemos. Isso torna
imperativo testar a equação em outras terapias.
Os fatos parecem sugerir que a mudança na personalidade é
iniciada por atitudes do tcrapcuta e não primordialmente por seus
conhecimentos. suas teorias ou suas técnicas.
A Equação Completa
Penso que, a partir do que descrevi como processo
terapêutico, posso agora explicitar a totalidade da equação, tal
como ela se apresenta hoje, em sua forma rudimentar e
aproximada.
114 115
Parece estar claro que amostras muito pequenas de nossa
interação com nossos clientes podem revelar a qualidade de
relacionamento que estabelecemos e a probabilidade de ele ser
terapêutico.
A partir de nossas descobertas, parece provável que
possamos rapidamente identificar. no início do relacionamento, os
indivíduos que provavelmente não ajudaremos por meio da
psicotcrapia COIllO ela é hoje. Isso constitui Ulll tremendo desafio
no sentido de desenvolvermos novas abordagens que ajudarão a
esses indivíduos.
Os estudos sugerem que a característica essencial da
mudança terapêutica pode ser uma nova maneira de cxpcrienciar,
de modo mais imediato e fluido, com maior aceitação no lunar, "',
por exemplo. da obtenção do insight ou da elaboração do
relacionamento transfcrencial, ou da mudança no auto-conceito.
Os estudos sugerem um quadro mais claro do objetivo ou do
ponto final da terapia. A psicotcrapia parece avançar na direção de
viver plenamente o momento. afastando-se ele uma conformação
às expectativas rigidamente intelectualizacla. É uma atualização
harmoniosa de todas as sensibilidades que o organismo processa,
ele tal forma que o indivíduo pode mostrar-ser totalmente vivo para
o que está lhe acontecendo naquele momento e igualmente vivo
para todas as solicitações e realidades de seu ambiente pessoal e
impessoal. O comportamento é então a adaptação sensível e
harmoniosa a todos os estímulos internos e externos.
Esse quadro mais claro do ponto final, do lado direito da
equação, dá ü sociedade o direito de aceitar ou rejeitar. como
objetivo desejável, este modo de viver. Certamente muitas pessoas
ficariam amedrontadas pela fluidez c mutubilidade que descrevi e
não escolheriam essa direção.
Finalmente, essas descobertas significam para mim que
terapia é um relacionamento que. em dado momento, desafia o
terapeuta a ser a pessoa que é. tão sensivelmente quanto seja capaz,
sabendo que é a sua transparente realidade, paralelamente à afeição
116
e à compreensão empática promovidas por essa mesma realidade,
que pode servir de ajuda a seu cliente. Na medida em que puder
ser uma pessoanesse momento, terá condições de se relacionar
com a pessoa e com a pessoa potencial em seu cliente. Isso,
acredito, é a essência curativa, promotora de crescimento em
psicoterapia.
Epílogo
Então, o que vem a ser o processo de aconselhamento e
terapia? Falei dele de modo objetivo, ordenando os fatos de que
dispomos, descrevendo-o como uma equação incipiente, na qual
podemos, ao menos provisoriamente, assentar declarações
específicas. Mas deixem-me agora tentar abordar o processo a
partir do seu interior e, sem ignorar o conhecimento fatual, mostrar
como essa equação ocorre subjetivamente em ambos, terapeuta e
cliente.
Para o terapeuta, essa é uma nova aventura de
relacionamento. Ele sente, "aqui está outra pessoa, meu cliente.
Estou com um pouco de medo dele, medo das profundezas nele,
assim como estou com um pouco de medo das profundezas em
mim mesmo. Porém, à medida em que fala, começo a sentir
respeito por ele e a perceber minha afinidade com ele. Percebo
quão assustador é seu mundo para ele, quão firmemente tenta
mantê-lo no lugar. Eu gostaria de perceber seus sentimentos e
gostaria que soubesse que os compreendo. Gostaria que soubesse
que estou com ele em seu pequeno mundo constrito, apertado, e
que posso olhar para seu mundo sem receio. Talvez possa torná-lo
mais seguro para ele. Gostaria que meus sentimentos nesse
relacionamento fossem tão claros e transparentes quanto possível,
de forma que se tornassem uma realidade discernível para ele, à
qual possa retornar sempre que desejar. Gostaria de acornpanhá-lo
em sua tenebrosa jornada para dentro de si mesmo, para o medo
117
enterrado, o ódio, o amor que nunca foi capaz de deixar fluir em
si. Reconheço que essa é uma viagem muito humana e imprevisível
para mim, tanto quanto para ele, e que posso, mesmo sem conhecer
meu medo, recolher-me dentro de mim, diante dos sentimentos que
ele descobre. Nessa medida, sei que estarei limitado em minha
habilidade para ajudá-Io. Percebo que, às vezes, seu próprio medo
pode fazê-lo perceber-me como descuidado, rejeitador, intruso,
como alguém que não compreende. Quero aceitar plenamente
esses sentimentos nele e ainda espero também que meus próprios
sentimentos reais se mostrem tão claramente que ele não possa
deixar de percebê-los a tempo. Mais que tudo, quero que encontre
em mim uma pessoa verdadeira. Não tenho necessidade de estar
apreensivo se meus próprios sentimentos estão sendo
'terapêuticos'. O que sou e o que sinto formarão uma base
suficientemente segura para a terapia, caso no relacionamento com
o cliente eu chegue a ser transparentemente o que sou e o que sinto.
Então, talvez ele possa ser o que é, abertamente e sem medo".
