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APG 11 – prece maometana Objetivos: Descrever a epidemiologia, etiologia e fisiopatologia das doenças do pericárdio. Compreender o diagnóstico e tratamento das doenças do pericárdio. Explicar o ECG de um paciente com pericardite. Entender os aspectos imunológicos das doenças autoimunes. PERICÁRDIO É um revestimento fibroso que envolve o coração, mantendo-o em uma posição fixa no tórax e fornecendo proteção física e barreira contra infecções. O pericárdio é um saco de três camadas constituído por uma camada fibrosa e resistente externa e uma camada fina serosa interna. - CAMADA FIBROSA Localizada externamente. Está conectada aos grandes vasos que entram e saem do coração, do esterno e do diafragma. O pericárdio fibroso é altamente resistente à distensão. Age impedindo a dilatação aguda das câmaras cardíacas e exerce um efeito restritivo sobre o ventrículo esquerdo. - CAMADA SEROSA Localizada internamente. Consiste em duas camadas: uma camada visceral e uma camada parietal. A camada visceral, também conhecida como epicárdio, recobre todo o coração e os grandes vasos e depois se dobra para formar a camada parietal, que reveste o pericárdio fibroso. Entre as camadas visceral e parietal encontra-se a cavidade pericardial, um espaço potencial que contém de 30 a 50 mℓ de líquido seroso. Esse líquido age como um lubrificante para minimizar o atrito à medida que o coração se contrai e relaxa contra estruturas adjacentes. Doenças do pericárdio Epidemiologia, etiologia e fisiopatologia A epidemiologia das pericardites no Brasil e no mundo não é muito clara. Elas representam cerca de 5% dos pacientes com queixa de dor torácica na emergência no qual foram afastados síndrome coronariana e 1% dos pacientes com supra ST. As pericardites podem ter causas infecciosas e não- infecciosas. As infecciosas, podem ser virais, são as mais comuns, bacterianas, fúngicas ou parasitarias. As não-infecciosas são as auto- imunes, doenças de órgãos adjacentes, metabólicas, neoplásicas, traumáticas ou idiopáticas. Nayara Viana, 3 periodo, unifipmoc PERICARDITE AGUDA Definida como conjunto de sinais e/ou sintomas resultantes da inflamação pericárdica com duração máxima de uma a duas semanas, pode ocorrer em uma gama de doenças. A maioria dos casos é considerada idiopática. Como também ocorre com outros distúrbios inflamatórios, a pericardite aguda frequentemente está associada ao aumento da permeabilidade capilar. Os capilares que irrigam o pericárdio seroso tornam-se permeáveis, possibilitando que proteínas plasmáticas (inclusive fibrinogênio) saiam dos capilares e entrem no espaço pericárdico, causando a formação de um exsudato variável quanto à composição e ao volume de acordo com o agente etiológico. A pericardite aguda comumente está associada a um exsudato fibrinoso (que contém fibrina) que cicatriza por resolução ou progride para a formação de tecidos fibróticos e aderências entre as duas camadas do pericárdio seroso. A inflamação também pode afetar o miocárdio superficial e a pleura adjacente. FISIOPATOGENESE-PERICARDITE FIBRINOSA OU SEROFIBRINOSA São os tipos mais frequentes de pericardite. Compostas por um líquido seroso, variavelmente mesclado e um exsudato fibrinoso. Causas mais comum: IM, síndrome pós-infarto (Dressler, uma resposta autoimune que aparece dias a semanas após o IM), uremia, irradiação do tórax, febre reumática, LES e traumas. Sintoma: inclui dor, febre, insuficiência congestiva pode estar presente e o atrito pericárdico sonoro é o achado clínico mais notável. PERICARDITE PURULENTA OU SUPURATIVA Reflete a infecção ativa provocada pela invasão de micróbios no espaço pericárdico. Pode ocorrer em função de: Propagação direta a partir de infecções vizinhas. Disseminação pelo sangue. Propagação linfática. Introdução direta durante uma cardiotomia. O exsudato varia de um líquido turvo fino a um pus evidente, com um volume de até 400 a 500 mL. As superfícies serosas estão avermelhadas, granulares e cobertas com exsudato. Microscopicamente, existe uma reação inflamatória aguda que algumas vezes se estende até as estruturas circunjacentes. A resposta inflamatória intensa e a cicatrização subsequente frequentemente produzem pericardite constritiva, uma consequência grave. Sintoma: na fase ativa são semelhantes àqueles vistos na pericardite fibrinosa, embora a infecção evidente leve a sintomas sistêmicos mais acentuados, incluindo picos febris e calafrios. PERICARDITE HEMORRÁGICA Apresenta um exsudato composto por sangue misturado com derrame fibrinoso ou supurativo. Pode ocorrer em função: o Da disseminação de uma neoplasia maligna ao espaço pericárdico (comum). Infecções bacterianas. Após uma cirurgia cardíaca e, às vezes, é responsável por uma perda significativa de Nayara Viana, 3 periodo, unifipmoc sangue ou mesmo por tamponamento, exigindo uma nova cirurgia. PERICARDITE CASEOSA Causa principal: Tuberculose (TB). Causa possível: infecção por micobactérias atípicas e fungos, como Histoplasma e Candida. Ocorre envolvimento pericárdico por disseminação direta a partir de focos tuberculosos dentro dos linfonodos traquebrônquicos. A pericardite caseosa é um antecedente comum da pericardite constritiva, fibrocalcificada, crônica e incapacitante. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Consiste em tríade de sintomas: dor torácica, atrito pericárdico e alterações no ECG As manifestações clínicas podem variar de acordo com o agente etiológico. - DÓR TORÁCICA Quase todos os pacientes com pericardite aguda referem dor torácica. Em geral, a dor tem início repentino, é bem demarcada na área precordial e pode irradiar ao pescoço, dorso, abdome ou lado do tórax. Os pacientes com pericardite aguda não complicada com frequência sentem-se desconfortáveis, ansiosos, com febre baixa e taquicardia sinusal. A dor na crista escapular pode ser causada pela irritação do nervo frênico. Nos casos típicos, em razão das alterações do retorno venoso e do enchimento cardíaco, a dor piora quando o paciente respira profundamente, tosse, deglute e muda de posição. Em muitos casos, o paciente sente alívio na posição sentada e inclinado para frente. Diagnóstico O diagnóstico pode ser confirmado na presença de, pelo menos, dois dos seguintes critérios: (1) Dor torácica pleurítica típica aliviada em posição sentada e inclinação do tronco; atrito pericárdico; (2) Alterações eletrocardiográficas típicas; (3) Derrame pericárdico novo ou com acentuação progressiva. O diagnóstico da pericardite aguda baseia-se nas manifestações clínicas, no ECG, nas radiografias do tórax e no ecocardiograma. O atrito pericárdico descrito frequentemente como um som agudo ou rangente resulta da esfregação e do atrito entre as superfícies pericárdicas inflamadas. Nos casos típicos, o atrito pericárdico é subdividido em três componentes, que correspondem à sístole atrial, à sístole ventricular e ao enchimento rápido do ventrículo. Como esse sinal é causado pela esfregação das superfícies pericárdicas inflamadas, os derrames volumosos não tendem a causar atrito pericárdico. Com exceção da pericardite urêmica, as alterações eletrocardiográficas da pericardite geralmente passam por quatro estágios progressivos: elevações Nayara Viana, 3 periodo, unifipmoc difusas do segmento ST e depressão do segmento PR; normalização dos segmentos ST e PR; inversões com alargamento das ondas T; e normalização das ondas T. Os marcadores laboratoriais de inflamação sistêmica também podem ser demonstrados, inclusive leucometria, elevação da velocidadede hemossedimentação (VHS) e aumento da proteína C reativa (PCR). Essa última anormalidade não ocorre em todos os casos. Contudo, pode ser usada para monitorar a atividade da doença e a duração do tratamento necessário. - ALTERAÇÕES NO ECG O eletrocardiograma (ECG) é o exame complementar mais importante no diagnóstico da pericardite aguda. O achado clássico é uma elevação difusa do segmento ST. O vetor do segmento ST na pericardite aguda aponta, de modo característico, para a esquerda, anteriormente e inferiormente. A depressão do segmento PR é outro achado comum na pericardite aguda. Pode ocorrer sem elevação do segmento ST e ser a única manifestação ou a manifestação inicial de uma pericardite aguda no ECG. Outras alterações eletrocardiográficas que não a elevação do segmento ST e a depressão do intervalo PR são raras em pacientes avaliados logo após o início dos sintomas. As alterações eletrocardiográficas diferentes dessas devem ser cuidadosamente consideradas, uma vez que sugerem outros diagnósticos. Assim como o atrito, as alterações eletrocardiográficas na pericardite aguda podem ser dinâmicas. Na pericardite aguda, as alterações eletrocardiográficas acontecem em quatro estágios185. São eles: Estágio I: supradesnível do segmento ST côncavo e difuso, exceto em aVR e V1, aonde ocorre infradesnível; onda T apiculada, com leve aumento da amplitude; infradesnível do segmento PR (exceto em aVR, aonde ocorre supradesnível). Essas alterações acontecem em mais de 80% dos casos. Estágio II: normalização do segmento