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Modelos, perspectivas crítica e interpretativa da cultura organizacional Licensed to ISMAEL NUNES DA SILVA FILHO - mael.nsilva@uol.com.br - 414.534.538-06 SST Rodrigues Agapito, Paula Modelos, perspectivas critíca e interpretativa da cultura organizacional / Paula Rodrigues Agapito Ano: 2020 nº de p. : 10 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Licensed to ISMAEL NUNES DA SILVA FILHO - mael.nsilva@uol.com.br - 414.534.538-06 Modelos, perspectivas crítica e interpretativa da cultura organizacional 3 Apresentação A administração de empresas é um processo relativo e contingencial para o qual não existem normas e princípios universais. Ela nunca é igual entre as organizações; assume diferentes perfis de acordo com o ambiente interno e externo. Isto acontece porque cada empresa possui a sua cultura, que pode ser entendida como um conjunto de regras explícitas e implícitas que regem o dia a dia da empresa. Em um mundo tão complexo e que exige novas posturas e ações para acompanhar as mudanças é preciso estar aberto para revisitar a cultura estabelecida e realizar alguns ajustes para continuar no mercado. Sistemas culturais Campos et al. (2013) apresentam quatro perfis organizacionais definidos por Rensis Likert, que se baseou em variáveis como: processo decisório, sistema de comunicações, relacionamento interpessoal e sistemas de reconhecimento e punições. Em cada um destes perfis, a cultura apresenta-se de forma diferente. Veja a seguir. Sistema 1 – autoritário-forte O sistema autoritário-forte, como o próprio nome já sugere, é autocrático, coercitivo, forte, altamente arbitrário e controlador. É comumente encontrado em empresas da construção civil e linhas de produção mais rudimentares, por exemplo. Processo decisório: totalmente centralizado. Os funcionários não têm voz ativa nem autonomia, devem receber as ordens e acatá-las independentemente de concordarem com elas ou não. Manda quem pode e obedece quem tem juízo, sabe? Assim! Licensed to ISMAEL NUNES DA SILVA FILHO - mael.nsilva@uol.com.br - 414.534.538-06 4 Sistema de comunicações: muito precário. As informações são transmitidas de forma descendente, ou seja, de cima para baixo na escala hierárquica, com nenhuma possibilidade de argumento. As ordens são dadas, e o profissional é um mero executor. Relacionamento interpessoal: é visto como algo prejudicial aos negócios e que não deve ser estimulado. Até́ mesmo os cargos e as tarefas a serem executadas são organizados de forma a não incentivar nenhum relacionamento entre os empregados. Sistema de recompensas e punições: o ambiente de trabalho gera um clima de desconfiança nos funcionários. Por este motivo, o sistema de recompensas e punições é baseado em medidas disciplinares. De forma muito autoritária, as tarefas são delegadas e devem ser realizadas conforme as normas e os procedimentos preestabelecidos. Sistema 2 – autoritário benévolo O sistema autoritário benévolo não difere tanto do autoritário-forte, mas é possível perceber diferença em relação à confiança nos funcionários. Empresas cujos processos produtivos adotam tecnologia mais sofisticada e que requerem mão de obra especializada são exemplos de um ambiente provável deste tipo de sistema. Processo decisório: também é centralizado na cúpula da empresa, sem nenhum envolvimento dos funcionários. No entanto, se algum empregado tiver ideia ou sugestão de uma forma diferente de realizar a tarefa, por exemplo, pode solicitar autorização do seu chefe imediato. Existe a possibilidade de fazer alguma mudança. Licensed to ISMAEL NUNES DA SILVA FILHO - mael.nsilva@uol.com.br - 414.534.538-06 5 Sistema de comunicações: a comunicação é precária. Acontece de forma descendente e raramente de forma ascendente – esta última forma é rara, mas pode ocorrer, e podemos considerar isso um avanço. Relacionamento interpessoal: existe um