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1 Rafaela Fidelis – Psicopatologia Psicanalítica– Aula 01 - 1º Bimestre – 8º período Aula 01: O inconsciente, o sujeito e as estruturas Inconsciente: Para Freud, o inconsciente é o que tropeça, o que escapa, o que cambaleia e falha em todo mundo. “O eu não é o senhor em própria casa.” Freud Primeira Tópica: Texto: Cap. VII - A Interpretação dos Sonhos (1900) Inconsciente deixa de ser adjetivo e passa a ser substantivo. Freud, propõe a estruturação do aparelho psíquico (fig. 1), como sendo formado por sistemas. O conjunto desses sistemas tem um sentido, onde a atividade psíquica recebe estímulos (internos ou externos) e termina numa descarga motora. Assim, os dois sistemas são: o sistema de entrada que recebe o nome de perceptivo – Pept (tem a ver com percepção; órgãos dos sentidos) e um sistema de saída com nome de motor (gestos, falas, expressões). O sistema perceptivo é aquele que ficaria na extremidade sensória do aparelho psíquico (capta as informações do mundo externo). Já o sistema motor – M ficaria localizado na extremidade motora e que daria acesso à atividade motora (relacionado às respostas que o sujeito emite). Além dos dois sistemas – perceptivo e motor – Freud, propõe um terceiro, o sistema mnêmico (fig. 2). Para Freud, nosso aparelho psíquico seria composto de espécies de “armários, gavetas, compartimentos...” que armazenam certas informações deixadas pela percepção. Assim, nem tudo que entra, sai. Algo do que entra, fica retido no sistema mnêmico em pequenos compartimentos que Freud, para vias de explicação, denominou de “Mnem” – (traços de memória). Assim, conforme Garcia-Roza “um sistema Pept, situado na frente do aparelho psíquico, recebe os estímulos perceptivos, mas não os registra nem os associa, isso porque ele necessita ficar permanentemente aberto aos novos estímulos. Essas funções ficam então reservadas aos vários sistemas mnêmicos que recém as excitações do primeiro sistema e as transformam em traços permanentes.” Mas Freud ainda achava essa representação (fig. 2) insuficiente. Havia ainda uma instância que seria responsável por excluir da consciência a atividade de outra instância (Ucs – inconsistente). Essa instância estaria próxima do sistema motor, visto que essa tem maior relação com a consciência; que era a instância criticada (Pcs). Essa instância também é responsável pelas atividades voluntárias e conscientes. O sistema Ics só pode ter acesso à consciência através do sistema Pcs/Cs, sendo que nessa passagem seus conteúdos se submetem às exigências deste último sistema. Qualquer que seja o conteúdo do Ics, ele só poderá ser conhecido se transcrito – modificado ou distorcido – pela sintaxe do Pcs/Cs. “É no Ics que Freud localiza o impulso à formação dos sonhos. O desejo inconsciente liga-se a pensamentos oníricos pertencentes ao Pcs/Cs e procura uma forma de acesso à consciência graças à diminuição da censura durante o sono.” RAFAELA FIDELIS – PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA– AULA 01 - 1º BIMESTRE – 8º PERÍODO RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA Regressão: Enquanto na vigília o processo de excitação percorre normalmente o sentido progressivo, nos sonhos e nas alucinações a excitação percorre o caminho inverso, ou seja, caminha no sentido da extremidade sensória até atingir o sistema Pept, produzindo reinvestimento de imagens mnêmicas. Mas não é somente no sonho que se verifica a regressão; durante a vigília ocorrem fenômenos psíquicos normais nos quais verificamos um movimento retrogressivo do aparelho psíquico. Mas aqui, nunca se vai além das imagens mnêmicas. Condensação e deslocamento: O inconsciente é responsável por dois processos: condensação e deslocamento. A condensação se refere a algo compactado. As memórias no inconsciente são compactadas de modo que se liguem por alguma maneira semelhante. Ex: passar em frente a uma casa com cheiro de bolo recém feito e você pensa na sua infância, da casa da avó que fazia bolo também. Um cheiro atual de um lugar desconhecido desperta uma memória afetiva da infância. As memórias são condensadas a partir dos afetos das vivências e se desloca por algo da realidade. Nós temos memórias que são mais profundas, as quais não se tem acesso facilmente, são as memórias recalcadas (ficam no inconsciente). Já tem outras memórias que são acessadas mais facilmente, as memórias latentes (que estão às vias de se tornar conhecido – pré-consciente). Quando há um conteúdo indesejado da nossa consciência, que quando está “mexendo” com a gente, o inconsciente o coloca nas camadas mais profundas. O