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DESENVOLVIMENTO COGNITIVO MUSICA E NEUROLOGIA 2 1 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 SUMÁRIO Disciplina: Desenvolvimento Cognitivo Musical............................................................. 4 1 - A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ........................................ 4 1.1 - A música e o desenvolvimento cognitivo da criança ............................................... 6 1.2 - A música e o desenvolvimento afetivo .................................................................... 7 1.3 - A música e o desenvolvimento social da criança ..................................................... 9 Nota ................................................................................................................................ 12 2 - Cognição e Música (ADAPTADO) .......................................................................... 13 2.2. Conceito da Música e a Inteligência Humana ......................................................... 15 2.3. A Música como uma Linguagem............................................................................ 17 2.4. O Aprendizado Musical e a Leitura ......................................................................... 18 REFERENCIAL ............................................................................................................. 21 4 Desenvolvimento Cognitivo Musical Caro aluno nessa disciplina se fará necessário o acesso dos textos e vídeos sugeridos para o aprofundamento e esclarecimento de diversas nuances desse assunto. Bons estudos Disponível em: http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v09/m346117.pdf - http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v09/m346117.pdf http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v09/m346117.pdf 5 INTRODUÇÃO O ambiente sonoro, assim como a presença da música em diferentes e variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês e crianças iniciem seu processo de musicalização de forma intuitiva. Adultos cantam melodias curtas, cantigas de ninar, fazem brincadeiras cantadas, com rimas, parlendas etc., reconhecendo o fascínio que tais jogos exercem. Encantados com o que ouvem, os bebês tentam imitar e responder, criando momentos significativos no desenvolvimento afetivo e cognitivo, responsáveis pela criação de vínculos tanto com os adultos quanto com a música. Nas interações que se estabelecem, constroem um repertório que lhes permite iniciar uma forma de comunicação por meio de sons. (BRASIL, vol. 3 p. 71). O interesse pelo desenvolvimento cognitivo musical tem crescido muito nas últimas décadas devido a recentes descobertas no campo da neurociência. A diferença entre alturas, timbres e intensidades já acontece desde o nascimento até o décimo mês de vida, tornando-se cada vez mais refinadas. As preferências e memórias musicais também se dariam a partir dessa época, por meio de processos imitativos e de impregnação, estando também associado a inúmeras funções psicossociais, como a comunicação e o desenvolvimento da linguagem compreensiva e expressiva, por exemplo, ou entretenimento (ILARI, 2005 apud PINTO, 2009). A música é uma ciência básica com um grande número de variações de códigos, o que possibilita o desenvolvimento intelectual da pessoa. Quanto mais cedo crianças entrarem em contato com o mundo da música, maiores serão as chances de que elas assimilem novos códigos sonoros que a música pode oferecer. Além disso, maior será o conhecimento armazenado na memória sonora, quanto mais tipos de sons a criança ouvir, o que pode ser também ampliado se a criança praticar um instrumento musical. Neste processo, a criança torna-se o agente criador de diferentes códigos sonoros, por meio de criações realizadas com seu instrumento. o estímulo ao aprendizado da música é necessário, uma vez que a música, segundo (STRALIOTTO, 2001, PEDERIVA e TRISTÃO 2006 apud PINTO 2009), para a 6 criança funcionaria como uma nova forma de exteriorização dos sentimentos, como um novo idioma que servirá de veículo para as emoções. As pesquisas investigativas da neurociência, se desenvolvem rapidamente e por isso tem se ampliado, consideravelmente, e interessando autores de diversas áreas. Por muito tempo, a área ficou mais restrita ao aspecto biológico, ou seja, aos comandos dados pelo cérebro, transportados e executados por outras partes do organismo, isso porque a sociedade não relacionava diretamente o cérebro à consciência humana, que exerce grande influência na postura, pensamentos, desejos e até necessidades. Porém, uma vez que o cérebro se tornou protagonista em eventos e experimentos, ficou clara sua ligação e correlação com a consciência, provocando uma série de questionamentos a respeito do seu papel nas decisões humanas. Foi assim que a neurociência ganhou ainda mais relevância, já que tem potencial para explicar, além de reações do corpo, os fenômenos da mente. O cérebro é o mais requintado dos instrumentos capaz de refletir as complexidades e os emaranhamentos do mundo ao nosso redor. Centro da inteligência, memória, consciência e linguagem, o cérebro controla, em colaboração com outras partes do encéfalo, as sensações e os órgãos efetores, ele é o ponto mais alto da evolução, o único órgão consciente da sua existência. A associação da música a tratamentos convencionais e não convencionais de doenças físicas e mentais, pois proporciona prazer aumentando a qualidade de vida, uma vez que há estímulos cerebrais.. A NEUROCIÊNCIA Os estudos da neurociência estão divididos em campos específicos que exploram as áreas do sistema nervoso, como 1. Neurofisiologia: investiga as tarefas que cabem as diversas áreas do sistema nervoso. 2. Neuroanatomia: dedica-se a compreender a estrutura do sistema nervoso, dividindo cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos externos em partes para nomeá-las e compreender as suas funções. https://fia.com.br/blog/biotech/ 7 3. Neuropsicologia: foca na interação entre os trabalhos dos nervos e as funções psíquicas. 4. Neurociência comportamental: ligada à psicologia comportamental, é a área que estuda o contato do organismo e os seus fatores internos, como pensamentos e emoções, ao meio e aos comportamentos visíveis, como fala, gestos e outros. 5. Neurociência cognitiva: estudo voltado à capacidade cognitiva, em que estão inclusos comportamentos ainda mais complexos, como memória e aprendizado. Nessa perspectiva, existem diversas neurociências, dependendo da condução e objetivo que motivaram o estudo do sistema nervoso. Mas em todas essas áreas, o cérebro é considerado em uma perspectiva unitária, já que todos os processos mentais têm influências físicas e as questõesfísicas alteram o indivíduo a nível emocional. Além disso, as pesquisas realizadas no ramo exploram mais de uma área do conhecimento. Por esse motivo, essa ciência é considerada multidisciplinar, reunindo diversas especialidades, como bioquímica, biomedicina, fisiologia, farmacologia, estatística, física, engenharia, economia, linguística, entre outras que objetivam investigar o comportamento, os mecanismos de aprendizado e a aquisição de conhecimento humanos. São várias as finalidades das pesquisas na área da neurociência. Entre elas, vale dar destaque para o entendimento de como nossas vivências são capazes de alterar o cérebro e como interferem no seu desenvolvimento. Dessa forma, essa disciplina abrange a inteligência, o raciocínio, a capacidade de sentir, de sonhar, comandar o corpo, tomar decisões, fazer movimentos, entre outros. Alguns setores específicos também se utilizam da neurociência, como é o caso dos profissionais em engenharia médica, no desenvolvimento de equipamentos e soluções a portadores de necessidades especiais. Da mesma forma, podemos citar profissionais da informática que desenvolvem softwares, para viabilizar as atividades de pessoas com algum tipo de limitação intelectual ou física. Para compreender esse 8 complexo mecanismo, os cientistas consideram a forma como funcionam os processos a nível cognitivo, principalmente no que se refere à decodificação e transmissão