espaço mínimo para que os grupos informais se formem, pois, neste sistema os gestores também temem que a união entre os pares possa ser prejudicial à empresa. A esses grupos (quando existem) não é dado nenhum valor ou poder. Sistema de recompensas e punições: não se difere do sistema autoritário-forte. As ordens devem ser cumpridas da forma que foram estipuladas, sob risco de punição. Sistema 3 – participativo-consultivo O sistema participativo-consultivo é mais voltado para uma gestão participativa e menos autocrática. O profissional tem voz e é ouvido. Costumamos encontrar este tipo de gestão em bancos e áreas administrativas de empresas mais avançadas. Processo decisório: envolve a alta hierarquia e os demais colaboradores da organização. Os gestores dão espaço para discussões e exposição de ideias, mas a decisão final é deles, que não necessariamente acatam o que foi sugerido ou solicitado. Sistema de comunicações: a comunicação ocorre de forma descendente, ascendente e lateral. Sistemas internos de comunicação dão conta de controlar o teor das discussões entre as pessoas. Licensed to ISMAEL NUNES DA SILVA FILHO - mael.nsilva@uol.com.br - 414.534.538-06 6 Relacionamento interpessoal: é incentivado e existe de forma amistosa, graças à confiança que é transmitida aos funcionários. Sistema de recompensas e punições: o foco é dado no sistema de recompensas, que podem ser materiais ou simbólicas, mas não exclui a possibilidade de punições. Sistema 4 – participativo-grupal O sistema participativo-grupal é democrático e aberto. É mais comumente encontrado em negócios nos quais os profissionais têm autonomia, como consultorias e agências de publicidade, ou em negócio que utilizam tecnologias muito sofisticadas. Processo decisório: é descentralizado. Discutem-se as ações a serem tomadas, no entanto, a decisão final é sempre tomada pelos superiores. Sistema de comunicações: a comunicação acontece de todas as formas possíveis e é incentivada para que a organização alcance os seus objetivos. Relacionamento interpessoal: o trabalho em equipe é incentivado, pois favorece a troca de informações e experiências, reforçando a cultura e fortalecendo os laços de amizade. Sistema de recompensas e punições: as recompensas são sociais, simbólicas e materiais e raramente ocorrem punições. Licensed to ISMAEL NUNES DA SILVA FILHO - mael.nsilva@uol.com.br - 414.534.538-06 7 Certamente, esses quatro modelos não esgotam as possibilidades de estilos gerenciais, e, sim, apresentam um delineamento do padrão geral de gestão. Existem diversas formas de gerir uma organização, e cada uma delas proporciona meios diferentes para desenvolver gestores e culturas. Cultura organizacional Fonte: Plataforma Deduca (2020) Perspectivas crítica e interpretativa da cultura organizacional Até́ o momento, apresentamos o conceito de cultura organizacional do ponto de vista de teóricos da administração – abordagem esta que utilizaremos até́ o final da disciplina. No entanto, é importante saber que o conceito de cultura organizacional foi tomado emprestado da Antropologia. Segundo Mascarenhas (2002, p. 89): “o assunto é abordado pelos teóricos da administração com grande distância em relação ao enfoque antropológico”. Reflita Licensed to ISMAEL NUNES DA SILVA FILHO - mael.nsilva@uol.com.br - 414.534.538-06 8 Esta diferença de enfoque ocorre porque a abordagem da administração é instrumental, muito voltado à prática, sempre analisando quais são as variáveis nas organizações que têm impacto nos objetivos e resultados. Uma dessas variáveis é a cultura da empresa, cujas características devem ser monitoradas e manipuladas para que os objetivos sejam alcançados, como já vimos anteriormente. Já a abordagem antropológica da cultura, que não é instrumental, possibilitou, de acordo com Mascarenhas (2002), que antropólogos desenvolvessem grande capacidade e criatividade para compreender e interpretar