pré-consciente é aquele que atua como guardião do consciente, não deixando que esse conteúdo indesejado chegue à consciência e cause desconforto. Mas, esse conteúdo pode chegar na consciência de duas maneiras: ou disfarçado ou quando o pré-consciente (o guardião está distraído) diminui a vigília. Aqui, o pré-consciente diminui as exigências e esse conteúdo pode chegar à consciência. Assim, ele chega na forma de um sonho que pode soar estranho. (ex: matar o pai ou a mãe, deixando o namorado, etc.). O Inconsciente é constituído por representações da pulsão Representação: algo que não é aquilo que se está falando. Ex: a bandeira nacional representa um país. O nosso inconsciente é constituído por representações da pulsão. Mas primeiro é preciso entender o que é pulsão. A pulsão possui fonte, pressão, objetivo e objeto. Pulsão de autoconservação x pulsão sexual A primeira se refere à satisfação daquilo que nos mantém vivo, que é mais primitivo: exemplo de representações dessa pulsão: comer, beber, etc. A pulsão sexual, por sua vez, possui como meta apenas o prazer; ou seja, ela se desvia do instinto e possui objeto não determinado. Ex: a criança quando busca o seio da mãe quando está com fome, inicialmente o faz por necessidade biológica. Assim, quando faz o movimento de sucção no seio da mãe o objeto que ela busca é o leite materno para saciar sua fome. Porém, com o tempo, a criança percebe que o movimento de sucção lhe traz sensações prazerosas. Com isso, ela passa a buscar o seio da mãe por isso. Aqui, o que está em cena é a pulsão sexual. Nesse sentido, a pulsão sexual se apoia numa pulsão de autoconservação. E a partir disso, não existe mais pulsão de autoconservação exclusiva, ela vai sempre estar ligada à pulsão sexual. A princípio a criança busca se manter viva e nessa busca ela também quer prazer. A criança não sente prazer somente no seio da mãe, mas também no dedo, na chupeta, em RAFAELA FIDELIS – PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA– AULA 01 - 1º BIMESTRE – 8º PERÍODO RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA outros objetos. Com isso, depreende-se que a pulsão sexual não possui um objeto determinado como na pulsão de autoconservação (como no caso de buscar o seio da mãe em busca do leite para saciar a fome). A partir disso, a pulsão é mediada pela representação. Pulsão de vida x Pulsão de morte A primeira associa-se com a pulsão sexual; nos mantém ligada ao prazer, nos mantém ligada a alguma coisa. Já a pulsão de morte tem por exigência, a busca de se ligar a um estado anterior; provocando uma tendência a repetição de uma experiência prazerosa que leva ao inorgânico, onde não há vida. Aqui, a busca é sempre a um prazer originário (repetição em busca de prazer). Segunda tópica O aparelho psíquico é definido como multissistêmico, em três instâncias diferenciados: o isso, o eu e o supereu. Ao contrário da primeira tópica, em que o recalcamento originário instaurava uma cisão radical entre Ics e Cs, os sistemas do isso e do eu se interpenetram de tal forma, que o segundo se diferencia progressivamente a partir do primeiro, sob a influência do mundo externo.Lacan Lacan formula a hipótese do “inconsciente estruturado como linguagem”. O inconsciente é a soma dos efeitos da fala sobre um sujeito naquele nível em que o sujeito se constitui dos efeitos do significante. Lacan subverte a linguagem ao colocar a importância do significante em relação ao significado. Na psicanálise, o significante é mais importante que o significado. Recalcamento originário A noção de “recalcamento originário” constitutivo do inconsciente se explicita com base num processo metafórico. A metáfora – Nome do pai – é antes de tudo uma substituição significante: o significante do desejo da mãe (de Outro) é recalcado – passando pra baixo da barra da significação – em benefício de um significante novo: o significante Nome do pai. O pai real – seja ele o genitor ou não – é assim investido da função de pai simbólico, isto é, o Outro que prescreve a lei fálica que impõe à criança a castração simbólica, constituindo-a como sujeito. O que funda o sujeito do inconsciente: a operação simbólica, a metáfora do Nome do Pai tem valor de corte fundador do sujeito do inconsciente: o significante do desejo da mãe, proibido para sempre, persiste no estado do inconsciente, porque recalcado, mas insiste em se re-presentar compulsivamente, repetitivamente. Para exprimir seu desejo impossível e reiteirar sua demanda, o sujeito não tem mais outra saída, senão pendurar-se na cadeia metonímica do discurso.
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