de informação realizadas pelos neurônios, bem como suas respectivas funções e comportamentos. Com o advento da tecnologia, descobriu-se métodos para estudar as várias áreas e funções cerebrais que comandam o corpo. Aspecto importantíssimos onde são identificadas as áreas motoras, sensitivas, cognitivas e áreas relacionadas com a memória, bem como, programações para as cirúrgicas no cérebro. Vale relembrar quais são essas áreas: Encéfalo: localizado no córtex cerebral as superfícies corticais não são uniformes, possuem saliências (giros) e depressões (sulcos). Compreende: Telencéfalo, que é constituído pelos 02 hemisférios cerebrais; Diencéfalo, que situa-se na linha mediana, entre os dois hemisférios, se divide em: Epitálamo, tálamo e hipotálamo; Epitálamo: forma a glândula pineal e a habênula; Tálamo, que é a estação retransmissora de informações no cérebro, com exceção das informações olfatórias; Hipotálamo, que controla o sistema endócrino e intefere nas funções viscerais; Cerebelo, onde se localiza-se por trás do tronco cerebral, e é responsável pelo equilíbrio e a coordenação motora; Tronco cerebral, é a substância nervosa que vai do cérebro à medula. No centro há uma formação reticular no controle da consciência, sono e vigília. É dividido em três partes: Mesencéfalo, por porção superior do tronco cerebral, de onde se originam os pares de nervos cranianos III e IV; Ponte, porção média do tronco cerebral, de onde se originam os pares de nervos cranianos V, VI, VII e VIII;. Bulbo, porção inferior do tronco cerebral, de onde se originam os pares de nervos cranianos IX, X, XI XII. (Martin 1998); Cada um dos dois hemisférios é dividido em quatro lobos anatomicamente distintos: o frontal, o parietal, o occipital e o temporal. Cada lobo tem circunvoluções características e dobras (um antigo artifício biológico para aumentar a área de superfície). As cristas das circunvoluções são 9 denominadas giros. As ranhuras são chamadas sulcos ou fissuras. Os giros e sulcos mais proeminetes são semelhantes entre um indivíduo e outro e tem nomes específicos (giro pré-central, sulco central e giro pós-central). As circunvoluções representam uma adaptação que serve para ajustar uma grande área superficial dentro de um espaço restrito da cavidade craniana. O córtex cerebral e suas camadas Um corte em profundidade no cérebro mostra que a superfície cinzenta tem uma espessura que varia de 1 a 4 mm. A maior parte é composta por células nervosas (neurônios) que recebem impulsos dos pontos mais distantes do corpo e os retransmitem ao destino certo. Mas o cérebro desempenha funções altamente diversificadas e, por isso mesmo, as células que os constituem, também são especializadas. Tipos diferentes de neurônios são distribuídos através de diferentes camadas no córtex dispostos de tal forma a caracterizar as várias áreas dos hemisférios, cada qual com sua função. Existem dos tipos de córtex: isocórtex e alocórtex. O primeiro é formado por seis camadas (conforme acima) bem definidas durante o desenvolvimento embrionário e o segundo não apresenta este número de camadas e elas não são nítidas. Apesar de cada camada não ser constituída exclusivamente por um tipo de neurônio, considera-se a camada IV como sendo receptora da sensibilidade e a V como sendo motora. As demais camadas são consideradas de associação. Do ponto de vista filogenético, pode-se dividir o córtex cerebral em arquicórtex, paleocórtex e neocórtex. No homem, o arquiocórtex está localizado no hipocampo, o paleocórtex ocupa o uncus e a parte do giro para-hipocampal. Todo o resto do córtex é classificado como neocórtex. Arquicótex e paleocórtex estão ligados à olfação e ao comportamento emocional. O neocórtex é o responsável pelas mais importantes funções cerebrais do homem (Singi 1996). O neurônio O tecido nervoso compreende basicamente dois tipos celulares: os neurônios e as células gliais ou neuróglia. O neurônio é a unidade fundamental, com a função 10 básica de receber, processar e enviar informações. A neuroglia compreende células que ocupam os espaços entre os neurônios, com funções de sustentação, revestimento, modulação da atividade neuronal e defesa (Machado 1998). Durante o desenvolvimento intra-uterino, o cérebro humano produzirá todas as células nervosas que o acompanharão durante a vida. Os neurônios, por sua vez, são células nobres, extremamente exigentes quanto aos seus níveis de glicose e de oxigênio. Isso acontece porque, ao contrário das outras células, os neurônios não possuem reservas para estes componentes. Em caso de morte dos neurônios, estes não se regeneram mais, uma eventual cicatrização resultaria em tecido fibroso constituído por astrócitos e células de Schwann. O impulso nervoso (de natureza eletroquímica) tem sua velocidade ou intensidade aumentada por substâncias neurotransmissoras, como a acetilcolina e a adrenalina, de singular importância para a o estudo das doenças do sistema nervoso. No neurônio, unidade funcional básica do sistema nervoso, a transmissão dos impulsos se dá sinapse, dendritos e axônios. Através dos nervos, o cérebro e a medula espinhal enviam comandos aos sistemas e aparelhos orgânicos. Existem diversos tipos de neurônios, com diferentes funções dependendo da sua localização e estrutura morfológica, mas em geral constituem-se dos mesmo componentes básicos: o corpo do neurônio (soma) constituído de núcleo e pericário, que dá suporte metabólico à toda célula; o axônio (fibra nervosa) prolongamento único e grande que aparece no soma. É responsável pela condução do impulso nervoso para o próximo neurônio, podendo ser revestido ou não por mielina (bainha axonial); o envoltório do axônio é a Bainha de Mielina (lipídeos e proteínas), serve para aumentar a velocidade da condução do potencial de ação, possui aparência esbranquiçada porque é rica em uma substância gordurosa; os dendritos que são prolongamentos menores em forma de ramificações (arborizações terminais) que emergem do pericário e do final do axônio, são eles que levam o impulso nervoso até o corpo celular; sendo, na maioria das vezes, responsáveis pela comunicação entre os neurônios através das sinapses. Basicamente, cada neurônio, possui uma região receptiva e outra efetora em relação à condução da sinalização. 11 A sinapse É a estruturados neurônios através da qual ocorrem os processos de comunicação entre os mesmos, ou seja, onde ocorre a passagem do sinal neural que é a transmissão sináptica; através de processos eletroquímicos específicos, isso graças a certas características particulares da sua constituição. O axônio leva os impulsos para fora do corpo celular, as extremidades de cada axônio chegam até bem próximo dos dendritos do próximo neurônio, mas não chega a tocá-lo, existe entre eles intervalos chamados sinapse, a sinapse impede que os neurônios tenham uma ligação física, mas permite que mediadores químicos passes de um neurônio a outro. As sinapses são muito diversas em suas formas e outras propriedades: algumas são inibidoras e algumas, excitadoras; em algumas o transmissor é a acetilcolina (DeGroot 1994). Em uma sinapse os neurônios não se tocam, permanecendo um espaço entre eles denominado fenda sináptica, onde um neurônio pré-sináptico liga-se a um outro denominado neurônio pós-sináptico. O sinal nervoso (impulso), que vem através do axônio da célula pré-sináptica chega em sua extremidade e provoca na fenda a liberação de neurotransmissores depositados em bolsas chamadas de vesículas sinápticas. Este elemento químico se liga quimicamente a receptores específicos no neurônio pós-sináptico, dando continuidade à propagação do sinal. Um neurônio pode receber ou enviar entre 1.000 a 100.000 conexões sinápticas em relação a outros neurônios, dependendo de seu tipo e localização no sistema nervoso. O número e a qualidade das sinapses em um neurônio pode variar, entre outros fatores, pela experiência e aprendizagem, demonstrando a capacidade plástica do SN. A neurociência tenta explicar como o cérebro reage aos estímulos sensoriais e como o indivíduo interage com o meio em que vive, onde manifestam as suas emoções (BEAR, 2002, p.4). Atividades 13 