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TEORIAS DA COMUNICAÇÃO Rafaela Queiroz Ferreira Cordeiro Revisão técnica: Deivison Moacir Cezar de Campos Especialista em História contemporânea Mestre em História Social Doutor em Ciências da Comunicação Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147 T314 Teorias da comunicação / Rafaela Queiroz Ferreira Cordeiro [et al.] ; [revisão técnica: Deivison Moacir Cezar de Campos]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 295 p. il. ; 22,5 cm. IISBN 978-85-9502-236-2 1. Comunicação - Teoria. I. Cordeiro, Rafaela Queiroz Ferreira. CDU 007 TC_Iniciais_Impressa.indd 2 10/11/2017 15:24:31 Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar o início da Mass Communication Research. � Explicar os aspectos fundamentais da Escola Norte-americana de comunicação de massa. � Indicar algumas tradições teóricas da Escola Norte-americana de comunicação de massa. Introdução O século XX foi marcado pela extensa difusão e popularização dos meios de comunicação de massa. Foi nessa época que o rádio e a televisão se tornaram veículos domésticos. E nesse mesmo período o mundo vivenciou momentos de terror pelo impacto das duas grandes guerras mundiais. Nesse cenário, a propaganda passou a ser usada como instru- mento ideológico importante para convencer o público da necessidade da guerra. Foram esses os aspectos contextuais que marcaram o início dos estudos da Mass Communication Research. Neste texto, você vai refletir sobre o início dos estudos da comuni- cação de massa. Também conhecerá o contexto e as características que permitiram o surgimento da Escola Norte-Americana, que inicia a tradição desses estudos. Além disso, irá explorar algumas tradições teóricas que iniciaram esses estudos e fizeram parte dessa escola. TC_U1_C04.indd 59 10/11/2017 15:20:54 O início da Mass Communication Research A Mass Communication Research foi motivada, nos EUA, pelos impactos causados pelos meios de comunicação de massa (MCM) na audiência. Esse campo de estudo foi influenciado principalmente pelas duas grandes guerras mundiais (a primeira de 1914 a 1919, e a segunda de 1939 a 1945). Esses conflitos ajudaram também a difundir em larga escala os meios de comunicação de massa. Desse modo, foi a indústria da grande guerra que levou os EUA a desenvolver pesquisas pioneiras na área de comunicação no começo do século XX. Ora, era preciso que as pessoas apoiassem o Estado a entrar na guerra. Elas deveriam não só suportar privações de necessidades básicas nesse período (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993; GUARALDO, 2007), mas apoiar ideologicamente o ato da sua nação e “aprender” a odiar o oponente em potencial. Nesse cenário os veículos de comunicação de massa tornaram-se instrumentos de persuasão fundamentais para convencer o público da necessidade da luta bélica. Figura 1. Tio Sam diz “Eu quero você para o exército dos EUA” em pôster usado na I e II guerras mundiais. Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research60 TC_U1_C04.indd 60 10/11/2017 15:20:54 As pesquisas sobre a comunicação de massa se destacaram nos EUA entre os anos 1920 e 1960. Em especial, tiveram início a partir do trabalho, na área da propaganda, desenvolvido por Harold Lasswell. Em 1927, ele lançou a sua famosa obra Propaganda technique in the World War (Técnicas de propaganda na I Guerra Mundial). Nela, analisou os temas principais das propagandas ame- ricana, inglesa, francesa e alemã entre 1914 e 1917. É importante destacar que a Mass Communication Research não só faz parte da Escola Norte-americana de comunicação de massa como também se confunde, muitas vezes, com ela. Afinal, os EUA têm presença massiva no início da longa tradição de estudos dos mass media. Aqui, você vai conhecer algumas tradições teóricas dessa escola que impulsionaram os estudos nessa área. Entre elas, a Teoria da Agulha Hipodérmica, o Modelo de Lasswell, o Fluxo da Comunicação em Dois Tempos e a Teoria Matemática da Comunicação. E por que tratar dessas abordagens teóricas e não de outras? É importante que você saiba que a longa tradição de análise dos estudos sobre os mass media é composta por perspectivas e disciplinas de outras escolas, como as da Teoria Crítica, a