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Vict�ria K. L. Card�so Alterações neur�lógicas em PVHIV Manifestações neurológicas Introdução: as complicações neurológicas podem ocorrer tanto por ação direta do próprio vírus, como por infecções oportunistas. Sinais e sintomas de agressão ao SNC: ● Cefaleia. ● Tontura. ● Convulsões. ● Alterações de força e de sensibilidade. ● Distúrbios de memória. ● Confusão mental e delírio. ● Torpor e coma. Neurotoxoplasmose Características gerais: ● É a principal causa de lesão encefálica com efeito de massa em PVHIV. ● Ponto para a manifestação clínica: recrudescimento da infecção latente mantida por cistos teciduais. Características da infecção: ● Toxoplasma gondii: protozoário intracelular obrigatório. ○ Hospedeiro definitivo: gato. ○ Transmissão: via oral. ○ Infecção primária: tem início insidioso, permanecendo latente, com cistos no cérebro, no músculo esquelético e cardíaco. ■ Não há manifestação em pessoas imunocompetentes. ● Cuidados: 30-40% das PVHIV, que não estejam em uso de TARV, com imunodeficiência avançada, sem profilaxia instituída e com evidência sorológica de infecção prévia por T. gondii, adquirirão neurotoxoplasmose. Encefalite por T. gondii: 50-90% dos casos cursam com alteração do nível de consciência → de letargia ao coma, incoordenação e cefaléia. Quadro clínico: ● Anormalidades focais mais sugestivas do processo expansivo intracraniano: ○ Convulsões. ○ Hemiparesia. ○ Tremor cerebelar. ○ Paralisia de nervos. ○ Diplopia. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Febre → nem sempre ocorre. ○ Sinais de irritação meníngea → apenas em 10% dos casos. Diagnóstico: ● Avaliação inicial: ○ Preferência → RM de crânio → maior sensibilidade. OU ○ TC de crânio. ○ LCR → não traz subsídios para o diagnóstico, mas é importante para afastar a presença de outras infecções concomitantes, principalmente criptococose. ○ Sorologia → é limitado, pois a positividade não traz certeza de neurotoxo e a negatividade não afasta. ● Achados: uma ou mais lesões com reforço de contraste → imagem em anel, podendo haver necrose central com edema circunjacente, envolvendo o striatum (gânglios da base). ○ No caso de realizar uma TC, aumenta-se a sensibilidade fazendo dupla injeção de contraste. ○ Se a TC não evidenciar lesões, indica-se realizar a RM. ● Evidências de processo inflamatório e necrosante: aumento de lactato à espectroscopia e redução do fluxo sanguíneo nas áreas de lesão (PWI). ● Na incapacidade de realizar TC ou RM: deve-se realizar imediatamente a prova terapêutica em pacientes, caso haja um quadro clínico sugestivo. ○ A resposta terapêutica é rápida e confirma o diagnóstico. ○ Em caso de ausência de melhora em 10-14 dias, se faz biópsia cerebral para o diagnóstico. Tratamento: ● Primeira escolha: sulfadiazina + pirimetamina + ác. folínico → por 6 semanas, com acompanhamento clínico → há melhora clínica em 7-10 dias e melhora na neuroimagem a partir da 2’ ou 3’ semana. ○ Sulfa → 100 mg/kg/dia, 6/6h (4x dia). ■ Máx de 6 g/dia. ○ Pirimetamina → 200 mg/dia no 1’ dia e 50 mg/dia após isso. ○ Ác. folínico → 10-25 mg/dia, VO. ● Uso de corticóide: uso em caso de edema cerebral e hipertensão intracraniana importantes. ○ Pela diminuição do processo inflamatório, pode haver melhora da sintomatologia, mascarando um possível linfoma primário do SNC. ● Acompanhamento tomográfico: ○ Não são necessárias sucessivas TC de controle. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Via de regra: se realiza TC entre 3 e 6 semanas de tratamento, para decidir se irá interromper o tratamento e iniciar a profilaxia secundária. ○ Se após 10-14 dias de tratamento não houver melhora clínica, se realiza uma TC. ● Efeitos colaterais do tratamento de primeira escolha: ocorre em 40% dos casos. ○ Principais: mielotoxicidade e exantema. ○ Relacionados com a dose terapêutica: granulocitopenia, trombocitopenia e anemia megaloblástica. ■ Pode-se contornar com ác. folínico, 10-25 mg/dia. ○ Nefrotoxicidade: pode ser causada pela sulfa, por conta da formação de cristais. ● Outros esquemas terapêuticos: ○ Clindamicina + pirimetamina. ■ Clinda 600 mg, IV ou VO, 6/6h. ■ Pirim. 50 mg/dia. ○ Dapsona + pirimetamina. ■ Dapsona 100 mg/dia. ■ Pirim. 25-75 mg/dia. ○ Trimetropim/sulfametoxazol (cotrimazol). ■ Cotrimazol 2,5-5 mg/kg, IV ou VO, 6/6h. ○ Atovaquona. ■ 750 mg 4x ao dia, VO. ● Profilaxia secundária: usada após completar o tratamento primário → por prazo indefinido. ○ Sulfa (500 mg de 6/6h) + pirimetamina (25-50 mg/dia). OU ○ Clinda (300-450 mg a cada 6-8h) + pirimetamina (25-50 mg/dia). ● Suspensão da profilaxia secundária: ○ Contagem de CD4 > 200 céls/mm3 > 6 meses. Profilaxia geral: ● PVHIV com sorologia negativa para T. gondii: ○ Evitar carnes mal passadas ou cruas. ○ Lavar bem as mãos após contato com carnes cruas. ○ Lavar bem frutas e vegetais antes do consumo. ○ Evitar qualquer contato com materiais contaminados com fezes @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so de gatos (usar luvas, caso o contato seja imprescindível). ● PVHIV com sorologia positiva para T. gondii: ○ Caso CD4 < 100 céls/mm3� realizar profilaxia primária independente do estado clínico. ○ CD4 < 200/mm3� se já tiver passado por qualquer infecção oportunista ou neoplasia maligna, realizar profilaxia primária. Meningite criptocócica Características gerais: ● Agente: Cryptococcus neoformans (fungo). Quadro clínico: ● Sinais e sintomas mais comuns: a evolução é subaguda, se instalando em 1-2 semanas. ○ Cefaleia. ○ Febre. ○ Letargia. ○ Ausência ou presença de rigidez de nuca. ○ Pode haver acometimento extra-meníngeo. ● Achados pouco frequentes: achados focais. ● Cuidado: nas 2 primeiras semanas de tratamento há o risco de hidrocefalia obstrutiva e hipertensão intracraniana, com amaurose, convulsões e coma. ○ Tratamento adicional: adição de corticosteróides. ○ Pode ser necessárias: punções lombares de repetição e derivação liquórica externa. Diagnóstico: ● Permitem o diagnóstico específico: cultura positiva para o fungo; detecção de antígeno criptocócico por aglutinação do látex e exame direto (LCR) com a tinta da China. ● Padrão ouro: isolamento do fungo em cultura → > 95% de sensibilidade. ● Prova de aglutinação do látex: para detecção do antígeno criptocócico → 95% de sensibilidade. ● LCR: facilmente identifica o C. neoformans, com o uso da tinta da China → 75-85% de sensibilidade. ○ Geralmente não apresenta características inflamatórias proeminentes. ○ Média de 4 linfócitos/mm3. ○ Glicose normal ou baixa. ○ Proteína normal ou pouca aumentada. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Obs: a hemocultura e a prova látex podem ser positivas na meningite criptocócica, especialmente se CD4 < 100/mm3. Tratamento: ● O tratamento varia de acordo com a clínica e a gravidade laboratorial. ● Quadros menos graves: estado mental normal + LCR com mais de 20 células/mm3 + título de antígeno criptocócico no LCR ‹ 1 : 1.024. ○ Fluconazol → 400 mg/ dia, VO ou IV, por 8 semanas → segue com 200 mg/dia. ■ Por tempo indeterminado ou até contagem de CD4 > 200 céls/mm3 > 6 meses. ● Casos mais graves: estado mental comprometido, LCR com menos de 20 células/mm3 ou título de antígeno criptocócico no LCR > 1 : 1.024, ou hiponatremia importante. ○ Anfotericina-B → 0,7 mg/kg/dia (máx 50 mg/dia), EV. ■ Por 2 semanas ou até não haver febre, cefaléia, náuseas e vômitos. ○ Flucitosina → 25 mg/kg de 6/6 h, VO. ■ Pode ou não ser associada nas primeiras duas semanas (esterilização mais rápida do LCR). Profilaxia secundária: ● Fluconazol - 200 mg/ dia, VO. ○ Por tempo indeterminado ou até a reconstituição imunológica persistente. OU ● Anfotericina-B - 1 mg/kg, EV, 1-2x por semana. ○ Por tempo indeterminado ou até a reconstituição imunológica persistente. Obs importante: pelo risco de síndrome de recuperação imune, adia-se o início da TARV por pelo menos 4 semanas após a introdução do tratamento da meningite criptocócica. Neurossífilis Características gerais: ● Agente: Treponema pallidum.