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APS - Proc Penal - Davi Natã W Cassolla - 1732931

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1 
 
APS – DIREITO PROCESSUAL PENAL – 6º SEMESTRE 2020.1 
PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM O PROCESSO PENAL 
 
Nome: Davi Natã Wanzeler Cassolla 
RA: 1732931 
Turma: 003206A02 
APS – Processo Penal – Professor Eduardo Sorrentino. 
 
1. Princípios: Ampla Defesa e Contraditório 
 
2. Agravo Regimental no Recurso Ordinário em Habeas Corpus (RHC) nº 83.589 – RJ, 
Relator Ministro Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma – STJ, Julgado em 20/08/2019. 
 
3. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. 
TRANCAMENTO DO PROCESSO. ACESSO À MÍDIA DAS INTERCEPTAÇÕES. 
AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO. OBSERVÂNCIA. NÃO PROVIDO. 
1. Não há previsão legal para suspensão da ação penal com o escopo de que a defesa 
tenha tempo hábil de examinar elementos probatórios produzidos na fase pré-
processual. 2. No caso, verifica-se que "antes de ofertar as alegações finais, tanto 
defesa quanto acusação tiveram acesso às respectivas degravações, e inclusive, a 
pedido, foi prorrogado à defesa, por 10 dias, o prazo para que pudesse ofertar suas 
alegações finais". 
3. Não se verifica a alegada violação aos princípios da ampla defesa e do contraditório 
se a parte teve acesso às provas para apresentação de alegações finais logo após a 
manifestação ministerial, mesmo que elas tenham sido juntadas aos autos tardiamente. 
4. Por se tratar de procedimento afeto ao Tribunal do Júri, a defesa ainda tem a 
oportunidade de requerer novas diligências, ouvir testemunhas, ou mesmo, de 
contraditar a própria mídia, nos termos do que dispõe os arts. 422 e 423, ambos do 
CPP. 
5. Agravo regimental não provido. 
2 
 
(grifo meu) 
(AgRg no RHC 83.589/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA 
TURMA, julgado em 20/08/2019, DJe 30/08/2019) 
 
4. O referido julgado tratou do princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório, 
corolários do Processo Penal. Ambos estão previstos na Constituição Federal em seu art. 5º, 
Inciso LV. O princípio da ampla defesa consiste na plena garantia do acusado de se defender 
por todos os meios legais possíveis, ou seja, que o sistema lhe faculta, da imputação de um 
crime, permitindo que o acusado constitua defensor em seu favor, e se tratando de direito 
fundamental, ele é irrenunciável, ou seja, mesmo se ao acusado não o quiser, a defesa técnica é 
imprescindível. Podemos trazer à baila os ensinamentos de Vicente Greco Filho e Edilson 
Mougenot Bonfim: 
“Consiste a ampla defesa na oportunidade de o réu contraditar a acusação, mediante 
a previsão legal de termos processuais que possibilitem a eficiência da defesa, como 
já se disse.”1 
 
“O princípio da ampla defesa consubstancia-se no direito das partes de oferecer 
argumentos em seu favor e de demonstrá-los, nos limites em que isso seja possível. 
(…) 
Não supõe o princípio da ampla defesa uma infinitude de produção defensiva a 
qualquer tempo, mas, ao contrário, que esta se produza pelos meios e elementos totais 
de alegações e provas no tempo processual oportunizado por lei”2 
 
Nesse sentido, tal princípio abrange a persecução penal como um todo, tanto em sua 
fase inquisitiva quando em sua fase acusatória. Sendo tão abrangente, ele acaba por originar 
princípios para garantir sua efetiva aplicação. O princípio do contraditório entra neste ponto, 
decorrente da ampla defesa, ele consiste na oportunidade das partes de participarem ativamente 
dos atos do processo, tendo ciência e se manifestando sobre cada ato. Na definição do Dr. 
Edilson Mougenot: 
“O princípio do contraditório significa que cada ato praticado durante o processo 
seja resultante da participação ativa das partes. Origina-se do brocardo audiatur et 
altera pars. (…) Relevante é que o juiz, antes de proferir cada decisão ouça as partes, 
 
1 Greco, Vicente Filho, Manual de Processo Penal / Vicente Greco Filho – 11º ed. rev e atual. – São Paulo: 
Saraiva, 2015 (com a colaboração de João Daniel Rassi). Pg. 77 
2 Mougenot, Edilson – Curso de processo penal / Edilson Mougenot. – 13ª ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 
2019. Pg. 99 
3 
 
dando-lhe igual oportunidade para que se manifestem, apresentando argumentos e 
contra-argumentos. Destarte, o juiz, ao proferir a decisão, deve oferecer às partes 
oportunidade para que busquem, pela via da argumentação, ou juntando elementos 
de prova, se for o caso, influenciar a formação de sua convicção (contraditório 
material).”3 
 No julgado ementado em epígrafe, o Agravo Regimental no Recurso Ordinário em 
Habeas Corpus interposto pela defesa do acusado em julgamento no rito do tribunal do júri por 
homicídio qualificado, objetivou o reconhecimento da violação dos princípios da ampla defesa 
e do contraditório na primeira fase do rito do júri (formação do juízo de prelibação). Requerendo 
em sede liminar a suspensão da ação penal e no mérito a nulidade da ação penal até o momento 
da resposta à acusação, pois as mídias de interceptações telefônicas que embasaram a pronúncia 
foram juntadas aos autos principais da ação penal em tese, tardiamente, após o encerramento 
da instrução criminal. Não obstante a isso, o Ilmo. Ministro Relator expõe claramente que a 
transcrição do conteúdo da mídia estava disponível às partes desde o encerramento da primeira 
fase da persecução penal em procedimento cautelar apensado aos autos, e não suficiente, assim 
como pugnou a defesa na audiência de instrução e julgamento, após a fase de instrução e antes 
do oferecimento das alegações finais, as mídias foram juntadas no processo crime, tanto que a 
defesa requereu e foi atendida com o prazo de 10 dias para análise da mídia juntada a fim de se 
manifestar sobre tal prova em sede de alegações finais, assim como o Órgão Acusatório que 
apenas se manifestou sobre tal prova em alegações finais. Diante destes fatos, a sexta turma 
negou provimento ao Recurso. 
A importância da ampla defesa e do decorrente contraditório dentro do processo crime 
representam os direitos fundamentais tanto da defesa quanto da acusação de: para a defesa, se 
defender das acusações imputadas, e para ambos, de se manifestarem sobre os atos praticados 
dentro do processo para influírem no livre convencimento do juiz, buscando a verdade real. 
Tais princípios garantem a democratização do procedimento de persecução penal e afastam a 
sana do Estado em punir a qualquer custo. 
5. Da leitura do Acórdão, infere-se que realmente não houve a violação ao princípio da 
ampla defesa e tampouco ao do contraditório. Tendo em mente a definição dos princípios e 
quais são seus objetivos dentro do procedimento de persecução penal, a defesa alegou que 
houve a violação, pois, a juntada tardia da prova a que deveria se manifestar impediu o exercício 
 
3 Mougenot, Edilson – Curso de processo penal / Edilson Mougenot. – 13ª ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 
2019. Pg. 97 
4 
 
da ampla defesa e do contraditório. Insano seria reconhecer tal violação visto que a juntada da 
mídia após a instrução foi pugnada pela própria defesa e que ainda nesse sentido, tanto a defesa 
quanto a acusação tinham acesso a transcrição da mídia desde o encerramento da investigação 
criminal, juntada em procedimento cautelar apenso, o que possibilitava a manifestação da 
defesa sobre a prova em qualquer momento do processo, podendo exercer assim o contraditório. 
Ainda mais que não lhe foi cerceado o direito a ampla defesa visto que a defesa técnica foi 
devidamente constituída e inclusive as alegações finais foram apresentadas e com prazo 
acrescido de 10 dias para evitar uma análise perfunctória da referida prova, que se mostrou tão 
importante. 
É claro que a ampla defesa e o contraditório garantem a manutenção de um processo 
penal mais democrático e conforme a legislação pátria. Se revelam tão caros ao direito penal e 
processual penal que o STF editou a Súmula Vinculante 14, que trata do direito que tem o 
defensor constituído para os interesses do representado, em ter acesso aos elementos de provadocumentados em procedimento investigatório, os quais dizem respeito ao exercício de seu 
direito de defesa. 
Diante disso, foram garantidos no referido procedimento de persecução penal o 
contraditório e a ampla defesa, tão importantes para a defesa do acusado. Acertada a decisão 
do STJ seguindo tanto os precedentes do pretório excelso quanto a jurisprudência da mesma 
corte. 
 
1. Princípio: Presunção de Inocência 
 
2. “Habeas Corpus Criminal nº 2060646-44.2020.8.26.0000, Relatora Gilda Alves 
Barbosa Diodatti, 15ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, julgado 
em 14/05/2018 e publicado em 25/04/2020. 
 
3. HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES E CONDUÇÃO 
DE VEÍCULO AUTOMOTOR SEM HABILITAÇÃO. REVOGAÇÃO DA 
CUSTÓDIA CAUTELAR. IMPOSSIBILIDADE. 1. Presença dos requisitos e 
pressupostos da prisão processual. Cabimento da prisão preventiva. Fundamentação 
idônea na origem. Prisão flagrancial do paciente, que, em tese, trazia consigo, para 
fins de tráfico, 140 porções de maconha (287,2 gramas) e outros 16,3 gramas da mesma 
droga, na forma de "Skunk", 60 porções de cocaína (32,8 gramas) e 1.960 mililitros de 
5 
 
lança-perfume, sem autorização e em desacordo com determinação legal, enquanto 
dirigia uma motocicleta, sem habilitação para tanto. Gravidade concreta dos delitos 
imputados ao paciente e reincidência, a indicar o risco que a sua liberdade traz à 
persecução penal e ao meio social. Elementos concretos indicativos de que a soltura do 
paciente colocará em risco a ordem pública, a aplicação da lei penal e a instrução 
criminal. 2. Insuficiência, ao menos por ora, da imposição de medidas de contracautela 
diversas (artigo 319 do CPP). 3. Sendo a prisão preventiva decretada com estrita 
observância da sistemática processual vigente, não há que se falar em ofensa ao 
princípio constitucional da presunção de inocência. 4. Inexistência de contrariedade à 
Recomendação CNJ nº 62/2020, sobretudo porque não há comprovação de que fora do 
cárcere o paciente, acusado de crime grave, e não pertencente ao chamado grupo de 
risco, estaria em melhores condições de isolamento em relação à situação atual, ou que 
esteja privado do devido acompanhamento médico na prisão. 5. Demais questões (v. g. 
potencial turbidez da confissão e alegação de que o paciente não levava drogas) que se 
relacionam ao mérito, inviável o seu exame nos estreitos limites deste writ. 6. 
Impetração conhecida parcialmente e, na parte conhecida, denegada a ordem. (grifo 
meu) 
(TJSP; Habeas Corpus Criminal 2060646-44.2020.8.26.0000; Relator (a): Gilda Alves 
Barbosa Diodatti; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Criminal; Foro Central 
Criminal Barra Funda - 14ª Vara Criminal; Data do Julgamento: 14/05/2018; Data de 
Registro: 25/04/2020) 
 
4. O julgado acima ementado tratou essencialmente do princípio da presunção de 
inocência. O referido princípio, positivado na carta maior em seu art. 5º, Inciso LVII, expõe o 
Direito fundamental e inerente a todos de que: ninguém será considerado culpado - 
comprovação da autoria de um fato delitivo com a aplicação de uma sanção penal - sem que 
reste comprovada a prática do crime pelo trânsito em julgado de uma sentença penal 
condenatória. Ou seja, não há que se falar no processo penal brasileiro em presunção de culpa, 
para ser considerado culpado o acusado deve ser devidamente submetido ao procedimento de 
persecução penal garantido pelos princípios do devido processo legal, do contraditório, ampla 
defesa e todos os princípios a ele inerentes que garantem um processo justo e conforme a 
constituição. Contudo, insta ressaltar o que o próprio texto constitucional implicitamente 
6 
 
denota: a presunção de inocência é Juris Tantum4, e ao passar pelo devido processo legal, o 
Estado Juiz entender pela condenação e essa condenação transitar em julgado, considerar-se-á 
o acusado culpado. Nesta esteira, sendo a inocência o “estado natural”, revela o caráter implícito 
actori incumbit probatio5, de que o ônus de provar a culpa do acusado é da acusação e não da 
defesa. 
No julgado analisado, foi impetrado no TJ/SP, Habeas Corpus pelo paciente que alega 
constrangimento ilegal por parte da Ilma. Juíza da 14ª Vara Criminal do Foro Central da Capital 
(SP) nos autos do processo crime em que está sendo denunciado por tráfico de drogas (art. 33, 
caput da Lei 11.343/06) e por dirigir sem habilitação (art. 309 CTB), que em decisão ao pedido 
de liberdade provisória do acusado, não concedeu a liberdade, tampouco as medidas cautelares 
previstas no art. 319 do CPP, da prisão efetuada em flagrante e convertida em preventiva na 
Audiência de Custódia. Na referida writ o paciente alega violação ao princípio da presunção de 
inocência fundamentando a impossibilidade de manutenção de uma prisão processual sendo 
que não há provas concretas do cometimento do delito e que a gravidade do delito pouco 
importa nesse sentido, invocando o princípio da presunção de inocência. Tal princípio é de 
suma importância para garantir os direitos fundamentais do acusado, visto que no Brasil é 
Estado Democrático de Direito e para evitar possíveis ilegalidades estatais, ante a 
hipossuficiência do cidadão/acusado nessa relação. Nas palavras de Guilherme de Souza Nucci: 
 
“Tem por objetivo garantir, primordialmente, que o ônus da prova cabe à acusação 
e não à defesa. As pessoas nascem inocentes, sendo esse o seu ‘estado natural’, razão 
pela qual, para quebrar tal regra, torna-se indispensável ao Estado-acusação 
evidenciar, com provas suficientes, ao Estado-juiz, a culpa do réu. 
(…) 
Por outro lado, confirma a excepcionalidade e a necessariedade das medidas 
cautelares de prisão, já que indivíduos inocentes somente podem ser levados ao 
cárcere quando realmente for útil a instrução e à ordem pública. A partir disso, deve-
se evitar a vulgarização das prisões provisórias, pois muitas delas terminam por 
 
4 Para Norberto Avena: “Classificam-se em absolutas (presunções jure et de jure) ou relativas (presunções juris 
tantum). As primeiras não aceitam prova em contrário, sendo exemplo a condição de inimputável do indivíduo 
menor de dezoito anos. Já as segundas admitem a produção de prova em sentido oposto, como a presunção de 
imputabilidade do maior de dezoito anos, que pode ser descaracterizada a partir de laudo de insanidade 
mental apontando que o indivíduo não possui discernimento.” – Avena, Norberto – Processo penal / Norberto 
Avena. – 11ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2019 (E-PUB) 
5 Mougenot, Edilson – Curso de processo penal / Edilson Mougenot. – 13ª ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 
2019. Pg. 102 
7 
 
representar uma nítida – e indevida – antecipação de pena, lesando a presunção e 
inocência.”6 
Com isso consignado, insta ressaltar que o princípio da presunção de inocência não inibe 
as prisões processuais. Tanto o legislador ao criar o art. 312 do Código de Processo Penal, 
quanto os Tribunais ao formarem sua jurisprudência, cuidaram de aclarar a situação expondo 
que presentes o fumus comissi delicti7 e o periculum libertatis8, é possível a decretação da prisão 
preventiva como forma de garantir a efetividade da persecução penal, assim como a ordem 
social. O Tribunal ao julgar a writ denegou a ordem expondo que estão presentes os 
pressupostos legais da prisão preventiva e que não há violação do referido princípio pois a 
apreensão do farto produto criminoso que o acusado portava e a reincidência são suficientes 
para embasar a medida, afastando a ilegalidade de tal. 
5. Da análise do julgado é possível concluir a importância do princípio da presunção de 
inocência para o Direito Processual Penal, sendo ele, inerente ao estado democrático de direito. 
Tal princípio tem uma carga história muito grande, como expõe o Professor Edilson Mougenot: 
 
“o princípio se positiva pela primeira vez no art. 9º da Declaração dos Direitos do 
Homem edo Cidadão (Paris, 26.8.1789), inspirado na razão iluminista (Voltaire, 
Rousseau etc.). Posteriormente, foi reafirmado no art. 26 da Declaração Americana 
de Direitos e Deveres (22.5.1948) e no art. 11 da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, na Assembleia das Nações Unidas (Paris, 10.12.1948).”9 
 
É inimaginável atualmente pensar na possibilidade de uma “presunção de culpa” ao 
vermos que existe toda uma evolução história para a conquista desse Direito Fundamental, 
sendo que se quisermos caminhar para uma democracia cada vez mais aperfeiçoada, devemos 
sempre assegurar a presunção da inocência, freando a sana do Estado. 
Perfazendo, o Acórdão proferido resolve muito bem as questões ventiladas pelo 
paciente. Ressalto aqui um ponto interessante consignado no voto da Relatora, que trouxe à 
baila o entendimento do STJ ao consignar na RT 686/388 - STJ - RHC 1.322 - 6.ª Turma - j. 
12/8/1991 - julgado por Luiz Vicente Cernicchiaro - DJU 2/9/1991- “que o princípio em questão 
 
6 Nucci, Guilherme de Souza – Manual de processo penal / Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: 
Forense, 2020. Não Paginado 
7 “Fumaça da prática de um delito” – Denota a presença de autoria e materialidade 
8 “Existência de perigo causado pela liberdade do sujeito passivo da persecução penal” 
9 Mougenot, Edilson – Curso de processo penal / Edilson Mougenot. – 13ª ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 
2019. Pg. 100 
8 
 
não alcança os institutos do Direito Processual, como a prisão preventiva”. Não há realmente 
que se falar na violação do princípio da Presunção de Inocência visto que os elementos materiais 
coadunam com a decretação da prisão preventiva. Tanto a magistrada que determinou a 
manutenção da prisão quanto o Tribunal atuaram dentro dos limites legais respeitando os 
princípios que permeiam o processo penal. 
Notável mencionar aqui o julgamento das ADCS 43, 44 e 54 pelo STF que trataram 
precipuamente da prisão após a confirmação da condenação em 2ª Instância e o Princípio da 
Presunção de Inocência. Muito foi falado no “mundo jurídico” sobre esse julgamento. Dou aqui 
minha opinião pessoal que, muito acertada a decisão tomada pelo pretório excelso, manteve o 
respeito ao referido princípio assentando a constitucionalidade do art. 283 do Código de 
Processo Penal, reconhecendo a impossibilidade de decretar a prisão do acusado após a 
confirmação da condenação em 2ª Instância. 
 
1. Princípio: Favor Rei ou “In Dubio Pro Reo” 
 
2. Ação Penal nº 678 - Maranhão, Relator Ministro Dia Toffoli e Revisor Ministro Luiz 
Fux, Primeira Turma - STF, julgado em 18/11/2014. 
 
