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Estratég ia em p resarial: u m a visão co n tem p o rân ea d as o rg an izaçõ es R en a to R ib eiR o Renato RibeiRo ESTRATÉGIA EMPRESARIAL UMA VISÃO CONTEMPORÂNEA DAS ORGANIZAÇÕES Código Logístico 58358 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6235-5 9 788538 762355 Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações IESDE BRASIL S/A 2019 Renato Ribeiro Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ R372e Ribeiro, Renato Estratégia empresarial : uma visão contemporânea das organi- zações / Renato Ribeiro. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019. 232 p. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6235-5 1. Administração de empresas. 2. Planejamento empresarial. 3. Planejamento estratégico. I. Título. 19-56868 CDD: 658.4012 CDU: 005.51 ©2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: turk_stock_photographer/BrianAJackson/AnaMOMarques/iStock.com Renato Ribeiro Doutor em Engenharia da Produção – Gestão de Negócios pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Bacharel em Administração pela Faculdade de Administração e Economia (FAE). Licenciado em Disciplinas Especializadas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Palestrante, consultor e empresário. Professor no ensino superior, com experiência na área de administração e nos seguintes temas: gestão estratégica, gestão empreendedora, gestão de marketing e gestão do conhecimento. Avaliador do MEC/Inep. Sumário Apresentação 7 1 Fundamentos da estratégia 9 1.1 O que é estratégia? 10 1.2 Origem militar da estratégia 11 1.3 Conceito de estratégia 11 1.4 Os 5 Ps da estratégia 14 1.5 As escolas do pensamento estratégico 20 1.6 Uma visão crítica e integradora das escolas estratégicas 26 2 Análise do negócio e transformação empresarial por meio dos cenários 35 2.1 Conceito de negócio 36 2.2 Cenários e informação 41 2.3 Gestão estratégica: um novo modelo de organização 45 2.4 Etapas da gestão estratégica 48 3 O ambiente em que as empresas operam 55 3.1 Conceito de ambiente organizacional 55 3.2 Níveis de análise do ambiente empresarial 58 4 Análise do ambiente geral 63 4.1 Análise do ambiente geral ou macroambiente 64 4.2 Finalidade da análise do macroambiente 67 4.3 Macroambiente e estratégia organizacional 70 4.4 Desenvolvimento das ações: análise SWOT cruzada 76 5 Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 81 5.1 Compreendendo o ambiente operacional ou de tarefas 81 5.2 Componentes do ambiente operacional ou de tarefas 83 5.3 Análise estrutural da indústria (modelo das cinco forças de Porter) 85 5.4 O ciclo de vida do setor 96 5.5 Análise do tamanho e crescimento do mercado 102 5.6 Fatores-chave ou críticos de sucesso 109 6 Análise do ambiente interno 115 6.1 O que significa ambiente interno 115 6.2 Análise do ambiente interno de uma organização 116 6.3 Aspectos importantes do ambiente interno de uma organização 118 6.4 Pontos fracos e pontos fortes 121 6.5 Análise das competências organizacionais 123 6.6 Cadeia de valor 127 7 Ferramentas do diagnóstico estratégico 135 7.1 O que significa diagnóstico estratégico 135 7.2 Ferramentas do diagnóstico estratégico 136 7.3 Matriz GE/Atratividade do mercado 145 7.4 Matriz de Parentesco 147 7.5 Matriz SWOT (Análise SWOT) 148 7.6 Como fazer a Análise SWOT 152 8 O processo de formulação de estratégias 157 8.1 Estratégias genéricas 157 8.2 Formulação de estratégias organizacionais 164 8.3 Estratégias funcionais 168 9 O planejamento estratégico: a trilha para o sucesso 175 9.1 O processo estratégico 176 9.2 Evolução do planejamento estratégico 177 9.3 A importância do planejamento estratégico 183 9.4 Tipos de planos 184 9.5 A importância da missão e da visão 186 10 Decisões estratégicas: modelos 195 10.1 O que é uma decisão estratégica 195 10.2 Tipos de decisão estratégica 197 10.3 Níveis de decisões organizacionais 199 10.4 O processo de tomada de decisões 202 10.5 Modelos de tomada de decisões 205 11 Controle estratégico 209 11.1 Controle organizacional e controle estratégico 209 11.2 O processo de controle estratégico 215 11.3 Ferramentas de controle 219 Gabarito 225 Apresentação Atualmente, um dos aspectos do meio organizacional mais discutido diz respeito ao processo e à elaboração da estratégia empresarial. Qual seria, todavia, a razão dessa supervalorização do tema? Por que esse interesse surgiu entre os empreendedores? Uma leitura dessa situação pode indicar a saudável preocupação em promover uma maior aproximação entre a empresa e a realidade social dos clientes. Registramos esse movimento, assim, como um processo positivo e fundamental ao amadurecimento social. Outra questão por muito tempo refletida foi a dinâmica do mercado atual, na qual o empresário deve analisar seu empreendimento e responder à questão: “por que as pessoas comprariam da minha empresa, e não da concorrente?” Toda empresa, independentemente do porte, busca crescer e se destacar no mercado. A competição, porém, está cada vez mais acirrada, os consumidores revelam-se mais exigentes e têm muitas opções, além de as boas oportunidades parecerem não surgir continuamente. Existem mais empresas, e as margens de lucro são cada vez menores. Ainda, os principais concorrentes não são somente aqueles mais próximos ao seu negócio, ou com a mesma característica, tendo em vista que a acessibilidade a produtos similares foi facilitada pela tecnologia. Estar atento à concorrência é fundamental para qualquer empresa. Saber como o concor- rente se relaciona com os clientes, ou se fará uma promoção importante na próxima semana, ou, ainda, se abrirá uma nova filial por perto, pode fazer com que seu comércio tenha condições de se antecipar e, assim, criar novos produtos ou até mesmo melhorar a qualidade do atendimento. Nosso compromisso é apresentar a você os principais conceitos relativos à estratégia operacional nas organizações. Para tanto, esta obra está organizada com base no processo estratégico e sua implementação nas empresas. Assim, ela se estrutura em três etapas: análise, formulação e implementação das estratégias. Além disso, esta obra pretende responder a quatro questões fundamentais: (i) Como criar valor para o cliente e ganhar dinheiro?; (ii) Como melhorar a competitividade diante dos atuais ou potenciais concorrentes?; (iii) Como prever as mudanças que, favorável ou desfavoravelmente, causarão impacto em seu negócio?; e (iv) Como escolher o melhor caminho a ser seguido no futuro e garantir o crescimento a longo prazo? O objetivo é ajudá-lo na difícil tarefa de obter respostas e implementar decisões que correspondam às dúvidas surgidas. É importante ressaltar que essas percepções e reflexões propiciam a construção de uma nova roupagem ao conhecimento estratégico empresarial. Uma roupagem mais contempo- rânea e vinculada às mudanças em tempos de um novo ciclo de evolução, agregada às novas tecnologias de gestão, sem perder de vista o sentido prático de sua aplicação no contexto das organizações. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações8 Por fim, Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações pretende ainda contribuir com os empreendedores para melhor utilizarem a estratégia empresarial como importante instrumento administrativo de tomada de decisões, garantindo, assim, a lucratividade e a perpetuidade das empresas. Bons estudos! 1 Fundamentos da estratégia As empresas precisam, diante de uma série de indefinições políticas e econômicas com as quais os empresários e executivosestão se deparando atualmente, vencer as incertezas e determinar os procedimentos necessários para o seu desenvolvimento, isto é, crescer com inteligência e competitividade. Esse é o ponto focal, a preocupação quanto ao seu futuro e suas relações com o ambiente na busca do sucesso empresarial. E isso afeta diretamente a economia e os negócios. Pelo menos por enquanto, nossa única certeza é de que haverá mais perguntas que respostas. Diante desse cenário, essa busca acontece tendo em vista que alterações nos hábitos de consumo da população, mudanças demográficas, surgimento de novas tecnologias e sua incorporação em produtos e serviços causam impactos profundos nas organizações de negócios, ameaçando sua sobrevivência ou oferecendo novas oportunidades de crescimento. Um planejamento estratégico bem realizado torna-se indispensável como uma saída efetiva no que diz respeito a se preparar para os desafios futuros. Assim, o papel da gestão das empresas se modifica. Já não é mais possível continuar olhando somente para dentro das organizações. Já não basta ter uma empresa que funcione muito bem em termos operacionais, ou seja, só eficiência não é mais suficiente. É preciso saber o que está acontecendo no ambiente empresarial em que se desenvolvem suas atividades, acompanhado pelas seguintes reflexões: • Será que aquilo que minha empresa faz ainda é o que o mercado quer? • Será que os consumidores ainda precisam do meu produto ou serviço? • Será que eles ainda estão dispostos a pagar a mesma coisa por um produto ou serviço que não se transformou e que não traz nenhuma novidade? Para alcançar a situação de sucesso, as organizações precisam ser capazes de criar um modelo competitivo que as diferencie e permita superar os concorrentes. É necessário que elas estabeleçam uma estratégia adequada que se fundamente em dois fatores: objetivos coerentes e compreensão do mercado em que o negócio está inserido. Em outras palavras, as empresas precisam adotar um modelo de administração ou gestão que enfatize uma constante avaliação das mudanças que estão acontecendo em seu ramo de atividades, uma reflexão contínua sobre as tendências que essas transformações apresentam e seu impacto potencial no negócio, acompanhadas de alterações na forma de condução da empresa, ou seja, em sua estratégia competitiva. Nesse contexto, o lançamento de um novo produto é uma questão estratégica? Sim, porque, ao fazê-lo, é necessário efetuar uma série de análises no ambiente da empresa (segmentação de mercado, análise de concorrentes, evolução tecnológica, estrutura de preços etc.), bem como de fatores internos da empresa (capacidade instalada, tecnologia, estrutura de custos, estrutura de comercialização etc.) e, posteriormente, efetuar a interligação entre Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações10 as análises dos fatores externos e as dos fatores internos da empresa. Feito isso, a questão abordada pode ser considerada estratégica. Em um mundo cada vez mais competitivo, é essencial que as organizações tenham uma boa estratégia competitiva e corporativa. A estratégia competitiva é uma forma de atuação em que uma empresa está em competição com outras e age em resposta às suas estratégias. Esse tipo de estratégia pretende conferir vantagens à empresa em relação aos seus concorrentes. 1.1 O que é estratégia? Estratégia é uma palavra com origem no termo grego strategia, que significa plano, método, manobra ou estratagema, usado para alcançar um objetivo ou resultado específico. Na sua origem, essa palavra estava estritamente relacionada com a arte de fazer guerra de um líder militar, como um general, por exemplo. Mais tarde, passou a ser mais abrangente, sendo que atualmente está relacionada com a vertente militar, econômica, psicológica e política da preparação para a defesa de um país contra uma determinada ameaça. Pode significar planejamento bélico, isto é, a combinação e aplicação dos recursos bélicos no comando de grandes forças militares. De acordo com o pensamento de Nicolau Maquiavel, presente em sua obra O Príncipe (2007), a estratégia estabelecia a ligação próxima e óbvia entre a política e o militar durante um conflito. Na altura da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os avanços tecnológicos mudaram as estratégias militares, fato que criou novos tipos de conflitos, como a Guerra Fria (1947-1991), a guerra revolucionária e a guerra subversiva. A palavra estratégia tem vários significados e é um conceito presente em vários contextos, sendo, por isso, de difícil definição. Em sentido figurado, uma estratégia normalmente é estipulada para ultrapassar algum problema, e, nesse caso, pode ser sinônima de habilidade, astúcia ou esperteza. O pensamento estratégico é essencial para o ser humano e pode ser aplicado em várias situações, tanto no âmbito laboral quanto no contexto pessoal. Existem também vários jogos de estratégia, que servem para estimular e desenvolver o pensamento estratégico dos jogadores. No xadrez, por exemplo, os bons jogadores têm estratégias bem definidas e conseguem pensar no movimento das suas peças com várias jogadas de antecedência. Estratégia se refere a como fazer. Pode ser representada por caminhos, maneiras ou ações formuladas e adequadas para alcançar – preferencialmente de maneira diferenciada – metas, desafios e objetivos, no melhor posicionamento da empresa perante seu ambiente. Além disso, diz respeito à utilização de todos os recursos para atingir um objetivo a longo prazo. Trata-se do programa geral para garantir o desempenho da organização que a levará ao alcance de seu objetivo. Ela é desempenhada consciente e racionalmente pelos administradores e determina uma mesma direção, ou melhor, um padrão de reação da empresa ao contexto em que está inserida. Vídeo Fundamentos da estratégia 11 Diante disso, a estratégia empresarial corresponde ao conjunto de metas, finalidades, fundamentos e planos que permitem chegar até esse objetivo. Ela é postulada com base nas atividades da organização e na sua missão (que tipo de empresa pretende ser). 1.2 Origem militar da estratégia Há 2.500 anos, Sun Tzu1, um general chinês, escreveu um li- vro denominado A arte da guerra. Ele nos ensina que o méri- to supremo consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar. O autor ainda nos mostra com grande clareza como tomar a iniciativa e combater qualquer inimigo: “se você se conhece e ao inimigo, não precisa temer o resultado de uma centena de combates” (TZU, 2001). A obra transmite, em sua essência, que o conhecimento do mercado, por meio de pesquisa, da análise dos pontos fortes e fracos da empresa e do conhecimento das ameaças que poderão ser enfrentadas, é o pressuposto da estratégia. A palavra estratégia originalmente significava (em sua derivação do grego strategos) general no comando das tropas. Seu uso já era conhecido 500 anos a.C. e, com as mudanças advindas ao longo do tempo, a palavra passou a ser usada também no ambiente empresarial, como uma habilidade gerencial. A esse respeito, de acordo com Tavares (2007), o termo “tornou-se muito comum nas diversas áreas do mercado. No período que antecedeu Napoleão Bonaparte, estratégia significava arte ou ciência de conduzir forças militares para derrotar o inimigo ou abrandar os resultados da derrota”. Fazendo uma analogia da estratégia de guerra com a gerencial, podemos inferir que existe, hoje, uma guerra empresarial, na qual a organização precisa definir a sua tática baseada no autoconhecimento, bem como no estudo e na análise permanentes dos ambientes competitivos e da concorrência. Assim, ela é capaz de se impor em um posicionamento diferenciado, que é a utilização da própria força para derrotar ou anular o oponente (concorrente), afinal: “Se conhecemos o inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado. Se nos conhecemos, mas não ao inimigo, para cada vitória sofremos uma derrota. Se não nos conhecemos nem ao inimigo,sucumbiremos em todas as batalhas” (TZU, 2001, p. 85). 1.3 Conceito de estratégia Apesar de o termo ter origem no militarismo, precisamos entender que os negócios não são uma guerra. Muitas vezes ouvimos declarações que dizem o contrário, destacando o calor da batalha na concorrência empresarial. 1 Sun Tzu foi um general na antiga China, há mais de 2.500 anos. Sua obra A arte da guerra serviu de base para os círculos militares da Rússia e da China. Foi primeiramente traduzido para o francês, em 1872, e, posteriormente, para o inglês, em 1905. Vídeo Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações12 Essa é, portanto, uma expressão empresarial tolerável. Guerra e negócios podem até ter elementos comuns, mas, na totalidade de seus aspectos, são distintos. O conceito de estratégia é encontrado com diferentes conotações em diversos contextos, seja na esfera teórica da academia ou na realidade das organizações. Além disso, é um conceito que, ao ser incorporado ao vocabulário da ciência da administração, veio evoluindo ao longo das últimas décadas, com as contribuições de diversos pesquisadores na área. Portanto, uma definição exata, precisa e única para estratégia não será encontrada, mas, sim, uma miríade de definições que foram surgindo nas últimas décadas, principalmente na academia, sendo que várias delas têm sido validadas e utilizadas por muitas empresas da vida real, enquanto muitas outras definições se constituíram em modismo passageiro e não se consolidaram. Estratégia é a arte de planejar e colocar o plano em ação, com o objetivo de alcançar ou manter posições relativas e potenciais favoráveis a futuras ações táticas sobre um objetivo e procurar condições favoráveis para alcançar objetivos específicos. Ou seja, refere-se ao programa geral para a consecução dos objetivos de uma organização e, portanto, para o desempenho de sua missão. Trata-se de uma forma de direcionar a empresa ao aproveitamento dos recursos que possui e à orientação de um caminho a seguir, frente a diferentes objetivos. Para Stoner (1985, p. 141) Estratégia é o programa geral para a consecução dos objetivos de uma organização e, portanto, para o desempenho de sua missão. A palavra programa implica, em nossa definição, um papel ativo, consciente e racional desempenhado por administradores na formulação da estratégia da organização. Uma estratégia estabelece uma mesma direção para a organização em termos de seus diversos objetivos e orienta o aproveitamento dos recursos usados para a organização seguir em direção a estes objetivos. Ainda de acordo com Stoner (1985, p. 141), a estratégia também pode ser definida como “o padrão de resposta da organização ao seu ambiente no tempo”, pois ela estabelece uma associação entre os vários recursos de uma organização para enfrentar os desafios e riscos apresentados pelo mundo exterior. O autor também afirma que toda organização tem uma estratégia – não necessaria- mente boa –, mesmo que esta nunca tenha sido formulada explicitamente. Isto é, toda organi- zação tem uma relação com seu ambiente, que pode ser estudada e descrita: “Esta visão de estratégia inclui organizações onde o comportamento dos administradores é de reação – de resposta e ajustamento ao ambiente sempre que necessário” (STONER, 1985, p. 143). Von Neumann e Morgenstern (1944, p. 137, tradução nossa) concluem que ela se refere a “uma série de ações tomadas por uma empresa e definidas de acordo com uma situação particular”. Para Drucker (1985), estratégia diz respeito à análise da situação presente e à sua mudança, se necessário. Já Ansoff, na obra Administração estratégica (1983), descreve-a como a regra para tomar decisões determinadas por fatores como escopo produto/mercado, vetor de crescimento, vantagem competitiva e sinergia. Fundamentos da estratégia 13 Por sua vez, em Implantando a administração estratégica (1993), Ansoff e McDonnel afirmam que a estratégia está preocupada com os objetivos de longo prazo e com os meios para alcançá-los, os quais afetam o sistema como um todo. Michael Porter (1991) provocou uma revolução intelectual nas empresas atuais no que diz respeito à estratégia, com os conceitos de estratégia e vantagem competitiva. O autor também fundamentou conceitos de estratégias genéricas (custo, diferenciação e enfoque). Segundo Porter (1991), se uma empresa busca a vantagem competitiva, deverá optar pelo tipo de vantagem que buscará obter e como pretende alcançá-la. Essa especificação garantirá sua real funcionalidade, já que o “tudo para todos” não fornecerá nada à empresa além da mediocridade estratégica, ou seja, ela não obterá nenhuma vantagem competitiva real. Ainda de acordo com Porter, em seu livro Estratégia competitiva (1991), o objetivo de uma estratégia é encontrar uma posição dentro do mercado, de forma que a organização possa se defender contra as forças competitivas dos concorrentes ou influenciá-las a seu favor. Outro autor apresenta a sua definição: Estratégia é criar uma posição exclusiva e valiosa, envolvendo um diferente conjunto de atividades. Se houvesse apenas uma única posição ideal, não haveria necessidade de estratégia. As empresas enfrentariam um imperativo simples – ganhar a corrida para descobrir e se apropriar da posição única. (TAVARES, 2007) Dentro dessa perspectiva e considerando a visão e o pensamento dos diversos autores, podemos conceituar estratégia como o conjunto de grandes propósitos, objetivos, metas, políticas e planos para concretizar uma situação futura desejada, considerando as oportunidades oferecidas pelo ambiente e os recursos da organização. Contudo, essa palavra há muito tem sido usada implicitamente de várias maneiras. O reco- nhecimento explícito de múltiplas definições pode ajudar as pessoas a manobrar pensamentos por meio desse difícil campo. Assim, estratégia é a orientação e o alcance de uma organização a longo prazo, que conquista vantagens em um ambiente inconstante por meio da configuração de recursos e competências, com o intuito de atender às expectativas dos stakeholders2. Uma vez que não existe uma única definição para esse conceito, mas sim várias que foram formuladas em função de um contexto específico, é possível identificar na literatura autores consagrados que fizeram, por meio de sua ótica e experiência pessoal, sínteses dos diversos conceitos existentes, analisando o que há de mais consistente e maduro sobre o assunto e agrupando-as em famílias afins. Desse modo, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) ampliaram o conceito de estratégia, apontado aqui como plano, pretexto, padrão, posição e perspectiva. A seguir, alguns de seus inter-relacionamentos são considerados. 2 Pessoas, grupo de pessoas ou organizações que podem influenciar ou ser influenciados por uma organização, a exemplo de: consumidores, usuários, empregados, proprietários, dirigentes, governo, instituições financeiras, opinião pública ou acionistas. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações14 1.4 Os 5 Ps da estratégia Em um mercado cada vez mais volátil, facilmente influenciado pelas articulações políticas e pautas midiáticas, além de sensível às interações com a opinião pública em redes sociais, é essencial que as empresas tenham uma estratégia organizacional. Essa prática permite que as corporações driblem os desafios para o seu crescimento e desenvolvam uma forte posição perante o contexto mercadológico. A estratégia empresarial, talvez pela sua própria natureza que a correlaciona a diversas áreas da organização, tem recebido inúmeras definições e formas de entendimento. Estratégia não é algo restrito somente à alta direção. Cada setor da empresa deve desenvolver sua própria estratégia, desde que ela esteja alinhada aos objetivos do negócio, visando bons resultados. Entre os diversos conceitos divulgados sobre o tema, podemos mencionar os 5 Ps da estratégia de Mintzberg, que cita cinco formas de “ver” e aplicara estratégia, cada uma voltada para um cenário ou situação vivida pela empresa (MINZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) sugerem, ainda, que se questione às lideranças das empresas quais foram as estratégias pretendidas em comparação à realizada ao longo dos últimos anos. Caso a resposta informe que as intenções foram perfeitamente realizadas, deve- se suspeitar da honestidade da informação. Se, por outro lado, a resposta afirmar que foram muito diferentes do pretendido, deve-se suspeitar da capacidade das lideranças. As estratégias plenamente atingidas podem ser consideradas como deliberadas, e as que não foram podem ser chamadas de não realizadas. No entanto, as estratégias nunca serão puramente deliberadas ou totalmente emergentes. Elas sempre cairão no continuum entre esses extremos, dado que as primeiras implicam a não ocorrência de qualquer aprendizado, ao passo que as segundas implicam a inexistência de qualquer controle sobre a implementação das condições existentes, especialmente a capacidade para prever e reagir a eventos inesperados. A Figura 1 exemplifica o caminho percorrido por uma estratégia pretendida e os pontos nos quais ocorrem as interferências do ambiente. Figura 1 – Estratégias deliberadas e emergentes Estratégias pretendidas Estratégias realizadas Estratégias deliberadas Estratégias não realizadas Estratégias emergentes Fonte: Adaptado de Mintzberg; Ahlstrand; Lampel, 2000. Vídeo Fundamentos da estratégia 15 Imagine um pequeno produtor de hortifrutigranjeiros que, diante de uma perspectiva econômica favorável, decidiu aumentar sua receita vendendo para grandes cadeias de supermercados, por representar um mercado maior. Por outro lado, seus vendedores acham mais fácil trabalhar e vender para as pequenas redes e dedicam mais esforço a esse segmento, procurando atingir as metas propostas. Como consequência, a receita pode até aumentar, conforme idealizado no plano, porém, não da forma prevista, pois o crescimento se fixaria nas redes de menor porte. Esse exemplo ilustra um caso típico de uma estratégia emergente. De acordo com Mintzberg (2001), os 5 Ps dizem respeito a cinco possibilidades distintas de enquadramento da estratégia, as quais agregam vantagem competitiva a uma empresa. Ainda que envolva a ideia de planejar e pôr em prática métodos para que seja possível alcançar determinados objetivos, a concepção de estratégia organizacional é bastante abrangente, podendo abarcar uma série de técnicas e variadas ações. Nessa perspectiva, para ajudar você a direcionar de modo adequado a sua visão corporativa estratégica, vamos abordar os 5 Ps da estratégia organizacional. 1.4.1 Estratégia como um plano A estratégia pode ser entendida como um plano quando observamos uma direção, um guia ou um curso de ação conscientemente pretendido para chegarmos a algum lugar desejado. Se temos um objetivo, surge a escolha de várias ações, as quais podem ser tomadas criando um caminho até o objetivo. Segundo Branco (2001), a estratégia pode ser entendida como um tipo de ação conscientemente pretendida ou como a formulação de diretrizes que indicam caminhos para a resolução de questões, algo intencional e planejado, por meio da qual se buscam objetivos predeterminados – como uma organização que elabora estratégias para aumentar sua participação de mercado. A estratégia consiste em uma linha de conduta ou em um guia de ação intencional que conduz os diferentes níveis e áreas da empresa. Outro exemplo é quando o empreendedor pode optar pela implantação de um sistema informatizado de gestão financeira, pela contratação de uma assessoria de gestão e contabilidade que melhore a qualidade nos controles e informações da empresa ou ainda pela captação de recursos para modernizar o atendimento ao cliente. Por essa definição, as estratégias têm duas características essenciais. Elas são criadas antes das ações às quais vão se aplicar e são desenvolvidas consciente e propositalmente para: • confecção: aplicação de acordo com seu propósito, antes das ações. • desenvolvimento: consciente e específico (uso determinado). Com base no objetivo inicial, surgem as atividades e ações que devem ser realizadas para se conquistar o objetivo tão almejado, ou seja, surge a estratégia. Isso inclui, desse modo, com quem falar, aonde ir, o que realizar, quando realizar e quem serão as pessoas envolvidas com o projeto. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações16 1.4.2 Estratégia como pretexto Para Montosa (2007), “a estratégia pode ser aplicada com a finalidade de confundir, iludir ou comunicar uma mensagem, falsa ou não, aos concorrentes”. É uma espécie de manobra particular, de “tática” que objetiva enganar, enfraquecer ou eliminar um oponente ou concorrente ou competidor. É utilizada, assim, como um instrumento para lidar com a competição que a empresa enfrenta na sua atuação no mercado. Por exemplo, uma corporação pode adquirir terras para dar a impressão de que planeja expandir sua capacidade, na intenção de desencorajar um concorrente a construir uma nova fábrica. A estratégia como plano é a ameaça, é um pretexto inibidor dos concorrentes, já que a intenção real não é a expansão. Outro exemplo é quando a empresa está passando por uma crise, mas não deseja demitir funcionários. Desse fato pode surgir uma estratégia, como a redução de carga horária seguida da redução dos salários, para que todos se mantenham empregados. Em resumo, a estratégia como pretexto surge de uma necessidade, positiva ou negativa. 1.4.3 Estratégia como padrão A estratégia como padrão é a consistência no comportamento, pretendida ou não, especialmente em um fluxo de ações. Muitas empresas a utilizam, pois a consistência gera confiabilidade, atributo valioso para o mercado. Um exemplo foi Henry Ford oferecer o modelo T apenas na cor preta – esta foi a sua escolha: estratégia como padrão. Ao obter resultados positivos, a tendência é incorporar determinado curso de ação ao comportamento. Quando compreendidas como planos, as estratégias são propositais ou deliberadas, porém elas se tornam emergentes, surgindo sem intenção, quando compreendidas sem padrão. Se considerarmos que gradualmente a abordagem bem-sucedida transforma-se em um modelo de ação que se torna nossa estratégia, então ela pode ser um padrão. Por exemplo, uma empresa que comercializa perpetuamente os produtos mais dispendiosos da sua indústria segue a chamada estratégia de extremidade superior. Por sua vez, uma pessoa que sempre aceita a função mais desafiadora pode ser descrita como seguindo uma estratégia de alto risco. Para Andrews (1994), a estratégia é interpretada como um padrão consistente de comportamento estabelecido por várias decisões tomadas por uma organização. O padrão de comportamento inferido das decisões determina e mostra seus objetivos, propósitos ou metas, dá as principais políticas e planos para obter essas metas e define o conjunto do negócio que a companhia persegue, bem como o tipo de contribuição econômica que ela intenciona fazer para seus acionistas, empregados, consumidores e comunidade. Na tentativa de se adaptar ao ambiente, a empresa adquire um padrão de comportamento, o qual forma a essência da estratégia. No decorrer desse percurso, a organização aprende com suas falhas. Elas acontecem, pois são decisões e ações reativas que não têm estrutura e Fundamentos da estratégia 17 formulação prévia. Na concepção de Mintzberg e Quinn (2001), uma ideia puxa a outra até que um novo padrão é formado, a ação precedeu a racionalidade: uma estratégia emergiu, isto é, a estratégia como padrão consolida um modelo de atuação empresarial que tende a proporcionar credibilidade à companhia, o que é válido tanto em seu manejo com clientes e fornecedores, quanto com seus funcionários. 1.4.4 Estratégia como posição Refere-se à maneira como a organização se posiciona perante os ambientes externo (clientes, fornecedores,concorrentes, governo, sindicatos etc.) e interno (empregados, acionistas, administradores etc.). Segundo Branco (2001), “este conceito trata da estratégia como a posição onde se localizam as empresas e organizações, os ambientes onde estão inseridas”. Refere-se ao modo como a empresa é percebida externamente pelo mercado e trata-se de um meio para localizar uma organização no ambiente. É uma combinação de forças entre a empesa e o ambiente onde ela está, ou seja, entre os ambientes externo e interno da organização. Essa é uma estratégia compatível com as estratégias anteriores, pois pode ser pretendida por meio de um plano e/ou alcançada em função de um padrão ou pretexto. São exemplos joint ventures3, incorporação4 e franchising5. Um exemplo de joint venture bastante conhecido no Brasil foi a Autolatina – uma cooperação econômica da Volkswagen com a Ford entre 1987 e 1996. Nessa cooperação, foi realizado o compartilhamento dos custos de montagem, produção e comercialização, além de parcerias voltadas para o fortalecimento de ambas as marcas no país. Outro exemplo aconteceu no sistema bancário, com a incorporação de uma rede de bancos, o HSBC, pelo Bradesco. A operação só foi consolidada em função da aprovação do Banco Central, que analisou possíveis prejuízos à concorrência devido à união. Após isso, estabeleceram--se compromissos a serem cumpridos pelo Bradesco, favorecendo os correntistas do HSBC, a fim de compensar o ganho de eficiência obtido com a incorporação da outra pessoa jurídica. Como exemplo de franchising (traduzindo para o português, franquia) temos a rede McDonald’s, sem dúvida, uma das maiores e mais tradicionais empresas de serviço rápido de alimentação do mundo. No Brasil, a rede é operada desde 2007 pela Arcos Dourados, franqueada 3 “Entende-se por joint venture a associação econômica entre duas empresas, que podem ou não ser do mesmo ramo, durante um período específico e limitado. Essa parceria pode operar de várias maneiras, executando-se para fins logísticos, industriais, comerciais, tecnológicos e outros. Em muitos casos, a joint venture atua no sentido de ampliar o mercado consumidor de grandes multinacionais sem demandar um grande investimento em infraestruturas e transportes” (PENA, 2019, grifo do original). 4 “A incorporação é o ato de absorção de uma ou mais empresas por outra organização. A pessoa jurídica da empresa incorporada se extingue, transferindo direitos e obrigações para aquela que a incorpora. A natureza jurídica da incorporadora permanece inalterada, e há apenas uma alteração de contrato no sentido de comunicar o aumento do patrimônio, que é passado integralmente de uma empresa para a outra” (DICIONÁRIO FINANCEIRO, 2019). 5 Franchising é a forma de fazer negócio em parceria na qual uma empresa com sucesso comprovado concede a terceiros o direito de explorar os seus produtos e serviços, de usar marca comercial e, ainda, de implementar os seus métodos de gestão, recebendo contrapartidas financeiras. É uma estratégia em administração que utiliza um sistema de parceria no qual uma empresa (detentora de uma marca) cede o direito de uso de sua patente, know-how e distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos ou serviços. Trata-se de uma estratégia que consiste em replicar um conceito de negócio (de sucesso) já existente. https://brasilescola.uol.com.br/economia/empresas-multinacionais.htm Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações18 da marca em toda a América Latina. Ela conta com as opções de restaurantes drive-thru, lojas e quiosques de shopping e in-store. A franquia brasileira está entre as que mais crescem no mundo e apresenta um faturamento de quase 4 bilhões de reais ao ano. 1.4.5 Estratégia como perspectiva A estratégia como perspectiva é a maneira fundamental de uma organização fazer as coisas. De acordo com Peter Drucker (apud MINTZBERG, AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 19), esta é a “teoria do negócio”. A estratégia como perspectiva diz respeito à maneira pela qual a empresa percebe a si mesma diante das exigências do mercado e se relaciona diretamente com a cultura, a ideologia e a percepção interna da organização. Ou seja, coloca parâmetros internos, em uma forma de ação que define o modus operandi6 da empresa. A estratégia como perspectiva se estabelece dentro da organização – na realidade, para dentro das cabeças dos estrategistas, coletivamente. Como perspectiva, as estratégias são abstrações que existem apenas nas mentes das pessoas interessadas, quer tenham sido concebidas como uma intenção para regular o comportamento antes que aconteça ou inferidas como padrões para descrever um comportamento já ocorrido. Com o compartilhamento de ações e intenções pelos membros da organização por meio de ideias vindas da sua imaginação, a estratégia se difunde pela uniformidade de pensamentos, ideologias, valores, culturas e percepção interna da organização, sendo este um dos fatores mais importantes para a estratégia como perspectiva. De acordo com Coelho (1996), o conteúdo da estratégia consiste não apenas em uma posição escolhida, mas também em uma maneira fixa de olhar o mundo. Nesse caso, a estratégia consiste na perspectiva, não só de escolha de posição, mas de um modelo de entendimento do mundo que cerca a empresa. Nesse sentido, ela procura nas lideranças internas da organização mecanismos para formular estratégias de forma a ampliar e melhorar sua participação externa. Por exemplo, quando não há alternativas a não ser reduzir o quadro de funcionários, é possível adotar uma postura positiva e aberta a mudanças, realizando outsourcing, reestruturações internas e adoção de tecnologias para a automação. Obviamente, tal postura depende fortemente da cultura organizacional e das lideranças, que devem ter o poder de influenciar os demais e promover mudanças sem muitos atritos. Nesse caso, é fundamental fortalecer a comunicação interna, para que haja uma compreensão geral da organização sobre a situação e o que está por vir. A Hewlett-Packard desenvolveu a “maneira HP” com base em sua cultura de engenharia, enquanto a rede McDonald’s tornou-se famosa por sua ênfase em qualidade, serviço e asseio. Mintzberg (2001) propõe que os vários conceitos de estratégia, compreendida como plano, como posição, como perspectiva, como pretexto ou como padrão, não são excludentes, mas, sim, compatíveis. Isto é, a estratégia como posição e perspectiva é perfeitamente compatível com seu 6 É uma expressão em latim que significa modo de operação. É alguém ou algo que usa o mesmo jeito e aplicação em todas as coisas que realiza, faz tudo de uma mesma forma, de maneira que se identifique por quem foi feito determinado trabalho. Fundamentos da estratégia 19 plano, manobra e/ou procedimento. Porém, a relação entre eles é bem mais complexa. Para alguns autores, as perspectivas da organização podem ser um plano; para outros, as primeiras originam o segundo. Sendo assim, existe razão para se acreditar que, como planos, procedimentos e posições são mutáveis ou dispensáveis, as perspectivas são imutáveis. De acordo com Henry Mintzberg (2001), a estratégia não é simplesmente planejada, e sim moldada. Como você deve ter percebido, o uso dos 5 Ps exige mudanças de comportamentos e posturas, ou seja, é preciso desenvolver novas competências. Ao aprofundar o conceito de estratégia, Mintzberg (2001) permitiu que os gestores ampliassem o seu entendimento sobre o contexto no qual a empresa está inserida e como ela se transforma ao interagir com o mercado. Portanto, a teorização sobre estratégia proposta pelo estudioso foi fundamental para o ambiente corporativo, possibilitando a sua aplicação em diferentes segmentos e com distintos objetivos mercadológicos. Cada definição nos apresenta fundamentos importantes que colaboram e facilitam nossa compreensão desse termo tão abrangente dentro da administração. Com as definições do termo estratégia propostas por Mintzberg, Ahlstrande Lampel (2000) e denominadas 5 Ps da estratégia, surge um facilitador para uma melhor visualização dentro da organização dos pontos relevantes para sua elaboração e realização. Embora apresentados separadamente, os 5 Ps da estratégia são, na verdade, ferramentas que podem ser utilizadas de maneira individual ou combinadas. O emprego de qualquer tipo de estratégia organizacional contribui para a melhoria dos resultados obtidos por uma corporação. Em uma análise geral, é necessário que as organizações elaborem estratégias que as tornem competitivas. Sob essa ótica, os 5 Ps da estratégia constituem um importante modelo para a identificação da estratégia na organização. Cada P tem sua função específica nesse contexto. O P que recebe maior importância pelos empresários é o plano, embora seja constantemente esquecido após sua elaboração. Por sua vez, o pretexto permite à cúpula estratégica identificar a manobra que permitirá conduzir a organização. Já o padrão se refere a tudo aquilo que já se tornou estratégico na empresa e que não pode ser mudado. A posição identifica o nicho de mercado em que a instituição pretende atuar. E, pelas análises realizadas, arriscamo-nos a colocar como o P mais importante o da perspectiva, que diz respeito à estratégia interiorizada, sendo este o menos valorizado pelos dirigentes, talvez pela sua intangibilidade ou pela dificuldade de ser identificado. Um diagnóstico estratégico da empresa se faz necessário na intenção de detectar possíveis falhas e corrigir o rumo em tempo hábil, de modo que não ocorram danos graves, possibilitando à organização se antecipar às mudanças dentro do ambiente interno e se precaver das alterações no ambiente externo. Ao se ter consciência desses cinco Ps da estratégia, pode-se projetar e encontrar respostas para o futuro. Não existe um melhor caminho para se traçar a estratégia. O importante é elaborar planos, estabelecer metas, mensurar os resultados e corrigir os pontos falhos. Enfim, o sucesso de qualquer estratégia consiste em saber fazer bem muitas coisas e integrá-las umas às outras. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações20 1.5 As escolas do pensamento estratégico Para compreender o todo, também precisamos compreender as partes. Por outro lado, o simples conhecimento das partes isoladas não leva ao conhecimento do todo por completo. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) falam sobre a estratégia tomando por base uma fábula hindu. Para enfatizar a importância de se estudar os vários pensamentos estratégicos, os autores comparam a formulação de uma estratégia com a percepção de cegos que tateiam um elefante, os quais não conseguem compreender com exatidão do que se trata devido ao enorme tamanho do animal. Vejamos a parábola por meio do poema de John Godfrey Saxe (apud MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, adaptado): Os cegos e o elefante7 Eram seis homens do Hindustão Inclinados para aprender muito, Que foram ver o elefante (Embora todos fossem cegos) Que cada um por observação, Poderia satisfazer sua mente. O Primeiro aproximou-se do Elefante, E aconteceu de chocar-se Contra seu amplo e forte lado Imediatamente começou a gritar: “Deus me abençoe, mas o Elefante É semelhante a um muro”. O Segundo, pegando na presa, Gritou, “Oh! O que temos aqui Tão redondo, liso e pontiagudo? Para mim isto é muito claro Esta maravilha de Elefante é muito semelhante a uma lança!” O Terceiro aproximou-se do animal E aconteceu de pegar A sinuosa tromba com suas mãos. Assim, falou em voz alta: “Vejo”, disse ele, “o Elefante É muito parecido com uma cobra!” O Quarto esticou a mão, ansioso E apalpou em torno do joelho. “Com o que este maravilhoso animal Se parece é muito fácil”, disse ele: “Está bem claro que o Elefante É muito semelhante a uma árvore!” 7 Segundo Pereira (2016), o conceito de que a verdade apresenta muitos lados é um dos ensinamentos centrais do sábio indiano Mahavira (599-527 a.C.), ser iluminado do Jainismo, uma das religiões mais antigas da Índia. Esse conceito foi difundido, entre muitas maneiras, por meio da conhecida “parábola dos cegos e do elefante”, que se tornou popular especialmente no poema do americano John Godfrey Saxe (1816-1887). Vídeo Fundamentos da estratégia 21 O Quinto, por acaso, tocou a orelha, E disse: “Até um cego Pode dizer com o que ele se parece: Negue quem puder, Esta maravilha de Elefante É muito parecido com um leque!” O Sexto, mal havia começado A apalpar o animal, Pegou na cauda que balançava E veio ao seu alcance. “Vejo”, disse ele, “o Elefante é muito semelhante a uma corda!” E assim esses homens do Hindustão Discutiram por muito tempo, Cada um com sua opinião, Excessivamente rígida e forte. Embora cada um estivesse, em parte, certo, Todos estavam errados! Com base nessa fábula, os autores tratam da estratégia dividida em dez escolas, e enfatizam que, conforme indicado no início desta seção, para se conhecer o todo é preciso compreender as partes, embora o simples conhecimento das partes isoladas não leve ao conhecimento do todo completamente. Por meio do conhecimento das escolas do pensamento estratégico, é possível observar diferentes perspectivas e abordagens, o que sugere uma evolução no entendimento da formulação do planejamento estratégico. Nesse sentido, abordamos a seguir duas escolas – a do design e a do planejamento – que têm natureza prescritiva, preocupando-se mais com a maneira como as estratégias devem ser formuladas do que como efetivamente são formuladas. A formulação de estratégias não trata apenas de valores e visão, competências e capacidades, mas também de militares e religiosos, de crise e empenho, de aprendizado organizacional e equilíbrio interrompido, de organização industrial e revolução social. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) desenvolveram um conceito de divisão dos estudos estratégicos em dez escolas, as quais estão constituídas em três grandes grupos: • escolas prescritivas; • escolas descritivas; • escolas configuracionais. Essas escolas não tratam somente da formulação da estratégia, mas de todo o processo que a envolve. Cada uma delas representa uma maneira diferente de formular estratégias, como se pode notar no Quadro 1 a seguir: Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações22 Quadro 1 – Características das escolas de pensamento estratégico Processo Intenção Resultado Mensagem Prescritivas e normativas Design Concepção Ajustar Pensar Observe antes de agir Planejamento Formal Formalizar Programar Não desperdice Posicionamento Analítico Analisar Calcular Apenas os fatos Descritivas e explicativas Empreendedorismo Visionário Vislumbrar Centralizar Leve-nos ao líder Cognitiva Mental Criar Preocupar Ver para crer Aprendizado Emergente Aprender Jogar Tente, tente, tente Poder Negociação Promover Concentrar Seja o nº 1 Cultural Social Combinar Perpetuar Uma fruta nunca cai longe do pé Ambiental Reativo Reagir Capitular Tudo depende Configuração Transformação Integrar Enrijecer Tudo tem seu tempo Fonte: Mintzberg; Lampel adaptado por Chiavenato; Sapiro, 2009. É difícil afirmar qual foi a primeira escola a enfileirar as seguintes. Assim, configuramos as principais características de cada escola do pensamento estratégico. 1.5.1 Escolas prescritivas As escolas prescritivas são baseadas em um processo de visão e concepção analítica formal, matemática e conceitual. Além disso, preocupam-se com a forma de fazer, ou seja, há uma maior preocupação quanto à maneira pela qual as estratégias devem ser formuladas do que em como elas são efetivamente formuladas. São escolas prescritivas: • Escola do design Segundo essa escola, a formação da estratégia se dá como o ajuste entre as forças e as fraquezas identificadas internamente e as ameaças e as oportunidades encontradas no ambiente. Para essa escola, a formação da estratégia é realizada pela gerência superior em um processo deliberado de pensamento consciente,nem formalmente analítico nem informalmente intuitivo, de modo que todos possam implementar a estratégia. Nela, a formulação da estratégia é definida como um processo de concepção, ou seja, o gerente sênior cria mentalmente estratégias deliberadas. Em resumo, essa escola do pensamento estratégico separa o pensamento e a ação, negando improvisações e caracterizando a criação da estratégia organizacional como simples e basicamente formal. Fundamentos da estratégia 23 • Escola do planejamento Consiste nas ideias da escola do design somadas à concepção de que o processo da formulação estratégica é também formal, e não somente cerebral. Refere-se à reunião de elementos concretos e abstratos em um todo, tratando da complexidade de um imenso volume de informações e assumindo que os riscos inerentes são naturais. Dessa maneira, essa escola utiliza a intuição para o processo de tomada de decisão e da criatividade para tratar de problemas antigos. A estratégia e sua formação são definidas como um processo formal, o que representa a necessidade de ter a consistência do comportamento ao longo do tempo. A técnica de planejamento estratégico está incluída nessa escola. • Escola do posicionamento Incentivada por Michael Porter, a escola de posicionamento tem “a visão de que a estratégia se reduz a posições genéricas selecionadas por meio de análises formalizadas das situações da indústria, tais como as avaliações feitas através do modelo das cinco forças competitivas do citado autor” (CASSIANO, 2007). Segundo essa escola, para a formulação da estratégia devem ser feitos, primeiramente, estudos minuciosos dos ambientes internos e externos. Com isso, são evidenciadas ameaças, oportunidades provenientes do ambiente externo e as forças e fraquezas advindas do ambiente interno. A ideia principal de estratégia e formulação da escola do posicionamento resume-se a um processo analítico. 