cognitivas como organizar a sensação em forma de conhecimento e agir com base em um plano exigem a capacidade de integrar os diversos aportes sensoriais e de conservar um traço de experiências sucessivas. Tal capacidade se deve à atividade da rede de neurônios que constituem o córtex cerebral. O funcionamento e as conexões das estruturas do 12 córtex possibilitam prever, imaginar e representar um objeto não percebido naquele momento e ainda tornam possível o desenvolvimento da linguagem, meio de expressão e de comunicação, sendo o suporte privilegiado do pensamento. (CAMBIER, 1988, p. 121). Neurociência e os estudos sobre o cérebro A cada ano, muitos estudiosos de diferentes áreas do conhecimento pesquisam e estudam o funcionamento do cérebro, sua constituição, capacidade e influência sobre os processos comportamentais e cognitivos do ser humano. Essa área do conhecimento é compreendida pela Neurociência, ciência que estuda o funcionamento do cérebro humano e animal (BEAR, 2002, p. 3). A neurociência pode ser definida como a disciplina que busca explicar o mecanismo usado pelo encéfalo para controlar as funções mentais superiores e produzir ações (BHATNAGAR, 2002, p. 1), sendo que a base biológica dessas funções interage com as atividades celulares e com a mente. O campo de ação da neurociência inclui o estudo das estruturas anatômicas, das funções celulares e dos processos fisiológicos do sistema nervoso central e periférico. A neurociência estuda o arcabouço da anatomia e da fisiologia normais do encéfalo, tornando possível identificar os locais de anormalidades estruturais e funcionais. Assim a neurociência é indispensável para que sejam compreendidos os correlatos fisiológicos da fala, linguagem, memória, atenção, cognição e música. O estudo do encéfalo, entretanto, é tão antigo como a própria ciência em geral. Historicamente, das ciências que se devotaram ao estudo do sistema nervoso resultaram em diferentes disciplinas como a biologia, medicina, psicologia, fonoaudiologia, física, matemática, química e a música. O desenvolvimento da neurociência ocorreu quando os cientistas perceberam que a melhor abordagem para o entendimento da função do encéfalo vinha da interdisciplinariedade na pesquisa nas diferentes áreas do conhecimento (BEAR, 2002, p. 3). Sabemos que o encéfalo, a medula espinhal e os nervos do corpo são fundamentais para a vida e permitem ao homem sentir, mover-se e pensar. O cérebro é dividido em dois hemisférios, sendo que o hemisfério esquerdo é responsável pela linguagem, o cálculo, alguns tipos de análise de fatos e conceitos mais abstratos. Geralmente o hemisfério direito é o dominante nos seres humanos. 13 O hemisfério direito tem como função a parte motora, conexões com áreas responsáveis pelo controle emocional, sensitivo e imaginativo (CARNEIRO, 2001 apud ILARI, 2003). Com relação à percepção auditiva, o hemisfério esquerdo é responsável pela linguagem verbal, e no hemisfério direito são percebidas a música e as onomatopeias (CARNEIRO, 2001 apud ILARI, 2003). A relação entre música e cérebro apresenta uma forte identificação com o binômio linguagem e cérebro, inclusive nas suas patologias, Afasia e Amusia. A amusia pode ser definida como a incapacidade de reconhecer músicas ou melodias. As amusias podem ser classificadas em amusias receptivas, nas quais ocorrem manifestações como a dificuldade de discriminação dos elementos musicais e a rejeição a estímulos sonoros. Na amusia expressiva ocorre a dificuldade nas várias modalidades musicais como cantar, tocar qualquer instrumento musical, além da amnésia musical, com ocorrência de não reconhecimento de trechos musicais. A Memória Memória é a aquisição, formação, conservação e evocação de informações (IZQUIERDO, 2002, p. 9). A aquisição é também chamada de aprendizagem, pois só o que foi aprendido pode ser lembrado. A evocação é também chamada de recordação, lembrança ou recuperação. Só é lembrado o que foi gravado ou aprendido. Em suma, pode-se dizer que “somos o que recordamos”, e o acervo da memória faz com que cada um seja único com características bem definidas (ibid.). A memória está envolvida em todos os aspectos do psiquismo, desde a lembrança de experiências passadas até o aprendizado de novas informações (MORAES & LANNA, 2008, p. 86). Através dela, o ser humano registra as ocorrências positivas e negativas de sua vida, gerando uma resposta comportamental, reorganizando o psiquismo e modificando os valores pessoais. Na doença de Alzheimer, a memória é a primeira função cognitiva a ser prejudicada, e no paciente com demência, a percepção de que a memória está se desvanecendo é algo assustador. Ele se depara com a própria incapacidade de relembrar fatos ou uma música (MORAES & LANNA, 2008, p. 86). 14 A memória compreende a memória de curto e de longo prazo. Na memória de curto prazo são incluídas: 1. a memória sensorial, com participação dos órgãos sensoriais como visão, tato e audição; e 2. a memória de trabalho, com localização anatômica no lobo frontal, que tem a capacidade de reter por alguns segundos um número limitado de informações. Na memória de longo prazo, as informações são armazenadas por horas, dias e, às vezes, anos, possuindo uma capacidade ilimitada de gravar informações. A memória de longo prazo é subdividida em: 1. memória visual, com características de abstração de teor visual; e 2. a memória verbal, onde ocorrem lembranças de eventos já ocorridos. Este gradiente temporal é confirmado nos pacientes com doença de Alzheimer, nos quais a perda ocorre predominantemente nas informações mais recentes e em fases mais avançadas da doença, quando a memória remota também é comprometida (MORAES & LANNA, 2008, p. 87). A Linguagem A linguagem é a função cognitiva e executiva que permite a comunicação entre as pessoas. No seu contexto amplo, pode ser considerada uma faculdade humana (GOLDFELD, 1998, p. 18). A capacidadede reproduzir por imitação a mensagem percebida constitui uma etapa decisiva do desenvolvimento da linguagem. Na criança recém-nascida o choro é a primeira forma de comunicação entre mãe e filho. O controle e execução da linguagem são exercidos pela região têmporo-parietal esquerda. Os distúrbios de linguagem recebem o nome de afasia e é grande a ocorrência de sintomas afásicos na doença de Alzheimer. A fala pode ser avaliada de forma espontânea ou através da compreensão desta. A dificuldade de fala espontânea é denominada ‘’afasia de Broca” e o da compreensão da fala de “afasia de Wernicke”. As principais alterações de linguagem nas demências são a anomia, na qual ocorre a dificuldade de nomeação; as parafasias, onde ocorre a substituição de palavras; a disfluência da fala; a anosognosia, falta de 15 consciência do problema cognitivo; dislexia, na qual ocorre o distúrbio da leitura e escrita; repetição de palavras ou frases, ecolalia, caracterizada pela repetição de sons ou palavras sem motivo aparente; mutismo, ou ausência de linguagem oral (MORAES, 2008). A Função executiva A função executiva compreende a habilidade necessária para a execução de um determinado objetivo levando o indivíduo à capacidade de abstração, seleção de estratégias e desempenho de atividades mais complexas (MORAES & LANNA, 2008, p. 88). Relaciona-se também ao pensamento, atenção, memória e ao resgate de informações armazenadas. O córtex pré-frontal é o responsável pelo controle da função executiva. O comprometimento desta região pode levar a uma disfluência da fala e à redução da atenção. A lesão de lobo frontal pode levar a um comprometimento e alteração de comportamentos, levando à agressividade, alegria em excesso, impulsividade, hipersexualidade, falha no julgamento, labilidade emocional, redução da motivação, depressão, apatia e diminuição da espontaneidade. O 20 grau de lesão pode levar a casos mais avançados como o mutismo e a apatia profunda (MORAES & LANNA, 2008, p. 88). A Praxia Praxia é a capacidade de formular, coordenar ou mesmo sequenciar atos motores com um objetivo determinado. O lobo parietal do hemisfério dominante é o responsável direto por esta função. A apraxia é o distúrbio mais comum no déficit da praxia. Existem