os sistemas simbólicos nas empresas. Esta interpretação se dá por meio de duas perspectivas:interpretativa e crítica. A perspectiva interpretativa concentra-se na produção de significados, e a perspectiva crítica observa os contextos sociais dentro dos quais esses significados são construídos. Clifford Geertz, o mais importante representante da antropologia interpretativa, citado por Jaime Júnior (2002, p. 78), entende a cultura como sendo a produção de sentido, ou seja, “uma inextricável teia de significados que os homens tecem em suas interações cotidianas e que funciona como um mapa para a ação social”. Atenção Geertz enxerga a cultura como um texto que as pessoas leem para interpretar o que acontece no ambiente que estão inseridas. Para ele, os grupos, as práticas, as mudanças e o cotidiano são passíveis de leitura em algum sentido. Nesse contexto, o antropólogo seria o leitor e intérprete que traduziria os textos culturais, dando significado às práticas observadas. É a perspectiva interpretativa da cultura organizacional. O sociólogo britânico John Thompson, também citado no estudo de Jaime Júnior (2002, p. 79), afirma que Geertz dá atenção insuficiente aos problemas de conflito social e poder. Para Thompson, a antropologia interpretativa “concentra-se na produção de significados e esquece de observar os contextos sociais estruturados dentro dos quais esses significados são construídos”. Licensed to ISMAEL NUNES DA SILVA FILHO - mael.nsilva@uol.com.br - 414.534.538-06 9 Conflito social e poder Fonte: Plataforma Deduca (2020) Na perspectiva crítica da cultura organizacional, as pessoas estão posicionadas de formas diferentes e desiguais na hierarquia da organização. Elas têm diferentes classes sociais, percepções, graus de escolaridade, papéis e interesses. Por esta razão, interpretam de formas diversas o mesmo texto cultural, pois atuam e se desenvolveram em contextos muitos diferentes. Devidamente apresentadas as duas perspectivas, fica a pergunta: como a Antropologia pode ajudar os administradores no atingimento de seus objetivos, já que ela não tem uma característica instrumental? Para responder a esta pergunta, recorremos ao estudo de Mascarenhas (2002, p. 94): Ao possibilitar a compreensão mais aprofundada da condição humana nas organizações, em todas as suas dimensões, o conhecimento antropológico permite a formação de um quadro mais realista dos desafios com os quais os administradores defrontam-se diariamente. Licensed to ISMAEL NUNES DA SILVA FILHO - mael.nsilva@uol.com.br - 414.534.538-06 10 Fechamento Ao estudar diferentes organizações é possível perceber e entender as mais diversas maneiras de como a cultura está incorporada no ambiente organizacional. Os sistemas culturais podem fazer toda a diferença na melhor adaptação das equipes ao estilo de condução dos líderes. Mesmo que o gestor esteja preocupado com lado humano, o bem-estar de seus colaboradores e a satisfação de clientes, mas percebe que a cultura daquela organização tem um modelo autoritário forte, há pouco engajamento e consequentemente resultados pouco produtivos. Ao longo dos estudos, também foi possível conhecer as perspectivas interpretativa e crítica de análise da cultura organizacional. Referências CAMPOS, H. L. et al. Estilos de liderança e interferência no nível de confiança organizacional: um estudo de caso. Revista Gestão e Planejamento, v. 14, n. 3, p. 389-409, 2013. JAIME JÚNIOR, P. Um texto, múltiplas interpretações: antropologia hermenêutica e cultura organizacional. Revista de Administração de Empresas, v. 42, n. 4, p. 1-12, 2002. MASCARENHAS, A. O. Etnografia e cultura organizacional: uma contribuição da antropologia à administração de empresas. Revista de Administração de Empresas, v. 42, n. 2, p. 88-94, 2002. Licensed to ISMAEL NUNES DA SILVA FILHO - mael.nsilva@uol.com.br - 414.534.538-06
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