E o cliente, de sua parte, atravessa seqüências muito mais
complexas, que podem apenas ser sugeridas. Talvez, de maneira
esquernática, seus sentimentos mudem em alguma direção
semelhante às apontadas a seguir.
estranho não poder encontrar a mtnima evidência
disso. Você supõe que o que lhe contei não seja tão
mau assim? É possível que eu não precise me
envergonhar disso como parte de mim? Não sinto mais
que ele me despreze. Faz-me sentir que quero ir mais
longe, explorando-me, talvez expressando mais de
mim. Encontro nele um tipo de companheiro enquanto
me revelo, ele parece realmente compreender. "
"Estou com medo dele. Quero ajuda, mas 11(10
sei se confio nele. Ele pode ver coisas que não conheço
em mim mesmo - coisas ruins e assustadoras.
Aparenta IU10 estar me julgando. mas acho que está.
Não posso lhe contar o que realmente me preocupa,
mas posso contar-lhe algumas de minhas experiências
passadas relacionadas com minha preocupação.
Àquelas ele parece compreender; então, posso revelar
urn pouquinho mais de mim. li
"Mas agora estou ficando assustado
novamente, e desta vez profundamente assustado. Não
me dei conta de que, explorando o recôndito
desconhecido em mim, traria sentimentos nunca antes
experienciados. Isso é muito estranho porque em certo
sentido não são sentimentos novos. Percebo que
sempre estiveram aí. Mas parecem tão ruins e
perturbadores que nunca me atrevi a deixá-los fluir
em mim. E agora, à medida que vivo esses sentimentos
nas sessões com ele, sinto-me terrivelmente abalado,
como se meu mundo estivesse desmoronando.
Costumava ser seguro e firme. Agora está frouxo,
permeável e vulnerável. Não é agradável sentir coisas
que sempre me assustaram antes. É culpa dele. No
entanto, curiosamente, estou ansioso por vê-lo e sinto
mais segurança quando estou com ele. "
118 119
"Mas agora, que compartilhei um pouco deste
meu lado mau, ele me despreza. Estou certo, mas é
"Não sei mais quem sou, mas algumas vezes,
quando sinto coisas, por um momento, pareço sólido
e verdadeiro. Estou confuso pelas contradições que
encontro em mim - ajo de um jeito e sinto de outro -
penso uma coisa e sinto outra. Isso é muito
desconcertante. Algumas vezes é também arriscado e
estimulante tentar descobrir quem sou. Algumas vezes
me pego sentindo que a pessoa que sou talvez valha a
pena, o que quer que isso signifique.
quem sou, mas posso sentir minhas reações a qualquer
momento, elas parecem funcionar muito bem como
critério para meu comportamento a todo momento .
Isso talvez seja o que significa ser eu mesmo. Mas, é
claro, somente posso fazê-lo porque sinto-me seguro
no relacionamento com meu terapeuta. Ou poderia ser
eu mesmo dessa maneira fora deste relacionamento?
Eu me pergunto. Desejo saber. Talvez possa."
"Es t ou come çand o a acha r is so m LI i to
satisfatôrio, embora [reqüentemente doloroso,
compartilhar exatamente o que estou sentindo em.
dado momento. Você sabe, é realmente útil tentar
ouvir a mim mesmo, escutar o que se passa em mim.
Não estou mais tão assustado quanto ao que está
acontecendo em mim. Isto parece bem confiável. Uso
algumas das minhas horas com ele para mergulhar
profundamente dentro de mim mesmo, a fim de saber
o que estou sentindo. É um trabalho ass~stador, mas
quero conhecer. E confio nele a maior parte do tempo
e isso ajuda. Sinto-me um tanto vulnerável e nu, mas
sei que ele não quer ferir-me, e inclusive acredito que
se importa comigo. Percebo, à. medida que tento me
aprofundar mais dentro de mim, que talvez pudesse
compreender o que se passa comigo, e poderia me dar
conta de seu significado, poderia saber quern sou e
saberia o que fazer. Pelo menos sinto que sei isso
algumas vezes, com ele. "
O que acabei de colocar não acontece rapidamente. Pode
levar anos. Pode, por razões que não compreendemos muito bem,
absolutamente não acontecer. Mas, pelo menos, isso pode sugerir
uma visão do interior do quadro efetivo do processo de
psicoterapia conforme ocorre a ambos, o terapeuta e seu cliente,
como tentei apresentar.
Referências Bibliográficas
1. Halkides, Galatia. An Experimental Study of Four Conditions
Necessary for Therapeutic Change. Tese de doutorado, inédita. Univ. of
Chicago, 1958.
"Posso, inclusive, contar-lhe exatamente como
estou me sentindo em relação a ele, num dado
momento e, em vez de acabar com o relacionamento,
como temia, isso parece estreitá-lo. Você imagina que
eu possa viver meus sentimentos também com outras
pessoas? Talvez isso também não seja tão perigoso. "
2. Rogers, C.R. The Necessary and Suficient Conditions of
Therapeutic Personality Change. Journal of Consulting Psychology,
vo1.21:95~103,1957, apresentado neste volume.
3. Barrett-Lennard, G.T. Dimensions ofPerceived Therapist Response
Related to Therapeutic Change. Tese de doutorado, inédita, Univ. of
Chicago, 1959.