1.5.2 Escolas descritivas As escolas descritivas estão alicerçadas em processos de caráter situacional, cognitivo, de aprendizagem e cultural. Preocupam-se menos com a prescrição do comportamento estratégico ideal e mais com a descrição de como as estratégias são de fato e de que forma elas se desdobram. • Escola empreendedora A escola empreendedora contraria as anteriores, na medida em que baseia a construção da estratégia na intuição. Nela, não existem planos e projetos precisos, baseados em dados pesquisados. Além disso, ela não envolve perspectivas amplas, adotadas por meio de metáforas. De acordo com Cassiano (2007, grifos do original), “nessa concepção estratégica, o líder mantém o controle sobre a implementação de sua visão formulada, sendo o detentor de todo o processo estratégico. Portanto, a estratégia estaria resumida a um processo visionário do líder”. • Escola cognitiva Cassiano (2007) define do seguinte modo os parâmetros que embasam a escola cognitiva: Essa escola estuda as estratégias que se desenvolvem nas mentes das pessoas, a fim de categorizar os processos mentais em estruturas, modelos, mapas, conceitos e esquemas. Assim, a pesquisa é dirigida ao modo como a mente Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações24 humana processa a informação, mapeia a estrutura do conhecimento e obtém a formação de conceitos, focalizando, portanto, a cognição na criação da estratégia. Essa escola também, em outra corrente, preocupa-se em estudar a maneira pela qual o conhecimento e a interpretação são utilizados para a construção de estratégias. Ela analisa o processo mental que ocorre na concepção das estratégias. • Escola do aprendizado A escola do aprendizado, chamada também de escola descritiva, afirma que a estratégia se origina com a organização como um todo, tanto individual quanto coletivamente. Desse modo, as estratégias seriam o aprendizado da empresa de acordo com o fluxo das ações organizacionais e padrões comportamentais. Não haveria, assim, uma diferenciação entre o processo de formulação e a implementação da estratégia. • Escola do poder Essa escola tem sua base em uma conjunção de interesses, coalizões e negociações tanto no ambiente interno quanto no ambiente externo das empresas. Os centros de interesses políticos são a base para a construção da estratégia. Ela é utilizada como processo de negociação, que se divide em duas dimensões: • micropoder: enxerga o desenvolvimento da estratégia dentro das organizações como um fenômeno essencialmente político, de modo que o processo de formulação da estratégia envolve barganha, persuasão e confrontação entre os atores que dividem o poder na empresa. • macropoder: “visualiza a organização como uma entidade que usa seu poder sobre os outros e seus parceiros de alianças, realizando joint-ventures e outras redes de relacionamento para negociar estratégias ‘coletivas’ de seu interesse” (CASSIANO, 2007). O foco principal dessa escola é beneficiar, por meio de estratégias, grupos de interesse que operam nos processos políticos da empresa. Esses ganham maior ênfase na caracterização da formação de estratégias como um processo de influência. Esse advento, poder e política têm sua configuração no desenvolvimento do planejamento estratégico, indo até sua consumação. Percebem-se as várias fases dentro desse itinerário, distintamente pelas “influências”, seja por parte da alta diretoria, dos gerentes de projetos ou do próprio pessoal operacional, que muitas vezes tem alianças com outros setores. A escola do poder caracteriza a formação de estratégia como um processo aberto de influência, enfatizando o uso do poder e da política para negociar estratégias favoráveis a determinados interesses. A palavra poder é utilizada para descrever o exercício da influência além de puramente econômica. Fundamentos da estratégia 25 • Escola cultural Na escola cultural ocorre o oposto em relação à escola do poder, pois a estratégia está baseada no coletivo, no pensamento social e cultural da empresa. A escola do poder é voltada para os interesses próprios e é dividida, já a cultural é orientada à organização como um todo e aos interesses comuns. A formação da estratégia é um processo de interação social baseado nas crenças e nas interpretações comuns aos membros de uma organização. Assim, a cultura seria respon- sável pela concepção da estratégia e uma desencorajadora das mudanças estratégicas. A escola cultural pratica uma teoria baseada em recursos. Uma organização é vista como um pacote desses recursos, os quais podem ser: • capitais físicos: localização geográfica, tecnologia física, plantas, equipamentos etc.; • capitais humanos: treinamento, experiência, relacionamentos, inteligência; • capitais de organização: sistemas e estruturas formais, assim como relações informais entre grupos. A cultura organizacional está ligada à ideia de cognição coletiva caracterizada pela “mente da organização”, expressa em crenças comuns que se refletem nas tradições, nos hábitos e nas manifestações mais tangíveis relacionadas à história, aos símbolos e até mesmo aos edifícios e produtos da empresa. Assim, a cultura seria responsável pela formação da estratégia e uma desencorajadora das mudanças estratégicas. • Escola ambiental Esta escola considera que a estratégia somente reage perante as alterações ambientais. Assim, é o ambiente que estabelece a ordem e a estratégia a ser seguida. A escola ambiental provém da teoria da contingência, que surgiu para se opor às afirmações conflitantes da administração clássica de que há uma maneira melhor de dirigir uma organização. Para os teóricos contingenciais, tudo depende do porte da empresa, de sua tecnologia, da estabilidade de seu contexto e da hostilidade externa. Esses estudiosos começaram a identificar as dimensões do ambiente responsável pelas diferenças nas organizações. De acordo com Cassiano (2007), o ambiente se apresenta à instituição como um conjunto de forças gerais que determina estratégias em função de estabilidades e instabilidades,além de estabelecer as pressões institucionais de cunho político e ideológico sofridas pela empresa. Dessa forma, é o ambiente que determina os critérios de permanência no mercado. 1.5.3 Escolas configuracionais São firmadas em processos estruturais e conjunturais, isto é, em forças ambientais externas e internas. As escolas configuracionais reúnem dois aspectos fundamentais do fenômeno Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações26 organizacional: a descrição dos estados da organização e os contextos que a cercam; e a descrição do processo de geração de estratégias. • Escola da configuração A escola da configuração aponta a estratégia como um processo de transformação. As estruturas e os conceitos da organização vão se unindo em função das etapas do ciclo de vida da empresa ou de seus produtos. Por esse conceito, a instituição é constituída pelo agrupamento de comportamentos e peculiaridades. As mudanças estratégicas se dariam a partir do momento em que a organização mudasse de configuração. Para Cassiano (2007), “cada uma das configurações descritas por esta escola suportaria um modo diferente de estratégia a ser seguida, portanto o entendimento da configuração organizacional seria o ponto de partida para a formulação da estratégia corporativa”. Fica evidente que se trata de uma escola decorrente da vertente descritiva da administração estratégica, pois essa parte da análise do contexto está presente, a fim de traçar a estratégia para a mudança futura, próxima ou não. 1.6 Uma visão crítica e integradora das escolas estratégicas Uma avaliação crítica das dez escolas estratégicas leva à conclusão de que qualquer processo de formulação estratégica no mundo real poderá incluir uma ou mais escolas de pensamento estratégico. Assim, as estratégias empresariais existentes no mundo dos fatos são formuladas por meio da combinação do conhecimento das várias escolas estratégicas, tornando a formação da estratégia uma entidade híbrida que poderá ser dotada tanto de processos cognitivo-conscientes, deliberados e analítico-formais quanto inconscientes, não deliberados e intuitivo-informais. Pode-se afirmar que a estratégia estaria impregnada de formulação cognitiva racional, refletida, por exemplo, em planos preconcebidos, assim como que haveria um conteúdo emergente na estratégia decorrente de processos menos formais ligados a percepções empíricas do estrategista, imposições do meio externo e valores ligados às pessoas responsáveis pela concepção e implementação da estratégia. Nas palavras de Cassiano (2007), “a formulação estratégica precisa equilibrar os diferentes conteúdos das escolas prescritivas, que incluem a lógica analítica de Porter, e as visões descritivas das demais escolas, no intuito de se obter a melhor estratégia empresarial ao caso concreto”. Assim, o processo de geração de estratégia pode ser de concepção conceitual ou planejamento formal, análise sistemática ou visão estratégica, aprendizado cooperativo ou politicagem competitiva, focalizando o conhecimento individual, a socialização coletiva ou a simples resposta às forças do ambiente. Entretanto, cada um desses elementos deve ser encontrado em seu próprio tempo e contexto. Em outras palavras, as próprias escolas de pensamento sobre formação de estratégia Vídeo Fundamentos da estratégia 27 representam configurações particulares. As estratégias resultantes assumem a forma de planos e padrões, posições ou perspectivas ou meios de iludir; porém, mais uma vez, cada uma deve ser realizada a seu tempo e ser adequada à situação apresentada. Portanto, a formulação estratégica precisa equilibrar os diferentes conteúdos das escolas prescritivas, que incluem a lógica analítica de Porter (1991) e as visões descritivas das demais escolas, no intuito de obter a melhor estratégia empresarial ao caso concreto. Para concluir este tópico, serão comentadas as razões pelas quais as organizações e seus gestores devem dar mais atenção e tempo à adaptação e à reformulação constante das estratégias, nos dias atuais, como um diferencial competitivo. 1.6.1 Assumir o controle sobre o destino Imagine um alpinista tentando chegar ao topo de uma montanha sem clareza sobre o melhor trajeto para a subida e sem instrumentos de orientação. Não é difícil imaginar que seria um caos total: a derrota iminente do atleta em seu intuito, nesse caso, seria inevitável. Sob essa ótica, a estratégia estabelece objetivos, meios, instrumentos e formas de controle para conduzir a organização à sua meta. Logo, estratégia implica estabelecimento de limites. 1.6.2 Visualizar com clareza as oportunidades Quando focamos apenas nas ações cotidianas e operacionais do dia a dia, a tendência é continuarmos a realizar coisas que sempre fizemos, talvez por força da qualidade, com algumas melhorias. Tomando como exemplo a Lei da gravitação universal de Isaac Newton: as pessoas sabiam que os objetos caíam ao chão, assim como a maçã que caiu na cabeça do cientista; mas foi ele que, atento e preocupado com esse fenômeno havia algum tempo, resolveu estudá-lo. A preocupação, nesse contexto, relaciona-se à atenção com o mundo, isto é, com tudo que acontece ao seu redor e com as relações entre os fatores que a mente é capaz de formular. Para que se possa alcançar uma oportunidade, deve-se focar um objetivo, saber aonde se deseja chegar. Ninguém chega ao sucesso real com pensamento pequeno. Competência e muito trabalho são os ingredientes reais da vitória. Nesse sentido, é importante saber reconhecer, escolher e estar preparado para aproveitar corretamente as oportunidades. 1.6.3 Transformar ameaças em oportunidades Há uma história que merece ser compartilhada com você, leitor. Trata-se de um industrial de calçados que teve a ideia de começar a exportar seus produtos para Angola. O executivo enviou dois emissários a fim de explorar as oportunidades de negócio naquele país. Após uma semana, ele recebeu o primeiro telefonema de um emissário que lhe apresentou um cenário catastrófico: “Nem pense em vender sapatos aqui! Não há hipótese! Eles andam todos descalços! Vou voltar e tentamos explorar outros mercados”. Rendido, o industrial telefonou ao segundo emissário e perguntou quais seriam as hipóteses de exportação para aquele mercado. Do outro lado da linha, ouviu em Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações28 uma voz exultante: “Fantástico! Temos de começar a trazer sapatos imediatamente! Encontramos um mercado gigantesco! Eles não têm sapatos! Andam todos descalços”. Dessa história, podemos concluir que em meio à era da incerteza, nada estará garantido; além de nos depararmos com uma constante competição, também nos deparamos com desafios constantes. Por isso, temos de ser sábios para transformar cada desafio em grande oportunidade de aprendizado e de negócio. Dessa forma, ressalta-se também que o planejamento estratégico é de suma importância, uma vez que servirá de “bússola”, dando rumo à caminhada e proporcionando que o profissional seja ágil e proativo, tendo sabedoria para enfrentar as ameaças e aproveitando ao máximo as oportunidades encontradas em meio à “destemperança” do mercado. Assim, visualizando e transformando seus pontos fracos em fortes, o planejamento estratégico mantém o foco e o direcionamento em prol do almejado, sem perder a agilidade em meio às mudanças. As ameaças e os desafios serão constantes, portanto, em vez de reclamar, é importante encarar os desafios, trabalhar suas ideias, olhar o que muita gente ainda não viu e que pode fazer a diferença, de preferência agregando valores e construindo algo novo, diferenciado. 1.6.4 Definir novos rumos para a organização Relacionado aos tópicos anteriores, esse motivo destaca a importância de um esforço constante para sair da inércia de se repetir na maneira de se operar um negócio. Sem uma estratégia definida, mesmo que implícita, talvez o site Google não tivesse entrado na chamada“internet viva”8, em que as redes sociais9 entraram em cena, os blogs10 despontaram como a nova mídia de informação e interação em massa, e a “cauda longa”11, auxiliada pelo marketing viral12, passou a enfatizar a criação de produtos e serviços cada vez mais específicos, para um público mais exigente e participativo, ansioso por aproveitar a inteligência gerada coletivamente. É inegável que, com as novas tecnologias e exigências crescentes dos consumidores, o mercado tenha passado a ser um novo método de regularização social, haja vista ser capaz de instituir muitas características às vezes imperceptíveis em um primeiro plano. Segundo nos ensina Oliveira (2007, p. 138), A crença de que o mercado seria o novo fator de regularização social traduziu- -se no chamado neoliberalismo, que trouxe a reboque a internacionalização do mercado consumidor, na corrida incessante pela própria homogeneização dos costumes. Personifica-se o mercado, que precisa ser considerado um ente dotado de valor, de uma identidade, como se se tratasse de um sujeito dotado de vontade e de ações conscientes, ainda que dentro de um 8 São redes de comunicação que envolvem a linguagem simbólica, os limites culturais e as relações de poder. 9 Página da web cujas atualizações (chamadas posts) são organizadas cronologicamente de forma inversa (como um diário). 10 Página de internet para uso pessoal, com atualização periódica, por meio da qual se podem trocar experiências e comentários com os usuários. 11 Termo utilizado na estatística para identificar distribuições de dados da curva de Pareto, em que o volume de dados é classificado de forma decrescente. 12 O marketing viral refere-se a técnicas de marketing que tentam explorar redes sociais preexistentes para produzir aumentos exponenciais em conhecimento de marca, com processos similares à extensão de uma epidemia (SIGNIFICADOS, 2019a). Fundamentos da estratégia 29 anonimato e sem um local definido. O mercado impõe o preço deste ou daquele produto, do valor da mão de obra. Com as novas contingências de mercado, as empresas precisam traçar estratégias para lidar com as cobranças da sociedade globalizada, que ambiciona lucratividade. Assim é que surge uma nova organização empresarial, em que a classe detentora de capital impõe a uma classe desfavorecida suas requisições, colaborando para o aumento do trabalho informal, a diminuição dos empregos ou, ainda, a imobilidade das classes sociais. As empresas, portanto, têm que responder às exigências desse novo modelo de organização empresarial, pois, caso contrário, serão levadas à margem e não terão sucesso. Nesse contexto, surge a indiscutível influência do avanço tecnológico como um dos fatores que mais colaboraram para as transformações na organização empresarial e para as relações trabalhistas. Isso porque, com as novas exigências, as relações trabalhistas foram deixadas à margem e entraram em um processo de coisificação da mão de obra em razão das imposições do mercado. 1.6.5 Aprender a pensar em longo prazo Talvez um dos grandes méritos do planejamento estratégico, quando implantado adequadamente, é criar na organização uma mentalidade de se pensar em longo prazo, em detrimento do pensamento operacional que absorve praticamente a totalidade do tempo dos gestores das organizações. No mercado empresarial, a sobrevivência de empresas – principalmente em relação a familiares na segunda geração – é muito pequena. A principal causa disso é a incapacidade de se pensar a organização a longo prazo, baseando-se em três pilares fundamentais: tecnologia, gestão e capital. Alguns empreendedores e empresários ainda ficam surpresos ao perceber o quanto precisam ser resilientes e persistentes ao longo de suas jornadas. Parece óbvio, mas o curioso é que poucos agem dessa forma, afinal, tudo que é construído para ser duradouro precisa ser pensado a longo prazo. Por mais que um negócio seja promissor e esteja crescendo facilmente, não existem fórmulas mágicas para alcançar o sucesso e conquistar o mercado mais rápido. Assumindo-se que já se atingiu pelo menos o break-even13, o sucesso de uma empresa, para ser obtido, parece levar de duas a três vezes mais tempo do que muitos imaginam. Cada empresa tem uma estratégia distinta na hora de investir. Algumas preferem diversificar e não colocar “todos os ovos na mesma cesta”. Outras renunciam à diversificação, mas acompanham de perto sua “cesta”. Finalmente, existem aquelas que combinam essas duas estratégias. 13 “Break-even (lê-se “breikíven”) é uma expressão inglesa que designa um ponto de equilíbrio nos negócios em que não há perda nem ganho, nem lucro nem prejuízo” (SIGNIFICADOS, 2019b). Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações30 Considerando que as inovações são capazes de gerar vantagens competitivas a médio e longo prazos, inovar é essencial para a sustentabilidade das empresas. A inovação tem a capacidade de agregar valor aos produtos da empresa, trazendo uma diferenciação, mesmo que momentaneamente, no ambiente competitivo. Ela é ainda mais importante em mercados com abundância de commodities, como os que apresentam um elevado nível de concorrência e cujos produtos são praticamente equivalentes entre os concorrentes. Nesse sentido, a visão de longo prazo, alicerçada na inovação, faz com que as empresas sejam mais comprometidas com seus stakeholders, afinal, existe uma preocupação com a perenidade da organização. Em outras palavras, as ações tomadas atualmente são pautadas em um futuro mais longínquo. Exatamente por isso, as empresas visionárias que realmente se preocupam com a sobrevivência do negócio para as próximas gerações devem fazer uso do pensamento estratégico, que nada mais é do que o processo de examinar o que será feito, sempre levando em consideração as necessidades do grupo de pessoas que será atingido pelo processo/pela atividade. A visão de longo prazo é uma vantagem das empresas, no sentido de que ela fortalece a vontade de sobrevivência do negócio. Para sobreviver, a organização precisa ter uma gestão profissionalizada e se preocupar com seu futuro. 1.6.6 Canalizar recursos para o objetivo As empresas são organizações sociais que utilizam recursos para atingir objetivos. Os recursos organizacionais se referem aos vários meios que as instituições têm para atingir seus objetivos, ou seja, para poder produzir. São os bens ou serviços utilizados nas atividades organizacionais. Quando se fala em recursos, não se está referindo apenas a dinheiro, mas também às matérias-primas utilizadas nas produções e nos serviços prestados pelas organizações, bem como aos equipamentos e colaboradores. Quanto mais recursos as empresas tiverem ao seu alcance, melhores serão seu funcionamento e seus resultados. Quanto menos recursos houver, maiores serão as dificuldades no alcance dos objetivos. Porém, o excesso de recursos significa uma aplicação pouco rentável deles. A administração procura a máxima rentabilização dos recursos necessários à obtenção dos objetivos. Diante desse cenário, a estratégia auxilia a unificar os esforços (recursos) da organização. Sem uma estratégia comum, os interesses particulares das diversas áreas prevalecerão sobre o interesse coletivo. Os vendedores insistirão em produtos mais fáceis de vender em detrimento dos que oferecem maior rentabilidade. O pessoal da fábrica provavelmente tenderá a produzir produtos de menor complexidade e maior produtividade, e assim por diante. A estratégia, bem como o planejamento estratégico, busca também dar um senso de direção à empresa, identificando objetivos, táticas e metas que lhe permitem mensurar seu desempenho na intenção de alcançar o objetivo final proposto. Os empresários e os administradores das empresas com um bom “mapa” e uma boa “bússola” na mão poderão fazer uma boa caminhada empreendedora. O mapa diz respeito ao planejamento http://www.glicfas.com.br/blog/voce-sabe-o-que-e-pensamento-estrategico-e-como-ele-pode-mudar-o-rumo-da-sua-empresa/Fundamentos da estratégia 31 estratégico bem elaborado, ao passo que a bússola se refere à visão de futuro e à missão da empresa, o norte aonde ela quer chegar. Recorrer a ferramentas que façam o planejamento de recursos empresariais como uma forma de alcançar os objetivos é uma ótima estratégia para tomar decisões assertivas e garantir o resultado esperado. Isso porque, no meio corporativo, o sucesso não acontece por acaso. Ele é consequência da utilização inteligente de meios direcionados para alcançar metas previamente estabelecidas. O segredo do fracasso ou sucesso depende essencialmente da administração realizada dos materiais. O ideal é encontrar o equilíbrio na sua utilização. Eles podem tanto estar escassos como também em grande quantidade para o futuro desenvolvimento da empresa. Por isso, o segredo do sucesso de uma organização é a obtenção oportuna de recursos, considerando as melhores condições de custo, bem como a quantidade e qualidade exigidas. O estabelecimento de objetivos e desafios é básico para qualquer atividade ou negócio, uma vez que, não se sabendo aonde se quer chegar com a empresa, qualquer caminho servirá. Muitos executivos têm uma visão do futuro de suas instituições análoga à visão de uma criança sobre si mesma. Quando são perguntados sobre o que desejam que suas empresas se tornem nos próximos anos, simplesmente respondem: “maior”. Entretanto, o que deve ser apreciado é que, para uma empresa, ser maior traz enormes implicações para o seu modelo de gestão. Uma organização que no momento não está sendo lucrativa pode obter mais sucesso ao procurar sua sobrevivência na redução dos custos do que no crescimento das vendas. Portanto, na fixação de objetivos e desafios da empresa, maior nem sempre é melhor. A falta de objetivos empresariais é um dos principais fatores que levam as organizações à falência. O importante é planejar, cumprir e seguir de maneira eficiente toda a estratégia traçada. Assim, as chances de o negócio progredir serão bem maiores. Assim, a gestão dos recursos que a empresa tem, de maneira efetiva, direcionada para os objetivos, visa antecipar a instituição a fim de que ela tenha espaço no mercado competitivo e crie produtos inovadores ou que tenham um valor percebido pelos consumidores. Mas para que tudo isso ocorra, é preciso que a corporação tenha também a cultura de disseminar informações e conhecimento, a fim de que sua inteligência competitiva possa auxiliar de fato a gestão de projetos futuros. 1.6.7 Promover a mudança Recentes transformações na ordem econômica, política, tecnológica e social representam um forte estímulo às organizações para se adaptarem à realidade de competição. Empresas que não se adaptam tendem ao fracasso. Elas devem estar preparadas para realizar mudanças significativas a qualquer momento e para se organizarem estrategicamente. A fim de envolver todos nesse pensamento, é importante propor um plano de ação e sensibilizar cada ator do processo administrativo e organizacional quanto à importância da estratégia. https://queconceito.com.br/administracao https://queconceito.com.br/desenvolvimento Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações32 Para se organizar tendo em vista a mudança, a empresa requer de si um alto grau de descentralização no processo de decisão – ou seja, autonomia. Isso porque precisa estar estruturada de forma a tomar decisões rápidas, as quais necessitam ser baseadas na proximidade em relação ao desempenho, ao mercado, à tecnologia e a todas as mudanças ocorridas na sociedade, no ambiente, na demografia e no conhecimento, as quais provêm de oportunidades para inovações, caso sejam vistas e utilizadas. Considerações finais Fazendo uma retrospectiva do pensamento estratégico, percebe-se que esse fenômeno passou por diferentes fases e contextos semânticos. No seu princípio, o termo estratégia significava uma forma de vencer o oponente, um instrumento de vitória na guerra. Posteriormente, ele foi levado a outros contextos e campos do relacionamento humano: político, econômico, empresarial, etc., contudo, sempre mantendo em todos os seus usos a raiz semântica: a de definir caminhos – tendo em vista que as temáticas estratégia e gestão estratégica são relevantes para as organizações da atualidade. O objetivo deste capítulo foi mostrar que existe um entendimento para cada um dos temas discutidos, apesar de se constatar que os futuros gestores têm alguma dificuldade de traduzir esses conceitos para a realidade das organizações, o que pode implicar dificuldades no planejamento e na gestão de estratégias nas empresas nas quais eles venham a trabalhar. Essa relação entre teoria e prática pode contribuir para a competência dos novos gestores do mercado, afinal, procurou-se mostrar neste capítulo que existe um equilíbrio entre as correntes de pensamento sobre o conceito (evitando, assim, optar por uma escola e seguir exclusivamente o que ela apregoa) e uma aproximação com a realidade da vida prática do gestor, o que se apresenta como um grande desafio à área. Ampliando seus conhecimentos Para que possamos melhorar nosso entendimento a respeito do estudo e ampliar nosso conhecimento, propomos assistir aos vídeos: • A FÁBULA: os cegos e o elefante (Lições de vida, estratégia e gestão). 2018. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Robson Pezzini. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=D95UbWDiQgk. Acesso em: 8 abr. 2019. Por meio de uma fábula, este vídeo nos demonstra que tudo é uma questão de perspectiva. As pessoas têm que coletar o máximo de informações, formar sua opinião e não fazer qualquer militância para impor seus pontos de vista e formular as estratégias a se utilizar. • ESTRATÉGIAS empresariais. 2009. 1 vídeo (2 min). Publicado pelo canal Sebrae RS. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6_TegknfvD4. Acesso em: 8 abr. 2019. Fundamentos da estratégia 33 Este vídeo mostra o conhecimento atual sobre a definição de estratégia, mas apresenta uma proposição prática e acessível para que todos possam entender e utilizar o conceito. Atividades 1. Qual é o conceito de estratégia? 2. Quais são os cinco conceitos de estratégia de Henry Mintzberg? Faça uma explicação sucinta de cada um deles. 3. Na dinâmica do mercado, a primeira pergunta a que um empresário deve responder para analisar a viabilidade do seu negócio ou futuro negócio é a seguinte: por que comprariam de minha empresa e não da concorrência? Explique por que isso acontece. 4. Para que serve a estratégia? 5. Cite e explique sucintamente as dez escolas do pensamento estratégico. Referências ANDREWS, K. R. The concept of corporate strategy. 3. ed. Homewood, IL: Richard D. Irwin, Inc., 1994. ANSOFF, H. I. Administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1983. ANSOFF, H. I.; McDONNEL, E. J. Implantando a administração estratégica. Trad. de Antonio Zoratto Sanvicente e Guilherme Ary Plonsky. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1993. BRANCO, G. C. Os 5 Ps da estratégia. 2001. Disponível em: http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto. php?cod=2104&cat=Artigos&vinda=S. Acesso em: 13 abr. 2019. CASSIANO, L. Uma visão mais larga da estratégia empresarial para seu escritório. Insight estratégico, 19 mar. 2007. Disponível em: http://insightestrategico.blogspot.com/2007/03/resumo-das-10-escolas-de- pensamento.html. Acesso em: 13 abr. 2019. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. COELHO, C. C. de S. R. C. 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Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações34 MINTZBERG, H. O processo da estratégia. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2000. MINTZBERG, H.; QUINN, J. B. O processo da estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2001. MONTOSA, R. G. Formulação estratégica na teoria. 2007. Instituto Jetro, Londrina, 12 jun. 2007. Disponível em: http://www.institutojetro.com/artigos/10/estrategia-e-planejamento/1141/formulacao-estrategica-na- teoria. Acesso em: 13 abr. 2019. OLIVEIRA, L. J. de. Direito empresarial, globalização e o desafio das novas relações de trabalho. In: FERREIRA, J. S. A. B. N.; RIBEIRO, M. de F. (org.). Direito empresarial contemporâneo. Marília: Unimar, São Paulo: Arte & Ciência, 2007. PENA, R. F. A. Joint venture. Brasil Escola. Disponível em https://brasilescola.uol.com.br/geografia/joint- venture.htm. Acesso em: 13 abr. 2019. 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VON NEUMANN; MORGENSTERN, O. The theory of games and economic behavior. Princeton, NJ: Princeton University, 1994. 2 Análise do negócio e transformação empresarial por meio dos cenários Entender o negócio de uma organização é uma questão muito mais filosófica do que econômica. Mas, afinal, como podemos entender o negócio de uma empresa? As organizações fazem parte de nossas vidas, uma vez que existem para satisfazer as nossas necessidades. São sistemas vivos, compostos de um grupo de pessoas que trabalham em conjunto em uma tarefa comum. Assim, o negócio pode ser entendido como a essência do que a organização faz, o que é produzido e entregue aos clientes. Toda empresa tem um propósito, uma finalidade e uma missão que são as razões de sua existência. Para conseguir atingi-los, é necessário desenvolver uma estrutura com regras, procedimentos, cargos, funções e responsabilidades capazes de prover o arcabouço necessário para que ela alcance seus objetivos. As organizações podem ser de vários tamanhos e existem com a finalidade de fornecer todos os tipos de produtos e serviços. As transformações políticas, sociais e econômicas, cada vez mais aceleradas, mudaram o ambiente dos negócios no mundo inteiro e ofereceram novas e promissoras oportunidades de empreendimento. Nesse sentido, estar em sintonia com as transformações mundiais é um passo na busca de oportunidades. As transformações relevantes nesse aspecto levam à pressuposição de que todos os fenômenos a que assistimos, desde a globalização até a formação de mercados econômicos, é uma tendência global. É a democratização da informação, ou melhor, a era do conhecimento, das corporações estratégicas que não têm mais países ou fronteiras. Trata-se de um estágio avançado do capitalismo: o processo de “mundialização” da economia. A era da globalização traz mudanças que atingem todo o planeta e que, sem dúvida, devem ser consideradas. É por meio dessas mudanças que surgem as tendências que influenciam o ambiente com que as empresas interagem no dia a dia. Isso afeta diretamente o mundo empresarial: as corporações tendem a se tornar flexíveis para suportar as frequentes mudanças do mercado. Esse processo tem sido acompanhado de uma intensa revolução nas tecnologias de informação. Isso faz com que os desdobramentos da globalização ultrapassem os limites da economia e comecem a provocar certa homogeneização cultural entre os países. Pode-se dizer que atualmente, nos cenários mundiais, a economia da informação e do conhecimento é proposta, sem mais nem menos, como o novo conteúdo e referência da política da informação. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações36 2.1 Conceito de negócio O conceito de negócio é fundamental para o sucesso empresarial. Entender o negócio de uma organização é uma questão de cunho praticamente filosófico: por um lado, está muito distante da empresa; por outro, é uma concepção que permeia todas as decisões de maior abrangência. O termo negócio provém do latim negotĭum, um vocábulo formado por nec- e -otium (significando aquilo que não é lazer). Trata-se da ocupação, da atividade ou do trabalho que se realiza com fins lucrativos. Por exemplo: “O meu pai dedica-se ao negócio da pesca”, “Fernando é um homem de negócios” etc. Para que se possa elaborar uma estratégia, é necessário empreender o conceito do que é o negócio, pois ele transcende a formulação de uma simples ideia e precisa ser bem definido em termos da compreensão do atendimento das necessidades de determinado segmento ou público, com uma forma característica de atendimento segundo suas capacidades. Assim, o negócio pode ser entendido como a arena onde uma organização compete ou, de maneira mais ampla, atua: “Ontem, abriram um negócio de vestuário perto de minha casa”, “Na próxima semana, vou começar a trabalhar num negócio de smartphones”, “No meu bairro, não há grandes negócios, mesmo porque é uma zona essencialmente residencial”. Um negócio é criado e gerenciado por pessoas, e não por forças. As forças econômicas estipulam limites para o que a direção da empresa pode fazer, mas também criam oportunidades. Mas elas, isoladas, não determinam o que um negócio é e o que a organização faz. Um negócio não pode ser definido com base nos lucros da empresa, ele precisa ter como objetivo a satisfação das necessidades de um determinado público consumidor com os produtos e/ou serviços produzidos pela organização (negócio). O que uma organização entende como seu negócio estabelece os limites de sua atuação. Assim, a definição de negócio não deve ser muito ampla nem muito estreita. Em outras palavras, o negócio de uma organização está relacionado com suas atividades principais. Uma empresa complexa pode ter diferentes negócios divididos em unidades estratégicas distintas. A importância de se compreender claramente o que é um negócio está baseada em três elementos fundamentais a qualquer empreendimento: • descrever claramente as necessidades dos grupos de clientes: Por que os clientes buscam o produto ou serviço? Que necessidade ou desejo eles apresentam em relação à área de atividade – alimentação, lazer, vestuário etc.? • identificar o grupo de clientes: Quem são os clientes que demandam solução para aquelas necessidades? • compreender a forma de atendimento das necessidades dos clientes: Que tecnologia ou processo operacional deve ser utilizado para satisfazer as necessidades deles? Vídeo Análise do negócio e transformaçãoempresarial por meio dos cenários 37 Essa compreensão fica mais bem visualizada por meio da Figura 1 a seguir: Figura 1 – O conceito do negócio Possíveis necessidades dos grupos de clientes Possíveis formas de como atender as necessidades dos clientes Possíveis grupos de clientes Grupos de clientes Formas de atendimento Necessidades 3 1 1 2 2 21 3 3 Fonte: Dengen, 1989, p. 54. A conceituação de negócio é importante por três motivos: • descreve as necessidades do grupo de indivíduos, deixando claro para o empreendedor qual a dimensão de seu negócio e estabelecendo os limites de sua atuação; • identifica o produto certo quanto à tangibilidade e intangibilidade como forma de atender às expectativas dos clientes, caracterizando que o negócio de uma organização está relacionado com suas atividades principais; • reconhece o preço justo considerando a percepção de valor e a disposição ao pagamento por parte do cliente, fazendo com que a complexidade de uma organização permita que ela possa ter diferentes negócios em unidades estratégicas distintas. Com isso, pode-se definir um negócio como as atividades que direcionam o fluxo de produtos/serviços ao mercado consumidor e que estabelecem e implantam decisões estratégicas para assegurar essa continuidade. Definir o negócio, portanto, é explicitar o âmbito de atuação da empresa. Para tanto, o primeiro ponto a ser considerado se refere à observação das necessidades e dos problemas que um grupo de clientes potenciais pode apresentar. Uma boa concepção do conceito de negócio é o princípio de um projeto que se materializa posteriormente por meio de um plano concreto. Ou seja, os clientes buscam adquirir uma solução para um problema existente (necessidade), e não simplesmente comprar um produto. A ideia de negócio indica o produto que será o eixo central da empresa ou o serviço que será oferecido. Qualquer empresa pode ter sucesso quando desperta o interesse de clientes potenciais. Por essa razão, uma ideia de negócio bem-sucedida é aquela que identifica uma necessidade humana e que está ligada a um desejo de satisfação. Sede, frio, fome, conquista, afeto, Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações38 poder e realização pessoal são algumas das necessidades mais comuns que os seres humanos seguramente têm, pois fazem parte de suas naturezas. Essas necessidades podem ser atendidas por meio de um produto ou serviço oferecido por uma empresa. Um negócio rentável e com projeção de futuro somente poderá existir se estiver baseado na solução de problemas por meio da venda de bens e serviços. Com relação a esse aspecto, é importante realizar uma análise da demanda, isto é, avaliar se há um grupo objetivo de indivíduos dispostos a desembolsar dinheiro para a solução que está sendo oferecida. O conceito de negócio é fundamental para o sucesso empresarial. Como mencionado, entender o negócio de uma organização é uma questão de cunho praticamente filosófico: por um lado, está muito distante da empresa; por outro, trata-se de uma concepção que permeia todas as decisões de maior abrangência. São necessárias várias análises para que essse conceito possa ser definido; a definição deve ocorrer por meio de decisões tomadas com base em tópicos críticos. Pode-se dizer que é necessário trabalhar com análises e decisões para chegar a esse conceito. A definição do conceito e/ou a caracterização do negócio se dá à medida que são tomadas decisões sobre mercado, posição competitiva e fórmula de produção. Segundo Herrera (2007): A atividade principal de uma organização constitui o seu negócio e, através de sua declaração, comunica ao mercado, de forma sintetizada, suas competências principais e subjacentes. Quando dizemos forma sintetizada, queremos dizer: a declaração do negócio tem de estar contida numa frase curta, assertiva e comunicativa, não deixando margem à dupla interpretação. O negócio deve ser definido em termos do benefício que irá oferecer para suas clientelas e competências da empresa e não apenas do produto que fornece. A declaração do negócio deve explicitar, além das competências de vanguarda da organização, competências essenciais [...], ambas orientadas às necessidades e desejos do cliente. A declaração deve ser abrangente, visando futuras expansões de portfólio do negócio, posto que o negócio de uma organização pode ser abrangente, satisfazendo clientelas distintas por meio de suas linhas de negócio, exigindo por vezes declarações específicas para as diversas clientelas. Apesar de a definição ser uma etapa mais permanente, não pense que será uma “camisa de força” para sua empresa. O impacto das mudanças tecnológicas tem levado empresas a questionarem e refletirem sobre os seus negócios, mesmo sendo líderes mundiais nos setores em que atuam. Afinal, qual é o verdadeiro negócio da empresa? Em um mundo em constante transição e mudança, não se pode ter ou manter um negócio sempre da mesma forma. O negócio precisa ser flexível, mutável, porém, consistente e com identidade. Assim, não se resume ao produto ou serviço que as empresas oferecem ao mercado, mas à finalidade maior que esse produto ou serviço oferece para satisfazer as necessidades do cliente (consumidor). Logo, a definição do negócio depende do que o consumidor percebe, pensa, acredita e quer em determinado momento. Trata-se de um processo de satisfação do cliente, e não de um processo de produção de produtos/serviços. Dessa forma, é preciso definir o negócio em função do mercado em que a organização atua, e não pelos produtos que ela produz ou comercializa. Análise do negócio e transformação empresarial por meio dos cenários 39 O mundo dos negócios implica, em sentido lato, várias noções relacionadas. Quando a atividade dos negócios se desenvolve de modo formal e com certo volume, tende-se a criar empresas. Uma empresa é uma unidade econômico-social, composta de elementos humanos, técnicos e materiais, cujos objetivos consistem em obter utilidades mediante a participação no mercado de bens e de serviços e satisfazer as necessidades dos clientes com o fruto da produção de sua expertise. 2.1.1 Tipos de negócios (organizações) Um dos maiores desafios que o mundo empresarial está enfrentando neste milênio é compreender que, além das forças de mercado que projetam e melhoram a qualidade do ambiente, é necessário também compreender o papel e o significado das organizações para a sociedade, as quais dependem do uso racional dos recursos e das tecnologias de gestão, com a ajuda de padrões baseados no desempenho e no uso criterioso de instrumentos econômicos, em um contexto de regulamentação. Se considerarmos que as necessidades humanas são a mola propulsora (ou força motivadora) da atividade econômica, obrigatoriamente precisamos entender que essas necessidades também são a fonte de inspiração para o surgimento das organizações (empresas ou instituições). Afinal, de que serviria a existência de empresas que fazem a produção de bens e/ou serviços se estes não fossem necessários para a satisfação dos seres humanos? Haveria necessidade da construção de um hospital se as pessoas não precisassem de tratamento? Seria necessário construir escolas se as pessoas não precisassem estudar? Enfim, a sociedade é composta de organizações que, por meio de suas atividades, fornecem meios para o atendimento das necessidades das pessoas. As empresas estão por toda parte e fazem parte do cotidiano de todos. Elas são muito diversificadas quanto a tamanho, forma, produtos e serviços, recursos e áreas de atuação. Em termos de modelos estruturais e tecnológicos, elas diferem entre si, pois atuam em ramos distintos e utilizam uma variedade de recursos possíveis. O grande desafio que os negócios (organizações) enfrentam para se manterem sadios e competitivos no mercado é a capacidade de adoção de uma tipologia específica e de uma ênfase administrativa voltada à produção de bens e/ou serviços que os distingaclaramente na sociedade. As organizações podem ser lucrativas (empresas) e não lucrativas (Forças Armadas, igreja, serviço público, entidades filantrópicas, organizações não governamentais – ONGs etc.). No caso das organizações que não visam ao lucro, os objetivos para os administradores são mais difíceis de serem definidos, como a efetividade de suas ações, a equidade e a justiça. Entende-se por efetividade quando os resultados alcançados de modo eficiente pela organização trazem impactos positivos para seus clientes – os quais, na maioria das vezes, representam a própria sociedade. Nesse contexto, podemos agrupar as organizações em: instituições governamentais, organizações privadas sem fins lucrativos e empresas com fins lucrativos. Assim, desdobramos essa caracterização organizacional da seguinte forma: Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações40 • Os negócios (instituições) governamentais têm por objetivo a promoção do bem comum, ou seja, a satisfação das necessidades públicas – como segurança, saúde e educação –, além de gerir adequadamente todos os recursos do Estado para que o alcance dos objetivos seja claro e eficaz, de acordo com a vontade política emanada da sociedade. • Os negócios sem fins lucrativos (organizações privadas) objetivam basicamente a transformação social, pautada em uma sociedade mais justa e igualitária, e podem ser representados por ONGs, igrejas ou organizações religiosas, sindicatos etc. Sua atuação diz respeito à utilização de recursos, públicos ou não, de modo a a satisfazer as necessidades dos menos favorecidos. Quem define essas prioridades é o próprio ambiente sociocultural que cerca essas corporações. • Os negócios com fins lucrativos (empresas) referem-se às organizações intencionalmente produzidas para atender às necessidades de um determinado e característico grupo de consumidores, como a produção de bens ou a prestação de serviços. Para que esse processo se efetive, a empresa desse ramo se insere em um processo mais ou menos competitivo no mercado, objetivando um posicionamento estratégico que lhe garanta maior quantidade de recursos econômicos e financeiros. Esse posicionamento ocorre em razão da melhor oferta de produtos e, consequentemente, melhor comercialização com a sociedade consumidora. Como já citado, o negócio precisa ser flexível e mutável, porém, consistente e com identidade. Não se resume ao produto/serviço que as empresas oferecem ao mercado, mas sim à finalidade maior desse produto/serviço para satisfazer as necessidades do cliente (consumidor). Logo, a definição do negócio depende do que o consumidor percebe, pensa, acredita e quer em determinado momento. Trata-se de um processo de satisfação do cliente, e não de produção de produtos/serviços. Em outras palavras, não adiantará construir uma ponte de modo eficiente (conforme o projeto e com o mínimo de recursos possíveis) e dentro de um prazo estabelecido se ela não estiver unindo dois pontos, isto é, se não houver efetividade na ação. 2.1.2 A oportunidade como determinante para a definição do negócio Oportunidade é uma circunstância, ocasião ou rumo de ação que, dado o seu caráter de adequação e conveniência, vale a pena ser seguida e explorada como forma de se criar um núcleo de atividades de uma empresa. Para isso, devem-se seguir os critérios de grupos de clientes almejados, necessidades atendidas e tecnologias utilizadas. A oportunidade não precisa nascer de uma inovação radical. Às vezes, trata-se simplesmente de uma maneira mais simples, mais barata de fazer as coisas, como um processo de trabalho aprimorado, um produto com mais qualidade ou adaptado a um segmento específico de mercado, por exemplo. Pessoas importantes no mundo dos negócios muitas vezes não enxergam ou não querem ver uma oportunidade. Elas estão muito envolvidas com o dia a dia da empresa, por isso não conseguem visualizar as possibilidades de mudança, melhorias ou uma nova forma de trabalhar e realizar os processos. Análise do negócio e transformação empresarial por meio dos cenários 41 Para detectar essas oportunidades, é importante estar atento ao ambiente externo, verificando o que poderia melhorar a qualidade de vida das pessoas, reduzir custos e agilizar processos. Olhar para o ambiente externo com espírito crítico e capacidade de análise é a melhor maneira de estimular a criatividade para gerar oportunidades de negócios. No entanto, uma oportunidade não é um bom negócio por si só. Você sabia que no Japão, por exemplo, foi desenvolvida uma lata de refrigerante que tem uma espiral interna com gás e, quando a lata é aberta, o líquido gela automaticamente? Você pode pensar que esse produto é campeão de vendas, mas não é isso o que ocorre, pois o custo ainda é muito alto. Uma oportunidade de negócio não é por si só um bom negócio. Precisamos descobrir se essa oportunidade tem mercado, se pode ser vendida a um preço atrativo, se é possível promovê-la, distribuí-la, produzi-la com qualidade e em escala suficiente, bem como se o negócio será lucrativo dado o determinado potencial de vendas. 