3. Ação penal. Ex-secretário de estado. Deputado Federal. Peculato (art. 312 do CP). 
Desvio de colchões doados pelo governo federal para auxílio a vítimas de enchentes. 
Entrega e desvio dos bens para uso em evento da agremiação política a que o réu se 
encontra filiado. Alegada determinação do acusado para a cessão do material. Prova 
precária de envolvimento do réu no ilícito. Incidência do in dubio pro reo e do favor rei. 
Pedido julgado improcedente, com a absolvição do réu com fundamento no art. 386, 
VII, do Código de Processo Penal. 1. A conduta incriminada consiste no desvio, para 
fins diversos daqueles a que legalmente destinados (socorrer vítimas de enchentes), de 
colchões doados pelo Governo Federal à Defesa Civil do Estado do Maranhão, os quais, 
por ordem do ora réu, teriam sido entregues para uso de militantes da agremiação 
política a que o acusado se encontra filiado, em evento político realizado em São 
Luís/MA. Consta que, além de indevidamente utilizado, esse material, posteriormente, 
não foi restituído ao órgão consignatário, tendo parte dele sido apreendida em poder de 
terceiro, e parte dele desaparecido. 2. Diante da fragilidade da prova de efetivo 
9 
 
envolvimento do acusado no crime em questão, é o caso de incidência dos brocardos – 
in dubio pro reo e favor rei – somente restando proclamar a improcedência da pretensão 
ministerial. 3. Ação penal julgada improcedente. 
(grifo meu) 
(AP 678, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 18/11/2014, 
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-024 DIVULG 04-02-2015 PUBLIC 05-02-2015) 
 
4. O deslinde da Ação Penal 678 - a qual iniciou seu trâmite na 6ª Vara Criminal da 
Comarca de São Luís/MA e em virtude do acusado Weverton Rocha Marques de Sousa ter sido 
diplomado Deputado Federal durante o processo, houve o deslocamento do feito para a Colenda 
Corte Constitucional - culminou na absolvição do acusado por fundada dúvida em relação ao 
conjunto fático probatório, sendo aplicado o brocardo “in dubio pro reo” também chamado de 
princípio favor rei. O Princípio Favor Rei, decorrente do princípio da presunção de inocência, 
é a significação de que se coligidas as provas apresentadas nos autos, as quais passaram pelo 
crivo do contraditório, ainda houver uma dúvida razoável do Estado-juiz em relação a culpa do 
acusado, deve-se absolver o acusado por não existir um juízo convicto em relação a sua culpa, 
portanto, “na dúvida, em favor do réu”. Nas lições de Guilherme de Souza Nucci: 
 
“O primeiro deles espelha que, na relação processual, em caso de conflito entre a 
inocência do réu – e sua liberdade – e o poder-dever do Estado de punir, havendo 
uma dúvida razoável, deve juiz decidir em favor do acusado. Exemplo disso está na 
previsão de absolvição quando não existir prova suficiente da imputação formulada 
(art. 386, VII, CPP) 
(…) 
O Estado é a parte mais forte na persecução penal, possuindo agentes e instrumentos 
aptos a buscar e descobrir provas contra o autor da infração penal, prescindindo, 
pois, de sua colaboração. Seria a admissão de falência de seu aparato e fraqueza de 
suas autoridades se dependesse do suspeito para colher elementos suficientes a 
sustentar a ação penal.”10 
A importância desse princípio se revela na medida em que, como dito pelo Douto 
Professor Nucci, o Estado sendo a parte mais forte na persecução penal, tem todos as 
ferramentas necessárias para produzir provas contundentes contra o Réu em sede de persecução 
 
10 Nucci, Guilherme de Souza – Manual de processo penal / Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: 
Forense, 2020. Não Paginado 
10 
 
penal, em vista disso, ao levar ao Estado-juiz as provas que embasam as denúncias 
apresentadas, se há dúvida razoável sobre a culpa mesmo depois de amealhadas as provas, por 
um silogismo e respeitando o Estado Democrático de Direito não há porque condenar, cercear 
a liberdade daquele que não é possível, com total convicção, reputar como culpado. No caso da 
ação penal em epígrafe, o ora acusado, na época dos fatos era Secretário do Esporte do Estado 
do Maranhão, tendo sido denunciado pelo Ministério Público Federal pela suposta prática do 
crime de peculato (art. 312 do Código Penal). Houve o devido prosseguimento do feito, tendo 
ocorrido na fase instrutória a oitiva de testemunhas que trouxeram informações contundentes. 
Logo, em sede de alegações finais o MPF pugnou pela condenação e a defesa do acusado 
pugnou pela absolvição em virtude da não comprovação da participação do acusado o 
cometimento do delito, nos termos do art. 386, VII do Código de Processo Penal. Assim, como 
já exposto, houve o deslocamento da persecução penal ao STF em virtude do cargo público 
ocupado pelo Réu. No julgamento, o eminente Relator Ministro Dias Toffoli elencou as provas 
contundentes, principalmente a oitiva das testemunhas e restou comprovado que apesar de dois 
dos corréus na fase inquisitória da persecução penal terem mencionado a participação do ora 
acusado, tanto estes dois quanto as outras testemunhas ao prestarem seus depoimentos em juízo, 
confirmaram que não houve a participação do acusado na prática do delito, restando assim, a 
fundada dúvida em relação a culpa deste, e nas palavras do ministro “diante da fragilidade da 
prova do efetivo envolvimento do acusado no crime em questão,penso seja o caso da incidência 
do brocardo in dubio pro reo, somente restando proclamar a improcedência da pretensão 
ministerial”. 
5. Diante do exposto, é de se concluir que o princípio Favor Rei ou “In Dubio Pro Reo” é 
extremamente importante para garantir a “segurança” do acusado dentro do processo penal, 
afastando-o da sana do Estado em condenar os que passaram pelo devido processo legal, mas 
que o conjunto fático-probatório trazido pela acusação não se mostrou suficiente para sua 
condenação. Nota-se que ainda tal princípio se estende a outros campos, como nas prisões 
processuais, tendo o juízo dúvidas acerca dos requisitos que autorizam a preventiva por ex., não 
a decretará por ser favorável ao Réu. Interessante destacar que este princípio tem um oposto 
teórico, qual seja o “In Dubio Pro Societate”, nas palavras do Professor Mougenot Bonfim: 
“O princípio in dubio pro reo tem sua antítese teoria no princípio in dubio pro 
societate, que preceitua que, no caso de dúvida acerca da culpabilidade do acusado, 
decida-se em favor da sociedade; Em nosso sistema, no entanto, o princípio in dubio 
pro societate somente tem aplicação em específicas oportunidades: quando do 
11 
 
oferecimento da inicial acusatória (denúncia ou queixa), porquanto não se cobra 
certeza definitiva quanto à autoria criminosa, somente indícios de autoria; e nos 
processos do Júri, quando do encerramento da primeira fase (judicium accusationis), 
no momento da decisão de pronúncia pelo juiz (art. 413 do CPP).”11 
Na Ação Penal 678, o princípio do in dubio pro reo foi corretamente aplicado pela 1ª 
Turma do STF. Sendo o processo um instrumento da verdade real, devemos reconhecer que 
ocorrem depoimentos conflitantes, provas escassas e todo tipo de circunstância, assim, apesar 
de no Inquérito Policial os ora corréus terem mencionado o nome do acusado, na fase instrutória 
foram produzidas provas que destoaram do que inicialmente foi apresentado na fase 
investigatória, assim, diante da dúvida razoável, não há que se falar na condenação do acusado. 
 
1. Princípio: Non Reformatio In Pejus 
 
2. Habeas Corpus nº 550.505 - SP, Relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma do STJ, 
julgado em 06/02/2020. 
 
3. PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE 
RECURSO PRÓPRIO. ROUBO MAJORADO. REFORMATIO IN PEJUS. 
ERRO MATERIAL EVIDENCIADO NA SENTENÇA SANADO PELO 
COLEGIADO DE ORIGEM EM SEDE DE APELO DEFENSIVO. 
FLAGRANTE ILEGALIDADE EVIDENCIADA. NECESSIDADE DE 
RESTABELECIMENTO DAS PENAS IMPOSTAS NO DECRETO 
CONDENATÓRIO. WRIT NÃO CONHECIDO E HABEAS CORPUS 
CONCEDIDO DE OFÍCIO. 
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que 
não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, 
impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência 
de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado. No caso, observa-se flagrante 
ilegalidade a justificar a concessão do habeas corpus, de ofício. 
2. Nos termos do pacífico entendimento desta Corte Superior de Justiça, resta 
evidenciada a ocorrência de reformatio in pejus quando, em recurso exclusivo da defesa, 
 
11 Mougenot, Edilson – Curso de processo penal / Edilson Mougenot. – 13ª ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 
2019. Pg. 103 
12 
 
a situação do réu é agravada pela correção de ofício de erro material existente na 
sentença. 
Precedentes. 
3. Conquanto tenha sido verificado erro aritmético na individualização da pena, o 
Parquet não opôs embargos de declaração, tendo a sentença transitado em julgado para 
a acusação. Contudo, a Corte de origem, no julgamento do apelo defensivo, logrou sanar 
tal impropriedade, de ofício, exasperando a reprimenda a 6 anos e 5 meses de reclusão, 
mais 15 dias-multa, o que caracteriza reformatio in pejus sanável na via do writ. 
4. Writ não conhecido e habeas corpus concedido, de ofício, a fim de restabelecer a 
sentença e fixar as penas de 5 anos, 9 meses e 10 dias de reclusão, mais 13 dias-multa. 
(HC 550.505/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 
06/02/2020, DJe 12/02/2020) 
 
4. O desenlace da writ em epígrafe, impetrada pelo paciente no Tribunal da Cidadania 
versou principalmente sobre o Princípio da “Non Reformatio In Pejus”. Previsto expressamente 
no art. 617 do Código de Processo Penal e decorrente do sistema acusatório da persecução 
penal, preceitua que é vedado ao Tribunal, julgando apelo exclusivo do Réu, proferir acórdão 
que imponha situação mais gravosa do que na sentença proferida pelo magistrado singular. E 
ainda em casos mais específicos, mesmo a acusação recorrendo de matéria diversa e não 
recorrendo, por exemplo, do quantum de pena aplicado, o Tribunal não pode exasperar a pena, 
estando adstrito aos pedidos feitos pela acusação em seu apelo. No julgado analisado, o 
impetrante, representado pela Defensoria pública objetivou a concessão da ordem para 
reestabelecer a pena imposta na sentença proferida pelo magistrado singular em virtude da 
condenação pela sanção do art. 157, §2º, I e II (Roubo Majorado), visto que em sede de Recurso 
de Apelação exclusivo da defesa, o Tribunal exasperou a pena do acusado sob o fundamento de 
ter o magistrado sentenciante incorrido em erro material no cálculo da pena. Logo, a ordem foi 
concedida de ofício – “de ofício” pois conforme o entendimento dos Tribunais superiores, não 
cabe o HC substitutivo ao recurso legal previsto, se não na hipótese de flagrante ilegalidade do 
ato coator, a qual se verificou no presente caso, por isso o HC não foi conhecido, mas concedido 
de ofício pela Quinta Turma do STJ -, e em seu voto o Ministro Relator Ribeiro Dantas expõe 
que, apesar de ter sido verificado o erro aritmético no cálculo da pena, o Parquet não apresentou 
os aclaratórios para corrigir o erro no momento oportuno, tendo transitado em julgado a 
sentença para a acusação. Desse modo, violado o art. 617 do Código de Processo Penal, foi 
13 
 
proferido pelo Tribunal que reformou a sentença, acórdão que piorou a situação do paciente. 
Guilherme de Souza Nucci, preleciona que: 
 
