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Resistência dos Materiais II Aula 9: Flexão: Flambagem INTRODUÇÃO Esta aula apresenta a �ambagem, fenômeno de instabilidade ligado a elementos comprimidos. Como esse fenômeno pode reduzir a capacidade de carga de compressão, torna-se fundamental seu estudo. Os elementos comprimidos mais comuns são barras de treliça, estroncas e colunas (pilares). Nesta aula, você vai conhecer o fenômeno e o modelo matemático que representa seu comportamento e permite que sejam estimadas as de�exões, cargas e tensões críticas, fundamentais no projeto estrutural. OBJETIVOS Explicar o fenômeno da �ambagem em elementos comprimidos; Aplicar o modelo matemático associado ao fenômeno da �ambagem; Aplicar o modelo matemático para estimar cargas e tensões críticas de elementos comprimidos. A �ambagem É um fenômeno de instabilidade que se manifesta em elementos comprimidos e provoca deslocamentos laterais acentuados que comprometem a segurança do elemento. A esbeltez (glossário) do elemento é o fator que determina o risco de �ambagem de um elemento comprimido. CARGA DE EULER OU CARGA CRÍTICA Fonte da Imagem: Estudos de Leonhard Euler (glossário), datados de 1757, levaram à determinação da chamada Carga de Euler ou Carga Crítica, que é a intensidade de força de compressão máxima que um elemento pode suportar antes de entrar em processo de �ambagem. , Pensando apenas no domínio linear elástico, qualquer elemento pode sofrer �ambagem?, , A resposta é não. , , Mesmo sendo possível se determinar a Carga Crítica, pode ser que ela seja elevada a ponto de ser superior à carga máxima resistida pelo elemento no domínio linear elástico., , Portanto, dependendo da esbeltez do elemento, ele se torna mais ou menos suscetível à �ambagem, como já foi dito. Pegue uma régua comum, dessas de plástico com 30cm e aplique uma compressão com as mãos, uma em cada extremidade. Inicie de forma a comprimir levemente e aumente a intensidade aos poucos. O que acontece? Ela �amba em torno da direção mais frágil. Fonte da Imagem: Da mesma forma que a régua de plástico comum, uma coluna esbelta carregada axialmente (em eixo longitudinal) também �amba em torno do eixo de menor inércia, no caso da �gura, em torno do eixo a-a. CHEGOU A HORA DO MODELO MATEMÁTICO Os estudos de Euler foram desenvolvidos para a chamada coluna ideal, ou seja, perfeitamente reta, composta por material homogêneo, submetida à carga de compressão aplicada exatamente no centroide da seção transversal e vinculada em suas extremidades por dois pinos que liberam a rotação. Sendo que o pino da base impede os deslocamentos e o pino do topo apenas o deslocamento lateral. CHEGOU A HORA DO MODELO MATEMÁTICO Fonte da Imagem: Os estudos de Euler foram desenvolvidos para a chamada coluna ideal, ou seja, perfeitamente reta, composta por material homogêneo, submetida à carga de compressão aplicada exatamente no centroide da seção transversal e vinculada em suas extremidades por dois pinos que liberam a rotação. Sendo que o pino da base impede os deslocamentos e o pino do topo apenas o deslocamento lateral. Admite-se, ainda, que a �ambagem ocorre em um único plano, compatível com a menor inércia do elemento. Para determinar a Carga Crítica e a con�guração deformada do elemento quando �ambado, utiliza-se a expressão que relaciona o momento �etor à forma de�etida. O valor do momento pode ser avaliado pelo produto entre a força de compressão P e a de�exão lateral v. , , , Trata-se de uma equação diferencial linear homogênea de 2ª ordem, cuja solução geral é:, , , , Aplicando as condições de contorno:, , V é nulo em x=0 e em x=L, pois estão apoiados e não podem se deslocar., , , , Como C deve ser diferente de zero,, , , , deve ser múltiplo de π (rad) para que o valor do seno se anule., , Ou elevando os dois lados da expressão ao quadrado:, , , , Como de todos os valores possíveis para P, o que nos interessa é o menor, utilizaremos n=1, ou seja:, , , , Isso é chamada de Carga de Euler ou de