Buscar

DIREITO CIVIL V

Prévia do material em texto

DIREITO CIVIL V - DIREITOS REAIS
prof.assima@doctum.edu.br
Professora: Ássima Casella 
1ª ETAPA
PROVA – 15 PONTOS (Questões objetivas sem consulta) / Posse: Roteiros 01 a 03
Datas: 28/09 
Trabalho – Condomínio e Vizinhança – Enviar roteiro
Datas: 28/09 
Valor: 15 pontos
Direito das Coisas/Reais
1) Direitos reais x direitos das coisas
A pessoa e as suas coisas (bem / propriedade)
- Terminologia divide a doutrina.
- Direito das coisas = Carlos Roberto Gonçalves, Tartuce, MHD, Washington de Barros, Silvio Rodrigues.
- Direitos reais = Rosenvald, Cristiano Chaves, Orlando Gomes, Venosa.
No CC/2002 = Direitos da coisa = Livro III 1196 ao 1224
Direitos reais = 1225/CC
Diferença entre posse e propriedade - 
- Para Tartuce, o Direito das Coisas é o ramo do Direito Civil que possui como conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou determináveis. Já os Direitos Reais seria o conjunto de categorias jurídicas relacionadas à propriedade, descrita inicialmente no artigo 1225/CC. Assim, os Direitos Reais são o conteúdo principal dos Direitos da Coisa, mas não o exclusivo.
*** Questão terminológica 
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, ambas as expressões possuem conceitos idênticos, tratando da mesma matéria.
2) Posse x Propriedade
- Conceito:
*** Propriedade: Faculdade de usar, gozar, dispor e reaver a coisa.
Nas palavras de Rosenvald e Cristiano Chaves, “a propriedade é um direito complexo, que se instrumentaliza pelo domínio, possibilitando ao seu titular o exercício de um feixe de atributos consubstanciados nas faculdades de usar, gozar, dispor e reivindicar a coisa que lhe serve de objeto”.
*** Posse: Um dos poderes inerentes à propriedade.
A definição de posse se extrai, conforme a tradição do direito brasileiro, a partir da noção de possuidor, a quem se confere a titularidade do exercício de fato de uma das faculdades inerentes à propriedade. (Gustavo Tepedino, Maria Celina e Heloisa Barbosa, Código Civil Interpretado)
Art. 1.228/CC O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. Ação reivindicatória – reaver a coisa 
a) Uso = habitar, permitir que 3° habite. 
b) Gozar ou fruir = obter benefício econômico da coisa. Percepção dos frutos. Ex.: Renda do aluguel 
c) Dispor = alienar, dar em garantia. Ex.: Hipoteca. 
d) Reaver = ações de defesa do seu direito de propriedade. Ex.: Ação reivindicatória.
Posse Art. 1.196/CC Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
- Os poderes da propriedade são: uso, gozo/fruição, livre disposição e reivindicação. No Brasil, possuidor é aquele que tem um dos poderes de propriedade, uso ou gozo.
Ex.: Art. 565/CC Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição.
*** A posse do bem locado se desdobra, ou seja, o locatário recebe a posse direta e o locador mantém a indireta. Isto justifica, por exemplo, a possibilidade de que ambos defendam a posse, em caso de ameaça, turbação ou esbulho por terceiros. (tentar destituir a posse) 
*** Desdobramento de posse - art. 1.197:
Possuidor direto – aquele que via de regra está no bem/ utilizando da coisa
Possuidor indireto – não utiliza da coisa – via de regra é o proprietário 
Art. 1.197/CC A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
***ATENÇÃO: tanto o possuidor direto quanto o indireto podem se valer igualmente da defesa da posse (podem defender a coisa da posse de terceiros). Mas o possuidor direto pode se defender contra o indireto? Enunciado 76 da Jornada:
76 – Art. 1.197: O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o indireto, e este, contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil).
Reintegração de posse – artigo 1210/CC – Ação possessória que atribui ao possessor o poder de reaver o bem. Ex: reaver o bem em contrato de comodato. 
3) Coisa?
Tudo aquilo que não é humano.
No Direito das Coisas, há uma relação de domínio pela pessoa (sujeito ativo) sobre a coisa.
Sujeito ativo
Coisa
Sujeito ativo _______________ Sujeito passivo
3.1) Objeto do estudo:
- Normas que regulam as relações jurídicas referentes à coisa susceptíveis de apreciação econômica. Direitos patrimoniais e disponíveis 
4) Características
- De acordo com Maria Helena Diniz:
a) Oponibilidade Erga Omnes (Princípio do Absolutismo);
O direito real é um direito absoluto; normas de ordem pública e estabelecem entre o sujeito ativo (pessoa) e uma coisa determinada (objeto) uma relação.
Sujeito (ativo)
Coisa
Esta relação obriga a sociedade (sujeito passivo) a abster-se de praticar qualquer ato contrário, qualquer violação a esta relação. 
Os direitos reais se exercem erga omnes, contra todos, que devem abster-se de molestar seu titular.
Efeito erga omnes
b) Direito de sequela; (Princípio da aderência)
O direito real acompanha sempre a coisa. De acordo com Orlando Gomes, “é como lepra ao corpo”. 
Ex: Hipoteca – direito real de garantia que recai sobre os bens moveis / usufruto 
Usufruto
Haverá o desdobramento da posse – art. 1197 /CC
Nu – proprietário = dispor / reaver – posse indireta 
Usufrutuário = Uso / gozo – posse direta 
O registo do direito real garante a publicidade eficácia perante terceiro. Com o registro o direito real segue o bem.
c) Direito de preferência a favor do titular de um direito real
Créditos pessoais = fiança - relação jurídica estabelecida entre pessoas – contratual 
Créditos reais:
hipoteca – imóvel 
penhor – móvel 
Ex: empréstimo em banco, onde se dá o imóvel como garantia (hipoteca)
Ex: empréstimo em banco, onde se dá um bem móvel como garantia (penhor)
Direito de preferência – tem como preferência real, sendo seguido pelo pessoal.
Art. 1.422/CC - O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de excutir a coisa hipotecada ou empenhada, e preferir, no pagamento, a outros credores, observada, quanto à hipoteca, a prioridade no registro.
Parágrafo único. Excetuam-se da regra estabelecida neste artigo as dívidas que, em virtude de outras leis, devam ser pagas precipuamente a quaisquer outros créditos.
d) Possibilidade de abandono, renúncia aos direitos reais;
Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade:
I - Por alienação;
II - Pela renúncia;
III - Por abandono;
IV - Por perecimento da coisa;
V - Por desapropriação.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis.
Uma categoria de diretos disponíveis 
e) Viabilidade de incorporação da coisa por meio da posse, de um domínio fático;
Exteriorização dos poderes de domínio 
f) Previsão de usucapião como meio de aquisição da propriedade;
Posse qualificada pelo tempo – prescrição aquisitiva – 1.238 / CC -15 anos
 Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
 Obs.: Atinge também outros direitos reais. – Servidão, usufruto, laje 
g) Suposta obediência a um rol taxativo (numerus clausus) de institutos, previstos em lei.
Art. 1.225/CC São direitos reais:
I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese.
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia
XII - a concessão de direito real de uso; e                    				
XIII - a laje.                         
O artigoacima mencionado traz os Direitos Reais. Discute-se aqui, se são numerus clausus, se há incidência do princípio do princípio da taxatividade.
Seria possível a existência de outros direitos reais além do previsto do dispositivo acima? 
Há, portanto, uma divergência doutrinária.
De acordo com Rosenvald os tipos de direito real são abertos, pois há espaço no qual a autonomia privada pode se manifestar, desde que não sejam criadas figuras atípicas, que não sejam previstas em lei. Certamente, o controle de legitimidade e merecimento da atuação conferida aos particulares para a modelagem de direitos reais será dado pela prevalência axiológica da Constituição Federal. 
De acordo com Tartuce, há uma influência da autonomia privada no Direito das Coisas, entendo o referido autor que o rol previsto no artigo 1.225/CC é exemplificativo. Em suas palavras, “... a vontade humana pode criar novos direitos reais”.
Doutrina contemporânea que entende que não há uma rigidez absoluta quanto aos institutos previstos no artigo 1.225/CC = Tartuce, Rosenvald, Cristiano Chaves. Posição minoritária.
Em sentido contrário: MHD, Orlando Gomes, Venosa e Caio Mário e Carlos Roberto Gonçalves.
h) Regência do Princípio da Publicidade dos Atos.
Os direitos previstos no artigo 1225/CC devem ser registrados para que ocorra o efeito erga omnes.
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.
Lei 6015/73 - artigo 167
5. Direitos reais x direitos pessoais
	Direitos reais 
	Direitos pessoais / obrigacionais 
	
- Relação jurídica entre uma pessoa e uma coisa. O sujeito passivo é a coletividade.
	
