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Instituto de História Disciplina: História e Poder Docente: Bernardo Kocher Discente: Angelo Aguirre RESUMO Neste trabalho trataremos dos efeitos do capitalismo na Inglaterra durante a Primeira Revolução Industrial e como após a Segunda Guerra Mundial esse capitalismo ganhou uma ‘’face humana’’ com o bem estar social. Discutiremos os desdobramentos da classe proletária na sua formação e movimentos frente às medidas tomadas pela burguesia inglesa e o modelo de Welfare State como um problema à democracia. ACUMULAÇÃO E INVESTIMENTO DO CAPITAL Após a Revolução Gloriosa, é instaurado o regime constitucional da monarquia e, com ele, um parlamento com superioridade de poder sobre o rei. Entretanto, o parlamento era formado por maioria burguesa e esses, em teoria, também representavam os pobres. A partir disso, foi instaurada a Bill of Rights (Declaração de Direitos de 1689), que tinha alguns pontos que podemos ressaltar: garantir a liberdade individual; garantir a propriedade privada; as eleições para o parlamento eram livres. Na prática, a declaração beneficiava a burguesia que utilizava da declaração para diminuir seus impostos e, nesse viés, acumular capital. Caminhando para a Revolução Industrial, a burguesia puritanista acumulava capital de diversas formas, por exemplo, emprestando dinheiro, fazendo comércio ou através de tratados - como o tratado de Methuen, que repassava o ouro extraído do Brasil por Portugal para os ingleses. Nessa perspectiva, os burgueses estavam em constante ampliação dos negócios que poderiam gerar lucros cada vez maiores, neste caso as indústrias. Para além da capital, os ingleses já tinham o conhecimento técnico para a Revolução Industrial há quase 1 século, já haviam retirado seu rei do poder monárquico, possuiam uma economia liberal, a agricultura já estava desenvolvida o suficiente para receber um aumento de produção e possuíam os recursos naturais essenciais. Ademais, o ponto fundamental é a população camponesa obrigada a migrar para a cidade devido a Enclosure Acts (Leis de Cercamentos), visto que os camponeses foram acuados em suas pequenas terras e consequentemente incapacitados de produzir o suficiente para manter sua subsistência e, dessa forma, ocasionando o êxodo rural. FORMAÇÃO E MOVIMENTOS DA CLASSE OPERÁRIA Nas cidades, a situação é precária e cria um novo nível de exploração nas indústrias. A moradia era em cortiços, pouca comida e a carga horária nas fábricas era entre 14 e 16 horas de trabalho. O trabalho era perigoso e elevou a frequência e a gravidade dos acidentes dos trabalhadores, como Engels descreve: '' A industrialização reduziu os trabalhadores “ao papel de simples máquinas, arrebatando-lhes os últimos vestígios de atividade independente” ( ENGELS,1985, p. 14) Como efeito, se observa a construção de uma nova classe social: a proletária. Essa assume a luta de classes e reivindicam melhores condições de vida e trabalho de diversas formas, por exemplo greves, motins e movimentos organizados. Um dos marcos da luta dos trabalhadores está na sua auto organização e na auto educação de sua classe. “O século 18 e o início do século 19 são pontuados por motins [...]” decorrentes dos impactos negativos nas condições de vida das classes trabalhadoras, levando setores destas classes à auto-organização, visando também a autoeducação. ‘’ (THOMPSON, 1964, p. 64-65) Nas indústrias o trabalho era manual, repetitivo e alienante, a educação da classe operária era péssima com acesso a poucas escolas, e sem nenhum controle público, logo era comum os trabalhadores não saberem ler ou escrever. Nessa ótica, a auto educação dos operários tinha como objetivo ensinar a ler e ativar o mínimo senso crítico, como através de jornais e livros cartistas ou socialistas. Um dos principais movimentos que uniu a auto educação e a luta direta por melhores condições foi o cartismo, que ocorreu entre 1836 e 1850. Os cartistas reivindicavam participação dos seus no parlamento e, com isso, criaram um jornal, realizaram reuniões e formularam estratégias que iam desde ataques às máquinas, greves até às cartas ao parlamento. As denominadas Cartas do Povo pediam pelo voto secreto masculino, abolição da qualificação segundo as posses para a participação no Parlamento, representação igualitária entre os distritos eleitorais e eleição anual para escolher os membros do Parlamento. As petições tinham grande apoio da população, principalmente a terceira petição, no entanto, todas foram negadas. O processo não teve o resultado ''imediato'', porém foi de grande valor para a consciência de classe e de importância para influência para os futuros movimentos, já que, em 1918 5 das 6 principais reivindicações das Cartas do Povo tinham sido alcançadas. Nesse sentido, podemos observar o contexto de domínio do liberalismo econômico sobre o liberalismo político, isto é, o interesse único no livre mercado e na acumulação de capital. Por outro lado, vemos os efeitos da luta proletária que se organizavam, educavam e reivindicavam melhores condições de trabalho e