Carga Crítica. CARGA CRÍTICA EM FUNÇÃO DO RAIO DE GIRAÇÃO DA SEÇÃO Alguns autores também expressam a Carga Crítica em função do raio de giração da seção, da seguinte forma: 1 Substituindo: CARGA CRÍTICA EM FUNÇÃO DO RAIO DE GIRAÇÃO DA SEÇÃO A esbeltez, já comentada no início da aula, é avaliada por uma grandeza adimensional, chamada índice de esbeltez, que representa quantas vezes o comprimento livre da coluna ideal é maior do que o raio de giração da seção. Portanto, quanto maior o índice de esbeltez, mais esbelto é o elemento. Dessa forma, pode-se escrever que a Tensão Crítica vale: É bom lembrar que o elemento que estamos analisando é birrotulado (coluna ideal) e que o comprimento L é a distância entre os pinos. E se o elemento não for �xado dessa forma? Como a teoria só foi desenvolvida para a coluna dita ideal, teremos que improvisar. A ideia é criar, para cada elemento que não for birrotulado, um birrotulado equivalente que irá representá-lo. Dessa forma, analisaremos o elemento original através do seu representante (“modelo”) em forma de coluna ideal. Caso o nosso elemento seja engastado em uma extremidade e rotulado na outra, a con�guração �etida será como na �gura. Consideraremos que o elemento será representado por um birrotulado equivalente, com comprimento reduzido. Como o engaste impede a rotação, a con�guração deformada possui um ponto de in�exão (mudança de curvatura, você deve lembrar das aulas de cálculo). Por conta disso, a ideia é criarmos uma representação birrotulada com comprimento que vai do pino até o ponto de in�exão, trecho que possui con�guração deformada compatível com a da coluna ideal. Essa aproximação possibilita o uso do modelo matemático desenvolvido para a coluna ideal birrotulada no elemento engaste-apoio. Mas onde �ca o ponto de in�exão? Considera-se, de forma aproximada, que o ponto de in�exão �ca a 30% de L, contados a partir do engaste. Portanto, nosso elemento será tratado como se fosse um elemento birrotulado com comprimento de 70% do comprimento original.Esse raciocínio é estendido para outros tipos de vínculo: Portanto, criando um modelo birrotulado equivalente através do ajuste do comprimento (Le=kL), conseguimos aplicar a Teoria de Euler para colunas com todos os tipos de vínculos. Dessa forma: VAMOS PRATICAR UM POUCO? Vamos analisar o caso de um coluna em aço A-36 (E=200GPa) com seção tubular circular com diâmetro externo de 75mm e parede de 6mm. • Vamos considerar que a coluna está com a base engastada e o topo rotulado, e que possui um comprimento real L de 3,6m. • Vamos considerar que a coluna está com a base engastada e o topo rotulado, e que possui um comprimento real L de 3,6m. • Precisaremos determinar o momento de inércia da seção tubular circular. Como a espessura da parede é 0,6cm, o diâmetro interno vale 6,3cm. A tensão imposta pela Carga Crítica é de 𝜎 = 242,42/13 = 18,65 𝑘𝑁⁄ cm = 186,5 MPa , O aço utilizado nessa coluna tem como Valor Limite de trabalho no domínio linear elástico (limite de proporcionalidade) a tensão de 250Mpa. Portanto, na con�guração adotada para essa coluna, esta condição do material não seria atingida, pois a tensão crítica obtida é de 186,5MPa. , , Temos aqui um exemplo de �ambagem elástica, que limita a capacidade de carga da coluna. EXCENTRICIDADES DE CARGA E IMPERFEIÇÕES PREVIAMENTE ADMITIDAS As cargas em colunas nem sempre são impostas no centroide e, mesmo que sejam em projeto, a boa técnica construtiva não consegue garantir com exatidão matemática a sua posição. Outras questões construtivas também podem ser listadas, como a falta de retilineidade perfeita do elemento e até mesmo a sua verticalidade perfeita (prumo). A precisão construtiva também depende do tipo de material. A construção em aço e concreto pré-moldado é mais precisa do que a de concreto moldado no local, com suas formas montadas no local da obra. A precisão de um elemento de aço também é maior do que o de uma peça de madeira, que pode, entre outros fatores, serafetada por efeitos climáticos