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INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 75PROENEM.COM.BR 10 DICAS PARA INTERPRETAR OS TEXTOS NO ENEM01 1. COMECE SEMPRE A QUESTÃO PELO COMANDO. No ENEM, nem sempre é necessário ler o texto, se você já tem alguma base teórica sobre a estrutura do texto ou sobre o tema envolvido. Nesse sentido, convém analisar primeiro o comando e, caso a resposta seja óbvia, já poderá ser marcada. Em caso de dúvida, leia e releia o texto. Quanto mais questões resolvidas sobre o mesmo assunto, mais simples fica a identificação da alternativa correta. Por isso, a prática constante é tão importante. 2. IDENTIFIQUE A TEORIA POR TRÁS DE CADA QUESTÃO. Muitas questões que parecem se referir a “objetivo do texto” ou “objetivo do autor do texto” na verdade querem saber sobre função textual, tipologia textual, escola literária, características dos gêneros do discurso etc. Por isso, ao dominar conteúdos interpretativos como esses, a interpretação fica muito mais rápida e fácil na hora da prova. Lembre-se que existem modelos de questão e modelos de prova, logo se você dominar esses modelos, será mais fácil acertar com mais rapidez e segurança. 3. IDENTIFIQUE AS ALTERNATIVAS QUE REPRESENTAM A MESMA RESPOSTA E ELIMINE-AS. Na hora da prova, muitas questões costumam apresentar como alternativas respostas que remetem a um mesmo conceito, ou seja, se uma estiver opção estiver certa, a outra também teria de estar. Isso faz com que essas alternativas sejam excludentes entre si, pois a validação de uma ou outra naturalmente anularia a questão. As respostas corretas são únicas e não podem ter sinônimos ou equivalentes em outras opções. 4. NAS QUESTÕES COM TEXTOS NÃO VERBAIS, PROCURE RELACIONAR A RESPOSTA A CADA DETALHE DA IMAGEM. Na maioria das questões que envolvem texto verbal (palavras) e não verbal (imagens), os alunos costumam ter dificuldade, pois acham que a respostas só pode estar nas palavras, o que representa um engano. Uma mesma frase, dependendo da imagem, pode ser uma declaração sincera ou uma ironia, um elogio ou um deboche, por exemplo. Portanto, muitas vezes, a charge, a caricatura, as expressões do personagem ou os detalhes de um cartaz podem contribuir mais para a localização da resposta certa do que o que se lê nas frases materializadas no texto. 5. EM QUESTÕES QUE ENVOLVEM TEXTO LITERÁRIO, PROCURE TER SEMPRE EM MENTE A ESCOLA A QUE PERTENCE A OBRA OU O AUTOR. A poesia e a prosa quando caem numa questão do ENEM, em geral, reforçam marcas comuns de determinados períodos da literatura brasileira. Portanto, se você conhece as características do Romantismo, por exemplo, ao se deparar com um poema dessa fase, já será possível inferir determinados objetivos, intenções, sentimentos ou critérios na escolha de determinados recursos expressivos. 6. EM QUESTÕES DE TEXTO JORNALÍSTICO OU PUBLICITÁRIO, TENHA ATENÇÃO ÀS CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO. Os gêneros textuais, de modo geral, apresentam características particulares relacionadas ao objetivo comunicativo de cada um. O tipo de linguagem, o vocabulário, a maior ou menor subjetividade, a ideia de interlocutor, o tamanho do texto, tudo isso configura as mensagens e costuma aparecer em forma de pergunta na prova. Por exemplo, qual o objetivo de se usar uma linguagem mais simples e objetiva num texto jornalístico? Atingir um maior número de interlocutores. Qual o objetivo de se usar humor numa propaganda? Persuadir determinado público a comprar determinado produto. Ou seja, cada gênero costuma já apresentar suas respostas específicas de acordo com a pergunta que é feita ao candidato na hora do exame. 7. EM QUESTÕES SOBRE LINGUAGEM CORPORAL, ATENÇÃO ÀS CARACTERÍSTICAS DA IMAGEM E DO ESPORTE. O ENEM cobra questões de linguagem corporal, ou seja, suas aulas de Educação Física são importantíssimas para ajudar a resolver essas questões. Muitas dessas perguntas costumam requerer mais do seu conhecimento sobre determinados esportes, posições e movimentos do que a própria interpretação do texto. É comum questões perguntando sobre a quantidade de jogadores em certo esporte, sobre o que está acontecendo na imagem de uma quadra, sobre a representação de uma dança, sobre movimentos de alongamento entre outros. 8. EM QUESTÕES SOBRE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, MUITA ATENÇÃO ÀS CARACTERÍSTICAS DOS SUPORTES ENVOLVIDOS. Outro item importante presente nos editais do ENEM é a cobrança do conhecimento sobre a tecnologia da informação. Mas o que isso significa? Você vai interpretar textos sobre os recursos que a humanidade em utilizado para se comunicar em nossa cultura. Telegrama, carta, Twitter, Facebook, Direct... tudo pode se transformar em questão e você precisa estar preparado para reconhecer semelhanças e diferenças entre essas tecnologias. Em que o telegrama do passado se assemelha ao nosso Twitter, por exemplo? O tipo de linguagem direta e com um mínimo de caracteres. Em que se difere um facebook com sua linha do tempo e um diário? O objetivo de registros coletivos ou privados. Enfim, tais questões não costumam apresentar alto grau de dificuldade, porém assustam os candidatos que não esperam curiosidades como essas em suas provas. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR76 INTERPRETAÇÃO 01 10 DICAS PARA INTERPRETAR OS TEXTOS NO ENEM 9. RESOLVA O MÁXIMO POSSÍVEL DE QUESTÕES E JUSTIFIQUE AS ALTERNATIVAS ERRADAS. Estudar anotando é o melhor caminho para a maioria dos candidatos. Como o modelo de questão estabelecido pelo Inep não manda o candidato assinalar a alternativa ERRADA - só se pode perguntar pela opção correta – muitos candidatos se habituaram a só anotar ou compreender a justificativa da certa, quando na verdade justificar a razão de as outras opções estarem erradas é tão importante quanto. Portanto, a melhor maneira de se estudar interpretação para superar grandes dificuldades é se perguntar “Por que sim?” e “Por que não?” e anotar ou destacar em cada opção a razão de sua classificação como certa ou errada, adequada ou inadequada. 10. NÃO DESANIME COM OS ERROS NO COMEÇO. REFAÇA, ENTENDA E VENÇA. Intepretação é relevante não só para as provas de humanas, mas para todas as áreas de conhecimento cobradas na prova do ENEM. Desse modo, só é possível realizar uma boa prova, interpretando bem. E cada banca tem seu estilo de criar suas questões de interpretação. Por isso, não basta estudar o conteúdo das matérias apenas. Você precisa, na verdade, praticar o máximo de questões em cada área. Muitas vezes, você vai perceber que pode errar uma questão mesmo dominando seu conteúdo, o que ocorre pois o problema não está na teoria do assunto, mas na sua prática de resolução. Nesse sentido, é muito importante resolver muita questão e não desanimar com os erros. Errar é natural e faz parte do processo de aprendizagem, portanto, valorize seus acertos e use suas respostas erradas como roteiro para avaliar-se, traçar estratégias para melhoria e maior capacitação. PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Explique a importância da Educação Física para o ENEM. 02. Justifique a relevância dos textos jornalísticos para o ENEM. 03. Identifique como a tecnologia é cobrada na prova de Linguagens do ENEM. 04. Justifique a relação entre texto e imagem nas questões do ENEM. 05. Explique como o aluno encontra a teoria por trás da questão apresentada no ENEM. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. (ENEM/2010) Em uma reportagem a respeito da utilização do computador, um jornalista posicionou-se da seguinte forma: A humanidade viveu milhares de anos sem o computador e conseguiu se virar. Um escritor brasileiro disse com orgulho que ainda escreve a máquina ou a mão; que precisa do contato físico com o papel. Um profissional liberal refletiu que o computador não mudou apenas a vida de algumas pessoas, ampliando a oferta de pesquisa e correspondência, mudou a carreira de todo mundo. Um professor arrematou que todas as disciplinas hoje não podem serimaginadas sem os recursos da computação e, para um físico, ele é imprescindível para, por exemplo, investigar a natureza subatômica. Como era a vida antes do computador? OceanAir em Revista. n° 1, 2007 (adaptado). Entre as diferentes estratégias argumentativas utilizadas na construção de textos, no fragmento, está presente a) a comparação entre elementos. b) a reduplicação de informações. c) o confronto de pontos de vista. d) a repetição de conceitos. e) a citação de autoridade. 02. (ENEM/2010) Estamos em plena “Idade Mídia” desde os anos de 1990, plugados durante muitas horas semanais (jovens entre 13 e 24 anos passam 3h30 diárias na Internet, garante pesquisa Studio Ideias para o núcleo Jovem da Editora Abril), substituímos as cartas pelos e-mails, os diários intímos pelos blogs, os telegramas pelo Twitter, a enciclopédia pela Wikipédia, o álbum de fotos pelo Flickr. O YouTube é mais atraente do que a TV. PERISSÉ, G. A escrita na Internet. Especial Sala de Aula. São Paulo, 2010 (fragmento). Cada sistema de comunicação tem suas especificidades. No ciberespaço, os textos virtuais são produzidos combinando-se características de gêneros tradicionais. Essa combinação representa, a) na redação do e-mail, o abandono da formalidade e do rigor gramatical. b) no uso do Twitter, a presença da concisão, que aproxima os textos às manchetes jornalísticas. c) na produção de um blog, a perda da privacidade, pois o blog se identifica com o diário íntimo. d) no uso do Twitter, a falta de coerência nas mensagens ali veiculadas, provocada pela economia de palavras. e) na produção de textos em geral, a soberania da autoria colaborativa no ciberespaço. 03. (ENEM/2010) Prima Julieta Prima Julieta irradiava um fascínio singular. Era a feminilidade em pessoa. Quando a conheci, sendo ainda garoto e já sensibilíssimo ao charme feminino, teria ela uns trinta ou trinta e dois anos de idade. Apenas pelo seu andar percebia-se que era uma deusa, diz Virgílio de outra mulher. Prima Julieta caminhava em ritmo lento, agitando a cabeça para trás, remando os belos braços brancos. A cabeleira loura incluía reflexos metálicos. Ancas poderosas. Os olhos de um verde azulado borboleteavam. A voz rouca e ácida, em dois planos: voz de pessoa da alta sociedade. MENDES, M. A idade do serrote. Rio de Janeiro: Sabiá, 1968. Entre os elementos constitutivos dos gêneros, está o modo como se organiza a própria composição textual, tendo-se em vista o objetivo de seu autor: narrar, descrever, argumentar, explicar, instruir. No trecho, reconhece-se uma sequência textual a) explicativa, em que se expõem informações objetivas referentes à prima Julieta. b) instrucional, em que se ensina o comportamento feminino, inspirado em prima Julieta. c) narrativa, em que se contam fatos que, no decorrer do tempo, envolvem prima Julieta. d) descritiva, em que se constrói a imagem de prima Julieta a partir do que os sentidos do enunciador captam. e) argumentativa, em que se defende a opinião do enunciador sobre prima Julieta, buscando-se a adesão do leitor a essas ideias. 04. (ENEM/2010) O Arlequim, o Pierrô, a Brighella ou a Colombina são personagens típicos de grupos teatrais da Commedia dell’art, que, há anos, encontram-se presentes em marchinhas e fantasias de carnaval. Esses grupos teatrais seguiam, de cidade em cidade, com faces e disfarces, fazendo suas críticas, declarando seu amor R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 01 10 DICAS PARA INTERPRETAR OS TEXTOS NO ENEM 77 INTERPRETAÇÃO por todas as belas jovens e, ao fi nal da apresentação, despediam- se do público com músicas e poesias. A intenção desses atores era expressar sua mensagem voltada para a a) crença na dignidade do clero e na divisão entre o mundo real e o espiritual. b) ideologia de luta social que coloca o homem no centro do processo histórico. c) crença na espiritualidade e na busca incansável pela justiça social dos feudos. d) ideia de anarquia expressa pelos trovadores iluministas do início do século XVI. e) ideologia humanista com cenas centradas no homem, na mulher e no cotidiano. 05. (ENEM/2010) XAVIER, C. Disponível em: http://www.releituras.com. Acesso em: 03 set. 2010. Considerando a relação entre os usos oral e escrito da língua, tratada no texto, verifi ca-se que a escrita a) modifi ca as ideias e intenções daqueles que tiveram seus textos registrados por outros. b) permite, com mais facilidade, a propagação e a permanência de ideias ao longo do tempo. c) fi gura como um modo comunicativo superior ao da oralidade. d) leva as pessoas a desacreditarem nos fatos narrados por meio da oralidade. e) tem seu surgimento concomitante ao da oralidade. 06. (ENEM/2010) APADRINHE. IGUAL AO JOÃO, MILHARES DE CRIANÇAS TAMBÉM PRECISAM DE UM MELHOR AMIGO. SEJA O MELHOR AMIGO DE UMA CRIANÇA. Anúncio assinado pelo Fundo Cristão para Crianças CCF-Brasil. Revista IstoÉ. São Paulo: Três, ano 32, n° 2079, 16 set. 2009. Pela forma como as informações estão organizadas, observa-se que, nessa peça publicitária, predominantemente, busca-se a) conseguir a adesão do leitor à causa anunciada. b) reforçar o canal de comunicação com o interlocutor. c) divulgar informações a respeito de um dado assunto. d) enfatizar os sentimentos e as impressões do próprio enunciador. e) ressaltar os elementos estéticos, em detrimento do conteúdo veiculado. 07. (ENEM/2010) No Brasil colonial, os portugueses procuravam ocupar e explorar os territórios descobertos, nos quais viviam índios, que eles queriam cristianizar e usar como força de trabalho. Os missionários aprendiam os idiomas dos nativos para catequizá- los nas suas próprias línguas. Ao longo do tempo, as línguas se influenciaram. O resultado desse processo foi a formação de uma língua geral, desdobrada em duas variedades: o abanheenga, ao sul, e o nheengatu, ao norte. Quase todos se comunicavam na língua geral, sendo poucos aqueles que falavam apenas o português. De acordo com o texto, a língua geral formou-se e consolidou- se no contexto histórico do Brasil-Colônia. Portanto, a formação desse idioma e suas variedades foi condicionada a) pelo interesse dos indígenas em aprender a religião dos portugueses. b) pelo interesse dos portugueses em aprimorar o saber linguístico dos índios. c) pela percepção dos indígenas de que as suas línguas precisavam aperfeiçoar-se. d) pelo interesse unilateral dos indígenas em aprender uma nova língua com os portugueses. e) pela distribuição espacial das línguas indígenas, que era anterior à chegada dos portugueses. 