- A relação é formada entre uma pessoa (sujeito ativo) e outra (sujeito passivo).
	
- Os seus efeitos operam em face da coletividade (erga omnes).
	
- Os seus efeitos só atingem os sujeitos da relação jurídica (inter partes).
	
- São regidos, especialmente, pelo Princípio da publicidade. 
	
- São regidos pelo princípio da autonomia privada. 
	
- Rol taxativo 
	
- Rol exemplificativo (art.425 /CC)
	
- A coisa responde. Hipoteca, penhor 
	
- Os bens do devedor respondem. 
Princípio da responsabilidade patrimonial 
	
- Caráter permanente 
	
- Caráter transitório, em regra.
5.1) Obrigações propter rem:
- Também denominadas obrigações híbridas ou ambulatórias.
- Inicialmente, parecem se inserir no campo dos direitos obrigacionais. 
De acordo Rosenvald e Chaves, uma importante situação de imbricação entre direito real e obrigacional instala-se nome momento da formação das obrigações propter rem. Constituem uma figura peculiar, pois se inserem entre os direitos reais e obrigacionais, assimilado características de ambos.
Ex: IPTU / Taxa condominial 
5.2) Direitos obrigacionais com eficácia real
- São, de fato, obrigacionais, mas vinculam a coletividade, e por isso se aproximam dos direitos reais – mesmo que, diferentemente das obrigações propter rem, não estão vinculados a um direito real qualquer. São obrigacionais, mas ganham eficácia real, erga omnes, por força de lei, quando registrados (dependendo da publicidade, portanto). 
- Resultam de contratos e alcançam, por força de lei, a dimensão de direito real.
Obs.: Preempção ou prelação legal do direito de preferência
Lei 8245/91, art. 27. No caso de venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de direitos ou dação em pagamento, o locatário tem preferência para adquirir o imóvel locado, em igualdade de condições com terceiros, devendo o locador dar - lhe conhecimento do negócio mediante notificação judicial, extrajudicial ou outro meio de ciência inequívoca.
 Parágrafo único. A comunicação deverá conter todas as condições do negócio e, em especial, o preço, a forma de pagamento, a existência de ônus reais, bem como o local e horário em que pode ser examinada a documentação pertinente.
 Art. 28. O direito de preferência do locatário caducará se não manifestada, de maneira inequívoca, sua aceitação integral à proposta, no prazo de trinta dias.
Art. 33. O locatário preterido no seu direito de preferência poderá reclamar do alienante as perdas e danos ou, depositando o preço e demais despesas do ato de transferência, haver para si o imóvel locado, se o requerer no prazo de seis meses, a contar do registro do ato no cartório de imóveis, desde que o contrato de locação esteja averbado pelo menos trinta dias antes da alienação junto à matrícula do imóvel.
5.3) Ônus reais
- São outra figura intermediária: consistem nos gravames convencionais impostos sobre determinados bens, limitando seu nível de disponibilidade. 
Carlos Roberto Gonçalves afirma que “são obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade constituindo gravames ou direitos oponíveis erga omnes”. 
Maria Helena Diniz afirma que os ônus reais “são obrigações que limitam a fruição e a disposição da propriedade. Representam direitos sobre coisa alheia e prevalecem erga omnes”.
Ex.: Clausula de inalienabilidade
Posse
1) Posse
- Teorias da posse
1.1) Teoria subjetiva de Savigny e Teoria objetiva de Ihering (adotamos)
a) Teoria subjetiva
	Em 1803, Friedrich Carl von Savigny, escreveu seu tratado sobre a posse e propôs que deveria haver uma proteção jurídica nas situações onde houvesse o contado de uma pessoa com um bem.
	Conforme Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves, na concepção de Savigny, a posse seria o poder que a pessoa tem de dispor materialmente de uma coisa, com a intenção de tê-la para si e defende-la contra a intervenção de outrem.
A posse decorria da junção dos seguintes aspectos: 
- Corpus – ter a coisa a sua disposição
- Animus domini – intensão de ter a coisa para si 
* Crítica = Caso não ocorra o animus (ex.: Locatário = tem somente o corpus, não tem o animus domini = intenção de ter a coisa); como não será por esta teoria considerada possuidor, não fará jus à tutela possessória; seria considerado um mero detentor.
Detentor = tem relação com o bem, mas não é possuidor e nem proprietário
Fórmula da posse, para Savigny:
*** P (posse) = C (corpus) + A (Animus domini)
b) Teoria objetiva – NOSSO ORDENAMENTO
Meio século depois, surge outro autor, Rudolf von Ihering, propondo uma releitura da posse, de forma a ampliar a teoria subjetiva. 
Fórmula da posse, para Ihering:
P (posse) = C (corpus)
Corpus – Ter a coisa a sua disposição
*** O artigo 1.196/CC demonstra a adesão de nosso ordenamento à teoria objetiva da posse, de Ihering:
 “Art. 1.196/CC - Considera-se POSSUIDOR todo aquele que TEM DE FATO O EXERCÍCIO, PLENO OU NÃO, de algum dos poderes inerentes à propriedade.”
Obs.: Apesar de o CC/2002 adotar como regra a Teoria Objetiva, faz concessões à Teoria Subjetiva. Ex: Usucapião 
1.2.	Detenção
As teorias de Savigny e Ihenring mostram-se de extrema importância quando do estudo da figura do detentor. Assim para Savigny detentor, não era considerado possuidor face à ausência do animus domini. 
Para Ihering, a posse, ocorre quando há o corpus e a figura de detentor decorreria de lei, de opção legislativa.
Como adotamos a teoria objetiva de Ihering, temos 3 situações de detenção.
a) Fâmulo da posse/gestor da posse (art.1198/CC) Servidores da posse
Detenção dependente.
Art. 1.198. Considera-se DETENTOR aquele que, achando-se em RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA PARA COM OUTRO, conserva a posse em nome DESTE e em cumprimento de ORDENS ou INSTRUÇÕES suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário.
Ex.: Caseiro, motorista, vigia
Não tem legitimidade para ser parte em ações possessórias (artigo 1210/CC)
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa,ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§ 2º Não o basta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou outro direito sobre a coisa.
Ações possessórias = 
Interdito proibitório (ameaça)
Manutenção de posse (turbação)
Reintegração de posse (esbulho)
Ex.: Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8o.
Enunciado 493, V Jornada de Direito Civil:
 O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a AUTODEFESA do bem sob seu poder. 
Legitima defesa da posse (Auto tutela da posse, o detentor). Proporcional à agressão sofrida
- Enunciado 301, IV Jornada de Direito Civil:
É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios. 
Ex.: rompimento da relação trabalhista/subordinação e empregado permanece no bem. 
Art. 1.204/CC Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
b) Atos de permissão ou tolerância (art. 1208/CC)
Detenção interessada
Art. 1.208/CC Não induzem posse, os atos de mera permissão ou tolerância assim como NÃO autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
Desde que provisórios, não gera posse 
A provisoriedade é essencial para configurar a tolerância ou a permissão, mantendo a situação no campo da detenção, pois se a situação se consolidar, pode comutar-se em posse. 
Ex.: se um vizinho tolera que outro assuma a sua vaga de garagem uma, duas vezes, não há posse, havendo mera tolerância; 
Se o vizinho, porém, tolera que o outro pare em sua vaga por muito mais tempo – o que é casuístico –, pode estar presente à posse, e não a mera detenção.
c) Posse violenta e clandestina (art.1208/CC) – posses injustas, viciadas.
Detenção autônoma 
Art. 1.208/CC Não induzem posse, os atos de mera permissão ou tolerância assim como NÃO autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
Posse justa é aquela isenta de vícios, enquanto a posse injusta é aquela que foi adquirida viciosamente, por violência, clandestinidade ou de forma precária.
Aquisição por ato violento ou clandestino, não induz posse.
2.1) Posse justa e injusta – Vícios – Violência, clandestinidade e precariedade
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
- Justa é a posse cuja aquisição não decorre de lesão ao direito de propriedade, inexistindo nesta perspectiva, vício no momento de aquisição. (Gustavo Tepedino, Maria Celina e Heloisa Barbosa, CC/2002 Comentado).
- De acordo com Orlando Gomes, a posse injusta associa-se à lesão ao direito de propriedade; resta maculada desde a origem, por ter sua aquisição fundada em um dos três vícios possessórios: violência, clandestinidade e precariedade.
