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NEUROLOGIA NO PRONTO SOCORRO Temas básicos que todo plantonista deve saber7 neurocurso.com http://neurocurso.com http://neurocurso.com AUTORES !2 Dr. Guilherme Cunha M. Santos Neurologista e Co-Fundador do Neurocurso CRM 44778 | RQE 41335 Médico Neurologista com forte background em Neurociências e Neuroemergencismo. Formado pela faculdade de medicina da UFMG, mestre em Neurociências pelo Núcleo de Neurociências da UFMG. Residência médica em Neurologia pelo Hospital Metropolitano Odilon Behrens. Membro da equipe de Neuroftalmologia da Santa Casa de Belo Horizonte onde realizou fellow na área. Foi membro do CESO (Center for Excelente in Surgical Outcomes da DUKE University EUA). Ex-docente de cursos de graduação e pós-graduação em medicina e neuropsicologia. Cofundador e editor do Neurocurso.com Dr. Guilherme Isaac S. Litwinski Neurologista e Co-Fundador do Neurocurso CRM 44713 | RQE 38089 Médico pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Residência Médica em Neurologia pelo Hospital Risoleta Tolentino Neves (HRTN). É membro efetivo da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), atualmente é Neurologista assistente da equipe de Neurologia do Hospital Unimed Contorno e Hospital Unimed Betim. Cofundador e editor do Neurocurso.com !3 Neurologia no Pronto Socorro 7 temas básicos que todo plantonista deve saber neurocurso.com Primeira Edição E-book 2020 http://neurocurso.com http://neurocurso.com COMO USAR ESTE E-BOOK 1. DÊ O PRIMEIRO PASSO Este material tem como objetivo direcionar, de forma prática, objetiva e à beira do leito, o conteúdo relacionado a 7 temas de neurologia, mais comuns na prática clínica geral. De forma alguma este material substitui as guidelines nacionais ou internacionais, bem como os livros texto de Neurologia. Use este e-book como um manual para o dia a dia. Você pode ainda complementar com as opções abaixo. 2. #NEUROLOGIADESCOMPLICADA Dúvidas são comuns e salutares, mas não podem causar em você a chamada Neurofobia. Esse termo foi cunhado em 1991 por Ralph F. Josefowicz, e representa o medo, aversão ou receio de médicos e estudantes de medicina em atender pacientes neurológicos. Junte-se à nossa comunidade no Telegram e ganhe confiança. Estamos aqui para lhe ajudar! 3. NEUROLOGUIA Diferentes pessoas, diferentes métodos ! Pensando em você que adora estudar a partir de áudios, criamos o NeuroloGuia, um Podcast com episódios semanais sobre os temas mais importantes e atuais em Neurologia. Você pode seguir no Spotify, Soundcloud. !4 Encontrou este símbolo? Significa que é um conteúdo de Encontrou este símbolo? Significa que tem podcast disponível ! Basta clicar para ouvir o podcast http://t.me/neurocurso https://open.spotify.com/show/6WkWViwICysXaFtmqwZnGE?si=SrV7iWonQ3GISe843fmnpg http://soundcloud.com/neurocurso AUTORES 2 ............................................................................................................................... COMO USAR ESTE E-BOOK 4 ...................................................................................... 1. CEFALÉIA NA URGÊNCIA 7 .................................................................................................. 2. TONTEIRA E VERTIGEM 12 .................................................................................................. 3. TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO 17 ........................................................................... 4. CRISE CONVULSIVA 21 ........................................................................................................ 5. INFECÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL 26 ............................................................. 6. REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA 37 ............................................................ 7. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL 43 .................................................................................. APÊNDICE 52............................................................................................................................ !5 1. CEFALÉIA NA URGÊNCIA !6 1. CEFALÉIA NA URGÊNCIA INTRODUÇÃO Cefaléias Primárias: condições cuja principal característica é a recorrência (ex.: migrânea, cefaleia do tipo tensional, cefaleia em salvas, dentre outras) Cefaléias Secundárias: condições cujos sinais / sintomas são de uma patologia de base, neurológica ou sistêmica (ex.: meningite, dengue, tumor cerebral, hipertensão intracraniana) FATORES DE RISCO Infecção, diabetes, hipotireoidismo, depressão, ansiedade, doenças autoimunes, fibromialgia, distúrbios do sono, hipertensão, hiperlipidemia, obesidade, fibrilação atrial, uso prolongado de esteróides, uso de drogas / álcool, insuficiência cardíaca congestiva, TCE e TRM PREVENÇÃO No caso das cefaleias primárias a prevenção envolve evitar gatilhos (alimentação, sedentarismo, abuso de AINE, etc), e uso de medicações específicas. Nas cefaleias secundárias a prevenção se dá pelo manejo dos fatores de risco associados (hipertensão, FA e outras) ETIOLOGIA (SNOOP) S (Systemic): Sinais sistêmicos como rash, rigidez de nuca, queda do estado geral, portadores de neoplasias ou HIV, usuários de imunossupressores, transplantados N (Neurologic): Presença de déficits neurológicos focais, edema de papila, crise convulsiva O (Older): Início após os 50 anos de idade O (Onsert): Início súbito ou primeira cefaléia da vida P (Pattern): Mudança de padrão de cefaléia prévia, ou progressão (intensidade, frequência ou duração), ou cefaléia refratária NA GESTAÇÃO: Atenção com cefaléia durante a gestação ou no período puerperal. Considerar investigar trombose venosa cerebral, hemorragia subaracnóidea e pre-eclâmpsia DIAGNÓSTICO HISTÓRIA • Descrição da dor de cabeça atual: localização, tipo (latejante, aparto, aguda, fincada, pressão, etc.), magnitude da dor na escala analógica (0 - nenhum; 10 - pior dor), início (abrupto ou gradual), frequência, duração, fatores que melhoram ou pioram (espirros, tosse, aumento da posição ou etc.), hora do dia, gatilhos. • Sintomas associados: fotofobia, fonofobia, náusea, vômito, visão turva, lacrimejamento, congestão nasal, injeção conjuntival, agitação, confusão, tontura ou vertigem, quadro neurológico focal sintomas (fraqueza, sintomas sensoriais, diplopia, disartria, alterações cognitivas, alteração visual, marcha, etc). • Episódios prévios: Descrição das cefaléias ao longo da vida; exames prévios e terapias; mudança no padrão, abuso de cafeína, álcool EXAME NEUROLÓGICO É a ferramenta básica e mais importante. Etapas obrigatórias do exame durante avaliação da cefaléia na urgência • Fundo de olho: Faça um bom fundo de olho. Basicamente o objetivo dessa etapa é identificar edema de papila (o termo papiledema deve ser usado quando a suspeita de hipertensão intracraniana for confirmada). Não se preocupe, o exame de fundo de olho requer treinamento, mas com a prática você será capaz de realizá-lo. !7 • Exame Cefaliátrico completo, incluindo palpação dos nervos occipitais • Nervos cranianos: atente-se para disfunção de motricidade ocular (especialmente paresia de reto lateral, acometimento de VI NC), anisocoria, estigmas relacionados à síndrome de Horner • Ataxia, paresias dimidiadas, distúrbios sensitivos e dificuldade de marcha EXAMES COMPLEMENTARES IMAGEM Basicamente deve ser solicitado nos casos suspeitos de patologias ameaçadoras à vida (SNOOP) e/ou alterações ao exame neurológico. Um situação bem comum é não solicitar neuroimagem nos casos de cefaleia nova, mesmo sem outros comemorativos. Na maioria dos serviço uma TC de crânio simples fornece muito subsídio para o diagnóstico. Nas suspeitas vasculares, fazer angio (TC ou RM) de crânio e/ou cervical dependendo do caso LABORATÓRIO Revisão laboratorial também deverá ser solicitada nos casos suspeitos de cefaléia secundária !8 Fundoscopia Papiledema em paciente com trombose venosa cerebral. Note o apagamento das bordas donervo óptico Fundo de olho normal DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Infecção: meningite, encefalite, abscesso cerebral, otite média, sinusite complicada • Trauma: Hemorragia epidural / subdural, trauma de cabeça / pescoço • Tóxico: envenenamento por monóxido de carbono, dependência / retirada de drogas • Imune: Arterite temporal (células gigantes), síndrome de Tolosa-Hunt • Neoplasia: tumores cerebrais, feocromocitoma • Vascular: acidente vascular cerebral, ataque isquêmico transitório, dissecção, HSAE, HAS, trombose venosa cerebral, apoplexia hipofisária, malformação arteriovenosa, síndrome de vasoconstrição cerebral reversível TRATAMENTO Sempre direcionado para causa de base: • Migrânea no PS (crise): - Cetoprofeno 100mg + NaCl 0,9% 100ml EV - Ondansetrona 2 mg/ml 4 ou 8mg EV sem diluição ou Metoclopramida 5mg/ml 01 amp + 20ml NaCl 0,9% EV - Dipirona 500mg/ml 01 amp + 20ml NaCl 0,9% EV lento - Sumatriptano : Spray nasal 20 mg/spray (20 mg); Oral 25, 50, 100 mg (50 a 100 mg). - Rizatriptano Oral 5, 10 mg (10 mg) - Obs: Triptanos podem ser repetidos uma vez após duas horas para resposta parcial (não usar em gestante doença coronária ou vascular periférica, tratamento concorrente com inibidores da monoaminoxidase e enxaqueca hemiplégica ou enxaqueca basilar. - Para casos refratários: Clorpromazina 5mg/ml, 1/2 a 1 amp + NaCl 0,9% 500ml EV lento - Tramadol 50mg/ml 01 amp + NaCl 0,9% 100ml EV lento • Cefaléia por abuso de AINEs O consumo excessivo de medicamentos usados para o tratamento da enxaqueca ou de outras formas de cefaleia pode levar a uma síndrome de cefaleia crônica diária por abuso de analgésicos: - Prednisona 60mg/dia por 5 dias - Orientar paciente sobre importância de suspender analgésicos - Medidas não-farmacológicas • Cefaléia em Salvas Apresenta-se na forma de dores de cabeça em salvas breves, muito graves, unilaterais, não