08. (ENEM/2010) Por volta do ano de 700 a.C., ocorreu um importante invento na Grécia: o alfabeto. Com isso, tornou- se possível o preenchimento da lacuna entre o discurso oral e o escrito. Esse momento histórico foi preparado ao longo de aproximadamente três mil anos de evolução e da comunicação não alfabética até a sociedade grega alcançar o que Havelock chama de um novo estado de espírito, “o espírito alfabético”, que originou uma transformação qualitativa da comunicação humana. As tecnologias da informação com base na eletrônica (inclusive a imprensa eletrônica) apresentam uma capacidade de armazenamento. Hoje, os textos eletrônicos permitem flexibilidade e feedback, interação e reconfi guração de texto muito maiores e, dessa forma, também alteram o próprio processo de comunicação. CASTELLS, M. A. Era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999 (adaptado). Com o advento do alfabeto, ocorreram, ao longo da história, várias implicações socioculturais. Com a Internet, as transformações na comunicação humana resultam a) da descoberta da mídia impressa, por meio da produção de livros, revistas, jornais. b) do esvaziamento da cultura alfabetizada, que, na era da informação, está centrada no mundo dos sons e das imagens. c) da quebra das fronteiras do tempo e do espaço na integração das modalidades escrita, orale audiovisual. d) da audiência da informação difundida por meio da TV e do rádio, cuja dinâmica favorece o crescimento da eletrônica. e) da penetrabilidade da informação visual, predominante na mídia impressa, meio de comunicação de massa. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR78 INTERPRETAÇÃO 01 10 DICAS PARA INTERPRETAR OS TEXTOS NO ENEM 09. (ENEM/2010) CURRÍCULO Identifi cação Pessoal [Nome Completo] Brasileiro, [Estado Civil], [Idade] anos [Endereço – Rua/Av. + Número + Complemento] [Bairro] – [Cidade] – [Estado] Telefone: [Telefone com DDD] / E-mail: [E-mail] Objetivo [Cargo pretendido] Formação Experiência Profi ssional [Período] – Empresa Cargo: Principais atividades: Qualifi cação Profi ssional [Descrição] ([Local], conclusão em [Ano de Conclusão do Curso ou Atividade]). Informações Adicionais [Descrição Informação Adicional] A busca por emprego faz parte da vida de jovens e adultos. Para tanto, é necessário estruturar o currículo adequadamente. Em que parte da estrutura do currículo deve ser inserido o fato de você ter sido premiado com o título de “Aluno Destaque do Ensino Médio – Menção Honrosa”? a) Identifi cação pessoal. b) Formação. c) Experiência Profi ssional. d) Informações Adicionais. e) Qualifi cação Profi ssional. 10. (ENEM/2010) Revista Nova Escola. São Paulo: Abril, ago. 2009. Esse texto é uma propaganda veiculada nacionalmente. Esse gênero textual utiliza-se da persuasão com uma intencionalidade específi ca. O principal objetivo desse texto é a) comprovar que o avanço da dengue no país está relacionado ao fato de a população desconhecer os agentes causadores. b) convencer as pessoas a se mobilizarem, com o intuito de eliminar os agentes causadores da doença. c) demonstrar que a propaganda tem um caráter institucional e, por essa razão, não pretende vender produtos. d) informar à população que a dengue é uma doença que mata e que, por essa razão, deve ser combatida. e) sugerir que a sociedade combata a doença, observando os sintomas apresentados e procurando auxílio médico. 11. Tampe a panela Parece conselho de mãe para a comida não esfriar, mas a ciência explica como é possível ser um cidadão ecossustentável adotando o simples ato de tampar a panela enquanto esquenta a água para o macarrão ou para o cafezinho. Segundo o físico Cláudio Furukawa, da USP, a cada minuto que a água ferve em uma panela sem tampa, cerca de 20 gramas do líquido evaporam. Com o vapor, vão embora 11 mil calorias. Como o poder de conferir calor do GLP, aquele gás utilizado no botijão de cozinha, é de 11 mil calorias por grama, será preciso 1 grama a mais de gás por minuto para aquecer a mesma quantidade de água. Isso pode não parecer nada para você ou para um botijão de 13 quilos, mas imagine o potencial de devastação que um cafezinho despretensioso e sem os devidos cuidados pode provocar em uma população como a do Brasil: 54,6 toneladas de gás desperdiçado por minuto de aquecimento da água, considerando que cada família brasileira faça um cafezinho por dia. Ou 4 200 botijões desperdiçados. Superinteressante. São Paulo: Abril, n° 247, dez. 2007. Segundo o físico da USP, Cláudio Furukawa, é possível ser um cidadão ecossustentável adotando atos simples. É um argumento utilizado pelo físico, para sustentar a ideia de que podemos contribuir para melhorar a qualidade de vida no planeta, a) tampar a panela para a comida não esfriar, seguindo os conselhos da mãe. b) reduzir a quantidade de calorias, fervendo a água em recipientes tampados. c) analisar o calor do GLP, enquanto a água estiver em processo de ebulição. d) aquecer líquidos utilizando os botijões de 13 quilos, pois consomem menos. e) diminuir a chama do fogão, para aquecer quantidades maiores de líquido. 12. O contato com textos exercita a capacidade de reconhecer os fi ns para os quais este ou aquele texto é produzido. Esse texto tem por fi nalidade a) apresentar um conteúdo de natureza científi ca. b) divulgar informações da vida pessoal do pesquisador. c) anunciar um determinado tipo de botijão de gás. d) solicitar soluções para os problemas apresentados. e) instruir o leitor sobre como utilizar corretamente o botijão. 13. Onde fi cam os “artistas”? Onde fi cam os “artesãos”? Submergidos no interior da sociedade, sem reconhecimento formal, esses grupos passam a ser vistos de diferentes perspectivas pelos seus intérpretes, a maioria das vezes, engajados em discussões que se polarizam entre artesanato, cultura erudita e cultura popular. PORTO ALEGRE, M. S. Arte e ofício de artesão. São Paulo, 1985 (adaptado). O texto aponta para uma discussão antiga e recorrente sobre o que é arte. Artesanato é arte ou não? De acordo com uma tendência inclusiva sobre a relação entre arte e educação, a) o artesanato é algo do passado e tem sua sobrevivência fadada à extinção por se tratar de trabalho estático produzido por poucos. b) os artistas populares não têm capacidade de pensar e conceber a arte intelectual, visto que muitos deles sequer dominam a leitura. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 01 10 DICAS PARA INTERPRETAR OS TEXTOS NO ENEM 79 INTERPRETAÇÃO c) o artista popular e o artesão, portadores de saber cultural, têm a capacidade de exprimir, em seus trabalhos, determinada formação cultural. d) os artistas populares produzem suas obras pautados em normas técnicas e educacionais rígidas, aprendidas em escolas preparatórias. e) o artesanato tem seu sentido limitado à região em que está inserido como uma produção particular, sem expansão de seu caráter cultural. 