"Sabe, sinto-me como se estivesse flutuando na
corrente da vida, audaciosamente, sendo eu. Às vezes
sou derrotado, fico ferido, mas estou aprendendo que
essas experiências não sãofatais. Não sei exatamente
4. Rogers, C.R. A Process Conception of Psychotherapy. Americam
Psychologist, vo1.13:142-149, 1958.
5. Rogers, C.R. & Rablen, R.A. A Scale of Process in Psychotherapy.
Manual inédito, Univ. ofWisconsin, 1958.
120 121
AS CONDIÇÕES NECESSÁRIAS E
SUFICIENTES PARA A MUDANÇA
TERAPÊUTICA DE PERSONALIDADE 1
Durante muitos anos estive envolvidocom psicoterapia para
indivíduos em crise. Recentemente, tenho estado cada vez mais
preocupado com o processo de tentar abstrair da experiência os
princípios gerais que parecem estar envolvidos nela. Tenho me
esforçado para descobrir qualquer regularidade, qualquer unidade
que pareça inerente ao tecido complexo e sutil da relação
interpessoal, na qual tenho estado tão constantemente imerso no
trabalho terapêutico. Um dos produtos atuais desta preocupação
consiste numa tentativa para estabelecer, em termos formais, uma
teoria de psicoterapia, de personalidade e das relações
interpessoais que possa englobar e conter os fenômenos da minha
experiência.? O que eu gostaria de fazer, ao longo deste artigo, é
tomar um segmento muito pequeno dessa teoria, descrevê-lo de
forma mais completa e explorar seu significado e utilidade.
I The Necessary and Sufficient Conditions ofTherapeutic Personality Change.
Journal of Consulting Psychology, vol.21 (2): 95-103,1957.
2 Esta declaração formal é intitulada Uma Teoria da Terapia, da Personalidade
e das Relações Interpessoais desenvolvida por Carl R. Rogers, sob o quadro
referencial centrado no cliente. O manuscrito foi preparado a pedido do
Comitê da Associação Americana de Psicologia para o Estudo do Status e das
Condições de Desenvolvimento da Psicologia nos E.U.A.
155
4. Que o terapeuta experiencie consideração positiva
incondicional pelo cliente;
5. Que o terapeuta experiencie uma compreensão empática
do esquema de referência interno do cliente e se esforce por
comunicar esta experiência ao cliente;
6. Que a comunicação ao cliente da compreensão ernpática
do terapeuta e da consideração positiva incondicional seja
efetivada, pelo menos num grau mínimo.
tipo - mas, é quase certo que em algum nível orgânico ele realmente
sinta esta diferença.
Exceto em uma difícil situação limítrofe como a mencionada
acima, seria relativamente fácil definir esta primeira condição em
termos operacionais e assim determinar, a partir de um prismo
exigente de pesquisa, se a condição existe ou não. O método mais
simples para efetuar esta determinação enolve pura e simplesmente
a consciência de ambos, terapeuta e cliente. Se cada um deles
estiver consciente de estar em contato pessoal e psicológico com
o outro, então, esta condição está atendida.
A primeira condição para a mudança terapêutica é tão
simples que, talvez deva ser chamada de pré-suposição ou de
pré-condição, afim de distingui-Ia das demais. Sem ela, no entanto,
os itens remanescentes ficariam sem significado e esta é a razão
para incluí-Ia.
Nenhuma outra condição é necessária. Se estas seis
condições existirem e persistirem por um período de tempo, isto é
o suficiente. O processo de mudança construtiva da personalidade
ocorrerá.
Uma Relação
A primeira condição especifica que uma relação mínima, um
contato psicológico, deve existir. Estou lançando a hipótese de que
uma mudança de personalidade significativa e positiva não ocorre
exceto numa relação. Esta é, sem dúvida, uma hipótese e pode ser
refutada.
As condições de 2 a 6 estabelecem as características da
relação que são consideradas como essenciais, por definirem as
características necessárias para cada integrante da relação. Tudo
que se pretende com a primeira condição é estabelecer que as duas
pessoas estejam, num certo grau, em contato; que cada uma registre
alguma diferença percebida no mundo experiencial da outra.
Provavelmente, isto é suficiente se cada uma delas criar uma
diferença "sublirninar", mesmo que não esteja conscientemente a
par deste impacto. Assim, pode tornar-se difícil saber se um
paciente catatônico percebe a presença de um terapeuta como
representando uma diferença para ele - uma diferença de qualquer
Estado do Cliente
Estabeleceu-se ser necessano que o cliente esteja "num
estado de incongruência, estando vulnerável ou ansioso". Qual é
o significado destes termos?
. Incongruência é um construto básico para a teoria que
estamos desenvolvendo. Refere-se a uma discrepância entre a
experiência real do organismo e a imagem de self do indivíduo,
até o ponto em que esta representa aquela experiência. Assim, um
estudante pode experienciar, a nível total ou organísmico, um
medo em relação à universidade e aos exames aplicados no terceiro
andar de um determinado edifício, uma vez que estes podem
revelar uma inadequação importante nele. Desde que o medo desta
sua inadequação está decididamente em oposição à sua imagem a
respeito de si mesmo, esta experiência é representada
(distorcidamente) em sua consciência como um medo irracional
de subir escadas neste ou em qualquer outro edifício e, logo se
158 159
transforma num medo irracional de atravessar o campus ao ar livre.
Portanto, há uma discrepância fundamental entre o significado
experienciado da situação, da forma como é registrado por seu
organismo e a representação simbólica daquela experiência na
consciência, de uma maneira que não entre em conflito com a
imagem que ele tem de si mesmo. Neste caso, admitir um medo
de inadequação iria contradizer a imagem que ele mantém sobre
si mesmo; admitir medos incompreensíveis não contradiz seu
auto-conceito.