vida, além de maior participação política de sua classe no parlamento. Portanto, vemos as imposições do liberalismo sobre a luta dos proletários por uma forma democrática e como as reivindicações têm papel essencial no desenvolvimento da democracia. WELFARE STATE E A ‘’FACE HUMANA DO CAPITALISMO’’ O impulso democrático da análise acima causou temor nos liberais que viam na conscientização da classe proletária o sufrágio universal, a diminuição de seu capital, dos seus privilégios e propriedades como consequência do liberalismo exploratório. Nesse viés, após a Segunda Guerra Mundial se colocou em prática a ideia de Welfare State, dado que, em um cenário exploratório e de desigualdade social, era necessário garantir o bem estar social e harmonia entre as classes, mesmo que custasse a diminuição de lucro. Entre 1950 e 1970, nos Estados Unidos e nos países ricos da Europa, podemos ver o aumento de políticas tributárias e da redistribuição de renda. No entanto, é essencial notar que esse modelo político é provisório devido ao fracasso e exploração do capitalismo. ‘’ O Estado apenas como substituto do mercado quando ele se mostra deficiente, seja para bens públicos, seja para estimular a demanda agregada’’ (PIRES, 1998, p.15) Desse ponto de vista, o Welfare State traz uma ‘’face humana’’ ao capitalismo à medida que insere políticas sociais em sua pauta. Entretanto, a dualidade está em perceber que o acordo de Welfare State só pôde ser possibilitado devido aos acordos entre as classes que possuem poder político e econômico, ou seja, deixando de lado a classe proletária. Nessa lógica, o Welfare State não é um mecanismo capitalista de melhora na condição social dos proletários de fato, ele é uma medida provisória para aliviar e disfarçar os problemas do capitalismo. Nesse modelo o Estado liberal é um mecanismo que está atrelado a representar as escolhas da classe dominante. A face humana que o Welfare State traz à ótica capitalista é mera fachada, frente a exploração da classe trabalhadora. O Welfare State é um agente explorador que tenciona a classe proletária a ver o capitalismo como uma solução, ou melhor, o capitalismo como um rosto humano que entende as necessidades sociais e que vai se moldar de acordo com as necessidades da população. Mas na prática o capitalismo é perverso e, no final, ele adapta a sociedade para se encaixar no seu sistema que prioriza a minoria abastada e enriquece a classe dominante às custas da classe proletária. Por último, vale a ressalva a exploração do neoliberalismo a partir dos anos 1980, quando podemos ver o seu desenvolvimento nos países latinos. Por exemplo, a Cartilha do Consenso de Washington, que dizimou, entre algumas de suas consequências, a autonomia de decisões políticas dos países e inaugurou a agenda neoliberal na América Latina. Dessa forma, o contexto demonstra o caráter de oposição entre democraciae as variações do modelo capitalista. A classe dominante como agente de gerenciamento do Estado, mesmo utilizando mecanismos apaziguadores como o Welfare State, demonstram a importância histórica da classe proletária olhar para o passado e perceber que o capitalismo não possui rosto humano, mas, sim o rosto da exploração, da contradição e da concentração de renda. Nessas circunstâncias o voto nessa suposta democracia, por exemplo dos Estados Unidos, está fragilizado, visto a supremacia liberal de controle do Estado para a tomada de decisões. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Global Editora, 1985 ESPING, Andersen. As três economias políticas do welfare state. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 24 p. 85-116, 1991. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ln/a/99DPRg4vVqLrQ4XbpBRHc5H/ HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções : 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2020 LOURENÇATO, Antonio Aparecido. Sobre a neutralidade do estado: do laissez faire ao Welfare State. Tese (Mestrado em Economia) - Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2005. Disponível em: https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/9178/1/Antonio%20Aparecido%20Lou rencato.pdf MUNIESA, Bernat. Libertad, liberalismo, democracia. Espanha: El Viejo Topo, 2008 PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Transição, consolidação democrática e revolução capitalista. Rio de Janeiro: Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), v. 54, n. 2, pp. 223-258, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/dados/a/Gcg7vHgsBhwhHcnmDbqN4fQ/?lang=pt# SILVA, Cláudio Rodrigues da; DAL RI, Neusa Maria. Princípios educativos comuns e transcendentes em movimentos sociais de trabalhadores: owenistas, cartistas britânicos e movimentos dos trabalhadores rurais sem terra. São Paulo: e-Curriculum , v. 17, n. 2, p. 699-725, 2019 . Disponível em http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-38762019000200 699&lng=pt&nrm=iso THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa – 3 v. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987
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