saber, da Escola de Frankfurt. E, além disso, essa nume- rosa quantidade de abordagens sobre os mass media continua a se refletir na atualidade. Isso ocorre em virtude da própria dinâmica e do relevo que esse objeto de estudo apresenta. Assim, não seria forçoso admitir que os MCM continuam a se expandir e a adquirir novas propriedades e relações com o passar dos anos, não é mesmo? Logo, há um vasto conjunto de conhecimentos, metodologias de análise, além de pontos de vista teóricos distintos. Portanto, existe uma dificuldade em elaborar qualquer forma de síntese adequada dos estudos de massa. É por esse motivo que aqui você irá conhecer as teorias citadas. Essas teorias fundaram e marcaram uma tradição de estudos sobre o objeto da comunicação de massa, objeto este que continua a se expandir. Assim, a partir dessas teorias, você poderá fazer uma leitura panorâmica sobre as primeiras interpretações dadas aos MCM. Aqui temos que abrir um parêntese. Bauer (1964 apud WOLF, 1999) defendia que, desde o início, a communication research foi caracterizada não por grandes ideias ou hipóteses, mas principalmente pela variedade de metodologias. Ao longo dos anos, os limites dos estudos feitos nesse campo foram sendo pontuados. Passou-se a reconhecer a complexidade dos processos comunicativos, assim como se deslocou o interesse para questões variadas sobre os meios de massa. 61Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research TC_U1_C04.indd 61 10/11/2017 15:20:54 Antes de você aprofundar seus conhecimentos sobre o início da Escola Norte-americana e algumas de suas tradições teóricas, é importante entender o contexto da época. Isso por dois motivos: (1) para que possa compreender os aspectos fundamentais dessa escola, que deu início à tradição do Mass Communication Research; e, desse modo, (2) para que possa fazer uma leitura panorâmica e crítica de algumas dessas pesquisas e/ ou teorias. Estas, por sua vez, tiveram destaque na maneira como as pessoas passaram a observar e a se relacionar com os MCM até os dias de hoje. O século XX: a difusão dos meios de comunicação de massa Segundo Defleur e Ball-Rokeach (1993), o século XX foi marcado pela criação e pela popularização de diversos meios de comunicação. Além do cinema, que passara a ser parte do divertimento familiar, o rádio e a televisão tornaram-se veí- culos domésticos em 1920 e 1940, respectivamente. Nos anos 1950, o rádio passou a integrar os automóveis. Na década de 1970, a televisão já havia se espalhado por todos os Estados Unidos. Nessa mesma época, novos veículos surgiram, tais como a TV a cabo e os gravadores de videocassete. Compreender esse contexto é importante pelo seguinte: a introdução desses tem, como explicam esses autores, impacto significativo na vida diária e no comportamento das pessoas. Ora, desde o surgimento dos MCM, houve muita controvérsia. Entraram em debate tanto seus impactos negativos – rebaixamento cultural e moral do público, aumento da taxa de delinquência, superficialidade política, supressão da criatividade, etc. – quanto os benefícios oferecidos às supostas “massas” – exposição da corrupção, fortalecimento da liberdade de expressão, difusão cultural mínima, divertimento para os trabalhadores, entre outros (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993). Tal polêmica em torno dos malefícios e/ou benefícios desses meios prevalece até os dias atuais, e há aqueles que optam por não assumir lado algum. Entretanto, há aqueles que verificam a necessidade e a importância de se elevar a discussão ao estatuto de “cientificidade”.Com esse intuito surgiu o estudo das comunicações de massa. O objetivo era o de, a partir das ciências sociais e dos seus processos quantitativos de análise de dados, compreender os impactos que esses veículos trazem à vida do homem comum. Desse modo, os mass media passaram a ter um papel cada vez mais signi- ficativo. Você consegue imaginar viver hoje sem televisão, cinema, internet Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research62 TC_U1_C04.indd 62 10/11/2017 15:20:54 e celular, por exemplo? Segundo Wolf (1999), esses meios constituem um importante setor industrial, um universo simbólico de consumo maciço, um investimento tecnológico em contínua expansão. Mas, além