“Não há possibilidade de a parte recorrer contra uma decisão e, em lugar de conseguir 
a modificação do julgado, segundo sua visão, terminar obtendo uma alteração ainda 
mais prejudicial do que se não tivesse recorrido. Veda o sistema recursal que a 
instância superior, não tendo a parte requerido, empreenda reformatio in pejus, ou 
seja, modifique o julgado piorando a situação de quem recorreu.”12 
 
Cinge do referido princípio que é decorrente do sistema acusatório, a separação clara 
entre o Órgão Acusatório, a Defesa e o Estado-juiz. Permitir a reformatio in pejus seria atribuir 
ao judiciário o poder de atuar como órgão acusador, não só isso, de influir ativamente em 
decisão que a Acusação (essa que detém a legitimidade para buscar a condenação daquele que 
em tese ou efetivamente, praticou um delito) concordou, pois não recorreu. Portanto, o princípio 
é de suma importância para o Direito Penal, assegurando ao réu segurança para recorrer de uma 
decisão que o condenou, tornando o sistema lógico – persuasivo racional, e não uma ‘roleta”. 
 
5. Tenho para mim que o STJ aplicou corretamente o princípio da Non Reformatio In 
Pejus, tendo em vista que o Tribunal, na análise de apelo exclusivamente defensivo exasperou 
de ofício a pena imposta pelo magistrado de primeiro grau, que incorreu em erro material na 
dosimetria da pena. Conforme o exposto, a acusação, que detém a legitimidade ativa, concordou 
com a pena imposta por não ter recorrido (preclusão lógica), o que desagua na segurança que o 
réu tem de recorrer da decisão buscando uma decisão mais benéfica para si. Se houvesse a 
permissão da reformatio in pejus, o sistema lógico-racional do processo e direito penal seria 
deturpado, virando um jogo de dados e ferindo a divisão de atores no sistema acusatório 
 
Insta ressaltarque por um silogismo, tal princípio se aplica ao recurso exclusivo da 
defesa, ou em casos específicos, como já exposto. No entanto, é necessário questionar se: é 
possível a reformatio in pejus nos casos de extremo apelo exclusivo da acusação? O que no 
caso melhoraria a situação do acusado/condenado, caracterizando a reformatio in mellius. Aqui 
avocamos então a esclarecedora lição do Ilustre Doutor Guilherme Nucci: 
“(…) há quem sustente, sob o prisma de que, no processo penal, enaltece-se o 
princípio da prevalência do interesse do réu. Parece-nos, no entanto, que a 
 
12 Nucci, Guilherme de Souza – Manual de processo penal / Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: 
Forense, 2020. Não Paginado 
14 
 
prevalência desse interesse, deve contar no mínimo, com a provocação da defesa. 
Caso tenha havido conformismo com a decisão, não vemos razão para aplicar o 
princípio. Tem sido a posição dos Tribunais Superiores. (…)”13 
 
Não obstante a esse entendimento, discordo do Ilustríssimo Guilherme Nucci e me firmo 
nas lições de Tourinho filho, que Nucci cita em seu livro: 
 
“Em contrário, afirma TOURINHO FILHO que ‘a maior e mais expressiva corrente 
doutrinaria brasileira admite poder o tribunal, ante apelo exclusivo do Ministério 
Público visando à exasperação da pena, agravá-la, abrandá-la, mantê-la ou, até 
mesmo, absolver o réu, em face do papel que o Ministério Público representa nas 
instituições políticas (…) Assim, por que motivo estaria impossibilitado, ante 
exclusiva apelação do Ministério Público, de abrandar mais ainda a situação 
processual do réu, e até mesmo absolve-lo? Se o Tribunal, em sede de revisão pode 
fazê-lo, que razão o impediria de agir da mesma maneira ao julgar uma apelação 
ministerial visando ao agravamento da pena?’ (Código de Processo Penal 
comentado, v.2, p. 364)”14 
 
Neste sentido, seria reconhecido o princípio da plenitude de defesa, consagrado no Rito 
do Tribunal do Júri, podendo ser aplicado ao procedimento comum. 
 
O princípio em discussão é tão importante ao Direito Processual Penal, que o Pretório 
Excelso acabou por editar a súmula 160: 
 
“Súmula 160 STF: É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade 
não argüida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.” 
 
Assim, ainda que haja nulidade absoluta, tema tão caro ao Direito Processual, se a 
acusação não arguiu em sede recursal esse defeito, o Tribunal não pode reconhece-la de ofício, 
sob pena de incorrer na reformatio in pejus. Cito aqui nesse mesmo sentido (de importância do 
tema), a súmula 525 do STF. 
 
13 Nucci, Guilherme de Souza – Manual de processo penal / Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: 
Forense, 2020. Não Paginado 
14 Nucci, Guilherme de Souza – Manual de processo penal / Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: 
Forense, 2020. Não Paginado 
15 
 
Diante de todo o exposto, nota-se a importância do princípio da Non Reformatio In 
Pejus, e acredito que a decisão proferida pela Quinta Turma do STJ no julgado analisado foi 
extremamente acertada, aplicando corretamente o princípio estudado. 
 
1. Princípio: Razoável Duração do Processo 
 
2. Agravo Regimental no Recurso em Habeas Corpus (RHC) nº 105.508 - SE, Relator 
Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma do STJ, julgado em 05/03/2020. 
 
3. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS 
CORPUS. 
EXCESSO DE PRAZO. INOCORRÊNCIA. INSTRUÇÃO CRIMINAL 
ENCERRADA. 
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO. AGRAVO 
DESPROVIDO. 
1. Apesar da garantia constitucional que assegura às partes a razoável duração do 
processo e a celeridade na tramitação do feito, esta Corte possui entendimento 
pacificado no sentido de que a demora para a conclusão dos atos processuais não pode 
ser verificada da simples análise dos prazos previstos em lei, devendo ser examinada de 
acordo com os princípios da razoabilidade e conforme as peculiaridades do caso 
concreto. 
2. In casu, o processo, considerando sua complexidade, seguiu marcha regular. Eventual 
retardo no término da instrução processual se deveu à pluralidade de réus, patrocinados 
por diferentes advogados. 
Os atos processuais foram praticados em prazos razoáveis, não havendo falar em desídia 
por parte do Poder Judiciário. 
3. Ademais, a instrução criminal foi encerrada e as partes já apresentaram as alegações 
finais, o que atrai a incidência da Súmula 52 do STJ. 
4. Agravo regimental desprovido. 
(AgRg no RHC 105.508/SE, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, 
julgado em 05/03/2020, DJe 13/03/2020) 
 
16 
 
4. Trata-se de Agravo Regimental no Recurso Ordinário em Habeas Corpus, o qual tratou 
principalmente do Princípio da duração razoável do processo. Positivado na Constituição 
Federal, no art. 5º, LXXVIII, preceitua que é assegurado a todos no âmbito judicial e 
administrativo, a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua 
tramitação, ou seja, é garantido as partes no processo, que o processo não se prolongue no tempo 
além do estritamente necessário e que os atos processuais sejam praticados com a maior 
celeridade possível. Insta ressaltar sendo “duração razoável” um termo aberto à interpretação, 
cabe ao Tribunal, ao analisar a arguição do prejudicado pelo tempo decorrido, amealhando as 
circunstâncias do caso, determinar se houve ou não a violação do princípio. Nesse sentido, diz 
Guilherme Nucci: 
“É incumbência do Estado procurar desenvolver todos os atos processuais no menor 
tempo possível, dando resposta imediata à ação criminosa e poupando tempo e 
recurso das partes.”15 
Ainda neste diapasão, tendo em vista a figura das prisões processuais/cautelares 
presentes em nosso ordenamento jurídico, a doutrina e a jurisprudência passaram a entender a 
incorporação de tal princípio ao instituto da prisão cautelar. Nas palavras de Nucci: 
“Em decorrência de contemporâneas posições doutrinárias e jurisprudenciais, 
emerge outro princípio constitucional, embora implícito, dentre as garantias 
fundamentais: a duração razoável da prisão cautelar. Observa-se, como fruto natural 
dos princípios constitucionais explícitos da presunção de inocência, da economia 
processual e da estrita legalidade da prisão cautelar, ser necessário consagrar, com 
status constitucional, a meta de que ninguém poderá ficar preso, provisoriamente, 
por prazo mais extenso do que for absolutamente imprescindível para o escorreito 
desfecho do processo. Essa tem sido a tendência dos tribunais pátrios, em especial 
do Supremo Tribunal Federal.”16 
Nesse contexto, no julgado ora analisado, o paciente interpôs agravo regimental contra 
a decisão que indeferiu o pleito de concessão da writ para relaxar sua prisão sob o argumento 
de que sofreu constrangimento ilegal visto que estava preso cautelarmente (sob os requisitos 
autorizadores do art. 312 do CPP) havia 08 meses e 14 dias, sem que a instrução processual 
tenha iniciado e ressaltou que a procrastinação do processo é culpa exclusiva do judiciário, que 
o magistrado de 1º Grau demorou dois meses para despachar o recebimento da denúncia. O 
 
15 Nucci, Guilherme de Souza – Manual de processo penal / Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: 
Forense, 2020. Não Paginado 
16 “ “ 
17 
 