2.2 Cenários e informação A análise de cenários no âmbito organizacional compreende o estudo de tendências futuras. Isso significa que cenários são possibilidades de acontecimentos que estão por vir. A busca das empresas em prevê-los, antecipar-se e se preparar para eles é chamada de cenário de um futuro possível. Schwartz (apud LOBATO et al., 2007, p. 51) define cenários como “configurações de um sistema ou situação que se deseja conhecer, sempre vinculada a um determinado período”. O planejamento por cenários se apresenta como uma ferramenta que permite às organizações desenvolverem melhorias na gestão, pois, com esse método, é possível obter grandes benefícios, isto é, apresentar resultados não só interessantes, como também de grande valia para as empresas no processo decisório. Um exemplo de benefício que pode ser citado se refere à antecipação de ameaças e oportunidades. Atualmente, no mundo dos negócios, o mercado está inserido em um ambiente altamente competitivo e vulnerável às mutações da economia, da política, da legislação, entre outros elementos importantes. De acordo com a influência das incertezas que se tem do futuro, é importante simular e analisar os diversos cenários e suas tendências. As mutações no mundo contemporâneo dos negócios propiciam incertezas e, consequentemente, o mercado mundial se encontra fragilizado perante as mudanças dos fatores macroambientais, os quais envolvem aspectos culturais, demográficos, econômicos, ecológicos, legais, mercadológicos, políticos, sociais, tecnológicos, entre outros, que fazem parte do ambiente externo da organização. Esses fatores têm grande influência e podem interferir bastante nas decisões das empresas. Sob essa ótica, conforme Silva et al. (2007, p. 32), “devido a esta complexidade de influenciadores e incertezas, é necessário que se criem e se analisem os diversos cenários e suas tendências”. Buarque (apud GRUMBACH; MARCIAL, 2008) complementa: “Quanto Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações42 maior a incerteza e a velocidade das transformações mais necessária se faz a antecipação de futuros, de modo a preparar as empresas e os governos para as surpresas e descontinuidades”. 2.2.1 O que podemos entender por cenários? O primeiro passo para começarmos a discutir a criação e o desenvolvimento de cenários é procurar entender o que eles realmente são. Para Moço (1996, p. 29): cenário, segundo definição do dicionário Aurélio, é o lugar onde decorre uma ação ou parte da ação de uma peça, romance, filme etc. Numa avaliação ergonômica, cenários são composições realistas da tarefa do usuário, relacionadas com o objetivo da avaliação. São simulações de uma tarefa real, onde o usuário interage com uma máquina e onde é registrado cada procedimento tomado, com a finalidade de saber se essa interação é boa ou não. A palavracenário vem do latim scaenarium, que significa “local da cena”. Considerando a etimologia do termo, podemos entender cenário como uma descrição que contém atores, informação por trás deles, informações sobre o seu ambiente, seus objetivos, além de sequências de ações e eventos. Trazendo para a linguagem dos negócios, o cenário é o próprio ambiente competitivo no qual uma organização atua em busca de sobrevivência e crescimento. Na abordagem do planejamento estratégico, o cenário é definido como o conjunto de hipóteses quantitativas e qualitativas sobre características, condições e fatores predominantes no ambiente externo que podem afetar as estratégias de uma organização e, assim, condicionar seus planos de ação, bem como suas operações e seus resultados. Segundo Campbell (apud VILLAME, 1994, tradução nossa), por exemplo, “o termo cenário é designado globalmente como casos representativos de interações entre usuário e o sistema técnico”. A representatividade desse cenário depende do objetivo pelo qual é utilizado. Em linhas gerais, cenários representam critérios e medidas para a preparação do futuro da empresa. Segundo Godet (1987, tradução nossa), trata-se do “conjunto formado pela descrição, de forma coerente, de uma situação futura e do encaminhamento dos acontecimentos que permitam passar da situação de origem à situação futura”. A finalidade essencial da construção de cenários é apresentar aos gestores uma imagem significativa de prováveis futuros, em horizontes de tempos diversos. Conforme os autores citados nesta seção, compreende-se que os cenários consistem em uma descrição detalhada de uma possível situação do ambiente no futuro, com base em informações disponíveis no ambiente externo da organização. Uma vez estabelecido o cenário, procura-se construir estratégias que respondam de maneira efetiva às necessidades da empresa, para que ela atinja seus objetivos de negócios. Por meio dos cenários, os gestores podem avaliar e fazer uma projeção do relacionamento entre a empresa e o ambiente, sendo que este deve ser projetado pela construção dos cenários dentro de alguns anos. Os cenários também podem estar atrelados à reflexão sobre possíveis maneiras de alterar esse relacionamento, visando assegurar um posicionamento mais favorável para o futuro da empresa. Análise do negócio e transformação empresarial por meio dos cenários 43 2.2.2 Qual a compreensão de informação? Atualmente, fala-se em era da informação, advento da era do conhecimento ou sociedade do conhecimento. Dentro de um conceito mais abrangente de entendimento, o que seria informação? Qual seria a utilidade de uma informação no planejamento estratégico das organizações? Como conceito geral, a informação é o resultado de processamento, manipulação e organização de dados, de maneira que represente uma adição ao conhecimento de quem a obtém. Segundo o Online Etymology Dictionary (INFORMATION, 2008), em tradução livre, a palavra informação vem do latim informationen, que significa delinear, conceber ideia, ou seja, moldar mentalmente, dar forma – por exemplo, em educação, treinamento e instrução. Devido a essa vasta concepção que se pode ter desse termo não existe uma definição exata para ele. Esse parecer é intuitivo, de senso comum. Porém, nos dicionários, informação aparece relacionado à ação de informar. Com isso, conclui-se que a informação provém de uma ação (ato de informar), mas não são traçadas características dessa ação. Esse conceito, portanto, pode ser vago e amplo. Em praticamente todas as tarefas que realizamos ou contatos que fazemos, estamos absorvendo, transmitindo e solicitando informações. Por exemplo, em uma conversa, trocam-se informações. Ao assistir a um filme ou a um noticiário, estamos recebendo informações. De acordo com Simon (1999), “usamos, absorvemos, assimilamos, manipulamos, transformamos, produzimos e transmitimos informação durante o tempo todo, durante todo o tempo”. A informação diz respeito à ordenação e organização dos dados de modo a transmitir significado e compreensão dentro de um determinado contexto. Refere-se, assim, ao conjunto ou à consolidação dos dados a fim de fundamentar o conhecimento. Atualmente, as empresas têm exatamente essa preocupação com a informação. Se antiga- mente elas meramente necessitavam de dados, hoje em dia a inquietação se dá em transformar uma grande quantidade de dados em informações decisivas, as quais serão o grande subsídio para que os gestores tomem suas decisões pautados em dados precisos. Com a competitividade atual, cada vez mais as empresas disputam para serem as líderes de mercado e estar na mente de seus clientes. Essa competição, atrelada aos avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas, acarretou um aumento de informações que chegam aos destinatários das mais variadas formas e com uma rapidez e volume nunca imaginados antes. Essa característica mudou sobremaneira a vida das pessoas e das instituições a tal ponto de a era contemporânea ser denominada como a era da informação e do conhecimento, pois antes de qualquer outro benefício imediato, permitem e facilitam o acesso às informações, com tal agilidade e rapidez, que hoje, a gestão dessas informações é a compreensão da própria ocorrência da mudança, tendendo sempre à imposição da assimilação de novos valores e novos conceitos. (PORÉM, 2005, p. 26) Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações44 Como estamos entrando na era da informação, faz-se necessário que um significado do termo comece a ser traçado mais precisamente. Entretanto, “a importância da informação em nossas vidas e a forma como a estamos encarando estão sendo modificadas, e não temos muitos estudos sobre a informação em si mesma, continuamos com um conceito vago do que é a informação” (SIMON, 1999). No ambiente organizacional, a informação pode ser considerada fator estratégico, desde que seja desenvolvida a gestão da informação voltada para buscar vantagem competitiva. Valentim (2006, p. 9) corrobora essa afirmação ao mencionar que a informação e o conhecimento têm papel fundamental nos ambientes corporativos, porque todas as atividades desenvolvidas, desde o planejamento até a execução das ações planejadas, assim como o processo decisório, são apoiadas por dados, informação e conhecimento. Pode-se observar que, em cada setor de atividade humana, a palavra informação recebe um diferente significado. Em especial nas organizações, ela é elemento primordial no que se refere a processos de decisão. Porém, não é importante somente ter a informação, mas saber como armazená-la, organizá- -la e interpretá-la. Estabelecer o grau de importância de determinada informação, qual a melhor e mais rápida forma de obtê-la, é um fator determinante na qualificação da eficiência da empresa como um todo. Ainda segundo Valentim (2006), a informação é entendida como a coordenação de todos os dados importantes para a empresa, tanto para os gerados internamente como para os produzidos externamente. Nesse sentido, de acordo com Braga (2019, p. 6): À escala das organizações, a informação é um fator decisivo na gestão por ser um recurso importante e indispensável tanto no contexto interno como no relacionamento com o exterior. Quanto mais fiável, oportuna e exaustiva for essa informação, mais coesa será a empresa e maior será o seu potencial de resposta às solicitações da concorrência. Alcançar esse objetivo depende, em grande parte, do reconhecimento da importância da informação e do aproveitamento das oportunidades oferecidas pela tecnologia para orientarem os problemas enraizados da informação. A revolução da informação exige, assim, mudanças profundas no modo como vemos a sociedade na organização e sua estrutura, o que se traduz num grande desafio: aproveitar as oportunidades, dominando os riscos inerentes ou submeter-se aos riscos com todas as incertezas que acarretam. Na era da informação, ela tem a finalidade de se multiplicare dinamizar os diversos campos da economia. É a força que proporcionará o desenvolvimento tanto econômico quanto social, cultural, político, tecnológico etc. Sob essa ótica, conforme Braga (2019, p. 6-7), “o acesso à informação e a capacidade de, a partir desta, extrair e aplicar conhecimentos são vitais para o aumento da capacidade concorrencial e o desenvolvimento das atividades comerciais num mercado sem fronteiras”. Atualmente, para que uma empresa tenha vantagem competitiva utilizando-se da infor- mação, ela deve usá-la como uma rede que a conecta a outras empresas, clientes e fornecedores. Análise do negócio e transformação empresarial por meio dos cenários 45 2.3 Gestão estratégica: um novo modelo de organização A chamada gestão organizacional nada mais é do que a administração de um negócio, empresa ou organização com o objetivo de alcançar metas e conquistar resultados positivos e rentáveis. A função desse tipo de conceito de gestão tem como finalidade conduzir pessoas e processos de maneira eficaz, promover melhorias, criar um ambiente colaborativo e motivado, propício ao autodesenvolvimento e, consequentemente, à conquista de resultados. Mas, na prática, você sabe o que uma gestão organizacional faz? No contexto de uma organização, a estratégia é um conjunto de ações que envolvem planejamento, execução, coordenação e ajustes constantes, com o objetivo de levar a organização a se adaptar a um ambiente de constantes mudanças, em busca de determinados objetivos. Assim, a estratégia está diretamente associada a “pensar no futuro”. As organizações têm de ser eficazes, sejam elas pequenas ou grandes. Toda empresa tem por objetivo básico e fundamental a manutenção do seu processo de crescimento, significando a possibilidade de aumentar, manter ou alterar variáveis, como faturamento, rentabilidade, participação de mercado, área de atuação, agregação de valor, reconhecimento social, legitimidade etc. A manutenção do processo de crescimento exige e requer eficiência por parte da organização. Captar e compreender as grandes tendências que estão se delineando para os próximos anos é tão vital para a gestão estratégica das organizações quanto administrar os problemas do dia a dia. Uma gestão estratégica desatrelada da realidade presente pode tropeçar em obstáculos mais imediatos e comprometer a sobrevivência da organização. 2.3.1 Conceito de gestão estratégica Segundo Daft (1998, p. 128, tradução nossa), gestão estratégica “é um conjunto de decisões e ações usadas para formular e implantar estratégias que fornecerão um ajuste competitivamente superior entre a organização e o seu ambiente para atingir as metas da organização”. Em outras palavras, refere-se à ação ou ao caminho mais adequado a ser executado para alcançar os objetivos e desafios da empresa. Para Ansoff e McDonnell (1993, p. 295), a gestão estratégica diz respeito à “mobilização de todos os recursos de uma organização, no âmbito interno e externo, visando atingir objetivos em longo prazo”. Poderíamos continuar enumerando conceitos a respeito de gestão estratégica nas empresas. Afinal, nas últimas décadas, este tem sido um dos temas mais debatidos no ambiente corporativo. Porém, com base nessas definições, você já pode formular sua própria ideia de gestão estratégica nas empresas. A gestão est ratég ica é um processo cont ínuo e interativo que visa manter uma organização como um conjunto apropriadamente integrado ao seu ambiente. É um procedimento sistemático, planejado, dirigido e executado pela Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações46 alta direção da empresa, envolvendo todos os líderes e responsáveis, que busca garantir a continuidade, a sobrevivência e o desenvolvimento da organização, através da contínua adequação de suas estratégias, capacitação, estrutura e infraestrutura às mudanças, tendências e descontinuidades observadas ou previsíveis no ambiente externo. (ANSOFF; McDONNELL, 1993, p. 25) Ainda de acordo com Ansoff e McDonnell (1993), a gestão estratégica é uma abordagem sistemática à gestão de mudanças, compreendendo: posicionamento da organização por meio da estratégia e do planejamento, resposta estratégica em tempo real por meio da gestão de problemas e gestão sistemática da resistência durante a implantação da estratégia. A gestão estratégica é um processo contínuo e integrado que visa auxiliar a administração no gerenciamento da organização e se baseia em três pilares fundamentais: planejamento estratégico, execução da estratégia e acompanhamento da estratégia. Ou seja, relaciona-se ao conjunto de práticas e objetivos definidos pelos principais gestores de uma empresa, levando em consideração os ambientes interno e externo da companhia. A gestão estratégica é uma forma de otimizar e tornar mais eficaz a gestão de um negócio. É o conjunto de ações de gerenciamento dos recursos da empresa, a fim de alcançar metas e objetivos. Como fica claro pelo próprio nome, essa forma de gestão existe para administrar e conduzir um negócio de acordo com algumas estratégias, passando por toda a estrutura da organização. Atualmente, essa é uma das áreas do campo da gestão de maior destaque e relevância. Sua importância reside no fato de se constituir em um conjunto de ações gerenciais que permitem aos gestores de uma empresa mantê-la integrada ao seu meio e no curso correto de desenvolvimento, possibilitando atingir seus objetivos e sua missão (CAMARGOS; DIAS, 2003). Resumindo, a gestão estratégica é uma expressão aqui utilizada para englobar diversos conceitos e disciplinas, como: planejamento estratégico, administração estratégica, sistemas como balanced scorecard1, e deve passar pela definição de metas e objetivos, para em seguida serem aplicadas técnicas de otimização em todas as áreas da estrutura da empresa. Assim, os objetivos ficam mais fáceis de serem alcançados, bem como as metas de serem batidas e os resultados maximizados. Transmitindo tudo isso em palavras mais técnicas, gestão estratégica se refere ao processo de desenvolvimento e manutenção de uma referência estratégica entre os objetivos e as capacidades da organização e as mudanças de suas oportunidades no mercado. Trata-se de um processo contínuo e dinâmico que foca o gerenciamento organizacional, baseando- se, como já citado, em três pilares fundamentais: planejamento, execução estratégica e monitoramento estratégico. O primeiro estabelece uma direção com base na missão, na visão e nos valores. Após definir-se o foco, são estabelecidas as metas. Já o segundo engloba o curso de ação selecionado para o alcance dos objetivos propostos por meio de ações orientadas ao 1 Segundo Kaplan e Norton (apud OLIVEIRA, 2008), trata-se de uma ferramenta que “traduz a missão e as estratégia das empresas num conjunto abrangente de medidas de desempenho que serve de base para o sistema de medição e gestão estratégica” a curto, médio e longo prazos. Análise do negócio e transformação empresarial por meio dos cenários 47 desempenho. Por sua vez, o terceiro lida com o acompanhamento de indicadores-chave sobre o desempenho, propondo melhorias e incentivando o alcance das metas propostas. 2.3.2 Objetivos e importância da gestão estratégica A gestão estratégica busca gerenciar as ações e os objetivos definidos anteriormente no planejamento estratégico, sempre levando em conta os ambientes que envolvem a organização, mantendo o trabalho alinhado aos objetivos estratégicos. Além disso, ela abrange a maximização do desenvolvimento dos valores da corporação, a capacidade gerencial, bem como as responsabilidades como organização inserida na sociedade e seus sistemas administrativos. O objetivo fundamental da gestão estratégica é a manutenção do crescimento da organização, o que requer eficiência. Para atingi-la, é necessário que se viabilize a sobrevivência organizacional em curto prazo de modo que assegure uma perspectiva de existência sólida em longoprazo. A gestão estratégica é importante para as empresas, pois auxilia o administrador a dedicar tempo para criar, adaptar e reformular o posicionamento das organizações em relação a: • assumir o controle sobre o destino; • enxergar as oportunidades; • transformar ameaças em oportunidades; • definir novos rumos para a organização; • introduzir a disciplina de pensar em longo prazo; • desenvolver o processo educacional de incentivar a interação e a negociação; • mobilizar recursos para um objetivo comum; • promover a mudança; • vender ideias. Nesse contexto, a gestão estratégica nas empresas diz respeito à busca por um posicionamento favorável no mercado, ou seja, competitividade. Assim, pretende transformar a ideia de negócio em valor real para todos os stakeholders da organização, mediante um plano de ação contemplando objetivos e metas que conduzam a empresa à lucratividade, competitividade e sobrevivência mercadológica. 2.3.3 Principais benefícios da gestão estratégica O mais importante benefício da utilização do modelo de gestão estratégica pelas instituições é a tendência de aumentarem seus níveis de lucro. Também é importante ressaltar o comprometimento dos membros da organização com a realização das metas organizacionais de longo prazo e, ainda, a constante avaliação de mercado, o Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações48 que torna menos provável que a organização seja surpreendida por movimentos mercadológicos e ações de seus concorrentes. Se a gestão estratégica for implantada incorretamente, haverá: • redução de lucratividade; • baixa motivação dos funcionários; • surpresas dentro do ambiente de trabalho que podem mutilar a organização. Assim, uma boa gestão estratégica traz mais discernimento para identificar o que funciona e orienta o resultado ao que realmente importa, impedindo que a empresa e seus colaboradores percam o foco e permitindo que saibam realmente o que estão fazendo e para onde estão indo. 2.4 Etapas da gestão estratégica A gestão estratégica é uma “metodologia” importante que visa assegurar o sucesso da empresa no momento atual, principalmente seu sucesso no futuro. Ela inclui algumas etapas distintas, as quais estão apresentadas nos tópicos que seguem. 2.4.1 Análise do ambiente A análise do ambiente se refere ao processo de identificação de oportunidades, ameaças, forças e fraquezas que afetam a empresa no cumprimento da sua missão. Oportunidades são situações externas, atuais ou futuras, que se forem adequadamente aproveitadas pela empresa, poderão influenciá-la positivamente. Essa etapa tem o propósito de avaliar o ambiente organizacional de modo que a administração possa reagir adequadamente e aumentar o sucesso. O ambiente de uma organização é dividido em três níveis distintos: • ambiente geral; • ambiente operacional; • ambiente interno. Ao abordar sobre as organizações, é preciso considerar não só o que acontece internamente nelas, mas também o que se passa externamente. Isso inclui, além das pessoas que integram uma organização, seus equipamentos, instalações, processos e estruturas. Uma empresa está inserida em um contexto com o qual interage direta ou indiretamente, por isso, ela também é afetada por fatores econômicos, sociais, culturais, tecnológicos, climáticos, legais e políticos. O enfoque sistêmico propõe que as organizações, segundo Ferreira, Reis e Pereira (2000), “sejam sistemas sociais abertos em constante interação com o ambiente, no qual estão inseridas” e “os processos nelas desenvolvidos devem ser compatíveis com o ambiente, ou seja, as necessidades dos mercados e a adaptação tecnológica”. A perspectiva de organizações como sistemas abertos amplia os elementos que devem ser considerados ao se pensar sobre elas. Vídeo Análise do negócio e transformação empresarial por meio dos cenários 49 2.4.2 Estabelecer a diretriz organizacional As diretrizes organizacionais são compostas de missão, visão e objetivos da instituição. Elas mostram a meta organizacional, o que confere à empresa um melhor aproveitamento dos seus pontos fortes e das oportunidades que o mercado oferece. Ao mesmo tempo, abranda os pontos fracos e os defeitos diante das ameaças que poderão afetar as atividades da empresa. A missão se refere à finalidade de uma organização, a razão pela qual ela existe. Abrange informações com relação ao tipo de produto ou serviço produzido, quem são seus clientes e quais são os valores importantes da empresa. Ela ajuda a concentrar o esforço das pessoas para uma direção comum, uma vez que a missão torna explícitos os principais alvos que a organização está tentando atingir. Também serve de base lógica geral para alocar recursos organizacionais. Os objetivos organizacionais, por sua vez, são metas para as quais a organização está direcionada. Eles são importantes, pois os gestores podem usá-los como auxílio na tomada de decisão e como guias para aumentar a eficiência da organização e conduzir avaliações de desempenho. Os objetivos analisam áreas como posição no mercado, inovação, produtividade, níveis de recursos, lucratividade, desempenho e desenvolvimento do administrador, desempenho e atitude do empregado e responsabilidade social. No estabelecimento da diretriz organizacional, precisa-se ter em mente que sempre deve haver uma combinação consistente entre a missão e os objetivos da instituição. 2.4.3 Formulação estratégica Entende-se por formulação de estratégias as projeções e seleções estratégicas que levam à realização dos objetivos organizacionais. Deve-se analisar o ambiente fornecendo informações para a formulação da estratégia, a fim de analisar as questões críticas. Essa análise refere-se ao estudo da situação atual da organização e à formulação das estratégias adequadas. Para tanto, há algumas questões críticas que devem ser levadas em consideração, as quais estão expostas a seguir: • Quais são os propósitos e os objetivos da organização? • Qual é o rumo que a organização está tomando? • Que fatores ambientais críticos a organização está enfrentando? • O que pode ser feito para alcançar os objetivos organizacionais de forma mais efetiva no futuro? Os administradores podem formular estratégias organizacionais somente quando compreenderem claramente aonde a organização quer chegar, para onde está indo e em que ambiente ela opera. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações50 2.4.4 Implementação estratégica Diz respeito ao processo de colocar as estratégias em ação. O sucesso das organizações depende da implantação efetiva das estratégias. A cultura organizacional é importante no que se refere à implementação da estratégia, pois está condicionada aos valores, às crenças e às atitudes da empresa que são compartilhadas pelos empregados. Por sua vez, a implementação da estratégia é a sua execução, a fim de se obter o desempenho programado dentro do prazo previsto. Os principais aspectos da implementação da estratégia são: • desenvolver uma organização capaz de executar a estratégia com sucesso; • elaborar orçamentos que direcionem os recursos a atividades internas críticas para o sucesso estratégico; • estabelecer políticas de apoio à estratégia; • motivar as pessoas a perseguirem os objetivos energicamente e, se necessário, modifi- carem seu comportamento de trabalho para melhor adequarem as necessidades à execução da estratégia com sucesso; • associar a estrutura de recompensas com a realização dos resultados programados; • criar uma cultura corporativa e um clima de trabalho que conduzam à implementação da estratégia de maneira bem-sucedida; • instalar uma série de sistemas internos de apoio que capacitem o pessoal para executar seu papel estratégico eficientemente todos os dias; • instituir as melhores práticas e programas para a melhoria contínua; • exercer a liderança interna necessária para avançar com a implementação e continuar melhorando a maneira de execução daestratégia. São muitas as empresas, porém, que arriscadamente utilizam apenas ferramentas básicas, a despeito de todos os instrumentos disponíveis para se navegar com mais tranquilidade nesses turbulentos tempos de globalização. 2.4.5 Controle estratégico Trata-se da principal etapa do processo de gestão estratégica e consiste em fazer com que certas estratégias se desenvolvam da forma planejada. Segundo Certo e Peter (1993), esse processo é subdividido em três etapas: medir desempenho, comparar o desempenho medido com os padrões e tomar a atitude corretiva necessária: • Medir desempenho: de acordo com Titles (apud GHOBAD, 2003), é preciso questionar: “a estratégia organizacional é consistente internamente? A estratégia organizacional é consistente com seu ambiente? A estratégia organizacional é muito arriscada? A duração da estratégia é apropriada?”. Análise do negócio e transformação empresarial por meio dos cenários 51 • Comparar o desempenho medido com os padrões: os padrões indicam níveis aceitáveis de desempenho organizacional? Nessa etapa, monta-se um caso para concluir se o que ocorreu com o resultado do processo de administração estratégica é aceitável. • Tomar a atitude corretiva necessária: se os eventos estiverem ocorrendo em sintonia com os objetivos organizacionais estabelecidos dentro do processo de administração estratégica, não haverá necessidade de ação corretiva. No entanto, se estiverem fora de sintonia, a ação corretiva se fará necessária. A utilização do modelo de gestão estratégica leva a empresa a realizar um diagnóstico situacional, destacando oportunidades e ameaças, bem como forças e fraquezas, a fim de cruzar essas realidades e descobrir suas inter-relações. Com base nesse processo de autocrítica organizacional, a corporação encontrará plenas condições de direcionar seu foco para o estabelecimento de visão de futuro, missão organizacional, desafios estratégicos e estratégias gerais que nortearão os rumos do negócio para o curto, médio e longo prazos. Em síntese, o modelo de gestão estratégica atua no sentido de levar a empresa a se adequar à realidade de mercado, descobrir oportunidades e projetar um futuro. Dessa forma, os processos e investimentos serão realizados de maneira mais organizada, racional e profissional, contribuindo para a redução do grau de incerteza e para o alcance de melhores resultados. Considerações finais A visão do negócio e dos cenários de transformação empresarial passa a ser uma ferramenta de extrema utilidade para administradores, pois quanto maior for o conhecimento dos cenários idealizados, mais decisões concisas serão tomadas. O problema é que para a formação de cenários lógicos faz-se necessário contar com uma mão de obra que possua percepção e análise bem apuradas de ambientes externos, além de um espírito de mudança forte, capaz de não obstruir sua ousadia e de preparar para os casos de os cenários nunca se concretizarem, o que é difícil de encontrar nas organizações. O diferencial presente nas empresas que adotam o sistema de planejamento de cenários está justamente no preparo que elas têm para mudar. De nada adianta ter uma equipe dedicada ao estudo do ambiente externo a fim de elaborar cenários e dispor de executivos que não acreditam neles, pois dessa forma pode-se acabar tomando decisões que contradizem o planejamento. Nesse sentido, é preciso estar sempre pronto para uma mudança tanto na vida pessoal quanto na profissional, e nas corporações isso não é diferente. Sob essa ótica, o planejamento de cenários se torna uma poderosa arma de vantagem competitiva quando combinada com uma mão de obra ousada e capaz. Portanto, quanto melhor se conhecer o território por onde a matilha andará, melhor será a “caçada”, ou seja, quanto mais conhecimento for desenvolvido para o planejamento de um cenário, melhores serão as oportunidades para a solução dos problemas. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações52 Ampliando seus conhecimentos Muitas são as pesquisas desenvolvidas nessa área, por isso é relevante acompanhar as produções periodicamente. Entre os materiais para aprofundamento da temática, recomendamos: • BORSAGLI, J. C. R. Cenários, tendências e o mundo do trabalho. Disponível em: http:// disciplinas.nucleoead.com.br/pdf/Livro_cenarios.pdf. Acesso em: 12 abr. 2019. Este artigo faz uma explanação muito consistente dos cenários da atualidade e de sua importância para as empresas. • 5 FILMES que todo empreendedor deveria assistir | #Office 6. 10 set. 2016. 1 vídeo (7 min). Publicado pelo canal Tiago Tessmann. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=vsuofi4DHfY. Acesso em: 12 abr. 2019. Neste vídeo, descrevem-se alguns argumentos importantes sobre o negócio e a comunicação. Atividades 1. Como podemos definir a palavra cenário no mundo dos negócios? 2. Por que as empresas, na constante busca de oportunidades, devem estar em sintonia com as transformações mundiais? 3. Por que os executivos das empresas devem sempre buscar o entendimento dos cenários? 4. Como podemos entender a palavra informação no contexto dos negócios? 5. Cite e explique quais são as cinco etapas da gestão estratégica. Referências ANSOFF, H. I.; McDONNELL, E. J. Implantando a administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1993. BRAGA, A. A Gestão da informação. SIMA: gestão da informação memória e arquivo. Disponível em: http:// simagestao.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Gestao-da-Informacao.pdf. Acesso em: 13 abr. 2019. CAMARGOS, M. A. de; DIAS, A. T. Estratégia, administração estratégica e estratégia corporativa: uma síntese teórica. Caderno de pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 27-39, jan./mar. 2003. Disponível em: www.geocities.ws/occfi/estrategia.pdf. Acesso em: 23 maio 2019. CERTO, S.; PETER, J. P. Administração estratégica: planejamento e implementação da estratégia. São Paulo: Makron Books, 1993. DAFT, R. L. Organization theory and design. 6. ed. Cincinati, OH: Thomsen, 1998. Análise do negócio e transformação empresarial por meio dos cenários 53 DENGEN, R. O empreendedor. São Paulo: McGraw-Hill, 1989. FERREIRA, A. A.; REIS, A. C. F.; PEREIRA, M. I. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias – evolução e tendências da moderna administração de empresas. São Paulo: Pioneira, 2000. GHOBAD, C. 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Para tanto, o conceito de ambiente será analisado de acordo com seus níveis de atuação: ambiente geral (ou macro) e ambiente operacional (ou setor). 3.1 Conceito de ambiente organizacional Uma importante etapa no processo estratégico é analisar o contexto em que a empresa opera, ou seja, analisar o ambiente empresarial. Este nos revela como os homens se organizam para a satisfação de suas necessidades: constituem diversos organismos sob a forma de entidades industriais, comerciais, financeiras, recreativas, desportivas, religiosas, familiares, entre outras (CATELLI, 2001). Quando se fala em análise ambiental, muitas pessoas pensam no ambiente físico (clima, vegetação, grau de urbanização etc.). Porém, ela diz respeito ao processo da análise do ambiente organizacional, uma técnica administrativa que deu origem ao que denominamos planejamento estratégico (FISCHMANN; ALMEIDA, 1995). Segundo Motta (1982), o primeiro resultado da constatação de que as organizações vivem em um ambiente de turbulência e constantes mutações foi a necessidade de aperfeiçoarem seus processos de planejamento e se manterem em estado de alerta para possíveis modificações futuras. Nesse sentido, a atividade de monitoramento é entendida como a observação sistemática das variáveis que podem influenciar o desempenho da organização. Trata-se de uma maneira de coletar informações para o processo estratégico, seja na fase de elaboração da estratégia, na implementação dos planos ou seja nas mudanças necessárias para adequar organização e ambiente. Dessa forma, monitorar o ambiente externo da empresa pode delinear a principal diferença entre uma gestão estratégica e outra não estratégica. Em conformidade com esse raciocínio, Certo e Peter (1993) acreditam que a atividade de análise do ambiente é a principal etapa do processo estratégico, indicando que as variáveis ambientais devem ser constantemente examinadas pela empresa. Os autores afirmam que a análise do ambiente consiste, exatamente, em “monitorar o ambiente organizacional para Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações56 identificar os riscos e as oportunidades presentes e futuras, que possam influenciar na capacidade da empresa em atingir objetivos” (CERTO; PETER, 1993, p. 35). Na mesma direção, Carvalho, Andrade e Escrivão Filho (2004, p. 4) afirmam que a etapa de monitoramento do ambiente deve fornecer aos administradores informações adequadas para reflexão, sendo que elas devem ser obtidas de todos os níveis do ambiente organizacional e a análise dessas informações deve estabelecer a relevância destes níveis ambientais e das várias questões estratégicas para a organização. Há uma multiplicidade de ameaças no ambiente empresarial, as quais devem ser administradas de maneira conjunta para prevenir desequilíbrios. Assim, a análise do ambiente nada mais é do que um processo de identificação de oportunidades, ameaças, forças e fraquezas que afetam a empresa no cumprimento de sua missão. A organização deve se preocupar com fatores do ambiente externo, uma vez que ele cria incertezas. É preciso responder a essas incertezas projetando a organização para se adaptar ao ambiente e influenciá-lo (Figura 1). A incerteza aparece quando os gerentes não têm informação suficiente sobre os fatores ambientais para compreender e antecipar as necessidades e mudanças (DAFT, 1999). Figura 1 – Estrutura da estratégia empresarial Análise do ambiente Macroambiente setorial Econômico Modelo de Porter Social Atratividade Político Ciclo de vida Tecnológico Concorrência Análise da organização Cadeia de valor Estratégias genéricas Competências Pontos fortes Pontos fracos Negócio Análise Formulação Implantação Objetivos gerais Missão e Visão Marketing Finanças Estratégias gerais A P R E N D I Z A G E M Produção/ operações Recursos humanos I N T E G R A Ç Ã O I M P L E M E N T A Ç Ã O Ambiente x Organização Fonte: Fernandes; Berton, 2005, p. 3. A ideia de ambiente é tratada de maneira muito vaga e imprecisa dentro da teoria das organizações, como se fosse um conjunto de forças externas à empresa. Apesar disso, historicamente, o ambiente tem sido considerado um elemento-chave na definição de estratégias organizacionais. O ambiente empresarial em seus diversos aspectos vem se modificando e se tornando mais competitivo e exigente. As empresas, em resposta às novas exigências ambientais, estão passando O ambiente em que as empresas operam 57 por mudanças profundas, e, como não poderia deixar de acontecer, os processos de mudança têm impactado a economia e as instituições de modo geral. Na esteira dessa afirmação, Robbins (2001, p. 89) argumenta que o “ambiente de uma organização é composto por forças e instituições externas a ela que podem afetar o seu desempenho”. O ambiente normalmente inclui fornecedores, clientes, concorrentes, sindicados, organismos governamentais regulamentares e grupos de interesses especiais. Em cada organização existe um ambiente diferente. Por isso, o caráter preciso desse ambiente depende do nicho que a empresa demarcou para si mesma em relação à gama de produtos ou serviços que oferece e aos mercados a que atende. Podemos conceituar o ambiente empresarial como todos os elementos que envolvem a empresa, correspondendo ao que está para além das fronteiras ou dos limites da organização. Dessa forma, o ambiente é caracterizado por intensa competição, dificuldades econômicas, mudanças tecnológicas, incertezas sobre políticas governamentais e outros fatores que ameaçam o futuro da corporação. Seguindo a mesma lógica, o ambiente funciona como um campo dinâmico de forças que interagem entre si, provocando mudanças e influências positivas nas oportunidades que surgem, ao mesmo tempo que amortece e absorve as influências negativas ou se adapta a elas. Dessa forma, o ambiente consiste em uma fonte de recursos e oportunidades de onde a organização extrai os insumos necessários ao seu funcionamento e subsistência, mas é também uma fonte de restrições, limitações, coações, problemas, ameaças e contingências para a sua sobrevivência. A organização identifica e aprende a se comportar frente a uma multiplicidade de forças ambientais diferentes, de modo a saber aproveitar o embalo das forças favoráveis e a evitar o impacto das forças desfavoráveis para manter sua sobrevivência e seu crescimento. O ambiente empresarial é, assim, definido e entendido como aquele cujas forças impactam diretamente os resultados da empresa e será abordado com base nas seguintes dimensões: munificência, dinamismo e complexidade. Essas dimensões pressupõem que o estudo do ambiente passa por uma discussão sobre: • o grau no qual o número e a sofisticação dos elementos no ambiente tornam o entendimento mais difícil (munificência); • a estabilidade/previsibilidadede um ambiente (dinamismo); • o nível de recursos disponíveis em um ambiente, relativo ao número de firmas competindo por esses recursos (complexidade). Além do exposto, de acordo com Marcovitch (1972), o ambiente traz o conceito de eficácia, o qual “se refere ao êxito do sistema como um todo, tanto internamente como no seu relacionamento externo. Por exemplo, de nada adianta uma organização prestar um serviço eficientemente, se esse serviço não é relevante para a comunidade”. Deve-se, portanto, abordar a organização como um sistema aberto, afirmando que ela é um “organismo” ajustável que reage às influências do ambiente. Portanto, trata-se de um conceito de ecologia empresarial que envolve a inserção do “organismo-empresa” em seu ambiente. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações58 Sob esse prisma, de acordo com Oliveira (1991, p. 89), “o ambiente empresarial não é um conjunto estável, mas um conjunto muito dinâmico”. Nele atuam grandes quantidades de forças, de diferentes dimensões e naturezas constantemente mutáveis, pois cada uma delas interfere, influencia e interage com as demais forças do ambiente. Nesse contexto, as empresas devem procurar aproveitar as oportunidades, bem como amortecer as ameaças ou, simplesmente, adaptar--se a elas. Portanto, o ambiente empresarial de cada organização é diferente. Em qualquer momento, o seu caráter preciso depende do nicho1 que a empresa demarcou para si mesma em relação à gama de produtos ou serviços que oferece e aos mercados a que atende. 3.2 Níveis de análise do ambiente empresarial A análise ambiental surgiu da compreensão de que as organizações humanas são sistemas abertos e recebem influência do ambiente em que estão inseridas. Somente é possível entender as organizações em sua imensa variedade depois de analisar o que elas têm em comum e de fundamental. Assim, apenas após conhecer seus constituintes é que se torna viável comparar diferentes organizações e empresas. Desse modo, a partir de agora, será examinado o que é fundamental a todas as organizações. Para isso, a metodologia sistêmica aplicada à administração será utilizada, dentro de uma ideia filosófica da existência de uma estrutura para viabilizar uma função. O conceito de sistema passou a dominar as ciências e, principalmente, a administração. A abordagem sistêmica, em administração, é tão comum que, por vezes, é até difícil para uma pessoa se dar conta de que está a utilizá-la a todo o momento. A palavra sistema tem muitas conotações: um conjunto de elementos interdependentes; um grupo de unidades combinadas que formam um todo organizado, entre outras. O ser humano, por exemplo, é um sistema com certo número de órgãos e membros, e é somente quando estes funcionam de modo coordenado que uma pessoa consegue ser eficaz em sua vida. Similarmente, pode-se pensar que a organização é um sistema que consiste em um número de partes integrantes. Na realidade, segundo Chiavenato (2016), um sistema é “um todo organizado ou complexo; um conjunto ou combinação de coisas ou partes, formando um todo complexo ou um conjunto ou combinação de coisas ou partes, formando um todo complexo ou unitário”. Assim, um sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interativos e relacionados cada um ao seu ambiente, de modo a formar um todo. Além disso, outra acepção pode ser um conjunto de elementos dinamicamente relacionados entre si, formando uma atividade para atingir um objetivo, operando sobre entradas e fornecendo saídas processadas. 1 Segmentos ou públicos cujas necessidades particulares são pouco exploradas ou inexistentes. Vídeo O ambiente em que as empresas operam 59 Dessas concepções, podemos concluir que sistema é um conjunto de partes interagentes e interdependentes que compõem um todo unitário, com objetivo e função determinados. O esquema de uma organização como um sistema aberto pode ser representado como na Figura 2: Figura 2 – Representação de um sistema aberto (teoria dos sistemas) Entradas Saídas Ambiente Transformação Fonte: Elaborada pelo autor. O conceito de ambiente remete ao de eficácia, que “se refere ao êxito do sistema como um todo, tanto internamente como no seu relacionamento externo. Por exemplo, de nada adianta uma organização prestar um serviço eficientemente, se esse serviço não é relevante para a comunidade” (MARCOVITCH, 1972). Deve-se, então, tratar a organização como um sistema aberto, um “organismo” ajustável que reage às influências do ambiente. Ou seja, trata-se de um conceito de ecologia empresarial que aborda a inserção do “organismo-empresa” em seu ambiente. Para efeitos de gestão estratégica, o ambiente pode ser dividido em dois níveis: • ambiente geral (macroambiente): relativo às grandes forças externas que influenciam a organização; • ambiente operacional (de tarefas)2: próximo à organização, constituído por clientes, fornecedores, concorrentes e substitutos (Figura 3). Figura 3 – Níveis de análise do ambiente Elementos tecnológicos Competidores Reguladores Fornecedores Parceiros estratégicos Clientes Elementos internacionais A Organização Proprietários, empregados, administradores e ambiente físico Elementos econômicos Elementos políticos/ legais Elementos socioculturais Fonte: Certo; Peter, 1993. 2 Alguns autores, como Certo e Peter (1993), designam a organização como ambiente interno. Nesta obra, para diminuir a confusão terminológica, optou-se por focar a palavra ambiente nos fatores externos à organização, sendo que, para se referir a fatores internos, deu-se preferência ao termo recursos. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações60 É importante e necessário que se estabeleça uma relação direta entre os fatores externos e internos à empresa. Entretanto, é interessante que essa interligação se faça depois da concretização das análises dos fatores externos e internos de maneira isolada. 