14. O American Idol islâmico Quem não gosta do Big Brother diz que os reality shows são programas vazios, sem cultura. No mundo árabe, esse problema já foi resolvido: em The Millions’ Poet (“O Poeta dos Milhões”), líder de audiência no golfo pérsico, o prêmio vai para o melhor poeta. O programa, que é transmitido pela Abu Dhabi TV e tem 70 milhões de espectadores, é uma competição entre 48 poetas de 12 países árabes — em que o vencedor leva um prêmio de US$ 1,3 milhão. Mas lá, como aqui, o reality gera controvérsia. O BBB teve a polêmica dos “coloridos” (grupo em que todos os participantes eram homossexuais). E Millions’ Poet detonou uma discussão sobre os direitos da mulher no mundo árabe. GARATTONI, B. O American Idol islâmico. SuperInteressante. Edição 278, maio 2010 (fragmento). No trecho “Mas lá, como aqui, o reality gera controvérsia”, o termo destacado foi utilizado para estabelecer uma ligação com outro termo presente no texto, isto é, fazer referência ao a) vencedor, que é um poeta árabe. b) poeta, que mora na região da Arábia. c) mundo árabe, local em que há o programa. d) Brasil, lugar onde há o programa BBB. e) programa, que há no Brasil e na Arábia. 15. Calvin apresenta a Haroldo (seu tigre de estimação) sua escultura na neve, fazendo uso de uma linguagem especializada. Os quadrinhos rompem com a expectativa do leitor, porque a) Calvin, na sua última fala, emprega um registro formal e adequado para a expressão de uma criança. b) Haroldo, no último quadrinho, apropria-se do registro linguístico usado por Calvin na apresentação de sua obra de arte. c) Calvin emprega um registro de linguagem incompatível com a linguagem de quadrinhos. d) Calvin, no último quadrinho, utiliza um registro linguístico informal. e) Haroldo não compreende o que Calvin lhe explica, em razão do registro formal utilizado por este último. 16. (Enem 2018) A internet proporcionou o surgimento de novos paradigmas sociais e impulsionou a modifi cação de outros já estabelecidos nas esferas da comunicação e da informação. A principal consequência criticada na tirinha sobre esse processo é a a) criação de memes. b) ampliação da blogosfera. c) supremacia das ideias cibernéticas. d) comercialização de pontos de vista. e) banalização do comércio eletrônico. 17.(ENEM 2018) A utilização de determinadas variedades linguísticas em campanhas educativas tem a função de atingir o público-alvo de forma mais direta e efi caz. No caso desse texto, identifi ca-se essa estratégia pelo(a) a) discurso formal da língua portuguesa. b) registro padrão próprio da língua escrita. c) seleção lexical restrita à esfera da medicina. d) fi delidade ao jargão da linguagem publicitária. e) uso de marcas linguísticas típicas da oralidade. 18. (ENEM 2018) R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR80 INTERPRETAÇÃO 01 10 DICAS PARA INTERPRETAR OS TEXTOS NO ENEM Essa imagem ilustra a reação dos celíacos (pessoas sensíveis ao glúten) ao ler rótulos de alimentos sem glúten. Essas reações indicam que, em geral, os rótulos desses produtos a) trazem informações explícitas sobre a presença do glúten. b) oferecem várias opções de sabor para esses consumidores. c) classificam o produto como adequado para o consumidor celíaco. d) influenciam o consumo de alimentos especiais para esses consumidores. e) variam na forma de apresentação de informações relevantes para esse público. 19. (ENEM 2018) TEXTO I TEXTO II Imaginemos um cidadão, residente na periferia de um grande centro urbano, que diariamente acorda às 5h para trabalhar, enfrenta em média 2 horas de transporte público, em geral lotado, para chegar às 8h ao trabalho. Termina o expediente às 17h e chega em casa às 19h para, aí sim, cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos etc. Como dizer a essa pessoa que ela deve praticar exercícios, pois é importante para sua saúde? Como ela irá entender a mensagem da importância do exercício físico? A probabilidade de essa pessoa praticar exercícios regularmente é significativamente menor que a de pessoas da classe média/alta que vivem outra realidade. Nesse caso, a abordagem individual do problema tende a fazer com que a pessoa se sinta impotente em não conseguir praticar exercícios e, consequentemente, culpada pelo fato de ser ou estar sedentária. FERREIRA, M. S. Aptidão física e saúde na educação física escolar: ampliando o enfoque. RBCE, n. 2, jan. 2001 (adaptado). O segundo texto, que propõe uma reflexão sobre o primeiro acerca do impacto de mudanças no estilo de vida na saúde, apresenta uma visão a) medicalizada, que relaciona a prática de exercícios físicos por qualquer indivíduo à promoção da saúde. b) ampliada, que considera aspectos sociais intervenientes na prática de exercícios no cotidiano. c) crítica, que associa a interferência das tarefas da casa ao sedentarismo do indivíduo. d) focalizada, que atribui ao indivíduo a responsabilidade pela prevenção de doenças. e) geracional, que preconiza a representação do culto à jovialidade. 20. (ENEM 2018) A fotografia exibe a fachada de um supermercado em Foz do Iguaçu, cuja localização transfronteiriça é marcada tanto pelo limite com Argentina e Paraguai quanto pela presença de outros povos. Essa fachada revela o(a) a) pagamento da identidade linguística. b) planejamento linguístico no espaço urbano. c) presença marcante da tradição oral na cidade. d) disputa de comunidades linguísticas diferentes. e) poluição visual promovida pelo multilinguismo. 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UNESP 2014) Horror a aprender Se quiséssemos numa fórmula definir a mentalidade mais ou menos generalizada dos que militam na vida literária brasileira, não lograríamos descobrir outra que melhor se prestasse do que esta: horror a aprender. Nosso autodidatismo enraizado, nossa falta de hábito universitário, fazem com que aprender, entre nós, seja motivo de inferioridade intelectual. Ninguém gosta de aprender. Ninguém se quer dar ao trabalho de aprender. Porque já se nasce sabendo. Todos somos mestres antes de ser discípulos. Aprender o quê? Pois já sabemos tudo de nascença! Ignoramos essa verdade de extrema sabedoria: só os bons discípulos dão grandes mestres, e só é bom mestre quem foi um dia bom discípulo e continua com o espírito aberto a um perpétuo aprendizado. Quem sabe aprender sabe ensinar, e só quem gosta de aprender tem o direito de dar lições. Como pode divulgar e orientar conhecimentos quem mantém o espírito impermeável a qualquer aprendizagem? Nossos jovens intelectuais, em sua maioria, primam pelo pedantismo, autossuficiência e falta de humildade de espírito. São mestres antes de ter sido discípulos. Saber não os preocupa, estudar, ninguém lhes viu os estudos. É só meter-lhes na mão uma pena e cair-lhes ao alcance uma coluna de jornal, e lá vem doutrinação leviana e prosa de meia-tigela. Não lhes importa verificar se estão arrombando portas abertas ou chovendo no molhado. (No hospital das letras, 1963.) R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 01 10 DICAS PARA INTERPRETAR OS TEXTOS NO ENEM 81 INTERPRETAÇÃO Indique a contradição da personagem mais nova da tira em pretender criar um blog intelectual sobre Saramago. 