disso, configuram como um espaço de confronto ideológico, um sistema de intervenção cultural e agregação social, uma forma de lazer e de passar o tempo, etc. Os meios de massa são, assim, o cenário mais presente da experiência cotidiana. A palavra massa – usada nas expressões sociedade de massa, cultura de massa e comunicação de massa – faz referência a um sujeito coletivo. De acordo com Blumer (1978), a massa indica um aglomerado de pessoas que participam do que ele chama de “um comportamento de massa”. Assim, uma vez que a massa era caracterizada por um conjunto de indivíduos homogêneos e indiferenciados, esses indivíduos também teriam comportamento semelhante, mesmo que espontâneo, ou seja, um comportamento de massa. Ainda conforme Blumer (1978), a massa era constituída por um conjunto de características específicas. Era formada, por exemplo, por (BLUMER, 1978, p. 177-179): 1. indivíduos de quaisquer profissões e classes sociais, os quais apresentavam vocações, vinculações culturais e níveis de riqueza material também distintos; 2. indivíduos anônimos com pouca interação social; 3. indivíduos isolados ou separados fisicamente uns dos outros; 4. uma organização frágil, pois os indivíduos não dispunham da oportunidade de se misturar como os participantes de uma multidão. Desse modo, a massa não apresentava características de uma comunidade e/ou sociedade. Ou seja, era destituída da organização social de costumes, tradições, li- deranças, regras, status e papéis determinados, por exemplo. Ela era constituída por indivíduos de vários grupos e culturas. Estes, por não apresentarem uma visão dita “ordenada” sobre a vida, eram encarados como sujeitos alienados e desvinculados que enfrentavam objetos e áreas da vida difíceis de compreender. É importante que você perceba que os objetos vendidos pela propaganda respon- diam a necessidades específicas de cada indivíduo. Isso não os removia do aglomerado da massa. Cada um, dentro do aglomerado de indivíduos do qual fazia parte, interagia conforme os impulsos despertados pelo estímulo provocado pelo objeto. Logo, a massa só se assemelhava à multidão na medida em que não agia conforme regras ou expectativas preestabelecidas. Em outras palavras: paradoxalmente, o comportamento da massa se dava em linhas de ação individuais e não por um conjunto de regras e ações combinadas. Desse modo, inseguros e confusos em suas ações, os indivíduos da massa eram forçados a agir separadamente, por não poderem interagir, trocar experiências e se comunicar com os outros indivíduos (BLUMER, 1978). O termo massa foi bastante criticado. Não só por tratar o indivíduo como um sujeito passivo, mas também por remover a unicidade que cada um possui na vida em sociedade. Tal noção caiu por terra quando os pressupostos da Teoria da Agulha Hipodérmica começaram a ser questionados. 63Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research TC_U1_C04.indd 63 10/11/2017 15:20:54 A Escola Norte-americana A Escola Norte-americana é formada por um campo amplo e diverso de estu- dos e pesquisas na área da comunicação de massa. A amplitude e a diversidade de estudos presentes nessa escola se dão não só por causa da variedade de abordagens teóricas. Também decorrem da formação dos autores que fizeram parte dela: de sociólogos e antropólogos a matemáticos e engenheiros. Como boa parte das pesquisas era financiada por órgãos governamentais, empresas, agências de comunicação e institutos de pesquisa, estes prezavam mais pela dimensão política do que pela científica. Havia, assim, uma forte demanda do Estado, das Forças Armadas e, não menos importante, dos monopólios de comunicação. Eles queriam medir os efeitos dos meios de comunicação na audiência. Desse modo, as primeiras pesquisas tinham por objetivo estudar quais estímulos seriam necessários para convencer as pessoas a irem à guerra ou a comprarem produtos específicos. Entre as várias tradições que constituíram o início dos estudos de comu- nicação de massa da Escola Norte-americana, algumas se destacaram. Como exemplos, você pode considerar a Teoria da Agulha Hipodérmica, o Modelo de Laswell, o Fluxo da Comunicação em Dois Tempos e a Teoria Matemática da Comunicação. De início, é importante destacar que a Escola