3.2.1 A teoria da contingência na organização A teoria da contingência (Figura 4) surgiu por meio de várias pesquisas para verificar os modelos das estruturas organizacionais mais eficazes em determinados tipos de empresas, o que resultou em uma nova concepção de organização cujo funcionamento é dependente da interface com o ambiente externo. As pesquisas e os estudos responsáveis pela posterior criação da teoria da contingência procuraram compreender e explicar o modo como as empresas funcionavam em diferentes condições, que variavam de acordo com o ambiente ou contexto escolhido como domínio de operação. Em outras palavras, essas condições são vistas “de fora” da empresa, isto é, do seu ambiente. Essas contingências externas podem ser consideradas oportunidades/imperativos ou restrições/ameaças que influenciam a estrutura e os processos internos da organização. Figura 4 – A teoria da contingência do projeto organizacional Organizações em ambientes estáveis escolhem uma estrutura mecanística Organizações em ambientes mutantes escolhem uma estrutura orgânica Características do ambiente Determinam o projeto da estrutura de uma organização e os sistemas de controle Fonte: Adaptada de Silva, 2001, p. 367. Diante do exposto, pode-se afirmar que não existe um modo melhor de organizar; a estrutura depende do ambiente no qual a organização opera. Como mencionado, a estrutura de uma organização e o seu funcionamento são dependentes da relação da empresa com o ambiente externo. Dessa forma, o modelo mecanístico retrata a organização como uma máquina, para conquistar seus objetivos e metas de maneira eficaz. Por sua vez, a estrutura orgânica estabelece uma oposição à estrutura mecanística e descreve a organização como um organismo vivo, isto é, busca o alcance de objetivos e metas por meio da satisfação máxima, da flexibilidade e do desenvolvimento do potencial humano. A conclusão é que a forma mecanicista de organização é mais apropriada sob condições ambientais relativamente estáveis,enquanto a forma orgânica é mais apropriada para condições ambientais de mudança e inovação. Em resumo, é o ambiente que determina a estrutura e o funcionamento das organizações. O ambiente em que as empresas operam 61 Considerações finais O contexto em que as empresas operam se refere a nada mais do que o ambiente em que estão inseridas, a partir do qual se originam suas múltiplas ações. Por essa razão, a importância da compreensão desse estudo ambiental consiste na possibilidade de se identificar pontos críticos de pressão ambiental e de verificar prováveis tendências de mudanças, além de aumentar o poder de previsibilidade e controle de proatividade da organização sobre os elementos externos e o desenvolvimento de mecanismos de gestão de impactos ambientais. A estratégia de uma empresa deve fazer uma combinação perfeita da indústria com as condições competitivas. Além disso, precisa ser direcionada para conquistar oportunidades de crescimento. Do mesmo modo, a estratégia deve ser equipada para proporcionar a defesa do bem- -estar da empresa e do seu desempenho futuro contra ameaças externas. É importante ressaltar que esse processo não ocorre em um espaço vazio. Seguindo um sentido contrário ao exposto neste capítulo, pode-se partir do ambiente e influenciar todos os demais componentes do ciclo de interdependência, em que a organização produz seus outputs (ou saídas – bens e serviços) e os resultados, os quais representam a junção do produto da ação/atuação organizacional com a resposta ambiental. Evidentemente, as contínuas transformações ambientais pressionam as organizações. A depender da intensidade de tais alterações, esse processo poderá levar a mudanças na forma e na atuação organizacional. Sob essa ótica, a grande dificuldade está em prever essas transformações ambientais e sua possível influência nas organizações. Isso passa pela concepção predominante de ambiente e pelas respectivas formas de se adquirir conhecimento desses mesmos ambientes. Há uma certa concordância de que a relação entre organização e ambiente é complexa e interdependente. Assim, o estudo das dimensões e dos fatores ambientais ajuda a compreender e mensurar, ainda que de modo limitado, o grau de variação desses fatores e, consequentemente, as possíveis influências sobre as organizações. Desse modo, pensar no direcionamento e na atuação organizacional sem considerar de modo consistente o ambiente é incoerente com a abordagem contemporânea da estratégia. Isso significa levar em conta não somente os aspectos concretos e objetivos do ambiente, mas também o que é o ambiente e como ele é percebido, pois essas duas situações influenciam diretamente a formação das estratégias e a consequente ação das organizações. Ampliando seus conhecimentos Muitas são as pesquisas desenvolvidas na área de ambiente organizacional, por isso é relevante acompanhar as produções periodicamente. Entre os materiais para aprofundamento da temática, recomendamos: Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações62 • GAMA, C. Estratégia: conceito de ambiente organizacional. Administradores.com, João Pessoa, 9 abr. 2013. Disponível em: https://www.administradores.com.br/artigos/academico/ estrategia-conceito-de-ambiente-organizacional/69858. Acesso em: 14 abr. 2019. Este artigo enfoca o ambiente como o conjunto de todos os fenômenos externos à população de organizações em análise que a influenciam de forma real e/ou potencial. • GESTÃO DA ORGANIZAÇÃO. Ambiente organizacional. 13 out. 2007. Disponível em: https://gestaodoadministrador.wordpress.com/2017/10/23/ambiente-organizacional. Acesso em: 15 abr. 2019. O artigo em questão trata dos ambientes contextual, operacional e interno como um conjunto de fatores, além de abordar de que maneira se pode aplicá-los na gestão da organização. Atividades 1. O que podemos entender por monitorar o ambiente geral em que a organização opera? 2. Quais são os níveis de análise ambiental, para efeito de compreensão estratégica? 3. Explique sucintamente por que a estrutura de uma organização e o seu funcionamento são dependentes da relação da empresa com o ambiente externo, retratando a organização como uma máquina. Referências CARVALHO, K. C.; ANDRADE, J. H.; ESCRIVÃO FILHO, E. Gestão estratégica da informação do ambiente empresarial: um estudo de caso sobre o processo de monitoramento do ambiente externo em uma empresa brasileira de grande porte. In: SEMEAD, 7., 10-11 ago. 2004, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: FEA-USP, 2004. Disponível em: http://sistema.semead.com.br/7semead/paginas/artigos%20recebidos/Adm%20Geral/ ADM30-_Gestao_estrategica_da_informacao.PDF. Acesso em: 15 abr. 2019. CATELLI, A. (Coord.). Controladoria: uma abordagem de gestão econômica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. CERTO, S.; PETER, J. P. Administração estratégica: planejamento e implementação da estratégia. São Paulo: Makron Books, 1993. CHIAVENATO, I. Fundamentos de administração: planejamento, organização, direção e controle para incrementar competitividade e sustentabilidade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. DAFT, R. L. Administração. 4. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999. FISCHMANN, A. A.; ALMEIDA, M. I. R. Planejamento estratégico na prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1995. MARCOVITCH, J. Contribuição ao estudo da eficácia organizacional. Tese (Doutorado) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1972. MOTTA, P. R. Dimensões gerenciais do planejamento organizacional estratégico. In: VASCONCELLOS FILHO, P. Planejamento estratégico: teoria e prática. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1982. OLIVEIRA, D. P. R. Estratégia empresarial: uma abordagem empreendedora. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1991. ROBBINS, S. P. Administração, mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2001. SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. 4 Análise do ambiente geral Como já discutimos anteriormente, entender o negócio envolve a explicitação do âmbito de atuação da empresa com foco nas suas competências fundamentais. Essa intenção visa mostrar o produto/serviço que será oferecido ao mercado e que representará o eixo central da empresa. Precisamos ter em mente que qualquer organização consegue ter sucesso quando desperta o interesse de clientes potenciais. Por isso, uma ideia de negócio bem-sucedida é aquela que identifica uma necessidade específica do cliente, a qual pode ser atendida por meio de um produto ou serviço oferecido pela empresa. Para tanto, é essencial que a organização canalize suas forças na análise e identificação dos grupos e de seus interesses e poderes de influência no que diz respeito à missão que a norteia. Nesse sentido, Drucker (1994) afirma que a cada três anos, uma empresa precisa desafiar o status quo por meio do seguinte questionamento: “Se eu estivesse nesse negócio, serviço, canal de distribuição etc., entraria nele agora?”. A resposta a essa simples pergunta de Drucker exige uma visão sistêmica de toda a organização e de seus múltiplos negócios quando for o caso, pois o negócio desta reflete os elos comuns que dão coerência e um caráter especial à empresa e, ao mesmo tempo, criam uma fronteira em torno de suas ambições de expansão e diversificação. O negócio, à luz desses pensamentos, consiste no ambiente com o qual a organização se relaciona diretamente, em que ela atua de maneira competitiva e cujos principais elementos são: mercado, clientes, produtos e/ou serviços, concorrentes e fornecedores – seus stakeholders. Esse é o ambiente específico no qual uma organização interage para sobreviver e prosperar com grupos e pessoas reais, e ele é diferente para cada organização, variando conforme os negócios no qual ela atua. O negócio de uma empresa pode ser definido, de maneira restrita, apenas pelos bens produzidos e/ou serviços prestados por ela, o que é recomendável evitar, considerandoo risco de se tornar simplista demais e limitar a percepção de oportunidades ou ameaças à empresa. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações64 4.1 Análise do ambiente geral ou macroambiente A capacidade das empresas em monitorar o seu ambiente de negócios se constitui na atualidade como um forte diferencial da condição competitiva. As empresas vivem dentro de um contexto caracterizado por uma multiplicidade de variáveis e forças diferentes que provocam mudanças e turbulências, conforme pode ser visto na Figura 1: Figura 1 – Fatores que afetam as organizações Fatores macroambientais Fatores microambientais Organização Fonte: Elaborada pelo autor. O ambiente varia constantemente. É do ambiente que a empresa obtém seus recursos materiais, financeiros, humanos e mercadológicos, e é nele que coloca e distribui o resultado de suas operações, seja em forma de produtos ou de serviços. Sob essa ótica, dois desafios principais – entre muitos dos existentes – são impostos à empresa: o ambiente (e suas variáveis externas) e a tecnologia (e suas variáveis internas). Ambos introduzem a incerteza dentro da organização. Por incerteza entende-se a falta de informação ou de conhecimento a respeito de alguma coisa. A incerteza traz o risco. Para sobreviver em um ambiente complexo e incerto e para lidar com tecnologias que a empresa não consegue dominar totalmente, ela precisa estabelecer uma estratégia. Tornou-se crítico, para o sucesso de um empreendimento, acompanhar as mudanças que dizem respeito a acontecimentos de ordem tecnológica, econômica, social e política, os quais podem direta ou indiretamente afetar o seu desempenho. Essa, entretanto, não é uma tarefa fácil, nem mesmo previsível. Monitorar o ambiente é um desafio, pois à dificuldade de reunir informações realmente úteis soma-se o fato de que muitos dos dados captados são imprecisos e, portanto, difíceis de interpretar, como demonstramos na Figura 2. Vídeo Análise do ambiente geral 65 Figura 2 – O ambiente empresarial Elementos tecnológicos Competidores Reguladores Fornecedores Parceiros estratégicos Clientes Elementos internacionais A Organização Proprietários, empregados, administradores e ambiente físico Elementos econômicos Elementos políticos/ legais Elementos socioculturais Fonte: Certo; Peter, 1993. Muitas das transformações e descontinuidades que acometem os setores são causadas por mudanças no macroambiente, o qual consiste no ambiente geral das organizações em que se encontram todos os fatores externos a elas, entre os quais se destacam: os fatores demográficos, econômicos, socioculturais, político-legais, tecnológicos e ecológicos. 4.1.1 Fatores econômicos São os fatores relacionados à economia do local onde a empresa deseja se estabelecer ou já tem suas atividades estabelecidas. Assim, é importante ter conhecimento do poder de compra da população, dos índices de desemprego, do Produto Interno Bruto (PIB), da distribuição de renda, das taxas de juros e assim por diante. Entendendo os hábitos de gastos do consumidor, é possível oferecer-lhe produtos e serviços que estejam de acordo com aquilo que ele pode comprar. Os fatores econômicos refletem a situação econômica, bem como o estado geral da economia em termos de inflação, os níveis de receita, o PIB, o desemprego, além de outros indicadores responsáveis por grande parte das mudanças no ambiente externo. As mudanças na economia trazem oportunidades e problemas às organizações, e cabe aos seus gestores saber aproveitá-las ou contorná-las, além de continuamente monitorar as mudanças dos indicadores-mestres da economia, buscando minimizar fraquezas e capitalizar oportunidades. http://marcusmarques.com.br/empreendedorismo/comportamento-do-consumidor-o-que-influencia-compra/ Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações66 4.1.2 Fatores socioculturais Os fatores socioculturais se referem a mudanças no sistema cultural e social que afetam as ações de uma organização e a demanda por seus produtos ou serviços, como: direitos humanos; hábitos das pessoas em relação a atitudes e suposições; crenças e aspirações pessoais; relacionamentos interpessoais e estrutura social; estrutura educacional; preocupação com a saúde e preparo físico, entre outros. Esse é o ponto em que é necessário estar atento à população do local onde a empresa realiza suas atividades, no sentido de conhecer a quantidade de pessoas existentes no lugar, sua idade média, além de aspectos como gênero, raça, ocupações, costumes, crenças, religiosidade, hábitos, valores e comportamentos que tenham a ver com as preferências de determinada sociedade e a forma como ela enxerga o mundo a seu redor. Esse estudo é fundamental para que seja possível se aproximar ainda mais do consumidor-alvo, visando oferecer-lhe exatamente aquilo que ele deseja adquirir. 4.1.3 Fatores político-legais Os fatores político-legais se caracterizam por numerosas leis e inúmeras autoridades que exercem indiretamente uma forte influência sobre as organizações. A legislação de um país, seja na esfera federal ou estadual, afeta salários e impostos pagos por empresas, bem como os direitos dos empregados e as responsabilidades da organização por seus produtos, serviços e clientes. A influência política, legislativa e governamental no macroambiente de uma empresa acontece por meio de incentivos fiscais, assim como das leis que regulamentam as atividades empresariais de um país. Em outras palavras, a legislação ou determinada intervenção política tem o poder de viabilizar ou não as operações organizacionais, independentemente do porte ou segmento em que um negócio atue. Esses fatores, como as leis de combate à poluição, ora representam oportunidades, ora restrições. Por outro lado, as leis incentivam o aumento da qualidade de produtos e serviços para o mercado em todo o mundo, além de aumentarem a eficiência e a competitividade das organizações. 4.1.4 Fatores tecnológicos Os fatores tecnológicos podem influenciar o uso do conhecimento e de técnicas da organização na produção de seus produtos e serviços, além de afetarem suas características. Devido às constantes mudanças na tecnologia, a administração deve se manter à frente das mais recentes novidades para seguir com a competitividade da organização, pois os avanços tecnológicos têm levado os hábitos da população mundial a se modificarem constantemente. A consequência disso é que os consumidores estão ficando cada vez mais exigentes, desejando ter acesso ao processo produtivo da empresa como um todo para que possam escolher uma em detrimento de outra. Análise do ambiente geral 67 Essa mudança de comportamento obriga as organizações a se adaptarem de maneira acelerada, para que não percam posicionamento no mercado em que atuam. Esses fatores têm, em geral, uma velocidade de mudança muito grande. Portanto, o grau de influência deles em uma organização depende do grau de dependência desta em relação a eles. Os fatores ou forças mencionados precisam ser acompanhados e monitorados constan- temente, pois são altamente mutáveis e influenciam diretamente a tomada de decisão dentro da organização e, consequentemente, seus resultados. Tratam-se de variáveis que trazem à organização como um todo desafios que precisam ser superados a todo momento – a exemplo da própria necessidade de ter que se adaptar a elas. Somente assim uma empresa poderá se manter competitiva no mercado e encontrar oportunidades de negócios e crescimento que não seriam tão fáceis de identificar se não fosse pela superação de tais desafios. Após essa leitura, é possível perceber o quanto a análise do macroambiente empresarial é de extrema importância para que um negócio seja competitivo ou não no mercado em que atua. Sendo assim, o acompanhamento e monitoramento constante de cada um dos pontos levantados neste tópico se faz necessário para que sejam elaboradas estratégias eficientes e capazesde lidar com esses desafios com eficácia e assertividade. 4.2 Finalidade da análise do macroambiente A análise do macroambiente empresarial, conforme exposto na Figura 1, é realizada para que uma empresa saiba como se comportam as forças do seu macroambiente (ambiente demográfico, questões econômicas, ambiente natural, ambiente tecnológico, questões políticas e legais e, também, ambiente cultural). Dessa forma, para fazer a análise desse ambiente, é necessário realizar pesquisas e estudos mais complexos a fim de obter todas as informações necessárias e, assim, desenvolver ações estratégicas inteligentes. Em geral, a investigação e análise do macroambiente organizacional é uma avaliação crítica de um conjunto de características, elementos e fatores que compõem o universo de atuação da empresa. Essas ações são realizadas por meio da identificação de oportunidades e ameaças, bem como de pontos fortes e fracos. Oportunidades são eventos externos que podem auxiliar a empresa na forma de atingir seus objetivos ou podem lhe trazer benefícios direta ou indiretamente. Ameaças, por outro lado, também são eventos externos que tornam a vida da corporação mais difícil, causando problemas na sua atuação no mercado e impedindo-a de atingir seus objetivos. O ideal é que as empresas formulem estratégias socialmente responsáveis. Essa tarefa significa: • conduzir as atividades organizacionais eticamente e no interesse público geral; • responder positivamente às prioridades e expectativas sociais emergentes; • demonstrar boa vontade de executar as ações antes que ocorra um confronto legal; Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações68 • equilibrar os interesses dos acionistas com os interesses da sociedade como um todo; • comportar-se como uma boa corporação na comunidade. A estratégia de uma empresa deve fazer uma combinação perfeita da indústria com as condições competitivas e, além disso, precisa ser direcionada para conquistar oportunidades de crescimento. Do mesmo modo, a estratégia deve ser equipada para proporcionar a defesa do bem- -estar da empresa e do seu desempenho futuro contra ameaças externas. Nesse sentido, a análise do macroambiente é a atividade mais complexa e, na maioria dos casos, a mais relevante do processo estratégico. O produto da análise do macroambiente é a identificação das oportunidades e ameaças que envolvem uma organização e que serão a base para que ela atinja sua eficácia organizacional. Portanto, o objetivo da análise do ambiente geral é a identificação de ameaças e oportunidades, levando em consideração que pretende definir estratégias: • quanto à competitividade (como competir); • quanto ao produto/mercado (como desenvolver); • quanto à utilização dos meios (quanto investir). Também é função da análise do macroambiente detectar, monitorar e analisar os eventos correntes e as tendências potenciais que possam criar oportunidades e ameaças à empresa. Os especialistas e gestores empresariais que utilizam o planejamento e a administração estratégica – no tocante à análise do macroambiente – propõem quatro dimensões para analisar o ambiente geral: política, econômica, social e tecnológica. Acrescenta-se que, somados a essas dimensões, devem ser observados fatores internacionais. Os primeiros tópicos a serem examinados ao se fazer uma análise do macroambiente de uma empresa qualquer se referem ao levantamento dos principais eventos, correntes ou tendências potenciais e das descontinuidades. 4.2.1 Tendências Quando se avalia o mercado de uma organização, é preciso compreender claramente “para onde os ventos sopram” ou ainda “para onde os ventos vão soprar”. Essa avaliação responderá aos seguintes exemplos de questionamentos: • Como está o ambiente onde atuamos? • Como tal ambiente estava nos últimos três anos? • Como estará no ano seguinte, daqui a três anos e nos próximos dez anos? • Há surpresas no horizonte? Boas ou más? Lembre-se de que o futuro não é uma mera extrapolação ou projeção do passado. O futuro é o novo, o diferente, mais complexo e rico, cheio de ameaças, mas também de oportunidades para quem souber identificá-las e aproveitá-las. Assim, as tendências podem ser definidas como comportamentos emergentes – portanto ainda em evolução – observáveis em uma parcela da população. Esses comportamentos são Análise do ambiente geral 69 potencialmente duradouros, ou seja, guardam a possibilidade de se manterem em voga por um período de uma década ou mais, e são originados por transformações no macroambiente – isto é, na cultura, na política, na economia, na tecnologia, etc. Elas podem ser identificadas a priori, antes de eclodirem de maneira mais clara, bem como a posteriori, quando já se acumulam evidências concretas de sua existência. Uma tendência é uma direção ou sequência de eventos que tem determinados impulso e duração. Uma importante tendência é a crescente participação das mulheres na força de trabalho, o que incentivou a abertura de creches, maior consumo de alimentos para micro-ondas e o desenvolvimento de uma linha feminina de roupas mais adequadas para serem usadas em escritórios. Em outras palavras, tendências são variações no ambiente externo, lentas ou rápidas. Sendo lentas, mas persistentes, podem afetar as atividades da organização, de seus clientes, de seus fornecedores ou da sociedade em geral, positiva ou negativamente – por isso, precisam ser acompanhadas e avaliadas continuamente. São, portanto, pensamentos, atitudes e ideias, e não produtos ou serviços. Esses podem ser um indicativo da existência de uma tendência, mas não são a tendência em si. A oferta de alimentos orgânicos, por exemplo, não é propriamente uma tendência, mas sim o reflexo de uma tendência comportamental que dá valor à alimentação saudável e natural. Tendências são traduzíveis pelo universo do consumo, e é assim que os negócios e a sociedade se movem. Existem tendências facilmente perceptíveis, pois, em um período de um a dois anos, já mostram variações significativas no ambiente. Essas são as chamadas tendências de evolução rápida. São exemplos desse tipo de tendência: • redução do emprego formal; • aumento do nível de escolaridade; • crescimento da ação das ONGs ambientalistas; • disseminação do uso de computador entre as classes C e D; • crescimento do papel da mulher na economia, nos negócios, bem como nas esferas política e social. Entretanto, algumas tendências só são perceptíveis em uma escala de tempo maior. São as chamadas tendências de evolução lenta. São exemplos desse tipo de tendência: • aumento da duração da vida média; • aumento da temperatura média do planeta; • esgotamento progressivo das reservas naturais; • redução do índice de natalidade; • aumento do consumo de drogas entre jovens, adolescentes e até crianças. Cada uma dessas tendências, tanto as rápidas quanto as de evolução lenta, deve ser acompanhada e medida, se possível, avaliando seu impacto sobre o ambiente externo das organizações. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações70 Mas é importante fazer distinções entre modismos, tendências e megatendências. Assim, um modismo é imprevisível, de curta duração e não tem significado social, econômico e político. As tendências são mais previsíveis e duradouras pois revelam como será o futuro. O desejo de viver mais e de desfrutar mais a vida, por exemplo, é uma tendência, assim como as pessoas agirem e se sentirem como se fossem mais jovens que sua idade cronológica. Esses exemplos são apontados por Faith Popcorn, na obra O relatório Popcorn (1993). Por sua vez, uma megatendência, segundo John Naisbitt (1982), são grandes mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas que se formam lentamente e, uma vez estabelecidas, nos influenciam por algum tempo – de 7 a 10 anos, ou mais. São exemplos de megatendências: o surgimento do socialismo de livre mercado, a década das mulheres na liderança, a era da biologia,entre outros. 4.2.2 Descontinuidades Nas palavras de Costa (2002, p. 83), descontinuidades se referem a “mudanças bruscas no ambiente externo da organização que podem afetar profundamente os seus negócios ou atividades, como uma revolução, uma explosão, um terremoto, ou o falecimento de uma pessoa muito importante”. São alguns exemplos de descontinuidades: • aprovação de alguma lei ou norma que afete os negócios; • declaração de guerra ou acordo de paz; • privatização de uma grande estatal; • acordos internacionais, por exemplo: Área de Livre Comércio das Américas (Alca); • mudanças de políticas econômicas, cambiais, monetárias ou tributárias. Portanto, em razão das mudanças que ocorrem em uma velocidade cada vez maior, é preciso muito esforço para entender “em que direção sopram os ventos” ou, principalmente, “para onde eles soprarão”. Nessa ótica, é necessário também refletir sobre o futuro das organizações, o que dependerá da capacidade de os dirigentes resolverem os problemas e conflitos internos, buscando alinhar os interesses econômicos, sociais e políticos às exigências do mercado e às tendências ambientais. Como o planejamento estratégico procura delinear os passos a serem seguidos com base em uma visão de futuro, o esforço para identificar essas variáveis passa a ser uma ferramenta-chave na determinação das rotas a serem escolhidas e seguidas pela organização. 4.3 Macroambiente e estratégia organizacional O planejamento estratégico e o macroambiente precisam ser analisados juntos e são inse- paráveis. O conhecimento do macroambiente para a elaboração e aplicação é muito importante porque ele expõe informações a respeito de variáveis (sendo elas boas oportunidades ou ameaças) e sobre os fatores que influenciam a empresa. O gestor precisa conhecer em que Vídeo Análise do ambiente geral 71 área a empresa atua, quais são os fatores que mais a influenciam e a dimensão em que ela opera. Se a empresa é uma multinacional e está presente em vários países, por exemplo, seu planejamento estratégico deve abranger o conhecimento do macroambiente de cada um desses países, porque certamente constituirão fatores diferentes – em alguns locais, os fatores culturais exercerão mais influência, ao passo que em outros, nem tanto. Assim, o conhecimento do macroambiente possibilita um parâmetro para que a empresa tenha uma previsão do que pode ou não ser aproveitado (ou seja, as oportunidades), para que melhore seu desempenho e sua eficiência. Além disso, trata-se de um diferencial no caso de os concorrentes não terem a mesma visão de oportunidade. Ainda, a noção exata do macroambiente também traz previsões sobre as ameaças e, junto ao planejamento, permite que se busquem soluções para minimizar esses impactos ou anulá-los por meio de propostas de soluções. Desse modo, a empresa precisa investir na análise do macroambiente para que possa conhecer melhor os fatores que influenciarão sua eficiência. 4.3.1 Ferramenta de análise do macroambiente Em um ambiente empresarial, oportunidades surgem de todos os lados. Novas tecnologias estão despontando neste exato momento e o uso delas pode ajudar uma empresa a atingir novos clientes. Novas formas de investimento também podem ser desenvolvidas, as quais ajudarão no fluxo de caixa e permitirão a uma organização investir em melhores equipamentos. Ou, quem sabe, novas políticas governamentais podem levar uma corporação a novos mercados. O mesmo ocorre com as ameaças. Um ano de eleições pode significar um freio em investimentos e, consequentemente, quedas nas vendas. Ainda, um aumento nas taxas de juros pode estar relacionado a complicações para o caixa de uma empresa, dificultando a quitação de dívidas. Uma crise em outro país pode afetar diretamente o setor de uma organização e assim por diante. Considerando que no mundo corporativo tomadas de decisão são feitas com base em dados e informações, você concordará que, como controller, quanto mais estudar as ameaças externas que podem afetar a competitividade do seu negócio, mais preparado estará para apoiar gestores a fazerem escolhas mais acertadas. Assim como indicadores são utilizados para a análise de viabilidade de investimentos, existem ferramentas gerenciais para avaliar fatores externos – algumas delas serão detalhadas a seguir. 4.3.1.1 Análise PEST A análise PEST é uma ferramenta utilizada para fazer análise macroambiental. Ela identifica quatro dimensões de análise ambiental de natureza qualitativa de fenômenos dificilmente quantificáveis: política, econômica, social e tecnológica. A análise PEST representa o ponto de partida para a análise das influências ambientais importantes no passado e de potenciais mudanças a ocorrer no presente, com repercussões no futuro da organização e de seus concorrentes. O importante não é ressaltar essas quatro Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações72 dimensões, já bem conhecidas e exploradas em toda a literatura relevante de planejamento estratégico, mas sim chamar a atenção para algumas regras a serem observadas para a sua utilização. A análise PEST é utilizada para avaliar mudanças políticas, econômicas, socioculturais e tecnológicas no ambiente de negócios. Ajuda a trazer uma visão macro das ameaças e oportunidades externas a que as empresas estão expostas, sendo amplamente utilizada para esse fim. Como instrumento de redução dos riscos estratégicos, esse modelo de análise adquire maior utilidade quando é aplicada em conjunto com outros instrumentos analíticos, como o modelo das forças competitivas1 de Michael Porter (1986, p. 22-48). A seleção das variáveis a serem pesquisadas é limitada a cinco, para evitar uma dispersão da atenção entre um maior número de fatores, sem dúvida importantes, mas de menor impacto. A análise PEST é uma das ferramentas mais simples e, ao mesmo tempo, úteis que uma empresa tem ao seu dispor para entender o ambiente em que está inserida e criar a base de informações necessárias para planejar o futuro. Ela é amplamente utilizada tanto para auxiliar o planejamento estratégico quanto para o processo de estruturação de um novo negócio. Trabalhando com cada um de seus pontos-chave (política, economia, social e tecnologia), a análise PEST dá um direcionamento na avaliação das estratégias e dos melhores caminhos a serem seguidos. Além disso, auxilia a detectar oportunidades e ameaças significativas que poderão interferir no rumo planejado, além de ajudar a desenvolver uma visão mais objetiva do ambiente em que a organização pensa em se inserir (em termos de expansão empresarial). Norburn (1997, p. 187-189) exemplifica os tipos de variáveis a serem pesquisadas nessas quatro dimensões: • Fatores políticos: referem-se a questões regulamentares que afetam a linha de produção (isto é, questões ergonômicas2 e as regras regulamentares atuais) e aspectos legais como patentes/direitos autorais ou apenas o atual ambiente político. • Fatores econômicos: dizem respeito às forças financeiras atuais que agem no mercado- -alvo. Atualmente estamos em recessão? O mercado de ações está em alta ou em baixa? • Fatores sociais: relacionam-se às mudanças nas tendências sociais, modismos ou grupos demográficos que afetam o mercado-alvo escolhido pela organização e suas opiniões atuais. Isso pode incluir mudanças nos hábitos de compra, como o aumento das compras via internet ou em shopping centers. Também podem se referir ao envelhecimento das pessoas no mercado-alvo ou ao crescimento populacional no grupo acima dos 50 anos de idade. 1 Segundo Porter (1986), a competitividade de uma indústria é determinada por cinco forças: 1. Entrantes potenciais; novas empresas que poderão vir a concorrer com as atuais; 2. Produtos substitutos: produtos alternativos que poderão vir a concorrer para a mesma necessidade; 3. Poder de barganha dos clientes: possíveis oligopólios e tendências de verticalização a montante destes; 4. Poder de barganha dos fornecedores:possíveis oligopólios e tendências de verticalização a jusante destes; 5. Rivalidade entre os competidores. 2 Métodos criados para otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral de um sistema. Análise do ambiente geral 73 • Fatores tecnológicos: incluem todas as mudanças tecnológicas que afetam o produto, o mercado ou os esforços de coleta de informações sobre esse mercado. Isso inclui a internet, comunicações sem fio, aparelhos eletrônicos portáteis e tudo ligado à tecnologia que afeta o produto ou serviço. Todos esses fatores estão interligados e afetam os pontos fortes e fracos, bem como as oportunidades e os riscos que a organização poderá identificar para seu produto e mercado. O objetivo da análise PEST é apoiar as tomadas de decisão, proporcionando aos decisores uma compreensão muito mais abrangente das mudanças que estão ocorrendo dentro do mercado de atuação da empresa – ou seja, ajudar a organização a reagir às mudanças no seu ambiente externo. Como sabemos, prever o momento de uma mudança fará com que a empresa consiga reagir antecipadamente, tomando decisões muito mais acertadas. Sob esse prisma, a análise PEST parte do pressuposto de que o sucesso de uma organização não pode ser devidamente compreendido e estudado sem antes se recolher, analisar e perceber toda informação existente relacionada ao setor onde a empresa atua e ao ambiente de negócio externo existente (PENG; NUNES, 2007). Portanto, cada uma das variáveis apresentadas se caracteriza por estar fora do controle direto da empresa, sendo que seu conteúdo pode representar ameaças ou oportunidades que a organização deverá procurar evitar ou aproveitar. 4.3.1.2 Catalisadores, ofensores, oportunidades e ameaças O resultado do exame criterioso e sistemático dos fatores ambientais que causam impacto ou que podem influenciar os negócios da organização, bem como suas atividades, pode ser mapeado por meio de um quadro esquemático (mostrado na Figura 3), em que o eixo vertical traz a dimensão tempo (fatores atuais e fatores futuros), enquanto o eixo horizontal apresenta o tipo de impacto para a organização (positivo e negativo). Figura 3 – Catalisadores, ofensores, oportunidades e ameaças Impacto Atual Futuro Tempo Positivo Catalisadores Oportunidades Ofensores AmeaçasNegativo Fonte: Costa, 2002, p. 85. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações74 A Figura 3 também indica a existência de quatro categorias básicas de fatores não controláveis pela organização, que devem ser por ela avaliados: • Catalisadores: fatores externos presentes, tanto tendências como descontinuidades, que podem provocar impactos positivos à organização no cumprimento do seu propósito. Exemplos: opinião pública favorável às atividades da organização; consumidores contentes e fiéis à marca; barreiras legais aos novos concorrentes (competidores); suprimento de recursos abundante e barato. • Ofensores: fatores externos presentes – tanto tendências quanto descontinuidades – que podem causar impactos negativos à organização no cumprimento do seu propósito. Exemplos: legislação desfavorável ao negócio da organização; chegada de produtos/ serviços similares e mais baratos; mudança de hábitos do público-alvo; estreitamento de recursos materiais ou humanos no mercado. • Oportunidades: fatores externos futuros – tanto tendências quanto desconti- nuidades – que podem causar impactos positivos à organização no cumprimento do seu propósito.Exemplos: tendências dos clientes de terceirizar ou subcontratar atividades; digitalização de processos, equipamentos e comunicação, barateando os serviços; uso progressivo da internet para fazer negócios; abertura de mercados atualmente fechados aos negócios. • Ameaças: fatores externos futuros – tanto tendências quanto descontinuidades – que podem causar impactos negativos à organização no cumprimento do seu propósito. Exemplos: projeto de lei em tramitação que, se aprovado, restringirá a propaganda do produto; uso progressivo da internet para fazer negócios; formação de blocos comerciais; legislação mais restritiva quanto ao meio ambiente, qualidade ou cláusulas sociais. Você há de concordar que para definir cada um desses pontos, se você estiver munido de análises sobre fatores ambientais externos e internos, a empresa estará, com toda certeza, em uma posição melhor para planejar uma estratégia mais efetiva – que atinja os objetivos estratégicos, táticos e operacionais – e que minimize erros. A análise PEST proporciona a visão externa, mas como fica a visão interna? 4.3.1.3 Análise SWOT A análise SWOT é uma ferramenta utilizada para analisar o cenário (ou ambiente), sendo usada como base para a gestão e o planejamento estratégico de uma corporação ou empresa. Mas devido à sua simplicidade, ela pode também ser utilizada para qualquer tipo de análise de cenário, desde a criação de um blog à gestão de uma multinacional. É um sistema simples para posicionar ou verificar a posição estratégica da empresa no ambiente em questão. Trata-se de uma análise dos ambientes externo e interno de uma empresa, como ferramentas de apoio ao seu processo de planejamento estratégico. Refere-se às forças (strengths), fraquezas (weaknesses), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats) que resumem os principais aspectos do ambiente. Análise do ambiente geral 75 A matriz SWOT (Figura 4) avalia a empresa olhando para suas forças e fraquezas, levando em consideração os seus fatores internos e externos. Figura 4 – Matriz da análise SWOT Fatores internos Fatores positivos Fatores negativos Fatores externos S – Strengths F – Força W – Weaknesses F – Fraquezas O – Opportunities O – Oportunidades T – Threats A – Ameaças SWOT FOFA Fonte: Adaptado de Johnson; Scholes, 2002. Os pontos fortes e fracos são decorrentes de variáveis internas e controláveis pelo órgão ou programa. Por sua vez, as oportunidades e as ameaças são decorrentes de variáveis externas, mas não são diretamente controláveis pela empresa – embora, por vezes, possam exercer influência sobre essas variáveis. As oportunidades podem propiciar condições favoráveis, desde que a empresa tenha interesse e condições de usufruir delas. Já as ameaças podem criar condições desfavoráveis, portanto, a empresa deve planejar como minimizá-las. O objetivo da análise SWOT é definir estratégias para manter pontos fortes, reduzir a intensidade de pontos fracos, aproveitando oportunidades e protegendo-se de ameaças. Seus elementos podem ser descritos da seguintte maneira: • Forças (strengths): correspondem aos recursos e às capacidades da empresa que podem ser combinados para gerar vantagens competitivas com relação aos seus competidores. Incluem: • marcas de produtos; • conceito da empresa; • participação de mercado; • vantagens de custos; • localização; • fontes exclusivas de matérias-primas; • grau de controle sobre a rede de distribuição. • Fraquezas (weaknesses): referem-se aos pontos mais vulneráveis da empresa em comparação com os mesmos pontos de competidores atuais ou em potencial. São exemplos de fraquezas: Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações76 • pouca força de marca; • baixo conceito junto ao mercado; • custos elevados; • localização não favorável; • falta de acesso a fontes de matérias-primas; • pouco controle sobre a rede de distribuição. Deve-se atentar que, muitas vezes, forças e fraquezas se confundem. Uma força atual pode se transformar em fraqueza no futuro, pela dificuldade de mudança que provoca. • Oportunidades (opportunities): correspondem às oportunidades para crescimento, lucro e fortalecimento da empresa, como: • necessidades não satisfeitas do consumidor; • aumento do poder de compra do mercado; • disponibilidade de linhas de crédito. • Ameaças (threats): são aspectos externos negativos que podem pôr em risco a vantagem competitiva da empresa (por exemplo: novos competidores, perda de trabalhadores fundamentais etc.). Alémdisso, as ameaças correspondem a mudanças no ambiente que apresentam riscos à sobrevivência da empresa, como: • mudanças nos padrões de consumo; • lançamento de produtos substitutivos no mercado; • redução no poder de compra dos consumidores. 4.4 Desenvolvimento das ações: análise SWOT cruzada A análise SWOT cruzada consiste em cruzar as informações dos quatro quadrantes para obter uma moldura que permita delinear estratégias importantes para o futuro da empresa/instituição. O cruzamento entre os quatro quadrantes de análise provê uma moldura em que a empresa pode desenvolver melhor suas vantagens competitivas, “casando”, por exemplo, oportunidades e forças. No caso do cruzamento entre oportunidades e fraquezas, pode- se estabelecer as bases para modificações no ambiente interno para aproveitar melhor as oportunidades. O cruzamento entre ameaças e forças pode representar a possibilidade de investir na modificação do ambiente, a fim de torná-lo favorável à empresa (embora não seja uma tarefa fácil). Se no cruzamento entre ameaças e fraquezas houver situações de alta relevância para a empresa, provavelmente se trata de uma ocasião para modificações profundas, incluindo sua manutenção no próprio negócio. Vídeo Análise do ambiente geral 77 Para a análise SWOT cruzada (Figura 5), primeiramente é preciso fazer uma avaliação clara do ambiente, isto é, pesquisar profundamente as forças e as fraquezas e saber identificar as oportunidades e as ameaças. Para cada cruzamento, é importante saber criar objetivos/estratégias: • Pontos fortes x oportunidades: estratégia ofensiva/desenvolvimento das vantagens competitivas. • Pontos fortes x ameaças: estratégia de confronto para modificação do ambiente a favor da empresa. • Pontos fracos x oportunidades: estratégia de reforço para poder aproveitar melhor as oportunidades. • Pontos fracos x ameaças: estratégia defensiva com possíveis modificações profundas para proteger a empresa. Figura 5 – Representação gráfica da análise SWOT Na conquista do objetivo O rig em d o fa to r I nt er na (o rg an iz aç ão ) Ex te rn a (a m bi en te ) Ajuda Atrapalha S O W T Forças Fraquezas Oportunidades Ameaças Fonte: Adaptado de Johnson; Scholes, 2002. A aplicação da análise SWOT permite sistematizar todas as informações disponíveis e obter uma leitura transparente do “campo de batalha”, de modo a poder tomar uma decisão balanceada. A comparação entre pontos fortes e fracos junto com as oportunidades de mercado e ameaças permite ao gestor responder às questões: • Como posso tirar vantagem das novas oportunidades, utilizando meus pontos fortes? • Quais pontos fracos posso melhorar? • Com quais pontos fortes é possível neutralizar as ameaças? • Quais ameaças, aliadas às fraquezas, preciso temer mais? A análise SWOT é uma excelente porta de entrada para implementar um modo de pensar um pouco mais estratégico na empresa. Ela pode contribuir para a elaboração de uma boa Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações78 estratégia competitiva da organização por meio da identificação das forças, fraquezas, ameaças e oportunidades presentes no contexto organizacional em que é aplicada. Em resumo, a análise SWOT é ferramenta para uma ampla análise ambiental corporativa, que atua como um pilar da gestão e do planejamento estratégico de uma organização. É válido ressaltar que devido à sua simplicidade, a matriz pode ser usada em empresas de qualquer porte ou tamanho, não sendo exclusiva de grandes corporações ou multinacionais. Ela também pode ser utilizada da maneira conhecida por SWOT cruzada, em que as informações dos quatro quadrantes se cruzam, possibilitando delinear inúmeras estratégias para o futuro da empresa, as possibilidades permitidas por esse modelo de análise são imensas e essenciais. Ela deve ser usada por qualquer empresa que deseja se tornar competitiva no mercado em que atua. A matriz consegue tornar clara e transparente a visualização externa e interna da organização, permitindo ao gestor maximizar suas atividades de forma que consiga tirar proveito das oportunidades e, ao mesmo tempo, proteger-se das ameaças que possam surgir. Toda empresa que deseja minimizar suas dificuldades deve fazer uso desse tipo de análise, principalmente para estabelecer uma posição estratégica forte e conseguir atingir o maior controle possível sobre as variáveis que rodeiam seu ambiente. Considerações finais As organizações interagem com o ambiente externo, o qual exerce nelas uma influência interna direta. Devido a uma empresa ser frequentemente influenciada pelo ambiente externo, mudanças nele ocorridas podem acarretar alterações em seu interior. O ambiente traduz um contexto que apresenta uma enorme e complexa variedade de condições extremamente variáveis, dinâmicas e mutáveis, difíceis de serem abordadas. Por esse motivo, as organizações precisam explorar e enxergar o ambiente, para reduzir a incerteza a seu respeito. Em outras palavras, as empresas devem mapear seus espaços ambientais. A análise do ambiente organizacional constitui-se em uma importante ferramenta para o desenvolvimento do planejamento estratégico, que, por sua vez, tem se mostrado como uma área da administração que deixou de ser privilégio de poucas organizações para se tornar parte do cotidiano inclusive de organizações menores. No entanto, o processo de elaboração de uma análise ambiental poderá ser bastante complexo e dispendioso, se forem utilizadas técnicas como cenários para analisar o ambiente específico de uma organização. Mas ao se recorrer a estudos e pesquisas já disponíveis, a utilização da análise ambiental pode se tornar perfeitamente realizável, inclusive em pequenas empresas. Análise do ambiente geral 79 Usando um cenário previsto e compreendendo o que deverá acontecer com o ambiente para atingi-lo, o administrador terá maior subsídio para realizar o planejamento estratégico de sua empresa. Afinal, ele poderá antever as mudanças ambientais criando estratégias para aproveitar as oportunidades e evitar as ameaças. Além disso, o cenário facilita ao administrador a criação da visão da empresa, pois fornece subsídios para que ele verifique o que a organização está tentando fazer e o que ela espera se tornar. Assim, as ambições de uma empresa devem ser coerentes com os cenários ambientais traçados. Se isso ocorrer, ficará mais fácil delinear um caminho que a leve a atingir seus objetivos de crescimento. A consistência da projeção do futuro, bem como a visão de futuro da empresa, é importante para disseminá-la e torná-la crível a todos os colaboradores. Por fim, a avaliação e análise do macroambiente é muito importante para qualquer organização, seja ela de pequeno ou grande porte. Ao conhecer o ambiente em que está inserida e ter uma visão de futuro, a organização tem em mãos uma vantagem competitiva muito grande diante de seus concorrentes, pois mesmo tendo objetivos e metas desafiadoras, ela formula estratégias e consegue alcançar seus sonhos e objetivos. Ampliando seus conhecimentos Para melhorar e aprimorar seus conhecimentos, sugere-se um acompanhamento periódico de produções que versam sobre o tema da estratégia, tendo em vista que essas pesquisas são muito relevantes. Entre os materiais para aprofundamento da temática, recomenda-se: • PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Rio de Janeiro: Campus- -Elsevier, 2005. Esta obra apresenta um notável painel sobre o que uma empresa deverá fazer se quiser ocupar uma posição de liderança no futuro. Trata-se tanto de um manual para empreendedores quanto de um guia para a criação de mercados futuros. Os autores, nesta nova abordagem à estratégia, desafiam os executivos a desenvolver a capacidade de previsão do setor, a definir uma intenção estratégica, a alavancar recursos e a revitalizar o processo da criação denovos negócios. • SENGE, P. M. A quinta disciplina. São Paulo: Best Seller, 1990. O conceito da quinta disciplina tem como objetivo mostrar que é por meio dela que todas as outras podem se encaixar e levar a organização a avançar na direção do futuro. Ao disseminar novas maneiras de pensar no mundo corporativo, o autor coloca cinco disciplinas como autocomplementares, a fim de que a organização atinja os objetivos propostos. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações80 Atividades 1. O que se pode entender por monitorar o ambiente geral em que a organização opera? 2. Quais são os níveis de análise ambiental para efeito de compreensão estratégica? 3. Qual é a função da análise do macroambiente? 4. Explique o que são tendências e descontinuidades para a gestão estratégica. 5. Explique sucintamente o que é análise PEST. Referências CERTO, S.; PETER, J. P. Administração estratégica: planejamento e implementação da estratégia. São Paulo: Makron Books, 1993. COSTA, E. A. da. Gestão estratégica. São Paulo: Saraiva, 2002. DRUCKER, P. Administração de organizações sem fins lucrativos: princípios e práticas. São Paulo: Pioneira, 1994. JOHNSON, G.; SCHOLES, K. Exploring corporate strategy: text and cases. 6. ed. Londres: Financial Times- -Prentice-Hall, 2002. NAISBITT, J. Megatrends, megatendências. São Paulo: Livros Abril; Círculo do Livro, 1982. NORBURN, D. PEST analysis. In: DEREK, C. Blackwel Encyclopedia of Strategic Management. Oxford: Oxford Blackwell, 1997. PENG, G. C.; NUNES, M. B. Utilizando a análise de pragas como ferramenta para refinar e focar contextos para pesquisa de sistemas de informação. In: CONFERÊNCIA EUROPEIA SOBRE METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO PARA OS ESTUDOS EMPRESARIAIS E DE GESTÃO, 6., jul. 2007. Lisboa. Anais [...]