- Injustas:
- Violenta: ocorre quando a coisa é tomada pelo uso da força de seu possuidor legítimo, impedindo-o de exercer livremente o poder físico sobre a coisa.
- Clandestina: ocorre quando colhida de forma disfarçada, com astúcia, à revelia do possuidor legítimo. É adquirida sorrateiramente.
- Precária: aquela obtida por abuso de confiança, daquele que detém a coisa para devolução posterior, mas não o faz oportunamente, conservando-a consigo de maneira indevida.
****Os vícios da posse possuem caráter relativo. Os vícios da posse NÃO produzem efeitos erga omnes, só podendo ser alegados pelo possuidor ofendido contra o agressor; daí seu caráter relativo. (Gustavo Tepedino, Maria Celina e Heloisa Barbosa, Código Civil Interpretado)
Segundo VENOSA, a posse somente é viciada em relação a uma determinada pessoa, não tendo efeito, neste caso, erga omnes.
*** Convalidação dos vícios
Cessa se a violência e a clandestinidade e o ato passa à gerar posse.
Art. 1.208/CC Não induzem posse, os atos de mera permissão ou tolerância assim como NÃO autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves, a violência e a clandestinidade podem cessar. Enquanto não findam, existe apenas detenção. Cessados, surge a posse, porém injusta, em relação a quem a perdeu.
Cessada a violência e a clandestinidade, dar-se-á o início da posse. (Gustavo Tepedino, Maria Celina e Heloisa Barbosa, Código Civil Interpretado). Também neste sentindo, Maria Helena Diniz e Silvio Rodrigues.
Maria Helena Dinis = Posse pública, mais de ano e dia.
Inercia do proprietário/possuidor
Flávio Tartuce e José Fernando Simão entendem que a análise da cessação dos vícios, e possibilidade de convalidação ou não, dever ser feita à luz da função social da posse, diante de caso a caso.
Já Caio Mario aduz que a posse inicialmente injusta poderá se tornar justa, mediante a interferência de uma causa diversa. Aponta as seguintes situações: aquele de quem tomou pela violência comprar do esbulhado ou quem a possui clandestinamente herdar do desapossado.
*** Posse precária: convalida?
Inicialmente não, pois é uma posse justa que se torna injusta. 
Ex.: Imóvel objeto de contrato de comodato.
Enunciado 237 CJF
Art. 1.203: É cabível a modificação do título da posse – interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini.
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Reconhecida-usucapiao-extraordinaria-de-veiculo-furtado-apos-20-anos-de-uso-por-terceiro.aspx
TJRJ — APELAÇÃO 0091824-33.2003.8.19.0001 — j. 26/10/2010
Apelação Cível. Ação de usucapião. Pretensão deduzida por possuidores de mais de 20 anos, que afirmam ter ingressado no imóvel como locatários, mas logo passando a exercer a posse com animus domini. Proprietário cujo paradeiro se desconhece. Citação por edital. Posse comprovadamente exercida de forma mansa e pacífica. Inversão do caráter da posse. Existência de atos que, de forma inequívoca, indicam a mudança da qualidade da posse, originalmente precária, como a cessação do pagamento de 4 aluguéis, a realização de obras de conservação no bem e a quitação de débitos tributários de períodos pretéritos. Função social da posse. Desídia dos proprietários registrais exteriorizada pela ausência prolongada, que se extrai do insucesso das diligências realizadas pelo Juízo no intuito de localizá-los. Recurso ao qual se dá provimento para declarar os apelantes proprietários do imóvel descrito na inicial, consoante o artigo 1.238 do Código Civil.
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
Nas palavras de venosa, “a simples vontade do possuidor não tem o condão de modificar a natureza da posse. O que modificaria sua natureza seria ato material exteriorizado em outra relação de fato com a coisa.
2.2) Posse de boa-fé e de má-fé
O conceito de justiça ou injustiça da posse é eminentemente objetivo: basta constatar se há o vício ou não. O conceito de posse de boa ou má-fé, por seu turno, é essencialmente subjetivo, pautando-se pela mente do possuidor.
Art. 1.201/CC É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
De acordo com Silvio Rodrigues, o que distingue a posse de boa-fé da posse de má-fé é a posição psicológica do possuidor.Caso tenha o conhecimento do vício sua posse é de má-fé. Se ignora o vício que a macula, sua posse é de boa-fé.
A posse de má-fé é aquela em que o possuidor tem conhecimento dos seus vícios, ou pelo menos poderia e deveria ter tal ciência, e ainda assim não se demite da posse.
* Justo título
De acordo com Gustavo Tepedino, justo título constitui-se em documento hábil, em tese, à transmissão da propriedade a despeito de vício que o macula.
*** Presunção relativa
2.3) Posse direta e indireta
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, a Teoria adotada por Ihering, engloba a possibilidade de utilização econômica da coisa, o exercício de fato de alguns dos poderes inerentes à propriedade. Quem se comporta como se tivesse tais direitos sobre a coisa é possuidor dela, ainda que não a tenha sob sua dominação direta.
- Desdobramento da posse
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
“Enunciado 76, CJF – Art. 1.197: O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o indireto, e este, contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil).”
2.4) Posse ad interdicta e ad usucapionem
A posse ad interdicta é aquela que autoriza o possuidor a manejar os interditos possessórios, a proteger sua posse.
Ações possessórias = interdito proibitório (ameaça) 
			Manutenção de posse (turbação) 
			Reintegração de posse (esbulho)
Ações possessórias = interditos possessorios
A posse ad usucapionem é aquela que autoriza o possuidor a reclamar a propriedade do bem, por via da usucapião. A posse só será ad usucapionem se preencher determinados quesitos: deve ser contínua, ininterrupta, e deve ser mansa e pacífica, ou seja, inconteste, sem resistência oposta por outrem.
2.5) Posse nova e posse velha
Conforme Carlos Roberto Gonçalves, posse nova é a de menos de ano e dia. Já a posse velha é a de ano e dia ou mais. Esta classificação considera a idade da posse.
2.6) Posse natural e civil
- 1196/CC e art. 1228/CC 
CONSTITUTO POSSESSÓRIO. AÇÃO POSSESSÓRIA.
Toda posse é natural, pois toda a posse decorre de contato de físico, apreensão, assim, toda a posse é natural.
Posse civil=posse contratual
A Turma, entre outras questões, entendeu ser cabível o manejo de ação possessória pelo adquirente do imóvel cuja escritura pública de compra e venda continha cláusula constitutiva, já que o constituo possessório consiste em forma de aquisição da posse nos termos do art. 494, IV, do CC/1916. Na espécie, a recorrente (alienante do bem) alegou que o recorrido não poderia ter proposto a ação de reintegração na origem porque nunca teria exercido a posse do imóvel. Entretanto, segundo a Min. Relatora, o elemento corpus – necessário para a caracterização da posse – não exige a apreensão física do bem pelo possuidor; significa, isso sim, sua faculdade de dispor fisicamente da coisa. Salientou ainda que a posse se consubstancia na visibilidade do domínio, demonstrada a partir da prática de atos equivalentes aos de proprietário, dando destinação econômica ao bem. Assim, concluiu que a aquisição de um imóvel e sua não ocupação por curto espaço de tempo após ser lavrada a escritura com a declaração de imediata tradição – in casu, um mês – não desnatura a figura de possuidor do adquirente. Precedente citado: REsp 143.707-RJ, DJ 2/3/1998. REsp 1.158.992-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/4/2011.
Composse
01) Composse
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.
Conceito:
De acordo com Cristino Chaves, composse é o exercício simultâneo da posse por duas ou mais pessoas e com a mesma natureza.
Também denominada: compossessão ou posse em comum.
De acordo com MHD, para configurar a composse são necessários dois pressupostos:
** Pluralidade de sujeitos;
** Coisa indivisa ou em estado de indivisão.
Obs.: A composse não se confunde com o desdobramento da posse
De acordo com Orlando Gomes, no desdobramento os graus da posse são diversos, pois um dos possuidores fica privado da utilização imediata da coisa. Na composse todos podem utilizá-la diretamente, desde que uns não excluam os outros.
Art. 73/CPC O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.
§ 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I - Que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens;
§2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado.
*** De acordo com o artigo 1.199/CC = qualquer um dos possuidores poderá fazer uso das ações possessórias, no caso de atentado praticado por terceiro. É possível também a utilização de autotutela
STJ: A composse existe nas relações concubinárias ou na união estável e se caracteriza não só pela relação matrimonial ou declaração conjunta do bem, mas pelo exercício efetivo e concomitante da posse pelos possuidores.
** Efeito jurídico processual da composse
Ações reais = necessário a participação de ambos os cônjuges
Ações possessórias não é necessário, salvo se ocorrer o exercício de composse por ambos os cônjuges.
2) Efeitos da posse:
a) Percepção de frutos
b) Responsabilidade civil
c) Indenização de benfeitorias
d) Direito de retenção
Obs.: Também considera um dos efeitos da posse a usucapião.
a) Direito aos frutos percebidos
Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem.
Bem principal
Bens acessórios = frutos, produtos, benfeitorias e pertenças.
Acessório segue o principal.
*** Caio Mário = a percepção dos frutos pelo possuidor de boa-fé, configura efeitos da posse mitigando a regra de que os frutos pertencem ao proprietário.
De acordo com Rosenvald e Cristiano Chaves, no momento em que cessa a boa-fé, o possuidor tem direito aos frutos obtidos e separados tempestivamente, abrangendo-se aí tanto os colhidos, como os percebidos. Já o possuidor não faz jus aos frutos pendentes ao tempo da cessação da boa-fé.
Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.
- Possuidor de má-fé = art. 1216/CC
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.
*** Produtos
- Tartuce entende, seguindo o entendimento de Orlando Gomes que não é possível sua aplicação aos efeitos dos frutos. Para Tartuce, a questão envolvendo os produtos deverá ser resolvida com as regras que vedam o enriquecimento sem causa. Neste sentido, MHD.
Em sentido contrário: Rosenvald e Cristiano Chaves.
Evitar o enriquecimento indevido.
b) Responsabilidade civil do possuidor
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa.
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.
O legislador presume a responsabilidade, cabendo ao possuidor provar que o dano sobreviria mesmo que a coisa estivesse na posse do reividicante, rompendo a causalidade entre o exercício possessório e o evento danoso, visando evitar o enriquecimento sem causa. (Gustavo Tepedino, Maria Celina e Heloisa Barbosa, Código Civil Interpretado)
c) Direito às benfeitorias
Benfeitorias:
Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.
§ 1 o  São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitualdo bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
§ 2 o  São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
§ 3 o  São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.
** Classifica-se a benfeitoria de acordo com a utilidade que prestam ao bem principal.
Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.
Acessão: incorporação, união física com o aumento do volume da coisa.
- Bens por acessão natural: acréscimos naturais, sendo considerados modos de aquisição da propriedade.
- O entendimento jurisprudencial consolidado é de que há o direito à indenização pelas acessões, assim como, é possível o exercício do direito de retenção.
TJMG: CONSTRUÇÃO. ACESSÃO EM TERRENO DE PROPRIEDADE ALHEIA. ART. 1255 DO CÓDIGO CIVIL/ ART. 547 DO CÓDIGO CIVIL REVOGADO- BOA FÉ- INDENIZAÇÃO. VALOR DA EDIFICAÇÃO À DATA DA DESOCUPAÇÃO. Aquele que procedendo de boa-fé edifica em terreno alheio, malgrado, via de regra, perca o que construiu em proveito do proprietário, tem direito, por força do art. 1255 do Código Civil vigente/ art. 547 do Código Civil revogado, à indenização correspondente ao valor das acessões realizadas na data em que cessa o exercício de sua posse sobre a coisa.
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
*** Consequências:
a) o possuidor de boa-fé tem direito à indenização por benfeitorias necessárias e úteis.
b) o possuidor de boa-fé não indenizado, tem direito à retenção dessas benfeitorias (úteis e necessárias) - ius retentiones.
c) o possuidor de boa-fé tem direito ao levantamento das benfeitorias voluptuárias, se não forem pagas, desde que não cause prejuízo à coisa. - ius tollendi.
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
a) O possuidor de má-fé não tem direito de retenção ou de levantamento. A lei garante, somente, indenização ao possuidor de má-fé tão só pelas benfeitorias necessárias realizadas na coisa.
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.
d) Direito de retenção
- Ius retentionis
- Medida de defesa do possuidor de boa-fé.
De acordo Venosa, o direito de retenção do possuidor de boa-fé é modalidade de garantia de pagamento da obrigação.
Nas palavras de Orlando Gomes, o direito de retenção constitui um dos modos de defesa ou tutela de certos direitos, dos mais enérgicos, porque, embora não seja forma de fazer justiça com as próprias mãos, assegura a conservação do bem alheio a quem é credor de dívida relativa a esse bem.
Enunciado 81, I Jornada de Direito Civil
Art. 1.219: O direito de retenção previsto no art. 1.219 do Código Civil, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
DIREITO. RETENÇÃO. BENFEITORIAS. ALUGUEL.
Os recorridos adquiriram de boa-fé o terreno em questão. Nele construíram sua residência. No entanto, o recorrente ajuizou contra eles ação reivindicatória, resolvida pela celebração de transação (homologada por sentença), a qual regulava o direito de retenção: os recorridos obrigavam-se a entregar o imóvel após serem indenizados pelas benfeitorias construídas (art. 516 do CC/1916). Não se estipulou, na oportunidade, qualquer valor a título de aluguel pelo tempo que durasse a retenção. Arbitrado judicialmente o valor das benfeitorias (R$ 31.000,00), o recorrente alegou não ter como ressarci-las por falta de condições econômicas para tanto. Permaneceram os recorridos na posse e uso do imóvel. Contudo, a doutrina admite que, apesar de não ser obrigado a devolver a coisa até que se satisfaça seu crédito, o retentor não pode utilizar-se dela. Assim, é justo que o recorrente deva pagar pelas acessões introduzidas de boa-fé, mas também que os recorridos sejam obrigados a indenizá-lo pelo uso do imóvel (valor mensal a ser arbitrado em liquidação, devido desde a data da citação). A jurisprudência deste Superior Tribunal já admite semelhante solução na hipótese relacionada com a separação ou o divórcio, enquanto um cônjuge permanece residindo no imóvel do outro. Por fim, os créditos recíprocos deverão ser compensados de forma que o direito de retenção seja exercido no limite do proveito que os recorridos têm com o uso da propriedade alheia. Anote-se que a retenção não é um direito absoluto ou ilimitado sobre a coisa, mas mera retentio temporalis: os princípios da vedação ao enriquecimento sem causa e da boa-fé objetiva, ao mesmo tempo em que impõem ao retentor o dever de não usar a coisa, determinam que a retenção não se estenda por prazo interminável. Com esse entendimento, a Turma, por maioria, deu provimento ao recurso. Precedentes citados: REsp 673.118-RS, DJ 6/12/2004, e REsp 23.028-SP, DJ 17/12/1992. REsp 613.387-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/10/2008.
“DIREITO CIVIL. POSSIBILIDADE DE O DEPOSITÁRIO JUDICIAL EXERCER DIREITO DE RETENÇÃO.
O particular que aceita exercer o múnus público de depositário judicial tem o direito de reter o depósito até que sejam ressarcidas as despesas com armazenagem e conservação do bem guardado e pagos os seus honorários.” (STJ, Ac. 3ª T., REsp 1.300.584/MT, rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 3.3.16, DJe 9.3.16)
Obs.: Contrato de locação
Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção.
Art. 36. As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a substância do imóvel.
Súmula 335/STJ
Contratos de Locação - Cláusula de Renúncia à Indenização - Benfeitorias e Direito de Retenção:
- Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção.
- Contrato de adesão:
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
