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EXCELENTÍSSIMO SR.DR. JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO JUIZADO 
ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DE MACAPÁ-AP 
 
 
Processo nº: xxxxxxxxxxxxxxx 
 
 
 
JOSÉ SILVA DA SILVA, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem 
por meio de seu advogado que subscreve, fazendo prova do mandato com 
procuração anexo, com fundamento nos artigos 396 e 396 A, CPP, apresentar 
RESPOSTA À ACUSAÇÃO, pelos fatos e fundamentos abaixo aduzidos. 
 
1.DOS FATOS 
José da Silva, no dia 13 de setembro ao caminhar no município de Macapá 
deparou-se com uma garagem aberta e dentro desta, havia um carro que estava 
com a chave no contato, devido há uma festa que iria ocorrer no município de 
Santana, José, entrou no imóvel e decidiu pegar o veículo, com a intenção 
somente de ir curtir a balado no município vizinho. 
Após aproveitar a festa junto com seus amigos: Roberto, Caio e Mévio; José, 
então, retornou para Macapá, para devolver o carro, porém, ao estacionar o carro 
no local da subtração, com a intenção de fazer a devolução, Paulo, gritou para 
uma viatura da policia que estava passando pelo local, e assim, José acabou 
sendo detido e posteriormente sendo denunciado pelo Ministério Público por 
furto qualificado mediante destreza. 
2. PRELIMINARES 
2.1. Da incompetência do juízo 
No presente caso, nota-se que a denúncia não deveria ser recebida em 
virtude da inexistência de competência do magistrado para julgar a matéria, pois, 
o suposto ato infracional, possui pena máxima superior a 2 (dois) anos. Portanto, 
com fulcro no art. 61 da Lei 9099/95, os Juizados Especais só julgarão as 
contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior 
a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. 
Logo, é nítido a grave violação ao devido processo legal, conforme o art. 
5, LIV da Constituição Federal, que afirma que todos tem o direito a um processo 
com todas as etapas previstas em lei, sendo assim, se o juízo por incompetente 
o processo deverá ser anulado, para afim de não perder as garantias 
constitucionais do acusado. 
2.2. Atipicidade da conduta 
De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o furto mediante 
destreza seria: 
EMENTA PENAL - FURTO - 
QUALIFICADORA - DESTREZA- 
CARACTERIZAÇÃO - ESPECIAL AGILDADE 
DO AGENTE - SENTENÇA MANTIDA - 
comete o delito de furto qualificado 
mediante destreza aquele que subtrai bem 
do interior da bolsa da vítima após abri-la com 
especial agilidade sem desperta-lhe a 
atenção. 
(TJ-MG-APR 1002417047036001 MG, 
Relator: Júlio Cezar Guttierrez, Data de 
Julgamento: 11/03/2020, Data de Publicação: 
18/03/2020) 
Já o crime de uso, conforme Barros (2017), é caracterizado quando o 
agente subtrai um bem, para que faça o uso de forma momentânea e que o 
devolve após, curto período de tempo, de forma voluntária. 
No caso em tela não houve furto mediante destreza, tendo em vista que 
no momento do ocorrido, a garagem da residência estava aberta e a chave do 
veículo estava no contato, portanto, é nítido a não ocorrência de destreza, pois, 
o objeto se encontrava em condições perfeitas para ser furtado por qualquer um 
que estivesse passando pelo local. Portanto, o que foi praticado pelo denunciado 
foi crime de FURTO DE USO, não furto qualificado mediante destreza. 
Dessa forma, percebe-se que o acusado faz jus da rejeição da inicial 
acusatória, pela falta justa causa, conforme o art. 395, III do CPP, que versa que 
a denuncia ou queixa será rejeitada quando faltar justa causa para o exercício 
da ação penal. 
3. DO MÉRITO 
3.1. DO EXCESSO ACUSATÓRIO 
Há de observar que não existe dolo do agente no ato praticado, já que este 
queria apenas usufruir de forma momentânea do objeto, logo, não tinha a menor 
intenção de tomar a coisa para si ou agregar ao seu patrimônio pessoa. Portanto, 
por querer apenas gozar do objeto, a sua ação não se adequa ao núcleo do tipo 
penal do art. 155 de Código peal, que criminaliza o ato de subtrair bem alheio, 
para assim, por a res furtiva a seu poder, exigindo que o agente se aproprie da 
coisa subtraída. 
Caso vossa excelência receba denúncia, que com a devida vênia exclua a 
qualificadora de destreza imputada pelo Ministério Público, haja vista que não 
existe elemento que comprove de forma objetiva, que o acusado utilizou-se de 
habilidade especial para fazer a subtração do objeto em questão. 
Ademais o furto em questão não se trata de furto com qualificadora em 
destreza, conforme imputado pelo Ministério Publico, e sim, furto de uso, pois 
além de não haver meios que comprovem que algum tipo de habilidade especial 
foi utilizada para subtração do carro, o acusado, preenche os requisitos 
necessário para que se entenda que ocorreu o furto de uso, os quais são: o uso 
momentâneo e a devolução voluntária do objeto. 
3.2. DAS MEDIDAS DESPENALIZADORAS 
Douto magistrado, se for reconhecida a tese claramente sustentada de 
que não houve furto qualificado mediante destreza como requere o Ministério 
Público, o acusado fará jus as medidas despenalizadoras do art. 89 da Lei 
9.099/95 e ou art. 28-A, CPP, respectivamente dispostos: 
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima 
cominada for igual ou inferior a um ano, 
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério 
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a 
suspensão do processo, por dois a quatro anos, 
desde que o acusado não esteja sendo 
processado ou não tenha sido condenado por 
outro crime, presentes os demais requisitos que 
autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 
77 do Código Penal). 
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e 
tendo o investigado confessado formal e 
circunstancialmente a prática de infração penal 
sem violência ou grave ameaça e com pena 
mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério 
Público poderá propor acordo de não persecução 
penal, desde que necessário e suficiente para 
reprovação e prevenção do crime (...) 
3.2.1. DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 
Não ocorreu crime, tendo em vista a atipicidade da conduta do agente, 
porém, se reconhecido pelo juiz, deverá este intimar o Ministério Público para 
oferecer a suspensão condicional do processo na forma do art. 89 da Lei dos 
Juizados Especiais Criminais 9099/95. Conforme se extrai da redação: 
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima 
cominada for igual ou inferior a um ano, 
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério 
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a 
suspensão do processo, por dois a quatro anos, 
desde que o acusado não esteja sendo 
processado ou não tenha sido condenado por 
outro crime, presentes os demais requisitos que 
autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 
77 do Código Penal). 
 