Ministro Relator Ribeiro Dantas expõe em seu voto que não se afere a violação do referido 
princípio, ou seja, a demora nos atos processuais praticados não se verifica com simples análise 
dos prazos previstos em lei, devendo ser examinada de acordo com os princípios da 
razoabilidade e conforme as peculiaridades do processo. Assim, a Turma negou provimento ao 
agravo visto que da realidade fática, a complexidade do caso relativiza o que se entende por 
“duração razoável”, tendo seguido a marcha regular visto que a quantidade de réus veio a 
retardar a instrução se comparada a ações que há singularidade no polo passivo.Ainda assim, 
houve a incidência da súmula 52 do STJ, que analisando-a, infere a possibilidade do 
afastamento da alegação de constrangimento por excesso de prazo (violação à razoável duração 
do processo) nos atos processuais se já foi encerrada a instrução criminal. 
O Ilustre doutrinador Aury Lopes Júnior preleciona: 
“No que tange à duração razoável do processo, entendemos que a aceleração deve 
produzir-se não a partir da visão utilitarista, da ilusão de uma justiça imediata, 
destinada à imediata satisfação dos desejos de vingança. O processo deve durar um 
prazo razoável para a necessária maturação e cognição, mas sem excessos, pois o 
grande prejudicado é o réu, aquele submetido ao ritual degradante e à angústia 
prolongada da situação de pendência. O processo deve ser mais célere para evitar o 
sofrimento desnecessário de quem a ele está submetido. É uma inversão na ótica da 
aceleração: acelerar para abreviar o sofrimento do réu.”17 
Portanto, de suma importância o princípio da razoável duração do processo. Mister 
apontar que se torna excruciante ao acusado, a persecução penal que se prolonga indevidamente 
no tempo. Sendo o processo penal um instrumento de busca da verdade real e por recair sobre 
o réu a presunção de inocência, este deve levar o tempo necessário e razoável para a prolação 
de sentença seja absolutória ou condenatória que reflita a verdade dos fatos. Não se podendo 
permitir que a persecução penal seja tão célere a ponto de que seja decidida de forma prematura, 
ou tão demorada que o réu se encontre dentro de acusações por tempo indeterminado. 
Por fim, expõe-se aqui o entendimento da aplicação do princípio na fase inquisitiva da 
persecução penal. O Professor Renato Brasileiro de Lima entende que: 
“(…) diante da inserção do direito à razoável duração do processo na Constituição 
Federal (art. 5º, LXXVIII), já não há mais dúvidas de que um inquérito policial não 
pode ter seu prazo de conclusão prorrogado indefinidamente. As diligências devem 
 
17 Fundamentos do processo penal: introdução crítica / Aury Lopes Jr. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2017. Não 
paginado. (E-PUB) 
18 
 
ser realizadas pela autoridade policial enquanto houver necessidade. Evidentemente, 
em situações mais complexas, envolvendo vários acusados, é lógico que o prazo para 
a conclusão das investigações deverá ser sucessivamente prorrogado. Porém, uma vez 
verificada a impossibilidade de colheita de elementos que autorizem o oferecimento 
de denúncia, deve o Promotor de Justiça requerer o arquivamento dos autos.”18 
5. Ante a análise realizada, conclui-se que o Princípio da Razoável Duração do Processo 
é de extrema importância para o procedimento de persecução penal, inibindo ilegalidades 
relacionadas ao cumprimento de prazos pelo poder público, ditando que a marcha processual 
deve ser em tempo razoável ante as peculiaridades fáticas do processo: quantos acusados 
figuram no polo passivo, a quantidade de testemunhas e outras procedimentos inerentes ao 
processo. Do acórdão em epígrafe, concordo com o entendimento da quinta turma, ao passo em 
que não se verifica a violação ao princípio pois havia quatro acusados no polo passivo da ação 
penal, além do fato de o acusado estar legalmente preso ante a presença do periculum libertatis 
e fumus comissi delicti. Colaciono aqui uma decisão em que se mostra a nítida e até assustadora 
violação ao referido princípio, obtida do artigo19 escrito pelo Dr. Aury Lopes Júnior ao site 
“conjur.com.br”, em que houve o bloqueio das contas bancárias do réu em sede de persecução 
penal no ano de 1998, a denúncia foi apresentada apenas em 2001 e foi recebida apenas em 
2011, tendo o bloqueio se perpetrado por TREZE anos. 
 
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. BLOQUEIO DE CONTAS 
DETERMINADO HÁ 13 ANOS. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE DO 
PROCESSO. ART. 5º, LXXVIII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. Bloqueio dos 
valores depositados, a qualquer título, nas contas bancárias de que é titular o 
paciente, determinado, em 1998. 2. Denúncia ofertada três anos depois, em 2001, 
sendo recebida neste mesmo ano. TREZE anos, o paciente tem os valores das suas 
contas bancárias bloqueadas! O processo ainda está fase das alegações finais. Não 
se sabe sequer qual o possível prejuízo causado pelo paciente. 3. O inciso LXXVIII 
do art. 5º, da Constituição Federal ("a todos, no âmbito judicial e administrativo, são 
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade 
de sua tramitação"), princípio constitucional da razoabilidade do processo, impede 
que o acusado fique sob esta condição indefinidamente, aguardando que o feito tenha 
marcha processual normal. 4. O transcurso do tempo causado pela exagerada 
duração do processo contribui para disseminar um sentimento de injustiça e de 
incerteza na sociedade e gera para o acusado um grande transtorno, constituindo-se, 
 
18 Lima, Renato Brasileiro de – Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 7. Ed. 
ver., ampl. e atual. – Salvador Ed. JusPodvim, 2019. Pg. 131. 
19 https://www.conjur.com.br/2014-jul-25/direito-duracao-razoavel-processo-sido-ignorado-pais 
https://www.conjur.com.br/2014-jul-25/direito-duracao-razoavel-processo-sido-ignorado-pais
19 
 
por si só, punição. 5. O direito fundamental à razoável duração do processo é um 
direito constitucional e próprio do Estado Democrático de Direito. (TRF 1.ª R. – 3.ª 
T. – HC 0069549-49.2011.4.01.0000 – rel. Tourinho Neto – j. 13.12.2011 – public. 
19.12.2011). 
Absurda tal situação, não é de se imaginar que em um estado democrático de direito 
tal prática se torne algo comum. Não obstante, é necessário usar o princípio da razoabilidade e 
também perceber que os Tribunais tem uma grande quantidade de trabalho, de modo que a lei 
afere a algumas situações prioridade na tramitação dos processos, e as que não recebem tal 
tratamento, seguem a marcha comum, não podendo se exigir, como já exposto um processo 
absurdamente célere a ponto de conter vícios e a que não reflita a verdade dos fatos não é útil a 
finalidade do processo penal, e no mesmo sentido, um que dure “uma eternidade” não se faz 
útil dentro da visão processualista moderna. 
 
1. Princípio: Juiz Natural e Promotor Natural 
 
2. Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 80.773/MS, Relator Ministro Reynaldo Soares 
da Fonseca, Quinta Turma - STJ, julgado em 26/03/2019. 
 
3. “RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCEDIMENTO DE 
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. LAVAGEM DE DINHEIRO. ORGANIZAÇÃO 
CRIMINOSA. INVESTIGAÇÃO CONDUZIDA PELO GRUPO DE ATUAÇÃO 
ESPECIAL DE COMBATE AO CRIME ORGANIZADO (GAECO). 
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL. 
NULIDADE. INOCORRÊNCIA. MEDIDAS CAUTELARES AUTORIZADAS 
PELO JUÍZO DA 1ª VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DE CAMPO 
GRANDE/MS. PROVIMENTO N. 
162/2008 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MATO GROSSO DO SUL. 
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. NÃO VERIFICADA. 
PARTICIPAÇÃO DE POLICIAIS MILITARES NAS INVESTIGAÇÕES. 
PROCEDIMENTO LÍCITO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. 
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS IMPROVIDO. 
1. É consolidado nos Tribunais Superiores o entendimento de que a atuação de 
promotores auxiliares ou de grupos especializados, como o Grupo de Atuação Especial 
20 
 
de Combate ao Crime Organizado (GAECO) não ofende o princípio do promotor 
natural, uma vez que, nessa hipótese, amplia-se a capacidade de investigação, de modo 
a otimizar os procedimentos necessários à formação da opinio delicti do Parquet. 
2. O art. 1º do Provimento n. 162/2008 (TJMS) especializou algumas varas da capital 
para o conhecimento de medidas cautelares formuladas pelo Grupo de Atuação Especial 
de Repressão ao Crime Organizado - GAECO. Esse procedimento não se mostra 
contrário à garantia constitucional do juiz natural, consistindo em mera especialização, 
sem que se verifique a ocorrência de remanejamento, de forma excepcional e por razões 
personalíssimas, deum único processo. 
3. A interpretação do art. 6.º da Lei n. 9.296/1996 não pode ser demasiadamente estrita, 
sob pena de degenerar em ineficácia. Assim, a condução dos trabalhos de interceptação 
telefônica por órgão da Secretaria de Segurança Pública, no qual se encontram alocados 
policiais, civis e militares, não implica ilegitimidade na execução da medida constritiva. 
(HC n. 57118/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, 
julgado em 1º/10/2009, DJe 19/10/2009). 
Veja-se ainda: RHC n. 53.432/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma, 
julgado em 16/12/2014, DJe 3/2/2015. 
4. Recurso ordinário em habeas corpus improvido.” 
(RHC 80.773/MS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA 
TURMA, julgado em 26/03/2019, DJe 16/04/2019) 
 
4. O Acórdão objeto de análise aqui, tratou dos princípios do “juiz natural” e do “promotor 
natural”. No caso, a defesa do investigado por lavagem de dinheiro, organização criminisa e 
delitos contra a administração pública e ordem tributária, impetrou Habeas Corpus ao Tribunal 
de Justiça do Mato Grosso, objetivando a concessão de ordem da liberdade do réu sob o 
argumento de que a investigação feita pelo Ministério Público, assim como o Juízo que decretou 
a prisão preventiva, violam o princípio do Promotor Natural e do Juiz Natural. O Tribunal Sul 
Mato Grossense denegou a ordem do HC, o que levou o réu a interpor o Recurso Ordinário 
contra a decisão, ao Tribunal da Cidadania. Alega o recorrente que a designação do GAECO 
(Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e o pedido de prisão cautelar 
formulado por este e deferido pelo juízo, é ilegal, visto que o GAECO não detém atribuição 
para tanto, uma vez que não há organização criminosa sendo investigada, o que fere diretamente 
o princípio do Promotor Natural. Neste mesmo passo, afirma que o Juízo que deferiu a medida 
21 
 
de prisão cautelar requisitada, qual seja o da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande/MS, 
não tem competência para o processamento e julgamento da ação penal, estando fora de sua 
competência, ferindo o princípio do Juiz Natural, desaguando diretamente em nulidade. 
Tanto o princípio o Juiz Natural quanto o do Promotor Natural estão positivados no art. 
5º, LII da Constituição Federal, que por consequência garantem a efetividade do art. 5º, 
XXXVII da Carta Maior. O Princípio do Juiz Natural, consiste em assegurar ao processo um 
julgador equidistante das partes e livre de julgamentos feitos de forma parcial que possam 
beneficiar um dos litigantes, sendo atribuído de modo prévio e não em virtude de casuística ou 
levando em conta a subjetividade do réu. Nas palavras do Professor Aury Lopes Júnior: 
 