02. (FGV 2014) Os enunciados de uma obra científica e, na maioria dos casos, de notícias, reportagens, cartas, diários etc., constituem juízos, isto é, as objectualidades puramente intencionais pretendem corresponder, adequar-se exatamente aos seres reais (ou ideias, quando se trata de objetos matemáticos, valores, essências, leis etc.) referidos. Fala-se então de “adequatio orationis ad rem”*. Há nestes enunciados a intenção séria de verdade. Precisamente por isso pode-se falar, nestes casos, de enunciados errados ou falsos e mesmo de mentira e fraude, quando se trata de uma notícia ou reportagem em que se pressupõe intenção séria. O termo “verdade”, quando usado com referência a obras de arte ou de ficção, tem significado diverso. Designa com frequência qualquer coisa como a genuinidade, sinceridade ou autenticidade (termos que, em geral, visam à atitude subjetiva do autor); ou a verossimilhança, isto é, na expressão de Aristóteles, não a adequação àquilo que aconteceu, mas àquilo que poderia ter acontecido; ou a coerência interna no que tange ao mundo imaginário das personagens e situações miméticas; ou mesmo a visão profunda - de ordem filosófica, psicológica ou sociológica - da realidade. Até neste último caso, porém, não se pode falar de juízos no sentido preciso. Seria incorreto aplicar aos enunciados fictícios critérios de veracidade cognoscitiva. [...] Os mesmos padrões que funcionam muito bem no mundo mágico-demoníaco do conto de fadas revelam-se falsos e caricatos quando aplicados à representação do universo profano da nossa sociedade atual [...]. “Falso” seria também um prédio com portal e átrio de mármore que encobrissem apartamentos miseráveis. É esta incoerência que é “falsa”. Mas ninguém pensaria em chamar de falso um autêntico conto de fadas, apesar de o seu mundo imaginário corresponder muito menos à realidade empírica do que o de qualquer romance de entretenimento. Anatol Rosenfeld, literatura e personagem. In: A. Candido et. al. A personagem de ficção. * adequatio orationis ad rem: adequação da linguagem ao assunto. Atenda ao que se pede: a) A natureza do texto justifica a citação da frase latina, tendo em vista que ela é corrente em textos de Retórica? Justifique sua resposta. b) No contexto, o que se entende por “situações miméticas” (2º. parágrafo)? 03. (PUCRJ 2017) Texto 1 O afeto em Freud “Se eu nos sonhos sinto medo de uns ladrões, os ladrões são por certo imaginários, mas o medo é real, e ocorre o mesmo quando me regozijo nos sonhos” (Freud, 1900/1976, p. 458). Prestar atenção aos afetos parecia a Freud ser um bom caminho para entender a natureza da alma humana. Para compreender um sonho, por exemplo, ele seguia os afetos nas séries de representações. O mesmo acontecia nos encontros com seus pacientes: as variações afetivas, das paixões intensas às hostilidades ao psicanalista e ao tratamentoem geral, indicavam-lhe que direção dar ao tratamento. Texto adaptado de WINOGRAD, Monah & TEIXEIRA, Leônia Cavalcanti. Afeto e adoecimento do corpo: considerações psicanalíticas. In: Ágora: Estudos e Teoria Psicanalítica. Vol.14 nº 2 Rio de Janeiro, July/Dec. 2011. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-14982011000200001 - acesso em 30/06/2016 Texto 2 Vários estudos constataram uma dimensão profunda do contato físico, separada da função discriminativa. Esse sistema recém- descoberto, chamado pelos pesquisadores de toque afetivo ou emocional, é composto por fibras nervosas acionadas exatamente pelo tipo de carícia amorosa que uma mãe faz em seu filho. A constatação é que as bases neurobiológicas do afeto desempenham papel muito mais significativo no comportamento humano do que acreditávamos, a ponto de estreitar laços e até mesmo aumentar as chances de sobrevivência. Essas fibras podem também ajudar o psiquismo a construir e a integrar a percepção de si e do outro, informando a consciência sobre nosso próprio corpo e a habilidade de nos relacionarmos. “O toque afetivo pode ajudar na compreensão do desenvolvimento do cérebro social; para a maioria das pessoas, o gesto permite que o sistema neural reconheça a si mesmo e tome contato com o outro”, diz o neurocientista Francis McGlone, pesquisador da Universidade John Moores Liverpool, na Inglaterra. “Do ponto de vista emocional, uma carícia suave nutre e sustenta boa parte da interação social.” DENWORTH, Lydia. O poder do toque. In: Revista Mente e Cérebro, Ano XI, nº 274. p. 21-22. Ed. Segmento. a) Explique, de acordo com o Texto 1, o que há em comum entre o processo de compreensão dos sonhos e a indicação de tratamento para pacientes, no que diz respeito à conduta de Freud. b) Indique que elemento relacionado a afeto é apresentado no Texto 2 e aponte uma de suas utilidades no dia a dia do ser humano. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR82 INTERPRETAÇÃO 01 10 DICAS PARA INTERPRETAR OS TEXTOS NO ENEM 04. (FUVEST 2016) Leia este texto. É conhecida a raridade de diários íntimos na sociedade escravocrata do Brasil colonial e imperial, em comparação com a frequência com que surgem noutra sociedade do mesmo feitio, o velho Sul dos Estados Unidos. Gilberto Freire reparou na diferença, atribuindo-a ao catolicismo do brasileiro e ao protestantismo do americano: aquele podia recorrer ao confessionário, mas a este só restava o refúgio do papel. Esta é também a explicação que oferece Georges Gusdorf, na base de uma comparação mais ampla dos textos autobiográficos produzidos nos países da Reforma e da Contrarreforma. Ao passo que no catolicismo o exame de consciência está tutelado na confissão pela autoridade sacerdotal, no protestantismo, ele não está submetido à interposta pessoa. Evaldo C. de Mello, “Diários e ‘livros de assentos’”. In: Luiz Felipe de Alencastro (org.), História da vida privada no Brasil - 2. a) De acordo com o texto, em que grupo de países os diários íntimos surgiam com maior frequência e por que isso ocorria? b) A que expressões do texto se referem, respectivamente, os termos sublinhados no trecho “ele não está submetido à interposta pessoa”? 05. (UNESP 2018) Leia o trecho do livro O maior espetáculo da Terra, do biólogo britânico Richard Dawkins (1941- ), para responder às questões. A seleção natural impele espécies predadoras a tornarem-se cada vez melhores em apanhar presas, e simultaneamente impele espécies que são caçadas a tornarem-se cada vez melhores em escapar dos caçadores. Predadores e presas apostam uma corrida armamentista evolucionária, disputada no tempo evolucionário. O resultado tem sido uma constante escalada na quantidade de recursos econômicos que os animais, dos dois lados, despendem na corrida armamentista, em detrimento de outros departamentos de sua economia corporal. Caçadores e caçados tornam-se cada vez mais bem equipados para correr mais do que (ou surpreender, ou sobrepujar em astúcia etc.) o outro lado. Mas um equipamento aprimorado para correr mais não se traduz obviamente em mais sucesso numa corrida, pela simples razão de que, numa corrida armamentista, o outro lado também está aprimorando seu equipamento: essa é a marca registrada das corridas armamentistas. Poderíamos dizer, como explicou a Rainha de Copas a Alice, que eles correm o mais rápido possível para não sair do lugar. Darwin tinha plena noção das corridas armamentistas evolucionárias, embora não usasse essa expressão. Meu colega John Krebs e eu publicamos um artigo sobre o tema em 1979, no qual atribuímos a expressão “corrida armamentista” ao biólogo britânico