Um outro exemplo seria o da mãe que desenvolve doenças
estranhas, toda vez que seu único filho faz planos para sair de casa.
O desejo real é apegar-se à sua única fonte de satisfação. Peceber
isto conscientemente seria inconsistente com a imagem que ela tem
de si mesma como uma boa mãe. A doença, no entanto, é
consistente com seu auto-conceito, e a experiência é
distorcidamente simbolizada desta maneira. Assim, novamente há
uma incongruência básica entre o self da forma como é percebido
(neste caso como uma mãe doente necessitando de atenção) e a
experiência real (neste caso o desejo de apegar-se a seu filho).
Quando o indivíduo não está consciente de tal incongruência
em si mesmo, a simples possibilidade de ansiedade e
desorganização torna-o vulnerável. Uma determinada experiência
pode ocorrer de maneira tão repentina ou óbvia, que 'esta
incongruência não pode ser negada. Portanto, a pessoa está
vulnerável a tal possibilidade.
Se o indivíduo percebe vagamente tal incongruência em si
mesmo, então, um estado de tensão ocorre e é conhecido como
ansiedade. A incongruência não precisa ser claramente percebida.
Torna-se suficiente uma percepção subliminar dela - ou seja, que
ela seja discriminada como ameaçadora para o self, sem qualquer
consciência do conteúdo dessa ameaça. Tal ansiedade é
frequentemente vista em terapia, à medida que o indivíduo se torna
mais consciente de algum elemento de sua experiência que esteja
em franca contradição com seu auto-conceito.
160
Não é Iáci I dar uma definição operacional precisa à segunda
das seis condições; ainda assim, em um certo grau, isto foi obtido.
Diversos pesquisadores definiram o auto-conceito através de uma
classificação pela técnica-Q, feita pelo indivíduo a partir de uma
lista de itens auto-referentes. Isto nos dá uma imagem operacional
do self. A experienciação total do indivíduo é mais difícil de ser
apreendida. Chodorkoff (2) definiu esta experienciação como uma
classificação pela técnica-Q feita por um clínico que seleciona os
mesmos itens auto-referentes independentemente, baseando esta
classificação na imagem obtida a partir de testes projetivos
aplicados no indivíduo. Sua classificação inclui, assim, tanto
elementos conscientes quanto inconscientes da experiência do
indivíduo, vindo a representar desta forma (através de um caminho
admitidamente imperfeito) a totalidade da experiência do cliente.
A correlação entre estas duas classificações fornece uma medida
operacional bruta da incongruência entre self e experiência, sendo
que correlações baixas ou negativas representam, é claro, um alto
grau de incongruência.
A Autenticidade do Tcrapeuta na Relação
A terceira condição estabelece que o terapeuta deveria ser,
nos limites desta relação, uma pessoa integrada, genuina e
congruente. isto significa que, na relação, ele está sendo livre e
profundamente ele mesmo, com sua experiência realprecisamente
representada em sua conscientização de si mesmo. É o oposto de
apresentar uma "fachada". quer ele tenha ou não conhecimento
disto.
Não é necessário (nem tampouco possível) que o terapcuta
seja um modelo de perfeição. exibindo este mesmo grau de
iniegração e unicidade em todos os aspectos da sua vida. É
suficiente que ele seja precisamente ele mesmo na hora em que
l ó l
-------------------------------- ••<4tt•• _
esta relaçã~ está ocorrendo; que, num sentido básico, ele seja o que
realmente e, neste exato momento.
Deve ficar claro que o exposto acima inclui o terapeuta ser
~Ie mesmo de maneiras que até mesmo não sejam consideradas
Ideais para a psicoterapia. A experiência do terapeuta pode ser:
':estou com medo deste cliente" ou "minha atenção está tão
localizada em meus próprios problemas que mal posso ouvi-Io."
Se o terapeuta não negar estes sentimentos à consciência, e for
capaz de asxurni-Ios livremente (da mesma maneira que o faz com
seus outros sentimentos), então, a condição que estabelecemos
estará atendida.
Tomaria muito tempo considerar o curioso tema que se refere
ao grau em que o terapeuta exterioriza ao cliente esta realidade que
ocorre consigo. Certamente, o objetivo não consiste no terapeuta
expressar ou falar sobre seus próprios sentimentos, mas
principalmente que ele não esteja enganando o cliente nem a si
mesmo. Algumas vezes, ele pode precisar expressar alguns dos
seus sentimentos (tanto para o cliente. como para um colega ou
supcrvisor), caso eles estejam obstruindo o caminho das duas
próximas condições.
Não é demasiadamente difícil sugerir uma definição
operacional para esta terceira condição. Lançaremos mão,
novamente, da técnica-Q. Se o terapeuta selecionar uma série de
itens relevantes para a relação [usando uma lista semelhante
àquelas desenvolvidas por Fiedler (3,4) e Bown (1)1. isto revelará
sua percepção da própria experiência na relação. Se diversos juízes
que observaram a entrevista, ou ouviram uma gravação dela (ou
assistiram ao filme), escolherem, então, os mesmos itens para
representar sua percepção sobre a relação, esta segunda
classificação captaria aqueles elementos do comportamento do
tcrapeuta e as atitudes inferidas das quais ele não está consciente,
bem como aquelas das quais ele tem consciência. Assim, uma alta
correlação entre a classif'icação do terapeuta e a do observador
representaria, de uma forma grosseira, uma definição operacional
da congruência ou integração do terapeuta na relação; e uma baixa
correlação implicaria no oposto.
Consideração Positiva Incondicional
a medida em que o terapeuta se encontra experienciando
uma aceitação calorosa de cada aspecto da experiência do cliente
como sendo uma parte daquele cliente, ele estará experienciando
consideração positiva incondicional. Este conceito foi
desenvolvido por Standal (8). Significa que não há condições para
a aceitação, nem sentimentos do tipo: "gosto de você, apenas se
você for desta ou daquela maneira". Implica numa "apreciação"
da pessoa, da forma como Dewey usou este termo. Está no pólo
oposto de uma atitude de avaliação seletiva - "você é mau nestes
aspectos e bom naqueles." Envolve sentimentos de aceitação,
tanto em relação à expressão de sentimentos negativos do cliente,
"maus", dolorosos, de temor, defensivos ou anormais, como
também em relação àqueles "bons", positivos, maduros,
confiantes e socializados; a mesma aceitação em relação às
maneiras segundo as quais o cliente está sendo inconsistente,
como em relação àquelas em que ele é consistente. Isto significa
um cuidado com o cliente, mas não de forma possessiva, ou
simplesmente para satisfazer as necessidades do próprio
terapeuta. Implica numa forma de apreciar o cliente como uma
pessoa individualizada, a quem se permite ter os próprios
sentimentos, suas próprias experiências. Um cliente descreve o
terapeuta como "fomentando o meu apoderar-me de minha
própria experiência ... que (esta) é a minha experiência e que eu a
estou realmente vivendo: pensando o que penso, sentindo o que
sinto, querendo o que quero, temendo o que temo; não 'se', 'mas',
ou 'não' reais". Esta é o tipo de aceitação hipoteticamente
considerada como sendo necessária para que a mudança de
personal idade ocorra.
162 163
•••••••••••••• •••c1nt _
Semelhante às duas condições precedentes, esta quartaé uma
questão de grau," como torna-se imediatamente aparente, ao
tentarmos defini-Ia em termos de operações específicas de
pesquisa. Um tipo de método para dar a esta condição uma
definição seria considerar a classificação-Q da relação como
descrita para a condição 3. Na medida em que itens que expressam
consideração positiva incondicional são selecionados como
característicos da relação, tanto para o terapeuta como para os
observadores, a consideração positiva incondicional poderia ser
tomada como existindo. Tais itens podem incluir declarações do
tipo: "não sinto repulsa por nada que o cliente diz"; "não sinto
nem aprovação nem desaprovação em relação ao cliente ou às suas
afirmações - simplesmente aceitação"; "sinto-me caloroso em
relação ao cliente - em relação às suas fraquezas e problemas, bem
como às suas potencialidades"; "não me sinto inclinado a julgar o
que o cliente me conta"; "eu gosto do cliente". Na medida em que
tanto o terapeuta quanto os observadores percebem estes itens
como característicos, ou seus opostos como não-característicos,
pode-se dizer que a condição 4 foi efetivada.
4 A frase "consideração positiva incondicional" pode ser infeliz, por soar como
um conceito absoluto. do tipo tudo-ou-nada. Provavelmente, torna-se evidente
a partir das descrições que uma consideração positiva incondicional total
nunca existiria, exceto em teoria. De um ponto de vista clínico e experimental,
creio que a afirmação mais precisa é a de que o terapeuta eficiente experiencia
consideração positiva incondicional pelo cliente durante muitos momentos de
seu contato com ele; ainda assim, de tempos em tempos, ele experiencia
apenas uma consideração positiva - e talvez, às vezes, uma consideração
negativa, embora esta não seja provável de ocorrer numa terapia eficiente. É
neste sentido que a consideração positiva incondicional existe como uma
questão de grau em qualquer relação.
164
Empatia
A quinta condição estabelece que o terapeuta experiencie
uma compreensão ernpática precisa da conscientização do cliente,
a partir de sua própria experiência. Sentir o mundo privado do
cliente como se ele fosse o seu, mas sem perder a qualidade "como
se" - isto é empatia, e ela parece essencial para a terapia. Sentir a
raiva do cliente, seu medo ou confusão, como se fossem seus, e
ainda assim sem sentir a sua própria raiva, medo, ou confusão
sendo envolvidas nisto, esta é a condição que estamos tentando
descrever. Quando o mundo do cliente é suficientemente claro para
o terapeuta e este move-se nele livremente, então pode tanto
comunicar sua compreensão daquilo que é claramente conhecido
pelo cliente, como também pode expressar significados da
experiência do cliente, dos quais o cliente está apenas vagamente
consciente. Como um cliente descreveu este segundo aspecto: "a
toda hora, estando eu num emaranhado de pensamentos e
sentimentos, enrolado numa teia de linhas mutuamente
divergentes, com impulsos vindos de diferentes partes de mim e
experimentando o sentimento de tudo ser demais - então, "zump",
como um raio de sol que abre seu caminho através de aglomerados
de nuvens e entrelaçados de folhagens, espalhando um círculo de
luz numa parte emaranhada da floresta, surgia algum comentário
seu. (Ele era) clareza, um desembaraçar mesmo, um ângulo
adicional para o quadro, um colocar no lugar. Então, a
consequência - o sentido de estar se movendo, de relaxamento.