latejantes, que duram 15 minutos a 3 horas. Sempre são unilaterais e costumam recorrer no mesmo lado em um mesmo paciente. Tratamento agudo: - Oxigênio a 100% (7 a 12 L/min durante 15 a 20 minutos) ou - Sumatriptano (6 mg, repetidos novamente por crise, se necessário) Tratamento de manutenção: - Verapamil (360 mg/dia, ou de liberação contínua, 240 a 480 mg/dia) - Carbonato de lítio 300 mg VO1 a 3 vezes ao dia (monitorar niveis séricos) • Cefaleia Tensional Cefáleia recorrente crônica, de causa desconhecida e que não apresenta características de enxaqueca ou das demais. - Tratamento basicamente com AINEs e tricíclicos (amitriptilina) - Medidas não farmacológicas !9 !1 0 Cefaléia em Salvas: Sinais e sintomas caracterís/cos como dor retrorbital, unilateral, ptose, miose, lacrimejamento e congestão nasal / coriza Cefaléia Tensional: Cefaléia não latejante, em pressão ou “aperto”, sem náuseas / vômitos ou pródromos visuais. Comumente a dor é relatada também nos músculos cervicais 2. TONTEIRA E VERTIGEM !1 1 2. TONTEIRA E VERTIGEM INTRODUÇÃO Tontura é um termo comum e inespecífico usado para descrever uma gama de sensações, incluindo: 1. Pré-síncope (sensação iminente de perda de consciência); 2. Desequilíbrio (sensação de queda aparente); 3. Vertigem (ilusão de movimento, geralmente com sensação rotacional); 4. Light headness (“cabeça vazia”, forma inespecífica, sem definição e diagnóstico claros) ETIOLOGIA A etiologia pode ser central ou periférica, com um amplo diferencial, variando de condições benignas a ameaçadoras à vida. A vertigem é preditiva do envolvimento do sistema vestibular (periférico ou central). - A vertigem que dura por segundos, ocorrendo com a mudança de posição, sugere paroxismo VPPB - A vertigem com duração de horas associada a alterações auditivas, zumbido e plenitude auricular sugere a síndrome de Meniére. - A vertigem episódica em um paciente sem outras características, com cefaléia recorrente de padrao migranoso é comum - A vertigem associada a sons altos ou alterações de pressão pode ser observada na deiscência dos canais semicirculares verticais. - Desequilíbrio sem vertigem é observado na hipofunção vestibular bilateral. EPIDEMIOLOGIA - 3-4% das queixas da emergencia - 12-13% atendimentos da neurologia - Diagnósticos mais frequentes - VPPB (22%) e AVEi/AIT(25%). - Síndrome vestibular aguda – 10-20% dos pacientes com queixas de tonteira EXAME NEUROLÓGICO 1. H.I.N.T.S (acrônimo para Head impulse, Nistagmo, Test of skew) - Head Impulse: O examinador gira a cabeça do paciente rapidamente para um lado e para o outro enquanto solicita a ele que fixe em seu rosto. Se uma refixação (sácade) ocorrer após girar rapidamente a cabeça do paciente, a paresia do canal está presente no lado para o qual a cabeça foi girada. A positividade do teste sugere comprometimento vestibular do lado que gerou a sacada corretiva, portanto sugere causa periférica. - Nistagmo: O paciente é solicitado a desviar o olhar 30 graus para a esquerda e para a direita; para cima e para baixo. As síndromes vestibulares periféricas estão geralmente associadas ao nistagmo predominantemente horizontal que bate em uma única direção. Caracteristicamente, esse nistagmo se intensifica para o lado da componente rápida (Lei de Alexander). O aparecimento de nistagmos verticais ou que mudam de direção no desvio do olhar sugerem o comprometimento de cerebelo ou tronco cerebral. Presença de nistagmo multidirecional sugere causa central. - Test of Skew: O paciente olha para um ponto na face do examinador e este oclui alternadamente o olho direito e esquerdo, observando se há ou não correção do olhar verticalmente. O olhar desalinhado verticalmente é sugestivo de comprometimento central. H.I.N.T.S. tem sensibilidade maior do que RM de crânio com DWI nas primeiras 24-48 horas após o início dos sintomas (S 98% - E 95% para o HINTS vs 80% e 97% para RM com difusão) !1 2 2. I.N.F.A.R.C.T Esse mnemônico facilita memorizarmos o padrão central do HINTS associado à lesões ameaçadoras a vida. - IN: Impulse normal (head impulse normal) - FA: Fast phase alternating (nistagmo multidirecional) - RCT: Refixation on Cover test (cover há refixação vertical) !1 3 Diferenciação entre ver/gens periféricas e centrais Sinais/Sintomas Periférica Central Vertigem Frequentemente intermitente; grave Frequentemente constante; geralmente menos grave Nistagmo Sempre presente; unidirecional, nunca vertical Pode estar ausente; multi bidirecional, mas pode ser vertical Perda auditiva ou zumbido Frequentemente presente Raramente presente Sinais intrínsecos do tronco cerebral ou do cerebelo Ausente Geralmente presente Head impulse: O examinador gira a cabeça do paciente rapidamente para um lado e para o outro enquanto solicita a ele que fixe em seu rosto. Neste caso houve uma sacada de correção para esquerda (E) ao movimentar a cabeça para direita (C->D), indicando um lesão no labirinto ou no VIII NC à direita TRATAMENTO Os supressores vestibulares são úteis para o controle breve (3 dias ou menos) dos sintomas associados à síndrome vestibular aguda. Eles não são indicados para o tratamento prolongado da tontura e não têm efeito comprovado na vertigem posicional paroxística benigna. Síndrome Vertiginosa Aguda - Anti-histamínicos: Meclizina (25–50 mg 6/6h VO) - Dimenidrinato (50 mg q4–6h VO ou IM) também é usado como medicamento sedativo vestibular - Benzodiazepínicos: diazepam 2,5 a 5 mg VO BID ou TID ou clonazepam 0,5 mg cp ou 5 gotas 2.5mg/ml) BID ou TID) pode ser útil para aliviar vertigens e ansiedade graves. Deve-se tomar cuidado para evitar tolerância e habituação - Hidratação venosa - Manobra de Dix-Hallpike: Quando a vertigem ocorre com uma alteração de posição, as manobras de Nylen-Bárány ou Dix-Hallpike são usadas para precipitar o quadro. A cabeça é rapidamente abaixada 30 graus abaixo do plano horizontal. Esse processo é repetido com a cabeça e os olhos viradosinicialmente para a direita e, então, para a esquerda. Os olhos são observados para verificar nistagmo, e o paciente é solicitado a verificar o início, a gravidade e o cessamento da vertigem. - Nos casos de suspeita / confirmação de lesão central, o tratamento deverá ser direcionado para a causa base. !1 4 Test of Skew: O paciente olha para um ponto na face do examinador e este oclui alternadamente o olho direito e esquerdo, observando se há ou não correção do olhar ver/calmente. O olhar desalinhado ver/calmente é suges/vo de comprome/mento central. !1 5 Manobra de Dix-Hallpike O paciente senta sobre uma mesa com a cabeça e os olhos dirigidos para a frente (A), sendo, então, rapidamente abaixado para uma posição supina, com a cabeça sobre a borda da mesa, a 45 graus abaixo da horizontal. Os olhos do paciente são observados para nistagmo, e solicita-se que relate qualquer ver/gem. O teste é repe/do com a cabeça e os olhos do paciente voltados 45 graus para a direita (B), e nova- mente com a cabeça e os olhos voltados 45 graus para a esquerda 3. TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO !1 6 3. TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO INTRODUÇÃO Classicamente, o TCE pode se manifestar por uma perda de consciência imediata, mas transitória, associada a um curto período de amnésia. Pode ou não ser acompanhado de deficit neurológico focal e rebaixamento do nível de consciência. CLASSIFICAÇÃO Risco Alto 1. Idade acima de 65 anos 2. Intoxicação aguda por álcool ou drogas ilícitas. Síndrome de abstinência alcóolica 3. Uso de anticoagulantes 4. Criança espancada, gestante, discrasia sanguínea (ex: pcte hemofílico) 5. Fístula liquórica (rino ou otoliquorreia) 6. TCE + trauma de outros sistemas (Politraumatismo) 7. Petéquias sugestivas de síndrome de embolia gordurosa 8. Piora do nível de consciência para ECG < 15 ou surgimento de déficits neurológicos focais 9. Meningismo 10. Déficit de acuidade visual 11. Crises sub-entrantes (estado epilético). Risco Moderado 1. Envolvimento em acidente grave, com vítimas fatais. Queixas neurológicas. História não confiável (suspeita de crianças/idosos espancados); 2. Equimose palpebral, retroauricular ou ferida em grande extensão no couro cabeludo 3. Cefaléia progressiva, vômitos ou convulsão 4. Perda momentânea da consciência 5. Desorientação temporo-espacial, amnésia retrógrada ou pós-traumática (amnésia lacunar) 6. Síncope pós-traumatismo (síndrome vaso-vagal) 7. Idade < 2 anos (exceto se traumatismo muito trivial) Risco Baixo 1. TCE por mecanismo de trauma de pequena intensidade, assintomático, exame físico geral normal e sem alterações neurológicas 2. Sinais ou sintomas mínimos 3. Cefaléia leve, não progressiva 4. Tontura, vertigem temporária 5. Hematoma subgaleal ou laceração do couro cabeludo pequena !1 7 Classificação do TCE de acordo com a escala de coma de Glasgow (ECG) - TCE grave: ECG < ou = 8 - TCE moderado: ECG entre 9 e 13 - TCE leve: >13 Escala de Coma de Glasgow Pontuação Abertura dos olhos Resposta verbal Resposta motora 1 Nenhuma Nenhuma Nenhuma 2 À dor Sons Incompreensíveis (gemente) Extensão 3 Ao Chamado Palavras Inapropriadas Flexão 4 Espontânea Confusa Retirada da dor 5 − Orientada Localiza a dor 6 − − Obedece a comandos EXAME NEUROLÓGICO A avaliação neurológica é parte importante do exame do politraumatizado. Basicamente são 3 etapas principais mostradas na tabela abaixo: COMPLICAÇÕES - Concussão: Uma concussão única e descomplicada apenas raramente produz mudanças neurocomportamentais permanentes em pacientes livres de problemas psiquiátricos preexistentes e abuso de substâncias. No entanto, pequenos problemas residuais na memória e na concentração podem ter uma correlação anatômica nas lesões cerebrais microscópicas - Contusão: Consiste em vários graus de hemorragia petequial, edema e lesão tecidual. Mecanismo se dá por desaceleração do cérebro contra a porção interna do crânio, sob um ponto de impacto (lesão de golpe) ou, à medida que o cérebro recua, na área antipolar (contra- golpe). Locais comuns: superfícies orbitais dos lobos frontais e nas porções anterior e basal dos lobos temporais - HSAT (hemorragia subaracnóidea traumática): presença de sangue no espaço subaracnóideo por ruptura de vasos sangüíneos locais e esgarçamento da aracnóide. - HEDA (hematoma extradural agudo): são menos comuns que hematomas subdurais, porém podem aumentar rapidamente pelo sangramento arterial (classicamente proveniente da artéria meníngea média) e desencadear deterioração neurológica - HSD (hematoma subdural): Pode ser agudo ou crônico, especialmente este último caso em pacientes idosos com atrofia cerebral prévia e etilistas. Decorre de acúmulo de sangue entre a dura-máter e a aracnóide. O efeito de massa se deve pelo próprio hematoma e também pelo edema perilesional associado. - Hematoma intraparenquimatoso: são acúmulo de sangue no tecido cerebral. No contexto do TCE, eles frequentemente resultam da coalescência das contusões. - Fraturas: pacientes que apresentam fratura associada a comprometimento neurológico apresentam maior risco de hematomas intracranianos. Lembrar de fraturas temporais e risco de HSDA ! Equimose retrouaricular (sinal de Battle) ou periorbital (olhos de guaxinim) indicam fratura de base de crânio EXAMES - TC de crânio sem contraste: método de escolha para pacientes com TCE de moderado a grave ou pacientes de alto risco - RM de crânio: para avaliar LAD (lesão axonal difusa) ou lesões de fossa posterior Indicação de TC de crânio: • Glasgow < 15 - Presença de déficit neurológico - Sinais de fratura no RX crânio - Cefaleia/vômitos persistentes !1 8 Avaliação neurológica inicial do politrauma/zado Observar Lesão estrutural supratentorial Lesão estrutural infratentorial Tamanho pupilar e fotorreatividade Em geral de tamanho normal (2 a 4 mm) e reativas ou grandes (︎7 mm) e não reativas com herniação transtentorial Tamanho médio (cerca de 5 mm) e não reativas com lesão mesencefálica ou puntiformes (1 a 1,5 mm) e não reativas com lesão pontina Movimentos oculares Normais (pode ocorrer olhar preferencial voltado para o lado da lesão) Comprometimento da adução com lesão mesencefálica; comprometimento da adução e da abdução com lesão pontina Resposta motora Em geral assimétricas; podem ser simétricas após herniação transtentorial Assimétricas (lesão unilateral) ou simétricas (lesão bilateral) • Glasgow 15 - Se perda da consciência > 5 minutos no momento do trauma. Indicação de CTI: - Glasgow < 12 – Pós-operatório cirurgia craniana (exceto afundamento craniano e HEDA) - Deterioração neurológica progressiva - Trauma sistêmico grave - Necessidade de monitorização de PIC TRATAMENTO - Posicionamento no leito: preferencialmente com cabeceira elevada (30 graus) para melhorar o retorno venoso e evitar aumento da PIC - Anticonvulsivantes: Profilático nas contusões, HSDA, fratura com afundamento, trauma penetrante e HSAT. Se as convulsões não se desenvolverem dentro de 1 semana, devem ser suspensos, pois seu valor para prevenção de convulsões futuras não está estabelecido. Geralmente utiliza-se Fenitoina 250mg/5ml 2ml EV 8/8h - Analgésicos/Antitérmicos/Antieméticos: Administra-se dipirona e metoclopramida de rotina, para se evitar dor intensa, hipertermia e vômitos, que podem elevar PIC e desencadear piora neurológica - Proteção gástrica: Paciente vítima de TCE está sob risco de desenvolver úlcera de stress, e por isto administra-se Ranitidina oral (se paciente consciente) ou venosa BID - Manitol: para paciente com sinais iminentes de herniação cerebral. Dose de 0,25 a 1g/Kg, em bolus. Corticoide não é indicado no paciente com TCE. Cuidado com pacientes hipotensos! - OBS: Sempre orientar paciente e familiares sobre sinais de alarme do TCE, principalmente idosos, pois há risco de piora neurológica em 30 dias devido a HSDC(vide bônus ao final do ebook) NEUROIMAGEM !1 9 HSDA (fronto-temporo-parietal D) - Sangue hiperdenso indica sangramento agudo - Observe desvio de linha média (se > 5mm = avaliação neurocirúrgica) - Edema com apagamento de sulcos ipsilateral HSDC (fronto-temporo-parietal E) - Sangue isodenso indica sangramento subagudo para crônico - Observe desvio de linha média ( se > 5mm = avaliação neurocirúrgica) - Note o contorno da superfície cerebral nas bordas do hematoma HSDA (fronto-temporal E) - Sangue hiperdenso indica sangramento agudo - Observe desvio de linha média (se > 5mm = avaliação neurocirúrgica) - Edema com apagamento de sulcos HSAT (frontal D) - Hiperdensidade perisilviana D - Lesão por contra-golpe - Note extenso hematoma subgaleal à esquerda 4. CRISE CONVULSIVA !2 0 4. CRISE CONVULSIVA CRISES CONVULSIVAS E EPILEPSIA - Convulsão é uma mudança repentina, paroxística, no comportamento, que pode ou não se apresentar com alterações da consciência e abalos musculares focais ou generalizados (Bilaterais). - Epilepsia é uma condição clínica em que há uma tendência de crises recorrentes. - Crise Convulsiva Sintomática Aguda ocorre em pacientes não epilépticos, são provocadas por situações clínicas e tendem a não mais recorrer desde que eliminado o fator desencadeante (hipoglicemia, abstinência alcoólica, intoxicações exógenas, etc). CRITÉRIOS DIAGNÓSTICO DE EPILEPSIA - Presença de pelo menos duas crises convulsivas não provocadas na história do paciente que ocorreram com mais de 24 horas de intervalo entre elas. - Presença de uma crise convulsiva não provocada ocorrendo em um indivíduo com maior probabilidade de recorrer com novas crises em virtude de maior risco individual. Normalmente isso se dá na presença de lesões estruturais relevantes, como sequela acidente vascular cerebral, lesões degenerativas do SNC como Alzheimer, infecção do sistema nervoso central ou certos tipos de lesões cerebrais traumáticas ou neoplásicas. - Diagnóstico estabelecido de uma Síndrome Epiléptica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS CRISES CONVULSIVAS -Síncope -Ataque isquêmico transitório - AIT (principalmente em idosos) -Migrânea com Aura. -Crise de Ansiedade Paroxística / Crises de Pânico. -Crise não-epiléptica psicogênica (CNEP). -Amnésia global transitória (rara antes dos 50 anos). -Narcolepsia com cataplexia. !2 1 Classificação das Crises EpilépDcas: Úl/ma classificação de acordo com a ILAE 2017 -Distúrbios de movimento paroxístico. TIPOS DE CRISES As crises convulsivas são categorizadas como focais ou generalizadas, dependendo se o início da atividade elétrica envolve uma região focal do cérebro ou todo o córtex simultaneamente. As crises focais podem ocorrer com alteração da consciência ou sem alteração da consciência. Crises convulsivas tônico-clônicas generalizadas (bilaterais) são o tipo mais comum de convulsões generalizadas. Elas começam com uma perda abrupta de consciência, às vezes associada a um grito ou um som sufocado. Todos os músculos ficam rígidos na fase tônica. Após alguns segundos, há a fase clônica. A duração da fase ictal é de cerca de 2 minutos. A fase pós-ictal inicia quando os movimentos de contração terminam. O paciente entra inicialmente em um estado de lentificação, pode haver confusão mental e desorientação temporo-espacial seguida de agitação e respiração ruidosa. As crises epilépticas também podem ser de ausência, tônica, atônica e mioclônica. CAUSAS COMUNS DE EPILEPSIA -Epilepsia do lobo temporal mesial -Doença cerebrovascular (epilepsia estrutural) -Tumores cerebrais primários ou metastáticos -Malformações vasculares -Infecção prévia do sistema nervoso central, como neurocisticercose. -Traumatismo craniano (epilepsia estrutural) -Demência neurodegenerativa, incluindo a doença de Alzheimer CAUSAS COMUNS DE CRISES CONVULSIVAS SINTOMÁTICAS AGUDAS -AVC isquêmico ou hemorrágico agudo, particularmente hemorragia lobar -Hematoma subdural -Hemorragia subaracnóidea -Lesão cerebral traumática -Abscesso cerebral -Meningite ou encefalite -Distúrbios metabólicos: Hipoglicemia, Hiponatremia, Hipocalcemia, Hipomagnesemia, Uremia. -Hipertireoidismo. -Estados de abstinência, intoxicação por drogas, envenenamento e overdose. AVALIAÇÃO DA CRISE CONVULSIVA Uma descrição detalhada da convulsão deve ser obtida com o paciente e as testemunhas e deve incluir as circunstâncias que levaram à convulsão, incluindo possíveis gatilhos ou precipitantes, os comportamentos ictais e o estado pós-ictal. Eventos semelhantes anteriores devem ser interrogados, incluindo outros itens da história médica pregressa. Exame físico e exame neurológico deverá ser bem realizado. AVALIAÇÃO PROPEDÊUTICA - Exames Laboratoriais: Eletrólitos, Glicemia, hemograma completo, função renal, função hepática, exames de urina, exames toxicológicos, creatina fosfoquinase (CPK). - Neuroimagem: TC Crânio ou RM de Crânio para investigar lesões expansivas intracranianas. - Punção Lombar: Caso haja suspeita de processo infeccioso ou inflamatório agudo no SNC. - Eletrocardiograma (ECG): Para identificar possíveis diagnósticos causadores de síncopes ou demais fatores de riscos cardiológicos. - Eletroencefalograma (EEG): Realizado na urgência quando há comprometimento persistente da consciência. - Teste de gravidez: Todas as mulheres em idade fértil. !2 2 STATUS EPILEPTICUS A maioria das crises convulsivas resolvem espontaneamente em cerca de dois minutos após o início e não é necessária a administração rápida de benzodiazepínico ou outro medicamento antiepiléptico venoso como Fenitoína. Quando as crises duram 5 minutos ou mais ou quando há duas ou mais crises convulsivas no intervalo de 5 minutos sem que haja recuperação da consciência entre elas, temos o diagnóstico de Status Epilepticus e esse deve ser rapidamente tratado sob risco de lesões neurais permanentes. O Status Epilepticus pode ser: -Convulsivo (generalizado ou focal): Com abalos tônicos e/ou clônicos. -Não convulsivo: Clinicamente não aparente e confirmado somente