TJMG: CONSTRUÇÃO. ACESSÃO EM TERRENO DE PROPRIEDADE ALHEIA. ART. 1255 DO CÓDIGO CIVIL/ ART. 547 DO CÓDIGO CIVIL REVOGADO- BOA FÉ- INDENIZAÇÃO. VALOR DA EDIFICAÇÃO À DATA DA DESOCUPAÇÃO. -Aquele que procedendo de boa-fé edifica em terreno alheio, malgrado, via de regra, perca o que construiu em proveito do proprietário, tem direito, por força do art. 1255 do Código Civil vigente/ art. 547 do Código Civil revogado, à indenização correspondente ao valor das acessões realizadas na data em que cessa o exercício de sua posse sobre a coisa.
Enunciado 81, I Jornada de Direito Civil
Art. 1.219: O direito de retenção previsto no art. 1.219 do Código Civil, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.
3. Aquisição e perda da posse
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
É possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de atributos da propriedade. Por isso, o modo deaquisição da posse é considerado cláusula aberta, pois todo aquele demonstra a exteriorização do domínio é possuidor.
Nas palavras de Clóvis Beviláqua “... se a posse é um estado de fato, correspondente ao exercício da propriedade ou de seus desmembramentos, sempre que esta situação se definir, nas relações jurídicas, haverá posse”.
Há posse no momento em que se possibilita o exercício em nome próprio de qualquer das faculdades inerentes ao domínio. Se tal exercício se dá em nome alheio, há detenção. (Gustavo Tepedino, Maria Celina e Heloisa Barbosa, CC/2002 Comentado)
3.1) Posse originária e derivada
Segundo MHD, há formas de aquisição originária da posse (contato direto entre a pessoa e a coisa) e formas de aquisição derivadas (intermediação pessoal).
a) Posse originária
De acordo com Orlando Gomes a posse originária ocorre quando NÃO há consentimento do possuidor precedente.
Ex: Usucapião, desapropriação 
Conforme Carlos Roberto Gonçalves, na aquisição originária, os vícios da posse desaparecem, pois não há uma relação negocial com o possuidor originário. Neste sentindo, Rosenvald e Cristiano Chaves. 
b) Posse derivada
** Modos de aquisição derivados: tradição, sucessão causa mortis e Inter vivos
Nas palavras de Silvio Venosa, “é importante essa distinção em posse originária e derivada. Quando a aquisição é originária, não havendo vínculos com o possuidor anterior, a posse apresenta-se despida de vícios para o novo possuidor. Se o possuidor recebeu a posse de outrem, derivada portanto, as mesmas características lhe são transferidas, ou seja, com os vícios e virtudes anteriores” 
*** Na posse originária como não há vínculos com o possuidor anterior, a posse apresenta-se despida de vícios para o novo possuidor. 
Já na posse derivada, como o possuidor recebeu a posse de outrem, as mesmas características lhe são transferidas.
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
Obs.: A posse de bens móveis se transmite pela tradição, tal como a propriedade. No bem imóvel, a propriedade depende do registro para se transmitir, mas não a posse: está se passa com a mera tradição, tal como nos bens móveis.
3.2) Tradição 
Enunciado 77 I Jornada de Direito Civil do CJF:
Enunciado 77, CJF – Art. 1.205: A posse das coisas móveis e imóveis também pode ser transmitida pelo constituto possessório.”
CONSTITUTO POSSESSÓRIO. AÇÃO POSSESSÓRIA.
A Turma, entre outras questões, entendeu ser cabível o manejo de ação possessória pelo adquirente do imóvel cuja escritura pública de compra e venda continha cláusula constituti, já que o constituto possessório consiste em forma de aquisição da posse nos termos do art. 494, IV, do CC/1916. Na espécie, a recorrente (alienante do bem) alegou que o recorrido não poderia ter proposto a ação de reintegração na origem porque nunca teria exercido a posse do imóvel. Entretanto, segundo a Min. Relatora, o elemento corpus – necessário para a caracterização da posse – não exige a apreensão física do bem pelo possuidor; significa, isso sim, sua faculdade de dispor fisicamente da coisa. Salientou ainda que a posse consubstancia-se na visibilidade do domínio, demonstrada a partir da prática de atos equivalentes aos de proprietário, dando destinação econômica ao bem. Assim, concluiu que a aquisição de um imóvel e sua não ocupação por curto espaço de tempo após ser lavrada a escritura com a declaração de imediata tradição – in casu, um mês – não desnatura a figura de possuidor do adquirente. Precedente citado: REsp 143.707-RJ, DJ 2/3/1998. REsp 1.158.992-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/4/2011.
É cabível ação de reintegração de posse fundada exclusivamente no constituto possessório
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou recurso de uma antiga proprietária de imóvel em Uberlândia, Minas Gerais, que contestava ação de reintegração de posse movida pelo novo dono contra ela. Os ministros mantiveram decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que reconheceu ser possível tal tipo de ação estar fundada exclusivamente no constituto possessório constante em escritura pública regular de compra e venda.
Na ação de reintegração de posse ajuizada, o homem alegou que adquiriu, por escritura, o imóvel vendido pela ré por intermédio de seu procurador. Disse que a posse do bem, que se encontrava desocupado, foi transferida no ato da escritura. Entretanto, pouco mais de um mês depois da compra, a antiga proprietária reocupou o imóvel, contratando faxineiras para limpá-lo e trocando as chaves para impedir que ele entrasse.
Em resposta, a mulher sustentou que o autor jamais havia tomado posse do imóvel; que havia conexão entre a ação de reintegração de posse e a ação anulatória proposta perante a 10ª Vara Cível de Uberlândia; e que havia comunicado ao seu antigo procurador que não pretendia vender o bem, cujo preço sequer teria recebido.
Instâncias anteriores
O juízo de primeira instância julgou o pedido improcedente sob o fundamento de que, apesar da transferência da propriedade, o autor nunca teria exercido a posse do imóvel, sendo o constituto possessório insuficiente para esse fim.
Em sede de apelação, o TJMG entendeu que a aquisição da posse também se dá pela cláusula “constituti” inserida em escritura pública de compra e venda de imóvel. O tribunal mineiro concluiu que a reintegração de posse deveria ser concedida, pois, no caso, estava demonstrado que o homem recebeu a posse pelo constituto possessório, bem como a perdeu de modo injusto.
A antiga proprietária interpôs, então, recurso especial, afirmando que o TJMG não teria considerado o fato de ter sido proferida sentença de procedência na ação anulatória de escritura de compra e venda. A mulher argumentou que a posse do imóvel jamais teria sido transmitida ao homem, o que tornaria impossível o acolhimento da ação possessória. Alegou, ainda, que o comprador teria promovido uma modificação indevida na causa de pedir da ação após ter o pedido contestado, violando os artigos 183 e 282, inciso III do Código de Processo Civil (CPC).
Voto
A relatora, ministra Nancy Andrighi, observou que “a norma que determina a impossibilidade de modificação do pedido ou da causa de pedir após a citação é o artigo 264 do CPC que, não abordada no recurso especial, impede o conhecimento da matéria. Incide, neste ponto, o óbice da Súmula 284/STF.”
A ministra afastou a alegação de que o TJMG deixou de considerar a sentença da ação anulatória, visto que o acórdão é de 13 de dezembro de 2006, enquanto a sentença data de 21 de março de 2007. “Ela, portanto, não poderia ter sido levada em consideração no julgamento”, completou.
Quanto ao argumento de que o comprador não poderia ter proposto a ação possessória, a relatora citou precedente da Terceira Turma, o Recurso Especial 842.559, de relatoria do ministro Sidnei Beneti, que concluiu que a compra e venda de imóvel só seria, em tese, suficiente para transmitir a posse deste se houvesse uma cláusula “constituti” no contrato.
No processo em análise, o TJMG reconheceu expressamente a existência da cláusula. Como a revisão não é possível em sede de recurso especial por força da Súmula 5/STJ, a ministra Nancy Andrighi concluiu que a eficácia do constituto possessório deve ser considerada suficiente à caracterização da posse.
“Não bastassem esses fundamentos”, continuou a ministra, “o acórdão recorrido ainda poderia ser mantido por outro”. Na análise do recurso especial, a relatora verificou que as contestações da mulher consideram inválido o negócio jurídico pelo qual o imóvel foi vendido. Portanto, sua oposição à posse do comprador está claramente fundada no domínio do bem – o qual ela afirma ainda ser titular.