Estes eram realmente raios de sol." A pesquisa de Fiedler (3) indica
que esta empatia penetrante é importante para a terapia, ao trazer
com bastante ênfase, como os seguintes, na descrição da relação
criada por terapeutas experientes:
165
·o t erap eut a é perfeitamente capaz de
compreender os sentimentosdo paciente;
·O terapeuta /1(10 tem qualquer dúvida sobre o
significado do que o paciente quer dizer;
·Os comentários do terap euta adequam-se
perfeitamente ao estado de espírito e conteúdo do
cliente;
.0 tom de voz.do terapeuta contém a habilidade
completa para compartilhar os sentimentos do
paciente;
A Percepção do Cliente sobre o Terapeuta
A condição final estabeleci da é a de que o cliente perceba,
ao menos num grau mínimo, a aceitação e empatia que o terapeuta
experiencia por ele. A menos que alguma comunicação destas
atitudes seja efetivada, tais atitudes não existem na relação, no que
concerne ao cl iente e o processo terapêutico não poderia, de acordo
com nossa hipótese, ser iniciado.
Desde que as atitudes não podem ser diretamente percebidas,
seria mais correto estabelecer que os comportamentos do terapeuta
e suas palavras são percebidos pelo cliente como significando que,
em algum grau, o terapeuta o aceita e compreende.
Uma definição operacional desta condição não seria difícil.
O cliente poderia, após uma entrevista, selecionar uma lista da
técnica-Q com itens que se referissem a qualidades representativas
de uma relação entre ele próprio e o terapeuta. (A mesma lista
estabelecida para a condição 3 poderia ser utilizada.) Se diversos
itens descritivos de aceitação e empatia fossem selecionados pelo
cliente como característicos da relação, então esta condição
poderia ser considerada como estando presente. No atual estado
de nosso conhecimento, o significado de "pelo menos num grau
mínimo" teria que ser arbitrário.
Uma definição operacional da empatia do terapeuta poderia
ser elaborada de di ferentes manei raso Pode-se usar a
classificação-Q descrita na condição 3. Na medida em que itens
que descrevem uma empatia acurada fossem selecionados como
caracterizando a relação, tanto pelo terapeuta como pelos
observadores, esta condição seria considerada como estando
presente.
Uma outra forma de definir esta condição seria fazer com
que tanto o cliente quanto o terapeuta selecionassem uma lista de
itens descritivos dos sentimentos do cliente. Cada um deles deveria
proceder a esta classificação independentemente, consistindo a
tarefa em representar os sentimentos que o cliente tivesse
experienciado durante uma entrevista que tivesse acabado de ser
concluída. Se a correlação entre a classificação do cliente e a do
terapeuta fosse alta, dir-se-ia que a empatia estava presente; uma
baixa correlação indicaria a conclusão oposta.
Uma outra maneira ainda, para se medir a ernpatia, seria
pedir ajuízes treinados para que medissem a taxa de profundidade
e acuidade da empatia do terapeuta, com base em entrevistas
gravadas.
Alguns Comentários
Até este ponto, o esforço foi no sentido de apresentar de
forma breve, e através de fatos, as condições que vim a considerar
como essenciais para a mudança terapêutica. Não tentei fornecer
o contexto teórico destas condições, nem explicar o que me parece
ser a dinâmica para a efetividade das mesmas. Este material
166
167
explicativo está disponível para o leitor interessado na publicação
previamente mencionada (7).
Apresentei, no entanto, ao menos uma maneira de definir ,
em termos operacionais, cada uma das condições mencionadas.
Eu o fiz, afim de enfatizar o fato de não estar falando sobre
qualidades vagas, que em termos ideais deveriam estar presentes
caso um certo resultado, também vago, fosse ocorrer. Estou
apresentando condições que são perfeitamente mensuráveis,
mesmo no estado atual de nossa tecnologia, e sugeri operações
específicas para cada caso, embora esteja certo de que métodos
mais adequados de medida poderiam ser propostos por um
investigador sério.
Meu propósito foi no sentido de enfatizar a noção de que,
em minha opinião, estamos lidando com um fenômeno do tipo
se-então, no qual o conhecimento da dinâmica não é essencial para
testar as hipóteses. Assim, ilustrando através de um outro campo:
se uma substância, que se demonstrou através de uma série de
operações ser a substância conhecida como ácido hidroclorídrico
for misturada com outra solução, que se comprovou através de uma
outra série de operações ser hidróxido de sódio, então sal e água
serão produtos desta mistura. Isto é verdadeiro, quer se atribua os
resultados à mágica, ou se explique através dos termos mais
adequados da teoria química moderna. Da mesma maneira, está
sendo postulado aqui que certas condições definíveis precedem
certas mudanças também definíveis e que este fato existe
independentemente dos nossos esforços para explicá- 10.
As Hipóteses Resultantes
o maior valor de se estabelecer qualquer teoria em termos
claros é que hipóteses específicas podem ser extraídas dela e serão
passíveis de comprovação ou de serem refutadas. Assim, mesmo
que as condições postuladas como necessárias e suficientes fossem
168
mais incorreta" do que corretas (o que espero não ser o caso),
ainda assim elas trariam desenvolvimentos para a ciência
neste campo, ao fornecerem uma base de operações a partir
das quais os fatos poderiam ser separados dos erros.
As hipóteses que surgiriam desta teoria dada seriam da
seguinte ordem:
.Se estas seis condições (daforma comoforam
operacionalmente definidas) estiverem presentes,
então uma mudança construtiva de personalidade
(como foi definida) ocorrerá no cliente;
.Se uma ou.mais destas condições não estiver
presente, a mudança construtiva de personalidade
não ocorrerá.