Hugh Cott. Talvez significativamente, Cott publicou seu livro, Adaptive coloration in animals, em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial: Antes de afirmar que a aparência enganosa de um gafanhoto ou borboleta é desnecessariamente detalhada, devemos verificar primeiro quais são os poderes de percepção e discriminação dos inimigos naturais desses insetos. Não fazê-lo é como dizer que a blindagem de um cruzador é pesada demais ou que seu conjunto de canhões é demasiado grande, sem investigar a natureza e a eficácia do armamento do inimigo. O fato é que, na primeva1 luta da selva, assim como nos refinamentos da guerra civilizada, vemos em progresso uma grande corrida armamentista evolucionária — cujos resultados, para a defesa, manifestam-se em recursos como velocidade, estado de alerta, couraça, coloração, hábitos subterrâneos, hábitos noturnos, secreções venenosas e gosto nauseante; e, para o ataque, em atributos compensadores como velocidade, surpresa, emboscada, atração, acuidade visual, garras, dentes, ferrões, presas venenosas e coloração atrativa. Assim como a velocidade do perseguido desenvolveu-se em relação a um aumento na velocidade do perseguidor, ou uma couraça defensiva em relação a armas ofensivas, também a perfeição de recursos de disfarce evoluiu em resposta a poderes crescentes de percepção. Saliento que a corrida armamentista é disputada no tempo evolucionário. Não deve ser confundida com as corridas entre, por exemplo, um guepardo individual e uma gazela individual, que é disputada em tempo real. A corrida no tempo evolucionário é uma corrida que desenvolve equipamento para as corridas em tempo real. E o que isso realmente significa é que os genes para produzir o equipamento destinado a vencer o adversário em esperteza ou velocidade acumulam-se nos reservatórios gênicos de ambos os lados. (O maior espetáculo da Terra, 2009. Adaptado.) 1primevo: antigo, primitivo. a) Explique sucintamente o que o autor entende por “corrida armamentista evolucionária”. b) De que forma a fala da Rainha de Copas a Alice – “eles correm o mais rápido possível para não sair do lugar” (1º parágrafo) – relaciona-se com a “marca registrada das corridas armamentistas” (1º parágrafo)? GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. C 02. B 03. D 04. E 05. B 06. A 07. E 08. C 09. D 10. B 11. B 12. A 13. C 14. C 15. D 16. D 17. E 18. E 19. B 20. B EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. A completa falta de informação da personagem sobre Saramago, escritor amplamente conhecido no meio intelectual, é contraditória com a intenção de criar um blog sobre ele. 02. a) Sim, pois a expressão latina comum a textos relativos aos assuntos da retórica, “adequatio orationis ad rem,” refere-se aos aspectos linguísticos de produções de diversas naturezas textuais, como ocorre no texto de Anatol Rosenfeld. b) A expressão “situações miméticas” sugere a reprodução de situações de forma verossímil, ou seja, a recriação harmônica entre os elementos fantasiosos ou imaginários que são determinantes no texto. 03. a) No texto, vemos que Freud seguia os afetos tanto para compreender um sonho, quanto para pensar em um tratamento para os pacientes. Ou seja, seguindo “os afetos nas séries de representações”, Freud conseguiacompreender um sonho e percebendo as variações afetivas dos seus pacientes, Freud conseguia pensar em uma direção para o tratamento. b) No texto II, a autora vai tratar do “poder do toque”, colocando o toque físico como elemento relacionado ao afeto. Logo no primeiro parágrafo ela cita várias utilidades do contato físico, tais como estreitar laços, aumentar as chances de sobrevivência e ajudar o psiquismo a construir e a integrar a percepção de si e do outro. 04. B a) Segundo o autor, os diários íntimos surgiam com maior frequência nos países em que a Reforma Protestante se consolidou, pois os adeptos dessa nova corrente religiosa, que não contempla o ato da confissão, não podiam recorrer à autoridade sacerdotal para fazer exame de consciência. Assim, recorriam com frequência à escrita de textos autobiográficos para elaborarem questionamentos autocríticos relacionados com comportamento individual ou conduta social. b) Os termos “ele” e “interposta pessoa” referem-se a “exame de consciência” e “autoridade sacerdotal”, respectivamente. 05. a) Segundo o autor, “corrida armamentista evolucionária“ define a competição entre as espécies predadoras e as que são caçadas, a fim de aprimorar métodos e estratégias de caça ou defesa ao longo da evolução natural da sua espécie. b) A mudança das características hereditárias de uma população de seres vivos de uma geração para outra é simultânea em todas as espécies, ou seja, tanto predadores como presas tratam de produzir mecanismos gênicos destinados a vencer o adversário em esperteza ou velocidade. Desta forma, estabelece-se um equilíbrio entre os grupos que impede que um ultrapasse o outro, ou seja, ambos “correm o mais rápido possível para não sair do lugar”, como afirma a Rainha de Copas em “Alice no país das maravilhas”. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 83PROENEM.COM.BR LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL, SIGNO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO02 Veja esta tira de Luis Fernando Verissimo: (VERISSIMO, Luis Fernando. Aventuras da Família Brasil. Porto Alegre: L&PM, 1993.) A tira é construída em três cenas. Nelas, se verifica uma situação de conversação entre os personagens envolvidos. A filha é quem representa papel de locutor, isto é, a pessoa que fala, na primeira cena. Os pais são os interlocutores, isto é, as pessoas com quem se fala. Essa tira retrata uma situação de comunicação, pois as pessoas interagem pela linguagem, de tal forma que modificam o comportamento do outro. Assim, o que uma pessoa transmite à outra na forma de linguagem chama-se mensagem. A comunicação ocorre quando, ao emitirmos uma mensagem, nos fazemos compreender por uma pessoa. Em um ato de comunicação não estão em jogo somente palavras, mas também gestos e movimentos. Quando empregamos esses elementos com a intenção de estabelecer uma comunicação, estamos usando diferentes linguagens. Essa linguagem, por conceito, é a representação do pensamento por meio de sinais que permitem a comunicação e a interação entre as pessoas. Tais sinais que permitem o ato de comunicação são os chamados signos linguísticos. Segundo o escritor e linguista Umberto Eco, define-se como signo aquilo que “à base de uma convenção social previamente aceita, possa ser entendido como algo que está no lugar de outra coisa”. Por exemplo, quando se diz que alguém é uma raposa, por uma convenção, estabelece-se que se trata de alguém esperto, por uma analogia com o animal, o vocábulo “raposa” está em lugar de “esperto” no contexto. A partir desses conceitos, percebe-se que, na tira, houve uma falha na comunicação entre o pai e namorado da filha. O rapaz não entendeu a mensagem porque a palavra “Shakespeare” não representa um signo para ele, não comunica nada: o nome do escritor inglês é interpretado como algo para beber. Os signos podem ser verbais (as palavras) ou não verbais (gestos, símbolos, cores, até o tom de voz). Repare