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TRAUMATOLOGIA FORENSE 
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AULA 2 
ESPÉCIES DE LESÕES 
Na aula anterior iniciamos os estudos do módulo de traumatologia forense e 
aprendemos a distinguir lesões causadas por instrumentos perfurantes e contundentes. 
Aprendemos também as características dos objetos que produzem essas lesões. 
 
 Na aula de hoje iremos aprender sobre os objetos mistos, que são aqueles 
que podem produzir lesões com várias características que variam conforme o 
objeto é utilizado para lesionar. 
 
 Existem objetos que combinam características, sendo ora cortante e ora 
perfurante ou contundente, como um facão por exemplo, por isso é muito importante 
analisar não só o objeto, mas também a característica da lesão. 
 
Por exemplo, uma faca de cortar carne pode ser utilizada como instrumento 
perfurante, cortante ou perfurocortante. 
 
Ao apoiar uma faca como essa sobre um pedaço de carne, a mesma agirá 
cortando através do deslizamento do seu fio sobre o tecido. Nesse momento o 
instrumento está sendo usado como um objeto cortante. 
 
Caso esse mesmo objeto seja utilizado para golpear, por exemplo, como o 
presidente do Brasil foi golpeado, ele irá provocar uma lesão perfurocortante. 
 
Isso acontece porque a parte da ponta da faca ao entrar em contato com a pele 
irá inicialmente perfurar. Em seguida, irá agir por deslizamento, cortando. Por isso o 
nome perfurocortante. 
 
As lesões perfurocortantes são provocadas por instrumentos de ponta e gume, 
atuando por um mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam com a 
borda afiada os planos superficiais e profundos do corpo da vítima. 
 
Esse mecanismo age por pressão e por secção. 
 
Dentre os instrumentos perfurocortantes há os de um só gume como a faca-
peixeira, o canivete, e a espada. 
 
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Há também os perfuro cortantes de dois gumes, como o punhal, a faca “vazada” 
e também há os de três gumes ou triangulares, como a lima. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os ferimentos causados por arma de dois gumes produzem uma fenda de bordas 
iguais e ângulos agudos. 
 
A perícia, ao analisar as lesões deve também levar em conta a identificação da 
arma usada, a gravidade dos ferimentos, o tempo da lesão, se esta foi produzida em 
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vida ou depois da morte, sua causa jurídica, a posição da vítima e do agressor, a ordem 
das lesões e o número de agressores. 
 
No diagnóstico da arma usada, devem-se levar em consideração as dimensões, a 
forma e a profundidade do ferimento. 
 
A perícia criminal, nesse momento, deve sempre estar atenta ao fato que o 
tamanho das lesões, devido à elasticidade da pele, pode ser inferior, igual ou superior 
ao diâmetro da arma, não obedecendo necessariamente a regra de que o ferimento será 
do tamanho da lâmina. 
 
Os ferimentos penetrantes do abdome, por exemplo, podem ter um trajeto maior 
ou menor que o comprimento do objeto, e isto é explicado por circunstâncias como a 
movimentação aflita da vítima em uma luta corporal e pela posição da vítima durante 
o golpe. 
 
As feridas penetrantes são geralmente graves, não apenas pela infecção causada 
no interior do organismo, como também pelas lesões sofridas pelos órgãos de maior 
importância. 
 
As lesões mais graves e que exigem tratamento cirúrgico imediato são os golpes 
penetrantes da cavidade peritoneal. 
 
A mais comum das causas jurídicas dessas lesões é o homicídio, enquanto o 
suicídio e o acidente são mais raros. 
 
Uma forma de descaracterizar um suicídio é observar fatores como o número e 
o local dos ferimentos, outros sinais de violência, mais de dois ferimentos mortais, a 
variedade das feridas e o local da morte. 
 
É extremamente importante observar a presença de lesões de defesa na vítima. 
 
Elas podem ser encontradas na palma da mão, nas bordas mediais dos 
antebraços, no ombro, no dorso e até nos pés e simbolizam o homicídio como esforço 
da vítima na tentativa angustiante e desesperada de salvar a vida, expondo aquelas 
partes do corpo como escudo. 
 