com a realização de EEG ou, na sua ausência, após evidente resposta ao início do tratamento empírico. ABORDAGEM DO STATUS EPILEPTICUS - Atente para a proteção das vias aéreas. O paciente deve ter monitorização pressórica, monitorização de ECG e saturação de O2. Acesso IV ou IO deve ser estabelecido. - Nas gestantes, a possibilidade de eclâmpsia deve sempre ser considerada. A paciente com eclâmpsia deve receber Sulfato de Magnésio de 4 a 6 gramas IV, seguido de infusão de 1-3 g/ hora. - Como primeira linha, administrar Benzodiazepínicos: - Diazepam 5 a 10 mg IV ou Midazolam 10 mg IM se houver algum atraso no estabelecimento de uma linha intravenosa. - Se as convulsões persistirem, considere repetir a dose parenteral de benzodiazepínico uma vez. - Mantendo o status faça Fenitoína IV (20 mg/kg, máx 1.500mg), em infusão de 50 mg/min em adultos. - Caso não melhore, dose adicional de Fenitoína 5 mg/kg poderá ser realizada. - Se as convulsões persistirem, Fenobarbital intravenoso pode ser administrado de 15 a 30 mg/ kg. Nesse momento, a intubação orotraqueal é mandatória. - Persistindo as convulsões, deve ser realizada anestesia geral com Propofol IV (1 a 2 mg / kg em bolus 20 a 40 mcg/kg/min) ou Pentobarbital (5 a 15 mg/kg em bolus seguido de 0,5 a 5 mg/kg/ h). EEG Contínuo será necessário nos pacientes que atingiram esse estágio. INÍCIO DE MEDICAMENTOS ANTIEPILÉPTICOS - Em pacientes não epilépticos com crises convulsivas sintomáticas agudas em que a condição clínica subjacente levará um certo tempo para ser tratada, normalmente, é administrada Fenitoína IV em doses de ataque (20 mg/kg até um máximo de 1.500 mg) , com o objetivo de prevenir convulsões recorrentes e desestabilização. - Medicamentos antiepilépticos são indicados de maneira geral se há história de 2 crises convulsivas não provocadas com intervalo maior de 24 horas entre elas, ou seja, caso o pacientefeche o diagnóstico de epilepsia. Caso o paciente tenha tido somente uma única crise na vida, não está indicado o início de medicamento antiepiléptico. !2 3 MEDICAMENTOS ANTIEPILÉPTICOS !2 4 Medicamentos Indicações Dose para Adultos Ácido Valpróico Crises Generalizadas Crises de Ausência Dose inicial de 10 a 15 mg/kg/dia dividido em 2 ou 3 vezes ao dia. Aumentos semanais de 5 a 10 mg/kg/dia. Dose de manutenção de 30-60 mg/kg/dia dividido em 2 ou 3 vezes ao dia. Carbamazepina Crises Focais Iniciar com 200 mg de 12 em 12 horas e aumente 200 mg semanalmente até uma dose de manutenção de 400 mg a 600 mg de 12 em 12 horas. Fenitoína Crises Focais Crise Generalizadas Bolus IV 15-20 mg/kg: Recomendado monitoramento cardíaco e não deve ser superior a 50 mg/min em adultos; Terapia de manutenção com fenitoína 300 mg/dia de 8 em 8 horas. Fenobarbital Crises Generalizadas Dose de 15 a 20 mg/kg de bolus intravenoso apenas no status epilepticus. Dose de manutenção VO de 100 mg a no máximo 200 mg por dia. Gabapentina Crises Focais, somente como terapia adjuvante. Iniciar 300 mg VO diariamente, aumentar 300mg a cada dois dias para a dose de manutenção de 300 mg VO de 8 em 8 horas. Lacosamida Crises Focais Iniciar com 100 mg de 12 em 12 horas, aumentar 100 mg/dia semanalmente até dose de 150mg a 200mg de 12 em 12 horas. Lamotrigina Crise Parciais, Crise de Ausência Crise generalizadas Iniciar com 25mg por dia e aumentar gradualmente a dose em 25 mg a cada 2 semanas. Levetiracetam Crises Focais, Crise de Ausência Epilepsia Mioclônica Dose de manutenção de 500mg a 1.500 mg de 12 em 12 horas Oxcarbazepina Crises Focais Iniciar 300 mg VO de 12 em 12 horas. Aumentar a cada sete dias em 300 mg/dia para dose de manutenção de 600 mg de 12 em 12 horas. Topiramato Crise Generalizada,mio clonias, ausência Iniciar 25mg 12 em 12 horas, aumentar em 50 mg/dia semanalmente até a dose de manutenção de 200 mg VO de 12 em 12 horas. 5. INFECÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL !2 5 5. INFECÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL INTRODUÇÃO - Meningite é a inflamação das meninges causada na maioria dos casos por um agente infeccioso, incluindo bactérias, micobactérias, vírus, fungos e até parasitas. Células neoplásicas, doenças inflamatórias como a sarcoidose, drogas, meios de contraste e sangue, como ocorre na hemorragia subaracnóidea, também são causas de meningites. - Encefalite é a inflamação do parênquima cerebral em associação com evidência clínica de disfunção neurológica. - Meningoencefalite descreve as situações em que há meningite associada a encefalite. Os agentes infecciosos mais comumente alcançam as meninges por via hematogênica mas também podem ocorrer disseminação direta por contiguidade de tecidos: Seios paranasais, Nasofaringe ou Ouvido interno ou através de fraturas do crânio. APRESENTAÇÃO CLÍNICA A meningite se manifesta por alteração do estado mental, febre, cefaleia e sinais de irritação meníngea. Esses sinais incluem: - Rigidez de Nuca: Resistência do pescoço à flexão completa para a frente. Os sinais meníngeos podem estar ausentes na encefalite sem envolvimento meníngeo e na meningite que ocorre em extremos de idade, ou em pacientes profundamente comatosos ou imunossuprimidos. PROPEDÊUTICA A punção lombar (PL) é realizada para coleta e análise do Líquor, também chamado de Líquido Cefalorraquidiano (LCR). Essa é uma importante ferramenta diagnóstica das meningites. A obtenção do LCR deve ser realizada o mais rapidamente possível para evitar atraso no início do tratamento. !2 6 - Sinal de Brudzinski: Flexão do joelho durante a flexão passiva do pescoço. - Sinal de Kernig: Flexão do pescoço ou do joelho contralateral quando o joelho é estendido com o quadril flexionado. Caso indisponível, a TC Crânio não deve atrasar o início da antibioticoterapia. Nesses casos devem ser coletados sangue e urina para cultura e iniciada a antibioticoterapia empírica. A TC de Crânio terá que ser realizada assim que possível e, após, caso não mostre lesão intracraniana focal que possa contraindicar a punção lombar, essa então deverá ser realizada com a técnica apropriada. TÉCNICA DE PUNÇÃO LOMBAR MATERIAL: - Anestésico local (Lidocaína 2%), agulhas e seringas para aspirar e aplicar o anestésico. - Agulha para punção lombar com estilete, calibre 20 ou 22. - Solução para degermação da pele (Clorexidina ou PVPI degermante) - Gazes e Campos estéreis. - Raquimanômetro, ou equipo de soro para aferir a altura da coluna de Líquor formada. - Tubos para coleta de Líquor. - Luvas estéreis POSICIONAMENTO DO PACIENTE Após explicar e obter o consentimento do paciente, você deve posicioná-lo adequadamente. Podem ser utilizadas basicamente duas posições para realização da punção: - Decúbito lateral com as pernas e coxas fletidas (em posição fetal), com a coluna paralela a mesa de procedimento. Mais utilizada. - Sentado curvando-se para frente, de forma que a coluna fique perpendicular a mesa em que o paciente está sentado. Para situar o ponto de punção, uma linha imaginária deve ser traçada entre as cristas ilíacas, cruzando perpendicularmente a coluna vertebral. O ponto de intersecção entre esta linha e a coluna vertebral coincide de modo geral com o processo espinhoso da vértebra L4. A agulha deve ser inserida no espaço entre a vértebra L3-L4 ou L4-L5, pois esta posição se localiza abaixo da medula espinhal, local em que se tem apenas a cauda equina. Apalpe o local de punção identificado por sua linha imaginária antes de fazer o preparo da pele, para se ter um melhor parâmetro anatômico, tanto para realização da anestesia local, como da própria punção. !2 7 Indicações de TC Crânio Antes da Punção Lombar Imunossuprimidos História de doença neurológica central Crises convulsivas novas Papiledema Alteração do nível de consciência Déficit neurológico focal Se houver sinais de aumento da pressão intracraniana, uma TC de Crânio deverá ser realizada antes da punção lombar, para se verificar se há lesões intracranianas com potencial risco de herniação. PREPARO PARA O PROCEDIMENTO Utilizando uma luva estéril, proceda a degermação de uma ampla área do sítio de punção com uma solução como clorexidina ou iodo, realizando movimentos de círculos concêntricos. Cubra a área com campos estéreis, deixando apenas o sítio de punção livre para acesso. Faça uma anestesia local com lidocaína subcutânea no local onde será puncionado. INSERÇÃO DA AGULHA Agora, utilizando uma luva estéril, identifique, por meio da palpação, o sítio de punção. Feito isso, introduza a agulha de tamanho apropriado com o estilete em seu interior. Ela deve ser introduzida na linha média, na porção superior do processo espinhoso imediatamente inferior ao espaço que você está adentrando. Direcione a agulha em um ângulo de aproximadamente 15 graus em direção ao umbigo do paciente. Certifique-se de que o bisel da agulha esteja alinhado no plano sagital, para separar, em vez de cortar as fibras do saco dural. Essas fibras correm paralelas ao eixo da coluna. O uso da agulha nesta posição, teoricamente, reduz o extravasamento de líquido cefalorraquidiano. Se corretamente posicionada, a agulha deve transpassar as seguintes estruturas na sequência aqui listada: - Pele e tecido subcutâneo - Ligamento supraespinhoso - Ligamento interespinhoso - Ligamento amarelo - Espaço epidural posterior (que contém seu plexo venoso) - Dura-máter - Aracnoide - Espaço subaracnóideo (entre os nervos terminais que formam a cauda equina) Quando a agulha passa pelo ligamento amarelo, você pode sentir uma sensação de estalo, como se você estivesse furando uma folha com uma agulha. Após esta sensação, você deve inserir a agulha por mais 2 mm. Uma vez atingido o local desejado, retire o estilete para checar se há fluxo !2 8 Posicionamento do paciente para realização de punção lombar: uma linha imaginária deve ser traçada entre as cristas ilíacas, cruzando perpendicularmentea coluna vertebral. O ponto de intersecção entre esta linha e a coluna