“Sendo com base no domínio que se disputa a posse do imóvel, não é possível, consoante a regra do artigo 505 do CPC somada à interpretação que lhe deu a Súmula 487/STF, julgá-la em favor de quem evidentemente não o tem”, entendeu a ministra Nancy Andrighi. No caso, como a validade do contrato foi confirmada pelo Tribunal mineiro, o domíniodo imóvel pertence ao comprador, de modo que o acórdão do TJMG deve ser mantido. A decisão foi unânime.
3.3) União de posses
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.
O herdeiro é sucessor a título universal; recebe patrimônio ou quota-parte de patrimônio. Já o legatário é sucessor a título singular; recebe coisa certa e determinada;
O herdeiro é figura comum à sucessão legítima e à testamentária, enquanto o legatário é peculiar à testamentária.
A sucessão de posses ou sucessio possessionis consiste na transferência da posse aos herdeiros e legatários, com os mesmos caracteres. 
Rosenvald e Cristiano Chaves aduzem o seguinte: trata-se de modo derivado de titularização da posse, pois diante do princípio da saisine, não se pode destacar a nova posse da antiga. A mutação subjetiva da titularidade da posse não afeta as suas qualidades. Isto é, se a posse do de cujus era injusta ou de má-fé, conservam-se nos herdeiros o vício objetivo e subjetivo que balizam a sua natureza.
Agravo de Instrumento AI 14062858720188120000 MS 1406285-87.2018.8.12.0000 (TJ-MS)
Jurisprudência 06/02/2019 Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul
Ementa: E M E N T A – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE INVENTÁRIO – IMÓVEL – DECISÃO QUE SUSPENDEU OS AUTOS PARA REGULARIZAÇÃO DO REGISTRO IMOBILIÁRIO – INVENTÁRIO DOS DIREITOSPOSSESSÓRIOS SOBRE O IMÓVEL – POSSIBILIDADE – RECURSO PROVIDO. 1. O processo de inventário tem por objetivo a entrega dos bens herdados aos seus titulares, fazendo-os ingressar efetivamente no patrimônio individual dos herdeiros. 2. Tratando-se de bem imóvel, a propriedade é comprovada pelo registro imobiliário, a teor do disposto nos artigos 1.245 e 1.246 do Código Civil. Contudo, o art. 1.206 do CCB dispõe que a posse se transmite aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres. 3. O objeto do inventário é a herança do extinto, a qual se constitui no conjunto de bens, direitos e obrigações que compunham o patrimônio do falecido, que sejam economicamente avaliáveis. 4. Embora os autores da herança não detenham a propriedade do imóvel perante o Registro Imobiliário, cabível a partilha dos eventuais direitos e ações que os falecidos possuíam sobre o bem, a teor do art. 620, inc. IV, alínea g, do CPC, cabendo a sua partilha em inventário.
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.
Acessão na posse (Orlando Gomes)
a) Sucessão: ocorre na união universal
b) União: ocorre na sucessão singular
Enunciado V Jornada de Direito Civil
494 – A faculdade conferida ao sucessor singular de somar ou não o tempo da posse de seu antecessor não significa que, ao optar por nova contagem, estará livre do vício objetivo que maculava a posse anterior.
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:
I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;
II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. De acordo com Tartuce, a posse pode ser adquirida pelo próprio sujeito que a apreende, desde que capaz; por seu representante legal ou convencional; ou até por terceiro que não tenha mandato, desde que haja confirmação posterior, com efeitos ex tunc.
Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem. (Princípio da gravitação jurídica)
*** Presunção relativa 
2) Perda da posse
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.
3)Defesa da posse: os interditos possessórios. As ações possessórias típicas e atípicas. 
3.1) A legítima defesa da posse. 
	A posse conta com tutela específica, completamente independente da propriedade. Dentre os inúmeros efeitos da posse – indenização por benfeitorias, direito de retenção, usucapião - a proteção que a posse merece é, sem dúvida, o seu efeito mais relevante. Os meios de proteção típicos da posse, como os interditos possessórios, e até mesmo a autotutela, conferem ao seu titular uma defesa desatrelada da propriedade.
Nas palavras de Flavio Tartuce, “a legítima defesa da posse e o desforço imediato constituem formas de autotutela, autodefesa ou defesa direta, independemente de ação judicial, cabíveis ao possuidor direto ou indireto contra as agressões de terceiro. Nos casos de ameaça e turbação, em que o atentado à posse não foi definitivo, cabe legítima defesa. Havendo esbulho, a medida cabível é o desforço imediato, visando à retomada do bem esbulhado”.
“Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1° O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força (é possível a ajuda de 3°), contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§ 2° Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.”
- O legislador apresenta as três ações possessórias típicas, os três interditos possessórios: a manutenção de posse, a reintegração de posse e o interdito proibitório, e no § 1°, consta a autotutela. 
***Autotutela possessória
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1 o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§ 2 o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
- A autotutela é um modo excepcional de solução de conflitos.
- A legítima defesa e o desforço imediato são as duas únicas medidas que o possuidor está legitimado a adotar para recuperar (reintegração; esbulho) ou manter a posse agredida (manutenção; turbação)
- De acordo com o art. 1210, § 1°/CC, a legítima defesa da posse consiste na reação a uma turbação, pois a agressão apenas incomoda a posse, não sendo neste caso, o possuidor privado de sua posse. Já o desforço imediato é dirigido ao esbulho consumado, implicando defesa imediata à injusta perda da posse do autor.
Requisitos:
a) Titular da posse, mesmo que em nome de outrem. 
Enunciado 493 V Jornada de Direito Civil: “O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder”.
b) Imediatidade
Enunciado 495/ V Jornada de Direito Civil: No desforço possessório, a expressão “contanto que o faça logo” deve ser entendida restritivamente, apenas como a reação imediata ao fato do esbulho ou da turbação, cabendo ao possuidor recorrer à via jurisdicional nas demais hipóteses.
c) Proporcionalidade
- Segundo Gustavo Tepedino, o desforço pessoal apenas se mostra legítimo se exercido imediatamente (incontinenti) e de maneira proporcional à agressão. Desta forma, exige-se, em primeiro lugar, que a reação seja imediata à agressão sofrida, sob pena de constituir exercício arbitrário das próprias razões.
Nas palavras de Rogério Sanches, sempre que o proprietário reivindicar por suas próprias mãos a posse que lhe pertence, fora dos casos em que a lei civil autoriza essa recuperação, pode ele incidir nas penas do crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345/CP)
d) Agressão injusta à posse
Obs2.: As medidas de autotutela encontram-se limitadas ao exercício regular desse direito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ousocial, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Enunciado 37 I Jornada de Direito Civil – Art. 187: A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.
4. As ações possessórias típicas/Interditos possessórios
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§ 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
a) Manutenção de posse (art.561/CPC e seguintes)
Turbação = todo ato que embaraça o livre exercício da posse. É ofensa menor que o esbulho, pois não tolhe por inteiro o exercício da posse pelo possuidor.
A turbação é uma ofensa menor ao direito de posse. Consiste em um esbulho parcial no qual o possuidor perde somente parte da posse de um bem, sem que haja perda de contato com o bem turbado.
Exemplo: João leva seus cavalos todos os dias para pastar na fazenda que é de propriedade de Jorge.
b) Reintegração de posse
Esbulho = consiste no ato pelo qual o possuidor se vê privado da posse mediante violência, clandestinidade ou abuso de confiança. Acarreta a perda da posse contra a vontade do possuidor.
O esbulho (ou esbulho possessório) consiste na privação total da posse de um bem. Através dele o possuidor perde todo o contato com o bem esbulhado. Também é chamado de esbulho violento, quando a ofensa envolve medidas que impossibilitam o possuidor de reaver o bem.
Exemplo: João invade a fazenda de Jorge e cerca a propriedade, impossibilitando o dono de acessar o local.