Norte-americana não foi caracterizada desde o seu surgimento pelo tom empírico proveniente das ciências sociais, observado na sua primeira teoria, a saber, a Hipodérmica. As principais investigações teóricas da Escola Norte-americana Teoria da Agulha Hipodérmica (1920 – 1930) A Teoria Hipodérmica é conhecida também como Teoria das Balas Mágicas, Teoria da Agulha Hipodérmica ou, ainda, Teoria da Correia de Trans- missão. Foi a primeira vertente da Escola Norte-americana de comunicação, que se popularizou a partir de 1920 (GUARALDO, 2007; WOLF, 1999). Numerosos teóricos trabalharam nela, entre eles Ortega e Gasset, além de Harold Laswell (WOLF, 1999). Os dois primeiros partiam da ideia de que a sociedade era constituída por uma massa de indivíduos supostamente “ho- mogêneos” – iguais, passivos e com respostas idêntica aos seus efeitos. Esses indivíduos também se encontrariam “atomizados”, ou seja, isolados física e psicologicamente pelos meios de comunicação (WOLF, 1999). Dessa forma, o conceito de sociedade de massa foi fundamental para a abordagem dos MCM. Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research64 TC_U1_C04.indd 64 10/11/2017 15:20:54 De um lado, havia o próprio fenômeno dos MCM, em larga difusão. De outro, as trágicas experiências totalitárias do período movido pelas grandes guerras. Essa vertente teórica foi pensada principalmente a partir dos efeitos da propaganda usada nas duas guerras mundiais, pois se atribuía caráter de oni- potência aos meios de comunicação Estes, ao atingirem o alvo (a audiência), teriam obtido o êxito desejado. O modelo de comunicação seguido por essa teoria era influenciado pelo trabalho de Pavlov (da psicologia comportamental) e pode ser descrito, de forma resumida, como o seguinte: Estímulo (E) → Resposta (R) Logo, influenciados pelas teorias da sociedade de massa e do Behaviorismo, os estudiosos dessa corrente teórica estavam centrados no indivíduo. Eles se dedicavam a avaliar os efeitos das mensagens sobre a audiência, principal- mente aqueles provocados pelas campanhas políticas e pela propaganda. Em outras palavras, há na Teoria Hipodérmica uma teoria psicológica da ação de caráter behaviorista. Entre os conceitos mobilizados por essa escola, está o de manipulação. Segundo ele, o público é manipulado porque não questiona as mensagens dos meios de comunicação e acredita que estes são onipoten- tes: “[...] se uma pessoa é ‘apanhada’ pela propaganda, pode ser controlada, manipulada, levada a agir [...]” (WOLF, 1999, p. 27). Acreditava-se, portanto, que as pessoas seriam facilmente manipuláveis. Afinal, elas reagiam de forma uniforme e não tinham vínculos sociais fortes o suficiente para bloquear a influência dos meios e de suas mensagens. 65Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research TC_U1_C04.indd 65 10/11/2017 15:20:54 A palavra behavior vem do inglês e significa comportamento. Conforme Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 45-46), dessa expressão deriva o termo Behaviorismo, cunhado em 1913pelo norte-americano Watson, no artigo “Psicologia: como os behavioristas a veem”. O Behaviorismo é também chamado de Comportamentalismo, Teoria Comportamental, Análise Experimental do Comportamento, entre outras formas. Ele inaugurou o estudo do comportamento humano a partir de métodos de experimentação e observação das ciências naturais e biológicas no campo da psicologia. A influência das ciências sociais nesse estudo era importante para a época. Os psicólogos procuravam investigar um objeto observável e mensurável, cujas expe- rimentações pudessem ser examinadas em diferentes condições e sujeitos. Com o objetivo de construir um campo de estudos livre de conceitos mentalistas, filosóficos e subjetivos, Watson, influenciado pela perspectiva funcionalista, propunha o estudo do comportamento a partir do meio. Ele acreditava que determinados estímulos levavam os organismos a dar respostas também específicas. Estas poderiam variar e se ajustar conforme o meio, a hereditariedade e a formação de hábitos. De maneira geral, o comportamento era entendido como a interação realizada entre indivíduo e ambiente (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002, p. 45-46). Além disso, essa vertente da psicologia buscava compreender como eram mol- dados os comportamentos a partir de padrões de recompensa e/ou punição. Estes eram gerados por atender ou não a um estímulo. Entre as principais experiências realizadas nesse campo durante o século XIX, se destaca o famoso “O pequeno Albert”. O experimento, realizado por Watson e Rayner em 1920, tinha por objetivo evidenciar a relação entre o estímulo empírico e o condicionamento de indivíduos (WATSON; RAYNER, 1920). O caráter polêmico e controverso desse experimento, além de sua fama, se deu em virtude de ter sido realizado em um bebê de apenas 11 meses. Além disso, o procedimento era uma das primeiras formas de se demonstrar como o medo poderia ser aprendido por meio do condicionamento E → R trabalhado por Pavlov em animais (BISACCIONI; CARVALHO NETO, 2010). Para mais informações, veja a revisão e a análise crítica que Bisaccioni e Carvalho Neto (2010) realizam sobre o método e a interpretação do experimento. Com o surgimento avassalador do estudo empírico, as crenças nessa teoria foram por água abaixo. As pesquisas dessa escola passaram a ser influen- ciadas pelo caráter empírico e quantitativo da investigação, bem como pelo pragmatismo. Este é caracterizado como um método filosófico que prioriza as observações práticas dos fenômenos. Além disso, defende que o sentido das proposições e das coisas está na sua efetiva utilidade (ABBAGNANO, 2007; PETRIN, c2017). A superação da Teoria Hipodérmica se deu a partir de estudos que surgiram com o objetivo de verificar a consistência e os efeitos da comunicação de massa. Havia, de um lado, a investigação situada no trabalho Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research66 TC_U1_C04.indd 66 10/11/2017 15:20:54 de campo, cuja abordagem era sociológica. De outro lado, existia a investigação em laboratório, cuja orientação era psicológica-experimental (WOLF, 1999). Tais estudos tiveram resultados distintos. O primeiro destacou que a eficácia da mensagem estava relacionada aos processos de interação social dos indivíduos (pesquisas administrativas ou convencionais; serviam aos propósitos daqueles que financiavam a pesquisa). O segundo, às características psicológicas dos destinatários (o ponto de vista do emissor era privilegiado, pois era preciso que a mensagem fosse eficaz conforme os efeitos pretendidos pelo emissor; campanhas publicitárias, eleitorais, informativas, etc.). Após o fim da II Guerra Mundial, a hipótese dessa teoria era cada vez mais invalidada, principalmente quando a mídia começou a divulgar que as propagandas serviram para fazer as pessoas acreditarem na necessidade de um conflito bélico e, desse modo, apoiarem o exército na guerra. Os estudos empíricos adquiriram importância na segunda metade do século XX, dando origem a uma variedade de modelos de comunicação. Modelo de Lasswell (1948) Como você viu no início deste texto, Harold Lasswell, que era um propagan- dista, é considerado um dos fundadores da Mass Communication Research. Em 1927, ele já havia publicado sua famosa obra sobre a análise da propaganda usada durante a I Guerra Mundial. Essas análises versavam sobre o conteúdo e tinham influência de procedimentos quantitativos, em especial do Beha- viorismo (GUARALDO, 2007; WOLF, 1999). Por volta dos anos 1930, época que é tida como o auge da Teoria da Agulha Hipodérmica, Lasswell elaborou um paradigma para análise sociopolítica. Esse paradigma era caracterizado pelas seguintes questões: quem? diz o quê? através de que canal? com que efeito? Conforme Wolf (1999), o ponto de vista de Lasswell enfatizava alguns princípios sobre o processo de comunicação já estudados por Aristóteles. É interessante você notar ainda que cada uma das perguntas corresponderia a um elemento que faz parte do processo da comunicação. Assim, cada uma dessas questões levaria o analista dos meios de comunicação a um tipo de pesquisa, como você pode observar no Quadro 1. 67Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research TC_U1_C04.indd 67 10/11/2017 15:20:55 Pergunta Elementos da comunicação Tipos de análise Quem? Emissor Análise do emissor Diz o quê? Mensagem Análise do conteúdo Através de que canal? Meio Análise do meio Com que efeito? Efeitos Análise dos efeitos Quadro 1. As perguntas de Lasswell. Wolf (1999) aponta algumas premissas que caracterizam o processo comu- nicativo tomado por Lasswell. Entre elas, você pode considerar as seguintes: 1. A comunicação é assimétrica. Isto é, é constituída por um emissor “ativo” que produz um estímulo para o destinatário, visto ainda como parte da massa passiva. O receptor reage ao receber tal estímulo; 2. A comunicação é intencional. Ela tem o objetivo de gerar um efeito passível de ser avaliado, pois esse efeito gera um comportamento. Este, por sua vez, pode estar relacionado a um determinado objetivo. Tal comportamento está ligado ao conteúdo da mensagem. Para alcançar os objetivos de manipulação dos emissores, deve-se buscar a análise do conteúdo da mensagem; 3. O emissor e o destinatário estão isolados; 4. Os efeitos dizem respeito a destinatários isolados e atomizados; 5. Os únicos efeitos pertinentes são os que podem ser observados, isto é, associados a uma mudança de atitude, comportamento ou ação. Esse esquema de Lasswell foi muito importante. Ele organizou os estu- dos da Mass Communication Research (WOLF, 1999). Ademais, deu início à superação dos pressupostos teóricos da Teoria da Agulha Hipodérmica. Apesar disso, segundo Wolf (1999), a Teoria das Balas Mágicas passou a ser invertida a partir do surgimento de três diretrizes distintas. São elas: (i) a marcada pela abordagem empírica psicológica-experimental, que estuda os fenômenos psicológicos individuais que constituem a comuni- cação; (ii) a do tipo psicológico-experimental e sociológica, dedicada a entender os fatores de mediação entre os indivíduos e os MCM; e (iii) a de Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research68 TC_U1_C04.indd 68 10/11/2017 15:20:55 tipo funcional, cujo estudo se volta para as relações entre os indivíduos, a sociedade e os MCM. Há ainda outro ponto a destacar no processo de superação da Teoria das Balas Mágicas. Assim como Lasswell, Lazarsfeld, Merton e outros cientis- tas sociais formaram a Mass Communication Research ou a Escola Norte- -americana. A esses pesquisadores, no entanto, também foi atribuído o título de funcionalistas. O Funcionalismo foi uma escola que teve forte influência do Positivismo, uma vez que a investigação se baseava no modelo empírico e experimental. Contudo, as pesquisas dessa escola são guiadas basicamente pelo modelo comunicativo de Lasswell. Conforme Wolf (1999), esse modelo ajudou a organizar variáveis e elementos que fazem parte do processo de comunicaçãoe podem ser estudados. Duas ressalvas devem ser feitas a esse paradigma. A primeira é que o receptor continua colocado em um plano “inferior” ao do emissor. Já a segunda é que a comunicação continua a ser vista dentro de um processo linear. A partir disso, não seria ousado afirmar que, mesmo diante do avanço teórico que o modelo de Lasswell deu ao campo da comunicação, talvez não tenha havido tanto avanço quanto à noção de sujeito tomada pela Teoria Hipodérmica, não é mesmo? Fluxo da Comunicação em Dois Tempos (1944) Esse modelo foi elaborado a partir de uma pesquisa conduzida por Lazarsfeld, Berelson e Gaudet. Essa pesquisa abordava a decisão de voto de eleitores na cidade de Erie County, no estado de Ohio (WOLF, 1999). Esse novo paradigma, em que surgiu o papel do líder de opinião, derruba o pressuposto teórico condutor da Teoria da Agulha Hipodérmica. Ou seja, fica de lado a ideia de que a mensagem dos MCM exerce influência direta e imediata na audiência. Como noção de destaque desse paradigma comunicacional, o líder de opinião é aquele que estabelece uma ligação ou ponte entre as mensagens dos meios de comunicação e os eleitores (GUARALDO, 2007). Talvez uma das conclusões mais interessantes dessa teoria seja a de que a influência da comunicação de massa não é tão poderosa como a Teoria da Agulha Hipodérmica havia preconizado. Com a entrada da figura do líder de opinião no processo de comunicação, os MCM passaram a ser analisados a partir de uma complexa rede de relações sociais. Estas influenciam as pessoas na tomada de decisão, apontando para a existência de outros elementos nesse processo (as interações entre os sujeitos que não estão isolados, mas unidos uns aos outros), os quais a Teoria Hipodérmica não considerou anteriormente (WOLF, 1999). 69Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research TC_U1_C04.indd 69 10/11/2017 15:20:55 A Teoria do Fluxo da Comunicação em Dois Tempos foi posteriormente revista por Lazarsfeld. Este sugeriu que a comunicação ocorre em vários tempos, no que chama de um multi-step (WOLF, 1999). Desse modo, o emissor e o receptor passam a não ser mais vistos como isolados e ancorados definitivamente no mesmo papel. Pelo contrário: finalmente, o emissor e o receptor são analisados como exercendo papeis de maneira recíproca. Ademais, esse pesquisador, ao se preocupar com os efeitos dos MCM e as relações dos indivíduos na sociedade, contribuiu também para superar a Teoria das Balas Mágicas. Teoria Matemática da Comunicação (1949) A Teoria Matemática da Comunicação, chamada também de Teoria da Infor- mação ou Modelo de Shannon e Weaver, surgiu em 1949. Ela foi proposta por Claude Shannon e Warren Weaver a partir dos seus trabalhos de engenharia nas telecomunicações (WOLF, 1999). Esses estudiosos trabalhavam em uma companhia telefônica de Nova York. Sua preocupação era transmitir o maior número de mensagens em um espaço curto de tempo e com taxa mínima de ruído. O sistema de comunicação era, assim, concebido como técnico, mecânico e instrumental. O foco do estudo desses pesquisadores era quantitativo. Isto é, buscavam medir a quantidade de informação que poderia ser enviada por um ca- nal (mecânico) sem distorção. A preocupação era evitar a distorção da mensagem e o aparecimento de ruídos que poderiam interferir na sua transmissão. Entre os conceitos mobilizados por essa teoria, destacam-se, a partir do que expõem Wolf (1999) e Guaraldo (2007): informação (é a probabilidade), entropia (é a tendência dos elementos de fugirem da ordem), código (é o que atua na produção da informação), ruído (é a interferência no canal que atrapalha a transmissão da informação) e redundância (é o elemento necessário para o entendimento). É importante que você saiba que a crítica à Teoria Matemática da Comunicação era de que ela seria mais apropriada para compreender a comunicação entre máquinas, e não entre humanos. Essa crítica, contudo, surgiu porque a teoria foi concebida para a engenharia de telecomunicações. Além disso, a comunicação continuava a ser vista aqui numa perspectiva linear, de um ponto a outro. Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research70 TC_U1_C04.indd 70 10/11/2017 15:20:55 Algumas considerações sobre os estudos dos MCM Antes de concluir essa etapa dos seus estudos, é importante atentar para alguns aspectos. Em primeiro lugar, cada uma das teorias que vimos foi importante para o desenvolvimento dos estudos na área da comunicação (de massa). Desse modo, suas conceituações e aplicabilidades têm influência até os dias atuais. Em segundo, você deve compreender e analisar essas vertentes teóricas conforme o contexto social, político, econômico e teórico de seu desenvolvimento, e não separadas do momento histórico do qual fizeram parte. Em terceiro, tais estudos partiram de pontos de vista diversos. Assim, você não deve encará-los com base numa polarização entre verdadeiro × falso, certo × errado. Não há verdades absolutas nem teorias supostamente “melhores” ou “piores”. O que existem são posicionamentos e conceituações teóricas que se mostram mais ou menos adequadas para se estudar as diferentes realidades. Em quarto lugar, os sistemas de comunicação de massa não funcionam da mesma forma em lugares distintos. Como explicam Defleur e Ball-Rokeach (1993), em diferentes estruturas políticas, sistemas econômicos e cenários histórico-culturais, a estrutura dos veículos pode assumir diferentes formas. Então, a produção, a distribuição e o consumo da mídia são significativamente influenciados pelas condições socioculturais. Você também precisa pensar sobre o papel dos sujeitos que fazem parte do processo de comunicação: embora as teorias que você estudou aqui os tomem como passivos, é necessário refletir sobre o seu caráter ativo e responsivo no processo de comunicação, caráter esse que é trazido à luz por meio dos trabalhos de análise do discurso e do campo da linguagem (CORDEIRO, 2011). 71Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research TC_U1_C04.indd 71 10/11/2017 15:20:55 1. Assinale a alternativa correta a respeito dos aspectos contextuais que marcaram o início dos estudos da Mass Communication Research. a) A maioria dos estudos da Escola Norte-americana de comunicação de massa era financiada por órgãos governamentais, agências de comunicação, empresas e indivíduos independentes. b) O conceito de sociedade de massa, o qual surge a partir dos estudos da Teoria da Agulha Hipodérmica, foi criado porque as pessoas eram vistas como iguais, sem relações sociais fortes e, portanto, alvos fáceis das mensagens dos MCM. c) O modelo norte-americano de comunicação criado por Harold Lasswell inovou os estudos na área de comunicação de massa por tratar o sujeito como ativo e responsivo. d) O termo massa significa um conjunto de indivíduos homogêneos que são atingidos homogeneamente pelas mensagens dos MCM. e) O Behaviorismo corresponde ao estudo do comportamento humano inaugurado pela psicologia mentalista de caráter filosófico. 2. A Teoria da Agulha Hipodérmica foi uma das primeiras teorias da Escola Norte-americana a estudar os efeitos e as influências dos meios de comunicação de massa na audiência. Com base no que você aprendeu sobre essa teoria, marque a alternativa correta. a) Também conhecida como Teoria das Balas Mágicas, essa teoria partia do pressuposto de que os meios de comunicação de massa, com exceção das propagandas, não manipulavam os membros da sociedade de massa. b) A Teoria da Agulha Hipodérmica tem esse nome porque os seus autores partiam do princípio de que as mensagens dos meios de comunicação de massa tinham efeito semelhante ao de uma “agulha de injeção”. Isto é, elas atacariam diretamente a mente de cada pessoa. c) A Teoria da Agulha Hipodérmica tinha por princípio que cada um é único e individual, e a mensagem atingiria as pessoas de forma direta. d) A Teoria da Agulha Hipodérmica ou Teoria das Balas Mágicas teve influênciados estudos guiados por Lasswell durante a I Guerra Mundial. Tal teoria se preocupava com os efeitos causados pela mensagem e com a relação entre os indivíduos. e) A Teoria da Agulha Hipodérmica vai ao encontro do que defende o Behaviorismo, isto é, que a atitude do homem é uma resposta ao estímulo exterior. 3. Qual é o significado do termo “massa”? Marque a alternativa correta. a) O termo “massa” indica um grupo de pessoas heterogêneas e diferenciadas socialmente. b) O termo “massa” constitui um grupo coletivo de sujeitos homogêneos que apresentam traços e vínculos sociais. Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research72 TC_U1_C04.indd 72 10/11/2017 15:20:55 c) O termo “massa” diz respeito a um sujeito coletivo, “grupal”, cujos indivíduos estão fisicamente próximos uns dos outros. d) O termo “massa” caracteriza um grupo de indivíduos homogêneos e indiferenciados, inseguros e destituídos de regras preestabelecidas sobre como agir. e) O termo “massa” caracteriza um grupo de indivíduos homogêneos e indiferenciados, os quais são guiados por regras preestabelecidas sobre como agir. 4. Observe a charge a seguir. A partir da leitura dela, qual das alternativas a seguir apresenta o conceito que explica corretamente o que Mafalda disse em: “Vamos, homem, não seja tímido! Só quero que meus pais e os leitores conheçam o responsável por ter me criado”? a) O conceito de comunicação do Modelo de Lasswell. b) O conceito de manipulação da Teoria da Agulha Hipodérmica. c) O conceito de reciprocidade do Fluxo de Comunicação em Dois Tempos. d) O conceito de entropia da Teoria Matemática da Comunicação. e) O conceito de redundância mobilizado pela Teoria Matemática da Comunicação. 5. O Behaviorismo influenciou os estudos iniciais da Mass Communication Research, em especial a Teoria da Agulha Hipodérmica. Marque a alternativa correta a respeito das duas principais características referentes ao Behaviorismo. a) Comportamento e subjetivismo. b) Mentalismo e subjetivismo. c) Ciências sociais e filosóficas. d) Comportamento e empirismo. e) Funcionalismo e mentalismo. 73Pesquisa em comunicação: Mass Communication Research TC_U1_C04.indd 73 10/11/2017 15:20:56 ABBAGNANO, N. Pragmatismo. In: ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 5. ed. 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