vertebral coincide de modo geral com o processo espinhoso da vértebra L4 de líquido cefalorraquidiano. Caso não saia, a cada 2 mm de mobilização da agulha, retire novamente o estilete para checar gotejamento do LCR. Caso uma estrutura óssea seja atingida, não force para avançar, retire a agulha até o nível do subcutâneo, sem retirá-la pela pele e reinsira, alterando a sua direção. Líquido cefalorraquidiano fluirá assim que a agulha atingir o espaço subaracnóide. Se houver um acidente de punção, o LCR pode estar sujo de sangue, mas, conforme o líquido goteja no frasco coletor, este deve se tornar translúcido, a menos que a fonte do sangramento seja uma hemorragia subaracnóide. Se o fluxo for lento, uma raiz nervosa pode estar obstruindo a agulha, assim, você deve rotacionar a agulha 90 graus. Se um coágulo sanguíneo obstruir a agulha, você deve retirar esta e puncionar outro espaço intervertebral com uma nova agulha. PRESSÃO DE ABERTURA DO LCR Após puncionado e observado a saída de LCR pela agulha a primeira coisa a se fazer é medir a pressão de abertura do LCR, o paciente deve estar em decúbito lateral. Conecte o manômetro (Ou um equipo de soro) pela válvula, e observe a altura da coluna de líquido. As pernas do paciente devem ser esticadas ao aferir a pressão de abertura ou o resultado será erroneamente elevado. A pressão de abertura normal varia de 5 a 20 cm de água. Um manômetro de LCR digital também poderá ser utilizado se disponível. COLETA DO LCR Você deve permitir que o LCR goteje nos tubos de coleta de material. Nunca aspire o líquido cefalorraquidiano, pois mesmo uma pequena pressão negativa pode precipitar hemorragia. A coleta de LCR necessária deve ser mínima para que se realize a análise laboratorial. Tipicamente, 4 a 5 mL de LCR são o suficientes para a maioria dos processamentos. Após ter coletado o volume de LCR necessário, reposicione o estilete e remova a agulha. ANÁLISE DO LCR - A pressão normal do LCR, medida em decúbito lateral, varia entre 5 e 20 centímetros de água (cmH2O). As pressões estão tipicamente elevadas na meningite bacteriana e podem estar muito elevadas nos casos de meningite tuberculosa ou criptocócica. - A aparência do LCR também fornece informações importantes em relação a sua cor e seu aspecto. Um LCR com aspecto turvo pode indicar à presença de concentrações significativas de glóbulos brancos, glóbulos vermelhos, bactérias e/ou proteínas. Nas meningites bacterianas o aspecto do líquido varia de levemente turvo a francamente purulento. Nas hemorragias a cor do Líquor varia de Xantocrômico a Vermelho. - Ao encaminhar o LCR para o laboratório deve-se solicitar, além da análise de rotina do Liquor, os exames específicos que forem necessários a depender do quadro clínico e da hipótese diagnóstica de cada paciente. - A celularidade nas meningites bacterianas apresenta uma contagem de leucócitos de 1.000 a 10.000/mm3, consistindo predominantemente de Leucócitos polimorfonucleares, embora células mononucleares possam predominar na meningite por Listeria monocytogenes. COLORAÇÃO DO GRAM NO LCR E DEMAIS COLORAÇÕES A análise do Gram deve ser realizada imediatamente para diagnosticar meningite bacteriana. Quanto maior a concentração de bactérias no LCR, maior a probabilidade de a coloração de Gram produzir um resultado positivo. Achados no Gram típicos que podem ser observadas na meningite bacteriana incluem: - Diplococos Gram-positivos: Streptococcus pneumoniae) - Diplococos Gram-negativos: Neisseria meningitidis) - Cocobacilos Gram-negativos: Haemophilus influenzae) - Bastonetes Gram-positivos: Listeria monocytogenes) !2 9 Nas suspeitas de Meningite Tuberculosa solicite pesquisa de BAAR, coloração de Ziehl-Neelsen, embora a sensibilidade seja baixa, em torno de 20%. Nas suspeitas de Meningite Criptocócica solicite teste da Tinta da China (Tinta Nanquim). CULTURA DO LCR São positivas em 70 a 85% dos pacientes que não receberam terapia antimicrobiana prévia, mas as culturas podem levar até 48 horas para a identificação do organismo. Quando houver suspeita de Meningite Tuberculosa ou Meningite Fúngica, culturas para Mycobacterium tuberculosis e culturas específicas para fungos devem ser solicitadas. No caso do Meningite Tuberculosa, uma cultura positiva é alcançada em menos de 50% dos casos e pode levar até 6 semanas para crescer. É especialmente importante que quantidades suficientes sejam colocadas para a cultura do Bacilo de Koch (aprox. 10 mL) e punções lombares sejam repetidas sempre que necessário. HEMOCULTURA Auxilia na determinação do agente etiológico e na análise da sensibilidade aos antibióticos. Sempre colher hemoculturas na suspeita diagnóstica GLICORRAQUIA A concentração de glicose no LCR (Glicorraquia) e a glicose sanguínea (Glicemia) devem ser coletados em horários próximos e comparados. A concentração de glicose no líquor é proporcional à concentração de glicose no sangue, correspondendo a cerca de 2/3 da glicemia em condições normais. O nível de glicose no líquor é inferior a 40 mg/dL em cerca de 80% dos casos, podendo ser tão baixo que não possa ser medido. PROTEINORRAQUIA Mensurar a concentração de proteína presente no LCR. A quebra de barreira secundária a infecção explica o aumento de proteínas no LCR. REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR) A PCR também pode ser usada, quando disponível, em amostras de LCR com o objetivo de se identificar o agente etiológico. OUTROS - ADA: Pode ter sua concentração elevada no LCR na Meningite Tuberculosa. - Lactato: O lactato elevado no LCR normalmente está relacionado às meningites bacterianas. - Látex: Na prova de Aglutinação do Látex quando o LCR contendo antígenos é colocado no recipiente de látex que contém o seu anticorpo específico ocorre então uma agregação das partículas de látex permitindo a rápida visualização de aglutinação positiva. PROGNÓSTICO - A taxa de letalidade da meningite bacteriana é de 4% a 10% na população pediátrica e de 25% em adultos. As taxas de letalidade são de 3% a 7% para Haemophilus influenzae e Streptococcus agalactiae; 20% a 25% para Streptococcus pneumoniae; e 30% a 40% para Listeria monocytogenes. As taxas de mortalidade são elevadas entre pacientes nas extremidades etárias (neonatos e idosos). - A mortalidade geral por infecções meningocócicas é de 5% a 10%. Em alguns casos, a bacteremia meningocócica oculta apresenta resolução espontânea ou após ciclos curtos de terapêutica antimicrobiana empírica por via oral ou parenteral. As taxas gerais de morbidade e mortalidade são semelhantes às observadas em crianças com formas mais graves da doença.[8 - Pacientes com meningite apresentam menor mortalidade (5%) que aqueles com sepse meningocócica (5% a 40%). A maioria das mortes ocorre nas primeiras 24 horas da doença. !3 0 Fonte: adaptado de Machado (Machado LR. Infecções de SNC no imunocompetente. ln: Emergências clínicas - abordagem prática. 2a ed. Disciplina de Emergências Clínicas. São Paulo: Atheneu; 2006. TRATAMENTO PARA MENINGITE A meningite bacteriana é uma emergência médica. Cada hora de atraso no início da antibioticoterapia aumenta a probabilidade de um resultado fatal ou déficit neurológico permanente. O tratamento deve ser iniciado imediatamente após a punção lombar. Caso haja atraso para a realização da mesma, a hemocultura deve ser coletada e o tratamento com PARÂMETRO BACTERIANA VIRAL TUBERCULOSE HERPES Células/microL 100 a 2.000 10 a 500 10 a 500 0 a 200 Neutrófilos > 90% persistente Primeiros 2 dias Até 30% (fase aguda) Até 30 % Linfomono Auto após tratamento > 60% > 50% > 40% Proteinorraquia mg/dl 80 a 1.000 Normal no início, até 100 depois Até 200 Até 200 Glicose mg/dl Muito baixa Normal Diminuição discreta Diminuição discreta Lactato Muito elevado Normal (exceto HSV-2) Discretamente elevado Discretamente elevado ADA Normal (exceto se sofrimento cerebral) NormalElevado Elevado Latex Meningococo, pneumococo, hemófilos - - - Culturas Até 85% de positividade (48 h) Negativas Positivas em 52 a 83% (90 a 120 dias) Negativas PCR - - Sensibilidade 40 a 70% | Especificidade 90% Sensibilidade > 95% Especificidade 100% Anticorpos - Pesquisar em meningites de repetição (HSV) - Só após 1a semana; sensibilidade e especificidade 90% !3 1 antibióticos empíricos deve ser iniciado. A Punção Lombar deve ser executada na primeira oportunidade. - A escolha inicial de antibióticos é empírica, com base na idade do paciente e nos fatores predisponentes. - O tratamento é ajustado como indicado quando a coloração de Gram ou a Cultura do Líquor e o Antibiograma estiverem disponíveis. - O tratamento empírico da meningite adquirida na comunidade é com uma cefalosporina de terceira geração (Cefotaxima ou Ceftriaxona). A cobertura com ampicilina e gentamicina pode ser adicionada nos casos em que houver suspeita de Listeria. DEXAMETASONA ADJUVANTE EM ADULTOS COM MENINGITE BACTERIANA A dexametasona reduz os riscos de sequelas neurológicas e de morte e é administrada imediatamente antes do início do antibiótico e mantida por quatro dias na dose de 10mg IV de 6 em 6 horas. A dexametasona só deve ser continuada se o Gram revelar diplococos Gram- positivos (S. pneumoniae) ou se as hemoculturas ou líquor forem positivas para S. pneumoniae. CONTROLE DE INFECÇÃO, NOTIFICAÇÃO E QUIMIOPROFILAXIA DE CONTATOS A meningite bacteriana, suspeita ou confirmada, é uma doença de notificação compulsória. Os devem ser mantidos em isolamento respiratório, com obrigatoriedade máscaras, luvas e aventais aos profissionais até 48 horas após o início dos antibióticos. A quimioprofilaxia deve ser oferecida aos contatos domiciliares, escolares ou profissionais e à equipe médica envolvida na ressuscitação inicial de pacientes com Haemophilus influenzae (Rifampicina) ou Neisseria meningitidis. Rifampicina a 20 mg/kg/dia por via oral, em dose diária única, durante quatro dias nos casos de TRATAMENTO GUIADO PELA