“O princípio do juiz natural não é mero atributo do juiz, senão um verdadeiro 
pressuposto para a sua própria existência. Como explicamos anteriormente, na 
esteira de MARCON, o Princípio do Juiz Natural é um princípio universal, fundante 
do Estado Democrático de Direito. Consiste no direito que cada cidadão tem de 
saber, de antemão, a autoridade que irá processá-lo e qual o juiz ou tribunal que irá 
julgá-lo, caso pratique uma conduta definida como crime no ordenamento jurídico-
penal. 
O nascimento da garantia do juiz natural dá-se no momento da prática do delito, e 
não no início do processo. Não se podem manipular os critérios de competência e 
tampouco definir posteriormente ao fato qual será o juiz da causa. Elementar que 
essa definição posterior afetaria, também, a garantia da imparcialidade do julgador, 
como visto anteriormente.”20 
 
No que se refere ao Princípio do “Promotor Natural”, este segue na mesma linha de 
conceituação do explicitado anteriormente, com nuances únicas, por óbvio. Desse modo, 
consiste na garantia de que a pessoa ao ser acusada (segundo o sistema acusatório ou misto do 
processo), o órgão do Estado determinado para prática de tal ato (centralizada na figura do 
promotor, que acusa!) deve ser previamente definida por critérios legais e constitucionais a fim 
de evitar um órgão de acusação ad hoc, ou um que leve em conta a subjetividade do acusado 
para firmar seu entendimento sobre a situação e sua consequente formação de opinio delicti. Na 
definição do Professor Edilson Mougenot: 
“Discute a doutrina acerca da existência do princípio do promotor natural. O 
conteúdo desse princípio consistiria em uma garantia do imputado de ser acusado 
 
20 Lopes Junior, Aury -Direito processual penal / Aury Lopes Júnior. – 17. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 
2020. Não paginado (E-PUB) 
22 
 
por órgão do Estado previamente escolhido por critérios legais, afastando a 
possibilidade de designações arbitrárias do Procurador-Geral. Estabelece-se, dessa 
maneira, a vedação ao acusador de exceção. 
O fundamento a tal vedação é o disposto no art. 5º, LIII, da Constituição 
Federal, que estabelece que ninguém será processado senão pela autoridade 
competente. 
Veda-se, também, a atuação de acusador ad hoc. As atribuições do Ministério 
Público somente poderão ser exercidas por integrantes da carreira (art. 129, §2º), 
não mais se permitindo o chamado procedimento penal de ofício, ou a designação de 
promotor ad hoc para determinado ato, feita pelo juiz, nas hipóteses de falta ou 
impedimento do representante do Parquet.”21 
 Tais garantias asseguram a vedação da criação de juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, 
XXXVII), que nas palavras de Nucci “seria a escolha do magistrado encarregado de analisar 
determinado caso, após a ocorrência do crime e conforme as características de quem será 
julgado, afastando-se dos critérios legais anteriormente estabelecidos.”22. 
Posto isto, podemos inferir que do julgado analisado, o GAECO, que atuou como Órgão 
Acusatório havia sido constituído previamente e instituído para atuar nos casos em que existem 
indícios de atuação de organização criminosa, conforme exposto pelo Ministro Relator em seu 
voto. Inclusive, o referido grupo especializado foi criado pela Resolução nº 12/2008, e o art. 2º 
da Resolução nº 019/2011-PGJ, de 22 de agosto de 2011, do MPMS, explicitou as funções do 
GAECO determinando e delimitando sua área de atuação. Ainda neste diapasão, o paciente 
alega que, “o Juízo da 1ª Vara do Tribunal do Júri, que deferiu os pedidos formulados pela 
acusação, não é competente para a ação principal”. Ocorre que também não condiz com a 
realidade fática o alegado pelo paciente pois o art. 1º do Provimento nº 162/2008 do Tribunal 
de Justiça do Mato Grosso do Sul, há muito tempo, instituiu a competência deste juízo, assim 
como da 2ª Vara do Tribunal do Júri, da 1ª e 2ª Vara de Execuções Penais, entre algumas outras, 
para apreciar os pedidos cautelares em matéria criminal formulados pela GAECO. 
Colacionados pelo relator diversos precedentes, de uma coletânea é possível sintetizar que não 
há ofensa ao Princípio do Promotor Natural se houve a prévia designação do órgão acusador de 
forma objetiva, em momento anterior aos fatos, apenas ocorrendo violação se houver 
 
21 Mougenot, Edilson – Curso de processo penal / Edilson Mougenot. – 13ª ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 
2019. Pg. 527 
22 Nucci, Guilherme de Souza – Manual de processo penal / Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: 
Forense, 2020. Não Paginado 
23 
 
“designação de promotor ad hoc ou de exceção com a finalidade de processar uma pessoa ou 
caso específico, o que não ocorreu na espécie.”23. Ainda neste sentido, a jurisprudência do 
Tribunal da Cidadania já reconheceu que a atuação de grupo especializado não fere o referido 
princípio pois apenas visa dar maior efetividade ao procedimento de investigação e otimizar os 
atos praticados para obter informações para formação da opinio delicti do Ministério Público.24 
Quanto a suposta violação do princípio do Juiz Natural, conforme o Ministro Relator, 
não há motivo para conceder a ordem pleiteada pelo paciente pois não houve violação alguma 
ao princípio.Em virtude do provimento que determinou a especialização de determinadas varas 
para apurar os pedidos cautelares em matéria criminal formuladas pelo GAECO, a designação 
foi anterior ao fato e não feita unicamente para julgar tampouco “caçar” o acusado, sendo mera 
especialização, não sendo contra o Princípio ora estudado do Juiz Natural, não podendo ser 
causa de nulidade “sem que se verifique a ocorrência de remanejamento, de forma excepcional 
e por razões personalíssimas, de um único processo.”25 
A importância dos princípios então se revela na medida que percebemos a necessidade 
de tais garantias para o acusado dentro do Estado Democrático de Direito, nas palavras de Aury 
Lopes Júnior: 
“o juiz é o guardião da eficácia do sistema de garantias da constituição e que lá está 
para limitar poder e garantir o débil submetido ao processo.”26 
E conforme preleciona o Ministro Celso de Mello, atualmente Decano do Pretório 
Excelso, nos autos do HC 81.963 de sua relatoria, julgado em 06/04/2001: 
“O postulado do juiz natural representa garantia constitucional indisponível, 
assegurada a qualquer réu, em sede de persecução penal, mesmo quando instaurada 
perante a Justiça Militar da União. (…). O postulado do juiz natural, em sua projeção 
político-jurídica, reveste-se de dupla função instrumental, pois, enquanto garantia 
indisponível, tem, por titular, qualquer pessoa exposta, em juízo criminal, à ação 
persecutória do Estado, e, enquanto limitação insuperável, representa fator de 
restrição que incide sobre os órgãos do poder estatal incumbidos de promover, 
judicialmente, a repressão criminal.” (grifo meu) 
(HC 81.963, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 28/10/2004). 
 
23 (HC 95447, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 19/10/2010) 
24 (RHC n. 27.780/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 24/9/2012). 
25 Fls. 11 do julgado em análise (RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 80.773 – MS) 
26 Fundamentos do processo penal: introdução crítica / Aury Lopes Jr. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2017. Não 
paginado. (E-PUB) 
24 
 
E no mesmo sentido: HC 79.865, DJ 06/04/2001. 
Nessa lógica, o Princípio do Promotor Natural, sendo figura que busca a aplicação do 
Ius Puniendi, deve ser livre e imparcial, sempre se pautando pela aplicação da lei e a busca da 
verdade real, conforme as lições do Professor Renato Brasileiro: 
“Cuida-se de verdadeira garantia do devido processo legal, destinada a proteger 
tanto o membro do Ministério Público, na medida em que lhe assegura o exercício 
pleno e independente do seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem 
se reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o Promotor cuja 
intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e pré-determinados 
estabelecidos em lei. 
Funcionando como verdadeira garantia constitucional da isenção na 
escolha dos representantes ministeriais para atuarem na persecução penal, este 
princípio visa assegurar o pleno e independente exercício das atribuições 
ministeriais, repelindo do nosso ordenamento jurídico a figura do acusador de 
exceção designado com a finalidade de processar uma pessoa ou um caso 
específico.”27 
Assim, é de se ressaltar que tais princípios são fundamentais na persecução penal, a fim 
de se garantir o Estado Democrático de Direito e a segurança do acusado ante as figuras do 
Estado-juiz e do órgão de acusação. 
5. Diante de todo exposto, há de se concluir que dentro de uma visão democrática do 
Direito Penal e do Processo penal em que devem se assegurar a imparcialidade daquele que vai 
à juízo e por meio da persecução penal busca uma condenação para que o estado exerça o Ius 
Puniendi, ou seja, o Órgão Acusatório, assim como a imparcialidade do Estado-juiz, que por 
outorga do Estado tem o poder de dizer o direito e decretar tanto a condenação do réu quanto a 
absolvição deste, é mister que não haja um direcionamento dessas figuras em virtude de um 
fato determinado e exclusivo, tornando-os despidos pré-julgamentos e garantindo a 
imparcialidade. Nesse mesmo sentido, olhando para a função da persecução penal que se traduz 
na busca da verdade real, por um silogismo, deve-se garantir a imparcialidade e abstenção de 
julgamentos subjetivos pessoais do Órgão que acusa e da figura do Julgador. 
Tão caro ao Direito Processual Penal e suas nuances, que o STF editou a súmula 704, 
que traz à baila a hipótese de violação do princípio do juiz natural nos casos de conexão ou 
 
27 Lima, Renato Brasileiro de – Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 7. Ed. 
ver., ampl. e atual. – Salvador Ed. JusPodvim, 2019. Pg. 1261 
25 
 
continência do processo nos casos de corréu com foro por prerrogativa de função de um dos 
denunciados: 
“Súmula 704 - Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido 
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro 
por prerrogativa de função de um dos denunciados.” 
 