. Lisboa: 2007. POPCORN, F. O relatório Popcorn. Rio de Janeiro: Campus, 1993. PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 1986. 5 Análise do ambiente empresarial ou de tarefa Não é difícil compreender que nenhuma organização está dissociada do meio em que atua. As empresas são (ou podem ser) influenciadas pelo mercado, pelas concorrências, pela legislação, por situações político-econômicas e até mesmo climáticas. O ambiente é um contexto que apresenta uma enorme e complexa variedade de condições extremamente diversificadas, dinâmicas e mutáveis, difíceis de serem abordadas. Assim, as organizações precisam explorar e enxergar o ambiente para reduzir a incerteza a seu respeito. Em outros termos, elas devem mapear o seu espaço ambiental. A abordagem do ambiente externo no estudo das organizações vem ganhando importância desde o final da década de 1950, quando o conceito de ambiente foi introduzido na administração a partir das ideias da teoria dos sistemas. O ambiente externo pode ser dividido em dois: ambiente geral ou macroambiente e ambiente operacional. Neste capítulo, o estudo se concentrará neste último, também conhecido como ambiente de tarefas. O ambiente operacional é o mais próximo da organização e se constitui de stakeholders, clientes, concorrentes, fornecedores, produtos e serviços substitutos etc., com os quais a empresa interage diretamente por meio de transações de entrada e saída. Esse é o ambiente específico no qual uma organização interage para sobreviver e prosperar com grupos e pessoas reais, sendo também diferente para cada empresa e variando conforme os negócios em que ela atua. 5.1 Compreendendo o ambiente operacional ou de tarefas Um dos aspectos com os quais as empresas devem se preocupar, sejam produtoras de bens ou prestadoras de serviços, diz respeito a seus recursos produtivos1. Por isso, é necessário que tenham atenção quanto à organização desses recursos. Mesmo que se trate de uma corporação que somente presta serviços (portanto, seu produto é intangível), estes são plenamente percebidos pelo mercado consumidor. Podemos citar como exemplo um hospital, que deve ter recursos para prestar o serviço de atender os pacientes. Nesse caso, além da estrutura e da medicação, os recursos também se referem à mão de obra, a enfermeiros e à própria estrutura hospitalar (consultórios, laboratórios, quartos, centros cirúrgicos etc.). O contexto ambiental mais próximo da organização é o responsável por fornecer as entradas ou os insumos de recursos e informações, bem como a colocação e a distribuição de suas saídas ou resultados. A diferença do macroambiente é que a organização tem maior poder de influenciar. 1 São conhecidos como bens de produção, isto é, bens ou serviços adquiridos pelas empresas em seu processo produtivo, com a finalidade de gerar outros bens ou serviços. Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações82 O ambiente operacional é definido como o conjunto de componentes externos objetivos, de forma que a organização interage diretamente por meio de transações de fluxo de clientes, fornecedores, concorrentes, grupos reguladores e grupos de interesses especiais (Figura 1). Esses grupos estão englobados nesse ambiente, que é diretamente relevante para o alcance dos objetivos da organização. O ambiente de tarefa é constituído pelas partes do ambiente que são relevantes ou potencialmente relevantes para a organização poder estabelecer e alcançar seus objetivos. O foco do ambiente operacional é o mercado em que a empresa está inserida. Figura 1 – Stakeholders do ambiente operacional da empresa Empresa D ist rib ui do re s Co mu nid ad e Fornecedores Go ver no Conco rrentes Acionistas Sindicatos M íd ia Clientes Outr os Fonte: Elaborada pelo autor. Segundo Daft (2003), o ambiente de tarefa se refere ao meio ambiente específico da empresa que corresponde ao segmento do ambiente geral mais imediato e próximo dela. Além disso, inclui setores com os quais ela interage diretamente e que têm impacto direto na capacidade de a organização alcançar seus objetivos. Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 83 Figura 2 – Ambiente operacional ou de tarefa Ambiente geral Ambiente de tarefa Empresa Variáveis tecnológicas Variáveis econômicas Variáveis legais Variáveis políticas Clientes Concorrentes Fornecedores Grupos reguladores Variáveis sociais Variáveis demográficas Variáveis ecológicas Fonte: Elaborada pelo autor. É o ambiente de tarefas que fornece as entradas ou os insumos de recursos e informações, como a colocação e a distribuição de saídas ou resultados. Cada organização tem seu próprio ambiente de tarefa, do qual obtém suas entradas e no qual coloca suas saídas ou resultados. A constituição do ambiente de tarefa ocorre pelas partes do ambiente que são relevantes para a empresa poder estabelecer e alcançar seus objetivos. Assim, nesse ambiente estão as entradas e saídas do sistema, ou seja, fornecedores de recursos (materiais, financeiros, humanos, atividades terceirizadas etc.) de um lado, e os clientes/consumidores, de outro. 5.2 Componentes do ambiente operacional ou de tarefas O ambiente operacional é composto de componentes que normalmente têm implicações específicas e mais imediatas na empresa, como clientes, concorrentes, mão de obra, fornecedores, reguladores, entre outros. Alguns desses componentes estão detalhados nos tópicos a seguir. • Componente cliente: reflete as características e o comportamento daqueles que compram o produto ou serviço fornecido pela organização e que diferem fortemente em diversas características, como educação, idade, renda e estilo de vida; esse componente pode abranger até mesmo outras organizações. Entender os perfis dos clientes ajuda a empresa a gerar ideias para melhorar a aceitação de seus produtos e serviços. Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações84 • Componente concorrência: consiste no elemento que a organização tem que “combater” para conseguir recursos. Os concorrentes dizem respeito àsorganizações com as quais uma empresa compete por clientes, consumidores e recursos necessários. Existem dois tipos de competidores: intratipos (diretos) e intertipos (indiretos)2. Entender os concorrentes é fator-chave para um desenvolvimento estratégico efetivo. Para isso, deve-se analisar o ambiente competitivo, com o propósito de ajudar a organização a avaliar seus pontos fortes e fracos e a capacidade dos concorrentes existentes e potenciais, além de predizer que estratégias eles provavelmente adotarão. • Componente mão de obra: composto de fatores que influenciam a disponibilidade de mão de obra para realizar as tarefas organizacionais necessárias. Exemplos: nível de conhecimento, treinamento, faixa desejada de salários, idade média dos trabalhadores potenciais, desejo de trabalhar para uma organização especial, entre outros. • Componente fornecedor: trata-se de todas as variáveis relacionadas aos fornecedores de recursos financeiros, energia, equipamentos, serviços e materiais para a produção de produtos ou serviços de êxito no mercado. A qualidade dos materiais fornecidos, os valores, a credibilidade nas entregas e os termos de crédito são questões importantes consideradas nesse componente. Em resumo, pode-se dizer que fornecedores são organizações que proveem esses recursos, os quais são as suas saídas e as entradas dos compradores. • Componente reguladores: são elementos do ambiente das tarefas que têm o poder de controlar, legislar ou influenciar as políticas e as práticas das organizações. Existem dois tipos de reguladores: agências reguladoras (como órgãos governamentais criados para proteger o público de certas práticas de negócios) e grupos de interesses (a exemplo de uma união feita pelos próprios membros de uma organização com o objetivo de proteger seus negócios). • Componente internacional: refere-se a todas as implicações internacionais das operações organizacionais. Exemplos: leis, práticas políticas, cultura e ambiente econômico que prevalecem nos países estrangeiros com os quais a empresa faz negócios. Diversas técnicas e metodologias podem ser utilizadas para mapear o ambiente operacional de uma organização. São elas: • análise estrutural da indústria (modelo das cinco forças de Porter); • análise do ciclo de vida do setor; • análise do tamanho e crescimento do mercado; • análise da atratividade do setor; • análise estratégica da concorrência. Essas técnicas e metodologias serão abordadas nas demais seções deste capítulo. 2 “Os competidores diretos são organizações que produzem produtos ou serviços similares. Os competidores indiretos são organizações indistintas que podem alterar o interesse do consumidor, desviando as suas intenções de compra” (OLIVEIRA; SILVA, 2006). Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 85 5.3 Análise estrutural da indústria (modelo das cinco forças de Porter) A caracterização de uma indústria, do ponto de vista estratégico, efetua-se pela determinação dos fatores de competitividade determinantes da sua estrutura – terminologia adaptada por Porter (2004) –, bem como da sua evolução e das relações que se estabelecem entre tais fatores. Porter (1986) define uma indústria como um grupo de empresas fabricantes de produtos que são substitutos bastante próximos entre si. Além disso, a análise da estrutura industrial é a base fundamental de seu modelo. Uma empresa ou indústria, para melhor competir em um determinado segmento estratégico, deve decidir a sua estratégia com base no conhecimento da estrutura do setor de atividade em que compete e na perfeita identificação dos clientes-alvo. A análise da estrutura industrial é a base fundamental do modelo proposto por Porter (1986), uma vez que, segundo o autor, a estrutura industrial tem forte influência na determinação das regras competitivas, as quais deverão ser observadas e compreendidas ao se analisar uma indústria ou as empresas que a compõem. Um dos pressupostos básicos da proposta do autor é que cada empresa que compete em uma indústria deve ter uma estratégia competitiva, a qual pode tanto ser desenvolvida explicitamente (por meio de um processo de planejamento) quanto pode ser evoluída implicitamente (por meio das atividades dos vários departamentos funcionais da organização). O desenvolvimento de uma estratégia competitiva determina o modo como a empresa competirá, bem como quais deverão ser suas metas e políticas necessárias para realizá-las. Esse desenvolvimento consiste em relacionar a empresa com a indústria ou com as indústrias contra as quais ela compete, de modo a compreender a concorrência e, assim, identificar as características estruturais que possibilitam a formulação de estratégias na busca de vantagens competitivas. Dessa maneira, a rentabilidade de uma indústria é função de sua estrutura, e é ela que estabelece as regras da concorrência que, segundo Porter (2004), dependem de cinco forças competitivas básicas. 5.3.1 O modelo das cinco forças de Porter O modelo das cinco forças competitivas de Porter (2004) abrange os seguintes fatores: rivalidade entre empresas concorrentes; poder de negociação dos fornecedores; poder de negociação dos clientes; ameaça de entrada de novos concorrentes; ameaça do aparecimento de produtos ou serviços substitutos (Figura 3). Esses fatores, refletem o fato de que “a concorrência em uma indústria não está limitada aos participantes estabelecidos. Clientes, fornecedores, substitutos, e os entrantes Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações86 potenciais são todos ‘concorrentes’ para as empresas na indústria, podendo ter maior ou menor importância, dependendo de circunstâncias particulares” (PORTER, 1986, p. 24). Figura 3 – As cinco forças competitivas de Porter Entrantes potenciais Poder de negociação dos compradores Ameaça de produtos ou serviços substitutos Ameaças de novos concorrentes Poder de negociação dos fornecedores Substitutos Concorrentes na indústria Rivalidae entre as empresas existentes Fornecedores Compradores Fonte: Adaptado de Certo; Peter, 2005, p. 29. Além disso, esse modelo apresenta um notável dinamismo na caracterização de uma indústria. As cinco forças competitivas, em conjunto, definem a intensidade da concorrência na indústria, bem como dão subsídios para o posicionamento de uma empresa, destacando também as áreas em que as tendências refletem ameaças e oportunidades. Determinadas características técnicas e econômicas de uma indústria são críticas para a intensidade de cada força competitiva (Figura 4), a saber: • novos entrantes potenciais: necessidades de capital e economia; • poder de barganha dos compradores: clientes informados tornam-se mais poderosos; • poder de barganha dos fornecedores: concentração de fornecedores e disponibilidade de fornecedores substitutos; • ameaça dos produtos substitutos: o poder das alternativas e dos substitutos de um produto de uma empresa pode ser afetado por mudanças de custos e tendências; • rivalidade entre concorrentes: as disputas e jogadas para conseguir uma posição são chamadas por Porter (2004) de artimanhas de promoção. Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 87 Figura 4 – Forças competitivas: modelo de Porter Concorrentes potenciais (ameaça) Comunidade (poder de influência) Governo (poder de ingerêncai) Sindicatos (poder de pressão) Distribuidores (poder de barganha) Produtos/serviços substitutos Rivalidade concorrentes Fornecedores (poder de barganha) Clientes (poder de barganha) Fonte: Elaborada pelo autor. A lógica subjacente ao modelo é que, quanto maior for a força, menor será a rentabilidade estrutural do setor e, consequentemente, da empresa. Assim, um setor com forte concorrência, em que fornecedores e compradores poderosos impõem suas condições, com muitos produtos substitutos e em um mercado onde é muito fácil entrar, dificilmente será rentável no longo prazo. A seguir são descritas ascaracterísticas mais relevantes para a determinação da intensidade de cada uma das forças competitivas. 5.3.1.1 Novos entrantes potenciais: ameaça de entrada Se um determinado mercado é atrativo e não existem barreiras significativas para entrar nele, corre-se o risco da entrada de novos competidores a qualquer momento. A ameaça de novos entrantes caracteriza-se como a possibilidade de entrada de novas empresas que trazem recursos geralmente substanciais, como nova capacidade de produção e um grande desejo de ganhar parcela do mercado. A entrada de novos concorrentes pode apresentar como consequência uma redução da rentabilidade das empresas já existentes, visto que essa entrada implicará uma queda nos preços e no aumento da demanda por insumos, o que levará a um inflacionamento nos custos do produto final. A ameaça de entrada pode ser considerada em função de diversos fatores, como: • Economia de escala: refere-se aos declínios nos custos unitários de um produto à medida que o nível de produção aumenta, obrigando as empresas entrantes a ingressarem em larga escala ou a se sujeitarem a uma desvantagem de custo. Economias de escala podem estar presentes em quase todas as funções de uma empresa, incluindo fabricação, compras, pesquisa e desenvolvimento, rede de serviços, marketing, utilização de forças de vendas e distribuição. As economias de escala podem se apresentar também nas economias de escopo (utilização dos mesmos fatores para produzir bens diferentes) e em economias monetárias (obtenção de fatores de produção com menores preços). A integração vertical é também um tipo de barreira de entrada que gera economias de escala nos estágios de produção ou de distribuição, uma vez que, nesta situação, a empresa entrante deverá ingressar de forma integrada ou enfrentar uma desvantagem de custo, Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações88 assim como uma possível exclusão de insumos ou mercados para o seu produto, caso a maioria dos concorrentes estabelecidos esteja integrada. • Diferenciação do produto: a diferenciação tem origem na identificação de uma marca da empresa, seja por meio do serviço ao consumidor, das diferenças dos produtos, do esforço de publicidade ou pelo fato de ter entrado primeiro na indústria, entre outros fatores que desenvolvem um sentimento de lealdade em seus compradores. A diferenciação cria uma barreira de entrada, dado que os novos entrantes são forçados a investir pesado para romper os vínculos estabelecidos entre os clientes e as empresas existentes. • Necessidade de capital: a necessidade de investir recursos financeiros em grande quantidade para poder competir cria uma barreira de entrada. O capital é essencial para os investimentos em instalações de produção, bem como para manter estoques, cobrir prejuízos iniciais e até mesmo para atividades de risco, como pesquisa e desenvolvimento ou publicidade inicial. • Custo de mudança: refere-se aos custos com os quais se defronta o comprador quando este muda de um fornecedor para outro. Os custos de mudança podem incluir a aquisição de novos equipamentos, treinamento de empregados, testes/qualificações de nova fonte e até mesmo gastos psíquicos de desfazer um relacionamento. Quando esses custos são altos, constituem uma barreira de entrada. • Acesso aos canais de distribuição: ao entrar em uma indústria, uma nova empresa precisa assegurar a distribuição de seu produto, fazendo desconto de preços para convencer o varejista a ceder espaço por meio de promessas de promoções, por exemplo. Se o acesso aos canais de distribuição (atacado e varejo) for limitado, quanto maior for o controle dos concorrentes sobre esses canais, mais difícil será a entrada na indústria. • Desvantagem de custo independente de escala: Porter (1986) enuncia ainda alguns fatores que apresentam vantagens plenas de custos para as empresas estabelecidas em uma indústria, impossíveis de serem igualadas pelos entrantes potenciais, independentemente de economia de escala. Tais fatores são os seguintes: a) tecnologia patenteada do produto (protegido por patentes ou segredos); b) acesso favorável às matérias-primas (as empresas estabelecidas têm o controle das fontes de matérias-primas mais favoráveis ou as têm sob controle a preços muito mais baixos do que o total); c) localizações favoráveis; d) subsídios oficiais (preferenciais do governo); e) curva de aprendizagem ou experiência (os custos declinam na medida em que uma empresa acumula experiência na fabricação do produto). Segundo Porter (1986), os efeitos da experiência refletem na redução dos custos no marketing, na produção, na distribuição e, principalmente, nas ações que envolvem alto grau de participação de mão de obra em operações e tarefas complicadas. Por último, o governo, por meio de uma política governamental, pode também agir para limitar ou impedir a entrada de novas empresas na indústria, como ao estabelecer limites para o acesso de matérias-primas e licenças de funcionamento. Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 89 Além dessas barreiras, outros fatores podem desestimular a entrada de novos concorrentes na indústria: • retaliação esperada: quando os entrantes em potencial têm expectativas de vigorosas retaliações, por parte das empresas já estabelecidas, a entrada pode ser dissuadida. A ameaça de retaliação é maior quando as atuais empresas têm um passado de fortes retaliações aos entrantes, alta liquidez, excesso de capacidade instalada, alto grau para comprometimento com a indústria, ativos pouco líquidos ou ilíquidos e crescimento lento da indústria. • preço de entrada dissuasivo: indústrias nas quais a rentabilidade é muito baixa não estimulam a entrada de novos competidores. A rentabilidade pode ser baixa por uma imposição do mercado ou pode ser uma estratégia temporária das empresas estabelecidas para impedir a entrada de novos concorrentes. 5.3.1.2 Rivalidade entre os concorrentes existentes A rivalidade entre os concorrentes de uma indústria pode ser definida como a disputa por posição entre as empresas que já atuam em um mesmo mercado. Ela é caracterizada pelo uso de táticas como: concorrência de preços, batalha de publicidade, introdução e aumento dos serviços ou das garantias dos compradores (PORTER, 1986). Cada tipo de setor apresenta um comportamento singular quando o assunto é a concorrência entre as organizações. Por exemplo, as empresas do setor de cosméticos não competem com companhias do setor farmacêutico. Muitas vezes, até empresas do mesmo setor não competem entre si, simplesmente por não focarem o mesmo público – como ocorre com a Mercedes-Benz, que dificilmente se preocupará com a Volkswagen, ainda que ambas atuem no setor de automóveis, pois seus públicos-alvo são totalmente diferentes. Segundo Porter (1986), as empresas de uma indústria são mutuamente dependentes, portanto, os movimentos competitivos de uma organização têm efeitos imediatos nos seus concorrentes, o que estimula a competitividade. Conforme esse autor, a concorrência de preços, por exemplo, é altamente instável, e muito provavelmente deixa toda a indústria em pior situação do ponto de vista da rentabilidade. A redução de preços é facilmente imitada pelos concorrentes rivais, uma vez igualados, eles reduzem as receitas de todas as empresas, a menos que a elasticidade-preço da indústria seja bastante alta. Essa força se manifesta geralmente na forma de concorrência de preços, batalhas de publicidade ou frequente introdução de produtos. A intensidade da rivalidade pode ser analisada levando em consideração a interação de vários fatores, que são: • concorrentes numerosos e bem equilibrados: quando o número de empresas em uma indústria é grande, ou quando esse número é baixo, porém as organizações são equilibradas em relação a tamanho e recursos, a rivalidade aumenta. Por outro lado, quando a indústria é dominada por algumas poucas empresas, altamente concentradas, as organizaçõeslíderes podem impor regras ou coordenar as ações das demais empresas utilizando meios como liderança de preços. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações90 • crescimento lento da indústria: normalmente, para as empresas que procuram expandir sua participação no mercado, o crescimento lento da indústria transforma a concorrência em um jogo, provocando uma situação muito mais instável do que quando a condição é de um crescimento rápido da indústria. • custos fixos ou de armazenamento altos: as empresas com custos fixos elevados, quando existe excesso de capacidade, provocam uma forte pressão que resulta numa rápida escalada de redução de preços. • ausência de diferenciação ou custos de mudança: a diferenciação cria um sentimento de lealdade no comprador, o que gera um isolamento contra a concorrência. Por outro lado, a ausência de diferenciação faz com que a escolha dos compradores se baseie em grande parte no preço e no serviço, o que resulta numa maior intensidade da competitividade entre as empresas da indústria. • capacidade da produção aumenta em grandes incrementos: as economias de escala podem proporcionar acréscimos excessivos na capacidade de produção, rompendo o equilíbrio entre oferta e procura da indústria, o que poderá determinar períodos alternados de supercapacidade e reduções de preços para a indústria. • concorrentes divergentes: referem-se às situações entre as empresas concorrentes de uma indústria em que os objetivos e as estratégias são muito diferentes no que diz respeito à competição, ocorrendo um relacionamento de choque contínuo ao longo do processo. • grandes interesses estratégicos: dizem respeito a casos em que os objetivos de determinadas empresas consistem no estabelecimento de uma posição sólida no mercado em sacrifício da lucratividade, aumentando assim a instabilidade e a concorrência na indústria. • barreiras de saídas elevadas: algumas empresas operando em prejuízo não abandonam a indústria, na esperança de conseguir o retorno do seu investimento. Dada a dificuldade de saída dessas organizações, a rentabilidade de toda a indústria pode ser permanentemente reduzida, pois as empresas com excesso de capacidade de produção são forçadas a competir, contribuindo para aumentar a rivalidade existente. São exemplos de situações dessa natureza: acordos trabalhistas muito altos, restrições de ordem governamental e social, inter-relações estratégicas como acesso ao mercado etc. As barreiras de entrada e de saída, quando analisadas conjuntamente, fornecem um importante subsídio à compreensão do nível de risco e retorno dentro das indústrias. As orga- nizações com barreiras de saída e de entrada baixas provavelmente apresentam retornos estáveis, mas baixos. Em resumo, a rivalidade entre os concorrentes não é para ser vista com dualidade. Analise as outras empresas com um olhar crítico, levante os pontos em comum entre sua organização e as corporações usadas como comparação e estabeleça as principais diferenças. Dessa forma, você saberá como posicionar seu planejamento estratégico quando o assunto for a concorrência. Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 91 5.3.1.3 Poder de barganha dos compradores O poder de barganha dos compradores pode ser traduzido como a capacidade de negociação dos clientes para com as empresas do setor. Essa força competitiva tem a ver com o poder de decisão dos compradores sobre os atributos do produto, principalmente quanto a preço e qualidade, ou seja, analisa-se o impacto do consumidor em relação aos preços e à qualidade. Assim, os compradores têm poderes quando as compras do setor são de grande volume; os produtos a serem comprados são padronizados e sem grande diferenciação; as margens de lucro do setor são estreitas; a opção de o próprio comprador fabricar o produto é financeiramente viável. Conforme Porter (1986), os compradores competem com a indústria forçando os preços para baixo, barganhando por melhor qualidade ou mais serviços e jogando os concorrentes uns contra os outros, o que pode até comprometer a rentabilidade da indústria. A maior ou menor pressão dos compradores no que se refere à redução dos preços depende de certas características do grupo de compradores em relação à sua situação no mercado, bem como da importância relativa de suas compras em comparação com seus negócios totais. O conhecimento sobre o produto, suas características e até mesmo seu processo produtivo pode influenciar diretamente a capacidade de negociação entre vendedores e clientes. Atualmente, os consumidores têm se preparado cada vez mais para a mesa de negociação, comparando soluções com as da concorrência e dando ênfase aos pontos mais relevantes. É importante lembrar que com o advento da internet, um único cliente pode ganhar muita força de barganha por meio das redes sociais. Com o avanço dessas plataformas, os consumidores aumentaram seu poder de negociação sobre as empresas. No entanto, essas são apenas algumas das características que envolvem o poder de barganha dos compradores. Quando o faturamento de uma empresa é fortemente atrelado a poucos clientes, ela se torna altamente dependente e sem poder de negociação. Caso não haja um real diferencial competitivo em relação aos concorrentes, o custo para seu cliente trocar de fornecedor será pequeno, aumentando ainda mais o risco e reduzindo as possibilidades de se atingir melhores margens de lucro. Os consumidores terão maior poder de barganha quando não houver muitos concorrentes, mas, sim, muitos vendedores, bem como quando for fácil optar por produtos ou serviços de empresas com ofertas similares. Portanto, um grupo de compradores tem grande poder de barganha nas seguintes circunstâncias: • volume de compra ou grau de concentração dos compradores em comparação com a indústria ofertante: se uma grande parcela das vendas é adquirida por um determinado comprador, isso faz com que aumente a sua importância nos resultados. • participação do produto nos custos totais: quanto mais significativos forem os custos pelos quais os compradores adquirem os produtos de que necessitam, maior será a pressão para comprarem ao preço mais favorável possível. Ao contrário, quando o produto vendido pela indústria representa uma fração pequena dos custos, o comprador é menos sensível ao preço. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações92 • padronização ou não diferenciação dos produtos: nesse caso, os compradores, diante de muitas opções de vendedores, jogam uma empresa contra a outra na certeza de poder contar sempre com fornecedores alternativos, forçando o preço para baixo. • poucos custos de mudança: os compradores aumentam o seu poder de negociação quando o vendedor se defronta com custos de mudança. Por outro lado, altos custos de mudança prendem o comprador a determinados fornecedores. • lucratividade dos compradores: quando os lucros dos compradores são reduzidos, criam-se condições para eles buscarem a redução nos custos das compras. Porém, compradores com elevada margem de lucratividade são, em geral, menos sensíveis ao preço. • ameaça de integração para trás: os compradores criam uma posição em que podem negociar concessões quando eles são parcialmente integrados ou representam uma ameaça real de integração para trás. Determinados compradores adotam uma integração para trás parcial, isto é, produzem parte do que necessitam de um determinado componente ou produto e compram o restante de fornecedores externos. Com isso, detêm um forte poder de barganha, uma vez que as suas ameaças são concretas, reais. Além disso, a produção parcial própria lhes proporciona um conhecimento detalhado dos custos. O poder de compra é baixo quando os consumidores compram produtos em pequenas quantidades e o produto do vendedor é muito diferente de qualquer um dos de seus concorrentes. Por isso, é fundamental que a equipe comercial esteja altamente preparada para defender seus produtos,oferecendo cada vez mais soluções a um problema real para o mercado. O ideal ao analisar essa força competitiva é descobrir meios de atender às expectativas dos clientes atuais da melhor maneira possível e explorar novos meios de se conseguir outros potenciais compradores. Uma dica valiosa para aumentar o poder de barganha perante os clientes é entender qual é a proposta de valor que a empresa oferece. Muitas organizações falham em relação a esse ponto. A proposta de valor diz respeito aos atributos que os clientes enxergam ao consumir os produtos e serviços de uma organização. Por exemplo: provavelmente, você prefere ir a uma pizzaria em vez de outra, por um motivo “x” – esse motivo é a proposta de valor da pizzaria de sua preferência. O poder de negociação do comprador pode ser parcialmente neutralizado quando as empresas na indústria ameaçam com uma integração para frente – ou seja, fabricar ou executar o serviço dos compradores. Por isso, é importante estar atento aos aspectos: • importância da qualidade dos produtos: os compradores são menos sensíveis aos preços quando a qualidade do seu produto é afetada pelo produto da indústria. • disponibilidade de informações: quando o comprador tem todas as informações relativas à demanda, aos preços reais de mercado e aos custos dos fornecedores, ele aumenta o seu poder de negociação em relação a uma situação de informação deficiente. Assim, com informação total, os compradores têm condição de assegurar o recebimento Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 93 dos melhores preços e contestar as queixas dos fornecedores de que sua rentabilidade está ameaçada. Essas fontes de informações, que dão poder de negociação ao comprador da indústria, podem ter origem nos consumidores, bem como nos compradores industriais e comerciais. Sob essa ótica, os consumidores tendem a ser mais sensíveis aos preços quando compram produtos não diferenciados, mas que representam uma despesa relativamente alta em relação às suas vendas, e menos sensíveis aos preços quando compram produtos cuja qualidade, por exemplo, é importante para eles. Os compradores industriais e comerciais são representados pelos atacadistas e varejistas, que além de estarem sujeitos às mesmas regras dos consumidores, podem reforçar o seu poder de barganha em relação aos fabricantes (os varejistas, quando podem influenciar as decisões de compra dos consumidores; os atacadistas, quando podem influenciar as decisões de compra dos varejistas ou de outras empresas para as quais vendem). Diante disso, é importante ser direto ao oferecer uma proposta de valor. Descubra quais são os diferenciais da sua organização em relação aos seus concorrentes. 5.3.1.4 Poder de negociação dos fornecedores Sobre o poder de negociação dos fornecedores, Porter (1986) entende que os participantes de uma indústria podem sofrer ameaças de elevação de preços ou redução da qualidade dos bens e serviços de fornecedores, os quais pressionam a rentabilidade de um setor à medida que podem aumentar seus preços e reduzir a qualidade de seus produtos. Quanto custa? Quando entrega? Com qual qualidade? Essas questões são decididas pelos fornecedores, e isso não é nada bom para os negócios, principalmente se o fornecedor decide vender para um concorrente – ou pior ainda, exclusivamente para este. De modo geral, um grupo de fornecedores é poderoso se: • é dominado por poucas companhias e é mais concentrado que a indústria para a qual vende; • não está obrigado a lutar com outros produtos substitutos a fim de vender para a indústria; • a indústria não é um cliente importante para ele; • a produção dos fornecedores é um insumo importante para o negócio do comprador; • os produtos que compram da indústria são diferenciados ou há custos de mudança; • existe ameaça de integração futuramente. Chiavenato e Sapiro (2009) complementam afirmando que esses fornecedores são concentrados e vendem para compradores pulverizados, além de não concorrerem com produtos substitutos. Os autores também mencionam que os produtos dos fornecedores são um insumo importante para o negócio dos compradores. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações94 Vamos supor que sua empresa depende de um único fornecedor para repor suas matérias- -primas. Logo, esse fornecedor tem um grande poder de barganha sobre a sua empresa e, com isso, ele estabelece os preços, as formas de negociar, as condições de pagamento, entre outros fatores. Caso você esteja inserido nesse contexto, é importante pensar em formas reais de prospectar novas fontes de fornecimento. Do contrário, você estará fadado a depender das estratégias de seus fornecedores, e não das suas próprias. Outro passo importante a ser tomado é estabelecer vínculos reais de parceria com os seus fornecedores. Como uma rede de supermercados, por exemplo, se relaciona com os seus fornecedores de alimentos orgânicos? A organização fornece aos produtores ajuda de profissionais especializados, os quais auxiliarão os fornecedores orgânicos com informações sobre plantio, logística e comercialização. Assim, a rede de supermercados consegue integrar as atividades dos fornecedores com os resultados reais da empresa. 5.3.1.5 Ameaça de produtos substitutos Essa força pode ser entendida como as chances de um cliente encontrar uma forma diferente de fazer o que outra empresa já faz. Isso é, de fato, uma ameaça, afinal não existe produto tão original que não tenha concorrência. Produtos substitutos3 são um risco porque impõem um limite para os preços e demandam mais vantagens ao portfólio da indústria. Um dos maiores erros que um empreendedor pode cometer é entender que se seu produto é inovador, que não há concorrentes. Por mais inédito que o produto seja, se ele resolve um problema existente, provavelmente deve haver outras formas, pelo menos em parte, de solucionar a mesma questão. Um exemplo: um brinquedo entretém e/ ou educa uma criança. Que outros produtos fazem o mesmo? Livros, games, filmes e parques de diversão contribuem para a educação ou divertem as crianças. Por isso, podem ser considerados como soluções substitutas ao brinquedo. Segundo Rowe (2002), os substitutos são mais perigosos quando são produzidos por empresas que têm altos lucros e trazem inovações tecnológicas, apresentando vantagens quanto a custos relativos e ganho na qualidade. A identificação de produtos substitutos é conquistada por meio de pesquisa na busca de outros produtos que possam desempenhar a mesma função na indústria. Os produtos substitutos podem limitar ou, até mesmo, reduzir as taxas de retorno de uma indústria, ao forçarem o estabelecimento de um teto nos preços que as empresas podem fixar como lucro. Em sentido amplo, todas as empresas em uma indústria estão competindo com as indústrias de produtos substitutos, de modo que “quanto mais atrativa a alternativa de preço- -desempenho oferecido pelos produtos substitutos, mais firme será a pressão sobre os lucros da indústria” (PORTER, 2004, p. 24). Assim, a força competitiva dos produtos substitutos representa uma ameaça constante para as empresas estabelecidas de uma indústria. 3 Produtos substitutos são aqueles que não são iguais aos produtos da organização, porém satisfazem as mesmas necessidades dos consumidores. Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 95 Segundo Porter (2004, p. 25), “os produtos substitutos que exigem maior atenção são aqueles que (1) estão sujeitos a tendências de melhoramento do seu trade-off de preço-desempenho com o produto da indústria ou (2) são produzidos por indústrias com lucros altos”. Como exemplos de produtos substitutos, podemos citar: águas minerais, que são substituídas por bebidas com gás; margarinas, substitutas das manteigas; sites e blogs, substitutos de diários e revistas. Os produtos substitutos podem entrar facilmente em uma indústria quando seus preços são baixos ou menores que os dos produtos existentes; há pouca publicidadede produtos existentes; há pouca lealdade entre os consumidores; o custo de trocar um produto por outro substituto é baixo para os consumidores. É importante considerar todos esses fatores dentro do seu segmento e se manter atento às variações do mercado, utilizando estratégias de solidificação e posicionamento de mercado para um crescimento sustentável. Cada uma dessas forças, quando analisadas profundamente, podem gerar planos de ação que, se forem usados estrategicamente, interagirão com o mercado de forma positiva. Segundo Porter (2004), a meta final da estratégia competitiva é lidar com essas regras em favor da empresa e, em termos ideais, modificá-las. Em qualquer indústria, seja ela doméstica ou internacional, que produz um produto ou serviço, as regras da concorrência estão englobadas nas cinco forças competitivas já citadas: entrada de novos concorrentes; ameaça de substitutos; poder de negociação dos compradores; poder de negociação dos fornecedores; rivalidade entre os concorrentes existentes. Não se pode negar o peso das influências externas em uma empresa, independen- temente de sua área de atuação. No entanto, o modelo das cinco forças de Porter permite visualizar o cenário de maneira mais ampla e desenhar estratégias para se preservar das ameaças e não perder as oportunidades que o mercado oferece. Assim, o objetivo estratégico de cada empresa é encontrar uma posição nessa indústria que lhe permita se defender dessas forças ou influenciá-las a seu favor. Como todos os concorrentes conhecem, pelo menos superficialmente, a existência dessas forças, o importante para a formulação da estratégia empresarial é fazer uma análise profunda das raízes dessas forças. O conhecimento dessas raízes permite uma melhor utilização dos pontos fortes e a correção dos pontos fracos da empresa, além de possibilitar a identificação das alterações estratégicas mais aconselháveis e das áreas mais atraentes ou mais arriscadas resultantes da evolução da indústria. O objetivo do diagnóstico das cinco forças competitivas de Porter é criar uma posição defensável ou uma vantagem competitiva para a empresa dentro da indústria. Esse objetivo pode ser desdobrado em: • posicionar a empresa de modo que suas capacidades proporcionem a melhor defesa; • influenciar o equilíbrio por meio de movimentos estratégicos (e melhorar a posição da empresa); • antecipar as mudanças nos fatores básicos das forças e responder a elas antes dos rivais. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações96 Para concluir a análise das forças competitivas, devemos lembrar que o objetivo da organização é se posicionar no mercado em que ela está inserida, ou seja, criar uma posição defensável ou uma vantagem competitiva dentro do seu segmento de mercado (indústria). Para tanto, a empresa deve se posicionar de modo que suas capacidades proporcionem uma melhor defesa e possibilitem uma antecipação às mudanças antes de seus rivais. 5.4 O ciclo de vida do setor Um dos principais aspectos referentes ao mercado mundial é saber exatamente em qual ponto do ciclo de vida está localizado o produto, algo raramente mensurável com facilidade, pois existem alguns pontos que impedem essa percepção direta. Como o mercado sempre está lançando e desenvolvendo produtos para seus consumidores, o ciclo de vida pode ser muito menor do que o planejado. Assim como as pessoas, as empresas passam por ciclos de vida: inicia-se com o nascimento – com pouco ou nenhum ativo; depois, a empresa entra em crescimento; em seguida, atinge um estágio de maturidade; finalmente, entra em declínio. Ao longo desse caminho há uma abundância de barreiras a superar e ameaças à sua sobrevivência, bem como de desafios que os investidores e gestores devem enfrentar à medida que a organização envelhece. O quadro do ciclo de vida, ao mesmo tempo simples e intuitivo, é uma poderosa forma de pensar os desafios na gestão, considerando de que forma uma empresa se move por meio de seu ciclo de vida. Ao disponibilizar, ou seja, introduzir seu produto ou serviço no mercado, uma empresa deve estar atenta aos ciclos do mercado, do produto e da própria empresa (setor em que atua), gerando uma base mais confiável de informações ao se deparar com estudos orientados às variações do mercado e a suas tendências futuras. 5.4.1 Conceito de ciclo de vida O conceito de ciclo de vida ou ciclo vital, segundo Martinelli (1995), origina-se evidentemente da biologia, porém tem sido aplicado também a sistemas não biológicos. Na bibliografia econômica, esse conceito encontrou diversas aplicações (PÜMPIN; PRANGE apud MARTINELLI, 1995), como: ciclo de vida do produto, da organização, da tecnologia e do potencial de lucro. Na biologia, entende-se por ciclo de vida a alternância de gerações. No caso dos organismos eucariotas4, a reprodução sexual apresenta uma alternância de fases nucleares: da meiose deriva uma fase haploide5, e a fusão dos gametas dá origem a uma fase diploide6. 4 “Organismos vivos unicelulares ou pluricelulares constituídos por células dotadas de núcleo” (CONHECIMENTO GERAL, 2016). 5 “Núcleo celular que possui n cromossomos (ou seja, a metade do número de cromossomos de um ovo fecundado), como é o caso das células reprodutoras (gametas) ou de um organismo (prótalo dos fetos, espécie de musgo) formado de células que têm esses núcleos” (DICIO, 2019a). 6 “Núcleo celular que possui um número par de cromossomos, o dobro do número de gametas” (DICIO, 2019b). Vídeo Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 97 No cenário atual de mudanças, o conhecimento dos ciclos econômicos e empresariais determina o aprimoramento dos processos de gestão com a definição de fatores-chave de sucesso que podem ser utilizados pelas empresas a fim de vencer em ambiente competitivo. O marketing reporta-se ao conceito de ciclo de vida para analisar as condições de um produto no mercado. Posto isto, um produto passa por diversas etapas desde o seu nascimento até seu fim (isto é, quando deixa de ser produzido/fabricado). Na etapa de desenvolvimento, o produto é bastante caro, tendo em conta que não gera lucros. Ao entrar no mercado, ele começa a ser comercializado, ainda que com baixo nível de vendas. Na etapa de crescimento do produto, os custos começam a reduzir pela produção em escala e os rendimentos aumentam. O ciclo continua com uma etapa de maturidade em que se alcançam os níveis máximos de vendas e maior rentabilidade. Finalmente, vem a etapa de declínio, em que as vendas, os preços e os lucros caem. As empresas podem ser consideradas organismos vivos porque nascem, crescem e podem morrer. Elas têm um ciclo de vida exatamente como o dos seres humanos. Esse ciclo é caracterizado pelas seguintes fases: introdução, crescimento, maturidade e declínio. O ciclo de vida pode ser definido como uma trajetória (de vida, de produto, da empresa etc.), desde seu nascimento até seu declínio. Refere-se, nesse sentido, às fases pelas quais a organização passa desde seu surgimento (ou introdução), até seu término. A cada período que corresponda a uma fase, o modelo empresarial pode sofrer incrementos e alterações significativas que ditarão o ritmo das atividades a serem desenvolvidas. Nesse contexto, com base nos ciclos de vida econômicos existentes na literatura, o presente tópico procurará desenvolver um novo ciclo de vida, o setorial, para identificar os estágios de desenvolvimento dos setores e diagnosticá-los de modo a contribuir para um crescimento local sustentável. 5.4.2 Análise do ciclo de vida do setor Entender o ciclo de vida dos setores e verificar o que cada fase representa é essencial para o planejamento das instituições integrantes do setor analisado, assim como para o direcionamento das políticas públicas e para a promoção do desenvolvimento local sustentável e integrado, na intenção de apontar o estágio de desenvolvimento ou dinamismo de um setor para estabelecer estratégias e políticas apropriadasao seu crescimento. Conforme mencionado, assim como os seres vivos, as empresas nascem, crescem, desenvolvem-se e morrem. Percebe-se que elas também têm um ciclo de vida marcado por diferentes estágios, caracterizados por mudanças e padrões similares de comportamento. Segundo Lezana (1996), o processo evolutivo de uma empresa compreende uma série de etapas que devem ser superadas, desde sua criação até sua consolidação efetiva como instituição. A análise do ciclo de vida do setor (ACV) é uma ferramenta metodológica para a gestão estratégica nos negócios. Na realidade, ela constitui uma ferramenta técnica que pode ser utilizada Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações98 para uma grande variedade de propósitos. As informações coletadas na análise do ciclo de vida e os resultados de sua análise e interpretações podem ser úteis nas tomadas de decisão (na seleção de indicadores empresariais relevantes), na avaliação de desempenho de projetos ou reprojetos de produtos, bem como em processos e/ou planejamentos estratégicos. Assim como as pessoas, os produtos e as empresas, os diversos setores econômicos do mercado apresentam estágios de desenvolvimento que caracterizam, com certo grau de subjetividade, diferentes potenciais intertemporais. Na Figura 5, a seguir, é possível observar a ideia do ciclo de vida para diferentes setores. Independentemente de qualquer fator, toda indústria obedece a um ciclo composto de quatro etapas: introdução, crescimento, maturidade e declínio. Figura 5 – Ciclo de vida do setor fase 01 introdução Tempo fase 02 crescimento Ve nd as fase 03 maturidade fase 04 declínio $ Fonte: Elaborada pelo autor. A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) possibilita que empresas e organizações avaliem a sustentabilidade de seus produtos, serviços e ações, levando em conta os impactos ao longo de seus ciclos de vida. Ou seja, são contabilizados os consumos de recursos e a geração de emissões para o meio ambiente, desde a extração das matérias-primas, passando pela manufatura, pela fase de uso, até chegar à sua destinação final. Dessa forma, as organizações podem decidir quais estratégias adotar para a redução dos impactos ambientais gerados por seus processos produtivos. Quando surge uma nova tecnologia/um novo produto, o mercado é bastante restrito, sendo que poucas são as organizações que vêm ofertá-lo. Com o passar dos anos e o desenvolvimento do mercado, cresce também a concorrência, até o ponto em que o mercado se estabiliza e a demanda passa a ser de reposição. Nessa fase, a escala se torna essencial. Assim, o setor em questão pode se fixar nesse estágio, e o produto pode se transformar em uma commodity7. Também é possível que surja uma nova tecnologia que relegue essa indústria ao declínio. Sob esse prisma, o Quadro 1 ilustra os ciclos e as estratégias para cada uma das etapas mencionadas (introdução, crescimento, maturidade e declínio): 7 Termo que significa mercadoria, utilizado em transações comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias. Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 99 Quadro 1 – Ciclos e estratégias Introdução Crescimento Maturidade Declínio Compradores e comportamento Compradores de alta renda. Inércia do comprador. Compradores devem ser convencidos a testar o produto. Ampliação do grupo de compradores. Consumidor vai aceitar a qualidade irregular. Mercado de massa. Saturação. Repetição de compra. A regra é escolher entre as marcas. Clientes são compradores sofisticados do produto. Produtos e mudanças nos produtos Qualidade inferior. Projeto do produto é a chave para o desenvolvimento. Muitas variações diferentes no produto, sem padronização. Produtos têm diferenciação técnica e de desempenho. Confiabilidade é básica para produtos complexos. Aperfeiçoamento competitivo no produto. Boa qualidade. Qualidade superior. Menor diferenciação técnica de desempenho. Confiabilidade é básica para produtos complexos. Aperfeiçoamento competitivo do produto. Boa qualidade. Pequena diferenciação do produto. Qualidade irregular do produto. Marketing Publicidade/vendas (P/V) muito altas. Melhor estratégia de preços. Altos custos de marketing. Muita publicidade, mas porcentagem de vendas mais baixa do que da introdução. Maior promoção. Publicidade e distribuição são básicas para produtos não técnicos. Segmentação do mercado. Esforços para ampliar o ciclo de vida. Linha ampla. Predominam os serviços, os negócios. Embalagem importante. Concorrente de publicidade. P/V mais alta. P/V e outro tipo de publicidade mais baixo. Fabricação e distribuição Supercapacidade. Lotes de produção pequenos. Alto conteúdo de mão de obra especializada. Altos custos de produção. Canais especializados. Subcapacidade. Mudança para a produção em massa. Luta para a distribuição. Canais de massa. Capacidade entre ótima/saturada. Crescente estabilidade do processo de fabricação. Mão de obra menos especializada. Grandes lotes de produção com técnicas estáveis. Canais de distribuição reduzem suas linhas para melhorar suas margens. Supercapacidade de substancial produção em massa. Canais de produtos especiais. Fonte: Adaptado de Fernandes; Berton, 2005, p. 86. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações100 O Gráfico 1, a seguir, mostra como as etapas do ciclo de vida se inter-relacionam com as cinco forças classificadas por Porter: Gráfico 1 – Ciclo de vida dos setores Gráfico do ciclo de vida dos setores Introdução Crescimento Maturidade Declínio 1. Possibilidade de entrada de concorrentes 2. Rivalidade entre as empresas do ramo 3. Ameaça deprodutos substitutos 4. Poder de negociação dos compradores 5. Poder de negociação dos fornecedores 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 3 4 4 4 4 5 5 5 5 Fonte: Adaptado de Fernandes; Berton, 2005. Como citado anteriormente, a ideia do ciclo de vida para diferentes setores sugere que toda indústria obedece a um ciclo composto de quatro etapas. Em cada uma delas, ocorre a atuação das cinco forças de Porter com maior ou menor intensidade, fato que define a forma de caracterizar as estratégias a serem implementadas. 5.4.3 Etapas do ciclo de vida de um setor Neste momento, parte-se para a análise de cada uma das etapas que compõem o ciclo de vida de um setor. • Introdução ou nascimento Geralmente, a etapa da introdução é um período lento de crescimento e, consequen- temente, de pouco retorno financeiro, já que o volume de produção/vendas não permite economia de escala. O público-alvo ainda não sabe da existência da empresa e dos seus produtos. Quase não há margem para a organização, devido aos altos custos para introduzir o produto. É comum que nessa fase haja prejuízo financeiro. A empresa necessita se preocupar com a possibilidade de entrada de novos concorrentes, de maneira bastante crítica, e com o poder de barganha dos compradores e o de negociação dos fornecedores. Essas são as três forças que mais afetam a empresa na fase de introdução. Além disso, o produto requer altos investimentos em tecnologia, propaganda, distribuição e embalagem/design. • Crescimento ou desenvolvimento Na segunda etapa do ciclo, a organização está na fase de crescimento, período de rápida aceitação no mercado e de lucros crescentes à medida que mais pessoas adotam o produto. O público-alvo passa a conhecer a empresa e descobre a existência de seus produtos, o que eleva seu Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 101 volume de vendas e favorece o surgimento da economia de escala. Em compensação, o número de concorrentes tende a aumentar, devido ao sucesso das vendas e ao crescimento empresarial. Esse é o momento de a empresa se preocupar intensamente com a possibilidade de novos concorrentes entrarem no mesmo mercado, bem como – e de maneira mais contida – com a rivalidade entre as empresas doramo e, ainda, com o poder de negociação dos fornecedores. Por esse motivo, é importante que a organização continue investindo para garantir uma liderança de mercado. • Maturidade Na fase da maturidade, o mercado já apresenta uma forma de sedimentação com poucas empresas, porém de tamanho grande, já que os consumidores potenciais foram conquistados e já houve aceitação dos potenciais compradores, ou seja, a corporação já conseguiu cativar um público-alvo. Os lucros se tornam mais estáveis e os gastos com marketing para defender o produto da concorrência, cada vez mais elevados. Nessa fase, a empresa continua se deparando com a rivalidade entre outras do ramo, tendo em vista a luta para garantir espaço no mercado e o poder de barganha dos compradores, os quais têm mais opções de compra. Por sua vez, a organização também deverá se preocupar, de maneira pouco menos intensa, com a ameaça de produtos substitutos. Por isso, é importante que ela não se acomode com esse cenário e comece a tomar atitudes preventivas contra a fase de declínio. • Declínio Na quarta e última fase do ciclo, as vendas e os lucros começam a cair e o produto passa a se tornar ultrapassado – ou novas tecnologias vão surgindo e o produto começa a entrar em desuso. Em razão disso, nesse momento a empresa deve encontrar grandes dificuldades com relação à ameaça de produtos substitutos, e com o poder de barganha dos compradores (com menor intensidade). Dessa forma, é fundamental que a empresa redesenhe seu planejamento para que novas alterações no produto sejam feitas na intenção de que ele seja relançado no mercado de maneira atualizada e, assim, outro ciclo se inicie. Em cada uma dessas etapas, há atuação das cinco forças de Porter com maior ou menor intensidade, o que define a forma de se caracterizar as estratégias a serem implementadas. É preciso observar que o tempo de cada etapa do ciclo é bem variado, pois depende muito do produto, do mercado no qual ele está inserido, do seu grau de inovação, da aceitação do público-alvo, entre outros fatores. Logo, o ciclo não é o mesmo para todos, uma vez que alguns produtos não passam por todas as etapas. É possível que o produto não passe das primeiras fases, caso ocorram erros de planejamento, estratégia e posicionamento de mercado. Por sua vez, outros podem ter uma aceitação tão grande de mercado que demorem mais no tempo de maturidade e posterguem a fase de declínio. Segundo Adizes (1990), a chave para administrar bem uma empresa em todas as fases é se concentrar nos problemas que são mais pertinentes ao estágio atual da organização no ciclo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações102 de vida. Como exemplo, podemos citar a empresa Nestlé, que inaugurou sua primeira fábrica no Brasil em 1921, em Araras/SP. Certamente, nestes quase 100 anos de operações no território nacional, a empresa passou por altos e baixos, mas sempre soube superar as dificuldades e sair da fase de declínio. Conseguiu passar ao estágio seguinte e se fortaleceu ainda mais pelo aprendizado da superação dos problemas. Ainda conforme Adizes (1990), crescer significa a capacidade de lidar com problemas maiores e mais complexos. Portanto, pode-se concluir que quando a empresa supera os obstáculos, ela inicia um novo ciclo de vida. Assim, poderá colher bons frutos e aumentar sua rentabilidade. Ao conhecer e entender o ciclo de vida do setor, a empresa é capaz de otimizar suas ações, para garantir melhores resultados ao longo do tempo e, consequentemente, manter-se mais competitiva. Quanto mais tempo o produto passa nas fases de crescimento e maturidade, maior é o retorno sobre os investimentos no desenvolvimento, na introdução e nos custos com publicidade para mantê-lo no mercado. 5.5 Análise do tamanho e crescimento do mercado A análise de mercado se refere ao processo de obtenção de informações sobre o mercado de atuação da empresa/ideia, bem como aos fatores que podem impactar o sucesso ou fracasso desse empreendimento. O objetivo é perceber como funciona o mercado e quais são os cenários de desenvolvimento mais prováveis no setor. É por meio desse processo que se podem obter dados sobre o segmento e o contexto nos quais uma organização vai atuar e sobre o potencial do público-alvo, a relação do produto com os fornecedores e o posicionamento da concorrência. Trata-se da definição do market share8 da empresa, um dos elementos da avaliação do ambiente operacional sem a qual é impossível conhecer as necessidades do público-alvo, o perfil da concorrência e os melhores fornecedores. Em outras palavras, a análise de mercado é uma atividade determinante para o negócio. Só assim é possível entender as atividades que merecem a atenção do gestor e que de fato são capazes de tornar o negócio um sucesso. Por meio da análise de mercado, é possível identificar se existe o público-alvo necessário para consumir um produto, se os concorrentes não estão fortes demais e se o produto está ou não saturado. Além disso, por meio da análise dos fornecedores, o empreendedor terá uma boa noção de preço do produto e, consequentemente, saberá da possibilidade de atingir ou não os objetivos e as metas de lucros. Essa análise ajuda a conhecer melhor o perfil do público-alvo, tanto pela perspectiva quantitativa (tamanho do mercado e quantidade de clientes) quanto qualitativa (perfil de consumo, estilo de vida, renda, faixa etária etc.). A análise do tamanho e crescimento do mercado envolve os seguintes elementos: 8 Market share significa participação de mercado, em português, e diz respeito à fatia ou quota de mercado que uma empresa tem no seu segmento ou no segmento de um determinado produto. O market share serve para avaliar a força e as dificuldades de uma empresa, além da aceitação dos seus produtos. Vídeo Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 103 • setor de atividade: descobrir como está o setor de atividade, bem como quais são os fatores externos à empresa que afetam diretamente a sua atividade; • mercado-alvo: diz respeito aos consumidores atuais e potenciais, os quais constituem o mercado ou a procura; • concorrentes: são os competidores atuais ou potenciais que satisfazem as mesmas necessidades do mercado – constituem a oferta total; • fornecedores: relativo aos agentes econômicos públicos e privados que prestam serviços ou vendem produtos ao setor; • comunidade: refere-se às organizações e aos indivíduos que partilham recursos e têm interesses relacionados ao mercado e ao setor de atividade. Com essa análise, pretende-se propor uma reflexão sobre o estado atual do setor de atividade em que a empresa vai operar. Essa reflexão envolve os seguintes aspectos: • vendas do setor/estrutura; • quais empresas existem no mesmo setor e como elas se comportam; • antecipação das tendências do setor; • reconhecimento de estratégias vencedoras; • identificação dos principais intervenientes; • criação de novas oportunidades; • atuação para prevenir e evitar riscos. As estimativas de tamanho do mercado são importantes como indicadores das possibilidades de crescimento de um negócio, pois sinalizam o teto de um setor e, portanto, as possibilidades de ganho. Desse modo, trata-se de um dos indicadores mais importantes, utilizado pelos empresários em suas decisões de entrar ou não em um novo negócio. No geral, uma boa análise de mercado inclui uma avaliação dos principais fatores que influenciam o negócio. 5.5.1 Como calcular a participação de mercado Depois de descobrir o tamanho do mercado de um negócio, é hora de saber qual é a fatia desse mercado que a empresa tem atualmente. Por exemplo, se você já tiver uma empresa funcionando e que mantenha o histórico de vendas, essa tarefa será mais fácil. Mas, antes disso, é importante falar da abrangência, um fator determinante para esse resultado. A abrangência do negócio pode ser maior ou menor. Por exemplo, entre um fabricante de roupas nacional e uma lanchonete numapraça de alimentação em um shopping do interior, a abrangência é muito mais restrita no segundo caso do que no primeiro. Para calcular o market share, é preciso ter claro que é o empreendedor quem define o tamanho do mercado, com base no que ele considera como concorrência. Uma loja de sapatos pode analisar seu desempenho em comparação com outras lojas da cidade, do estado ou do Brasil, mas também pode definir seu desempenho comparando suas vendas com as de lojas de rua/bairro. Acima de tudo, é preciso descobrir quem a empresa vê como concorrente, Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações104 quem está disputando o mercado com ela. Após definir isso, pode-se passar ao cálculo do market share. Com base no tamanho do mercado, a empresa pode estimar sua participação por meio da seguinte fórmula: Participação de mercado = Faturamento da empresa Estimativa de mercado É preciso lembrar que números isolados podem levar a uma leitura errada do desempenho da empresa. Por isso, é necessário contextualizar esses dados. Vamos supor que um pequeno fabricante de chinelos, por exemplo, possa ter apenas 5% do mercado – o que consideramos um bom resultado, pois está disputando espaço com empresas gigantes do ramo no Brasil. Já uma escola de inglês tradicional em uma cidade do interior, por exemplo, tendo 40% de participação no mercado pode ser um resultado negativo, pois está estabelecida há 20 anos, enquanto seu novo concorrente, que abriu seu negócio há um ano, já possui 20% do mercado. Ou seja, não basta calcular a participação no mercado (market share), é preciso saber interpretá-lo. Depois de definir o tamanho do mercado e a porcentagem dele que corresponde ao negócio da organização, chega o momento de definir objetivos e metas para o crescimento desta. A lógica é simples: você precisa tirar clientes dos seus concorrentes ou atingir os que ainda não foram captados, no caso de novas demandas. Existem algumas estratégias para aumentar o market share, sendo que as mais comuns costumam ter efeitos de curto prazo, isto é, pouco duradouros. Novamente, reforça-se que um planejamento bem elaborado é a chave do sucesso. As principais estratégias são: • Preço: redução de preços, promoções e descontos chamam a atenção, mas não fidelizam o cliente. Essa estratégia pode atrapalhar os lucros e ser copiada pela concorrência, podendo gerar uma guerra de preços, o que muitas vezes leva organizações à falência. • Inovação: inovar no que se vende ou na forma de vender também pode ser copiado e melhorado pelo concorrente. Ou seja, a inovação é uma busca constante. • Capacidade produtiva: ao perceber uma demanda de mercado que não é atendida, uma empresa pode aumentar sua produção. Entretanto, essa escolha exige preparo, já que nem sempre quantidade é sinônimo de qualidade. • Marketing e publicidade: é preciso fazer com que os clientes conheçam os diferenciais de uma empresa. Essa estratégia inclui construir uma imagem positiva do negócio. Mas, para isso, é necessário garantir a imagem que é vendida aos consumidores. Ao traçar estratégias, esteja ciente de como o aumento de market share pode impactar sua capacidade instalada. Faça perguntas como: Minha estrutura física vai conseguir atender a Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 105 esse aumento de participação? Como isso vai afetar os custos fixos? Vou precisar contratar mais funcionários? Qual será o reflexo no meu fluxo de caixa? O que nem todo mundo pensa ao buscar atingir mais participação é que vender mais pode significar que você vai precisar ter mais dinheiro em caixa para custear a reposição dos estoques e as vendas a prazo. Por fim, sempre foque no cliente. Busque excelência no atendimento, dê ouvidos ao que eles falam, esteja preparado para atender às suas expectativas e se empenhe para ouvir reclamações e resolver satisfatoriamente queixas eventuais. Lembre-se: é preciso conquistar o cliente para aumentar o market share. 5.5.2 Análise da atratividade do setor Frequentes debates na literatura sobre estratégia competitiva visam explicar por que algumas empresas conseguem, ao longo do tempo, vantagens competitivas sobre seus concorrentes, o que resulta na geração de retornos superiores, significativamente maiores do que a média do setor no qual operam (RUMELT; SCHENDEL; TEECE, 1994). Segundo o Sebrae (2019), o conhecimento de alguns aspectos da vida das empresas deve permitir a avaliação do grau de atratividade do empreendimento, subsidiando a decisão do empresário na escolha dos métodos que pretende desenvolver. Se considerarmos que o nosso concorrente é todo aquele que pode influenciar negativamente nossa capacidade de gerar receitas, teremos um conjunto de vetores mais amplo nos ameaçando. A análise desses vetores permitirá às empresas monitorarem não só a intensidade da concorrência, como também a atratividade do seu respectivo setor. Aprender a analisar cenários e conhecer os riscos que o negócio enfrenta para criar estratégias e alternativas de atuação no mercado que favoreçam o negócio é uma parte importante do plano de negócios. A atratividade do setor se refere ao grau de interesse de uma organização por certa área estratégica, considerando-se a situação do ambiente competitivo, o estágio de vida da área estratégica, as tendências e as descontinuidades que afetam a área, a presença e a força dos concorrentes, a lucratividade ou os resultados, as oportunidades e as ameaças e a turbulência no setor. A atratividade do mercado (fatores externos) substitui o crescimento do mercado como dimensão para medir a atratividade da indústria e inclui uma gama maior de fatores do que apenas o crescimento do mercado. Diversas são as maneiras de se analisar a atratividade do setor dentro da gestão estratégica, porém, de maneira geral, essa técnica consiste em: identificar os fatores externos críticos que impactam a atratividade do negócio; avaliar o grau de atratividade de cada um dos fatores identificados tanto para o presente quanto para o futuro; extrair dessa análise as oportunidades e as ameaças associadas ao negócio. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações106 Os fatores externos críticos são classificados em: • fatores de mercado: tamanho e taxa de crescimento de mercado; diferenciação de produtos; sensibilidade de preços; ciclos econômicos; sazonalidade; mercados cativos; rentabilidade da indústria; • fatores competitivos: intensidade competitiva; grau de concentração; barreiras para entrada no mercado; barreiras de saída; volatilidade das ações; grau de integração; existência de substitutos; utilização da capacidade de produção; • fatores econômicos e governamentais: inflação; comércio exterior e valor do câmbio; nível salarial; suprimento de matéria-prima e mão de obra; legislação; regulação do mercado; taxação de impostos; apoio governamental; • fatores tecnológicos: maturidade e volatilidade; complexidade do projeto; patentes; exigências de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de produtos e processos; • fatores sociais: impactos ecológicos; ética do trabalho; proteção ao consumidor; demografia; sindicalização; interculturalidade. A análise da atratividade do negócio é um processo extremamente importante em qualquer mercado, regulamentado ou não. A correta identificação da concorrência pode livrar as empresas de caírem em armadilhas e de alocarem erroneamente seus recursos às iniciativas de pouco valor agregado. A atratividade do negócio é uma das perspectivas da lucratividade que orientam os gestores na busca de “oceanos azuis” (oportunidades de negócios) e em decisões radicais, como, entrar ou sair de um negócio. A atratividade é um “termômetro” que deve ser utilizado para medir a “temperatura” do ambiente de negócios continuamente, conforme a dinâmica do setor. Assim, a empresa não precisa envidar esforços de medição em todas as categorias de fatores de produção. Ela deve procurar trabalhar comaquelas que mais se identificam com o seu modelo de negócios. A medição da atratividade nas categorias de fatores de produção mais relevantes para o negócio vai orientar os gestores com muita precisão na decisão corporativa estratégica sobre qual postura estratégica deve ser adotada. É importante lembrar que esse tipo de decisão precisa ser revisto todo dia, em função da mudança de cenários no ambiente de negócios. 5.5.3 Análise estratégica da concorrência Seja para quem está começando um novo negócio ou para quem já tem uma marca consolidada, conhecer seus competidores é vital. A análise da concorrência é uma prática comum do mercado e pode ser feita de diferentes formas. Você provavelmente já entrou no site ou na página de Facebook de algum concorrente para ver o que ele está fazendo. No entanto, é possível ir muito além disso e analisar a concorrência de forma sistemática e estratégica. Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 107 A análise da concorrência procura não somente olhar para as forças genéricas e abstratas de um setor, mas para cada concorrente que atua no mesmo setor. Segundo informações do Sebrae (2019), é necessário que a empresa conheça, primeiramente, as próprias características, tais como aquelas referentes aos produtos que comercializa, ao porte, aos locais de atuação e à capacidade de atendimento. Somente depois é que se pode estabelecer uma comparação com outras organizações que possuem características idênticas ou semelhantes. Com a identificação dos concorrentes diretos da empresa, devem-se buscar informações adicionais por meio de pesquisa de mercado ou de pura observação, a ser realizada pelo proprietário e por seus colaboradores. • Por que fazer análise estratégica da concorrência? É fácil pensar em uma série de vantagens que a análise da concorrência pode trazer para um negócio. Entender o cenário do mercado, descobrir como a empresa está posicionada em relação aos concorrentes, encontrar oportunidades, pontos de melhoria e desafios são algumas. Ao observar como as outras empresas estão se planejando e agindo, é possível avaliar quais estratégias e ações estão dando certo e entender quais fariam sentido para o negócio. Mas será que isso é correto? Muitas pessoas se perguntam a repeito imaginando que observar a concorrência pode soar antiético. Se essa é uma preocupação para você, saiba que não só é correto, como totalmente necessário e incentivado por grandes autores e empresários. • Como fazer uma análise da concorrência Pode parecer óbvio, mas o primeiro passo para analisar a concorrência é definir quem são os concorrentes. E isso não é necessariamente uma tarefa simples. Existem diferentes formas e métodos para analisar a concorrência. A seguir, serão apresentados aqueles considerados essenciais, mas lembre-se de que isso pode mudar de acordo com as particularidades do seu mercado ou da sua empresa. Primeiramente, identifique os seus concorrentes diretos, ou seja, aqueles que têm produtos iguais aos seus e que disputam o mesmo mercado que a sua marca. Em seguida, defina os seus concorrentes indiretos, isto é, aqueles que oferecem produtos semelhantes ou que satisfazem as mesmas necessidades ou desejos que o seu. Os concorrentes indiretos disputam o mesmo perfil de consumidor que você. Ao definir os concorrentes diretos ou indiretos, é importante buscar identificar quais são aqueles que competem de maneira mais acirrada com o seu negócio. Podem ser empresas que estão localizadas geograficamente mais próxima ou que praticam estratégias de comunicação semelhantes à sua. Por exemplo: imagine que você tem uma pizzaria. Teoricamente, todas as outras pizzarias da cidade são concorrentes diretos, mas aquelas localizadas no mesmo bairro certamente apresentam uma competitividade maior. Além disso, uma hamburgueria na mesma rua pode apresentar uma ameaça maior do que muitas outras pizzarias. Por outro lado, um supermercado que vende pizzas congeladas, em um primeiro momento, pode ser considerado um concorrente indireto, já que comercializa um produto Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações108 semelhante. Mas é preciso avaliar que a pessoa a comprar uma pizza congelada em um supermercado tem um objetivo diferente daquela que vai à sua pizzaria em busca de um bom atendimento, de uma pizza de forno a lenha ou de um ambiente descontraído. Com esse exemplo, fica claro que a definição dos concorrentes nem sempre é simples, mas também não precisa ser um “bicho de sete cabeças”. Após definir sua lista de competidores, passe à análise da concorrência propriamente dita. • Níveis de concorrentes Há diversos níveis de concorrentes, desde a concorrência ampla, que disputa os mesmos desejos e necessidades do consumidor, até a concorrência imediata das empresas com produtos e serviços extremamente próximos e que competem pelos mesmos clientes e mercados. São tipos de concorrências: • concorrência de marca: concorrentes que oferecem aos mesmos consumidores produtos e serviços similares a preços semelhantes; • concorrência industrial: todas as empresas que fabricam um mesmo produto ou classe de produtos; • concorrência de forma: todas as empresas que fabricam produtos que prestam o mesmo serviço; • concorrência em geral ou de desejo: todas as empresas que concorrem pelo mesmo dinheiro do consumidor. A Figura 6 avalia esses diversos tipos de concorrentes tomando como exemplo uma indústria de chocolates: Figura 6 – Níveis de concorrência em uma indústria de chocolates Qual desejo quero satisfazer? Concorrentes em geral ou de desejo? Socialização Exercício Comida Batatas fritas Doces Refrigerantes Barra de chocolate Bombom Dropes O que comer? Concorrentes de forma Qual tipo de doce? Concorrentes industriais Qual marca eu quero? Concorrentes de marca Fonte: Fernandes; Berton, 2005, p. 91. O objetivo da análise da concorrência é encontrar informações, dados e indicadores que apontem o que a empresa está fazendo para se destacar no mercado, como se comunica com seu público-alvo, de que forma divulga seus produtos e que tipos de resultados está tendo. Assim, é preciso fazer um mapeamento minucioso da marca que está sendo analisada em diferentes pontos e de variadas formas. Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 109 • Grupos estratégicos de concorrentes Uma maneira de afinar a análise da concorrência em uma indústria consiste no levanta- mento do número de grupos estratégicos existentes nesse setor. Um grupo estratégico é um conjunto de empresas pertencentes a um mesmo setor de atividade e que adotam orientações estratégicas semelhantes em função de determinadas variáveis. A análise da concorrência de uma indústria feita com a noção de grupo estratégico pressupõe que uma dada empresa não está em concorrência com todas as outras na mesma intensidade. São exemplos grupos de empresas concorrentes que disputam o mercado com base nos fatores-chave de sucesso: • Coca-Cola e Pepsi; • Volkswagen, Fiat e Ford; • Vivo e Tim; • Walmart e Carrefour. Há concorrentes próximos que atuam nos mesmos segmentos de mercado e buscam um tipo de vantagem competitiva semelhante, assim como há concorrentes distantes que atuam em outros segmentos e buscam uma vantagem competitiva diferente. Para a identificação dos diferentes grupos estratégicos em um determinado setor, é necessário identificar as variáveis estratégicas que melhor diferenciam as empresas. Da mesma forma que os segmentos de mercado proporcionam a análise dos clientes, os grupos estratégicos permitem analisar os concorrentes e retirar conclusões sobre os posicionamentos estratégicos mais rentáveis, bem como a respeito dos movimentos estratégicos dos concorrentes e dos principais fatores-chave de sucesso. A essência dessa análise é que a empresa deve monitorar especialmente os concorrentes pertencentes ao mesmo grupo estratégico. 5.6 Fatores-chave ou críticos de sucesso A busca pelo sucessomercadológico se torna mais eficaz quando se tem conhecimento a respeito dos fatores-chave de sucesso, isto é, os tópicos que são imprescindíveis para o bom andamento do negócio. Também chamados de fatores de escolha, são pontos ou características desejáveis pelos clientes que fazem com que eles decidam de quem, o quê, como ou quando vão optar por determinado produto ou serviço. Esses fatores estão ligados à opinião dos clientes atuais ou potenciais. Dependem de suas necessidades, preferências, conveniências e percepções quanto às dimensões da qualidade do produto ou serviço que estão procurando. 5.6.1 O que são fatores-chave ou críticos de sucesso O conceito é bastante simples. Basicamente, os fatores-chave são pontos cruciais para que a companhia se desenvolva e cresça conquistando as suas metas. Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações110 Referem-se às áreas de atividades nas quais o alcance de resultados favoráveis é absolutamente necessário para o êxito na implantação da visão da empresa. Os fatores-chave de sucesso devem ser definidos no nível estratégico da organização. São elementos essenciais para o sucesso competitivo em um determinado setor, como: • consciência da marca; • força de vendas; • liderança; • tecnologia; • rapidez; • tradição; • preço; • confiabilidade; • atendimento; • especialização; • escala. Um dos principais motivos para o fracasso de uma empreitada no mercado está justamente na negligência desses fatores. Sendo assim, fica claro que estes são diferentes para cada empresa, pois, de maneira geral, dependem dos objetivos traçados individualmente pelas organizações. No momento de determinar esses fatores, o gestor do negócio deve ter em mente a visão, a missão e os valores da companhia. A longo prazo, o estabelecimento desses fatores contribui para a criação de diretrizes e a implementação de processos administrativos mais bem geridos. Em cada negócio, existem alguns (poucos) pontos em que a disputa é realmente travada, e as empresas de melhor desempenho nesses fatores acabam sendo as mais bem-sucedidas no setor. A ideia de fatores-chave de sucesso pode ser utilizada para comparar o desempenho de concorrentes. Para tanto, alguns passos devem ser seguidos: • identificar os principais atributos que os consumidores valorizam; • avaliar as classificações de importância do consumidor em diferentes atributos; • avaliar os desempenhos dos concorrentes sobre esses diferentes atributos; • monitorar a mudança de importância dos atributos no decorrer do tempo. A análise dos fatores-chave de sucesso pode ser representada conforme o Quadro 2: Quadro 2 – Avaliação dos concorrentes Escala de produção Preço Atendimento Empresa Concorrente A Concorrente B Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 111 Concorrente C Fonte: Adaptado de Fernandes; Berton, 2005, p. 93. No caso do Quadro 2, supõe-se que os fatores de sucesso são escalas de produção, preço e atendimento, bem como que as empresas concorrem no mercado nesses fatores. Exemplo: a fabricação de impressoras para computadores, considerando como fator-chave de sucesso a escala de produção, a inovação, o preço e a durabilidade (Quadro 3). Quadro 3 – Avaliação de concorrentes a respeito de fatores críticos de sucesso na fabricação de impressoras Força da marca Inovação Preço Durabilidade HP Epson Compaq Notas: 5 – excelente; 4 – bom; 3 – médio; 2 – fraco; 1 – muito fraco Fonte: Adaptado de Fernandes; Berton, 2005, p. 93. A análise do Quadro 3 revela as “brechas” do setor ou, em outras palavras, que tipo de atributo uma empresa pode enfatizar ao desenhar uma nova estratégia. Descobrir e identificar quais são os fatores críticos de sucesso de um empreendimento faz parte do esforço de planejamento. Se você não tiver tempo para mapear o que é chave para alcançar o sucesso em seus negócios, como pretende garantir esse sucesso em primeiro lugar? É relevante enfatizar que os fatores críticos de sucesso podem e devem ser traduzidos em indicadores, atribuindo-lhes medidas de desempenho para compará-las com características consideradas importantes em relação ao objetivo definido de acordo com a necessidade, a complexidade e a criticidade dos negócios em uma organização. Quando os fatores críticos de sucesso são bem definidos, eles tendem a se tornar um ponto de referência de uma empresa para as pessoas que amam ou admiram a marca. Isso pode ser extensível a um produto ou até mesmo à pessoa do empreendedor. Você percebe a importância de conhecer os fatores críticos de sucesso? Após serem identificados, esses fatores devem ser colocados hierarquicamente, priorizando aquele fator que influencia diretamente no desenvolvimento da empresa e, logo em seguida, os que têm impacto na satisfação do cliente. O princípio básico do sucesso nos negócios é conseguir fazer as coisas da melhor maneira possível, sempre em busca da excelência. Nesse sentido, conhecer bem os fatores críticos de sucesso vai contribuir também para distanciar a organização em relação aos concorrentes. Qualquer empresa tem fatores críticos de sucesso. A partir do momento em que seu conceito é entendido e medidas são tomadas para que problemas relacionados a esses fatores sejam solucionados, a organização em questão consegue ter um parâmetro para implementar medidas de aprimoramento de desempenho, medir a evolução dos projetos e julgar as características que Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações112 podem auxiliar ou atrapalhar o alcance dos objetivos. Feito isso, a organização é capaz de se distanciar das crises, garantindo vantagem competitiva e o sucesso que tanto deseja. Esses fatores-chave em algumas áreas críticas são definidos na análise estratégica global da organização decorrente do estudo dos macroambientes, da atratividade do mercado de inserção e das forças estruturais (capital humano, processos, tecnologias etc.), enfim, dos cenários construídos. Assim, entende-se que os fatores-chave de sucesso são variáveis relevantes para um conjunto de orientações estratégicas e sem seus atendimentos a empresa fica fragilizada, tendendo ao fracasso. Considerações finais O ambiente operacional é o nível do ambiente externo à organização composto de setores que normalmente têm implicações específicas, relativamente mais imediatas na administração. Ele constitui-se como um importante passo dentro da estratégia empresarial, afinal, a organização vive em um ambiente e com ele se comunica, influenciando-o e sendo por ele influenciada. Portanto, ela satisfaz seus fins entendendo esse ambiente em que se encontra. No ambiente operacional ou de tarefas, os fatores que mais influenciam a empresa são os concorrentes. Por exemplo, há um grande aumento de empresas atuantes no setor médico- -hospitalar que estão dispostas a conquistar o mercado consumidor pela qualidade de seus produtos e preços reduzidos. Porém, não só os concorrentes podem ser a principal influência à organização como também os próprios consumidores, que são as peças fundamentais de qualquer empresa. Ampliando seus conhecimentos Muitas são as pesquisas desenvolvidas na área de ambiente empresarial. Por isso, é relevante acompanhar periodicamente materiais para aprofundamento da temática, entre os quais recomendamos: • AMBIENTES empresariais: macro (geral), micro (tarefa) e interno. 2013. 1 vídeo (10 min). Publicado pelo canal KAH ADM. Disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=2dzGbKYyxoI. Acesso em: 26 abr. 2019. Neste vídeo, o autor faz uma boa explanação a respeito dos ambientes da organização sob o aspecto da estratégia, enfatizando os diversos elementos a serem considerados no planejamento. • VASCONCELLOS FILHO, P. de. Análise ambiental para o planejamento estratégico. Revista Administração de Empresas, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 115-127, abr./jun. 1979. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rae/v19n2/v19n2a09.pdf. Acesso em 26 abr. 2019.Análise do ambiente empresarial ou de tarefa 113 Este artigo traz uma boa explicação sobre os ambientes da organização. Seu enfoque é o ambiente de tarefas com base em uma perspectiva de que, por meio de maior interação com o ambiente no qual opera, este parece ser a melhor alternativa a uma organização que procura garantir sua sobrevivência e seu desenvolvimento. Atividades 1. O que você entende por ambiente operacional ou de tarefa? 2. Considerando as técnicas de mapear e analisar o ambiente de tarefas, explique sucintamente o que é a análise estrutural da indústria (modelo das cinco forças de Porter). 3. Para que serve fazer a análise de atratividade do setor, em termos de realização do diagnóstico do ambiente operacional? 4. Quais são os níveis de concorrência que você conhece? Explique cada um deles. 5. O que podemos entender por grupos estratégicos de concorrentes? Referências ADIZES, I. Os ciclos de vida das organizações: como e por que as empresas crescem e morrem e o que fazer a respeito. São Paulo: Pioneira, 1990. CERTO, S.; PETER, J. P. Administração estratégica: planejamento e implementação da estratégia. São Paulo: Makron Books, 1993. CERTO, S.; PETER, J. P. Administração estratégica: planejamento e implantação da estratégia. 2. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2005. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico organizacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. CONHECIMENTO GERAL. Célula eucarionte. 30 jul. 2016. Disponível em: https://www.conhecimentogeral. inf.br/celula_eucarionte/. Acesso em: 16 abr. 2019. DAFT, R. L. Administração. 4. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2003. DICIO – Dicionário Online de Português. Haploides. Disponível em: https://www.dicio.com.br/haploides. Acesso em: 16 abr. 2019a. DICIO – Dicionário Online de Português. Diploides. Disponível em: https://www.dicio.com.br/diploides. Acesso em: 16 abr. 2019b. FERNANDES, B. H. R.; BERTON, L. H. Administração estratégica: da competência empreendedora à avaliação de desempenho. São Paulo: Saraiva, 2005. LEZANA, Á. Ciclo de vida das pequenas empresas. Florianópolis: Ed. UFSC, 1996. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações114 MARTINELLI, D. A evolução da teoria da administração e a hierarquização de sistemas. Tese (Doutorado em Administração) – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 1995. OLIVEIRA, J. F. de; SILVA, E. A. da. Gestão organizacional: descobrindo uma chave para os negócios. São Paulo: Saraiva, 2006. PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 1986. PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. ROWE, W. G. Liderança estratégica e criação de valor. RAE: Revista de Administração de Empresas, v. 42, n. 1, p. 7-19, jan./mar. 2002. RUMELT, R.; SCHENDEL, D.; TEECE, D. Fundamental issues in strategy. Cambridge: Harvard Business School Press, 1994. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Microempresa. Disponível em: http://www.sebrae.com. br/sites/PortalSebrae/. Acesso em: 25 abr. 2019. 6 Análise do ambiente interno Durante toda a existência da humanidade, sempre foi muito mais simples conhecer e apontar os defeitos dos outros. Para muitos, o autoconhecimento parece uma tarefa muito distante e difícil de ser realizada. A expressão de Sócrates “Conhece-te a ti mesmo”, apresentada há mais de 20 séculos, ainda é motivo de incômodo para muitos. Diante disso, cabe a seguinte reflexão: por que é tão importante analisar a situação interna da organização? Todas as pessoas têm o que se costuma chamar de “pontos cegos”. Ou seja, uma pessoa pode não conseguir identificar facilmente todas as suas falhas e seus defeitos, ao passo que outros sujeitos podem vê-los com clareza na pessoa em questão. A situação ainda piora no momento que esses pontos cegos se tornam conhecidos, mas o indivíduo se nega a reconhecê-los, colocando a culpa em outra pessoa ou situação. Uma das principais causas disso se deve à falta de uma cultura de análise do ambiente interno e da identificação de problemas para o aperfeiçoamento contínuo. Sob essa ótica, a maneira mais eficaz de manter uma empresa à frente da concorrência é fazer o melhor antes que o concorrente faça. Isso implica conhecer muito bem a própria organização, suas forças e fraquezas, e buscar dados que permitam atender aos desejos dos clientes. Com base nisso, surgem elementos que podem auxiliar a organização a evoluir, mantendo sua posição perante os concorrentes ou colocando-se em uma posição melhor. Esse conceito pode ser mais bem compreendido por meio do entendimento estratégico de fazer a avaliação do ambiente externo para conhecer os concorrentes e também da própria empresa (análise do ambiente interno). Dessa forma, não é necessário se preocupar com reveses na batalha do mercado. Porém, se o gestor detém conhecimento da própria organização, mas nada sabe sobre os concorrentes, a cada passo que avançar no mercado, retrocederá um. Por fim, se nenhuma análise ambiental do mercado for realizada, significa que a empresa não conhece a si mesma e muito menos seus adversários (concorrentes). Nessa situação, sucumbirá gradativamente. 6.1 O que significa ambiente interno O ambiente interno se refere ao nível de ambiente da organização que está dentro dela e normalmente tem implicação imediata e específica na administração da organização (CERTO; PETER, 1993). Observe, na Figura 1, como o ambiente interno está localizado dentro de uma organização. Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações116 Figura 1 – Ambiente interno ou microambiente Macroambiente Ambiente operacional Ambiente interno Aspectos organizacionais Aspectos de marketing Aspectos financeiros Aspectos de pessoal Aspectos de produção Identificação das competências da organização Análise da cadeia de valor Análise das estratégias genéricas Análise das áereas funcionais da empresa Fonte: Adaptado de Certo; Peter, 1993. Assim, o ambiente interno diz respeito a: • Recursos físicos: Qual é a estrutura existente na empresa em termos de espaço físico e máquinas? As peças são desenvolvidas na própria empresa? • Recursos humanos: Quantos e quem são os colaboradores? Eles recebem treinamento? Se sim, é feito na empresa ou fora dela? Há estímulo à diversidade, ou seja, a organização contrata funcionários considerados pertencentes a minorias? Há plano de carreira? • Recursos financeiros: De que forma são obtidos os recursos para investir na atividade? Tais recursos são próprios? • Recursos tecnológicos: Há aplicação de algum recurso tecnológico na empresa, seja na produção, na venda ou nos controles? Logo, o ambiente interno ou microambiente diz respeito ao mais próximo e imediato de uma organização. Cada empresa funciona em um ambiente competitivo mais próximo e imediato, o qual compreende organizações específicas com as quais uma corporação interage. 6.2 Análise do ambiente interno de uma organização O ato de aprender está diretamente ligado ao desempenho da organização, pois muitas soluções simples – que nem sempre são percebidas ou então são ignoradas – podem ser o maior diferencial de uma empresa em seus produtos ou serviços. Talvez o maior desafio de uma organização não seja superar seus concorrentes, mas sim, lidar com seu ambiente interno, já que há muitos aspectos a se considerar para que todas as áreas estejam integradas e focadas em um objetivo comum. Uma empresa não gera frutos quando alguns colaboradores acreditam que cada área está em competição com as demais e que o êxito de um departamento, em detrimento do fracasso dos outros, é o principal objetivo – essa postura contribui para destruir a organização aos poucos. Vídeo Análise do ambiente interno 117 A fim de se obter eficiência e eficácia no estabelecimento de metas, é necessário que se proceda àautoavaliação. Nela identificam-se os fatores positivos que devem ser mantidos, bem como as deficiências do sistema interno que de alguma maneira possam impedir o desempenho a contento da missão institucional. A análise interna objetiva colocar em evidência as deficiências e as qualidades da empresa, ou seja, os pontos fortes e fracos que deverão ser determinados diante da posição atual de seus produtos perante o mercado de atuação. Essa análise deve tomar como perspectiva de comparação outras empresas do mesmo setor, sejam elas concorrentes diretas ou apenas potenciais. A análise do ambiente interno é a última fase do diagnóstico estratégico e diz respeito a fatores internos da empresa, desde sua estrutura de trabalho até os aspectos financeiros. De acordo com Santos (1995, p. 152), “a análise interna equivale à avaliação do melhor posicionamento da empresa, de maneira que se possam maximizar as potencialidades e reduzir a vulnerabilidade frente ao ambiente, que é complexo”. Assim, ela compreende o diagnóstico no que tange às suas forças e fraquezas, capacidades e competências. Fazer a análise do ambiente interno de uma organização significa responder às seguintes perguntas: • De que recursos dispõe para cumprir sua missão e alcançar os objetivos? • Quais capacidades e competências precisa desenvolver? • Que características internas podem ser definidas como forças ou fraquezas no que se refere ao cumprimento da missão? Segundo Maximiano (2006), podemos conceituar a análise interna como a identificação de pontos fortes e fracos dentro da organização em paralelo com a análise do ambiente. Portanto, o estudo dos pontos fortes e fracos da organização é realizado por meio da análise das áreas funcionais (como produção, marketing, recursos humanos e finanças) e da comparação do desempenho dessas áreas com empresas de destaque (prática conhecida como benchmarking1). Por meio desse processo, uma empresa pode observar em outras organizações as melhores práticas para cada área funcional, adaptando suas tarefas e seus procedimentos de acordo com a conduta das outras corporações. Maximiano (2006) afirma que para fazer a análise interna, os administradores devem olhar para dentro da própria organização à procura de pontos fortes e fracos. Para realizar o diagnóstico organizacional interno, é necessário efetuar o levantamento de dados sobre diversos aspectos da organização e de suas operações. Uma coisa é discernir as oportunidades atraentes do ambiente; outra é ter as competências necessárias para aproveitar bem essas oportunidades. Assim, convém manter uma avaliação periódica das forças e das fraquezas de cada negócio. A grande questão é se o negócio deve ficar limitado a essas oportunidades em que tem as forças exigidas ou se deve adquirir forças para explorar outras oportunidades melhores. 1 O benchmarking é a técnica por meio da qual a organização compara seu desempenho com o de outra (MAXIMIANO, 2006). Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações118 Como esse ambiente é formado pelo conjunto de recursos tecnológicos, humanos, financeiros e materiais sobre os quais é possível exercer controle – pois resultam de estratégias definidas pelos gestores –, devem-se analisar os fatores essenciais à empresa, como o nível de qualificação dos profissionais, a capacidade financeira, o modelo de gestão, o processo decisório e as próprias características da companhia (conservadora, arrojada etc.). Com o conhecimento das competências e das limitações dos recursos da empresa, torna-se possível decidir que caminho se pretende seguir para alcançar os objetivos. 6.3 Aspectos importantes do ambiente interno de uma organização Para o estabelecimento dos pontos fortes, fracos e neutros da companhia, o executivo deve analisar uma série de aspectos importantes do ambiente interno, como: • aspectos organizacionais: rede de comunicação; estrutura da organização; registro dos sucessos; hierarquia de objetivos; política, procedimentos, regras e habilidades da equipe administrativa; • aspectos de marketing: segmentação do mercado; estratégia do produto, preço, promoção e distribuição; • aspectos do pessoal: relações trabalhistas; práticas de recrutamento; programas de treinamento; sistema de avaliação de desempenho; sistema de incentivos; rotatividade e absenteísmo; • aspectos de produção: layout das instalações da fábrica; pesquisa e desenvolvimento; uso de tecnologia; aquisição de matéria-prima; controle de estoques e uso de subcontratação; • aspectos financeiros: liquidez; lucratividade; atividades e oportunidades de investimentos. Existem diferentes aspectos que devem ser levados em consideração e que auxiliam a administração a realizar uma análise efetiva e eficiente do ambiente. Nas subseções que seguem, serão citados alguns deles. 