CULTURA DE LCR Agentes Etiológicos Antibióticos de Escolha Duração do Tratamento (dias) S. pneumoniae Ceftriaxone 2g IV BID ou Cefotaxima 2g IV BID 10 a 14 H. influenzae Penicilina G 300.000 UI/Kg/dia IV até max. 2,4 milhões UI/dia 7 N. meningitidis Ampicilina 100mg/Kg/dia IV 4/4h ou Penicilina G 300.000 UI/Kg/dia IV até max. 2,4 milhões UI/dia e Gentamicina 1,5mg/Kg IV, seguida de 1 a 2 mg/kg IV 8/8h. 7 L. monocytogenes Ceftriaxona, Cefotaxima ou Ceftazidima e Gentamicina 14 a 21 S. agalactiae Penicilina G 14 a 21 Bacilos entéricos gram- negativos Ceftriaxone ou Cefotaxima e Gentamicina 21 Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter Ceftazidima 50 a 100mg/kg até o máximo de 2g IV 8/8h. e Gentamicina 1,5mg/Kg IV, seguida de 1 a 2 mg/kg IV 8/8h. 21 !3 2 H. influenzae ou em duas doses divididas durante dois dias nos casos de N. meningitidis. Ciprofloxacino também pode ser usado como profilático nos casos de N. meningitidis. MENINGITE TUBERCULOSA A meningite por tuberculose geralmente causa meningite crônica, desenvolvendo-se de algumas semanas a meses. Os sintomas são inicialmente inespecíficos, com início gradual de dor de cabeça e mal-estar. Posteriormente seguem sintomas meníngeos, evoluindo para convulsões, paralisia de nervo craniano e disfunções no sistema nervoso. Cinquenta por cento dos pacientes terão uma radiografia torácica anormal, portanto, tente encontrar evidências de tuberculose em outros locais. A neuroimagem com TC ou RM pode revelar hidrocefalia associada, realce meníngeo basal, infartos ou tuberculomas. O tratamento da meningite tuberculosa é realizado por 12 meses geralmente com uma combinação de Isoniazida, Rifampicina, Pirazinamida e Etambutol (RIPE) com piridoxina (para proteger contra os efeitos colaterais da isoniazida nos nervos periféricos) nos 2 primeiros meses e com Isoniazida e Rifampicina (RI) por mais 10 meses. MENINGITE FÚNGICA Dentre as meningites causadas por fungo, a meningite criptocócica está associada a indivíduos imunocomprometidos, particularmente aqueles com HIV avançado. Embora mais raramente possam acometer indivíduos imunocompetentes. A apresentação é semelhante a da Meningite Tuberculosa e deve-se ter em mente esse diagnóstico diferencial. MENINGITE VIRAL - Os vírus são a principal causa de síndromes de meningite asséptica (Linfocitose predominante no líquor com gram e culturas negativas). As manifestações clínicas da meningite viral incluem febre, cefaleia, rigidez de nuca, fotofobia, dor à movimentação ocular e leve comprometimento da consciência. Os pacientes em geral não parecem tão doentes quanto aqueles com meningite bacteriana. - Na apresentação, muitas vezes é difícil diferenciar da meningite bacteriana, pois os pacientes podem apresentar inicialmente alguns sintomas semelhantes. Em caso de dúvida, o tratamento da meningite bacteriana deve ser instituído e alterado conforme o paciente evolua e os resultados de exames forem conhecidos. - A análise do LCR mostra pressão de abertura normal ou diminuída, e observa-se uma pleocitose linfocítica ou monocítica, com contagens celulares geralmente inferiores a 1.000/mL. Uma pleocitose polimorfonuclear também pode ocorrer precocemente na meningite viral que após cerca de 6 a 12 horas já se torna com o padrão típico linfomononuclear. A proteína está normal ou levemente aumentada (em geral, 80 a 200 mg/dL). A glicorraquia geralmente é normal. Colorações de Gram, culturas para fungos e bactérias e culturas para BAAR são negativas. - Os enterovírus são a principal causa de meningite viral, representando 85-95% de todos os casos em que um patógeno é identificado. Os enterovírus abrangem um grande grupo de vírus que incluem os echovírus e os coxsackievirus. - O tratamento para a meningite viral sem encefalite associada é basicamente suportivo e baseado em medicamentos sintomáticos. Cefaleia e febre podem ser tratadas com paracetamol ou fármacos anti-inflamatórios não esteroides. Medicamentos corticosteroides não são indicados. - Os sintomas da meningite viral geralmente têm resolução espontânea em duas semanas, independente do agente causal, embora possam ser observados muito raramente déficits residuais. !3 3 ENCEFALITES Encefalites são as infecções ou inflamações agudas e difusas do parênquima cerebral. Frequentemente elas se apresentam como estados confusionais agudos. As causas da encefalite compreendem: - Infecção direta do SNC - Causas pós-infecciosas / pós-imunização - Causas não infecciosas (como encefalite associada a anticorpos paraneoplásicos). Em indivíduos imunocompetentes, as cinco principais causas de encefalite são Herpes Simples Vírus tipo 1, ADEM (Encefalomielite Disseminada Aguda), Encefalite associada a anticorpos, Mycobacterium tuberculosis e Vírus Varicela-Zoster (VZV). Nos imunocomprometidos, o vírus Varicela-Zoster seguido pelo Herpes Simples Vírus foram as principais causas. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Pode ser difícil diferenciar encefalite aguda de meningite aguda, pois os pacientes com cada uma dessas síndromes geralmente apresentam febre, dor de cabeça e nível de consciëncia alterado. Como a encefalite viral envolve o cérebro diretamente, as alterações da consciência são mais pronunciadas, podem ocorrer convulsões ou sinais neurológicos focais. Quando sinais de irritação meníngea coexistem com sinais de disfunção cerebral, a condição é denominada meningoencefalite. PROPEDÊUTICA NAS ENCEFALITES - A punção do LCR e sua análise é essencial. - Predomínio de linfócitos é o mais comum, podendo ser também acelular. - Proteinorraquia tem discreta elevação e a glicorraquia é normal. - Nos casos de encefalite hemorrágica, glóbulos vermelhos podem ser detectados no LCR. - Deve-se solicitar PCR para Herpes tipo 1 e 2, VZV e enterovírus, pois isso identifica cerca de 90% dos casos por patógenos virais conhecidos. - A Ressonância Magnética de Crânio é a imagemde escolha nos casos de encefalite, sendo mais sensível e específica que a Tomografia Computadorizada. As alterações bilaterais dos lobos temporais são muito típicas de Encefalite por HSV. - O eletroencefalograma (EEG) é um indicador sensível de disfunção cerebral e pode descobrir crises epilépticas não convulsivas concomitantes. Na encefalite por HSV, pode haver um foco no lobo temporal demonstrando complexos estereotipados de ondas agudas e lentas ocorrendo em intervalos de 2 a 3 segundos. - Uma triagem séptica com culturas sanguíneas e culturas do LCR também é essencial para excluir outros patógenos, como bactérias e fungos. - Considere o diagnóstico de Encefalite Mediada por Anticorpos em todos os pacientes com suspeita de encefalite. Atrasos nos diagnósticos podem ter piores resultados. TRATAMENTO Aciclovir intravenoso deve ser iniciado se: - Líquor e/ou a imagem inicial sugerirem encefalite viral. - Dentro de 6 horas após admissão do paciente se os exames não estiverem disponíveis - Se o paciente estiver piorando clinicamente. O Aciclovir poderá ser continuado ou interrompido de acordo com os resultados posteriores da PCR no Líquor. Sua aplicação é por via intravenosa por 14 a 21 dias. Estudos mostram a redução da mortalidade em adultos com encefalite por HSV de 70% para 20-30%. Inicie outros antivirais ou antibióticos conforme as etiologias presumidas ou confirmadas. O tratamento também inclui controle de convulsões e intubação orotraqueal nos casos indicados. !3 4 Caso o diagnóstico seja ADEM (Encefalomielite Disseminada Aguda) ou Encefalite Mediada por Anticorpos o tratamento exigirá imunomodulação, esteróides em altas doses, imunoglobulinas intravenosas ou troca de plasma (Plasmaférese). !3 5 RM na encefalite herpética: (A) FLAIR e (B) T2 revelaram leve efeito de massa e perda da diferenciação entre a substância branca e cinzenta secundária ao edema. Notem o acometimento característico do lobo temporal. 6. REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA !3 6 6. REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA COMA Estado irresponsivo com duração tipicamente de duas a quatro semanas. O paciente não responde a estimulação externa. A Escala de Coma de Glasgow fornece um método mais objetivo e reproduzível, pelo qual o nível de consciência pode ser avaliado e documentado. Baseia-se na abertura ocular e respostas verbais e motoras. Além da Escala de Coma de Glasgow existe também a Escala FOUR. ESTADO VEGETATIVO Desconhecimento de si ou do ambiente, mas ciclos de sono e vigília mantidos e preservação completa ou parcial das funções autonômicas do hipotálamo e do tronco cerebral. ESTADO VEGETATIVO PERSISTENTE Tempo superior a um mês em estado vegetativo. Pode seguir ao coma e refere-se a um estado em que os indivíduos perderam a função cognitiva e a consciência do meio ambiente, mas mantêm função não cognitiva e um ciclo de sono e vigília preservado. Há preservação das funções do tronco cerebral. Movimentos espontâneos podem ocorrer, bem como abertura ocular em resposta a estímulos externos, mas o paciente não verbaliza e nem obedece aos comandos. Ocasionalmente, os pacientes podem fazer caretas, chorar ou rir. Essa condição geralmente segue um dano difuso ao córtex cerebral. ESTADO VEGETATIVO "PERMANENTE" Três meses após lesão cerebral não traumática e um ano após o trauma crânio encefálico (TCE). Paciente apresentam descrições de recuperação tardia da responsividade após TCE e após lesões cerebrais não traumáticas. ESTADO MINIMAMENTE CONSCIENTE Consciência gravemente comprometida com evidência comportamental mínima embora bem definida. Características das Alterações da Consciência Parâmetro Coma Estado vegetativo Estado Minimamente Consciente Abertura Ocular Nenhuma Espontânea Espontânea Movimentos espontâneos Nenhuma Reflexa/Padronizados Automática / Manipula Objetos Resposta Dor Postura/Nenhuma Postura/Retirada Localização Resposta Visual Nenhuma Nenhuma/Sobressalto Reconhecimento/Busca