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Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS FARMACODERMIAS: As farmacodermias são definidas como reações cutâneas adversas/não intencionais a quaisquer fármacos, surgindo em até 1% de todas as administrações medicamentos. Apesar de imprevisíveis, tais respostas ocorrem mais comumente com o uso de (amino)penicilinas, sulfonamidas, anticonvuldivantes, AINES, alopurinol e IECAS. É possível classificar essas condições de acordo com seu mecanismo fisiopatológico, a saber: Não alérgicas: são as que acontecem com maior frequência. o Superdosagem; o Intolerância medicamentosa; o Efeitos colaterais; o Disbiose (ex.: candidíase pós antibioticoterapia); o Teratogenicidade; o Fototoxicidade. Alérgicas: clinicamente mais relevantes, baseiam-se na classificação de Gell e Coombs o Reação tipo I (urticária, angioedema e anafilaxia): de caráter imediato, é mediada por IgE, com degranulação de mastócitos e liberação de histamina; o Reação tipo II: são eventos citotóxicos, mediados por anticorpos IgG e IgM; o Reação tipo III (doença do soro): resulta da deposição de imunocomplexos; o Ração tipo IV (dermatite de contato): marcada por eventos de hipersensibilidade tardia, causados por linfócitos T helper (imunidade celular). Características das reações de hipersensibilidade por Gell e Coombs EXANTEMA: Forma mais comum de farmacodermias, é marcada pela presença de rash cutâneo que surge normalmente dentro de duas semanas depois do início do uso de determinada droga (podendo ocorrer em até 14 dias após sua suspensão). O mecanismo fisiopatológico são as reações de hipersensibilidade tipo IV, com ativação da imunidade celular, estimulada principalmente em infecções virais. As erupções maculares podem ter aspecto morbiliforme (entremeados por pele sã) ou escarlatiniforme (difuso sem áreas de pele normal), geralmente associadas a prurido, desaparecendo à digitopressão. Há predomínio no tronco, com caráter simétrico de acometimento. Erupção exematosa morbiliforme induzida por drogas Os fármacos mais comumente ligados ao exantema são antibióticos (aminopenicilinas, cefalosporinas, slfonamidas) e anticonvusivantes Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Os principais diagnósticos diferenciais a serem considerados são a sífilis secundária e as infecções virais (EBV, dengue). Normalmente há regressão do quadro apenas com a suspensão do medicamento causador (1 a 2 semanas), porém anti- histamínicos e corticoides podem ser utilizados para alívio dos sintomas. URTICÁRIA E ANGIOEDEMA: A urticária é caracterizada por pápulas ou placas eritemato-edematosas de centro pálido com bordas irregulares, que podem ou não ser confluentes. O quadro se desenvolve de modo imediato (< 30 minutos) à exposição ao agente causador, com predomínio no tronco e extremidades proximais. Urticária em tronco induzida por AAS As lesões podem ser agudas (< 6 semanas) ou crônicas (> 6 semanas), sendo que a identificação de etiologias específicas, como infecções e reações a fármacos, é maior no primeiro grupo. A urticária representa a apresentação clássica da hipersensibilidade do tipo I, com liberação de histamina H1 após a degranulação mastocitária mediada por IgE. Em até 50% dos casos também pode ser observada presença de angioedema, afetando partes moles, como lábios, pálpebras e língua, com apresentação assimétrica. Angioedema em pálpebras e lábios O diagnóstico é facilmente confirmado por aspectos clínicos, porém é necessário investigar a causa-base, indagando o paciente acerca de medicações de uso esporádico, ou possibilidade de infecções recentes. A vasculite urticariforme é o principal diagnóstico diferencial a ser considerado, com lesões que predominam por mais de 24h, regredindo com pigmentação residual. O tratamento é feito por meio da retirada da droga e do uso de anti-histamínicos H1, que podem de primeira geração, como