Quanto ao Recurso Ordinário em Habeas Corpus analisado, a Quinta-Turma do STJ ao 
julgar foi correta ao não conceder a ordem da writ. Da leitura dos autos fica nítido que não há 
violação do princípio do juiz natural tampouco do promotor natural pois ambos foram 
escolhidos e designados anteriormente ao fato, tendo suas competências delimitadas por atos 
formais aptos a produzirem os efeitos jurídicos pertinentes. Também restou nítido que a 
Jurisprudência da Corte, assim como a da Corte Constitucional já enfrentou tal tema e assentou 
o entendimento que grupos especializados para combate ao crime organizado não ferem o 
Princípio do Promotor Natural. Não ferindo também o Princípio do Juiz Natural a designação 
de juízos determinados para apreciar os pedidos cautelares em matéria criminal formulados 
pelos referidos grupos especializados, tendo em vista que essa especialização foi determinada 
visando tão somente efetividade na apreciação de medidas judiciais no combate ao crime 
organizado, não caracterizando “ocorrência de remanejamento, de forma excepcional e por 
razões personalíssimas, de um único processo”, não há que se falar na violação do princípio 
pois os juízos designados apreciam TODOS os pedidos cautelares formulados pelo GAECO e 
não somente do processo em que se arguiu a violação e foi analisado aqui. 
Desse modo, concordo com o julgado e consigno que a meu ver a jurisprudência segue 
dentro de um entendimento legal, a definição dos princípios, delimitando bem a área de 
incidência destes, enfrentando matérias que podem acarretar nulidade. 
 
1. Princípio: Sigilo das votações do Tribunal do Júri. 
 
2. Agravo Regimental no Recurso Especial nº 1.604.256 – MG, Relator Ministro Jorge 
Mussi, Quinta Turma do STJ, julgado em 07/02/2019. 
 
3. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL DECIDIDO 
MONOCRATICAMENTE. ART. 
255, § 4º, II, DO RISTJ. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 568/STJ. 
26 
 
CERCEAMENTO DE DEFESA E OFENSA AO PRINCÍPIO DA 
COLEGIALIDADE. 
INOCORRÊNCIA. HOMICÍDIO QUALIFICADO. NULIDADE. SIGILO DAS 
VOTAÇÕES. 
IMPARCIALIDADE DOS JURADOS. NÃO OCORRÊNCIA. PLEITO 
ABSOLUTÓRIO. 
REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. DOSIMETRIA. 
REGULARIDADE. 
CONTINUIDADE DELITIVA. UNIDADE DE DESÍGNIOS E MESMO 
CONTEXTO FÁTICO. 
RECONHECIMENTO. POSSIBILIDADE. AGRAVO PARCIALMENTE 
PROVIDO. 
1. A teor do disposto no art. 255, § 4º, inciso II, do Regimento Interno deste Sodalício, 
com a redação dada pela Emenda Regimental n. 22/2016, o relator pode negar 
provimento ao recurso especial se as suas razões forem contrárias à jurisprudência 
dominante sobre o tema, justamente o que se verificou no presente caso. Incidência da 
Súmula n. 568/STJ. 
2. O cabimento de agravo regimental contra o julgamento singular afasta a alegação de 
violação aos princípios da ampla defesa e da colegialidade, já que a matéria pode, desde 
que suscitada, ser remetida à apreciação da Turma. 
3. No âmbitodo Tribunal do Júri, o cômputo da totalidade dos votos não se caracteriza 
como irregularidade insanável, sendo inviável o reconhecimento de nulidade processual 
na hipótese em que não se demonstrar concretamente o prejuízo à parte. 
4. O recurso especial não se mostra instrumento apto para desconstituir o julgado e 
operar a absolvição dos delitos imputados, diante da necessidade de revolvimento do 
material fático-probatório dos autos, procedimento de análise exclusiva das instâncias 
ordinárias e vedado ao Superior Tribunal de Justiça, a teor do óbice constante do 
Enunciado n. 7 da Súmula desta Corte. 
5. Esta Corte Superior de Justiça orienta-se no sentido de que se afigura possível, na 
hipótese em que reconhecida mais de uma qualificadora, a utilização de uma delas com 
o fim de reconhecer a forma qualificada do delito, e das outras para justificar a 
exasperação da pena na primeira etapa da dosimetria, sem que com isso se configure bis 
in idem. 
27 
 
6. O artigo 71, parágrafo único, do CP admite o reconhecimento da continuidade 
delitiva, ainda que se trate de crimes cometidos com violência ou grave ameaça, em 
desfavor de vítimas diferentes e bens personalíssimos. 
7. Na espécie, não há controvérsia em relação às circunstâncias em que praticados os 
crimes, pois ocorridos dentro do mesmo contexto fático e derivados de desígnios 
absolutamente idênticos - recuperação forçada da posse de terras invadidas por 
trabalhadores rurais, após tentativa frustrada de reavê-las por intermédio da Justiça -, 
tudo a indicar que os atos criminosos realizados pelos agravantes encontram-se 
entrelaçados, ou seja, têm vinculação fático-temporal, devendo ser reconhecida e 
aplicada a regra do art.71, parágrafo único, do CP, sob pena de excessivo e 
desproporcional apenamento. 
8. Diante da desfavorabilidade de parte das circunstâncias judiciais, especialmente as 
circunstâncias dos crimes, bem como a extrema gravidade dos fatos praticados e o 
excessivo número de vítimas dos homicídios qualificados (cinco consumados e oito 
tentados), impõe-se a elevação da maior sanção ao triplo, consoante limite estabelecido 
no parágrafo único do art. 71, do Código Penal, quantum este que se entende suficiente 
para a prevenção e repressão das condutas incriminadas. 
9. Agravo regimental parcialmente provido, para reconhecer-se a continuidade delitiva 
entre os delitos de homicídio (consumados e tentados), com o consequente 
redimensionando das penas dos agravantes, nos termos do voto. 
(grifo meu) 
(AgRg no REsp 1604256/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, 
julgado em 07/02/2019, DJe 07/03/2019) 
 
4. No julgado acima foi tratado o princípio do sigilo das votações do tribunal do júri. 
Inicialmente faz-se mister conceituarmos o referido princípio, partindo do rito especial do 
Tribunal do Júri. 
O Professor Renato Brasileiro conceitua o Tribunal do Júri como: 
“ (…) um órgão especial do Poder Judiciário de primeira instância, pertencente à 
Justiça Comum Estadual ou Federal, colegiado e heterogêneo, formado por um juiz 
togado, que é seu presidente, e por 25 (vinte e cinco) jurados, 7 (sete) dos quais 
compõem o Conselho de Sentença, que tem competência mínima para o processo e 
julgamento dos crimes dolosos contra a vida, temporário, porquanto constituído para 
sessões periódicas, sendo depois dissolvido, dotado de soberania quanto às decisões, 
28 
 
tomadas de maneira sigilosa e com base no sistema da íntima convicção, sem 
fundamentação, de seus integrantes leigos.”28 (grifo meu) 
Sendo o Júri um instituto tão importante ao Direito Processual Penal, ele goza de 
garantias constitucionais, positivadas na constituição federal no art. 5º, XXXVIII, alíneas a, b, 
“c” e “d”, e neste ponto, entramos no princípio ora estudado. O princípio do sigilo das votações 
do Tribunal do Júri, descrito na referida alínea “b”, consiste na garantia de que as votações do 
conselho de sentença, ou seja, dos 7 jurados que o compõem (esses, pessoas físicas e do povo), 
são sigilosas, assim, ninguém deve ou pode saber o teor que motivou votação de cada jurado. 
Tanto é que, a votação dos quesitos é feita em sala especial com a presença do juiz-presidente, 
os jurados, o ministério público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e 
o oficial de justiça. Cada jurado recebe uma cédula contendo a palavra “sim” e a palavra “não”, 
onde, indagado sobre o quesito (art. 483 CPP), serão disponibilizadas duas urnas, uma para 
colocar a resposta em relação ao quesito e outra para depositar a cédula não usada (art. 486, 487 
e 488 do CPP), tal procedimento assegura o sigilo total das votações. Cinge ainda deste 
princípio que para assegurar o sigilo, nos quesitos formulados em relação a materialidade do 
fato e a autoria do crime, se no cômputo dos votos houver a negativa de mais de 3 votos, o 
cômputo deve ser imediatamente interrompido e o acusado absolvido, inteligência do art. 483, 
§1º do CPP. Ainda, se os quesitos acima tiverem 3 respostas afirmativas, o cômputo dos votos 
é interrompido e os jurados são indagados do quesito: “O jurado absolve o acusado?” (art. 483. 
§2º CPP). O objetivo é resguardar a segurança dos jurados evitando ao máximo qualquer 
possível represália que possa sofrer de terceiros, assim como preservar a independência de cada 
jurado para decidir sobre com sua mais íntima e livre convicção. Nesse sentido, o Professor 
Paulo Rangel: 
“O sigilo visa evitar que se exerça pressão sobre a votação dos jurados, seja com 
perseguições, ameaças, chantagens, vantagens ou qualquer outro expediente que 
possa perturbar a livre manifestação do conselho de sentença.”29 
Sendo os votos de cada jurado motivados por sua íntima convicção acerca dos autos, 
temos que a votação no tribunal do júri constitui verdadeira e única exceção ao princípio da 
fundamentação das decisões judiciais, de modo que os votos sendo sigilosos e gozando dessa 
proteção, jamais podem ser exteriorizados no decurso do processo enquanto estiver ocorrendo 
 