6.3.1 Aspectos organizacionais Os aspectos organizacionais dizem respeito à posição em que a empresa está estruturada, considerando sistemas de informações confiáveis, sistemas de planejamento e habilidade da administração. Compõem os aspectos organizacionais: • rede de comunicação; • estrutura da organização; • registro dos sucessos; • hierarquia de objetivos; Vídeo Análise do ambiente interno 119 • política, procedimentos e regras; • habilidade da equipe administrativa. Os aspectos organizacionais procuram responder às seguintes questões: • A companhia delega autoridade de forma apropriada? • A estrutura organizacional da companhia é adequada? • As tarefas e as metas de desempenho estão claramente entendidas pelos trabalhadores? 6.3.2 Aspectos de marketing Na área de marketing, deve-se diagnosticar o desempenho do sistema de distribuição, o desenvolvimento de novos produtos, a força da marca e de vendas, promoção e propaganda, políticas de preços e organização do departamento de marketing. É de grande importância também fazer pesquisa de mercado, por ser relevante ao processo decisório. Os aspectos de marketing, portanto, referem-se à força de venda do que é produzido pela empresa (tanto atual quanto futuramente) na intenção de torná-la conhecida pelos consumidores. Também são funções do marketing: • segmentar o mercado; • trabalhar políticas de preço; • formular estratégias de produto, preço, promoções e distribuição. Os aspectos de marketing procuram responder às questões: • A pesquisa de mercado é usada para se obter melhores vantagens? • As propagandas são usadas de maneira eficiente e efetiva? • A companhia pode melhorar o sistema de distribuição do produto? 6.3.3 Aspectos de pessoal A área de recursos humanos deve considerar as atitudes da alta administração quanto ao fator humano da empresa, bem como em relação à rotatividade dos empregados, ao índice de absenteísmo e à eficácia dos programas de recrutamento, seleção, treinamento e desenvolvimento. Os aspectos de pessoal estão ligados à gestão de pessoas, além das questões motivacionais e de comprometimento dos funcionários para com a empresa. Podemos listar as seguintes funções dos aspectos de pessoal: • relações trabalhistas; • práticas de recrutamento; • programas de treinamento; • sistema de avaliação de desempenho; • sistema de incentivos; • rotatividade e absenteísmo. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações120 Os aspectos de pessoal procuram responder às seguintes questões: • Os programas de treinamento são adequados? • Os procedimentos para recrutamento e seleção de empregados podem ser melhorados? • O sistema de avaliação de desempenho da empresa é justo e preciso? Apesar de todo o avanço tecnológico e das transformações propiciadas por ele, os recursos humanos ainda são a principal fonte de sustentação das organizações, porque é com conhecimento humano que surgem todos os inventos e descobertas. Santos (1992) salienta que os recursos humanos são atualmente considerados indispensáveis na estratégia de desenvolvimento da empresa. O autor ainda complementaque a escola humanista2 defende a ideia de que o sucesso empresarial está ligado aos talentos de que a empresa dispõe, os quais devem ser buscados no mercado de trabalho ou desenvolvidos internamente. No último caso, a empresa deverá desenvolver o talento de seus funcionários por meio de treinamentos, aproveitando os recursos humanos já existentes, pois isso evitará desperdício de recursos humanos e financeiros (CARMO, 1999). 6.3.4 Aspectos de produção Na área de produção, é preciso analisar a eficiência da capacidade produtiva da organização, considerando os seguintes aspectos: instalação industrial; processo produtivo; programação e controle da produção; qualidade; sistema de custos; pesquisa e desenvolvimento; cadeia de suprimentos; processo produtivo. Os aspectos de produção estão ligados ao custo da produção e à utilização da tecnologia adequada para alcançar um produto ou serviço de qualidade. São componentes dos aspectos de produção: • layout das instalações da fábrica; • pesquisa e desenvolvimento; • uso da tecnologia; • aquisição de matéria-prima; • controle de estoques; • uso de subcontratação. Os aspectos de produção procuram responder às seguintes questões: • A organização pode melhorar seu nível de tecnologia? • O fluxo de trabalho dentro da fábrica pode ser mais eficiente? • A organização pode diminuir sua taxa de rejeição? 2 As origens da escola humanista se encontram no desenvolvimento das chamadas ciências humanas, principalmente a psicologia dinâmica, de Kurt Lewin, e a filosofia pragmática, de John Dewey. Ambas traduziram a necessidade de humanizar e democratizar a administração, libertando-a dos conceitos rígidos e mecanicistas da teoria clássica e adequando-os aos novos padrões de vida do povo americano (RIBEIRO, 2007). Análise do ambiente interno 121 6.3.5 Aspectos financeiros Podemos subdividir os aspectos financeiros em análise dos índices financeiros (índices de lucratividade, de liquidez, de alavancagem, de giro e períodos de cobrança) e análise do sistema de planejamento e controle financeiro/contábil (estrutura da área financeira, relatórios contábeis/ financeiros, fluxo de caixa, decisões e ações financeiras, controles e orçamentos etc.). Logo, eles se referem aos meios de que a empresa dispõe para as suas operações atuais ou futuras. Para que uma organização possa permanecer no mercado de trabalho atuando de maneira eficaz e obtendo lucros compatíveis com os investimentos realizados, ela precisa manter recursos financeiros suficientes. Conforme Santos (1992), os recursos financeiros possibilitam que uma organização possua maior ou menor flexibilidade defensiva, ou seja, capacidade interna para enfrentar riscos inesperados. Alguns dos aspectos financeiros são os seguintes: • liquidez; • lucratividade; • atividades financeiras; • oportunidades de investimento. Esses aspectos procuram responder às seguintes questões: • Uma análise do relatório de receitas da companhia pode indicar melhorias passíveis de serem feitas? • Uma análise do balanço pode indicar melhorias passíveis de serem feitas? • A análise de ponto de equilíbrio pode ser usada para melhor alinhar custos em função dos lucros? A análise do ambiente interno ou autoanálise requer muita isenção de ânimo e imparcialidade no julgamento, pois qualquer tentativa de encobrir fraquezas ou desempenhos insatisfatórios poderá comprometer toda a estratégia futura. A avaliação pode ser conduzida por pessoas da própria organização envolvidas com o planejamento estratégico ou ser realizada por consultores externos. O importante é incorporar o exercício de autoanálise à rotina operacional, para que ele funcione efetivamente como uma ferramenta de administração estratégica. 6.4 Pontos fracos e pontos fortes Os pontos fortes e fracos compõem a análise do ambiente interno das empresas, ao passo que as oportunidades e as ameaças dizem respeito à análise do ambiente externo. Os pontos fortes e fracos representam as variáveis controláveis, enquanto as oportunidades e as ameaças correspondem às variáveis não controláveis. Evidentemente, o maior problema reside nas variáveis sobre as quais não se tem controle. Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações122 Nos tópicos a seguir, serão apresentados esclarecimentos com relação aos pontos fracos e fortes de uma organização, além de uma breve explicação sobre o que vêm a ser os pontos neutros. 6.4.1 Pontos fracos Os pontos fracos estão relacionados às características da organização que a tornam vulnerável, dadas as ameaças do meio ambiente. Logo, são fatores ou características negativas de destaque, presentes na organização, que a prejudicam no cumprimento do seu propósito. Por essa razão, merecem programas específicos para minorá-los ou eliminá-los. Nas palavras de Cunha (1998, p. 43), os pontos fracos refletem uma “característica competitiva da empresa que a coloca em desvantagem às concorrentes”. Exemplos: • pessoal novo e mal treinado ou desmotivado; • ausência de um manual do usuário, do produto ou do serviço; • falta de local adequado para estacionamento dos clientes; • ausência de recursos para pagamento via cartão de crédito; • falta de integração entre departamentos e seções. 6.4.2 Pontos fortes Pontos fortes são características competitivas da organização, que a colocam em vantagem em relação ao setor ou ramo em que atua. São fatores ou características positivas de destaque, que a favorecem a organização no cumprimento do seu propósito. Logo, devem ser levados em conta na construção das estratégias corporativas, competitivas e de diversificação. Retomando Cunha (1998, p. 43), referem-se a uma “característica competitiva da empresa que a coloca em vantagem frente às concorrentes”. Exemplos: • marca conhecida e respeitada; • rede de distribuição de cobertura nacional; • presteza no atendimento a reclamações; • recursos industriais e de logística; • pessoal de excepcional competência e motivação. 6.4.3 Pontos neutros Os pontos neutros se traduzem em fatores ou características positivas de destaque, presentes na organização, mas não em nível suficiente para contribuir efetivamente para o cumprimento do seu propósito. Por essa razão, recomenda-se o desenvolvimento de programas específicos para melhorá-los. De acordo com Oliveira (1993, p. 281), trata-se de “uma variável identificada pela empresa, mas que no momento não existem critérios de avaliação para a sua classificação como ponto forte ou fraco”. Exemplos: Análise do ambiente interno 123 • qualidade da matéria-prima utilizada é boa, porém similar à da concorrência; • controle de estoques para evitar faltas; • clareza dos manuais e documentos para clientes; • iluminação e indicações visuais nas lojas; • formação do pessoal que lida diretamente com os clientes. 6.5 Análise das competências organizacionais Uma tendência dos últimos anos no mundo organizacional tem sido a ideia de compreender e resolver problemas que as organizações enfrentam tanto no dia a dia quanto em relação ao planejamento futuro. A sociedade contemporânea está atravessando um período de grandes transformações sociais, econômicas, políticas e culturais que resultam num processo de reestruturação produtiva. A intensa e crescente competição traz como consequência o desenvolvimento e a incorporação ao ambiente empresarial de novas tecnologias e modelos de gestão. Portanto, constitui-se como um desafio para as organizações desenvolver e utilizar instrumentos de gestão que lhes garantam certo nível de competitividade (atual e futuro). Elas estão percebendo que o sistema tradicional de gestão não garante mais as respostas adequadas às suas necessidades, pois não conseguem traduzir a realidade, que está cada vez mais complexa. Para buscar a excelência na produção no atual contexto socioeconômico, as empresas definem como requisitos de qualidade a importância do fator humano e o desenvolvimento organizacional, já quesão esses aspectos que realmente fazem diferença para a competitividade de uma instituição. Conforme o paradigma da gestão de organizações orientado aos processos de negócio, as atividades de negócio são realizadas por atores (VOM BROCKE; ROSEMANN, 2010). Sob essa ótica, um ator do negócio3 representa uma entidade organizacional, tal como uma pessoa ou um sistema, capaz de ativamente produzir comportamento. Um processo de negócio é composto de atividades que descrevem a operação desse ator. Nessa perspectiva, um ator pode ser visto como uma entidade que presta um serviço requerido por uma atividade de um processo de negócio. Como tal, a organização deve ser capaz de entender como e por que os atores são atribuídos aos processos de uma organização. Isso requer uma representação consistente dos serviços necessários à operação dos processos da organização e dos serviços prestados pelos seus atores. 3 Trata-se de uma entidade organizacional capaz de (ativamente) desempenhar comportamento. Pode ser um indivíduo (por exemplo, um cliente ou um funcionário), mas também um grupo de pessoas ou recursos que têm uma posição permanente (ou pelo menos a longo prazo) dentro da organização. Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações124 6.5.1 Conceito de competências organizacionais Antes de apresentar uma definição para competência organizacional, deve-se, primeiramente, explicar o conceito de competência e, posteriormente, delimitar as perspectivas estratégicas e de gestão de pessoas. O conceito de competência começou a ser definido na década de 1980 como uma resposta às mudanças organizacionais e às alterações mais amplas que ocorriam na sociedade à época. Assim, define-se competência como a característica básica de um indivíduo que causa ou pode prever o comportamento e o desempenho superiores em um trabalho ou situação (SPENCER; SPENCER, 1993), sendo parte do que Davenport e Prusak (1998) classificam como conhecimento tácito. A sua representação é normalmente realizada por meio de estruturas hierárquicas ou de árvores de competência que dizem respeito à decomposição funcional das competências em subcompetências ou à simples relação de dependência entre competências distintas. Pode-se associar a abordagem do conceito de competência a processos de negócio. Categorizar as atividades conforme as competências de um negócio produz uma visão de alto nível de componentes, de acordo com o tipo de valor que tais competências oferecem à organização. Segundo Caetano, Pombinho e Tribolet (2007), competência organizacional refere-se ao conjunto de experiências profissionais, valências4 e heurísticas5 dos recursos humanos, tanto na perspectiva do indivíduo quanto na perspectiva do grupo e da organização. Esse conceito está relacionado com os atributos internos de uma organização que lhe permitem atingir seus objetivos, sendo que o número de atributos é grande (teoricamente ilimitado). Diante dessas considerações, as competências podem ser explicadas como subsistemas técnicos ou de negócio nos quais estão integrados diversas tecnologias, processos, recursos e know- -how para a entrega de produtos e serviços, os quais conferem uma vantagem competitiva única e sustentável, agregando valor à organização. Para que uma competência se torne essencial, deve ser avaliada frente aos seguintes critérios: • ser essencial para a sobrevivência da organização em curto e longo prazos; • ser invisível para os competidores; • ser difícil de ser imitada; • ser única para a organização; • ter um conjunto de habilidades, recursos e processos; • ser essencial para o desenvolvimento de produtos também essenciais, entre outros. O uso desse conceito se refere a um contexto específico, no qual o conjunto de competências requeridas depende dinamicamente da situação (TAATILA, 2004). 4 “Ajuda que se presta a alguém; préstimo, valor, serventia” (HOUAISS, 2009). 5 “Arte de inventar, de fazer descobertas; ciência que tem por objeto a descoberta dos fatos” (HOUAISS, 2009). Análise do ambiente interno 125 6.5.2 Competência organizacional na perspectiva estratégica A gestão de competências tem se tornado cada vez mais objeto de interesse devido à sua reconhecida importância na perspectiva estratégica. Ela tem como objetivo aproveitar a vantagem competitiva das organizações baseada no conhecimento, observando os funcionários como ativos estratégicos e explicitamente integrando-os na estratégia de negócio e nos processos da organização. Esse modelo de gestão atua como uma ferramenta de desenvolvimento dos saberes críticos dos funcionários para o sucesso de uma organização. Diz respeito a saber ser, conviver e agir na empresa, ações que resultam em atitudes desejadas e contribuem para a formação de lideranças e para o fortalecimento da imagem organizacional. Trata-se de um novo modo de encarar o funcionamento das organizações que leva os administradores a buscar e articular as teorias e os conceitos que fundamentam a noção de competência tomada ao nível organizacional. Para isso, o referencial informado se apoia extensivamente nos estudos e nas reflexões teóricas proporcionadas, no âmbito dos estudos estratégicos, pela perspectiva da visão baseada em recursos (VBR) e em seus desdobramentos. Considerada por muitos analistas como portadora de uma concepção da empresa que rompe com as abordagens econômicas e estratégicas convencionais, a perspectiva da VBR se distingue dessas abordagens, pelo fato de conferir à dimensão interna, aos recursos e às capacidades um papel determinante no comportamento da empresa. Centrada no conceito de competência, essa abordagem vem se desenvolvendo com o firme propósito de se constituir como referência teórica de base para o pensamento e a prática da estratégia. Vale observar que a referência original remete ao conceito de competências essenciais, introduzido por Prahalad e Hamel (1998) no início dos anos 1990. Essa abordagem emergente e em curso dentro do pensamento estratégico contemporâneo é considerada a etapa avançada de um desenvolvimento conceitual progressivo que, expandindo as ideias centrais da sua matriz de pensamento original (a VBR) e das capacidades organizacionais, legitima-se no reconhecimento de que, na nova configuração das economias de mercado, as forças competitivas das empresas repousam sobre capacidades organizacionais aprendidas (CHANDLER, 2002). As noções em torno desse conceito referem-se às fontes primárias da vantagem competitiva. Prahalad e Hamel evocam a imagem de uma “árvore de competência” utilizada para desenvolver essa ideia. De acordo com eles: A corporação diversificada é uma grande árvore. O tronco e os principais galhos são produtos centrais, os ramos menores são unidades de negócios: as folhas, as flores e as frutas são produtos finais. O sistema de raízes que provê nutrientes, sustento e estabilidade é a competência essencial. (PRAHALAD; HAMEL, 1998, p. 236) Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações126 Dessa forma, pode-se dizer que a vantagem competitiva deriva de capacidades profun- damente enraizadas que estão por trás dos produtos de uma empresa. Além disso, as competências são os resultados do processo de aprendizado coletivo da organização e, como tais, são “a cola que une os negócios existentes” (PRALAHAD; HAMEL, 1998, p. 236). Na esteira desse raciocínio, Rodríguez (2002) afirma: a definição das competências necessárias a uma empresa precisa ser feita a partir do seu plano estratégico e dos fatores críticos de sucesso para que os objetivos estratégicos sejam atingidos. Por isso, é importante que a identificação das competências seja feita inicialmente no nível estratégico da organização, para, depois, serem desdobradas em competências específicas a cada nível organizacional. O processo é, portanto, top-down6. Essas competências identificadas estarão consequentemente atreladas ao sistema de avaliação de resultados e de desempenhoda empresa. Ou seja, o sistema balanceado de métricas – Balanced Scorecard (BSC) –, uma ferramenta de acompanhamento e medição de resultados que pode ser a base para a identificação das competências necessárias à organização. As competências organizacionais são processos, funções, tecnologias e pessoas que tornam possível a uma empresa entregar produtos e serviços de alta qualidade com velocidade, eficiência e um serviço de elevado nível ao cliente. Como exemplos podem-se listar: • 3M: conhecimentos tecnológicos de abrasivos e adesivos; gestão da inovação. • Hewlett-Packard: velocidade de lançamento de novos produtos. • Petrobras: tecnologia de produção em águas profundas. • Eastman-Kodak: tecnologia de processamento de imagens fotográficas. • Walmart: gestão de logística. • Microsoft: desenvolvimento de software. Ainda com base nas concepções de Rodríguez (2002), as competências organizacionais estão relacionadas com a imagem da empresa perante o mercado. Ao realizar uma gestão adequada de processos, tecnologias e talentos, a empresa estará desenvolvendo competências que fortalecerão sua imagem junto ao mercado. Sendo assim, conforme Rodríguez (2002), “não basta que a empresa possua funcionários talentosos, é preciso que as estratégias da empresa sejam viabilizadas a partir do uso adequado desses talentos, com a utilização dos seus recursos tecnológicos dentro de um modelo de gestão alinhado aos objetivos estratégicos da empresa”. Essa perspectiva é considerada uma importante alternativa para o desenvolvimento da competitividade, seguindo a ideia de que os recursos internos da organização são seus principais fatores de competição, sendo este um importante elemento para a escolha das estratégias. 6 Top-down refere-se ao processo sistemático que, a partir da decomposição de um todo, procura entender seus subsistemas e/ou componentes. Análise do ambiente interno 127 Assim, na dimensão estratégica, o conceito de competência organizacional contribui como referência e prioridade na gestão e no desenvolvimento das competências que devem sustentar a competitividade da organização. De um lado, a apropriação do conceito de competências no ambiente empresarial volta-se para o indivíduo, referindo-se a conhecimentos, habilidades e atitudes; de outro, relaciona-se com a organização em si, ou seja, suas características, performance e resultado. O olhar para o movimento interno da organização passa primeiramente pelo entendimento sobre a VBR, teoria que deu base à abordagem sobre competências organizacionais na medida em que trouxe uma nova perspectiva estratégica para a organização. Prahalad e Hamel (1990) foram os precursores dessa abordagem ao apontarem uma grande contribuição por meio do conceito das core competences ou competências essenciais. Segundo os autores, “a corporação, como uma árvore, cresce a partir de suas raízes” (PRALAHAD; HAMEL, 1990, p. 82). No exemplo, as raízes são as competências que se formam a partir da capacidade de a empresa coordenar de maneira sinérgica e integrada um conjunto de recursos comuns. Cada organização tem uma maneira de construir suas competências, e é isso o que as torna singulares perante outras, pois, dentro da complexidade das interações, são processadas diferentes informações e vivências ao longo do tempo. Além disso, apenas uma parte desse fluxo é percebida pelo cliente – notadamente, o que é revertido em valor para ele. 6.6 Cadeia de valor A cadeia de valor designa uma série de atividades relacionadas e desenvolvidas pela empresa a fim de satisfazer as necessidades dos clientes, desde as relações com os fornecedores e ciclos de produção e venda até a fase da distribuição para o consumidor final. Cada elo dessa cadeia de atividades está interligado. A cadeia de valor interna, de acordo com Porter (1998, p. 31), “desagrega uma empresa nas suas atividades de relevância estratégica para que se possa compreender o comportamento dos custos e as fontes existentes e potenciais de diferenciação”. Para obter vantagem competitiva utilizando a cadeia de valor como instrumento estratégico, a empresa deve compreender toda a cadeia de valor na qual opera, bem com a de seus principais concorrentes, buscando utilizar seus determinantes de custos de modo que os concorrentes tenham desvantagens de qualidade e custo frente à sua liderança. De acordo com Rocha (1999, p. 106-111), a cadeia de valor de qualquer empresa diz respeito ao conjunto de atividades criadoras de valor, desde as fontes de matérias-primas básicas, passando por fornecedores de componentes, até o produto final entregue nas mãos do consumidor. Trata-se, portanto, de um enfoque externo à empresa. A Figura 2, a seguir, traz uma representação da cadeia de valor, ilustrando a cadeia global de atividades geradoras de valor: Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações128 Figura 2 – Representação da cadeia de valor de uma empresa de desenvolvimento de software Cadeia de Valor – Empresa de Desenvolvimento de Software Pr oc es so s de G es tã o Pr oc es so s de S up or te Pr oc es so s Pr im ár io s Gerir Estratégia Gestão de Portfólio de Projetos Gestão Financeira Governança Corporativa Venda de Desenvolvimento de Software Gerir Projetos Gerir infraestrutura física e tecnológica Gerir suprimentos Gerir pessoas (tático e operacional) Gerir apoio jurídico Desenvolvimento de Software Gestão de Qualidade do Produto Implantação de Software no Cliente Suporte Manutenção ao Software Fonte: Silva, 2017. É importante enfatizar que, em termos competitivos, conforme Porter (1998, p. 34), “valor é o montante que os compradores estão dispostos a pagar por aquilo que uma empresa lhes fornece”. Portanto, para que uma organização consiga atingir um estado de competitividade contínuo, ela precisa agregar valor ao cliente, o qual deve ser reconhecido pelo comprador. Caso contrário, os custos se sobressairão. Há situações em que uma organização, para manter competitividade por diferenciação, precisa aumentar seus custos e criar um valor maior. Uma comparação das cadeias de valor dos concorrentes apresenta diferenças, permitindo que a organização se decida em relação a seu posicionamento estratégico utilizando-se de diferenciação ou de baixo custo, dependendo do que for concluído da análise dos concorrentes. É a importância de ser feita uma análise com enfoque amplo que permite identificar na cadeia de valor do cliente o que pode ser reestruturado para aumentar o valor oferecido. 6.6.1 Elementos da cadeia de valor Na cadeia de valor de Porter, cada etapa do processo de desenvolvimento do produto ou serviço é essencial para a sua valorização total, desde o modo como a relação com os fornecedores da matéria-prima é mantida até a forma com que o produto final é entregue aos consumidores. Com a cadeia de valor, a empresa consegue identificar quais são as etapas de produção responsáveis por agregar valor ao produto e, com isso, desenvolver uma estratégia que ajude a potencializar os setores envolvidos. Assim, os processos que não agregam valor podem ser revistos, seja como alvo de reestruturação ou de corte (evitando desperdício de dinheiro e tempo de produção). Análise do ambiente interno 129 De acordo com o esquema proposto por Porter e Millar (1985), a cadeia de valor pode ser dividida em dois principais grupos de atividades: • Atividades primárias: é possível identificar cinco atividades genéricas primárias em qualquer indústria: logística interna; operações; logística externa; marketing e vendas; prestação de serviços (Figura 3). • Atividades de apoio: assim como as atividades primárias, as atividades de apoio podem ser divididas em uma série de atividades de valor distintas, específicas a uma determinada indústria, porém são classificadas de modo genérico em quatro categorias: infraestrutural empresarial; gerenciamento de recursos humanos; desenvolvimentode tecnologias; aquisição de insumos (Figura 3). Figura 3 – Cadeia de valor de Porter Infraestrutura empresarial Gerenciamentos de recursos humanos Desenvolvimento de tecnologias Aquisição de insumos Atividades-meio Atividades-fim Logística interna Operações Logística externa Marketing e vendas Prestação de serviços Fonte: Adaptado de Porter; Millar, 1985. Nesse contexto, pode-se entender que a cadeia de valor corresponde ao resultado da transformação dos insumos dos fornecedores em produtos e serviços de valor para os compradores. Assim, a cadeia de valor designa uma série de atividades relacionadas e desenvolvidas pela empresa a fim de satisfazer as necessidades dos clientes, desde as relações com os fornecedores e ciclos de produção e venda até a fase da distribuição para o consumidor final. Cada elo dessa cadeia de atividades está interligado. Sob esse prisma, a cadeia de valores é utilizada para um enfoque mais eficiente e amplo, exógeno à empresa. O objetivo desse modelo é identificar os principais fluxos de processos dentro de uma organização. O modelo é essencialmente um fluxograma de processos específicos de alto nível, interligados para mostrar fluxos de processo, os quais podem ainda ser divididos em subprocessos e suas atividades de apoio. As atividades primárias relacionam-se diretamente com a criação física, a venda, a manutenção e o suporte de um produto ou serviço. As atividades primárias são as seguintes: • Logística de entrada: refere-se a todos os processos relacionados com a recepção, o controle de inventário e a marcação de transporte. Nesse ponto, as relações que a organização tem com os fornecedores são um fator decisivo para a criação de valor. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações130 • Operações: inclui maquinaria, embalagens, montagem, manutenção de equipamento, testes e outras atividades de criação de valor que transformam inputs no produto final para ser vendido aos clientes. • Logística de saída: diz respeito às atividades associadas à entrega do produto ou serviço ao cliente, incluindo sistemas de recolha, armazenamento e distribuição. Essas atividades podem ser internas ou externas à organização. • Marketing e vendas: relaciona-se aos processos que a empresa utiliza para convencer os clientes a comprar seus produtos ou serviços. As fontes de criação de valor dessa atividade se referem aos benefícios que a empresa oferece e ao modo como os transmite. • Serviço: trata-se das atividades da organização que aumentam o valor dos produtos ou serviços após a compra. Aqui, incluem-se o apoio ao cliente, serviços de reparação e/ou instalação, formação, atualizações etc. Do exposto, conclui-se que a cadeia de valor é uma ferramenta de gestão que apresenta em uma única imagem como uma organização que por meio de seus processos entrega valor a seus clientes. Ela pode ser utilizada para entender como os processos se relacionam entre si, uma vez que mostra a lógica de interdependência e temporalidade. É importante destacar que a cadeia de valor é “viva” e está sujeita a alterações e atualizações periódicas. Ao decompor uma organização nas suas atividades de relevância estratégica, torna-se possível analisar o comportamento dos custos e as fontes existentes, assim como potenciais de diferenciação em cada processo de negócio, otimizando o valor final que o produto representa para o cliente. A liderança de custo e a diferenciação pela qualidade acrescem valor ao produto e proporcionam vantagem competitiva à organização no contexto da indústria em que se insere. A cadeia de valor de uma organização se insere em um contexto mais amplo de atividades e constitui um sistema de valores em que estão integradas também as cadeias de valor de fornecedores e de distribuidores. Uma das técnicas mais utilizadas na atualidade para a realização de um planejamento estratégico é a análise do ambiente interno da organização. Por meio de uma criteriosa análise desse ambiente, muitas características ocultas podem ser identificadas. Essa análise é de fundamental importância para a definição futura da análise SWOT. Cabe, então, retomar a reflexão exposta no início deste capítulo: Por que é importante analisar a situação interna da organização? Porque é exatamente por meio do conhecimento das forças e das fraquezas da empresa que serão construídas as melhores estratégias corporativas e competitivas. A análise do ambiente interno propicia conhecer as habilidades e as competências da organização, além de permitir a adequação do modelo organizacional ao que se pretende desenvolver em face das oportunidades e das ameaças ambientais e dos relacionamentos. Ela também auxilia na tomada de decisão, servindo como meio para avaliar a realidade organizacional, e é realizada com o propósito de manter e ampliar as competências de uma corporação. https://pt.m.wikipedia.org/w/index.php?title=Sistema_de_valores&action=edit&redlink=1 https://www.gp4us.com.br/swot-pessoal https://www.gp4us.com.br/o-que-e-compliance-e-como-implementar Análise do ambiente interno 131 Considerações finais A análise do ambiente interno ou autoanálise requer muita isenção de ânimo e imparcia- lidade no julgamento, pois qualquer tentativa de encobrir fraquezas ou desempenhos insatisfatórios poderá comprometer toda a estratégia futura. A avaliação pode ser conduzida por pessoas da própria organização envolvidas com o planejamento estratégico ou ser feita por meio de consultores externos. O importante é incorporar o exercício de autoanálise à rotina operacional, para que ele funcione efetivamente como uma ferramenta de administração estratégica. Essa análise interna da empresa serve para determinar a estratégia mais compatível com os recursos de que ela dispõe, na intenção de quantificar os hiatos existentes, bem como de compor uma base para o plano de obtenção de recursos conforme escalas de prioridade e, ainda, para constantes revisões da estratégia escolhida. Ainda que seja possível encontrar diversos critérios para se classificar e avaliar o conjunto dos componentes internos de uma empresa, há um núcleo comum que não varia. O que efetivamente pode ser diferente se refere ao nível de sistematização, ao rigor, aos detalhes e à sofisticação que uma proposta pode ter em relação a outra. Essa é a forma mais comum e utilizada para as análises de potencialidades e fraquezas de uma organização, feita a partir das suas áreas funcionais (marketing, finanças, recursos humanos e produção) ou dos principais recursos que permitem a atuação da empresa, compostos de funções adicionais como time gerencial, pesquisa e desenvolvimento e sistemas de informações gerenciais. Nessas condições, partindo-se da hipótese de que o time gerencial realmente esteja empenhado em pensar estrategicamente, é aconselhável que, para cada item descrito em cada um dos grupos de variáveis abordados nas análises interna e externa, os membros da organização que participam do processo decisório façam o julgamento no sentido de dizer o quanto cada item é favorável ou desfavorável à empresa. Ampliando seus conhecimentos Para que você possa melhorar seu entendimento sobre o tema deste capítulo, recomendam- -se as indicações culturais a seguir: • ESTRATÉGIA e planejamento de empresas: Aula 03 – análise do ambiente interno (AI). 2017. 1 vídeo (19 min). Publicado pelo canal UNIVESP. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?time_continue=10&v=MdaOUmPVSGA. Acesso em: 26 abr. 2019. Este vídeo reforça a análise interna da organização, pelos pontos fortes e pontos fracos, como forma de preparar as estratégias genéricas organizacionais. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações132 • GP4US – Project Management Digital Magazine. Análise do ambiente interno: identificação dos pontos fortes, fracos e a melhorar. 4 jul. 2015. Disponível em: https:// gp4us.wordpress.com/2015/07/04/analise-ambiente-interno-identificacao-dos-pontos- fortes-fracos-e-a-melhorar/.Acesso em: 26 abr. 2019. Este texto faz uma reflexão sobre por que é tão importante analisar a situação interna da organização, explicitando que é por meio do conhecimento das forças e das fraquezas que serão construídas as melhores estratégias corporativas e competitivas. Atividades 1. Qual é o objetivo básico da análise do ambiente interno? 2. Quais são os aspectos mais importantes do ambiente interno de uma organização e que devem ser analisados no diagnóstico estratégico? 3. O que você entende por pontos fortes e pontos fracos do ambiente interno de uma organização? 4. O que são competências organizacionais? Referências CAETANO, A.; POMBINHO, J.; TRIBOLET, J. Representing organizational competencies. Proceedings of the 2007 ACM Symposium on Applied Computing, p. 1257-1262. CARMO, A. P. Planejamento estratégico participativo: análise de sua implantação em uma instituição de ensino privado frente a um ambiente de mudanças contínuas. 147 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1999. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/ bitstream/handle/123456789/81136/143029.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 18 abr. 2019. CERTO, S.; PETER, J. P. Administração estratégica: planejamento e implementação da estratégia. São Paulo: Makron Books, 1993. CHANDLER, A. D. O século eletrônico. Rio de Janeiro: Campus, 2002. CUNHA, M. A. L. Gestão integrada de processos de negócio. In: SIMPÓSIO DE ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO, LOGÍSTICA E OPERAÇÕES INDUSTRIAIS. Anais [...]. São Paulo: FGV, 1998. DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Working knowledge: how organizations manage what they know. Ubiquity, Boston, v. I, 1998. HOUAISS, A. (Org.). Houaiss eletrônico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. 1 CD-ROM. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. OLIVEIRA, D. de P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. São Paulo: Atlas, 1993. OLIVEIRA, T. Balanced Scorecard como ferramenta para o planejamento estratégico de comunicação organizacional. 2008. Disponível em: https://administradores.com.br/artigos/balanced-scorecard-como- ferramenta-para-o-planejamento-estrategico-de-comunicacao-organizacional. Acesso em: 18 abr. 2019. Análise do ambiente interno 133 PORTER, M. E.; MILLAR, V. E. How information gives you competitive advantage. Harvard Business Review, v. 63, n. 4, p. 149-160, jul./ago. 1985. Disponível em: https://hbr.org/1985/07/how-information- gives-you-competitive-advantage. Acesso em: 18 abr. 2019. PORTER, M. E. Vantagens competitivas: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1998. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. The core competence of the corporation. Harvard Business Review, v. 68, n. 31, p. 79-91, 1990. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. A competência essencial da corporação. In: MONTGOMERY, C. A.; PORTER, M. E. Estratégia: a busca da vantagem competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 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BPM – Business Process Management: introdução sobre BPM em uma visão integrada e didática para a gestão estratégica de processos de negócio. São Paulo: Bookess, 2017. (v. 1). TAATILA, V. The concept of organizational competence: a foundational analysis. Jyväskylä: Jyväskylä Studies in Computing 36, 2004. VOM BROCKE, J.; ROSEMANN, M. (ed.). Handbook on business process management. Nova Iorque: Springer, 2010. 7 Ferramentas do diagnóstico estratégico Para a maioria das empresas brasileiras, nos últimos anos o mercado tem apresentado mudanças drásticas na maneira de fazer negócios. Os gestores, assim, estão cada vez mais imersos nas decisões do cotidiano e enfrentam dificuldades em formalizar planos estratégicos, dando prioridade aos problemas de maior urgência. Uma alternativa para esse cenário é o planejamento estratégico, construído a partir de um diagnóstico estratégico. Sob essa ótica, neste capítulo serão demonstradas as principais ferramentas do diagnóstico estratégico, que une o diagnóstico do ambiente externo ao da organização, para a formulação das estratégias que definirão o planejamento da empresa. 7.1 O que significa diagnóstico estratégico O planejamento estratégico pode ser definido como um processo para se alcançar uma situação desejada com maior efetividade pela empresa. Logo, é de extrema relevância realizar um diagnóstico estratégico na organização. Isso ocorre porque ele corresponde à primeira fase do processo de planejamento estratégico, por meio da qual se busca verificar qual é a realidade da empresa em relação a seus aspectos internos e externos. É possível, então, observar as variáveis relevantes do ambiente no qual a empresa está inserida, de forma a traçar aonde ela pretende chegar. Realizado com base em dados e informações referentes aos ambientes externo e interno de uma empresa, o diagnóstico estratégico objetiva fazer uma análise completa da organização e do que pode influenciá-la. É extremamente importante para a tomada de decisões, pois por meio dele o gestor é capaz de entender o cenário em que a empresa se encontra e definir suas metas e estratégias de maneira acertada. Compreender o negócio e suas variáveis (stakeholders) é uma forma de realizar o diagnóstico estratégico. Trata-se de um processo sistemático que analisa criticamente a situação da empresa, visando avaliar o seu grau de adequação estratégica. O diagnóstico estratégico proporciona ao gestor informações básicas e pertinentes para a verificação das vantagens do planejamento estratégico, por meio do tratamento adequado dos pontos fortes, fracos e neutros da organização, assim como das oportunidades e ameaças do ambiente externo. Nesse sentido, o diagnóstico estratégico fornece um embasamento teórico com informações relevantes para a tomada de decisão. É importante levar em consideração o desempenho da organização nos últimos períodos, bem como as experiências, a situação e, claro, o objetivo futuro. Vídeo https://asasdh.com.br/blog/gestao-de-equipes-o-que-os-bons-gerentes-tem-em-comum/?utm_source=blog&utm_campaign=rc_blogpost Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações136 A necessidade de planejar reside na percepção do mercado em que a organização está inserida (sendo este um ambiente competitivo), no qual ela deve buscar meios que proporcionem a consecução assertiva dos objetivos e que facilitem a compreensão da realidade atual e da consequência futura de ações presentes. Esse processo, unido a uma estratégia competitiva, torna- -se o meio adequado para a empresa atingir seu objetivo final e se manter em um ambiente de competição estratégica. O diagnóstico estratégico é, portanto, o primeiro passo do processo de planejamento. Por meio dele, a organização se municia de informações que nortearão seu direcionamento estratégico. Trata-se de um processo formal e estruturado para avaliar uma organização, sendo fundamental antes de iniciar uma intervenção estratégica, uma vez que verifica elementos como: competitividade, portfólio1, flexibilidade, vulnerabilidade, capacitação, disponibilidade de recursos estratégicos e sistema de vigilância estratégica;tudo isso para projetar e construir o futuro da empresa. O diagnóstico estratégico pode ser comparado a um radar digital ligado 24 horas por dia, sempre pronto a captar e manter atualizado o conhecimento da empresa em relação ao ambiente e a si própria, visando identificar e monitorar permanentemente as variáveis competitivas que afetam a sua performance. Com base nesse diagnóstico, a empresa pode se antecipar às mudanças e se preparar para agir em seus ambientes internos e externos. O diagnóstico estratégico pode ser realizado por meio de uma lista formal de perguntas cujas respostas venham a dar suporte ao autodiagnóstico da situação estratégica da empresa. Tem por objetivo oferecer ao administrador informações básicas e pertinentes para a verificação das vantagens do planejamento, por meio do tratamento adequado dos pontos fortes, fracos e neutros da organização, assim como das oportunidades e ameaças que o ambiente oferece. Ao se deparar com rumores de uma nova crise mundial, por exemplo, a empresa precisa ter um sistema de vigilância capaz de analisar se esse “tema estratégico” vai afetá-la. A organização terá condições financeiras para enfrentar essas circunstâncias, caso ocorram? Que medidas deverão ser adotadas? Como se pode notar, essa etapa do processo mostra quais situações precisam de maior atenção no que se refere a melhorias da organização, levando em conta os aspectos internos e externos. 7.2 Ferramentas do diagnóstico estratégico Até este momento, nos capítulos anteriores, procuramos fazê-lo entender o negócio, analisar o ambiente e compreender a necessidade de uma avaliação da organização em função de vários fatores que a levarão a se posicionar no mercado em que está inserida. Agora, vamos concluir essa etapa de avaliação com o conhecimento das ferramentas que, junto das análises dos ambientes externo, interno e de tarefa, fazem o fechamento do diagnóstico estratégico. Por meio 1 Lista de trabalho de um profissional ou de uma empresa. Pode também ser considerado um material acumulado pelo desenvolvimento de um conjunto de ações de sucesso, voltado ao melhor resultado de uma pesquisa ou de um trabalho. Vídeo Ferramentas do diagnóstico estratégico 137 desse conhecimento, será possível formular as estratégias de definição de um posicionamento da empresa. 7.2.1 Matriz Produto/Mercado A Matriz Produto/Mercado, também conhecida como Matriz de Ansoff, é um modelo utilizado para determinar oportunidades de crescimento nas unidades de negócio de uma organização. Representa como o autor, Igor Ansoff, acreditava ser possível aprimorar o negócio de determinada organização por meio de quatro estratégias distintas: penetração de mercado, desenvolvimento de mercado, desenvolvimento de produto e diversificação pura (MINTZBERG; QUINN, 2001). Assim, essa matriz é utilizada para identificar e determinar oportunidades de crescimento de unidades de negócio de uma organização. Sua lógica está representada na Figura 1. Figura 1 – Lógica do modelo de Igor Ansoff Novas estratégias Reestruturação interna Mudanças ambientais Fonte: Elaborada pelo autor. A Matriz Produto/Mercado segmenta a análise em produtos existentes e novos produtos, bem como em mercados atuais e futuros. Com base nisso, segundo o posicionamento da empresa em relação aos seus produtos, podem-se identificar diferentes estratégias, conforme exposto no Quadro 1. Quadro 1 – Matriz Produto/Mercado Produtos existentes Novos produtos Mercados atuais Penetração de mercado Novos produtos Novos mercados Desenvolvimento de mercado Diversificação Fonte: Adaptado de Fernandes; Berton, 2005, p. 128. A Matriz de Ansoff é um quadrante composto de duas dimensões: produtos e mercados. Do lado direito, encontram-se produtos novos; do esquerdo, existentes. Essa combinação forma quatro estratégias para o crescimento e o desenvolvimento da empresa, a saber: • Penetração de mercado: consiste em buscar maiores vendas para os clientes atuais sem alterar os seus produtos, por meio de ações como redução de preço, aumento da propaganda e busca de maior exposição. Pretende-se, então, desenvolver uma estratégia para aumentar a presença da empresa em seu mercado de atuação. Seu foco está na mudança de clientes ocasionais para clientes regulares, bem como destes para usuários intensivos do produto. Essa estratégia pode ser desenvolvida por meio de liquidações, fidelizações de clientes, promoções, entre outras ações. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações138 • Desenvolvimento de mercado: visa identificar e desenvolver novos mercados para os produtos já existentes, como mercados demográficos, geográficos ou institucionais. A empresa tenta conquistar clientes da concorrência, introduzir produtos existentes em mercados externos ou introduzir novas marcas no mercado. Imagine uma loja de camisas on-line, por exemplo, que vende apenas em um estado; ela pode expandir suas vendas para outras unidades federativas, incluindo serviços de entrega; se o público-alvo dessa loja envolver homens de determinada faixa etária, a empresa poderá aumentar seu desenvolvimento de mercado ao incluir outras idades. • Desenvolvimento de produto: essa estratégia sugere o desenvolvimento de novos produtos em mercados existentes. Por meio dela, procura-se oferecer produtos novos ou modificados aos mercados já existentes. A empresa busca vender outros produtos a clientes regulares, frequentemente intensificando os canais de comunicação. Isso pode ser realizado por meio de aperfeiçoamento do produto e de melhorias tecnológicas. Um exemplo pode se referir à ação de empresas que incluem versões diet e light em seu mix de sucos e refrigerantes. • Diversificação pura: busca iniciar ou adquirir negócios estranhos aos produtos ou mercados atuais de uma organização. Essa estratégia objetiva a inovação, a qual inevitavelmente proporciona riscos, pois a empresa está entrando em um campo desconhecido. A corporação normalmente foca a comunicação na explicação do motivo pelo qual está entrando em novos mercados com novos produtos, visando ganhar credibilidade. Esta é a mais arriscada das estratégias. Em desenvolvimentos posteriores dessa matriz, alguns autores optaram por inserir uma posição intermediária de produtos e mercados relacionados. A Figura 2 demonstra essa opção. Figura 2 – Matriz Produto/Mercado ou Matriz de Ansoff Desenvolvimento de novos produtos Diversificação Aumento da linha de produto Penetração de mercado Expansão de mercado Desenvolvimento de mercado Novos Produtos relacionados Atuais Atuais Mercados relacionados Novos Fonte: Adaptada de Fernandes; Berton, 2005, p. 129. Observe que o conceito pode ser ampliado para os negócios. Assim, uma organização pode posicionar um negócio em um novo mercado ou em um mercado no qual já atua. Desse modo, a Matriz Produto/Mercado pode ser trabalhada em um nível mais abrangente. Ferramentas do diagnóstico estratégico 139 Apesar do sucesso e da disseminação do modelo de Ansoff, algumas críticas a ele foram levantadas: • O modelo não considera importantes variáveis que influem na estratégia, como o poder e a cultura na organização. • A solução (estratégia) resolve apenas uma parte do problema, ou seja, aquela que relaciona a organização ao ambiente, encerrando o processo (ciclo único) e se centrando no mix de produto e mercado. A proposta da matriz é prática. O modelo apresenta estratégias diferentes diante das possibilidades da empresa em relação aos elementos produto e mercado. As estratégias contidas na Matriz Produto/Mercado podem auxiliar no momento final do plano de ação do planejamento estratégico. Diante das análises exigidas no processo estratégico, o gestor será capaz de decidir qual será a melhor opção para o seu negócio. Agora que você já conhece quais são as particularidades de cada estratégia de crescimento de mercado e/ou produto da Matriz de Ansoff, torna-se possível aplicá-las emsuas startups. Para isso, a partir de agora, vamos definir em qual mercado sua startup se posiciona e como ela desejará atuar para aproveitar toda a potencialidade das estratégias já apresentadas. 7.2.2 Matriz BCG A Matriz BCG foi criada nos anos 1970 por Bruce Henderson para a empresa americana Boston Consulting Group. Seu principal objetivo é auxiliar o processo de tomada de decisão dos gestores de marketing e vendas. Esse modelo, como o próprio nome diz, é uma matriz “2 por 2” para análises de portfólio de produtos e unidades de negócios, baseada no conceito de ciclo de vida dos produtos. Para que a empresa possa garantir a agregação de valor a longo prazo, deve ter um portfólio de produtos que apresente tanto mercadorias com altas taxas de crescimento no mercado (que necessitam de investimentos) como com baixo crescimento (que geram receita). Essa ferramenta administrativa é uma importante aliada no processo de tomada de decisão. Ajuda na identificação de produtos do mix que precisam receber mais investimentos. Por outro lado, também aponta quais seguem em movimento contrário, demandam menores esforços e, talvez, até a descontinuidade. Trata-se, portanto, do resultado de uma avaliação da atratividade e da competitividade de cada área estratégica do portfólio. O resultado dessa análise é representado em um esquema gráfico constituído de quatro quadrantes, chamados de nascedouro, estrelas, vacas leiteiras e abacaxis. Assim, a ferramenta permite identificar, por meio da análise gráfica, quais produtos tiveram bom desempenho e devem ser mantidos e quais estão requerendo muito esforço, além de não gerarem os resultados esperados. A ideia central dessa ferramenta de análise de crescimento é relacionar os vários negócios da empresa conforme sua participação relativa no mercado e o crescimento deste, de modo a identificar os negócios ou a linha de negócios que serve como https://certificacaoiso.com.br/como-usar-a-planilha-5w2h/ https://certificacaoiso.com.br/como-usar-a-planilha-5w2h/ https://klickpages.com.br/blog/infoproduto-o-que-e/ Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações140 geradora de caixa, bem como a linha de negócios que deverá ser desativada por estar consumindo recursos da empresa. A Matriz BCG tem duas dimensões: a primeira é relativa ao crescimento do mercado; a segunda, à participação relativa de mercado. Refere-se à participação de mercado da empresa em relação à de seu maior concorrente. Assim, quanto maior for a participação de mercado de um produto ou quanto mais rápido o mercado de um produto crescer, melhor será para a organização. Cada eixo desse plano tem dois setores, o que resulta em quatro quadrantes ao todo, conforme representação gráfica da Figura 3. Figura 3 – Matriz BCG Participação relativa no mercado Te m po Estrelas Vacas leiteiras/Alimentadores de caixa Pontos de interrogação/oportunidades Abacaxis/pets Fonte: Adaptada de Chiavenato; Cerqueira Neto, 2003, p. 143. O eixo vertical indica, em termos anuais (atual ou previsto), a taxa de crescimento com a qual o negócio opera. Por sua vez, o eixo horizontal se refere à participação relativa no mercado, calculada dividindo-se a participação da empresa no mercado pela de seu maior concorrente. Logo, o portfólio de produtos estará dividido em quatro quadrantes. As quatro células apresentadas na Matriz BCG significam as possíveis combinações de participação e crescimento no mercado. Ou seja, representam os tipos que compõem a carteira de negócios da empresa. O quadrante inferior esquerdo compreende os produtos chamados de vacas leiteiras ou alimentadores de caixa2. O quadrante inferior direito engloba os produtos chamados de abacaxis ou pets (expressão generalizada para animais de estimação). Produtos no quadrante superior direito são chamados de oportunidades ou interrogações. Já os que estão posicionados no quadrante superior esquerdo são denominados estrelas. 2 Também conhecidos como geradores de caixa. Ferramentas do diagnóstico estratégico 141 Para ajudá-lo a classificar cada produto, apresenta-se a seguir uma explicação do que cada quadrante representa. • Oportunidades ou interrogações: referem-se aos negócios ou produtos da empresa que operam em um mercado de altas taxas de crescimento, mas com baixa participação relativa. Os produtos desse quadrante são aqueles que ainda não geram muitos lucros, mesmo com um certo grau de investimento em marketing e vendas. As oportunidades geralmente envolvem produtos em fase de lançamento, os quais ainda não fornecem uma base sólida para dados não muito conhecidos pelo público. Como exemplos, citam-se os notebooks. Com a busca cada vez maior por mobilidade, trata-se de um produto que exigirá muito investimento para ficar cada vez mais leve e portátil. • Estrelas: como o próprio nome sugere, as estrelas dizem respeito aos principais produtos do portfólio de uma organização, os quais geram uma receita alta. Referem-se a linhas de negócios ou produtos que saem da condição de pontos de oportunidades e se tornam bem-sucedidas. Porém, é necessário um alto investimento para que as estrelas alcancem a performance desejada nas vendas. Como exemplo, indicam-se o sistema operacional Windows, da Microsoft, e os smartphones, os quais se tornaram indispensáveis na vida moderna. Há inúmeros concorrentes no mercado, mas as constantes melhorias exigem aparelhos cada vez mais robustos e atualizações constantes. • Vacas leiteiras ou alimentadores de caixa: são negócios ou produtos que estão inseridos em mercados com pequenas taxas de crescimento, mas que têm uma boa participação. São aqueles produtos que também geram uma alta receita, mas, ao contrário das estrelas, a receita vem de forma orgânica e gratuita, sem alto custo para incentivar as vendas. Geralmente, as vacas leiteiras se relacionam aos produtos que já estão bem estabelecidos no mercado e que por terem uma boa percepção por parte dos consumidores acabam se autopromovendo e gerando lucro naturalmente. Exemplos de vacas leiteiras são os tablets, que estão se tornando instrumentos corporativos e substituindo os notebooks nas residências. • Abacaxis ou pets: referem-se aos negócios ou produtos que possuem participação fraca em mercados com baixo crescimento e estão em fase de declínio, gerando baixos lucros ou, até mesmo, perdas para a empresa. Esses produtos não vendem bem, não têm boa margem de lucro, tampouco perspectivas de crescimento no mercado atual. Exemplos claros desses produtos são os computadores de mesa. Apesar de se manterem relevantes para áreas como design, produção audiovisual e fotografia, bem como para gamers, fora desses nichos passaram a perder espaço para os notebooks, e a tendência é que o mercado desses computadores diminua cada vez mais nos próximos anos. Essas denominações podem ser mais facilmente entendidas ao se analisar os seguintes extremos: certamente, um produto posicionado em um mercado crescente com alta participação só pode ser uma estrela; por sua vez, um produto com participação baixa em um mercado estagnado ou em declínio se trata, na realidade, de um abacaxi. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações142 De fato, ao lançar os produtos ou serviços na matriz, os próximos passos envolvem definir estratégias para trabalhar cada um deles no portfólio, da seguinte forma: • Construir: itens com mercado em ascendência, como as estrelas ou aqueles estabelecidos como interrogações, exigem a construção de presença, refletida no aumento da participação no mercado. • Manter: refere-se à parte do portfólio que já tem boa participação no mercado, em que apenas é necessário preservar esse share. É o caso das vacas leiteiras. • Colher: medida adotada quando a empresa deseja aproveitar o máximo de certos produtos para depois descontinuá-los. O objetivo é gerar caixa no curto prazo com vacas leiteiras no final do ciclo de vida, bem como com interrogações sem potencialde conquistar o mercado ou com abacaxis. • Abandonar: diz respeito aos itens que não têm condição de serem viáveis no mercado. 7.2.2.1 Como montar uma Matriz BCG Para fazer uma Matriz BCG eficiente, é preciso seguir a primeira regra das análises estratégicas: coletar dados precisos e confiáveis. De modo geral, a Matriz BCG se aplica melhor aos negócios que têm algum tempo de mercado, pois é preciso contar com dados sobre o desempenho dos produtos. Além disso, recomenda-se que a empresa apresente um número limitado de produtos ou linhas, já que um grande varejista com milhares de itens teria dificuldades em aplicar esse formato. Agora que você entendeu os conceitos e a estrutura da Matriz BCG, sabe o que significa cada quadrante e como ela funciona, já pode pensar em elaborar a do seu negócio. Para isso, siga este passo a passo: a. Liste seus produtos e serviços O primeiro passo para começar a desenhar a Matriz BCG é listar seus produtos, agrupando-os em linhas, serviços ou tipos de negócios específicos. Isso facilita no momento da classificação dos quadrantes. Qualquer solução pode ser aplicada na estrutura da matriz, desde que haja informações consistentes sobre sua participação no mercado e sua contribuição no lucro do negócio. b. Crie um gráfico cartesiano com uma linha horizontal e uma linha vertical O formato básico da Matriz BCG é um gráfico cartesiano com uma linha horizontal e outra vertical formando os quadrantes de classificação. Em outras palavras, uma linha reta na horizontal cruzando com outra linha reta na vertical, formando ângulos de 90º. Linha vertical = taxa de crescimento do mercado Na linha vertical, você deve inserir o crescimento de mercado, que se refere a uma taxa anual e constante em valor monetário relativa à evolução do PIB. A partir desse indicador, a capacidade de o produto gerar caixa poderá ser analisada. https://clubedotrade.com.br/blog/matriz-bcg-como-fazer/ https://clubedotrade.com.br/blog/matriz-bcg-como-fazer/ Ferramentas do diagnóstico estratégico 143 Linha horizontal = participação relativa do produto em relação a um competidor Para preencher a linha horizontal, você deve calcular a participação relativa de mercado a partir da comparação com o produto do maior concorrente da empresa. Esse indicador é fundamental para obter os requisitos de caixa de cada produto e ponderar investimentos. c. Insira seus produtos e serviços na Tabela BCG Com os valores calculados de cada parâmetro, basta inserir os produtos e serviços, conforme exposto a seguir. Quadro 2 – Modelo de Tabela BCG Participação do mercado Alto Baixo Crescimento do mercado Alto Produto estrela Produto interrogação Baixo Produto vaca leiteira Produto abacaxi Fonte: Elaborado pelo autor. Ao fazer esse processo, você já estará classificando cada produto em seu devido quadrante. d. Observe a classificação dos produtos e serviços Com a inserção dos produtos na Tabela BCG, fica fácil visualizar a posição de cada um nos quadrantes da matriz. A vantagem desse modelo simplificado é que você pode analisar periodicamente o portfólio de produtos, estabelecendo metas para mudar itens de posição. Assim, é possível melhorar a oferta de produtos existentes e focar naqueles que trazem resultados mais promissores para o crescimento da empresa – além de descartar os que não têm futuro. e. Analise os resultados A análise de resultados é o passo final da sua Matriz BCG – e também o mais importante. A movimentação dos produtos pelos quadrantes vai mostrar o caminho a ser seguido, seja para aumentar os investimentos ou mudar totalmente de estratégia. Ao olhar para sua Matriz BCG pronta, você pode tomar as seguintes decisões: • Construir: investir para ampliar a participação de um determinado produto no mercado, muitas vezes por meio de esforços de marketing e vendas. • Manter: conservar a posição atual no mercado, o que é muito útil para os produtos do tipo vaca leiteira. • Colher: aproveitar ao máximo os resultados obtidos com o produto – nesse caso, estrelas ou vacas leiteiras (que produzem receitas altas), as quais, em especial, oferecem segurança para financiar novos projetos. https://www.sbcoaching.com.br/blog/negocios/como-empresa-pode-tornar-grande/ Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações144 • Abandonar: decidir pelo abandono dos abacaxis, que quase sempre são mantidos por questões emocionais. Quanto mais cedo a empresa se livrar dos produtos que não contribuem para a sua saúde financeira, melhor será. Em alguns casos, é preciso até mesmo descontinuar os produtos interrogação, antes que caiam para o quadrante problemático. 7.2.2.2 Vantagens e desvantagens da Matriz BCG Como qualquer ferramenta de análise, a eficácia da Matriz BCG depende da precisão com que a tabela é preenchida e analisada. Partindo de um cenário com dados confiáveis e uma classificação adequada, as principais vantagens da matriz são: • ampla visão da situação estratégica da empresa em relação a produtos; • determinação das necessidades financeiras de cada unidade de negócio; • informações que permitem o equilíbrio do fluxo de caixa; • base para a formulação de diretrizes e políticas de investimento; • manutenção de um portfólio de produtos competitivo. Em termos de desvantagens, a Matriz BCG pode ser perigosa quando não há dados precisos sobre a participação de mercado e contribuição dos produtos nos lucros da empresa. Ela considera apenas a participação no mercado como fator de sucesso ou fracasso do produto. Os problemas de interpretação também podem levar o gestor a um caminho prejudicial. Um exemplo de erro é a desistência precoce de um produto no quadrante de interrogação, especialmente quando se sabe que vários produtos de sucesso foram fracassos iniciais. O mercado é muito dinâmico e, com o tempo, talvez um abacaxi se torne mais lucrativo que uma estrela, por exemplo. Além disso, alguns produtos classificados como estrelas podem chegar a dar prejuízo, caso seja necessário muito esforço para manter seus níveis de venda. Para acertar na construção e análise da Matriz BCG, é preciso acompanhar constantemente as mudanças de quadrante e aprender com os erros. Sem dúvida, nenhuma empresa é feita somente de vacas leiteiras e estrelas: é preciso levar em conta o equilíbrio entre os quadrantes. Por isso, esse método é mais bem aproveitado quando utilizado por empresas com certo tempo de mercado, possuindo um histórico mais completo em relação à performance e ao volume de vendas de cada produto. Agora que você conhece a Matriz BCG, basta adaptar a ferramenta ao seu negócio. Você deve ter percebido que os resultados que ela oferece repercutem diretamente no seu plano de marketing. Afinal, as estratégias a serem adotadas certamente mudarão conforme o status do produto ou o serviço em questão. Ferramentas do diagnóstico estratégico 145 7.3 Matriz GE/Atratividade do mercado A Matriz GE, também conhecida como Matriz McKinsey, foi criada na década de 1970 durante o desenvolvimento de um projeto realizado na empresa General Eletric. Semelhante à Matriz BCG, seu objetivo é realizar a análise do portfólio de produtos ou negócio e sua participação no mercado; porém, acrescenta cinco quadrantes que permitem fazer uma análise mais aprofundada em função do nível de atratividade e da força competitiva. Trata-se de uma técnica de análise e classificação de unidades de negócio que leva em consideração dois fatores: atratividade do setor e posição competitiva da empresa. Assim, a Matriz GE considera que o melhor portfólio de negócios é aquele que se encaixa perfeitamente nos pontos fortes da empresa e ajuda a explorar as indústrias e os mercados mais atrativos. Sob essa ótica, os objetivos da análise do portfólio de negócios são: • decidir qual unidade de negócio deve receber mais ou menos investimentos; • desenvolver estratégias de crescimento incluindo novos produtos e negócios ao portfólio; • escolher quais negóciosou produtos não deverão permanecer. Diferentemente da Matriz BCG, que tem como objetivo a análise em quatro quadrantes por meio de eixos nomeados como “participação de mercado” e “crescimento de mercado”, a Matriz GE possui cinco quadrantes a mais (no total, nove quadrantes), formados pelos eixos que avaliam a “atratividade” e a “força competitiva” em baixa, média e alta intensidade (Figura 4). Figura 4 – Matriz GE ou McKinsey (Modelo 1) Atratividade da indústria Alta Média Baixa Po si çã o do n eg óc io Al ta M éd ia Ba ix a Representa o tamanho do mercado Representa a participação de mercado Fonte: Berton; Fernandes, p. 132; adaptada de Johnson; Scholes, 2002. Vídeo http://www.sobreadministracao.com/o-que-e-e-como-funciona-a-matriz-bcg/ Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações146 Em vez de considerar apenas o mercado de um determinado produto e a sua respectiva participação, a Matriz GE analisa a atratividade de um mercado e a força competitiva de um produto, serviço, empresa, marca ou unidade de negócios nesse determinado mercado, ampliando, dessa forma, as oportunidades de análise. A estrutura da Matriz GE é construída com o eixo X crescendo da direita para a esquerda e com o eixo Y crescendo de baixo para cima. Isso faz com que o quadrante superior esquerdo seja o que apresenta, por exemplo, um produto posicionado com uma grande força competitiva em um mercado de grande atratividade. Observe a Figura 5, por meio da qual é possível tomar algumas decisões preponderantes para a empresa: Figura 5 – Matriz GE ou McKinsey (Modelo 2) Matriz GE ou McKinsey Atratividade da indústria Alta Média Baixa Fo rç a co m pe tit iv a A lta Investimento e crescimento Crescimento seletivo Seletividade M éd ia Crescimento seletivo Seletividade Colher/ desinvestir Ba ix a Seletividade Colher/ desinvestir Colher/ desinvestir Fonte: Adaptada de Fernandes; Berton, 2005, p. 133. A figura sugere que os negócios com grande potencial e atratividade de mercado, em que a empresa possui uma forte posição competitiva, devem receber uma atenção especial, além de investimentos. Por sua vez, os negócios que não são atrativos e não possuem uma boa performance atrativa no mercado devem ser vendidos ou “colhidos”, ou seja, eliminados do portfólio da empresa, pelo menos momentaneamente. É preciso utilizar toda a capacidade disponível para a geração do máximo de caixa, antes de encerrar as operações. As decisões que se tornam mais complicadas e difíceis de serem tomadas dizem respeito às posições intermediárias. Os gestores devem fazer uma minuciosa avaliação do porquê do posicionamento da empresa nesses quadrantes e criar alternativas para tornar o negócio mais atrativo. Ferramentas do diagnóstico estratégico 147 Diversos fatores influem nas duas grandezas analisadas, fornecendo para a empresa inúmeras chances de administração em diversas variáveis, como pode ser analisado no Quadro 3. Quadro 3 – Variáveis influenciadoras da atratividade e competividade Fatores que influenciam a atratividade do mercado Fatores que influenciam a força competitiva Tamanho do mercado Segmentação do mercado Preços e tendências Crescimento do mercado Rentabilidade do mercado Oportunidade de diferenciar produtos e serviços Estrutura de distribuição e logística Força da marca Força da empresa Participação de mercado Fidelidade do cliente Força da logística Inovação Fonte: Elaborado pelo autor. A Matriz GE ou McKinsey é uma ótima ferramenta para empresas. Por meio dela, é possível fazer uma análise dos negócios do portfólio, permitindo, assim, que os gestores entendam quais unidades de negócio são mais importantes para a empresa, tendo em vista as suas posições diante da atratividade da indústria em que operam, tornando mais fácil a decisão de investir ou não nos negócios em questão. Portanto, para colher bons resultados com a Matriz GE, é essencial que a organização conheça muito bem o mercado. Para isso, deve se utilizar de benchmarking para compreender o panorama total do mercado, bem como as tendências e a adoção de melhores práticas. Com esse levantamento em mãos, o grau de confiabilidade da Matriz GE da empresa se torna muito maior. 7.4 Matriz de Parentesco Trata-se de uma ferramenta de análise mercadológica que procura considerar as competências organizacionais, sugerindo que as empresas busquem sempre negócios que se encaixem bem na sua lógica empresarial. A Matriz de Parentesco (Figura 6) dispõe a análise em duas dimensões: • a adequação dos fatores-chave de sucesso no negócio e as competências organizacionais; • as oportunidades derivadas do parentesco (ou da similaridade) dos negócios e as habilidades e recursos da organização. Ou seja, quanto cada negócio se beneficia da afiliação3. 3 Associar-se com os seus semelhantes para a satisfação de necessidades de comunicação, apoio, prestígio e cooperação, entre outras, para que todos alcancem objetivos comuns. Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações148 Figura 6 – Matriz de Parentesco Alto Adequado entre as oportunidades de parentesco do negócio e as competências, recursos e características da organização A de qu ad o en tre o s F at or es -C ha ve d e S uc es so do n eg óc io e as co m pe tê nc ia s, re cu rs os e c ar ac te rís tic as d a o rg an iz aç ão Baixo Detergentes Alimentos Produtos pessoais Rações de animais Plantações de chá Produtos especializados Fonte: Adaptado de Fernandes; Berton, 2005, p. 134. Como se pode perceber na Figura 6, a Matriz de Parentesco procura considerar as competências organizacionais e sugere que as corporações devem buscar negócios mais adequados, que se encaixem bem na sua lógica produtiva. Observando o contexto exposto na imagem, assim como o negócio de detergentes, que está se tornando global, os produtos de “plantação de chá e de rações de animais [já] foram considerados de caráter global e, portanto, de baixa adequação às competências organizacionais” (FERNANDES; BERTON, 2005, p. 141). Essa matriz sugere que as corporações adéquem seus fatores-chave de sucesso no negócio e dentro das competências organizacionais. A adequação dependerá de quanto cada negócio se beneficia da afiliação, considerando as oportunidades derivadas do parentesco (ou similaridades) dos negócios, bem como as habilidades e os recursos da organização. 7.5 Matriz SWOT (Análise SWOT) Tente se lembrar da última vez em que você precisou tomar uma decisão importante, que impactasse sua vida, seu destino. Provavelmente, não foi um momento fácil, você teve que pensar na sua situação atual, pesar os prós e os contras, avaliar o impacto de sua decisão para as pessoas próximas, entre outros fatores. Com essa análise, você deve ter ficado mais seguro de que estava tomando a decisão mais acertada, não é verdade? O mesmo acontece nas empresas. No momento de dar um passo importante, é preciso, antes, avaliar a situação do negócio e o cenário em que a organização está inserida, para entender qual será o caminho certo a seguir. Nesse sentido, os ambientes que circundam a empresa devem sempre ser estudados por seus gestores. Isso é necessário porque dispor de uma estratégia para analisar o ambiente em que a organização está inserindo seu negócio é uma arma fundamental para ampliar o Vídeo Ferramentas do diagnóstico estratégico 149 ciclo de vida da empresa. Para se efetivar essa investigação, pode-se lançar mão da Matriz SWOT, uma das ferramentas de análise mais utilizadas no planejamento estratégico das organizações. Como já visto, a Matriz SWOT é uma ferramenta de análise de cenário (ou análise de ambiente) utilizada como base para a gestão e o planejamento estratégico de uma corporação ou empresa. Mas devido à sua simplicidade, pode ser utilizada para qualquer tipo de análise de cenário, da criação de um blog à gestão de uma multinacional.Trata-se de um sistema simples para posicionar ou verificar a posição estratégica da empresa no ambiente em questão. Portanto, a Matriz SWOT de refere a uma análise dos ambientes externo e interno de uma empresa e atua como uma ferramenta de apoio ao processo de planejamento estratégico. Assim, diz respeito às forças (strengths), fraquezas (weaknesses), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats) que resumem os principais aspectos do ambiente e as capacitações da empresa que têm maior impacto para o desenvolvimento da estratégia. O principal objetivo da Matriz SWOT é permitir um olhar objetivo das forças que compõem o negócio, permitindo que o gestor possa desenvolver e firmar bem sua estratégia empresarial. Trata-se, assim, de definir estratégias para manter pontos fortes, reduzir a intensidade de pontos fracos, aproveitando as oportunidades e protegendo-se de ameaças. A criação da Análise SWOT é creditada a Albert Humphrey e sua equipe de pesquisa na Universidade de Stanford, nas décadas de 1960 e 1970. Em suas pesquisas, eles procuravam entender por que o planejamento estratégico de empresas importantes havia falhado. Para avaliar a organização na pesquisa, os autores utilizaram os seguintes critérios: • O que é positivo, no presente, é uma força. • O que é positivo, no futuro, é uma oportunidade. • O que é negativo, no presente, é uma fraqueza. • O que é negativo, no futuro, é uma ameaça. Os fatores analisados foram agrupados e, assim, nasceu a Matriz SWOT, representada graficamente a seguir: Figura 7 – Matriz SWOT Fa to re s i nt er no s Fa to re s e xt er no s Fatores positivos Fatores negativos S O W T Strengths (forças) Weaknesses (fraquezas) Opportunities (oportunidades) Threats (ameaças) Fonte: Elaborada pelo autor. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações150 Com base na análise da Figura 7, pode-se visualizar que os pontos fortes e fracos são decorrentes de variáveis internas e controláveis pelo órgão. Por sua vez, as oportunidades e as ameaças decorrem de variáveis externas, não diretamente controláveis pela empresa, mas sobre as quais por vezes pode exercer influência. As oportunidades podem propiciar condições favoráveis, desde que a empresa tenha interesse e condições de usufruir delas. Já as ameaças podem criar condições desfavoráveis, por isso a organização deve planejar como minimizá-las. 7.5.1 Forças Forças se referem a elementos internos do negócio que potencializam o objetivo estratégico analisado. Outra maneira de pensar sobre elas é imaginar os elementos que estão sob o controle da empresa. Elas correspondem aos recursos e às capacidades da empresa que podem ser combinados para gerar vantagens competitivas em relação aos seus competidores. A seguir, estão listados alguns exemplos de forças: • conceito da empresa; • características da equipe, como união, proatividade e experiência; • ativos, como imóveis, equipamentos e softwares; • localização privilegiada; • marcas de produtos; • participação de mercado; • relacionamentos estratégicos com grandes empresas; • networking dos investidores, da equipe ou de parceiros; • competências específicas da equipe; • portfólio de clientes. Dessa forma, são praticamente infinitas as forças que podem ser listadas em um negócio, mas é importante focar no que realmente faz a diferença para o objetivo da análise realizada. Se a empresa está avaliando o lançamento de um software, por exemplo, o conhecimento da equipe em programação de computadores pode ser uma força. Já a localização privilegiada dificilmente representará uma força. 7.5.2 Fraquezas Referem-se a elementos internos da empresa que atrapalham o objetivo estratégico analisado. São, portanto, pontos mais vulneráveis da empresa em comparação com os mesmos pontos de competidores atuais ou em potencial. De modo complementar às forças, as fraquezas dizem respeito às características dentro do controle da organização que não ajudam na realização da missão. Exemplos: Ferramentas do diagnóstico estratégico 151 • pouca força de marca; • baixo conceito junto ao mercado; • produto altamente perecível; • localização não favorável; • matéria-prima escassa; • equipe pouco qualificada; • tecnologia ultrapassada; • custos elevados; • processo de entrega falho; • localização pouco acessível. Retomando o exemplo do lançamento de um software, caso a equipe não seja qualificada em programação de computadores, esse fator poderá ser considerado uma fraqueza. De qualquer modo, deve-se atentar que, muitas vezes, forças e fraquezas se confundem. Uma força atual pode se transformar em fraqueza no futuro, pela dificuldade de mudança que provoca. Em linhas gerais, a ausência de uma força pode vir a ser uma fraqueza, e vice-versa. 7.5.3 Oportunidades As oportunidades da Análise SWOT se referem às situações externas à empresa e que podem afetar positivamente no objetivo analisado. Tais fenômenos não estão sob controle da organização, mas existe uma chance de eles acontecerem. Correspondem às oportunidades para crescimento, lucro e fortalecimento da empresa, tais como: • necessidades não satisfeitas do consumidor; • novas exigências sociais ou no mercado de trabalho; • aumento do poder de compra do mercado; • disponibilidade de linhas de crédito; • mudanças na legislação; • desenvolvimento de uma nova tecnologia. As oportunidades são espécies de sonhos. Embora elas estejam fora do controle da empresa, deve haver uma preparação mínima para o caso de ocorrerem. 7.5.4 Ameaças Dizem respeito a situações externas à empresa e que podem atrapalhar o objetivo estratégico analisado. Assim como as oportunidades, as ameaças estão fora do controle da empresa, mas sabe-se que há uma chance de acontecerem. As ameaças correspondem a mudanças no ambiente que apresentam ameaças à sobrevi- vência da empresa, a exemplo de: Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações152 • mudanças nos padrões de consumo; • lançamento de produtos substitutivos no mercado; • redução no poder de compra dos consumidores; • entrada de um concorrente internacional no mercado; • pirataria de produtos; • mudanças na legislação do setor; • escassez de mão de obra; • greves e paralisações. As ameaças podem ser traduzidas pelos medos de parte da gestão da empresa. Assim como ocorre com as oportunidades, deve-se considerar, mesmo que em linhas gerais, maneiras de mitigá-las. A Análise SWOT funciona bem antes de qualquer decisão estratégica, tática ou operacional que precise ser tomada por uma equipe. Pode se referir à empresa inteira, a uma área ou a um time menor que esteja envolvido em um projeto. Porém, antes de proceder a ela, a grande questão é entender se a decisão não acabará sendo simples demais ou muito complexa para a análise. Há decisões simplórias cujo envolvimento do time para confeccionar uma Matriz SWOT acabará burocratizando mais o processo, em vez de trazer benefícios. Por exemplo, se um produto estiver em falta em determinada empresa de revenda, não será necessário fazer uma Matriz SWOT para proceder à reposição; basta fazer o pedido de compra. No entanto, caso haja questionamentos sobre a relevância desse produto dentro do portfólio da organização, talvez valha a pena avaliar uma mudança por meio da Análise SWOT. Analogamente, há decisões que são muito complexas. O uso dessa ferramenta per se não resolverá todos os fatores envolvidos. Será necessário um planejamento mais robusto. Se você está pensando em dobrar o número de filiais nos próximos meses, por exemplo, precisará abordar esse tema no contexto do plano estratégico da empresa, para traçar metas, objetivos e planos de ação, além de verificar se a equipe atual disponível supre esse movimento. 7.6 Como fazer a Análise SWOT O cruzamento entre os quatro quadrantes de análise provê uma moldura em que a empresa pode desenvolver melhor suas vantagens competitivas, combinando oportunidades e forças.No caso do cruzamento entre oportunidades e fraquezas, podem-se estabelecer as bases para modificações no ambiente interno, na intenção de aproveitar melhor as oportunidades. Por sua vez, o cruzamento entre ameaças e forças representa a possibilidade de investir na modificação do ambiente, de modo a torná-lo favorável à empresa (não é tarefa fácil de ser conseguida). Se no cruzamento entre ameaças e fraquezas houver situações de alta relevância para a empresa, provavelmente será uma ocasião para modificações profundas, incluindo sua manutenção no próprio negócio. Vídeo Ferramentas do diagnóstico estratégico 153 Figura 8 – Quatro quadrantes da Análise SWOT Na conquista do objetivo O rig em d o fa to r I nt er na (o rg an iz aç ão ) Ex te rn a (a m bi en te ) Ajuda Atrapalha S O W T Forças Fraquezas Oportunidades Ameaças Fonte: Adaptada de Johnson; Scholes, 2002 apud Chiavenato; Cerqueira Neto, 2003, p. 143. A aplicação da Análise SWOT permite sistematizar todas as informações disponíveis e obter uma leitura transparente do “campo de batalha”, de modo a possibilitar uma tomada de decisão balanceada. A comparação entre os pontos fortes e fracos, junto com as oportunidades de mercado e as ameaças, possibilita que o gestor responda às questões: • Como tirar vantagem das novas oportunidades, utilizando os pontos fortes da organização? • Quais pontos fracos podem ser melhorados? • Por meio de quais pontos fortes é possível neutralizar as ameaças? • Com quais ameaças, aliadas às fraquezas, precisa-se ter maior preocupação? Dessa forma, após a realização de uma Análise SWOT, torna-se possível observar as vantagens e os pontos fracos da organização de maneira mais transparente, bem como sua situação perante o mercado. Sob essa ótica, acompanhe uma aplicação prática da Análise SWOT: Quadro 4 – Aplicação prática da Análise SWOT Ambiente interno Predominância de Pontos fracos Pontos fortes A m bi en te e xt er no Pr ed om in ân ci a de A m ea ça s Sobrevivência Manutenção O po rt un id ad es Crescimento Desenvolvimento Fonte: Elaborado pelo autor. Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações154 As forças e as fraquezas são determinadas pela posição atual da empresa e se relacionam, quase sempre, a fatores internos. Já as oportunidades e as ameaças são antecipações do futuro e estão relacionadas a fatores externos. O ambiente interno pode ser controlado pelos dirigentes da empresa, uma vez que resulta das estratégias de atuação definidas pelos próprios membros da organização. Dessa forma, durante a análise, ao se perceber um ponto forte, ele deverá ser ressaltado ao máximo; por sua vez, diante da percepção de um ponto fraco, a organização deverá agir para controlá-lo ou, pelo menos, minimizar seu efeito. Já o ambiente externo está totalmente fora do controle da organização. Apesar de não poder controlá-lo, a empresa deve conhecê-lo e monitorá-lo com frequência, a fim de aproveitar as oportunidades e evitar as ameaças. Como já mencionado, outra possibilidade é proceder à Análise SWOT cruzada, que consiste em cruzar fatores, caso haja sinergia, para equilibrá-los ou potencializá-los. Para cada cruzamento, é importante saber criar objetivos/estratégias, tais como: • Pontos fortes x oportunidades: estratégia ofensiva/desenvolvimento das vantagens competitivas. • Pontos fortes x ameaças: estratégia de confronto para a modificação do ambiente a favor da empresa. • Pontos fracos x oportunidades: estratégia de reforço para poder aproveitar melhor as oportunidades. • Pontos fracos x ameaças: estratégia defensiva com possíveis modificações profundas para proteger a empresa. Dessa forma, a Análise SWOT possibilita a elaboração de um plano de redução de riscos, o que contribui para o aumento das chances de sucesso. Nesse sentido, as ferramentas de diagnóstico estratégico são instrumentos que ajudam profissionais a conhecer a sua essência e o ambiente em que a empresa está inserida. Logo, são essenciais para garantir a coesão e a verdade para tudo que a marca deseja comunicar, bem como para identificar oportunidades que podem ser exploradas pelas organizações. Elas também são muito importantes para que os gestores possam conhecer todo o ambiente de marketing de uma organização, incluindo elementos do macroambiente, como economia, além de padrões culturais, políticos e tecnológicos. Considerações finais Conhecer os instrumentos adequados para avaliar um negócio é fundamental para a construção de um modelo de planejamento estratégico mais eficaz. Sob essa ótica, fazer o check-up do empreendimento é essencial. As ferramentas descritas e explicitadas neste capítulo possibilitam a avaliação de todas as áreas do negócio, tais como: finanças, produção, recursos humanos, vendas, tecnologia, entre Ferramentas do diagnóstico estratégico 155 outras. Assim, fica mais fácil identificar os pontos fracos e fortes, corrigir problemas e consolidar qualidades, para sempre obter os melhores resultados. Nesse sentido, essas ferramentas de análise são fundamentais no dia a dia de um executivo, pois promovem uma visão completa, holística e exata da organização, simplificando a tomada de decisões. Por isso, é de extrema importância ao gestor garantir que sua organização seja estratégica e trabalhe com planejamento. Logo, é necessária a conscientização de que todos os passos dados por uma organização, independentemente do porte, devem suceder ações coordenadas que visam atingir um objetivo. Ampliando seus conhecimentos Para melhorar e aprimorar seus conhecimentos, sugere-se o acompanhamento periódico de produções científicas sobre estratégia, tendo em vista sua relevância. Entre os materiais para o aprofundamento dessa temática, recomendam-se: • ANÁLISE SWOT (FOFA): o que é e como fazer – Palestra LUZ. 2016. 1 vídeo (35 min). Publicado pelo canal LUZ | Planilhas Empresariais. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=YyC4mc-dnLo. Acesso em: 6 maio 2019. Vídeo proveniente de uma palestra que, além de auxiliá-lo na compreensão da necessidade da Análise SWOT, apresentará um exemplo prático de como fazê-la. • PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Rio de Janeiro: Campus- -Elsevier, 2005. Livro que apresenta um notável painel sobre o que a empresa deve fazer atualmente, se quiser ocupar uma posição de liderança no futuro. Os autores, nessa nova abordagem à estratégia, desafiam os executivos a desenvolver a capacidade de previsão e análise empresarial, a fim de definir uma intenção estratégica, alavancar recursos e revitalizar o processo de criação de novos negócios. Atividades 1. Explique o que é a Matriz Produto/Mercado. 2. Para que serve a Matriz BCG? 3. Quais são os objetivos da análise do portfólio de negócios? 4. O que é a Análise SWOT? 5. No processo decisório, quais são as questões às quais a Análise SWOT procura responder? Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações156 Referências CHIAVENATO, I.; CERQUEIRA NETO, E. P. de. Administração estratégica em busca do desempenho superior: uma abordagem além do balanced scorecard. São Paulo: Saraiva, 2003. FERNANDES, B. H. R.; BERTON, L. H. Administração estratégica: da competência empreendedora à avaliação de desempenho. São Paulo: Saraiva, 2005. JOHNSON, G.; SCHOLES, K. Exploring corporate strategy: text and cases. 6. ed. Londres: Financial Times- Prentice-Hall, 2002. MINTZBERG, H.; QUINN, J. B. O processo da estratégia. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. 8 O processo de formulação de estratégias As organizações geralmente têm uma estratégia, seja ela planejada ou não (PORTER, 1991). No entanto, muitas vezes o plano apresenta falhas, uma vez que o desempenho de uma empresa no mercado é dado por diversos fatores, como social, político, econômico, setorial, entre outros. Porter (1986; 1991)menciona que “o desenvolvimento de uma estratégia acontece entre a firma e o ambiente a que pertence”, bem como que “o principal influenciador de uma empresa é o setor ou indústrias em que ela compete”. O autor descreve a estratégia competitiva como um sinônimo de tomada de decisões, por meio das quais devem ocorrer ações ofensivas ou defensivas com a finalidade de criar uma posição que permita à empresa se defender em um setor, para conseguir lidar com as cinco forças competitivas (ameaça de novos entrantes; poder de barganha dos fornecedores; poder de barganha dos clientes da organização; ameaça de produtos substitutos; intensidade da rivalidade entre concorrentes) e, assim, expandir o retorno sobre o investimento (PORTER, 1991). Sob essa ótica, este capítulo abordará o processo de formulação da estratégia. De fato, uma vez que as possibilidades são analisadas, bem como os ambientes geral, de tarefa e interno, além da compreensão dos fatores que auxiliam o diagnóstico estratégico, o próximo passo é pensar no que fazer, isto é, em como decidir sobre a estratégia que deverá posicionar a organização em seu mercado de abrangência. 8.1 Estratégias genéricas As estratégias genéricas são utilizadas para superar os concorrentes em uma indústria (mercado). Assim, as empresas devem escolher uma posição dentro da estrutura da indústria, sendo que esse posicionamento abrange a abordagem geral da empresa para competir, e não apenas o seu produto ou grupo consumidor objetivado (PORTER, 1991). Por meio da análise de cada posição, pode-se traçar um plano de ação que incluirá o posicionamento da organização. Dessa forma, por meio de movimentos estratégicos, as suas capacitações podem fornecer as melhores defesas contra as forças competitivas e/ou a influência sobre o equilíbrio de forças, no intento de melhorar a posição competitiva da empresa e/ou a antecipação às mudanças. Diante desse quadro, para enfrentar as cinco forças competitivas (a análise estrutural de indústrias), a organização pode adotar três estratégias genéricas: liderança no custo total, diferenciação e enfoque, conforme exposto na Figura 1 a seguir. Vídeo Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações158 Figura 1 – Estratégias genéricas diferenciação Unicidade observada pelo cliente No âmbito de toda a indústria Apenas um particular segmento Vantagem estratégica A lv o es tr at ég ic o liderança no custo total Posição de baixo custo enfoque Fonte: Salum, 2016. Esse diagrama, estruturado na forma de quadrantes, demonstra teoricamente as diferenças entre as três estratégias genéricas. No núcleo do posicionamento está a vantagem competitiva, da qual há dois tipos básicos: o menor custo e a diferenciação. O menor custo diz respeito à habilidade de projetar, produzir e vender um produto comparável com mais eficiência do que seus competidores. Já a diferenciação se refere a proporcionar ao comprador um valor excepcional e superior, em termos de qualidade, características especiais ou serviços de assistência (PORTER, 1991). Para Porter (1991), a estratégia competitiva significa uma escolha deliberada de um conjunto diferenciado de atividades em relação aos concorrentes, para a entrega de um produto ou serviço de valor único, o que, em outras palavras, pode ser definido também como posicionamento estratégico. Outra forma de demonstrar as estratégicas genéricas, adotada por diversos autores, baseia- se em um diagrama que compara cartesianamente a vantagem competitiva com o mercado competitivo. Esse diagrama é dividido em um quadrante: menor custo e alvo amplo; menor custo e alvo limitado; alvo amplo com diferenciação; alvo limitado com diferenciação. Os aspectos que compõem tal quadrante são: liderança de custos; diferenciação; enfoque nos custos; e diferenciação focalizada, conforme a Figura 2 a seguir. Figura 2 – Tipos de estratégias genéricas Liderança de custos Enfoque nos custos Menor custo Vantagem competitiva  m bi to co m pe tit iv o A lv o lim ita do A lv o am pl o Diferenciação Diferenciação focalizada Diferenciação Fonte: Adaptada de Porter, 1991. O processo de formulação de estratégias 159 Diante dessa representação, a empresa pode adotar algumas estratégias genéricas: • se o posicionamento for de menor custo em alvo amplo, a estratégia genérica adotada será a liderança de custos; • se o posicionamento for de menor custo em alvo limitado, a estratégia genérica adotada será enfoque nos custos; • se o posicionamento for de diferenciação em alvo amplo, a estratégia genérica adotada será a diferenciação; • se o posicionamento for de diferenciação em alvo limitado, a estratégia genérica adotada será a diferenciação focalizada. 8.1.1 Liderança de custos A liderança de custos é uma estratégia que objetiva tornar uma organização mais competitiva, com produtos mais baratos do que os concorrentes são capazes de oferecer. De acordo com a lógica por trás dessa estratégia, uma organização terá condições de oferecer produtos a preços mais baixos que os concorrentes, aumentando, assim, sua participação de mercado. Consiste em atingir a liderança no custo total em uma indústria por meio de um conjunto de políticas funcionais orientadas para esse objetivo. Essa estratégia traz como tema principal o custo baixo em relação aos concorrentes, mas os objetivos de qualidade e assistência, entre outros, não podem ser esquecidos. São exemplos de decisões focadas na obtenção da liderança no custo total: • construção agressiva de instalações em escala eficiente; • perseguição vigorosa de reduções de custo pela experiência; • controle rígido dos custos e das despesas gerais; • minimização do custo em áreas como P&D, assistência, força de vendas e publicidade. Uma posição de baixo custo possibilita à empresa obter retornos acima da média, apesar da presença de forças competitivas. Esse fator lhe confere uma defesa contra os concorrentes, pois com custos mais baixos, ela pode obter retornos depois que seus concorrentes tiverem consumido seus lucros na competição. Enfim, uma posição de baixo custo protege a empresa contra as cinco forças competitivas porque a negociação só pode continuar a erodir os lucros até o ponto em que os lucros do próximo concorrente mais eficiente tenham sido eliminados, bem como porque os concorrentes menos eficientes sofrerão diante das pressões competitivas. A estratégia de liderança de custos apresenta alguns riscos, além de vantagens e desvantagens. Como riscos, podem-se citar: • mudança tecnológica que anula o investimento ou o aprendizado anterior; • aprendizado de baixo custo por novas empresas que entrem na indústria ou por seguidores, por meio da imitação ou de sua capacidade de investir em instalações modernas; Estratégia empresarial: uma visão contemporânea das organizações160 • incapacidade de ver a mudança necessária no produto ou no marketing em virtude da atenção colocada no custo; • inflação em custos que estreitam a capacidade de a empresa manter um diferencial de preço suficiente para compensar a imagem da marca do produto em relação ao preço dos concorrentes ou outras formas de diferenciação. Entre as vantagens encontradas nessa estratégia, estão: • retornos acima da média apenas pela presença das forças competitivas; • defesa da empresa contra compradores poderosos que exercem sua influência apenas para baixar os preços ao nível do concorrente mais eficiente; • defesa contra fornecedores poderosos por trazer maior flexibilidade no momento de enfrentar o aumento dos custos dos insumos; • barreiras para novos entrantes, principalmente em termos de economia de escala e vantagens de custos; • posicionamento favorável da empresa em relação aos produtos substitutos. Por sua vez, algumas das desvantagens estão listadas a seguir: • obter uma posição de custo total baixo exige uma alta parcela de mercado ou alguma outra posição vantajosa para a empresa, como o fácil acesso