que em um anúncio de sorvetes, por exemplo, há, normalmente, sol e uma luz alaranjada, signos que representam o calor. Da mesma maneira, propagandas que querem sugerir uma certa intelectualidade costumam usar atores com óculos, signo de uma possível bagagem cultural. Tais signos, juntos, ajudam o interlocutor a perceber a intenção da mensagem que se quer passar. São signos os sinais verbais ou não verbais, que apresentam dois eixos de significação: uma parte perceptível (sons, letras) e uma parte inteligível (conceito). Assim, no campo das palavras, entende-se por signo linguístico a unidade constituída de expressão e de conteúdo, de significante e de significado, respectivamente significante → coroa significado → 1. arranjo de flores; 2. ornamento de reis, rainhas; 3. idoso. Veja que a propaganda acima explora os recursos do significado do signo “coroa”. Por se tratar de uma propaganda de empresa funerária, a palavra está ligada ao arranjo de flores presente em funerais; no entanto, a figura do senhor em destaque também faz alusão à gíria usada para idosos, ou seja, arranjar uma companheira. Leia este anúncio da LPCE (Liga portuguesa contra epilepsia): (Recolhido do site: http://www.lpce.pt) A intenção do anunciante é divulgar a ideia do voluntariado para ajudar à associação. Os questionamentos dirigidos ao público (“Sente necessidade de ser útil? Necessidade de dar apoio e suporte?”) se juntam à conclusão simples, porém fundamental: “com pequenos gestos podemos melhorar a vida de outras pessoas... seja voluntário”. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR84 INTERPRETAÇÃO 02 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL, SIGNO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO Repare que o anúncio mostra várias mãos juntas como num “cabo de guerra”. Tal procedimento dá ao público uma imagem de que a associação precisa de sua colaboração nesse “jogo”. Ora, essa imagem nos remete à ideia de que quanto mais pessoas estiverem ajudando, a tarefa a ser cumprida será menos árdua. A imagem das mãos no “cabo de guerra” é, portanto, um sinal que ajuda a perceber a intenção da mensagem do anúncio. É um signo não verbal. O ser humano utiliza diferentes tipos de linguagem, como a da música, da dança, da pintura, da fotografi a. Essas várias linguagens se organizam em dois grupos: a linguagem verbal, que tem por unidade os signos verbais, as palavras; e as linguagens não verbais, que têm como unidade signos não verbais, como o gesto, a imagem, o movimento, como analisado acima. Há, ainda, as linguagens mistas, como a das histórias em quadrinhos, o cinema, a televisão, que utilizam a palavra e a imagem. Numa situação de comunicação, se empregamos palavras, gestos, movimentos, estamos empregando um código. Código é um conjunto de sinais convencionados socialmente para a transmissão da mensagem. Não só as palavras, gestos, são códigos, mas também os sinais de trânsito, os símbolos, o código morse, as buzinas de automóveis. É importante notar que só haverá comunicação utilizando um código se os interlocutores tiverem essa convenção internalizada. Determinados gestos podem representar sentidos diferentes dependendo das comunidades em que se vive. Na nossa comunidade, usamos a língua portuguesa como principal código. Língua é um tipo de código formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si. Em cada sistema linguístico, há regras de diversas naturezas, sejam lexicais, sejam sintáticas. Quando escutamos palavras como love ou sun, percebemos que estamos diante do código empregado na língua inglesa, pois se trata de palavras do vocabulário desse idioma. Porém, dominar bem uma língua não signifi ca apenas saber seu vocabulário; é preciso também ter domínio de suas leis combinatórias, de suas ordens internas, de sua sintaxe. Saber, por exemplo, que no código da língua inglesa o adjetivo vem sempre anteposto ao substantivo, enquanto que, na língua portuguesa, a anteposição do adjetivo pode, inclusive, alterar o sentido da palavra.Outro traço fundamental em jogo nesse sistema linguístico é o aspecto fonético. Quantas vezes ouvimos nas resenhas internacionais sobre jogos da seleção brasileira a pronúncia “errada” do meio-campo Falcão, hoje comentarista de futebol? Invariavelmente ouvíamos “Falcao”, sem o til. Essa nasalização, característica da língua, causa difi culdades em falantes não nativos. Da mesma maneira, nós, falantes de língua portuguesa, apresentamos grandes difi culdades para a realização de certos fonemas de outros códigos linguísticos, como a pronúncia do inglês the (com a língua entre os dentes, inclusive), ou ainda o ich alemão. Além disso, um conhecedor da língua é, presumivelmente, um conhecedor das nuances que regem essa língua. Um estrangeiro poderá ter difi culdades ao receber como resposta um “pois não”. Entrar na “lista negra” não signifi cará uma cor dessa tal lista. Quando se fala em saber usar a língua, percebe-se que a intenção do falante é o que realmente importa, ele é o sujeito dessa ação e é fundamental dominá-la, até mesmo para jogar com suas possibilidades, com suas ambiguidades, seus duplos sentidos. Em outras palavras, em uma situação de conversação, será sempre o falante o sujeito da ação de escolher os enunciados que melhor se ajustem às suas intenções. Toma-se um exemplo recolhido da fala do professor Agostinho Dias Carneiro, em uma palestra para professores de Língua Portuguesa no Colégio Pedro II: A menina, adolescente, chega a casa altas horas da noite. O pai, sisudo, esperando por ela: - A senhora sabe que horas são? - O pneu do carro do Rodrigo furou. - Que isso nunca mais se repita. Repare que a menina não respondeu ao que o pai perguntou. Ela jogou com a língua da maneira mais conveniente para ela. E o pai, ao lançar a fala fi nal, defi nitiva, sabe que, na maioria dos casos, aquilo se repete, sim. Um usuário da língua deverá entender a nuance que regeu esse diálogo, no qual não vale o que se está dizendo, mas o que está subentendido. Dessa forma, como afi rma o linguista russo Mikhail Bakhtin, a verdadeira substância da língua não está num sistema abstrato de formas linguísticas, mas no fenômeno social da interação verbal, realizado através da enunciação. Diz ele: “A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua”. PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Explique o que é linguagem verbal. 02. Explique o que é linguagem não verbal. 03. Explique o que é linguagem mista. 04. Conceitue o que é Língua. 05. Identifi que exemplos de códigos usados cotidianamente pelos falantes de Língua Portuguesa. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. (ENEM) Casados e independentes Um novo levantamento do IBGE mostra que o numero de casamentos entre pessoas na faixa dos 60 anos cresce, desde 2003, a um ritmo 60% maior que o observado na população brasileira como um todo... Fontes: IBGE e Organização Internacional do Trabalho (OIT) *Som base no último dado disponível, da 2008 Veja São Paulo, 21 abr. 2010 (adaptado) Os gráfi cos expõem dados estatísticos por meio de linguagem verbal e não verbal. No texto, o uso desse recurso PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 02 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL, SIGNO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO 85 INTERPRETAÇÃO a) exemplifi ca o aumento da expectativa de vida da população. b) explica o crescimento da confi ança na instituição do casamento. c) mostra que a população brasileira aumentou nos últimos cinco anos. d) indica que as taxas de casamento e emprego cresceram na mesma proporção. e) sintetiza o crescente número de casamentos e de ocupação no mercado de trabalho. 