A ameaça é apenas a iminência de um esbulho ou turbação. Não é, portanto, uma ofensa concretizada, mas somente um receio justificado de ter o direito de posse violado.
Exemplo: Manifestantes se reúnem na frente de um prédio público e ameaçam ocupar o local.
c) Interdito proibitório 
Art. 567. Se, durante a locação, se deteriorar a coisa alugada, sem culpa do locatário, a este caberá pedir redução proporcional do aluguel, ou resolver o contrato, caso já não sirva a coisa para o fim a que se destinava.
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AJUIZAMENTO DE AÇÃO POSSESSÓRIA POR INVASOR DE TERRA PÚBLICA CONTRA OUTROS PARTICULARES.
Para ingressar com ações possessórias deve-se ter legitimidade
É cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de invasor de terra pública contra outros particulares. Inicialmente, salienta-se que não se desconhece a jurisprudência do STJ no sentido de que a ocupação de área pública sem autorização expressa e legítima do titular do domínio constitui mera detenção (REsp 998.409-DF, Terceira Turma, DJe 3/11/2009). Contudo, vislumbra-se que, na verdade, isso revela questão relacionada à posse. Nessa ordem de ideias, ressalta-se o previsto no art. 1.198 do CC, in verbis: “Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas”. Como se vê, para que se possa admitir a relação de dependência, a posse deve ser exercida em nome de outrem que ostente o jus possidendi ou o jus possessionis. Ora, aquele que invade terras públicas e nela constrói sua moradia jamais exercerá a posse em nome alheio, de modo que não há entre ele e o ente público uma relação de dependência ou de subordinação e, por isso, não há que se falar em mera detenção. De fato, o animus domni é evidente, a despeito de ele ser juridicamente infrutífero. Inclusive, o fato de as terras serem públicas e, dessa maneira, não serem passíveis de aquisição por usucapião, não altera esse quadro. Com frequência, o invasor sequer conhece essa característica do imóvel. Portanto, os interditos possessórios são adequados à discussão da melhor posse entre particulares, ainda que ela esteja relacionada a terras públicas. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016, DJe 15/3/2016.
§ 2° Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
5. As ações possessórias atípicas 
5.1. Imissão na posse
Nas palavras de Rosenvald e Cristiano Chaves, a ação de imissão na posse deverá ser adotada por quem adquire a propriedade por meio de título registrado, mas não pode investir-se na posse pela primeira vez, porque o alienante, ou um terceiro (detentor) a ele vinculado, resiste em entrega-la.
O novo proprietário invocará o jus possidendi – pedirá posse com fundamento na propriedade que lhe foi transmitida.
Ação de imissão na posse x Ação reivindicatória
1) Ação de imissão na posse: busca dar posse a proprietário que nunca a teve. Apesar do nome, o fundamento é a propriedade, não a posse.
2) Ação reivindicatória: O dono teve a posse, mas a perdeu; objetiva a restituição da coisa que se encontra em poder de terceiro
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1 o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2 o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
§ 3 o  O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.
§ 4 o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.
§ 5 o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, “o objetivo da imissão na posse é consolidar a propriedade, em sentido amplo. Enquanto a reivindicação tem por fim reaver a propriedade”.
*** Rosenvald = entende ser possível aplicar a fungibilidade. Neste sentindo, Carlos Roberto Gonçalves.
5.2. Ação de nunciação de obra nova
Ação demolitória é de natureza real e exige citação do cônjuge, define Segunda Turma
A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reformou acórdão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) e decidiu que nas ações demolitórias, por terem natureza real, exige-se a formação de litisconsórcio passivo necessário entre cônjuges. O colegiado entendeu que esse tipo de ação equivale à ação de nunciação de obra nova.
O artigo 95 do Código de Processo Civil (CPC) estabelece que a ação de nunciação se insere entre as fundadas em direito real imobiliário, nas quais – conforme o artigo 10, parágrafo 1°, inciso I – os cônjuges devem ser necessariamente citados. “A mesma conclusão deve alcançar a ação demolitória”, afirmou o relator da matéria, ministro Herman Benjamin.
As duas ações, respaldadas pelo artigo 1.280 do Código Civil e pelo artigo 934 do CPC, pleiteiam a demolição de construção ilegal ou com vício irrecuperável, como prédio vizinho em ruína ou cuja permanência traga prejuízo a propriedades próximas.
O relator lembrou que a diferença entre ambas as ações se dá em razão do estado em que se encontra a obra. Assim, a nunciação é cabível até o término da construção. A partir de concluída, ainda que faltem trabalhossecundários, cabe a ação demolitória.
Citação indispensável
No recurso julgado, o réu questionava demolição de imóvel demandada pelo município de Florianópolis. Segundo ele, não foi respeitado o litisconsórcio passivo necessário.
O TJSC havia dado decisão favorável ao município, pois entendeu que ações demolitórias teriam natureza pessoal. Desse modo, a citação do cônjuge seria dispensável, uma vez que tais ações não afetariam diretamente o direito de propriedade das partes.
Ao analisar o caso, o ministro Herman Benjamin citou precedente da Quarta Turma do STJ (REsp 147.769) em que se entendeu que a falta de citação de condômino litisconsorte necessário leva à nulidade do processo no qual se pleiteia a demolição de bem. (REsp 1374593)
5.3. Ação de dano infecto: 
Nas palavras de Maria Helena Diniz, “é uma medida preventiva utilizada pelo possuidor, que tenha fundado receio de que a ruína ou demolição ou vício de construção do prédio vizinho ao seu venha causar-lhe prejuízos, para obter, por sentença, do dono do imóvel contíguo caução que garanta indenização por danos futuros”.
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.
Direito de vizinhança = saúde, segurança e sossego
Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente.
Art. 1.281. O proprietário ou o possuidor de um prédio, em que alguém tenha direito de fazer obras, pode, no caso de dano iminente, exigir do autor delas as necessárias garantias contra o prejuízo eventual.
Unidade III – Direitos reais
Art. 1.225/CC São direitos reais:
I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese.
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
XII - a concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 700, de 2015)
Vigência encerrada
XII - a concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 759. de 2016)
XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)
XIII - os direitos oriundos da imissão provisória na posse, quando concedida à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entidades delegadas e respectiva cessão e promessa de cessão. (Incluído pela Medida Provisória nº 700, de 2015)
XIII - a laje. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
1)Propriedade
Art. 1.225/CC São direitos reais:
I - A propriedade;
1.1. Conceito:
Para Caio Mário da Silva Pereira: “A propriedade é o direito de usar, gozar e dispor da coisa e reivindicá-la de quem injustamente a detenha”.
Nas palavras de MHD: “O direito que a pessoa física ou jurídica tem, dentro dos limites normativos, de usar, gozar, dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicá-la de quem injustamente o detenha”.
Para Rosenvald e Cristiano Chaves: “A propriedade é um direito complexo, que se instrumentaliza pelo domínio, possibilitando ao seu titular o exercício de um feixe de atributos consubstanciados nas faculdades de usar, gozar, dispor e reivindicar a coisa que lhe serve de objeto”.
De acordo com Tartuce e Simão: “A propriedade é o direito que alguém possui em relação a um bem determinado. Trata-se de um direito fundamental, protegido no artigo 5º, XXII, da CF/88, mas deve sempre atender a uma função social em prol de toda a coletividade. A propriedade é preenchida a partir dos atributos que constam do Código Civil de 2002 (artigo 1228), sem perder de vista outros direitos, sobretudo aqueles com substrato constitucional”.
1.2. Atributos do direito de propriedade
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.
 