Estas hipóteses adequam-se a qualquer situação, quer se
trate ou não de "psicoterapia".
Apenas a condição 1é dicotômica (ou ela está presente ou
não), e as cinco restantes ocorrem em graus variados, cada uma
em seu próprio continuum. Se isto for verdadeiro, segue-se uma
outra hipótese, e é provável que esta seja a mais simples de ser
testada:
. Se to d as as seis condições estiverem
presentes, então quanto maior o grau de presença
das condições de 2 a 6, mais mercante será a
mudança IUI personalidade do cliente.
No momento presente, as hipóteses acima podem ser
propostas apenas desta forma geral - o que sugere que todas as
condições têm peso igual. Estudos empíricos, sem dúvida,
tornarão possível muito mais refinamento sobre estas hipóteses.
Pode ocorrer, por exemplo, que se a ansiedade for alta no
cliente, então as outras condições se tornarão menos
importantes. Ou. se a consideração positiva
169
•
incondicional for alta (como no amor de uma mãe por
seu filho), então talvez um grau modesto de empatia seja
suficiente. Mas, até o momento, podemos apenas especular
sobre estas possibilidades.
configuração simples, embora o cliente ou paciente possa usá-Ias de
formas muito diferentcs.5
Não está proposto que estas seis condições são as condições
essenciais para a Terapia Centrada no Cliente, e que outras
condições são essenciais para os outros tipos de psicoterapia.
Certamente, sou profundamente influenciado por minha própria
experiência e esta levou-me a um ponto de vista que é chamado de
"centrado no cliente". Contudo, meu objetivo ao estabelecer esta
teoria é estabelecer as condições que se aplicam a qualquer
situação, na qual ocorra mudança construtiva na personalidade,
quer estejamos pensando em psicanálise clássica, ou quaisquer de
seus desdobramentos modernos, ou psicoterapia Adleriana, ou
qualquer outra. Será óbvio, portanto, que para a minha maneira de
ver, muito daquilo que é considerado essencial não seria
empiricamente considerado como tal. A testagem destas hipóteses
estabelecidas lançaria luz sobre este intrigante tema. Podemos, é
claro, considerar que as diversas terapias produzem diversos tipos
de mudança na personalidade, e que para cada terapia um conjunto
distinto de condições é necessário. Até que isto seja demonstrado,
estou lançando a hipótese de que uma psicoterapia eficaz de
Algumas Implicações
Omissões Significativas
Se houver qualquer aspecto surpreendente na formulação
dada às condições necessárias e suficientes da terapia, este
reside provavelmente nos elementos que foram omitidos. Na
prática clínica atual, os terapeutas operam como se houvessemuitas outras condições, além daquelas descritas como
essencias à psicoterapia. A fim de salientar isto, pode ser útil
mencionar algumas das condições que, após considerações
sérias sobre a nossa pesquisa e experiência, não foram
incluídas.
Por exemplo, não está proposto que estas
condições se aplicam a um determinado tipo de
cliente, e que outras condições são necessárias para
produzir mudança psicoterapêutica na personalidade
em outros tipos de clientes. Provavelmente, nada é
tão frequente no trabalho clínico atual como a idéia
de que se deve trabalhar de uma maneira com
neuróticos e de outra com p s ic ó t ic o s ; que certas
condições terapêuticas devam ser proporcionadas aos
compulsivos, outras aos homossexuais, etc. Devido
a esta considerável ênfase da opinião clínica no
sentido contrário, é com algum "medo e trêmulo" que
eu proponho o conceito de que as condições
e s s e n c t a i s da p s i c o t e r a p i a existem numa
5 Apego-me a esta declaração de minha hipótese. embora ela seja desafiada por
um estudo recentemente concluído por Kirtner 151. Ele descobriu num grupo
de vinte e seis casos do Centro de Aconselhamento da Universidade de
Chicago que há diferenças marcantes no modo do cliente abordar a solução
para as dificuldades da vida. e que estas diferenças estão relacionadas com o
sucesso em terapia. Resumidamente. o cliente que vê seus problemas como
tendo a ver com seus relacionamentos e que admite estar contribuindo para
seu problema e quer mudar isto. tem chance de ser bem sucedido na terapia.
O cliente que externaliza seus problemas, sentindo pouca
auto-responsabilidade, tem mais chance de falhar. Portanto, a implicação é a
de que algumas outras condições precisaram ser oferecidas na psicoterupia
COIl1 este grupo de pacientes. No momento, no entanto, deixarei minha
hipótese da forma como foi formulada. até que o estudo de Kirtner seja
confirmado e até que descubramos uma hipótese alternativa para substituir a
aqui apresentada.
170 171
qualquer tipo produz mudanças semelhantes na personalidade e no
comportamento, e que um conjunto único de pré-condições é
necessário para tanto.
ão está proposto que psicoterapia é um tipo especial de
relação, diferente sob qualquer aspecto de todas as demais que
ocorrem na vida cotidiana. Será evidente, no entanto, que, por
breves momentos, ao menos, muitas boas amizades preenchem as
seis condições. Geralmente, isto ocorre apenas momentaneamente.
no entanto, depois a empatia decresce, a aceitação positiva
torna-se condicional, ou a congruência do "terapeuta" amizo é
. e
sobrepujada por algum grau de defesa ou "fachada". Desta
maneira, a relação terapêutica é vista como uma ampliação das
qualidades construtivas que frequentemente existem parcialmente
nas outras relações, e uma manutenção ao longo do tempo de
qualidades que em outras relações tendem a ser no máximo
momentâneas.