dois tipos de apraxia, a ideomotora, na qual ocorre a dificuldade de transformar uma dada ideia em ação, e a ideatória, na qual há uma dificuldade de realização de ações que dependem de um objeto, como por exemplo, vestir-se, acender um cigarro, cozinhar, entre outras. As apraxias podem ser avaliadas através de ordens, imitações e uso fictício ou real de objetos (MORAES & LANNA, 2008, p. 89). No exame clínico, a avaliação da apraxia pode ser realizada através de manobras relacionadas à: 16 1. utilização e manejo de objetos (beber em um copo, usar um pente ou usar uma chave); 2. gestos simbólicos (bater continência, jogar um beijo ou implorar com as mãos); 3. gestos sem sentido e repetição (palma da mão direita sobre o olho direito e mão direita na orelha esquerda); 4. escrita espontânea e depois ditada; e 5) desenho espontâneo e depois copiado (CAMBIER, 1988, p. 139). Ainda com relação às apraxias, existe a relação com a organização do gesto propositado, onde são utilizados mecanismos complexos do controle dos movimentos. O gesto ou a atividade gestual têm grande relevância no processo cognitivo, permitindo a manipulação ou exploração de coisas ou objetos. Em um grau superior de abstração, as atividades gráficas e a representação simbólica do espaço sustentam uma representação conceitual das relações espaciais; são as atividades espaciais construtivas. Manipulação, atividade gestual simbólica e atividade espacial construtiva são as etapas que podem ser acompanhadas no desenvolvimento da praxia do ser humano. Cada um dos momentos evolutivos, conhecimento dos objetos, conhecimento do corpo e conhecimento do espaço, encontram-se ligados à maturação do gesto. Em todas as funções, o gesto elementar tem seu lugar em uma cadeia ordenada de uma ação. O desenrolar satisfatório de uma ação faz intervir em todo o encéfalo. Os dispositivos corticais do lobo parietal sustentam, 21 a cada momento, a integração dos dados perceptivos sensoriais e visuais, conservam os esquemas perceptivo- motores provenientes de experiências motoras anteriores. O lobo frontal impede as estereotipias, mantendo a intenção de realizar o movimento motor. A Gnosia A gnosia é a capacidade de reconhecer estímulos externos. A dificuldade de reconhecimento é denominada de Agnosia, caracterizando-se por dificuldades de perceber estímulos de ordem visual, auditiva ou tátil sem comprometimento dos órgãos sensoriais. A agnosia visual é a mais comum, onde o paciente não reconhece mais cores, letras e objetos. Esta tem íntima ligação com a associação semântica e traz efeitos sobre a linguagem (CAMBIER, 1988, p. 140). Por ser mais incidente, 17 merece menção a descrição do exame das funções cognitivas visuais. O exame pode avaliar as formas através de imagens e objetos simples, desenhos sobrepostos figuras geométricas e classificação de objetos por categoria. Acrescenta-se ainda a avaliação de símbolos gráficos, como letras, palavras e algarismos e de álbum de fotografias de familiares, fotografia de celebridades e personalidades e avaliação de percepção espacial e avaliação de cores, nomeação e emparelhamento de cores idênticas. O conhecimento do corpo como um espaço definido é denominado somatognosia. O conhecimento orientado do espaço extracorporal e o conhecimento dos objetos como entidades diferenciadas são aquisições psicológicas submetidas ao desenvolvimento em função da experiência e da educação de cada um (CAMBIER, 1988, p. 142). Conhecer é poder reconhecer e poder confrontar toda experiência perceptiva ao conjunto de experiências anteriores. A psicologia e a genética valorizaram a natureza sensório-motora dos esquemas sobre os quais repousa essa confrontação. É neles que se baseiam as convergências multisensoriais visuo- somestésicas, auditivas e até olfativas que sustentam o suporte cognitivo necessário para o desenvolvimento humano (CAMBIER, 1988, p 142). Função visuoespacial A função visuoespacial está relacionada à localização espacial. A área anatomicamente relacionada a esta é a região parieto-occipital do cérebro, que tem relação com todas as funções cognitivas Seu comprometimento pode levar à desorientação espacial, levando à perda dentro de trajetos já conhecidos, como dentro da própria residência, dificuldade com direções ou sentidos como direita e esquerda, perda do esquema corporal e dificuldades geográficas como localização em mapas. A perda da função visuo-espacial pode ser diagnosticada quando se apresenta um objeto qualquer ao paciente, um objeto de valor sentimental, por exemplo, mas ele não é reconhecido imediatamente, mas após a sua manipulação há a possibilidade do reconhecimento pelo idoso. Na maioria das vezes o paciente está em um determinado local, mas acredita estar em uma casa ou cidade onde morou há muitos 18 anos, perde-se com frequência, levando-o, muitas vezes, à irritação, impaciência e agressividade. A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA A presença da música na vida dos seres humanos é incontestável. Ela tem acompanhado a história da humanidade, ao longo dos tempos, exercendo as mais diferentes funções. Está presente em todas as regiões do globo, em todas as culturas, em todas as épocas: ou seja, a música é uma linguagem universal, que ultrapassa as barreiras do tempo e do espaço. Entretanto, a forma pela qual a música, como linguagem, acontece no seio dos diferentes grupos sociais é bastante diversificada. A música que é vivenciada em uma cerimônia do Quarup, no Parque do Xingu, por exemplo, temum caráter bastante diverso da música que colocamos para tocarno nosso carro; o mantra entoado em um templo budista, por sua vez, não apresenta a mesma função de um canto de lavadeiras do Rio São Francisco. Apesar dessas diferentes funções, em todas essas situações e em muitas outras, a música acompanha os seres humanos em praticamente todos os momentos de sua trajetória neste planeta. E, particularmente nos tempos atuais, deve ser vista como uma das mais importantes formas de comunicação: segundo o pedagogo Snyders (1992), nunca uma geração viveu tão intensamente a música como as atuais. É exatamente para falarmos de uma das facetas dessa intensa relação que trata o texto. Será abordada, particularmente, a relação que se dá entre a música, entendida como prática e vivência, e o desenvolvimento da criança. Inicialmente é preciso esclarecer nosso conceito de desenvolvimento. Desenvolvimento, segundo o dicionário Houaiss, é um termo que apresenta muitas acepções. Escolhemos algumas delas: “aumento de qualidades morais, psicológicas, intelectuais etc”, “crescimento, progresso, adiantamento” (HOUAISS, 2002, p. 989). No entanto, há uma tendência, em nossa civilização, de se concentrar a ideia de desenvolvimento da criança nos aspectos cognitivos, isto é, no que diz respeito ao aprendizado intelectual. É uma tendência natural em uma civilização tão competitiva e tecnicista. Em função disso, muito se tem falado a respeito do papel da música na melhoria do rendimento acadêmico de estudantes. 19 Nossa opção, contudo, vai pela contramão desta tendência. Entendemos que o processo de crescimento de uma criança está muito além apenas de seus aspectos físicos ou intelectuais; esse processo envolve outras questões, certamente tão complexas quanto às da maturação biológica. Dessa forma, optamos por trabalhar a ideia de desenvolvimento infantil a partir de uma abordagem mais ampla, abarcando também seus aspectos de amadurecimento afetivo e social, sem deixar de lado, obviamente, o aspecto cognitivo. É importante fazer uma ressalva que toda criança está imersa em um caldo cultural, que é formado não só pela sua família, mas também por todo o grupo social no qual ela cresce. Nesse sentido, a forma como a música influencia o desenvolvimento de uma criança carajá, por exemplo, é muito diferente da forma como isso se dá com uma criança branca; da mesma forma, uma criança de classe média alta, que frequenta ambientes nos quais a música é praticada de forma intensa, apresenta características bem diversas de uma criança que se vê vítima da exploração do trabalho infantil. Obviamente nosso foco não será o de uma criança especial, de algum grupo social específico. Nossas observações levarão em consideração as pesquisas feitas na área que, na sua grande maioria tiverem como sujeitos crianças ocidentais, escolarizadas, de inteligência dita normal. Ainda que não concordemos com a ideia de um modelo de criança universal, entendemos que estas pesquisas, guardadas as devidas proporções, podem nos elucidar em muitos aspectos. Nesse sentido, entendemos que as reflexões a serem apresentadas neste artigo, a partir de um referencial específico, podem nos auxiliar a compreendermos melhor a relação criança-música-desenvolvimento, ressaltando que as particularidades de cada grupo social merecem ser investigadas com afinco, em outros momentos, por outros autores. 