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1 Khilver Doanne Sousa Soares Farmacoterapia H. pylori Introdução O ácido gástrico e a pepsina estomacal dificilmente provocam lesões ou sintomas de doenças acidopépticas por causa de mecanismos de defesa fisiológicos. O estômago é protegido por vários fatores referidos coletivamente como "defesa da mucosa", e vários deles são estimulados pela geração local de PG (prostaglandina) e NO (óxido nítrico). Se houver ruptura dessas defesas, pode haver formação de úlcera gástrica ou duodenal. Essas defesas constituem a principal defesa esofágica. Se essas barreiras falham ocorre refluxo, dispepsia ou esofagite erosiva. Logo, os tratamentos são voltados à diminuição da acidez gástrica, aumento do tônus do esfíncter esofágico inferior e estimulação da motilidade esofágica. Tratamento H. pylori O H. pylori, um bastonete Gram-negativo, foi associado à gastrite e ao desenvolvimento subsequente de UG e UD, adenocarcinoma gástrico e linfoma gástrico de células B. Devido ao papel decisivo do H. pylori na patogenia das úlceras pépticas, a erradicação dessa infecção constitui o tratamento-padrão em pacientes com UG (úlcera gástrica) ou UD (úlcera duodenal). Cinco considerações importantes influenciam a seleção de um regime de erradicação: i. Esquemas com antibiótico único são ineficazes na erradicação da infecção pelo H. pylori e levam ao desenvolvimento de resistência microbiana. O tratamento associando dois ou três antibióticos (mais terapia de supressão da secreção ácida) está associado a taxas mais elevadas de erradicação do H. pylori; ii. Um IBP aumenta significativamente a eficácia de regimes antibióticos contendo amoxicilina e claritromicina contra H. pylori; iii. Um regime de 10 a 14 dias de tratamento parece melhor do que regimes mais curtos; iv. A baixa adesão ao tratamento está relacionada aos efeitos adversos que esta causa. Mais comum em pacientes que usam o esquema triplo. Portanto, esquemas mais convenientes podem melhorar a adesão; v. A resistência à claritromicina e ao metronidazol é cada vez mais reconhecida como um fator importante na falha da erradicação do H. pylori. Em áreas com alta frequência de resistência à claritromicina e ao metronidazol, um esquema terapêutico quádruplo de 14 dias (três antibióticos combinados com um IBP) é geralmente eficaz.; 2 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: BRUNTON, Laurence L.; CHABNER, Bruce A.; KNOLLMANN, Bjorn C. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. TRATAMENTO DA INFECÇÃO POR HELICOBACTER PYLORI. 13. ed. São Paulo: AMGH, 2018. Úlceras por AINE Os AINE são classificados, quanto a seu mecanismo, em AINE não seletivos quanto à isoforma, que inibem tanto a COX-1 quanto a COX-2, e em AINE seletivos da COX-2. Eles atuam, principalmente, inibindo as enzimas cicloxigenase que catalisam o primeiro estágio da biossíntese de prostanoides. Isso leva à redução da síntese de PGs, com efeitos desejados e indesejados. Fonte: Site Ibuprofeno. Acesso em 22/04/2021. https://ibuprofeno20152016.wixsite.com/toxiffup/blank-2 A inibição da COX-1 é responsável, em grande parte, pelos efeitos adversos gástricos e sangramento que complicam a terapia, visto que a COX-1 é a isoforma citoprotetora dominante nas células epiteliais gástricas e forma TxA2 nas plaquetas, o que amplifica a ativação das plaquetas e causa contração dos vasos sanguíneos no local de lesão. Inibição da COX-1 nas células epiteliais gástricas diminui as PG citoprotetoras da mucosa, particularmente a PGI2 e a PGE2. Esses eicosanoides inibem a secreção de ácido pelo estômago, intensificam o fluxo sanguíneo da mucosa e promovem a secreção de muco citoprotetor no intestino. https://ibuprofeno20152016.wixsite.com/toxiffup/blank-2 3 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: FINKEL, Richard; PANAVELIL, Thomas a.; WHALEN, Karen. Farmacologia Ilustrada. Efeitos de ACh, histamina, prostaglandina E2 e gastrina na secreção gástrica pelas células parietais do estômago. GS e Gi, proteínas de membrana que intermedeiam o efeito estimulante ou inibitório do receptor acoplado à adenililciclase. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Inibidores da bomba de prótons (IBP) Seis IBP estão disponíveis para uso clínico: omeprazol e seu isômero S, esomeprazol, lansoprazol e seu enantiômero R, dexlansoprazol, rabeprazol e pantoprazol. Os IBP são profármacos que exigem ativação em um meio ácido. Após absorção na circulação sistêmica, o profármaco difunde-se nas células parietais do estômago e acumula-se nos canalículos secretores ácidos. Ali, ele é ativado por formação de sulfenamida tetracíclica catalisada por próton, prendendo o fármaco de modo que ele não consiga difundir-se de volta através da membrana canalicular. çã Inibição da enzima H+/K+-ATPase, levando ao bloqueio da secreção ácida do estômago, impedindo a troca de H+ e K+ A secreção de ácido só retorna após a síntese e inserção de NOVAS moléculas da bomba na membrana luminal, proporcionando, assim, uma supressão prolongada da secreção ácida. A quantidade de H+, K+-ATPase aumenta após o jejum, por isso os IBP devem ser ADMINISTRADOS antes da primeira refeição do dia. Geralmente uma dose é suficiente, mas outra pode ser administrada antes da refeição noturna se necessário. Obs.: ocorre hipersecreção ácida de rebote depois de tratamento prolongado com IBP, podendo provocar dispepsia. i. Comprin1idos com revestimento entérico dentro de cápsulas de gelatina (omeprazol, dexlansoprazol, esomeprazol, lansoprazol, rabeprazol). ii. Comprimidos de liberação retardada (formulações de omeprazol) iii. Cápsulas de liberação retardada (formulações de dexlansoprazol, esomeprazol) iv. Suspensão oral de liberação retardada (esomeprazol, omeprazol, pantoprazol) v. Microgrânulos de revestimento entérico em comprimidos de desintegração oral (lansoprazol) vi. Comprimidos de revestimento entérico (pantoprazol, rabeprazol e omeprazol) vii. Omeprazol em pó associado a bicarbonato de sódio (cápsulas e suspensão oral) Como a ativação dos fármacos precisa de um pH ácido nos canalículos ácidos das células parietais e como o alimento estimula a produção de ácido, a conduta ideal consiste na administração desses fármacos cerca de 30 minutos antes das refeições. Os IBP são METABOLIZADOS por CYP hepáticas e, portanto, podem interferir na eliminação de outros fármacos depurados por essa via. Foi observada uma interação dos IBP com varfarina (esomeprazol, lansoprazol, omeprazol e rabeprazol), diazepam (esomeprazol e omeprazol) e ciclosporina (omeprazol e rabeprazol). Uma vez no intestino delgado, os IBP são rapidamente ABSORVIDOS, ligam-se altamente às proteínas e são extensamente metabolizados 4 Khilver Doanne Sousa Soares por CYP hepáticas, particularmente CYP2Cl9 e CYP3A4. Como nem todas as bombas e células parietais estão simultaneamente ativados, um tratamento de até 5 dias é necessário para realizar uma inibição de 70% das bombas de prótons. A presença de insuficiência renal crônica não causa acúmulo do fármaco com uma dose única ao dia do IBP. A doença hepática reduz consideravelmente a depuração do esoprazol e do lansoprazol. Lansoprazol, pantoprazol e esomeprazol foram aprovados para tratamento e prevenção da recidiva de úlceras gástricas associadas ao uso de AINE. Os efeitos adversos mais comuns dos IBP’s consistem em náusea, dor abdominal, constipação, flatulência e diarreia. Foi relatada a ocorrência de miopatia subaguda, artralgias, cefaleias, nefrite intersticial e exantemas cutâneos. O tratamento crônico com omeprazol diminui a absorção de vitamina B12. A hipergastrinemia é mais frequente e mais grave com IBP do que com antagonistas dos receptores H2 e, associado a ela, há hiperplasia de ECL, polipose de glândula fúndica e gastrite atrófica. Antagonistas dos receptores H2 Inibem a produção de ácido competindoreversivelmente com a histamina pela ligação aos receptores H2 na membrana basolateral das células parietais. Estão disponíveis nos Estados Unidos: cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina. Esses fármacos são menos potentes que os IBP mas agem por até 24 horas com supressão gástrica de cerca de 70%. Os antagonistas dos receptores H2 são rapidamente