02. (ENEM) Disponível em: www.sasia.org.br. Acesso em: 30 maio 2016. Essa propaganda foi criada para uma campanha de conscientização sobre a violência contra a mulher. As palavras que compõem a imagem indicam que a a) violência contra a mulher está aumentando. b) agressão à mulher acontece de forma física e verbal. c) violência contra a mulher é praticada por homens. d) agressão à mulher é um fenômeno mundial. e) violência contra a mulher ocorre no ambiente doméstico. 03. (ENEM) Os signos visuais, como meios de comunicação, são classifi cados em categorias de acordo com seus signifi cados. A categoria denominada indício corresponde aos signos visuais que têm origem em formas ou situações naturais ou casuais, as quais, devido à ocorrência em circunstâncias idênticas, muitas vezes repetidas, indicam algo e adquirem signifi cado. Por exemplo, nuvens negras indicam tempestade. Com base nesse conceito, escolha a opção que representa um signo da categoria dos indícios. a) b) c) d) e) 04. (ENEM) KUCZYNSKIEGO, P. Ilustração, 2008. Disponível em: http://capu.pl. Acesso em: 3 ago. 2012. Através da linguagem não verbal, o artista gráfi co polonês Pawla Kuczynskiego aborda a triste realidade do trabalho infantil. O artista gráfi co polonês Pawla Kuczynskiego nasceu em 1976 e recebeu diversos prêmios por suas ilustrações. Nessa obra, ao abordar o trabalho infantil, Kuczynskiego usa sua arte para a) difundir a origem de marcantes diferenças sociais. b) estabelecer uma postura proativa da sociedade. c) provocar a reflexão sobre essa realidade. d) propor alternativas para solucionar esse problema. e) retratar como a questão é enfrentada em vários países do mundo. 05. (ENEM) Cartum de Caulos, disponível em www.caulos.com A linguagem não verbal pode produzir efeitos interessantes, dispensando assim o uso da palavra. O cartum faz uma crítica social. A fi gura destacada está em oposição às outras e representa a a) opressão das minorias sociais. b) carência de recursos tecnológicos. c) falta de liberdade de expressão. d) defesa da qualifi cação profi ssional. e) reação ao controle do pensamento coletivo. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR86 INTERPRETAÇÃO 02 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL, SIGNO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO 06. (PRODEMGE - Analista de Tecnologia da Informação) IVO viu a Uva – htttp://www.ivoviuauva.com.br Na sequência de 1 a 4 dos quadrinhos, podem ser identifi cadas as seguintes características de linguagem: I. No primeiro quadrinho, há apenas a linguagem verbal oral. II. No segundo quadrinho, pode-se perceber apenas a linguagem não-verbal. III. No terceiro quadrinho, o chargista apresenta uma mistura entre o verbal escrito e o não-verbal. IV. No quarto quadrinho, há uma informação verbal escrita. Marque a alternativa CORRETA: a) apenas as proposições III e IV são verdadeiras. b) apenas as proposições I e II são verdadeiras. c) apenas as proposições I e III são verdadeiras. d) as proposições I,II,III e IV são verdadeiras. 07. (IBGP/CISSUL – MG - Condutor Socorrista ) Fonte: http://1.bp.blogspot.com/+IVXd9Wp3Ve4/TJokbm7qKQI/AAAAAAAAEnk/ H4QU5R4PRCY/s1600/0+a+Transito+11.jpg Acesso em: 18/09/2016. Sobre o tipo de linguagem utilizada no cartum, assinale a alternativa INCORRETA. a) Possui linguagem não-verbal. b) Possui linguagem mista. c) Possui linguagem verbal. d) Possui linguagem informal. 08. (IF-TO – Auditor) Disponível em: https://patologiapolitica.wordpress.com/2011/07/08/charge-saber- viver/. Acesso em: 15 ago. 2016. Considerando a relação entre a linguagem verbal e a linguagem não verbal para a compreensão da charge, não é adequado afi rmar que: a) O texto está criticando o assaltante e está dando apoio ao deputado por estar sendo assaltado. b) O texto critica os escândalos de corrupção, desvio de dinheiro, no âmbito da administração pública. c) O texto critica a postura desonesta de certos políticos que lesam a população ao fazerem mau uso do dinheiro público. d) O texto aponta para o fato de que certos políticos lesam a população ao usarem em suas vidas particulares dinheiro público indevido. e) O texto compara o ato (de assaltar) de um assaltante qualquer ao ato de alguns políticos também lesarem a população. 09. (CRC-MG – Motorista) Considerando que as pessoas não se comunicam apenas pela voz ou pela escrita, quanto à linguagem corporal, assinale a alternativa correta. a) Palavras. b) Voz.c) Gestos. d) Linguagem verbal. e) Audição. 10. (IF-GO – Assistente em Administração) Disponível em: <htttp://aprendaescrever.blogspot.com.br/2016/-3/charge-sobre- influencia-da -midia.html>. Acesso em: 21 ado. 2017. No texto, o humor é instaurado pela a) linguagem não verbal, que é a única responsável pela produção de sentidos no texto. b) linguagem verbal e não verbal, que, juntas, se responsabilizam pelo sentido do texto. c) linguagem verbal, que detalhada e de modo exclusivo, resume os sentidos produzidos pelo texto. d) linguagem não verbal que se sobrepõe à verbal, dispensando a primeira na produção de sentidos. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 02 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL, SIGNO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO 87 INTERPRETAÇÃO 11. Mineiro de Araguari, o cartunista Caulos já publicou seus trabalhos em diversos jornais, entre eles o Jornal do Brasil e o The New York Times. No cartum apresentado, o signifi cado da palavra escrita é reforçado pelos elementos visuais, próprios da linguagem não verbal. A separação das letras da palavra em balões distintos contribui para expressar principalmente a seguinte ideia: a) difi culdade de conexão entre as pessoas b) aceleração da vida na contemporaneidade c) desconhecimento das possibilidades de diálogo d) desencontro de pensamentos sobre um assunto 12. Os versos de Carlos Drummond de Andrade que mais adequadamente traduzem a principal mensagem da fi gura acima são: a) Stop. A vida parou ou foi o automóvel? b) As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. c) Um silvo breve. Atenção, siga. Dois silvos breves: Pare. Um silvo breve à noite: Acenda a lanterna. Um silvo longo: Diminua a marcha. Um silvo longo e breve: Motoristas a postos. (A este sinal todos os motoristas tomam lugar nos seus veículos para movimentá-los imediatamente.) d) proibido passear sentimentos ternos ou desesperados nesse museu do pardo indiferente e) Sim, meu coração é muito pequeno. Só agora vejo que nele não cabem os homens. Os homens estão cá fora, estão na rua. 13. Para responder à questão, considere a tela Guernica, de Pablo Picasso (fi gura 1), pintada em protesto ao bombardeio a cidade espanhola de mesmo nome, e a imagem criada pelo cartunista argentino, Quino (fi gura 2). