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SUMÁRIO 1. Definição ....................................................................... 3 2. Epidemiologia .............................................................. 4 3. Fisiopatologia .............................................................. 5 4. Quadro clínico .............................................................. 7 5. Diagnóstico ................................................................10 6. Tratamento .................................................................15 Referências bibliográficas .........................................19 3SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ 1. DEFINIÇÃO A Síndrome de Guillain-Barré é ca- racterizada como um distúrbio au- toimune adquirido, marcada pela perda da bainha de mielina e dos reflexos tendinosos e engloba as polineuropatias agudas imunomedia- das, podendo ser dividida em dois ti- pos: desmielinizantes e axonais. A Síndrome desmielinizante ocorre quando alguma doença atinge e da- nifica a bainha de mielina prejudican- do a condução de sinais nos nervos que foram afetados. Podendo causar prejuízos nos movimentos, cognição, sensação, entre outros. A bainha de mielina tem por função acelerar a ve- locidade de condução do nervo para a transmissão de informações, ou seja, aumenta a efetividade neuronal. Quando a Síndrome danifica o axônio do neurônio, ela é classificada como axonal. Essa forma tem quadro clínico semelhante à síndrome de Guillain- -Barré desmielinizante, sua diferença está numa maior fraqueza muscular e de déficits sensoriais, além de o curso da doença axonal tender a ser mais grave do que a desmielinizante. Figura 1. Polineuropatias agudas imunomediadas. Fonte: Sanarflix SE LIGA! Principal forma da SGB, polir- radiculoneuropatia desmielinizante in- flamatória aguda (doença que acomete as raízes nervosas na forma desmieli- nizante) é uma doença rara. Acomete mais a função motora do que a senso- rial e pode ser desencadeada por uma infecção bacteriana, viral aguda ou res- posta imunológica, podendo ser asso- ciada também a Hepatite C, HIV, Me- lanoma, entre outros. Pode ocorrer em todas as idades com maior frequência a partir dos 50 anos e pode ser carateriza- da pela perda simétrica e progressiva da força muscular, com diminuição da sen- sibilidade tátil do paciente, com reflexos ausentes ou reduzidos e com proteínas elevadas no líquido cefalorraquidiano. SAIBA MAIS! Para compreender melhor a SGB é necessário ter o conhecimento de outros conceitos: Mononeu- ropatia: é uma neuropatia que tem por definição afetar apenas um único nervo craniano. Ex: Sín- drome do Túnel do Carpo. Mononeuropatia múltipla: é um distúrbio que afeta dois ou mais nervos periféricos em diferentes regiões do corpo. Diabetes Mellitus (DM) pode causar essa disfunção. Polineuropatia: é caracterizado como um distúrbio simultâneo que afeta muitos nervos peri- féricos por todo o corpo. Ela pode ser aguda, com início súbito, ou crônica, quando se tem o acometimento gradual e persistente durante meses ou anos. A polineuropatia aguda pode ser causada por diversos fatores, entre eles, a reação autoimune da SGB ou por toxinas pro- duzidas por bactérias causadoras da Difteria. Já a polineuropatia crônica pode ser causada por DM, insuficiência renal, uso abusivo de álcool, neoplasias, entre outros. 4SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ A SGB tem uma evolução rápida, com pico de gravidade máxima entre duas ou três semanas após o aparecimen- to dos primeiros sintomas e se ma- nifesta por meio de uma inflamação aguda dos nervos. Ela pode atingir as raízes nervosas e afeta pessoas em qualquer fase da vida, interferin- do na condução do impulso nervo- so para os músculos ou também no sentido inverso, quando o estímulo sensorial não consegue chegar ao cérebro. É uma doença de regressão lenta e que, em muitos casos, pode se tornar crônica ou ter recidivas. CONCEITO! A Síndrome de Guillan- -Barré é uma polineuropatia aguda imu- nomediada (conhecida também porpo- lirradiculoneuropatia idiopática aguda), quando o próprio sistema imune ataca o corpo, afetando os nervos sensíveis, motores e das raízes da coluna verte- bral, causando fraqueza motora aguda ou subaguda progressiva em mais de um membro. 