como a umidade, por exemplo. Esses fatores levam as Normas Especí�cas de Projeto a adotarem critérios de projeto que consideram as imperfeições da boa técnica construtiva e tratam dessas questões incluindo condições mínimas que devem ser obrigatoriamente consideradas. Tudo isso será detalhado nas disciplinas especí�cas de projeto. Em resistência dos materiais, temos que promover um modelo matemático que suporte essas ideias. Dessa forma, vamos evoluir para a situação em que o momento que atua na coluna é proveniente de 2 fatores: uma excentricidade inicial da carga e a excentricidade proveniente da deformação do elemento (2ª ordem). 2 COMO SURGIU ESSA EXPRESSÃO? Com um pouquinho de matemática. Vamos retornar à expressão que calcula a de�exão da coluna: A solução da equação diferencial é: Substituindo na equação, a 1ª parcela se anula, pois sen(0) é zero. Como o cosseno de zero é 1: Agora, vamos analisar a constante C1 com a condição de contorno que o outro apoio oferece (em x=L, v=0): REARRUMANDO Essa expressão pode ser simpli�cada com algumas substituições trigonométricas: Como 1−cos𝜃=2sen (𝜃⁄2), então: Como sen 𝜃=2 sen(𝜃⁄2) cos(𝜃⁄2), então: 2 SUBSTITUINDO SIMPLIFICANDO RETORNANDO Retornando à equação original e substituindo a constante C : PODEMOS MELHORAR ISSO? Sim. Basta que a gente não se afaste de nossos objetivos. O que nós estamos fazendo mesmo? Queremos calcular o momento máximo associado à aplicação da carga excêntrica! Como temos a expressão para determinar a de�exão da coluna com carga excêntrica (e), vamos determinar a de�exão máxima que ocorre em L/2. 1 AGORA SABEMOS COMO A EXPRESSÃO FOI CONSTRUÍDA! Vamos prosseguir para determinar a Carga Crítica e a Tensão Crítica. QUANDO OCORRE A DEFLEXÃO MÁXIMA? Como o valor de e será conhecido (dado do problema), a de�exão máxima ocorrerá com a Carga Crítica. Como é o comportamento da função secante? Como a secante é a inversa da função cosseno, quando o cosseno tender a zero, a secante irá para in�nito (1/0). Como o cosseno de 𝝅 /2 = 0, 𝐬𝐞𝐜 (𝝅⁄𝟐)=∞ . Dessa forma: Mesmo resultado obtido anteriormente. E a Tensão Crítica? Rearrumando em função do raio de giração da seção da coluna: Onde: 𝝈 : Tensão de compressão máxima que ocorre na coluna somados os efeitos da carga normal e do momento; 𝑷: Carga normal imposta à coluna, desde que seja inferior à P ; 𝒆: Excentricidade de aplicação da carga P medida a partir do centroide da seção; 𝒄: Distância medida do bordo da seção mais comprimida até o centroide da seção; 𝑨: Área da seção transversa da coluna; 𝑳:Comprimento livre da coluna birrotulada equivalente (Le) na direção analisada; 𝑬: Módulo de elasticidade do material utilizado; 𝒓: Raio de giração da seção transversal da coluna em relação ao eixo de �exão considerado. FLAMBAGEM INELÁSTICA A �ambagem inelástica é aquela que ocorre após a fase elástica. Vamos ter em mente, por exemplo, o diagrama tensão-deformação do aço. De uma maneira geral, colunas esbeltas (portanto, mais suscetíveis à �ambagem) atingem a Carga Crítica e �ambam ainda na fase elástica. max cr E QUANDO AS COLUNAS NÃO SÃO TÃO ESBELTAS? Nesse caso, o valor da Carga Crítica aumenta, pois cresce o momento de inércia (I) e/ou diminui o comprimento (L). Considerando cargas centradas, estaríamos comparando a tensão imposta por P à tensão que representa o limite de proporcionalidade no diagrama “tensão x deformação”, que indica o �m da fase elástica. No caso de um aço comum, estaríamos comparando a tensão imposta pela Carga Crítica à 250Mpa. Se a tensão imposta pela Carga Crítica for inferior à 250Mpa, signi�ca que a �ambagem é elástica. Do contrário será inelástica. Essa curva é conhecida como a Hipérbole de Euler e representa a Tensão Crítica x Índice de Esbeltez e só é válida para a fase elástica do material. cr Fonte da Imagem: Essa curva é conhecida como a Hipérbole de Euler e representa a Tensão Crítica x Índice de Esbeltez e só é válida para a fase elástica do material. Se a coluna receber cargas cada vez maiores e conseguir