Comandos Nenhuma Nenhuma Inconsistente Verbalização Nenhuma Vocalização incompreensível Palavras compreensíveis Comunicação Nenhuma Nenhuma Não funcional !3 7 SÍNDROME DE ENCARCERAMENTO (LOCKED-IN) Estado de eferentação com tetraplegia e perda de funções de nervos cranianos baixos, mas com preservação da sensação, cognição e movimentos oculares. Resulta de uma lesão extensa da ponte ventral, que interrompe as vias corticobulbar e corticoespinhal, poupando as vias reticulares e, portanto, a consciência. Os pacientes estão alertas, mas incapazes de falar ou mover o rosto ou os membros. As vias para o movimento dos olhos são relativamente poupadas. Configura prognóstico grave e requer suporte ventilatório. CATATONIA Um paciente catatônico fica em silêncio e não há resposta motora volitiva ou emocional a estímulos externos. O paciente pode resistir à tentativa de um examinador de mover, por exemplo, um membro, e se o membro for movido, o paciente poderá mantê-lo fixo nessa posição por algum tempo. Isso pode ser observado nos estados depressivos e esquizofrênicos catatônicos. MUTISMO ACINÉTICO O mutismo acinético é causado por danos nas áreas pré-frontais ou pré-motoras responsáveis por movimentos intencionais. Os pacientes têm consciência preservada e podem acompanhar com os olhos, mas são incapazes de iniciar movimentos ou obedecer a comandos. STATUS EPILEPTICO NÃO-CONVULSIVO Deve-se suspeitar de Status Epilepticus Não Convulsivo em pacientes que não recuperam a consciência após crises epilépticas. Também deve ser suspeitado em qualquer paciente com confusão mental ou alteração da consciência. Um EEG geralmente confirma o diagnóstico. Essa condição tem alta morbi-mortalidade, e pode explicar situações de não despertar em CTI. MUTISTMO ACINÉTICO O mutismo acinético é causado por danos nas áreas pré-frontais ou pré-motoras responsáveis por movimentos intencionais. Os pacientes têm consciência preservada e podem acompanhar com os olhos, mas são incapazes de iniciar movimentos ou obedecer a comandos. ESCALAS DE COMA 1. Escala de Glasgow Escala de Coma de Glasgow (ECG) Abertura Ocular Resposta Motora Resposta Verbal - M6: Responde a Comandos - - M5: Localiza Estímulo de Dor V5: Orientado O4: Espontânea M4: Retira o Membro a Dor V4: Confuso O3: Chamado Verbal M3: Flexão Anormal (Decorticação) V3: Palavras Inapropriadas O2: Estímulo Doloroso M2: Extensão Anormal (Descerebração) V2: Sons Incompreensíveis O1: Nenhuma M1: Sem resposta V1: Sem resposta !3 8 2. Escala FOUR (“Full Outline of UnResponsiveness”) Ela utiliza quatro pontos de avaliação. É mais utilizada em paciente intubados e pacientes com pontuação baixa na escala de Glasgow. Expressa-se o resultado com a soma dos pontos em cada avaliação e os pontos individualizado em cada uma delas. Ex: Paciente normal: FOUR = 16 (E4M4B4R4) !3 9 Escala FOUR Resposta Ocular (E) Resposta Motora (M) Reflexos de Tronco (B) Respiração (R) 4: Pálpebras abertas, acompanha com o olhar, ou pisca ao comando 4: Faz sinal de OK com as mãos, fecha o punho, ou “sinal de paz” 4: Presentes reflexos pupilares e corneanos 4: Não-entubado, com padrão respiratório regular, normal 3: Pálpebras abertas mas não acompanha com o olhar 3: Localiza a dor 3: Uma pupila fixa e midriática 3: Não-entubado, com padrão respiratório Cheyne-Stokes 2: Olhos fechados mas abrem com estímulo auditivo forte (Voz Alta) 2: Resposta em flexão à dor 2: Reflexos corneanos ou pupilares ausentes 2: Não-entubado, com padrão respiratório irregular 1: Olhos fechados mas abrem apenas com dor 1: Resposta em extensão à dor 1: Ambos os reflexos corneanos e pupilares ausentes 1: Respira com frequência respiratória acima do ventilador 0: Não há abertura ocular, mesmo à dor 0: Sem respostas à dor ou mioclonias generalizadas 0: Ausência de reflexos corneanos, pupilares ou de tosse 0: Respira com a frequência respiratória do ventilador ou apneiaETIOLOGIAS DO COMA As causas da perda persistente ou alteração da consciência podem ser estruturais ou não estruturais. A alteração na consciência é causada por danos no Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA) no tronco cerebral, núcleos talâmicos ou danos nos hemisférios cerebrais. Neste último caso, o dano é tipicamente bilateral, ou se unilateral, é grande o suficiente para exercer efeitos remotos no tronco cerebral ou em outro hemisfério. SIMÉTRICO E NÃO ESTRUTURAL - Toxinas: Álcool, Monóxido de carbono, Metanol, Etilenoglicol, Cianeto, Cogumelos - Drogas: Opiáceos, Sedativos, Barbitúricos, Lítio, Anticolinérgico, Salicilato - Metabólicos: Hipóxia, Hipercapnia ,Hipoglicemia, Hipernatremia, Hipotermia, Hipotireoidismo, Hipopituitarismo, Crise adrenal, Deficiência de tiamina (encefalopatia de Wernicke), Insuficiência hepática, Insuficiência renal - Infecciosos: Meningite Bacteriana, Encefalite Viral, Sepse, Malária - Outros: Convulsões ou estado pós-ictal, isquemia difusa (por exemplo, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, arritmias), hipotensão, encefalopatia hipertensiva SIMÉTRICO E ESTRUTURAL - Supratentorial: Oclusão carotídea interna bilateral, Oclusão da artéria cerebral anterior bilateral, Trombose do seio sagital, Hemorragia subaracnóidea, Hemorragia talâmica, Traumatismo- contusão, Hidrocefalia - Infratentorial: Oclusão basilar, tumor do tronco cerebral da linha média, hemorragia pontina, mielinólise pontina central ASSIMÉTRICO E ESTRUTURAL - Supratentorial: Massa hemisférica unilateral com herniação (tumor, abscesso, Hemorragia subaracnóidea, Hemorragia subdural ou Hemorragia extradural), Hemorragia cerebral intraparenquimatosa, Apoplexia hipofisária, Infarto supratentorial extenso ou infarto bilateral, Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva (LEMP), Encefalomielite Disseminada Aguda (ADEM) - Infratentorial: Infarto do tronco cerebral, Hemorragia do tronco cerebral. CONDUTAS INICIAIS O primeiro passo é garantir a Circulação, Via aérea e Respiração. Verificar se há: -Sinais de lesão cefálica. -Rigidez de nuca e sinais meníngeos. -Padrão respiratório. -Respostas dos alunos. -Posição de repouso dos olhos -Movimentos oculares -Anormalidades a fundoscopia ocular. -Reflexos da córnea -Postura dos membros e movimentos espontâneos -Reflexos e respostas plantares -Avaliar a escala de Coma de Glasgow/ Escala FOUR. PROPEDÊUTICA E TRATAMENTO - Em casos de hipoglicemia lembrar de fazer dose intravenosa de tiamina antes de infusão de Glicose. - Nas suspeitas de intoxicação por opióides fazer Naloxone como antídoto. - Painel metabólico abrangente, Hemograma completo, Coagulograma, Gasometria Arterial e Venosa !4 0 - Triagem de toxinas séricas e urinárias, osmolaridade sérica, eletrocardiograma, função tireoidiana, Função suprarrenal, Análise de Urina e Urocultura, Hemocultura. - Tomografia de Crânio e/ou Ressonância Magnética de Crânio; - Considerar realização de Punção Lombar e EEG. - Outros exames baseados em suspeita clínica. !4 1 Rebaixamento de sensório e topografia lesional: Avaliação do rebaixamento envolve exame cuidadoso do padrão respiratório, do sistema motor, das pupilas e do oculomotor (reflexo oculocefálico) 7. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL !4 2 7. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL AVC ISQUÊMICO INTRODUÇÃO - Definição: lesão isquêmica focal parcialmente irreversível (ou lesões) no cérebro, retina ou medula espinhal que produz sintomas clínicos com duração de pelo menos 10 minutos. - Infarto cerebral: área de isquemia cerebral focal suficiente para produzir alteração radiológica ou patologicamente evidente. Nem todos os infartos cerebrais produzem sintomas clínicos. FATORES DE RISCO Incluem hipertensão, diabetes mellitus, proteína C reativa elevada, hiperlipidemia, tabagismo, vida sedentária, obesidade, história familiar de acidente vascular cerebral e história prévia de acidente vascular cerebral ou AIT e artéria coronária conhecida ou doença vascular periférica. * A gravidez aumenta o risco de acidente vascular cerebral isquêmico, bem como a migrânea com aura. ETIOLOGIA - Cardioembólico: As condições que predispõem à formação de embolia cardíaca incluem fibrilação / flutuação atrial persistente ou paroxística, estenose da válvula mitral, síndrome do seio doente, válvula cardíaca protética, endocardite infecciosa ou marantica, insuficiência cardíaca congestiva com FE de 35% ou menos, cardiomiopatia dilatada, mixomas, aumento do átrio esquerdo - Doença de grandes vasos: estenose das artérias carótidas internas extracranianas e vertebrais e grandes vasos intracranianos do círculo de Willis e circulação posterior (artérias vertebrais e basilares intracranianas, geralmente devido à aterosclerose. - Doença de pequenos vasos: infarto lacunar. - Estados hipercoaguláveis: ambos herdados, como a mutação da protrombina II; e adquiridos como síndrome do anticorpo antifosfolípide, anticoagulante lúpico, anemia falciforme e paraneoplásico - Outros: Vasculite cerebral, doença de moyamoya, vasoespasmo, displasia fibromuscular, dissecção da artéria carótida ou vertebral e síndrome vasoconstritora cerebral reversível (incomum). CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DE BAMFORD (AVC AGUDO) 1. Síndromes lacunares (LACS) Síndrome motora pura Síndrome sensitiva pura Síndrome sensitivo-motora Disartria – “Clumsy Hand” Hemiparesia atáxica * S/ afasia, distúrbio visuoespacial, distúrbio do campo visual * Déficits proporcionados 2. Síndromes da circulação anterior total (TACS) Hemiplegia Hemianopsia Disfunção cortical superior (linguagem, função visuoespacial, nível de consciência) * 25% secundária ao hematoma intraparenquimatoso 3. Síndromes da circulação anterior parcial (PACS) Deficit sensitivo-motor + hemianopsia Deficit sensitivo-motor + disfunção cortical !4 3 Disfunção cortical + hemianopsia Disfunção cortical + motor puro (monoparesia) Disfunção cortical isolada 4. Síndromes da circulação