20 1.1 - A música e o desenvolvimento cognitivo da criança Inúmeras pesquisas, desenvolvidas em diferentes países e em diferentes épocas, particularmente nas décadas finais do século XX, confirmam que a influência da música no desenvolvimento da criança é incontestável. Algumas delas demonstraram que o bebê, ainda no útero materno, desenvolve reações a estímulos sonoros. Schlaug, da Escola de Medicina de Harvard (EUA), e Gaser, da Universidade de Jena (Alemanha), revelaram que, ao comparar cérebros de músicos e não músicos, os do primeiro grupo apresentavam maior quantidade de massa cinzenta, particularmente nas regiões responsáveis pela audição, visão e controle motor (apud SHARON, 2000). Segundo esses autores, tocar um instrumento exige muito da audição e da motricidade fina das pessoas. O que estes autores perceberam, e vem ao encontro de muitos outros estudos e experimentos, é que a prática musical faz com que o cérebro funcione “em rede”: o indivíduo, ao ler determinado sinal na partitura, necessita passar essa informação (visual) ao cérebro; este, por sua vez, transmitirá à mão o movimento necessário (tato); ao final disso, o ouvido acusará se o movimento feito foi o correto (audição). Além disso, os instrumentistas apresentam muito mais coordenação na mão não dominante do que pessoas comuns. Segundo Gaser, o efeito do treinamento musical no cérebro é semelhante ao da prática de um esporte nos músculos. Será por isso que Platão já afirmava, há tantos séculos, que a música é a ginástica da alma? Outros estudos apontam também que, mesmo se o contato com a música for feito por apreciação, isto é, não tocando um instrumento, mas simplesmente ouvindo com atenção e propriedade (percebendo as nuances, entendendo a forma da composição), os estímulos cerebrais também são bastante intensos. Ao mesmo tempo que a música possibilita essa diversidade de estímulos, ela, por seu caráter relaxante, pode estimular a absorção de informações, isto é, a aprendizagem. Losavov, cientista búlgaro, desenvolveu uma pesquisa na qual observou grupos de crianças em situação de aprendizagem, e a um deles foi oferecida música clássica, em andamento lento, enquanto estavam tendo aulas. O resultado foi uma grande diferença, favorável ao grupo que ouviu música. A 21 explicação do pesquisador é que ouvindo música clássica, lenta, a pessoa passa do nível alfa (alerta) para o nível beta (relaxados, mas atentos); baixando a ciclagem cerebral, aumentam as atividades dos neurônios e as sinapses tornam- se mais rápidas, facilitando a concentração e a aprendizagem (apud OSTRANDER e SCHOEDER, 1978). Outra linha de estudos aponta a proximidade entre a música e o raciocínio lógicomatemático. Segundo Schaw, Irvine e Rauscher (apud CAVALCANTE, 2004) pesquisadores da Universidade de Wisconsin, alunos que receberam aulas de música apresentavam resultados de 15 a 41% superiores em testes de proporções e frações do que os de outras crianças. Em outra investigação, Schaw verificou que alunos de 2a. série que faziam aulas de piano duas vezes por semana, apresentaram desempenho superior em matemática aos alunos de 4 ª série que não estudavam música. Enfim, o que se pode concluir a esse respeito é que efetivamente a prática de música, seja pelo aprendizado de um instrumento, seja pela apreciação ativa, potencializa a aprendizagem cognitiva, particularmente no campo do raciocínio lógico, da memória, do espaço e do raciocínio abstrato. 1.2 - A música e o desenvolvimento afetivo Um outro campo de desenvolvimento é o que lida com a afetividade humana. Muitas vezes menosprezado por nossa sociedade tecnicista, é nele que os efeitos da prática musical se mostram mais claros, independendo de pesquisas e experimentos. Todos nós que lidamos com crianças percebemos isso. O que tem mudado é que agora estes efeitos têm sido estudados cientificamente também. Em pesquisa realizada na Universidade de Toronto, Sandra Trehub (apud CAVALCANTE, 2004) comprovou algo que muitos pais e educadores já imaginavam: os bebês tendem a permanecer mais calmos quando expostos a uma melodia serena e, dependendo da aceleração do andamento da música, ficam mais alertas. 22 Nossas avós também já sabiam que colocar um bebê do lado esquerdo, junto ao peito, o deixa mais calmo. A explicação científica é que nessa posição ele sente as batidas do coração de quemo está segurando, o que remete ao que ele ouvia ainda no útero, isto é, o coração da mãe. Além disso, a eficácia das canções de ninar é prova de que música e afeto se unem em uma mágica alquimia para a criança. Muitas vezes, mesmo já adultos, nossas melhores lembranças de situação de acolhimento e carinho dizem respeito às nossas memórias musicais. Já presenciamos vivências em grupos de professores que, a princípio, não apresentavam memórias de sua primeira infância. Ao ouvirem certos acalantos, contudo, emocionaram-se e passaram a relatar situações acontecidas há muito tempo, depois confirmadas por suas mães. Por todas essas razões, a linguagem musical tem sido apontada como uma das áreas de conhecimentos mais importantes a serem trabalhadas na Educação Infantil, ao lado da linguagem oral e escrita, do movimento, das artes visuais, da matemática e das ciências humanas e naturais. Em países com mais tradição que o Brasil no campo da educação da criança pequena, a música recebe destaque nos currículos, como é o caso do Japão e dos países nórdicos. Nesses países, o educador tem, na sua graduação profissional, um espaço considerável dedicado à sua formação musical, inclusive com a prática de um instrumento, além do aprendizado de um grande número de canções. Este é, por sinal, um grande entrave para nós: o espaço destinado à música em grande parte dos currículos de formação de professores é ainda incipiente, quando existe. É preciso investir significativamente na formação estética (e musical, particularmente) de nossos professores, se realmente quisermos obter melhores resultados na educação básica. Ainda abordando os efeitos da música no campo afetivo, estudos recentes ampliam ainda mais nosso conhecimento a respeito. Zatorre, da Universidade de McGill (Canadá) e Blood, do Massachusetts General Hospital (EUA), desenvolveram uma pesquisa que buscou analisar os efeitos no cérebro de pessoas que ouviam músicas, as quais segundo as mesmas lhes causavam profunda emoção. Verificou-se que ao ouvir estas músicas, as pessoas acionaram exatamente as mesmas partes do cérebro que têm relação com 23 estados de euforia. Segundo esses autores, isso confere à música uma grande relevância biológica, relacionando-a aos circuitos cerebrais ligados ao prazer (2001). Há também inúmeras experiências na área de saúde, trabalhos em hospitais que utilizam a música como elemento fundamental para o controle da ansiedade dos pacientes. A origem deste trabalho remonta à 2a. Guerra Mundial, quando músicos foram contratados para auxiliar na recuperação de veteranos de guerra por hospitais norteamericanos. Pode-se afirmar que esse foi um grande impulso para a área de musicoterapia, hoje com reconhecimento acadêmico consolidado. É cada vez mais comum a presença da música nestes locais, seja para diminuir a sensação de dor em pacientes depois de uma cirurgia, junto a mulheres em trabalho de parto (para estimular as contrações) ou na estimulação de pacientes com dano cerebral. Nesse sentido, não é exagero afirmar que os efeitos da música sobre os sentimentos humanos estão, cada vez mais, migrando da sabedoria popular para o reconhecimento científico. 