ingressar no regime plástico sem �ambar, a Lei de Hooke não pode mais ser aplicada e, por conta disso, o valor da Carga Crítica não é válido, pois o seu cálculo foi baseado no comportamento do regime elástico. A grande diferença é que o comportamento deixa de ser linear e o módulo de elasticidade passa a depender do nível de tensão, podendo ser avaliado localmente pelo valor da inclinação da curva (tangente) no ponto de interesse. , Nesses casos, são construídos diagramas de Carga Crítica versus Índice de Esbeltez para o material na fase plástica, onde podemos veri�car o valor da Carga Crítica e o tipo de �ambagem para um dado material em função do índice de esbeltez do elemento analisado. Da mesma forma, o eixo horizontal representa o Índice de Esbeltez da coluna e o eixo vertical a Tensão Crítica. A tensão correspondente ao limite de proporcionalidade (lp) divide as fases elásticas e inelásticas. Indo da direita para a esquerda: EXEMPLIFICANDO UM PROCESSO DE PLASTIFICAÇÃO Da esquerda para a direita: Imagine que estamos aumentando gradativamente os esforços na seção: 1 - Seção integralmente comprimida com diferentes níveis de tensão, todos abaixo da tensão de escoamento do material (fy); 2 - A tensão máxima se iguala a fy; 3 - Como o material está no patamar de escoamento, ele continua a se deformar, mas a tensão não se altera (plasti�cação da seção); 4 - Continua o processo de plasti�cação da seção (aumenta a deformação e a tensão não ultrapassa o limite de escoamento); 5 - A seção se encontra integralmente plasti�cada com tensão constante igual à tensão de escoamento. ATIVIDADES 1) Analise as barras AB e BD da treliça da �gura, considerando que: • Estão �xadas por pinos nas extremidades; • Possuem seção circular de 50mm de raio; • Aço com tensão de escoamento de 250Mpa e módulo de elasticidade de 200GPa. Determine a Carga Crítica de �ambagem para as barras. Resposta Correta ATIVIDADES 2) Para a coluna de madeira da �gura, engastada no topo e na base, determine a carga máxima P que pode ser aplicada, considerando escoamento e �ambagem. E=12 Gpa 𝜎_𝑒=56𝑀𝑃𝑎 Resposta Correta EXERCÍCIOS 1) Considere uma coluna de 9 metros de comprimento formada por 2 per�s U interligados conforme a �gura. Cada per�l possui área de 1950mm e momentos de inércia Ix=21,6 . 10 e Iy=0,15 . 10 mm4, módulo de elasticidade de 200GPa e tensão de escoamento de 360Mpa. Desprezando a contribuição da interligação na resistência à �ambagem, determine a distância d, marcada na �gura, de forma que a Carga Crítica de �ambagem seja a mesma nas duas direções. 2 6 6 104,9mm 209,8mm 206,8mm 103,4mm 155,2mm Justi�cativa 2) Considere uma coluna de 9 metros de comprimento formada por 2 per�s U interligados conforme a �gura. Cada per�l possui área de 1950mm e momentos de inércia Ix=21,6 . 10 e Iy=0,15 . 106mm , módulo de elasticidade de 200GPa e tensão de escoamento de 360Mpa. Desprezando a contribuição da interligação na resistência à �ambagem e que a distância d, marcada na �gura, é de 250mm, determine a Carga Crítica de �ambagem. 113,7kN 252,8kN 872,2kN 1052,8kN 1387,3kN Justi�cativa 2 6 4 3) Para a estrutura da �gura, determine o fator de segurança à �ambagem para uma carga P de 20kN, considerando que as barras estão conectadas por pinos e são de aço com módulo de elasticidade de 200GPa e tensão de escoamento de 360Mpa. 1,85 2,08 3,00 3,95 2,22 Justi�cativa Glossário ESBELTEZ A esbeltez é uma relação entre o comprimento do elemento e uma grandeza associada à seção do elemento, denominada raio de giração, que já vimos nas primeiras aulas desta disciplina. Uma peça esbelta possui um risco aumentado de �ambagem. Mais adiante veremos essa questão em detalhes. LEONHARD EULER Euler nasceu em Basiléia, na Suíça (1707), e desenvolveu profundos conhecimentos de matemática, medicina, astronomia eengenharia. Fez diversas descobertas importantes e in�uenciou tantas outras, principalmente na matemática. Escreveu mais de 500 livros e artigos.
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