● O envolvimento do SNC na sífilis pode ocorrer em qualquer estágio → o T. pallidum invade o SNC em horas ou dias após a inoculação, mas a neuroinvasão pode ser transitória. ○ Pode haver anormalidades laboratoriais do LCR nos estágios iniciais da doença. ● Neurossífilis precoce: aparece logo após a infecção sifilítica, causando meningite e anormalidades nos nervos cranianos. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Quadro clínico: ● Principais manifestações clínicas: ○ Envolvimento ocular → uveíte, panuveíte, paralisia de nervos cranianos e diminuição de acuidade visual. ○ Envolvimento auditivo. ○ Paresia geral. ○ Deficiência cognitiva. ○ Mudanças de comportamento. ○ Demência. ○ Depressão. ○ Mania. ○ Psicose com alucinações visuais ou auditivas. ○ Dificuldades de memória. ○ Confusão mental. ○ Meningite sifilítica. ○ Tabes dorsalis. ○ Goma sifilítica. ○ Epilepsia. ● Lesão meningovascular: acometimento isquêmico principalmente da cápsula interna, artéria cerebral média, carótida, artéria basilar, artéria cerebral posterior e vasos cerebelares. Diagnóstico: ● É um desafio, pois não há teste padrão-ouro → não existe uma única prova sensível e específica para o diagnóstico. ○ Logo, o diagnóstico se baseia na combinação de achados clínicos + alterações do LCR + resultado do VDRL no LCR. ● Indicação de punção lombar para pesquisa de neurossífilis: ○ Sintomas neurológicos ou oftalmológicos. ○ Evidência de sífilis terciária ativa. ○ Para PVHIV, a punção lombar está indicada após falha no tratamento, independentemente da história sexual. ● RPR: não é recomendado para o diagnóstico de neurossífilis. ● VDRL: é o método de escolha, sua sensibilidade varia de 50-70%. ○ VDRL reagente + quadro clínico condizente = diagnóstico de neurossífilis. ○ Pode haver resultados falso-reagentes (ex: em tripanossomíase, malária cerebral ou carcinomatose meníngea). ● Testes treponêmicos: tem alta sensibilidade, mas especificidade muito variável e seu Valor Preditivo Negativo @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so (VPN) varia de acordo com a prevalência da doença. ○ Em locais de alta prevalência, o VPN é baixo → um resultado não reagente não exclui a doença. ○ Portanto, esse NÃO é um teste de rotina. ● Análise do LCR: ○ É raro encontrar pacientes com neurossífilis sem pleocitose, sendo o aumento linfomonocitário o achado mais comum. ○ Os níveis de proteína no LCR não são sensíveis ou específicos para neurossífilis, mas sua normalização é importante na monitoração pós-tratamento. Tratamento: ● Quem tratar: ○ VDRL reagente no LCR, independentemente da presença de sinais e sintomas neurológicos e/ou oculares. ○ VDRL não reagente no LCR, mas com alterações bioquímicas no LCR. ○ Sinais e sintomas neurológicos e/ou oculares e/ou achados de imagem do SNC característicos da doença, sem explicação por outra doença. ● Tratamento de primeira escolha: ○ Benzilpenicilina potássica/cristalina, 3 a 4 milhões UI, 4/4h, IV ou por infusão contínua. ■ Totalizando 18-24 milhões por dia, por 14 dias. ● Alternativa: Ceftriaxona 2g, IV, 1x/dia, por 10 a 14 dias. Monitoramento pós-tratamento de neurossífilis: ● Realizar punção liquórica de controle após 6 meses do término do tratamento. ● Na persistência de alterações do LCR, faz-se retratamento + punções de controle a cada 6 meses até a normalização da celularidade e resultado não reagente no VDRL. ● Em PVHIV, essa resposta pode ser mais lenta, sendo necessária uma avaliação caso a caso. Obs: a normalização de testes não treponêmicos, com queda da titulação em pelo menos 2 diluições ou sororreversão para não reagente, pode ser um parâmetro de resposta ao tratamento, principalmente caso não se possa realizar a punção lombar Neurotuberculose Características gerais: ● É responsável por até 10% dos casos de TB em PHIV. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Quadro clínico: ● Pode ser subaguda ou crônica (sinais e sintomas com mais de 4 semanas de duração). ● Forma subaguda: > 2 semanas. ○ Cefaleia holocraniana. ○ Irritabilidade. ○ Alterações de comportamento. ○ Sonolência. ○ Anorexia. ○ Vômitos. ○ Dor abdominal. ○ Febre. ○ Fotofobia. ○ Rigidez de nuca. ○ Pode haver hipertensão intracraniana → edema de papila. ○ Sinais focais: são eventuais, por síndromes conta de síndromes isquêmicas locais ou pelo envolvimento de pares cranianos (pares II, III, IV, VI e VII). ● Forma crônica: > 4 semanas. ○ Principal: cefaleia. ○ Até que haja o acometimento de pares cranianos. ○ Pode haver doença pulmonar concomitante. ● Outra forma de TB do SNC: tuberculomas → é a forma localizada. ○ Quadro clínico de um processo expansivo intracraniano, com crescimento lento e sinais e sintomas de hipertensão intracraniana. ○ Febre - pode não estar presente. ● Complicação frequente: hidrocefalia. ○ Muitas vezes é necessário realizar uma derivação ventrículo-peritoneal (DVP). ● Achado comum em PVHIV (imunocomprometidos): lesão com efeito de massa. ○ São sinais e sintomas que surgem que indicam compressão cerebral. ○ Ocorre pois a caixa craniana não é capaz de se expandir, com o inchaço cerebral (seja por edema, tumor, hidrocefalia, hemorragia…). Diagnóstico: ● Padrão ouro: TC de crânio → deve ser o primeiro exame realizado na suspeita. ○ Achados mais comuns: hidrocefalia, espessamento meníngeo basal e infartos do parênquima cerebral. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● LCR: problema = BAAR raramente positiva; exames no líquor que podem ajudar → pesquisa de micobactéria por PCR (PCR-MTB) e dosagem da enzima adenosina deaminase. ○ Celularidade aumentada → de 5 a 2.000 cél/uL. ○ Proteinorraquia elevada → pode chegar a 500 mg/dL. ■ Raramente pode estar normal. ○ Glicorraquia diminuída → 4 a 40 mg/dL. ○ Dosagem de adenosina deaminase → aumentada. Tratamento: ● Hospitalização! ● Deve ser realizar o esquema II: 2 RHZ e 7 RH. ○ Rifampicina + isoniazida + pirazinamida. ■ Tempo total: 9 meses. ○ Associar piridoxina (vitamina B6) e corticóide (prednisona) → menor morbimortalidade. ● Mecanismo: ○ Primeiros 2 meses (RHZ): rifampicina, isoniazida e pirazinamida. ○ 7 meses seguintes (RH): apenas rifampicina e isoniazida. ○ Durante 6-8 semanas: prednisona. ● Doses: ○ Rifampicina: 10-20 mg/kg/dia; máx de 600 mg/dia. ○ Isoniazida: 10-20 mg/kg; máx de 400 mg/dia. ○ Pirazinamida: 25-35 mg/kg; máx de 2.000 mg/dia. ○ Prednisona: 1-2 mg/kg/dia, com doses decrescentes. Líquor Valores de referência do LCR: ● Pressão inicial: 5-20 cm. ● Aspecto e cor: límpido e incolor. ● Número de células: até 5. ○ < 500 = viral, fúngica ou tuberculosa. ○ > 500 = bacteriana. ○ Paciente HIV: quanto menor a citometria e maior a quantidade de fungos achados no líquor, pior o prognóstico. ● Perfil celular: linfócitos 50-70%; monócitos 30-50%. ● Proteínas: (adultos) 0-50 mg/dL. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Glicose: ⅔ da glicemia. ● Cloreto: 680-750 mEq/L. ● Lactato: 9-19 mg/dL. ● Uréia: até 40 mg/dL. ● DHL: até 35 UI/L. ● TGO: até 10 UI/L. ● ADA: até 4,5 UI/L. Informações adicionais do LCR: 1. Aspecto xantocrômico = cor amarelada rosada → acidente de punção. 2. Presença de globulina = proteína = processo inflamatório. @p�sitivamed