1.3 - A música e o desenvolvimento social da criança A música também traz efeitos muito significativos no campo da maturação social da criança. É por meio do repertório musical que nos iniciamos como membros de determinado grupo social. Por exemplo: os acalantos ouvidos por um bebê no Brasil não são os mesmos ouvidos por um bebê nascido na Islândia; da mesma forma, as brincadeiras, as adivinhas, as canções, as parlendas que dizem respeito à nossa realidade nos inserem na nossa cultura. Além disso, a música também é importante do ponto de vista da maturação individual, isto é, do aprendizado das regras sociais por parte da criança. Quando uma criança brinca de roda, por exemplo, ela tem a oportunidade de vivenciar, de forma lúdica, situações de perda, de escolha, de decepção, de dúvida, de afirmação. Fanny Abramovich, em memorável artigo, afirma: Ò ciranda – cirandinha, vamos todos cirandar, uma volta, meia volta, volta e meia vamos dar, quem não se lembra de quando era pequenino, de ter dados as mãos 24 pra muitas outras crianças, ter formado uma imensa roda e ter brincado, cantado e dançado por horas? Quem pode esquecer a hora do recreio na escola, do chamado da turma da rua ou do prédio, pra cantarolar a Teresinha de Jesus, aquela que de uma queda foi ao chão e que acudiram três cavalheiros, todos eles com chapéu na mão? E a briga pra saber quem seria o pai, o irmão e o terceiro, aquele pra quem a disputada e amada Teresinha daria, afinal, a sua mão? E aquela emoção gostosa, aquele arrepio que dava em todos, quando no centro da roda, a menina cantava: “sozinha eu não fico, nem hei de ficar, porque quero o ...(Sérgio? Paulo? Fernando? Alfredo?) para ser meu par”. E aí, apontando o eleito, ele vinha ao meio pra dançar junto com aquela que o havia escolhido... Quanta declaração de amor, quanto ciuminho, quanta inveja, passava na cabeça de todos. (1985, p. 59). Essas cantigas e muitas outras que nos foram transmitidas oralmente, através de inúmeras gerações, são formas inteligentes que a sabedoria humana inventou para nos prepararmos para a vida adulta. Tratam de temas tão complexos e belos, falam de amor, de disputa, de trabalho, de tristezas e de tudo que a criança enfrentará no futuro, queiram seus pais ou não. São experiências de vida que nem o mais sofisticado brinquedo eletrônico pode proporcionar. Mais tarde, já às voltas com as dores e as delícias do adolescer, ainda uma vez a música tem papel de destaque. Sem sombra de dúvida, a música é uma das formas de comunicação mais presente na vida dos jovens. Inúmeras vezes, é por meio da canção que temáticas importantes na inserção social desse jovem, não mais como criança, mas agora como preparação para a vida adulta, lhe são apresentadas. Como exemplo, temos os videoclipes que apresentam a jovens de classe média a dura realidade do racismo, da vida nas periferias urbanas e que podem ser utilizados por pais e educadores como forma de estabelecer um diálogo, uma porta para a construção da consciência cívica. Os pais e adultos podem se incumbir da educação de crianças, no tange à sua formação musical, iniciando do útero. Como já foi dito, fetos reagem a estímulos sonoros externos e, portanto, deve ser benéfico que a mãe possa, ela mesma, desenvolver atividades musicais. Se você teve a oportunidade de aprender um instrumento musical, pratique-o muito durante a gravidez. Caso não seja esse o 25 seu caso, cante bastante, pois esse instrumento, a voz, está bem aí ao seu alcance, por isso utilize-o, entre para um coral, aprenda cantigas de ninar, cante no banheiro! Além de cantar, ouça também boa música. Aproveite esse período para ficar a par de boas produções musicais para criança. Muitos pais reclamam, com razão, do lixo musical que infesta os grandes meios de comunicação. Contudo, há um razoável número de CDs de boa qualidade, voltado para o público infantil, como por exemplo, toda a obra de Bia Bedran, a Coleção Palavra Cantada, entre outros. Vale a pena buscar aqueles discos de vinil que fizeram sua alegria quando pequena (Saltimbancos, Arca de Noé, Coleção Disquinho). Se você se dispuser a formar um pequeno acervo, não se preocupe com o lixo que seu filho ouvirá lá fora, oferecendo outras alternativas, dentro de casa, certamente ele terá meios para uma escolha mais crítica. Mais tarde, depois do nascimento, faça dos momentos junto ao bebê momentos de puro prazer: cante enquanto lhe dá banho, faça brincadeiras ritmadas na troca de fralda, toque seu corpo ao ritmo da canção. E, principalmente, não abra mão das cantigas de ninar. Esqueça a conversa de que isso “põea criança mimada”: atualmente, pediatras são unânimes em estimular esse contato. Lembre-se: criança quieta, que dorme sozinha, que não reclama companhia, nem sempre é sinônimo de criança feliz. Muitas vezes, o bebê super independente de agora, poderá vir a ser o adulto carente de amanhã. Caso você sinta necessidade, procure serviços especializados na musicalização de bebês. Busque informações sobre os profissionais envolvidos, assista a algumas aulas, certifique-se do tipo de trabalho desenvolvido. Mas lembre-se: não busque por aceleração de aprendizagem, pela formação precoce de virtuoses. Tenha em foco apenas a possibilidade de momentos prazerosos e estimulantes para seu bebê. Todo o resto, que poderá vir a acontecer ou não, será lucro. Mais tarde, por volta dos quatro, cinco anos, é comum os pais se perguntarem se não estará na hora de aprender um instrumento. É importante 26 saber que o processo de musicalização deve anteceder o aprendizado de um instrumento específico. Em geral, as boas escolas de música desenvolvem um trabalho anterior, de vivência e sensibilização musical, para depois, quando a criança já se encontra alfabetizada, iniciar as aulas de instrumento e de leitura musical. Se esse for o seu interesse, vá em frente; caso não o seja, insista para que na escola de seu filho a música tenha espaço no currículo. Esse espaço não significa necessariamente uma aula específica de música: no caso da educação infantil, essa fragmentação do trabalho pedagógico nem é a mais indicada pelas tendências educativas mais sólidas. Esse espaço pode ser concretizado mesmo nas atividades de rotina, no repertório utilizado, nas brincadeiras musicais, na frequência a eventos promovidos pela escola. Por outro lado, a presença de um professor especialista, um licenciado em música, pode potencializar um trabalho de qualidade, na parceria com os demais educadores: o importante é que esse trabalho não seja artificial, isolado do projeto pedagógico como um todo. Por fim, dois lembretes: 1) todas essas atividades e preocupações, desde os embalos para ninar até a verificação do trabalho musical da escola são da responsabilidade de mães e pais, sem exceção; 2) não descuide do repertório. Isso pode parecer difícil, mas tente utilizar a mesma tática da boa alimentação: um fast food, de vez em quando, não faz mal a ninguém, desde que a nutrição básica seja feita por meio de uma dieta balanceada, rica em verduras, frutas, cereais e proteínas. Da mesma forma, os malefícios de se ouvir música descartável na TV podem ser minimizados se, em casa, você “nutrir” os ouvidos e cérebros de seus filhos com música rica, estimulante e de boa qualidade. Nota 1Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo – USP. Profª. Adjunta da Faculdade de Educação da UFG. 27 2 - Cognição e Música (ADAPTADO) A educação musical adequada e planejada auxilia na compreensão dos aspectos da nossa língua, de nossos costumes, de nossa história e de nossa realidade nacional, facilitando assim a formação do sentimento de cidadania, o enriquecimento de nossa cultura popular e, principalmente a importância de seu papel na sociedade. O enfoque é nas crianças que estão no ensino infantil, pré- escola e ensino fundamental. Esta área já vem sendo estudada há alguns anos e suas evidências correspondem ao período em que ocorrem mudanças muito importantes nas funções psicológicas da criança. Esta reflexão nos mostra que a educação musical pode contribuir para