posterior (POCS) Paralisia de nervo craniano (única ou múltipla) ipsilateral + deficit S/M contralateral Deficit S/M bilateral Alt. movimentos conjugados dos olhos Disfunção cerebelar s/ deficit de trato longo ipsilateral Hemianopsia isolada ou cegueira cortical. ROTINA ATENDIMENTO DO AVC 1. FASE EM JANELA PARA TROMBÓLISE COM rtPA - Uso do rtPA: Fazer rt-PA EV (0.9mg/Kg, no máximo 90mg), com 10% da dose total em bolus inicial em 2 minutos, seguido de infusão em bomba de infusão do restante em 60 minutos. A diluição do alteplase é de 1mg/ml. - A TC de crânio sem contraste deve ser realizada em todos os pacientes com suspeita de AVC (alta sensibilidade para descartar hemorragias). A angioTC cervical e cerebral também pode ser realizada simultaneamente ou subsequentemente para detectar estenose ou oclusão de grandes vasos. - A RM de crânio tem alta sensibilidade para detecção de infarto cerebral pequeno, precoce ou de infarto de fossa posterior. A angiografia por RM do pescoço e do cérebro é outra opção para avaliar estenose das principais artérias extracranianas e intracranianas. Usada para mismatch FLAIR / DWI para os casos de ictus indefinido / wake-up stroke - Glicemia capilar imediatamente no contexto da admissão do paciente. Não fazer trombólise sem glicemia capilar. - Temperatura < 38 graus celsius !4 4 Territórios Vasculares Cerebrais Relação do homúnculo sensorial e motor com os territórios de irrigação da circulação anterior e posterior - Colher amostra de sangue para Hemograma, coagulograma, íons e função renal (Não atrasar trombólise aguardando coagulograma para os pacientes que não usam anticoagulantes ou os que não tem história de doença hematológica) Critérios de inclusão para realização de trombólise com rtPA - Idade > 18 anos - Ictus definido em até 4,5h de evolução, que contemplem os critérios de elegibilidade e não apresentem critérios de exclusão O tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível pois o tempopara o início do tratamento está fortemente associado ao desfecho - Idade avançada, mesmo acima de 80 anos, não deve ser considerada critério absoluto para contraindicação ao tratamento trombolítico intravenoso. - Pontuação baixa na no NIHSS não deve ser considerada como critério absoluto para exclusão do tratamento. Maior peso deve ser dado ao comprometimento funcional apresentado pelo paciente - A pressão arterial deve ser mantida <185/110 mm Hg de forma estável antes de se iniciar a trombólise. Se necessário usar: Nitroprussiato de sódio (frasco de 50 mg + diluente com solução glicosada 5% 2 ml) Iniciar infusão IV contínua na dose de 0,5 mcg/kg/minuto. Ajustar a velocidade, se necessário, a cada 10 minutos (máximo 8 mcg/kg/minuto) - Na ausência da suspeita clínica de alteração laboratorial, o tratamento trombolítico intravenoso não deve ser adiado em razão da ausência dos resultados laboratoriais. Critérios Exclusão para realização de trombólise com rtPA - Pressão arterial ≥185/110 mmHg sem possibilidade de redução e/ou estabilidade em valores abaixo desses, com tratamento antihipertensivo, antes do início do tratamento - Glicemia capilar inicial ≤50 mg/dl. O tratamento em pacientes que apresentam glicemia inicial <50 ou >400 mg/dl sem melhora do déficit após a normalização da glicemia pode ser razoável - TC de crânio com hipoatenuação extensa > 1/3 da artéria cerebral média - AVCi nos últimos 3 meses - Traumatismo craniano grave nos últimos 3 meses - Cirurgia intracraniana ou intrarraqueana nos últimos 3 meses - História de hemorragia intracraniana - Sinais e sintomas suspeitos de hemorragia subaracnóide - Tumor gastrintestinal ou sangramento gastrintestinal nos últimos 21 dias - Plaquetopenia <100000/mm3 RNI >1,7 Tempo de protrombina (TP) >15 segundos Tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) >40 segundos - Uso de dose terapêutica de heparina de baixo peso molecular nas últimas 24 horas (dose profilática não interfere) !4 5 Tempos assistenciais no atendimento do AVC agudo/hiperagudo Tempos Recomendação (AHA 2019) Porta-avaliação médica inicial Em até 10 minutos Porta-TC Em até 25 minutos Porta-Avaliação da TC Em até 45 minutos Porta-Agulha Em até 60 minutos - Uso de inibidores diretos da trombina ou inibidores diretos do fator Xa, a menos que testes laboratoriais, tais como TTPa, RNI, plaquetas, Tempo de Trombina, ou ensaios de atividade do fator Xa, estejam normais ou o paciente não tenha recebido uma dose desses agentes nas últimas 48 horas (assumindo que a função renal esteja normal) - Suspeita de endocardite bacteriana - Suspeita de dissecção aórtica - Presença de tumor cerebral intra-axial. O tratamento é provavelmente recomendado para pacientes com tumor cerebral extra-axial Cuidados pós-trombólise - Não utilizar antiagregante plaquetário ou anticoagulante nas primeiras 24 horas após trombólise - Não realizar cateterização arterial ou punção venosa profunda nas primeiras 24 horas após trombólise - Não passar sonda vesical de demora nos primeiros 30 minutos - Evitar sonda nasogástrica ou nasoenteral nas primeiras 24 horas após trombólise - Realizar tomografia de crânio controle 24 horas após a trombólise (se ausência de sangramento iniciar AAS ou Clopidogrel) - Dieta suspensa nas primeiras 24 horas após trombólise. Após, realizada TC de crânio e no contexto de estabilidade clínica do paciente, solicitar avaliação da fonoaudiologia para o rastreio de disfagia (teste do copinho) - Tratamento das Complicações: Se hemorragia intraparenquimatosa e uso de heparina – dar sulfato de protamina 0,01mg/UI de heparina IV; uso de alteplase – dar plasma fresco congelado na dose de 10-15 ml/kg IV ou crioprecipitado na dose de 1-2 UI/10 kg IV; e concentrado de plaquetas na dose de 1 UI/10 kg IV 2. FASE FORA DA JANELA PARA TROMBÓLISE COM rtPA Pacientes fora da janela realizar investigação etimológica conforme protocolo / rotina de cada serviço. Propedêutica básica: - Laboratório: Lipidograma (LDL e HDL colesterol) - Triglicerídeos - Ácido úrico - Glicemia de jejum - Hemograma completo - Urinálise - Uréia e creatinina - Sorologia para Chagas: RIF para Chagas - Sorologia para Sífilis: VDRL e FTAABS - Coagulograma: TP e TTPA - VHS - Proteína C reativa - Eletroforese de proteínas (suspeita de arterite temporal) - Eletrocardiograma / HOLTER de 24h nos casos selecionados - Rx de tórax - Doppler: EcoDoppler de artérias vertebrais e artéias carótidas - Doppler transcraniano - Ecocardiograma transtorácico - Ecocardiograma transesofágico com Bubble Test (casos selecionados) - Neuroimagem: Ressonância magnética do crânio - Angiorressonância dos vasos extra ou intracranianos - Arteriografia digital (casos selecionados) Prescrição - Antiagregantes: Iniciar AAS 100mg (ataque de 300mg) ou Clopidogrel 75mg (ataque 300mg) - Anticoagulantes orais: indicados para a prevenção secundária de AVCs cardioembólicos (e também como prevenção primária). A dose ajustada de varfarina com um RNI alvo de 2 a 3 é usada para certos pacientes sem fibrilação atrial valvar. A INR alvo de 2,5 a 3,5 é usada se os pacientes têm uma valva cardíaca protética mecânica. Alternativas eficazes à varfarina para pacientes com fibrilação atrial não valvar incluem os seguintes anticoagulantes novos: !4 6 - Dabigatrana (um inibidor direto da trombina), 150 mg, 2 vezes/dia, em pacientes sem insuficiência renal grave (clearance de creatinina < 15 mL/min) e/ou insuficiência hepática (INR elevada) - Apixabana (um inibidor direto do fator Xa) 5 mg 2 vezes/dia em pacientes ≥ 80 anos, em pacientes com creatinina sérica ≥ 1,5 mg/dL e clearance de creatinina ≥ 25 mL/min, ou como uma alternativa ao ácido acetilsalicílico em pacientes que não podem tomar varfarina - Rivaroxabana (um inibidor direto do fator Xa), 20 mg, 1 vez/dia para pacientes sem insuficiência renal grave (clearance de creatinina < 15 mL/min) - Anti-hipertensivos: - Não usar de rotina - Se coronariopata, cardiopata, eclampsia / pre-eclampsia, encefalopatia hipertensiva com PA > 220/120mmHg (reduzir 15% da PA em 24h) - Pacientes estáveis e com PA >=140/90mmHg em geral não se utiliza anti-hipertensivos, mas não é contra-indicado iniciar ou reiniciar anti-hipertensivos nas primeiras 24 a 48h após ictus nesses casos. - Estatina: Depende da rotina do serviço. Em geral Sinvastatina 40mg ou Atorvastatina 80mg (atentar para contra-indicações) ALGUMAS ALTERAÇÕES DA TC DE CRÂNIO NO AVC ISQUÊMICO !4 7 AVC isquêmico hiperagudo - Território: ACM esquerda - Achado: Apagamento da fita insular (perda da diferenciação substância branca-cinzenta) AVC isquêmico antigo (note que a lacuna apresenta hipodensidade intensa compatível com o líquor) - Território: ACM esquerda - Achado: Lacuna em núcleo lentiforme com dilatação ex-vacum do corno anterior do ventrículo lateral esquerdo AVC isquêmico agudo - Território: ACP D - Achado: Pequeno infarto em topografia de hemisfério cerebelar direito AVC HEMORRÁGICO INTRODUÇÃO - A apresentação clínica mais frequente é a de déficit neurológico focal de início súbito, associado a níveis pressóricos muito elevados, cefaleia , vômitos e com uma deterioração rápida do nível de consciência. Convulsões também podem ocorrer embora mais frequentes nos hematomas lobares. - É muito difícil diferenciar clinicamente o AVC Hemorrágico do AVC Isquêmico ou outras condições que mimetizam a hemorragia intracraniana. Por esse motivo a TC Crânio é o exame de escolha no pronto socorro para se estabelecer o diagnóstico. - Além da TC Crânio, em se identificando a hemorragia, deve-se fazer também a Angiotomografia em seguida para se identificar se houve um rompimento de um aneurisma ou, no caso da hemorragia intracerebral espontânea, identificar se há extravasamento de contraste na periferia do hematoma o que traduziria em maior risco de expansão do hematoma e portanto, necessidade de maior acompanhamento
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