absorvidos após administração oral. A absorção pode aumentar com alimento ou diminuir com antiácidos. Os níveis terapêuticos são alcançados rapidamente após uma dose IV e se mantém por 6 a 8 horas (ranitidina). Os rins excretam esses fármacos e seus metabólitos por filtração e secreção tubular renal. As principais indicações terapêuticas dos antagonistas do receptor H2 são promover a cicatrização de UG e UE, tratar a DRGE não complicada e prevenir a ocorrência de úlceras de estresse. Os efeitos adversos são leves e incluem diarreia, cefaleia, sonolência, fadiga, dor muscular e constipação. As interações medicamentosas com os antagonistas dos receptores H2 ocorrem principalmente com a cimetidina, e o seu uso diminuiu acentuadamente. Misoprostol É um análogo sintético da PGE1 aprovado pela FDA para prevenir lesão da mucosa induzida por AINE. A PGE2 e a prostaciclina (PGI2) são as duas principais PG sintetizadas pela mucosa gástrica. Ao contrário do efeito elevador do AMPc em várias células via receptores EP2 e EP4, esses prostanoides se ligam ao receptor EP3 nas células parietais e estimulam a via G, diminuindo, assim, o AMPc intracelular e a secreção de ácido gástrico. PGE2 também pode evitar a lesão gástrica por meio de efeitos citoprotetores, que incluem a estimulação da secreção de mucina e bicarbonato e o aumento do fluxo sanguíneo da mucosa. Como os AINE diminuem a síntese de PG por inibição da cicloxigenase, os análogos sintéticos das PG oferecem uma abordagem lógica para reduzir a lesão da mucosa induzida por AINE O misoprostol é rapidamente absorvido após administração oral. Uma dose única inibe a produção de ácido dentro de 30 minutos; o efeito 5 Khilver Doanne Sousa Soares terapêutico alcança o pico em 60 a 90 minutos e dura até 3 horas. Alimentos e antiácidos diminuem a taxa de absorção do misoprostol. O ácido livre é excretado principalmente na urina, com t 1/2 de eliminação de 20 a 40 minutos. Ocorre diarreia, com ou sem dor e cólicas abdominais, em até 30% dos pacientes tratados com misoprostol. O misoprostol pode causar agravamento clínico da doença inflamatória intestinal. Sucralfato Em ambiente ácido (pH < 4), o sucralfato sofre extensa ligação cruzada, produzindo um polímero viscoso e pegajoso, que adere às células epiteliais e às crateras das úlceras durante um período de até 6 horas após uma dose única. Além de inibir a hidrólise das proteínas da mucosa pela pepsina, estimula a produção local de PG e do fator de crescimento epidérmico. O uso do sucralfato no tratamento da doença acidopéptica diminuiu nesses últimos anos. Entretanto, como o aumento do pH gástrico pode constituir um fator no desenvolvimento da pneumonia hospitalar em pacientes gravemente enfermos, o sucralfato pode ter vantagem sobre os IBP e os antagonistas dos receptores H2 para a profilaxia das úlceras de estresse. O sucralfato também tem sido utilizado em condições associadas à inflamação/ulceração da mucosa, que podem não responder à supressão do ácido, incluindo mucosite oral (úlceras por radiação e aftosas) e gastropatia por refluxo de bile. Como é ativado pelo ácido, o sucralfato deve ser tomado com estômago vazio, 1 hora antes das refeições. Deve- se evitar o uso de antiácidos por até 30 minutos após uma dose de sucralfato. A dose de sucralfato é de 1 g 4 vezes/dia (na UD ativa), ou de 1 g 2 vezes/dia (no tratamento de manutenção). Para crianças, utiliza-se 40 a 80 mg/kg/dia divididos em doses a cada 6 horas. O efeito mais comum do sucralfato é a constipação (- 2%). Quanto a interações medicamentosas, o sucralfato cria uma camada pegajosa no estômago que interfere nas demais absorções medicamentosas. Logo, é recomendado que seja tomado apenas 2 horas após alguma medicação. FINKEL, Richard; PANAVELIL, Thomas a.; WHALEN, Karen. Farmacologia Ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. BRUNTON, Laurence L.; CHABNER, Bruce A.; KNOLLMANN, Bjorn C. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. 13. ed. São Paulo: AMGH, 2018. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________
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