3.2.2. DO ACORDO DE NÃO EXECUÇÃO PENAL 
Perante o exposto, o acusado requer que o Ministério Público seja 
intimado para oferecer a suspensão do processo ou que faça um acordo de não 
perseguição penal, tendo em vista que houve a devolução do bem, sem prejuízo 
para a outra parte. Caso o promotor signatário se oponha, que o Magistrado 
remeta os autos para o procurador de justiça na forma do Art. 28-A, I, CPP por 
analogia. 
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e 
tendo o investigado confessado formal e 
circunstancialmente a prática de infração penal 
sem violência ou grave ameaça e com pena 
mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério 
Público poderá propor acordo de não persecução 
penal, desde que necessário e suficiente para 
reprovação e prevenção do crime, mediante a 
seguintes condições ajustadas cumulativa e 
alternativamente: 
I. reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, 
exceto na impossibilidade de fazê-lo; 
3.3. DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR 
 Caso a denúncia seja reconhecida pelo juiz, deverá este aplicar o 
prerrogativa do art. 16 do Código Penal, redução de um a dois terços da pena, 
pois a infração foi cometida sem violência ou grave ameaça, ademais, houve arestituição da coisa, até o momento do recebimento da denúncia ou da queixa. 
4. DOS PEDIDOS 
Diante do exposto, requer... 
a) Que sejam acolhidas as preliminares acima arguidas, para que a denúncia 
seja rejeitada de forma integral, pois não houve crime. Ademais, e de forma 
subsidiaria, que o autos sejam remetidos para o juízo competente. 
b) Que agente seja absolvido sumariamente, pois não trata de crime, pois não 
há punição para quem “furta para usar”. Art. 397, III, CPP. 
c) Em caso de recebimento e acolhimento da pretensão ministerial, que sua 
excelência, decote a qualificadora sustentada pelo Ministério Público, haja vista 
a sua incompatibilidade com o caso narrado. 
d) Se acolhido o pedido da alínea "c", que autos sejam remetidos para o MP para 
o oferecimento de medida despenalizadora. 
e) Que seja reconhecido o art. 16, CP para fins de eventuais aplicações de penas 
do acusado. 
f) Roberto, Caio e Mévio, que sejam ouvidos como rol comum, e com cláusula 
de imprescindibilidade. 
g) Rol de testemunhas Santos, Silva e Rodrigues. 
 
Termos em que pede deferimento 
Macapá, 01 de março de 2022 
 
Ruan Madureira Barbosa - 10DIN

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