28 Lima, Renato Brasileiro de – Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 7. Ed. 
ver., ampl. e atual. – Salvador Ed. JusPodvim, 2019. Pg. 1372 
29 Rangel, Paulo – Tribunal do Júri: visão linguística, histórica, social e jurídica / Paulo Rangel. – 6ª ed., atual. e 
ampl. – São Paulo: Atlas, 2018. Não Paginado (E-PUB). 
29 
 
o julgamento pelo conselho de sentença. Neste diapasão, faz-se necessário trazer à baila “um 
dos braços” do princípio do Sigilo das votações do júri, qual seja o sistema da 
“Incomunicabilidade dos jurados”. Esse significa que os jurados não devem se comunicar entre 
si ou com outra pessoa alheia ao procedimento do júri, não podendo manifestar sua opinião 
sobre o processo tampouco seu entendimento acerca do caso (art. 466, §1º CPP), sendo que a 
quebra dessa incomunicabilidade torna possível influenciar outro jurado ou ainda receber 
influência de 3º, e acaba por macular o rito e causar nulidade absoluta do procedimento. 
Segundo Renato Brasileiro: 
“A fim de se evitar que os jurados possam conversar livremente, inclusive informando 
qual seria o sentido do seu voto, é comum que o Oficial de Justiça fique próximo a 
eles. Enquanto a sessão de julgamento não terminar, ficam os jurados 
incomunicáveis, significando que não podem voltar para casa, nem falar ao telefone 
ou mesmo ler mensagens em celulares ou aparelhos semelhantes. Qualquer contato 
com o mundo exterior, estranho às partes, aos funcionários da Vara e aos outros 
jurados, serve para quebrar a incomunicabilidade, uma vez que ninguém poderá 
garantir não ter havido qualquer tipo de pressão ou sugestão para o voto. Logo, uma 
vez suspenso o julgamento (por exemplo, em virtude do adiantado da hora), não 
poderá o jurado retomar a sua casa. Na verdade, em homenagem à 
incomunicabilidade, deve permanecer no prédio do Fórum, dormindo em local 
apropriado, fazendo suasrefeições e atendendo suas necessidades ali mesmo, em 
situações que, não raras vezes, acarretam enorme transtorno e desconforto (v. art. 
497, VIII).”30 
Neste contexto, faz-se necessário ressaltar o entendimento acerca do atinente a 
incomunicabilidade, aonde devemos usar a proporcionalidade ante as diversas circunstâncias 
que podem acontecer no dia-a-dia forense. Colaciono então o ditame pelo Desembargador 
Hoeppner Dutra na RJTJSP 41/349: 
"o que a lei proíbe é a comunicabilidade dos jurados no que diz respeito ao mérito 
do julgamento, visando que qualquer deles exteriorize sua decisão e, dessa forma, 
influa no julgamento dos demais, favorecendo ou prejudicando qualquer das partes. 
No caso, a ter-se em conta a invocação feita, o jurado apenas teria perguntado a 
forma de votar, ou seja, procurando saber a maneira de proceder quanto às respostas 
dos quesitos, nada mais, fato que em si não viola o princípio da incomunicabilidade, 
porque nada exteriorizou o propósito de seu julgamento sobre o mérito. Portanto, 
 
30 Lima, Renato Brasileiro de – Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 7. Ed. 
ver., ampl. e atual. – Salvador Ed. JusPodvim, 2019. Pg. 1375. 
30 
 
desde que o diálogo se restringiu à forma de votar, não há como falar-se em 
nulidade"31 (grifo meu) 
Do julgado em análise aqui, a defesa dos acusados por múltiplos homicídios 
qualificados, objetou a decisão que condenou os réus, por meio do recurso interposto, arguindo 
a nulidade do julgamento pelo Tribunal do Júri por violação à garantia do sigilo das votações. 
Alega, sumariamente, que não foi respeitado o procedimento previsto no art. 483 do Código de 
Processo Penal, de modo que já atingida a maioria de votos para o quesito, foram computados 
a totalidade dos votos, sendo que deveria ter sido interrompida quando se verificou a maioria. 
A importância do sigilo das votações, e nesse caso, materializada no respeito ao 
procedimento determinado pelo Código de Processo Penal garante que os jurados não sofram 
represálias ou opressões de terceiros estranhos ou partes do processo, também assegurando que 
a motivação do voto de cada jurado seja de sua íntima e própria convicção acerca dos autos, 
não recebendo influências e opiniões de terceiros ou de outro jurado. 
No julgado, o Ministro Relator na fundamentação de seu voto adotou as razões do 
Acórdão proferido em 2ª Instância que expôs a distinção entre o sigilo das votações (garantia 
constitucional) e a apuração dos votos (que deve ser pública). Ainda nesse sentido, trouxe à 
baila precedentes tanto do Tribunal da Cidadania quanto do Pretório Excelso para corroborar 
seu entendimento de que no processo penal, no tocante as nulidades, vigora o Princípio da pas 
de nullité sans grief (art. 563 CPP), e tanto as nulidades relativas quanto as absolutas dependem 
da prova de prejuízo para a parte, ensejando na anulação de atos processuais, e não sendo 
provado o efetivo prejuízo, subsistem os atos e seus efeitos. Inclusive, a jurisprudência 
assentada preleciona que “a não interrupção no cômputo dos votos, mesmo após a definição 
do veredicto, configura mera irregularidade, não sendo causa de nulidade do Júri.”32 
Assim, o Tribunal não reconheceu a violação do Princípio do sigilo das votações do 
Tribunal do Júri, não anulando a sessão que condenou os réus, mas acabou por dar parcial 
provimento ao Recurso para tão somente reconhecer a continuidade delitiva entre os delitos de 
homicídio (consumados e tentados), conforme requerido pela Defesa. 
5. É possível concluir diante do exposto que o procedimento do Júri como instituto do 
Direito Processual Penal que lida diretamente com os crimes dolosos contra a vida é de extrema 
 
31 (TJSP ~ Rei. Hoeppner Dutra - RJTJSP 41/349) 
32 (AgRg no REsp 1451792/PB, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR 
CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA - STJ, julgado em 18/08/2015, DJe 01/09/2015) 
31 
 
importância para manutenção da ordem constitucional e jurídica. O garantia do sigilo das 
votações do Tribunal do Júri é mister para o procedimento, visto que os jurados decidem por 
sua intima convicção acerca dos autos. Se eventualmente receberem ameaças ou influência de 
terceiros, afetando sua convicção e influenciando na sua decisão acerca do juízo de formação 
de culpa que recairá sobre o acusado, maculará totalmente o procedimento, deturpando o 
objetivo do Tribunal do Júri. O princípio também garante a segurança dos jurados. 
Importante ressaltar também que a decisão exarada pelo conselho de sentença quanto 
aos quesitos a eles formulados não se coaduna com o Princípio da fundamentação das decisões 
judiciais, sendo a única decisão dentro do processo que prescinde de fundamentação. Visto que 
emana da intima convicção dos jurados, a fundamentação de tal decisão afrontaria os princípios 
do sigilo das votações do tribunal do júri: 
“os quesitos são perguntas formuladas aos jurados para que se pronunciem quanto 
ao mérito da acusação. Como os jurados não fundamentam seu voto, porquanto 
vigora o sigilo das votações há necessidade de elaboração de quesitos para que se 
possa colher, por maioria dos votos, o veredito do Conselho de Sentença.”33 
Não obstante a análise feita do julgado, não concordo com o posicionamento do 
Tribunal em relação a nulidade do procedimento em razão da violação do princípio do sigilo 
das votações do júri. Cinge da própria teoria do processo que “o procedimento são os atos 
ordenados/organizados praticados dentro do processo, para chegar a sua finalidade, o Ius 
Puniendi”34. No livro “Nulidades no processo Penal”, o Dr. Ricardo Jacobsen preleciona que: 
 
“No processo penal, o procedimento, nas palavras de Carrara, serve como um freio 
para o juiz. Existe, portanto, nessa dimensão, um fim político das formas processuais: 
a forma não é tão somente uma garantia de justiça, mas uma garantia de confiança 
dos cidadãos no direito. Assim é que a legitimidade de um processo encontra na forma 
sua matriz. Como se vê, a cláusula due process of law poderia ser arguida para 
justificar a importância da forma.35 
 
Diante disso, tenho que o respeito as formas determinadas pelo procedimento adotado 
dentro do processo devem ser levadas à risca. Apesar do princípio pas de nullité sans grief, me 
 
33 Lima, Renato Brasileiro de – Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 7. Ed. 
ver., ampl. e atual. – Salvador Ed. JusPodvim, 2019. Pg. 1661 
34 Definição dada pelo professor Eduardo Sorrentino na aula de 27/04/2020 
35 Gloeckner, Ricardo Jacobsen – Nulidades no processo Penal / Ricardo Jacobsen Gloeckner. – 3ª ed. – São 
Paulo: Saraiva, 2017. Pg. 34 
32 
 
parece que mitigar as consequências da não adoção dos procedimentos dentro do processo é 
desrespeitar o que foi posto pelo legislador. Entendo que, do ponto de vista da economia 
processual é extremamente custoso anular todo o procedimento do Júri, mas subverter a ordem 
legal posta, é para mim extremamente contra o que tanto pregamos dentro do Estado 
Democrático de Direito. 
Assim, apesar da jurisprudência assentada nos Tribunais Superiores, não concordo com 
o Acórdão proferido pela Quinta-Turma do STJ. Isso em momento algum significa que apoio 
os crimes cometidos ou que acho que o julgamento deveria ser diferente, mas não é aceitável 
que os fins justifiquem os meios. 
 
1. Princípio: Vedação das Provas Ilícitas 
 
2. Habeas Corpus nº 505.705/RJ, Relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma - STJ, 
julgado em 17/12/2019. 
 
3. PROCESSO PENAL. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O 
TRÁFICO. 
NULIDADE. PROVA ILÍCITA. BUSCA DOMICILIAR AUTORIZADA POR 
TERCEIRO. 
AUSÊNCIA DE FUNDADAS RAZÕES PARA O INGRESSO FORÇADO DOS 
POLICIAIS. 
ABSOLVIÇÃO. WRIT NÃO CONHECIDO. MANIFESTA ILEGALIDADE 
VERIFICADA. 
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação de que não cabe

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