ST e PR, além do achatamento da onda T. Estágio III: inversão da onda T difusa, simulando isquemia miocárdica. Estágio IV: Retorno à normalidade da onda T. Pode ocorrer semanas ou meses após o evento inicial. Alterações do ritmo podem ocorrer em qualquer estágio e variam de taquicardia sinusal até arritmias atriais diversas188. Baixa amplitude do QRS acontece na presença de derrame pericárdico, que melhora após pericardiocentese. A alternância na morfologia ou amplitude do QRS está associada à pericardite com derrame pericárdico volumoso e sinais de tamponamento cardíaco. Na pericardite crônica observam-se predominantemente ondas T invertidas e baixa amplitude do QRS. OUTROS EXAMES Hemograma: apresentam com frequência elevações discretas da contagem leucocitária com linfócitose leve. PCR: ocorre elevação da proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR-as) em aproximadamente três quartos dos pacientes com pericardite aguda. Correlaciona-se de forma independente com a recorrência dos sintomas (por isso usada para monitorização da atividade da doença e para ajudar a determinar a duração da terapêutica). Radiografia de tórax: geralmente é normal nos casos não complicados de pericardite aguda idiopática. Às vezes, pequenos infiltrados pulmonares ou derrames pleurais estão presentes, presumivelmente em virtude de infecções por vírus ou por micoplasma. Ecocardiograma: a principal razão para a realização da ecocardiografia é a exclusão de um derrame. Também é útil para avaliar se a miocardite associada é grave o bastante para alterar a função ventricular e para detecção de IM. TC: Em casos difíceis, a tomografia computadorizada (TC) e/ou a ressonância magnética (RM) cardíaca podem ser úteis na detecção de espessamento pericárdico. Nayara Viana, 3 periodo, unifipmoc Pericardiocentese: objetivo terapêutico e diagnóstico. Indicado na presença de tamponamento pericárdico e em alguns casos do derrame moderado. TRATAMENTO A maioria dos pacientes devem ser hospitalizados para determinação da etiologia, observar sinais ou sintomas de tamponamento e iniciar tratamento. Na suspeita de pericardite viral ou idiopática, recomenda-se a associação de AINES e colchicina. PERICARDITE CRONICA OU CONSTRITIVA Em alguns casos, a organização produz apenas espessamentos fibrosos, semelhantes a placas, nas membranas serosas ou aderências finas e delicadas que raramente causam distúrbios na função cardíaca. Em outros casos, a fibrose, na forma de aderências filamentosas e semelhantes a malha, oblitera completamente o saco pericárdico. Consequência: como o saco pericárdico está obliterado, e a aderência da face externa da camada parietal às estruturas circunjacentes dificulta a função cardíaca. Ocasionalmente, a sobrecarga de trabalho aumentada provoca hipertrofia e dilatação cardíacas graves. Os sinais de pericardite constritiva incluem sons cardíacos distantes ou abafados, pressão venosa jugular elevada e edema periférico. O tratamento consiste na ressecção cirúrgica da carapaça de tecido fibroso constritivo (pericardiectomia). DERRAME PERICÁRDICO Normalmente o saco pericárdico contém menos de 50 mL de um líquido cor de palha, claro e transparente. Sob várias circunstâncias, o pericárdio parietal sofre distensão por um líquido seroso (derrame pericárdico), sangue (hemopericárdio), ou pus (pericardite purulenta). Nos derrames crônicos de menos de 500 mL de volume, a única importância clínica é o aumento globularcaracterístico da sombra do coração nas radiografias de tórax. Por outro lado, o desenvolvimento rápido de acúmulo de líquido pode produzir uma compressão clinicamente devastadora dos átrios de paredes delgadas e da veia cava, ou dos próprios ventrículos. Nayara Viana, 3 periodo, unifipmoc TAMPONAMENTO CÁRDIACO O derrame pericárdico pode causar uma condição conhecida como tamponamento cardíaco, na qual há compressão do coração em consequência da acumulação de líquido, pus ou sangue no saco pericárdico. Essa condição potencialmente fatal pode ser causada por infecções, neoplasias e hemorragia. Consequências: o Aumenta a pressão intracardíaca, Causa limitação progressiva do enchimento diastólico dos ventrículos, Diminui o volume ejetado e o débito cardíaco. A gravidade do quadro depende do volume de líquido e da velocidade com que se acumula. DIAGNÓSTICO Um elemento diagnóstico fundamental é o pulso paradoxal, que pode ser detectado por palpação, esfigmomanometria convencional ou monitoramento da pressão arterial. Nos pacientes com pulso paradoxal, o pulso arterial palpado