hidroxizina 25-50 mg, 6/6h (sedativa) ou de segunda geração, à exemplo da loratadina, 10 mg/dia (não sedativa). Corticoides sistêmicos (prednisona 30 a 40 mg/dia) devem ser reservados para casos mais graves. Os medicamentos que mais comumente provocam esse tipo de resposta são os antibióticos, AINES e anestésicos O edema de glote é uma complicação esperada, que pode ou não ser acompanhada por manifestações sistêmicas (náusea/vômitos, hipotensão, desconforto respiratório), descrevendo relações anafiláticas, potencialmente fatais se não tratadas rapidamente Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS ERITEMA PIGMENTAR FIXO: O eritema pigmentar fixo cursa com o surgimento de uma ou múltiplas lesões bem definidas, inicialmente eritematosas, mas que se tornam acastanhadas com o passar do tempo. Normalmente não há prurido, mas sim sensação de queimação. Predomina em face, pescoço, extremidades e genitália, com distribuição assimétrica. Áreas com machas amarronzadas residuais no eritema pigmentar fixo Uma importante característica desse quadro é a recorrência das lesões no mesmo local após novas exposições à droga, associada a novos sítios comprometidos. O diagnóstico é clínico, porém pode ser amparado por exame histopatológico. Para o manejo, costuma ser suficiente apenas o afastamento do agente causador, com uso de corticoides tópicos podendo trazer benefícios. ERITEMA MULTIFORME (POLIMORFO): Também conhecido como eritema multiforme minor, pode ser causado tanto por medicações como pela infecção por herpes simples, sendo essa última mais comum. Há interação entre mecanismos de imunidade celular e de formação de imunocomplexos associados ao desenvolvimento do quadro. As lesões são caracterizadas por erupções eritematosas papulares ou vesicobolhosas de início súbito e distribuição simétrica, raramente pruriginosas. O formato é variado, porém classicamente assume caráter anular (em alvo). Há predomínio acral (face, mãos e pés), com possível evolução em direção ao tronco. A mucosa oral pode ser afetada em 70% dos casos. Lesões típicas, com padrão em alvo O diagnóstico, clínico, pode ser corroborado por avaliação histopatológica, que indica necrose de queratinócitos epidérmicos e a presença de infiltrados eosinofílicos na derme. A suspensão do fármaco (ou resolução da infecção herpética bastam para o tratamento. O quadro cursa de modo Na presença de indícios de anafilaxia, deve ser usada adrenalina IM (0,5 ml de solução 1:1000), complementada pelas estratégias acima Os fármacos mais comumente associados à essa reação são os laxantes, AINES, antibióticos (tetraciclinas, penicilinas e sulfonamidas), barbitúricos, anti- helmínticos e antifúngicos Dentre os fármacos desencadeantes, destacam-se AINES, antibióticos e analgésicos Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS benigno com surtos de cerca de 3 semanas regredindo espontaneamente. Corticoides tópicos podem ser usados, em casos leves, para o controle dos sintomas. SÍNDROME DE STEVENS-JOHNSON (SSJ) E NECRÓLISE EPIDÉRMICA TÓXICA (NET): A síndrome de Stevens-Johnson e a necrólise epidérmica tóxica constituem diferentes espectros de uma mesma doença, sendo a primeira mais comum, e a segunda, mais grave. Apesar de fármacos provocarem a maioria dos casos, ressalta-se importante contribuição de infecções por Mycoplasma pneumoniae e vacinas. É possível distingui-las com base no percentual de acometimento cutâneo, sendo que a SSJ tem descolamento < 10% da superfície corporal,e a NET, > 30%. Quadros intermediários (entre 10 e 30% de comprometimento) são conhecidos como overlap SSJ/NET. Representação do comprometimento corporal entre a SSJ e NET A condição se desenvolve depois de 4 a 8 semanas da exposição à droga, sendo que esse tempo diminui com cada novo contato, elevando a complexidade do quadro. Os principais fatores de risco identificados para essas condições são acetiladores lentos (prejuízo no metabolismo de medicamentos), portadores de neoplasias ou HIV, e a polifarmácia. A fisiopatologia desse quadro está relacionada a fatores genéticos que aumentam a predisposição à ativação de linfócitos T e de mecanismos de apoptose de queratinócitos. As manifestações clínicas se iniciam com um pródromo gripal de até 15 dias, seguido pela formação de erupções maculopapulares eritemtosas e dolorosas, predominantes em face e tronco, progredindo então para descolamento cutâneo. Dorso de paciente acometido por NET, evidenciando descolamento da epiderme Lesões em ao menos 2 mucosas são obrigatórias, marcadas por queimação, edema, e bolhas que se rompem, gerando úlceras cobertas por crostas hemorrágicas. Como causas medicamentosas mais comuns, destacam-se antibióticos (penicilinas, quinolonas e sulfas), anticonvulsivantes, AINES e alopurinol Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Conjuntivite e lesões labiais em paciente com SSJ O diagnóstico é clínico, podendo ser reforçado pela detecção de necrose intensa de queratinócitos com pouco infiltrado inflamatório no exame histopatológico. O sinal de Nikolsky (descolamento da epiderme com tração manual) é positivo nas áreas lesadas, porém esse achado não é patognomônico do espectro SSJ/NET. A principal causa de morte na SSJ ou NET é a septicemia, produto de infecções bacterianas secundárias adquiridas após a ruptura da barreira de defesa natural da pele. O prognóstico desses indivíduos pode ser avaliado por meio do escore SCORTEN. Escore SCORTEN para avaliação prognóstica no espectro SSJ/NET O tratamento consiste na suspensão imediata das medicações consideradas suspeitas, com internamento em unidade capacitada (ex.: unidade de queimados), hidratação e medidas de suporte (controle da dor, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, dieta enteral). O uso de antibioricoprofilaxia ou de sulfadiazina de prata é proscrito, uma vez que esses compostos estão fortemente associados a farmacodermias. SÍNDROME DRESS (DRUG REACTION WITH EOSINOPHILIA AND SYSTEMIC SYMPTOMS ): A DRESS é uma farmacodermias pouco frequente, porém potencialmente fatal (mortalidade de 5 a 10%) que se inicia após um mês da exposição à droga ou pela reativação de vírus latentes. A presença de sintomas sistêmicos, como disfagia, hemorragia digestiva, tosse, dispneia e insuficiência renal aguda, é frequente na NET, e menos comum na SSJ A administração de imunoglobulinas ou outras preparações endovenosas pode ser indicado em diferentes serviços, porém não há evidências que apontem benefícios reais dessa conduta Os fármacos mais associados à DRESS são os anticonvulsivantes, alopurinol, antibióticos e derivados da sulfa Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS O mecanismo fisiopatológico dessa condição envolve a hipersensibilidade tipo IV, com participação de células Th2 e eosinófilos. O quadro clínico é caracterizado por exantema morbiliforme (que pode evoluir para dermatite esfoliativa), acompanhado por edema de face, febre, mal-estar e linfadenopatia dolorosa generalizada. Outros órgãos, como fígado, pulmões, rins e pâncreas podem ser acometidos em 70% dos casos. A confirmação do diagnóstico requer a realização de exames laboratoriais (hemograma, transaminases, função renal e hepática), pois o exame histopatológico não é patognomônico da síndrome. A eosinofilia é um achado comum, assim como a linfocitose atípica e a queda de frações IgG, IgM e IgA. O tratamento é feito com a retirada imediata da droga causadora e o uso de prednisona (1 mg/kg/dia) por tempo prolongado, sendo o desmame conduzido por 2 meses, período no qual podem haver recidivas. Casos de maior gravidade podem necessitar de terapia imunossupressora com ciclosporina ou pulsos de corticoide. A profilaxia para estrongiloidíase (ivermectina) deve ser administrada a todos os pacientes
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