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
*** Decorrem dos poderes previstos na lei: jus utendi, fruendi, abutendi e a rei vindicatio.
a) Usar* (usar a coisa) 
Lembrar! Este atributo encontra limites na CF/88 e no CC/2002 
Art. 1228/CC
Limitação de 20%, proteção ao meio ambiente
Função socio ambiental da propriedade 
Ex: Art.1277/CC – Saúde, segurança e sossego (3 S) 
b) Fruir e gozar*: faculdade jurídica de fruição atribui ao proprietário a possibilidade de se beneficiar economicamente da coisa. 
Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem.
Artigo 1284/CC – Os frutos caídos de arvores do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se esse for de propriedade particular.
c) Dispor
Propriedade é um direito disponível 
d) Reivindicar: direito exercido por meio de ação petitória, fundada no direito de propriedade (ius vindicandi ou rei vindicatio). 
Obs.: Possuindo todos os atributos relativos à propriedade, haverá a propriedade plena. Na ausência de algum dos atributos (uso, gozo, disposição e reinvindicação), haverá posse.
1.3. Aquisição
Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição.
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.
Obs.: O contrato em si não é suficiente para transferir o domínio.
1.4. Função social da propriedade 
A função social da propriedade corresponde a uma obrigacionalização do direito de propriedade (o proprietário deixa de ter somente direitos e passa a ter também obrigações, deveres).
A função social é mais do que um mero limite ao exercício da propriedade; é uma obrigação imposta ao proprietário, que, se descumprida, leva à perda da tutela jurídica
Bobbio foi quem primeiramente se preocupou com a ideia de função social. Já Miguel Reale estabeleceu a diretriz da socialidade. 
O legislador consagrou, no art. 5º, XXII e XXIII, o direito fundamental à propriedade, desde que cumpra sua função social. A função social é uma condicionante do direito de propriedade: se de um lado, o sistema jurídico reconhece como direito fundamental a propriedade privada, de outro lado, impõe ao proprietário o atendimento à função social. 
Tecnicamente, dentro da função social da propriedade hospedam-se diferentesfunções: 
- Função ambiental – Ex: Reserva legal – Área de preservação permanente 
- Função econômica – Hipoteca 
- Função humana – Direito a moradia (art.6º/cf)
A pretensão da função social da propriedade não é minimizar o lucro, mas sim, funcionalizar o direito de propriedade a uma perspectiva humanista.
Exemplos de aplicação da função social:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
 Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
- Propriedade rural: desapropriação para fins de reforma agrária.
- Propriedade urbana: IPTU progressivo, edificação compulsória, parcelamento compulsório do solo urbano, desapropriação. 
Obs.: Não só a propriedade urbana e a rural precisam cumprir sua função social. Hoje já se reconhece que toda e qualquer propriedade precisa cumprir a função social.
As propriedades especiais, propriedades do intelecto – direito autoral, marcas e patentes, etc. – são igualmente suscetíveis à função social. Delas se espera, tal como quaisquer outras propriedades, o implemento da funcionalidade social. Melhor exemplo desta situação é a patente de medicamentos, propriedade intelectual altamente relevante à sociedade, cuja quebra de exclusividade na fórmula permite a disponibilização do bem a muito mais pessoas que dele necessitem. 
Quando a função social da propriedade pode entrar em rota de colisão com inúmeros outros valores também de índole constitucional a solução é a utilização da ponderação de interesses. 
Previsões legislativas da função social da propriedade: 
a) Constituição Federal: Art.5º, inciso XXIII, 170, 182, parágrafo segundo, 183, 184, 186 (imóveis rurais).
b) Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1 o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
c) Estatuto da Cidade – artigos 5º a 8º. Os artigos 5º e 6º contemplam as modalidades de intervenção municipal na propriedade privada (edificação compulsória, utilização compulsória, enfim; se infrutífera a obtenção da função social através desses instrumentos, o estatuto da cidade contempla o IPTU progressivo, que tem finalidade eminentemente extrafiscal; se infrutífera a obtenção através do IPTU progressivo, temos a desapropriação sanção). 
Neste sentido, a função social da posse não significa uma limitação ao direito de posse, mas a exteriorização do conteúdo imanente da posse. Isso nos permite uma visão mais ampla do instituto, de sua utilidade social e de sua autonomia diante de outros institutos jurídicos, como por exemplo, o direito de propriedade.
1.5. Classificação	
a) Propriedade plena ou Alodial: todos os elementos do artigo 1228/CC (uso, gozo, disposição e reivindicação), estão na mão do seu titular.
Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.
art. 1228/CC, parágrafo 
b) Propriedade Limitada ou Restrita: ocorre quando recai sobre a propriedade algum ônus, onde um ou alguns dos atributos da propriedade passam a ser de outrem, constituindo-se em direito real sobre coisa alheia. 
Para Rosenvald e Cristiano Chaves, o domínio unificado constitui a propriedade plena e o domínio fracionado resulta na propriedade limitada.
Ocorrendo a divisão entre os atributos referidos, o direito de propriedade é composto por partes destacáveis, vejamos:
- Nua - Propriedade – Despida de alguns poderes de domínio. Ex: Usufruto
- Domínio útil – Ocorre quando o possuidor direto, retira as utilidades da propriedade. Ex: Usufrutuário 
1.6. Domínio x Propriedade
Muitos autores entendem que domínio é sinônimo de propriedade. (Neste sentindo, Tartuce, MHD).
Cristiano Chaves e Rosenvald, entretanto diferenciam domínio de propriedade. Para os mencionados autores, a propriedade consiste na titularidade do bem, já o domínio refere-se ao conteúdo interno da propriedade. Neste sentido, Sílvio Venosa.
1.7. Propriedade: características:
a) Caráter absoluto – ter eficácia erga omens, todos respeitar a propriedade alheia.
Tartuce = a propriedade é absoluta, mas pode ser relativizada se encontrar pela frente um outro direito fundamental protegido pela CF/88. 
Ver: Art. 1.231/CC 
b) Exclusividade – A possibilidade de reaver o bem.
Nas palavras de Rosenvald e Cristiano Chaves, “ a mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneamente a duas ou mais pessoas, em idêntico lapso temporal, pois o direito do proprietário proíbe que terceiros exerçam qualquer senhorio sobre a coisa”.
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves, o termo é empregado no sentido de poder o seu titular afastar da coisa quem quer que dela queira se utilizar.
c) Perpetuidade – Passa de um proprietário para o herdeiro, não se extingue com a morte do proprietário.
d) Elasticidade: acrescentado por Orlando Gomes. MHD assim define esta característica, “o domínio pode ser distendido ou contraído, no seu exercício, conforme lhe adicionem ou subtraiam poderes destacáveis”.
e) Direito complexo: de acordo com o autor mencionado tal característica decorre pela relação com os quatro atributos constantes do caput do art. 1228/CC
f) Direito fundamental: é direito fundamental consagrado no art. 5°, XXII e XXIII/CF.
1.8. Extensão
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las. 
Delimita a extensão vertical da propriedade – limite a extensão da propriedade pelo critério da utilidade
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais. – Constituem propriedade distinta do solo para efeito de exploração ou aproveitamento e pertencem à União.
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção

Continue navegando