na artéria carótida ou femoral torna-se enfraquecido ou impalpável durante a inspiração e mais forte durante a expiração. O ecocardiograma é uma técnica rápida, precisa e amplamente utilizada para avaliar derrames pericárdicos. O ECG geralmente revela alterações inespecíficas da onda T e complexos QRS com voltagem baixa. TRATAMENTO Tratamento no tamponamento cardíaco: drenagem do líquido pericárdico para reduzir a pressão intrapericárdica para melhorar a hemodinâmica do paciente. Tratamento cirúrgico: A pericardiocentese ou drenagem pericárdica aberta terapêutica em pacientes com tamponamento cardíaco. A pericardiectomia pode ser feitas nos pacientes com pericardite constritiva sintomáticos refratários ao tratamento clínico, com o objetivo do procedimento de liberar os ventrículos do pericárdio densamente aderido. A ressecção completa deve restaurar a curva de pressão- volume. MECANISMO DE AUTOIMUNIDADE Os fatores que contribuem para o desenvolvimento da autoimunidade são a suscetibilidade genética e os gatilhos ambientais, como infecções e lesão local no tecido. Genes de suscetibilidade podem prejudicar os mecanismos de autotolerância, a infecção ou necrose nos tecidos promovem o influxo de linfócitos autorreativos e a ativação dessas células, resultando em lesão tecidual. Infecções e lesão tecidual também podem alterar a forma como os autoantígenos são apresentados para o sistema imunológico, levando à falha da autotolerância e à ativação dos linfócitosautorreativos. Outros fatores como mudanças na microbiota do indivíduo e alterações epigenéticas nas células imunológicas podem desempenhar papéis importantes na patogênese. CARACTERÍSTICAS GERAIS Doenças autoimunes podem ser sistêmicas ou órgãoespecíficas, dependendo da distribuição dos autoantígenos que são reconhecidos. Complexos imunológicos circulantes (ex. lúpus eritematoso sistêmico). Complexos imunológicos com distribuição específica (ex. esclerose múltipla). Vários mecanismos efetores são responsáveis pela lesão do tecido em diferentes doenças autoimunes.Podem ser: complexos imunológicos, autoanticorpos circulantes e linfócitos T autorreativos. Doenças autoimunes tendem a ser crônicas, progressivas e de autoperpetuação. Pois os autoantígenos disparam reações de forma persistente e quando se inicia uma resposta, pode acontecer a liberação de outros antígenos e a exacerbação da doença. ANORMALIDADES IMUNOLÓGICAS Tolerância ou regulação defeituosas: a falha dos mecanismos de autotolerância em células T ou B, levando ao desequilíbrio entre ativação e controle de linfócitos, é a causa subjacente de todas as doenças autoimunes. Nayara Viana, 3 periodo, unifipmoc Apresentação anormal de autoantígenos: essas anormalidades podem incluir expressão aumentada e persistência de autoantígenos que são normalmente degradados ou alterações estruturais nesses antígenos. Inflamação ou resposta imunológica inata inicial: essas reações podem contribuir para o desenvolvimento de doença autoimune, talvez pela ativação das APCs, que se sobrepõem aos mecanismos regulatórios, resultando em ativação excessiva da célula T. BASES GENÉTICAS DA AUTOIMUNIDADE A maioria das doenças autoimunes é consequência de características poligênicas complexas, nas quais os indivíduos afetados herdam polimorfismos genéticos múltiplos que contribuem para a suscetibilidade da doença. Estes genes agem em conjunto com os fatores ambientais para causarem as doenças. PAPEL DAS INFECÇÕES NA AUTOIMUNIDADE Infecções virais e bacterianas podem contribuir para o desenvolvimento e exacerbação da autoimunidade. As lesões da autoimunidade não se devem ao agente infeccioso por si só, mas resultam das respostas imunológicas do indivíduo, que podem ser disparadas ou desreguladas pelo microrganismo. Infecções de tecidos particulares podem induzir respostas imunológicas inatas locais que recrutam leucócitos para esses tecidos, resultando na ativação de APCs teciduais. Essas APCs começam a expressar coestimuladores e a secretar citocinas ativadoras de células T, resultando no colapso da tolerância da célula T. Sendo assim, a infecção resulta na ativação de células T que não são específicas para o patógeno infeccioso. Microrganismos infecciosos podem conter antígenos que têm reatividade cruzada com autoantígenos, então, respostas imunológicas a esses microrganismos podem resultar em reações contra autoantígenos. Este fenômeno chama-se mimetismo molecular, porque os antígenos do microrganismo mimetizam os autoantígenos.
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