Não está proposto que determinado conhecimento
intelectual, profissional - psicológico, psiquiátrico, médico Oll
religioso - é necessário ao terapeuta. As condições 3,4 e 5, que se
aplicam especialmente ao terapeuta são qualidades da experiência,
e não informações intelectuais. Se elas tiverem que ser adquiridas.
devem sê-lo, em minha opinião, através de um treinamento
experiencial - o qual pode ser, mas geralmente não o é, parte do
treinamento profissional. Perturba-me sustentar ponto de vista tão
radical, mas não posso extrair nenhuma outra conclusão de minha
experiência. O treinamento intelectual e a aquisição de
informações têm, eu creio, muitos resultados valiosos - mas
tornar-se um terapeuta não é um destes resultados.
Não está proposto que é necessário para a psicoterapia que
o terapeuta tenha um diagnóstico preciso sobre o cliente. Aqu.
novamente, perturba-me sustentar um ponto de vista tão
contrário ao de meus colegas clínicos. Quando se pensa na
grande quantidade de tempo gasta em qualquer centro
psicológico, psiquiátrico, ou de higiene mental com avaliações
172
psicológicas exaustivas sobre o cliente ou paciente, conclui-se que
elas devam servir a um propósito importante, no que concerne à
psicoterapia, o entanto, quanto mais tenho observado terapeutas,
e quanto mais próximo tenho estado do estudo de pesquisas como
a de Fiedler e outros (4), mais sou forçado a concluir que este
conhecimento diagnóstico não é essencial à psicoterapia." Pode
ser, inclusive que sua defesa como um prelúdio necessário à
psicoterapia seja simplesmente uma alternativa protetora para
justificar que, de um modo geral, ela é um grande desperdício de
tempo. Há apenas um propósito útil que pude observar como estando
relacionado à psicoterapia. Alguns psicoterapeutas não conseguem
sentir-se seguros com o cliente, a menos que tenham a respeito dele
algum conhecimento diagnóstico. Sem este conhecimento, eles
sentem medo dele, tornam-se incapazes de ser empáticos, incapazes
de experienciar consideração incondicional, e acreditam ser
necessário demonstrar superioridade na relação. Se sabem
antecipadamente sobre os impulsos suicidas, podem de alguma forma
aceitá-los melhor. Assim, para alguns terapeutas, a segurança que
atribuem à informação diagnóstica pode se constituir numa base para
se permitirem estar integrados na relação, e experienciarem empatia
e aceitação total. Nestes casos, um diagnóstico psicológico certamente
seria justificável por tornou' o terapeuta mais confortável e eficiente.
Porém, mesmo neste caso, não parece ser uma pré-condição básica
para a psicoterapia.'
6 Não há a intenção de afirmar que a avaliação diagnostica é inútil. Nós próprios
temos teltogrand~ uso de tais métodos em nossas pesquisas sobre mudança
de personalidade. E a sua utilidade como uma pré-condição para a psicoterapia
que está sendo questionada.
7 Num momento jocoso, eu sugeri que tais terapeutas sentir-se-iam igualmente
confortáveis, se Ihes tivesse sido oferecido () diagnóstico de nluum outro
indivíduo e não o de seu paciente ou cliente. O fato do diagnóstico 7nostrar-se
Inadequado. à medida que a terapia progride. não constitui urna perplexidade.
porque sempre se espera encontrar inadequações no diagnóstico. quando se
trabalha com O indivíduo.
173
Talvez, eu tenha apresentado ilustrações suficientes para
indicar que as condições que hipoteticamente estabeleci como
necessárias e suficientes para a psicoterapia são surpreendentes e
incomuns primariamente em virtude daquilo que omitem. Se
tivéssemos que determinar, a partir de uma pesquisa sobre os
comportamentos dos terapeutas, as hipóteses que eles parecem
considerar como necessárias à psicoterapia, a lista seria muito
maior e mais complexa.
planejamento desses programas como para nosso conhecimento da
dinâmica humana, seriam significativos. o próprio campo da
psicoterapia, a aplicação de hipóteses consistentes ao trabalho das
várias escolas de terapeutas pode mostrar-se altamente produtiva.
Por outro lado, a não-confirmação das hipóteses apresentadas seria
tão importante quanto sua confirmação, pois qualquer um dos
resultados possíveis acrescentaria muito ao nosso conhecimento
sobre o assunto.
A teoria também oferece problemas significativos que
devem ser considerados na prática da psicoterapia. Um destes
seria: as técnicas das várias terapias têm relativamente pouca
importância, exceto na medida em que servem como canais para
possibilitar a emergência de uma dessas condições. Na Terapia
Centrada no Cliente, por exemplo, a técnica do "reflexo de
sentimentos" tem sido descrita e comentada (6, pág. 26-36). Em
termos da teoria aqui apresentada, esta técnica não é de nenhuma
maneira uma condição essencial para a terapia. No entanto, na
medida em que ela oferece um canal através do qual o terapeuta
comunica ao cliente uma empatia sensível e uma consideração
positiva incondicional, então pode ser considerada como um canal
técnico, através do qual as condições essenciais da terapia são
atendidas. Da mesma maneira, a teoria que apresentei não veria
qualquer valor essencial, para a terapia, nas técnicas de
interpretação da dinâmica da personalidade,

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