 
 
 
 
 
 
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Iremos agora estudar sobre as lesões mistas de natureza perfuro contundente. 
 
As feridas perfuro contusas são produzidas por um mecanismo de ação que 
perfura e contunde ao mesmo tempo. 
 
Na maioria das vezes, esses instrumentos são mais perfurantes que contundentes. 
 
Esses ferimentos são produzidos quase sempre por projéteis de arma de fogo; no 
entanto, podem também ser produzidos por objetos que tenham essa característica, 
como a ponta de um guarda-chuva, por exemplo. 
 
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De todas as formas, a maior parte das lesões dessa natureza são produzidas por 
projéteis de arma de fogo, que será o principal objeto do nosso estudo a partir de agora! 
 
Veremos agora sobre o universo da Balística Forense, iniciando pelo conceito 
de arma de fogo: 
 
Arma de fogo é uma peça constituída de um ou dois canos, abertos em uma das 
extremidades e parcialmente fechados na parte de trás, por onde se coloca o projétil. 
Lesões por disparo de arma de fogo 
No momento de estudar e laudar as lesões produzidas por projéteis de arma de 
fogo devem-se considerar o ferimento de entrada, o ferimento de saída e o trajeto do 
tiro dentro do corpo. 
 
Aprenderemos a seguir como reconhecer um ferimento compatível com a 
ENTRADA do projétil de arma de fogo. 
Ferimento de entrada de projétil de arma de fogo 
Eles podem ser resultantes de um tiro encostado, a curta distância ou a distância. 
Ferimentos de entrada nos tiros a curta distância 
Estes ferimentos possuem como característica: 
 
Borda arredondada ou elíptica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Orla de escoriação, que representa a primeira extremidade da região da pele que 
o tiro atingiu. Essa pele queimada forma a orla de escoriação, que serve para indicar a 
direção que veio o projétil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caso o projétil penetre frontalmente o tecido, é possível que não haja orla de 
escoriação, ou que a orla de escoriação seja muito pequena. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Outro indicador de ferimento de entrada de disparo de arma de fogo é a zona de 
queimadura, que acompanha a circunferência do ferimento e é a queimadura que o 
projétil quente imprime na pele quando faz o primeiro contato, em um milésimo de 
segundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um importante indicador do disparo a curta distância, também chamado de 
queima-roupa é a zona de esfumaçamento, ou zona de tatuagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A zona de tatuagem é o nome da lesão decorrente da ação dos resíduos de 
combustão da pólvora quente que sai do cano da arma e queima a pele. 
 
Essa pólvora quente forma pequenos pontos enegrecidos na pele, próximo do 
ferimento de entrada. 
 
Analisando essas marcas de tatuagem a perícia pode determinar a distância exata 
do tiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ferimentos de entrada nos tiros a distância. 
 
Os ferimentos de entrada de bala, nos tiros a distância, têm as seguintes 
características: 
 
Diâmetro menor que o do projétil e uma forma arredondada ou elíptica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Uma lesão tem as características das produzidas por tiro a distância quando ela 
não apresenta os efeitos secundários do tiro como a orla de esfumaçamento e a zona de 
tatuagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nas vísceras, principalmente no pulmão, o ferimento de entrada apresenta o halo 
hemorrágico visceralde Bonnet 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Agora veremos como reconhecer um ferimento de saída de projétil de arma de 
fogo, independente do disparo ter ocorrido de curta ou longa distância. 
Ferimentos de saída de disparo de arma de fogo 
A lesão de saída das feridas produzidas por projéteis de arma de fogo tem forma 
irregular, bordas reviradas para fora, maior sangramento e não apresentam orla de 
escoriação e nem a presença dos elementos químicos resultantes da queima da pólvora. 
 
A forma dessas feridas é irregular e o diâmetro é maior que o do orifício de 
entrada, pois o projétil que sai não é o mesmo que entrou. 
 
São mais sangrantes pelo maior diâmetro, pela irregularidade de sua forma e pela 
eversão das bordas, permitindo, assim, um maior fluxo sanguíneo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Agora iremos aprender sobre os ferimentos de entrada nos tiros encostados. 
 
Vimos que a regra é a entrada do projétil de arma de fogo ser sempre circular ou 
elíptico, apresentando certa regularidade e que o diâmetro do ferimento será maior que 
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o projétil, quando este acontecer de uma curta distância e menor que o projétil, quando 
esse acontecer de uma longa distância. 
 
No entanto essa regra cai por terra caso estivermos diante de um tiro que atinge 
um local do corpo que possui um plano ósseo logo abaixo, como o osso do crânio por 
exemplo. 
 
Nesses casos o ferimento adquire uma forma irregular, denteada, com um 
desenho parecido com uma estrela, devido à ação resultante dos gases que descolam e 
dilaceram os tecidos. 
 
Isso ocorre porque os gases da explosão penetram no ferimento e refluem ao 
encontrar a resistência do plano ósseo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esse sinal é muito comum nos tiros encostados na testa, pois logo abaixo da pele 
encontra-se o osso frontal do crânio. Esse sinal característico da entrada do disparo de 
arma de fogo encostado chama-se câmara de mina de Hof mann. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Agora aprenderemos a diferenciar um ferimento de entrada de um ferimento de 
saída em um osso plano. 
 
O diagnóstico diferencial entre o ferimento de entrada e o de saída no plano 
ósseo, principalmente nos ossos do crânio, é feito pelo sinal de funil de Bonnet. 
 
O osso é composto por duas lâminas que se sobrepõem uma a outra. Ao observar 
o ferimento de entrada, vemos que ele é arredondado e regular. 
 
Na lâmina interna, que fica na parte de dentro do osso, o ferimento é irregular, 
maior do que o da lâmina externa e com bisel interno bem definido, dando à perfuração 
a forma de um funil ou de um tronco de cone. 
 
Já no ferimento de saída é exatamente o contrário, como um amplo bisel externo, 
também dando um formato de cone, mas dessa vez com a base voltada para fora. 
 
Nos tiros dados no crânio, costelas e escápulas, principalmente quando a arma 
está sobre a pele, pode-se encontrar uma marca de fuligem na lâmina externa do osso. 
É uma queimadura que ocorre no osso através do contato entre o projétil quente. 
 
Quando essa queimadura ocorre pelo calor da arma que é aquecida durante a 
passagem do projétil pelo cano, chamamos de sinal de Pulp Werkgaetner. 
 
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Por vezes é possível verificar durante o exame a marca de elementos da arma, 
como a massa de mira e a boca do cano, quando o disparo é realizado à queima roupa 
com o cano pressionando a região do disparo. 
Trajetória dos projéteis de arma de fogo 
Na disciplina de Balística Forense chamamos o caminho percorrido pelo projétil 
- desde que ele sai da arma até o momento em que ele penetra e se insere no corpo - de 
trajetória. 
 
Dentro do corpo humano o projétil de arma de fogo poderá ter diversas 
trajetórias. 
 
Desde um ferimento compatível com tiro de raspão, que iremos aprender mais 
pra frente, como pode também ocorrer um ou mais ferimentos de entrada que podem 
ser penetrantes e se alojar, sem apresentar ferimento de saída. 
Os projéteis podem também serem transfixantes, isso é, entrarem e saírem do 
corpo, continuando sua trajetória. 
 
É uma obrigação médico legal que o legista represente a dinâmica dos projéteis 
no corpo através de croquis e esquemas, sinalizando os ferimentos de entrada e saída. 
 
Essa reconstrução da trajetória tem como objetivo auxiliar o juiz, promotor e 
outros envolvidos no processo criminal. 
 
Alguns institutos médico legais e institutos gerais de perícia mais modernos 
possuem um equipamento chamado PET SCAN, que facilita a necropsia, pois o 
equipamento permite visualizar onde está alojado o projétil.

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