promover esse desenvolvimento por meio do ensino pedagógico musical. Introdução A linguagem musical tem extrema importância pelo fato de promover o desenvolvimento do ser humano. É um modo de interdependência entre o corpo e a mente, entre a razão e a sensibilidade, entre a ciência e a estética, para promover a liberdade na criação e realização de sua própria ação. Portanto, educar por meio das linguagens artísticas, teatro, dança e entre elas a música, não é só um desafio, mas a aspiração de conscientização política e social. A educação musical já esteve ausente mais ou menos trinta anos dos currículos escolares. O que não exige a formação de profissionais na área de música, licenciatura. Sendo assim, a música se torna um campo fechado. As escolas que por ventura venham a trabalhar com o ensino pedagógico musical são obrigadas a elaborar seu próprio plano de ensino. O maior desafio, contudo está na formação de futuros profissionais e programas adequados para não fragilizar o papel essencial e humanizador que a música propicia, em meio a “nomes, números e datas”, favorecendo o conhecimento, a criatividade e a expressão musical (KAETER, 2008, p.2). Neste sentido, um dos aspectos fundamentais no aprendizado da música é entender que é uma forma de representação das visões de mundo, das maneiras de interpretar a realidade por meio de sons e silêncios. 28 Segundo Vigotski (1991), o desenvolvimento de funções psíquicas acionadas pela educação musical, está em estreita relação com as condições histórico- culturais nas quais o sujeito está inserido. Nessa reflexão pretende-se estabelecer relações entre os processos de aprendizagem e desenvolvimento tal como definem alguns autores, a linguagem musical como uma prática pedagógica capaz de contribuir para o desenvolvimento de funções psíquicas em crianças, aprimorando as qualidades humanas historicamente produzidas. 2.1 Conceito da Música e a Inteligência Humana A educação musical exige um trabalho complexo quando envolve formação de grupos e isto é muito comum em quase todas as atividades musicais: corais, banda, teatro, rodas e brinquedos cantados. Deve-se sempre preservar a expressividade de cada elemento envolvido no trabalho e muitas vezes se torna difícil conciliar posturas diferentes. O educador deve estar atento a todas as formas de expressão escolhidas pelas crianças valorizando-as. Fontes superiores, conforme explica Vigotski (1991) são assim denominadas, porque se referem a mecanismos intencionais, ações conscientes controladas, processos voluntários que nos dão à possibilidade de independência em relação a circunstâncias do momento e espaço presente, tem sua origem nas relações sociais que o indivíduo estabelece com o mundo. O processo de humanização está ligado às relações de trabalho e ao próprio trabalho (ação com instrumentos para modificar a natureza). As ações de transformação da natureza, e consequentemente do próprio homem, promovem a constituição de novas funções psíquicas. Assim, por meio do trabalho, as funções psicológicas humanas, de elementares transformaram-se em funções capazes de diferenciar o homem dos outros animais. Leontiev (1978) “o trabalho é, portanto, desde a origem, um processo mediatizado simultaneamente pelo instrumento (em sentido pleno) e pela sociedade” (LEONTIEV, 1978, p. 74). Dessa forma não há apenas uma relação do homem com a natureza, mas também, para a efetivação desse trabalho, uma interação com outros homens. As atividades musicais contribuem para que o educando aprenda a viver na 29 sociedade, abrangendo aspectos comportamentais como: disciplina, respeito, gentilezas e polidez. Esclarecendo, é pelo processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas relações entre a história sócio-cultural e a história individual que ocorre a formação humana. Portanto, a memória, a percepção e o pensamento infantil, dentre outras funções, compõem o psiquismo humano, e diferenciam o homem dos demais animais, pela intencionalidade de suas ações. Essa perspectiva teórica leva em consideração que essas capacidades mentais tipicamente humanas são constituídas no decorrer de interações mediadas por signos (neste caso linguagem musical), e instrumentos físicos entre oindivíduo e o meio social. O ser humano encontra-se em uma ambiência que pode favorecer ou não seu desenvolvimento. O cérebro humano possui uma base fisiológica neuronal, um bebê ao nascer dispõe de todas as células nervosas, mas necessita de sinapse, isto é, conexões entre os neurônios para que ocorra o seu desenvolvimento psíquico, físico e vital. Para que isto ocorra, o seu cérebro precisa de um ambiente estimulante, uma vez ao inserir-se num mundo de linguagem cultural, a crianças necessita da presença do adulto para sua sobrevivência, aprendizagem e desenvolvimento. Esses autores percebem que a criança não nasce com seu desenvolvimento predeterminado, ao contrário, a exposição à cultura e à língua específica determina a sua forma de perceber o mundo e a si mesmo. Nesse contexto como a música parte da cultura sócio histórica do homem, pode contribuir para o desenvolvimento da criança. A música se faz presente na história da humanidade. Ao nascer a criança entra em contato com o universo sonoro que a cerca. Sua relação com a música pode ocorrer, por exemplo, por intermédio do acalanto da mãe ou aparelhos sonoros, sons da natureza e outros sons produzidos em seu cotidiano. Sendo assim a música dialoga com a constituição interna do ser humano. A criança 30 estabelece suas primeiras relações com o mundo sociocultural por meio dos sentidos e dos laços afetivos. Alguns estudos afirmam que o contato da criança com a música ocorrer até antes de seu nascimento, este contato pode ser sentido até mesmo dentro do útero da mãe, ao ouvir os batimentos cardíacos, este contato estimula a percepção do ritmo. Deste modo iniciamos nosso contato musical desde quando nos encontramos no útero materno e o estendemos por toda a vida, na medida em que nos apropriamos de práticas sociais e tradições culturais historicamente produzidas pela humanidade. Justificando a linguagem musical como recurso para o desenvolvimento psíquico de crianças da educação infantil, visto que a mesma garante que desenvolvam-se determinadas funções psíquicas ao se apropriarem do conhecimento veiculado em produções culturais da humanidade, em um processo educativo do qual participam de forma integral. 2.2 A Música como uma Linguagem Alguns estudos investigaram as relações causais entre o aprendizado da música e o aprendizado da linguagem. Cutietta (1996) revisou a literatura e encontrou uma relação estreita entre o aprendizado das duas formas de comunicação humana por sons. Nos estudos revisados, os alunos musicalizados mostraram um desempenho superior ao de seus colegas não-musicalizados em tarefas de percepção e de articulação da fala. Outro estudo (THOMPSON, SSCHELLENBERG e HUSAIN, 2003) sugeriu que os músicos possuem uma habilidade superior aos não-músicos na percepção da prosódia na fala tanto em frases faladas como em frases musicais análogas. Segundo os pesquisadores, tal habilidade se estende à interpretação do conteúdo emocional, que é transmitido através da prosódia contida tanto na fala quanto na música. Além disso, Cutietta (1996a) sugere que há uma possível relação entre a aprendizagem musical e o aprendizado de línguas estrangeiras. No entanto, apesar de a música e a linguagem aparentarem ter relações muito próximas, todo cuidado é pouco no estabelecimento de relações causais entre elas já que não há garantias de que haverá, necessariamente, transferência cognitiva de uma área para a outra. 