2. EPIDEMIOLOGIA A SGB ocorre em uma incidência nos países ocidentais que varia de 0,89- 1,89 casos por 100.000 pessoas- -ano no panorama mundial. A pato- logia em foco teve um aumento de incidência de 20% a cada 10 anos. A medida de homens e mulheres com a Síndrome é cerca de 1,78/1. Dois terços dos casos são precedidos por sintomas de infecção do trato respira- tório superior ou diarreia. A prevalên- cia da SGB é estimada em 0,25-0,65 casos a cada 1.000 casos de infecção por Campylobacter jejuni, e em 0,6 a 2,2 casos para cada 1.000 casos de infecção por citomegalovírus. Ou- tros agentes infecciosos com relação definida com a Síndrome de Guillain- -Barré são o vírus Ebstein-Barr, o ví- rus varicela-zoster e o Mycoplasma pneumoniae. Em uma análise da SGB, notou-se que ocorre progressão dos sinais e sintomas em até 4 sema- nas em 90% dos casos, momento a partir do qual alcança seu patamar e posterior recuperação gradual das funções neurológicas. De modo geral, o acometimento é simétrico, prece- dido em 70% dos casos por sintomas sensitivos discretos como parestesias e dor. A sistematização da assistên- cia aos pacientes com SGB no Bra- sil, o Ministério da Saúde publicou em 19/11/2015 a Portaria Nº 1171, que aprova o Protocolo Clínico e Diretri- zes Terapêuticas nacionais da SGB, revogando a anterior, de 2009. Este documento veio embasar os profis- sionais a fazer a suspeita diagnóstica baseada primariamente na avaliação clínica e a confirmação dos casos com exames complementares, bem como orienta o tratamento com imunoglo- bulina humana nos casos estabeleci- dos com SGB moderada-grave (3 ou mais pontos na escala de Hughes). 5SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ SE LIGA! Em até 60% dos casos, even- tos imunossensibilizantes podem ser notificados , ocorrendo, inclusive, de uma a três semanas antes do início dos sintomas e incluem: infecção de vias aéreas, gastroenterite bacteriana principalmente por Campilobacter jeju- ni, imunizações e situações de estresse metabólico como gestação, cirurgias e febre. 3. FISIOPATOLOGIA O paciente com predisposição para a Síndrome de Guillain-Barré esta- rá exposto a um possível desenvol- vimento da doença pela exposição a um gatilho, como uma infecção, uma vez que, como visto anteriormente, a síndrome é uma polineuropatia in- flamatória aguda desmielinizante que se realizará por uma resposta autoimune aos nervos periféricos uma vez desencadeada. No processo de desencadeamen- to de uma infecção, há a geração da resposta imune que buscará com- batê-la, criando anticorpos que irão liberar citocinas, recrutando outras células do sistema imune na busca de destruir as células infectadas pelo possível patógeno. Todavia, a forte reação criada acaba por confundir o que é a infecção (células infectadas) do que é nervo periférico da pessoa, gerando uma reação cruzada que atacará não somente as células que vieram combater, mas também as ra- ízes nervosas em suas bainhas de mielina, desmielinizando os nervos e os deixando falhos. Logo, encon- tra-se aí uma resposta autoimune aos nervos periféricos com autoan- ticorpos identificando a mielina e/ou o axônio como antígeno. Para que isso aconteça, os linfócitos se ligarão às paredes dos vasos e migrarão para a fibra nervosa, onde irão começar a de- sagregar a mielina, mantendo a pre- servação do axônio em um primeiro momento, o que causará ao paciente somente diminuição da sensibilidade e da força, além de parestesia. Depois dessa lesão à mielina, pode haver uma mais intensa devido ao aparecimento de leucócitos de defesa e limpeza como neutrófilos e macró- fagos que lesionarão também o axô- nio do neurônio, uma vez que agora se encontrará mais exposto devido à destruição de sua camada de mieli- na,o que causa plegia, anestesia e arreflexia. Por fim, sem tratamento, pode haver morte do neurônio, cau- sando plegia total, inclusive podendo atingir nervos encefálicos, gerando a chamada paralisia de Landry. 6SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ A resposta imune que surge quando há infecção pode ser desencadeada por diversos fatores, que são gatilhos para o início dos sintomas. Exemplos desses gatilhos são: infecção de vias aéreas superiores (IVAS); diar- reia proveniente de uma gastroen- terite (mais comumente causada por Campylobacter jejuni); processo de imunização; e outras infecções como citomegalovírus (CMV), vírus Eps- tein-Barr (EBV), HIV e Zika vírus; além de cirurgias e transplantes de medula ósseas, sendo esses dois úl- timos menos comumente envolvidos. SAIBA MAIS! É importante caracterizar os conceitos de plegia e de parestesia. A plegia é a perda da força mus- cular devido a lesões nos neurônios. Já a parestesia é uma sensação de formigamento que tam- bém pode ser descrita como queimação, dormência ou coceira na pele que também pode ser proveniente de danos aos nervos, assim como compressão destes. COMO OCORRE A AGRESSÃO NEURONAL INFECÇÃO GATILHO LESÃO DO AXÔNIO DO NEURÔNIO MORTE DO NEURÔNIO SISTEMA IMUNE É ATIVADO DESTRUIÇÃO DA BAINHA DE MIELINA 7SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ 4. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico da SGB é caracteri- zado por paralisia flácida, mais comu- mente apresentada por uma fraqueza que pode variar de uma leve dificul- dade para caminhar, até uma com- pleta paralisia das extremidades da face ou dos músculos respiratórios. Essa paralisia normalmente é as- cendente, bilateral, começando nos membros inferiores seguindo para os membros superiores. É também es- perado encontrar hipo ou arreflexia, que nada mais é do que diminuição ou ausência de reflexos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA ARREFLEXA PARALISIA FLÁCIDA ASCENDENTE A doença segue por uma linha de tempo que é precedida por uma in- fecção de vias aéreas superiores, uma gastroenterite, Zika vírus ou um distúrbio autoimune, que dentro de uma a quatro semanas induz uma resposta autoimune aberrante que atinge os nervos periféricos e suas raízes espinhais, levando ao apare- cimento dos sintomas. Quatro semanas após o início do apa- recimento dos sintomas, o indivíduo pode apresentar fraqueza progres- siva máxima da doença, geralmente seguindo a ordem: membros in- feriores, braços, tronco, cabeça e pescoço, levando o paciente a ter perdas significativas das funções motoras e sensíveis do corpo. Dentre os sintomas sensitivos, podem estar presentes parestesia leve nas mãos e pés, o que muitas vezes não moti- va o paciente a procurar os serviços de saúde para descobrir a causa do problema. É comum que 2/3 dos pa- cientes se refiram à dor causada pela inflamação das raízes nervosas loca- lizada na região lombar e nas suas 8SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ extremidades e 70% dos pacientes apresentam sintomas disautonômi- cos. Os sintomas disautonômicos são causados por transtornos no sis- tema nervoso autônomo e engloba uma variedade de sintomas que, mui- tas vezes, podem não ser percebidos pelo paciente, como sudorese, taqui- cardia, labilidade pressórica e alguns apresentam ainda paresia de nervo craniano, porém, isso ocorre geral- mente em pacientes graves. Existem algumas exceções para a apresentação dos sintomas: 10% dos pacientes iniciam os sintomas nos membros superiores ou na face; de 10% a 30% necessitam de su- porte ventilatório; 50% apresentam paralisia facial; 50% dos pacientes apresenta disfagia, que é a dificulda- de para engolir; 15% dos pacientes podem apresentar fraqueza ocular e ptose (queda ou fechamento anormal da pálpebra superior). Após esse período, a doença passa por uma fase de platô, onde o pa- ciente tem a recuperação gradual da função motora durante vários dias ou semanas. A SGB tem uma bai- xa mortalidade, entre 5% a 7% que pode ser explicada por pneumonia, insuficiência respiratória, arritmias cardíacas e sepse hospitalar. 1 A 4 SEMANAS 4 SEMANAS GATILHO INÍCIO DOS SINTOMAS FRAQUEZA MÁXIMA EVOLUÇÃO DO QUADRO CLÍNICO 9SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ SE LIGA! A Síndrome de Miller Fisher é considerada uma variante rara da SGB que atinge os nervos cranianos composta pela tríade clínica de insta- lação aguda de oftalmoplegia, ataxia da marcha e arreflexia, de caráter pro- gressivo, afetando1:1.000.000 pessoas anualmente. Em sua maioria, os casos da Síndrome de Miller Fisher geral- mente ocorrem após a infecção trato respiratório ou gastrointestinal por Campylobacter jejuni e seu mecanismo patológico ainda não se encontra total- mente elucidado. Sabe-se que está as- sociada a presença de anticorpos anti- -gangliosídeos e aumento de anticorpos anti-GQ1b. Trata-se de uma doença com possibilidade de recuperação dentro de meses, sendo neuroimunomediada. Figura 2. Marcha atáxica. Fonte: SANARFLIX. SAIBA MAIS! Toda fraqueza flácida é de notificação compulsória no Brasil para a vigilância da Poliomielite SE LIGA! A Poliomielite, ou Paralisia Infantil, é uma doença infectocontagiosa aguda cau- sada por um vírus denominado poliovírus, que vive no intestino e destrói as células nervosas da medula espinhal, que acomete geralmente os membros inferiores, levando a perda de massa muscular e à paralisia, em casos mais graves. Seu contágio se dá frequentemente pelo contato via oral-fecal através de alimentos e água contaminados com fezes infectadas dos doentes, ou pela via oral-oral, pelas gotículas de muco das secreções durante a fala, tosse ou ao espirrar. Fatores como falta de saneamento básico, aglomerações de pessoas na mesma residência e higiene pessoal precária, favorecem a proliferação da doença. Os sinto- mas mais comuns são: febre e mal-estar, vômitos, diarreia, dores de cabeça, na garganta e no corpo, espasmos, constipação, rigidez na nuca e meningite. A prevenção para a Pólio é a vacinação, disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) e ofertada para crianças a partir de 2 meses de vida, com duas doses injetáveis atenuadas e posteriormente o reforço com duas doses exclusivamente via oral. O Brasil se tornou vitorioso contra a disseminação da Poliomielite através de campanhas de vacinação e o último caso da doença registrada no país, foi datada em 1989, contudo, o aumento dos movimentos antivacinação preocupa autoridades da saúde sobre um possível aumento de casos para os próximos anos. 10SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ POLIOMIELITE Instalação do parasita De horas até 10 dias 24 a 48 horas Febre ao início Não é frequente Alta, sempre persistente no início da paralisia, desaparece no dia seguinte Paralisia Flácida, geralmente aguda, simétrica e distal Flácida, aguda, assimétrica, principalmente proximal Reflexos osteotendinosos profundos Globalmente ausentes Diminuídos ou ausentes Sinal de Babinski Ausente Ausente Sinais de irritação meníngea Geralmente ausentes Geralmente presentes Comprometimento dos nervos cranianos Pode estar presente Somente nas formas bulbares Insuficiência respiratória Em casos graves, exacerbada por pneumonia bacteriana Somente nas formas bulbares Sintomas gerais Fraqueza muscular progressiva ascendente acompanhada ou não de parestesia; paralisia flácida; perdas motoras; dor Febre; mal-estar; mialgia; cefaleia; espasmos; meningite; vômitos; diarreia; fraqueza; hipo ou arreflexia; sintomas assimétri- cos; músculos proximais mais afetados; maior acometimen- to de MMII. Líquido cefalorraquidiano Dissociação proteíno-citológica Inflamatório Disfunção vesical As vezes transitória Ausente Velocidade da condução nervosa Redução da velocidade de condução motora e sensitiva Normal ou pode-se detectar apenas redução na amplitude do potencial da unidade motora Diagnóstico Líquor e eletroneuromiografia Líquor, eletromiografia e detecção do poliovírus nas fezes Eletromiografia Presença ou não de fibrilações e pontas positivas. Potencial daunidade motora pode ser normal ou neurogênico. Presença ou não de fibrilações. Potencial da unidade moto- ra com longa duração e aumento da amplitude. Tratamento Imunoglobulina intravenosa humana Não existe tratamento específico Prevenção Não existe específica; prevenir gripes e Zika Vacinação Tabela 1. Síndrome de Guillain-Barré X Poliomielite. Fonte: Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS 5. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da Síndrome de Guillain-Barré começa quando o pa- ciente chega ao pronto atendimento apresentando um quadro clínico su- gestivo da doença, que segue cri- térios padronizados classificados como essenciais para a SGB, sugesti- vos, que diminuem ou que excluem a possibilidade da SGB. Os critérios essenciais para o diag- nóstico da SGB são: paralisia flácida ascendente em mais de um segmen- to apendicular de forma simétrica, fraqueza progressiva de mais de um membro ou de músculos crania- nos de graus variáveis, desde pare- sia leve até plegia, hiporreflexia ou arreflexia distal com graus variá- veis de hiporreflexia proximal e com os reflexos miotáticos anormais. Caso o paciente não apresente esse quadro, existem outros critérios que são sugestivos para SGB como dor, disfunção autonômica, ausência de febre no início do quadro, demons- tração de relativa simetria da paresia de membros, sinais sensitivos leves a moderados, envolvimento de nervos 11SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ cranianos, especialmente fraqueza bilateral dos músculos faciais e pro- gressão dos sintomas ao longo de quatro semanas. Existem ainda os fatores que dimi- nuem a possibilidade da SGB, tais como disfunção intestinal e de be- xiga no início do quadro, fraqueza as- simétrica, ausência de resolução de sintomas intestinais ou urinários, pre- sença de células polimorfonuclea- res no líquor, presença de mais de 50 células/mm³ na análise do líquor e nível sensitivo bem demarcado. A presença de febre e disfunção sen- sitiva são pouco frequentes entre os achados, e isso pode ser indicativo de uma outra causa etiológica como, por exemplo, de natureza infecciosa. Dos fatores que excluem a possi- bilidade da SGB estão: história re- cente de difteria, suspeita clínica de intoxicação por chumbo ou outros metais pesados, diagnóstico de bo- tulismo, miastenia gravis, poliomie- lite, neuropatia tóxica ou paralisia conversiva, histórico de exposição a hexacarbono, presente em solventes, tintas, pesticidas ou metais pesados, achados sugestivos de metabolismo anormal da porfirina e a existência de síndrome sensitiva pura (quando há ausência de sinais motores). Para complementar o diagnóstico para a SGB, existem alguns exames que podem ser solicitados, como a coleta do líquido cefalorraquidia- no (líquor) e eletroneuromiografia (ENM). A alta concentração de pro- teína é o achado liquórico mais co- mum entre os pacientes com SGB, presente em até 80% após a segun- da semana de progressão da doença. Porém, durante a primeira semana, o líquor pode apresentar características normais em pelo menos 1/3 dos pa- cientes. Também é observado a pre- sença de menos de 10 células/mm³. Outro achado é o aumento de linfó- citos no líquor, excedendo 10 células/ mm³, que pode ser indicativo de ou- tras doenças como Doença de Lyme, infecção por HIV ou sarcoidose. 12SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ HORA DA REVISÃO! A punção lombar é um procedimento para a retirada de uma amostra do líquido cefalorraqui- diano que banha todo o sistema nervoso. Ela é realizada com a inserção de uma agulha na direção da cicatriz umbilical do paciente, entre duas vértebras na região lombar, palpando as cristas ilíacas e traçando uma linha imaginárias entre elas para cruzar a linha média ao nível da L4, palpando seu processo espinhoso identificando o local onde será realizada a punção. É coletada de 4 a 5 ml do líquido por gotejamento espontâneo. O volume normal do líquor em um indivíduo adulto varia numa faixa entre 100 a 150 ml, sendo produzido a uma taxa de 20 ml/h, o que evidencia que o LCR é renovado em média a cada seis horas. Ele é levemente alcalino e composto por aproximadamente 99% de água. LÍQUOR NORMAL LÍQUOR COM DISSOCIAÇÃO PROTEINOCITOLÓGICA Aspecto Límpido Claro Cor Incolor Amarelado Glicose 45 a 100 ml/gl Normal Proteína 15 a 50 ml/gl Aumentada Leucócitos 0 a 5 mm² 0 a 5 mm² Células predominantes Linfomononuclear Linfomononuclear Tabela 2. Características do liquor cefalorraquidiano A eletroneuromiografia é o exame realizado para identificar alterações no funcionamento do sistema ner- voso periférico, mostrando o padrão de comprometimento da bainha de mielina por meio de pequenos estí- mulos elétricos leves repetidos e bem tolerados na pele do paciente sobre um nervo com o auxílio de um eletro- do descartáveis. Esse exame é soli- citado quando se a suspeita de SGB, esclerose lateral amiotrófica (ELA), Síndrome do Túnel do Carpo, neuro- patia diabética, entre outros. Para a detecção da SGB com esse exame é necessário ter como resul- tado pelo menos três dos quatros critérios eletrofisiológico típico, que estão geralmente ausentes antes de 5 ou 7 dias na progressão da do- ença, o que pode não revelar a anor- malidade em pelo menos 20% dos casos após esse período, por isso ele não deve ser pedido no início do qua- dro do paciente. Os achados para caracterizar SGB com a eletroneuromiografia são: blo- queio de condução do potencial na condução neural motora ou dispersão temporal anormal em um ou mais nervos, prolongamento de latência da Onda-F ou ausência dessa onda, prolongamento da latência motora distal em dois ou mais nervos e tam- bém se espera que entre 40% a 60% dos pacientes apresentem anormali- dades na velocidade de condução 13SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ e na amplitude dos potenciais de condução motora em dois ou mais nervos. Vale ressaltar que ambos os exames são de suporte para o diagnóstico e não devem atrasar o tratamento do paciente. No que tange ao diagnóstico dife- rencial, para que não haja divergên- cia no diagnóstico da SGB é neces- sário se atentar a alguns sintomas que podem fazer diferenciação entre a SGB e outras polineuropatias agu- das. Isso se deve porque algumas le- sões medulares agudas, dor lombar, perda do controle esfincteriano e dis- função autonômica e alterações nos reflexos se assemelham em algumas doenças, mesmo que predominem nas mielopatias. Cabe ao profissional buscar sintomas que falem a favor da SGB, tais como o acometimento da musculatura facial e respirató- ria acessória e o padrão paresté- sico em bota e luva com relato do paciente, associado à certa preserva- ção da sensibilidade distal e ausên- cia de nível sensitivo bem definido ao exame físico neurológico. Vale res- saltar que paralisia predominante- mente motora é uma característica da poliomielite. A diferenciação de polineuropatia para SGB deve ser realizada pelo seu tempo de progressão motora, que é superior a 8 semanas. Para um diag- nóstico diferencial é importante des- tacar outras causas de polineuropatia aguda, tais como as de origem meta- bólicas (porfiria), infecciosas (doença de Lyme, HIV), paraneoplásicas (com enfoque especial para carcinoma brô- nquico de pulmão), tóxicas (histórico de exposição do paciente para orga- nofosforados e metais pesados, clo- roquina e outros agentes), autoimu- nes (vasculites primárias, doenças do colágeno). Pacientes muito acometi- dos por alguma enfermidade polineu- ropática (polineuropatia ou miopatia do paciente crítico, hipofosfatemia aguda induzida por hiperalimentação, entre outros) devem ser distinguidos da SGB. Em especial, nesses casos, é importante a coleta do líquor e do exame eletrofisiológico para definir se a doença é desmielinizante ou não. 14SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ MAPA MENTAL – CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Fraqueza progressiva de mais de um membro ou de músculos cranianos de graus variáveis Nível sensitivo bem demarcado Ausência de resolução de sintomas intestinaisou urinários Células polimorfonucleares no líquor Metabolismo anormal da porfirina Critérios de diagnóstico para a Síndrome de Guillain-Barré Critérios essenciais Critérios que reduzem a possibilidade de SGB Critérios sugestivosCritérios que excluem a possibilidade de SGB Hiporreflexia ou arreflexia distal Paralisia flácida ascendente Disfunção autonômica Dor Simetria da paresia de membros Ausência de febre no início do quadro Simetria da paresia de membros Sinais sensitivos leves a moderados Progressão dos sintomas ao longo de 4 semanas Fraqueza assimétrica Mais de 50 células/mm³ na análise do líquor Disfunção intestinal e de bexiga Neuropatia tóxica ou paralisia conversiva Poliomielite Miastenia gravis Síndrome sensitiva pura História recente de difteria Exposição a hexacarbono Diagnóstico de botulismo Suspeita de intoxicação por chumbo e outros metais pesados Fonte: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Síndrome de Guillain-Barré 15SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ 6. TRATAMENTO O tratamento para a síndrome pode vir de duas formas, a primeira que traba- lhará com a prevenção das possíveis complicações que podem surgir com o tempo, e a segunda já para tratar a progressão de doenças e déficits que surgiram com o passar do tempo. Por isso, os pacientes que são porta- dores de SGB devem passar pelo hos- pital para uma avaliação precisa das características de sua doença e o ní- vel no qual essa se encontra. A classificação da gravidade clínica foi proposta por Hughes e colaborado- res, classificando-a como leve, modera- da ou grave e variando em parâmetros de 0 a 6, sendo que nos parâmetros de 0 a 3, a doença se encontrará em sua forma leve, enquanto que nos de 4 a 6 estará classificada como mo- derada-grave. Dessa forma, a deter- minação da gravidade irá auxiliar no encaminhamento para o tratamento adequado ao paciente. CLASSIFICAÇÃO DEFINIÇÃO 0 Saudável. 1 Presença de sinais e sintomas meno- res de neuropatia e capaz de realizar tarefas manuais. 2 Caminha sem auxílio de bengala e incapaz de realizar tarefas manuais. 3 Caminha apenas com bengala ou suporte. 4 Confinado a cama ou a cadeira de rodas. 5 Necessita de ventilação assistida. 6 Morte. Tabela 3. Classificação de Hughes e colaboradores para determinação da gravidade clínica da Síndrome de Guillain-Barré O tratamento propriamente dito se encontra principalmente embasa- do na imunoglobulina intravenosa humana, na medida de 0,4/kg por 5 dias seguidos, devendo ser interrom- pida caso haja perda de função renal ou anafilaxia. Outro tipo de tratamen- to é a plasmaférese. O tratamento buscará acelerar a recuperação do paciente, diminuir complicações da fase aguda e reduzir déficits neuroló- gicos que podem se estabelecer com o tempo. O tratamento com a imunoglobu- lina humana por via intravenosa (IgIV) é o mais escolhido por ter efi- cácia similar à plasmaférese sem as possíveis complicações que esta últi- ma pode ter como hipotensão, uso de cateter venoso e trombofilia. De acor- do com estudos realizados, ambos os métodos têm eficácia parecida e não existem evidências que comprovem que o uso dos dois métodos em con- junto seja benéfico para o paciente. É importante frisar, também, na rapidez com que deve ser administrada a IgIV, iniciando entre a segunda e terceira semanas de quando se iniciaram os sintomas para pacientes que foram classificados com SGB de moderada a grave. Já a plasmaférese é indicada tam- bém para pacientes com SGB de moderada a grave e esse tratamento deve ser iniciado até o sétimo dia de início dos sintomas. Para casos leves persistentes, pode-se realizar duas 16SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ sessões, para moderados a graves, de quatro a seis sessões. Para cada sessão, devem-se remover de 200- 250 mL/kg de plasma com intervalo de 48 horas entre elas. Espera-se que com esses tratamen- tos a recuperação da capacidade de andar seja mais rápida, o número de pacientes que necessitam de venti- lação mecânica diminua, o tempo de ventilação mecânica, caso seja ne- cessária, diminua também, o número de pacientes com recuperação da for- ça muscular aumente e haja diminui- ção da mortalidade associada à SGB. MAPA MENTAL – CONDUTA CLÍNICA Presença de comprometimento respiratório CONDUTA CLÍNICA Ausência de comprometimento respiratório TRATAMENTO Quadro leve Medidas de Suporte Quadro moderado-grave TRATAMENTO Fisioterapia Suporte nutricional UTI Plasmaférese, 4 a 6 sessões Imunoglobulina Intravenosa Humana (0,4g/kg durante 5 dias) Plasmaférese, 2 sessões Imunoglobulina Intravenosa Humana (0,4g/kg durante 5 dias) Enfermaria Fonoaudiologia 17SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ É preciso estar de acordo com a logís- tica das necessidades do paciente ao apresentar sinais de que se encon- tra comprometido do ponto de vista ventilatório para iniciar o seu interna- mento. Nos casos em que há com- prometimento respiratório, o paciente é encaminhado para a UTI, enquanto que na ausência do comprometimen- to respiratório ele deverá ser encami- nhado para um leito na enfermaria, caracterizando um quadro mais leve. Algumas medidas de suporte para os portadores da Síndrome de Guillain Barré com comprometimento ven- tilatório são a fisioterapia, a fono- audiologia e o suporte nutricional. Além desses, aqueles em que é visu- alizado um quadro clínico grave, há a necessidade de intubação orotraque- al e controlar bem as disautonomias. Após uma semana e após um ano do tratamento, os pacientes devem vol- tar para reavaliação, de acordo com a escala de Hughes. FATORES QUE PODEM DESENCADEAR A SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ Infecção de vias aéreas superiores. Diarreia, normalmente por Campilobacter jejuni. Imunização. Infecção por citomegalovírus (CMV). Infecção por vírus Epstein-Barr (EBV). Infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV). Infecção por zika vírus. Cirurgia. Transplante de medula óssea. Tabela 4. SAIBA MAIS! Deve-se prestar atenção na avaliação da função renal, sinais para anafilaxia e hidratação prévia do paciente, além de outros possíveis problemas que podem surgir durante o tratamento, como dor moderada no peito, quadril ou costas, náusea e vômitos, calafrios, febre, mal-estar, fadiga, sensa- ção de fraqueza ou leve tontura, cefaleia, urticária, eritema, tensão do tórax e dispneia. 18SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ MAPA MENTAL – VAMOS REVISAR? Polineuropatia aguda imunomediada CONCEITO Dissociação proteinocitológica Aumento linfocitário Remover de 200-250 mL/kg de plasma com intervalo de 48 horas entre elas 0,4/kg por 5 dias seguidos Medidas de suporte Plasmaférese Perda da bainha de mielina Notificação compulsória LCR Clínica sugestiva DIAGNÓSTICO CLÍNICATRATAMENTO Paralisia flácida, ascendente e arreflexa Sintomas disautonômicos Síndrome de Miller Fisher Disfagia Ptose Arreflexia Oftalmoplegia Ataxia da marcha ENM Imunoglobulina EV Nutrição Fisioterapia Fonoaudiologia 19SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ REFERÊNCIAS BILBLIOGRÁFICAS Rowland, Lewis P. Merritt. Tratado de neurologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2015/novembro/20/MINUTA-de-Portaria- -SAS-PCDT-Guilain-Barr---ATUALIZADO-11-11-2015.pdf http://www.saude.ufpr.br/portal/labsim/wp-content/uploads/sites/23/2016/07/Punção- -lombar-Check-list-1.pdf https://studylibpt.com/doc/902263/diagnóstico-laboratorial-das-meningites-resultados-de https://studylibpt.com/doc/902263/diagnóstico-laboratorial-das-meningites-resultados-de https://saude.gov.br/saude-de-a-z/poliomielite https://saude.gov.br/saude-de-a-z/guillain-barre https://slideplayer.com.br/slide/3287327/ 20SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ
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