31 A musicalização favorece sobremodo a oralidade, uma vez que a música é primordialmente oralidade. Convivendo com as crianças é notável que no início das atividades elas só observavam as canções e aos poucos acompanhavam o ritmo e cantavam os finais das frases, isto na pré-escola. Elas fazem registros musicais na sua memória, a princípio apenas vocaliza, canta e aos poucos vão aumentando seu repertório de palavras, desenvolvendo sua capacidade de expressão, ao imitar gestos e ações. A linguagem faz com que pensamentos e emoções de uma pessoa possam habitar a outra. Como professora na área de musicalização infantil eu suponho que a música reorganiza todos os processos mentais da criança. A palavra passa a ser assumida como um fator excepcional que dá forma à atividade mental aperfeiçoa o reflexo da realidade e cria novas formas de memória, de imaginação, de pensamento e de ação. Desse modo, o ser humano constitui-se não só um produto do seu meio, mas agente ativo nessa ambiente. Assim o desenvolvimento da linguagem é fator essencial para seu desenvolvimento psicointelectual. A linguagem musical guarda em si, e, portanto, permite comunicar aos outros, o conhecimento, os valores, os sentimentos e o modo de pensar dos homens de diferentes épocas distintas. Por essa razão, ela faz mediação entre o individual e o social, em um processo em que ambos se modificam. É possível afirmar depois de ler livros e pesquisas que a música ajuda a desenvolver a capacidade de concentração imediata, de persistência e de dar resposta à constante variedade de estímulos, e assim, facilita a aprendizagem ao manter em atividade os neurônios cerebrais. 2.3 O Aprendizado Musical e a Leitura O interesse pelos efeitos da música no desenvolvimento cognitivo nos últimos anos, trouxe à tona a questão dos efeitos da educação musical em uma área fundamental: a alfabetização. Embora existam poucos estudos, os resultados apresentados até o momento são bastante sólidos. Um estudo recente conduzido por Anvari e colegas (2002) sugeriu que a percepção musical tem uma 32 relação estreita com o desenvolvimento da leitura e com a consciência fonológica (isto é, a habilidade que o ouvinte tem de segmentar a fala em unidades menores e ainda assim reconhecê-las independentemente de variações em altura, tempo, timbre e contexto). Outros estudos revisados anteriormente por Cutietta (1995) sugerem uma forte correlação entre a educação musical e o rendimento de leitura em alunos com idade variável entre 5 e 19 anos. Em conjunto, estes estudos sugerem que o aprendizado musical pode ser útil para o desenvolvimento da leitura. Porém, é importante frisar novamente que, até o presente, não foram encontradas relações causais entre os dois aprendizados. Os estudos resenhados sugerem que as crianças musicalizadas podem aprender a ler mais depressa, mas novos estudos ainda são necessários para determinarmos se há, de fato, uma transferência cognitiva generalizada, de uma área de conhecimento para a outra. A linguagem musical estimula a memória verbal e escrita, visto que uma canção pode ser o relatório de uma leitura, e as notas ensejam o mesmo significado das palavras. Amplia seu repertório de palavras e a sua visão de mundo, não com repetições monótonas, mas com conhecimento que fazem parte de sua vida e por meio da apropriação de bens culturais produzidos socialmente. Leontiev (1978) deixa bem claro que memorizamos melhor o que tem significado importante para a nossa vida, e também aquilo que está associado aos nossos interesses e necessidades. Este mesmo autor sugere que a atenção e a percepção são funções fundamentais, que se encontram na base do desenvolvimento das demais capacidades de modo que o raciocínio, a memória e a imaginação, não se estabelecem e não operam sem essa participação efetiva. Há também outro fator de grande importância na educação infantil, a escuta. Escutar é perceber e entender os sons por meio do sentido da audição, ou seja, detalhar e tomar consciência do ato sonoro. Enfim, nesse pequeno estudo, compreendemos que as crianças ao se apropriar da linguagem, fica apta a organizar sua percepção e memória, e é capaz de tirar conclusões a partir das suas próprias observações e fazer deduções e, assim, conquistar todas as potencialidades do pensamento. Ao nomear algo, ela 33estará analisando e passando a usar palavras para designar e resolver problemas relacionados ao seu mundo, por intermédio de experiências de todo o gênero humano. Com base na concepção de que o desenvolvimento da linguagem oral e escrita bem como da musical é resultado do processo de educação, e, por acreditar que a música é um dos meios mais adequados para essa mediação de ensino. Neste estudo me baseei na minha experiência como professora de musicalização infantil com crianças de 0 há 10 anos submetidas ao ensino de musicalização em aulas semanais de uma hora por dia. Um dos motivos que me levaram a fazer psicologia foi a curiosidade em saber o quanto a musica contribui para o desenvolvimento psíquico não só das crianças mas também de adolescentes, jovens, adultos e idosos. A musicalização deve ser vista como uma educação em si, e não, uma pré- educação. Devem ser valorizados seus objetivos, conteúdos e métodos próprios, de forma que as crianças possam se apropriar da herança cultural deixada pela humanidade, desenvolvendo suas funções psíquicas. Segundo Leontiev (1978) é neste período de novos aprendizados que se reorganizam e reforçam as conexões entre as células do cérebro humano. Novas conexões e sinapses são formadas à medida que novos conhecimentos são adquiridos. Os dados obtidos nas pesquisas e na vivencia com as crianças são indicativos de que a linguagem musical é um instrumento psicológico excelente para o desenvolvimento de funções psíquicas de crianças nesse nível de ensino. É notável que além da aprendizagem de conceitos musicais, houve a ampliação do vocabulário das crianças, maior participação nas aulas trazendo as suas próprias experiências sonoras como contribuição e também a alegria com a participação de jogos e brincadeiras infantis do nosso folclore esquecidos por educadores. Apesar dos avanços científicos recentes, as investigações acerca dos efeitos da música no desenvolvimento intelectual ainda estão em fase preliminar. 34 A música no contexto da Educação Infantil, quando é trabalhada de forma lúdica e dinâmica, com professores comprometidos, traz experiências gratificantes para as crianças e constitui um elemento inestimável para a sua formação e desenvolvimento, permitindo-lhes a sua apropriação sem reservas, porque a música não deve ser um privilégio de alguns, mas de todo ser humano. Se por um lado os estudos sobre os prováveis benefícios extra-musicais da música parecem fomentar argumentos promissores para a educação musical, sobretudo em um país como o nosso que luta pela inserção da música como disciplina obrigatória na educação básica, os mesmos estudos transformam a música em um meio e não em um fim em si. A música tem valor próprio e há muitas razões que justificam sua inserção na escola. Em primeiro lugar, a música constitui uma importante forma de comunicação e expressão humana e praticamente todos os povos do mundo possuem algum tipo de música. Em segundo lugar, a música carrega traços de história, cultura, e identidade social, que são transmitidos e desenvolvidos através da educação musical. Em terceiro lugar, o fazer musical da aula de música envolve diversas formas de aprendizagem contidas em atividades como audição, canto, representação, reprodução, criação, composição, improvisação, movimento, dança e execução instrumental entre outras. Todas estas atividades auxiliam no desenvolvimento da inteligência musical. Além disso, no exercício dessas formas de aprendizagem os alunos podem ter uma sensação de realização pessoal, de bem estar e de prazer. 35 REFERENCIAS ABRAMOVICH, F. Quem educa quem? 5a. ed. São Paulo: Summus, 1985. ALVAREZ, A. Deu branco, um guia para desenvolver o potencial de sua memória. São Paulo: Editora Bestseller, 2003, p. 111. ANVARI, S. H., L. J. Trainor, J. Woodside, & B. A. Levy. Relations among musical skills, phonological processing, and early reading ability in preschool children. Journal of Experimental Child Psyhcology 83. 2002, p. 111-120. BATHNAGAR, CS. Neurociência para o estudo dos distúrbios da comunicação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002, p. 420. BEAR, M. Princípios da Neurociência. Porto Alegre: Artmed, 2002, p. 855. BEE, H. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2003, p. 612. BELTRÃO, KI; CAMARANO; AA; KANSO, S. 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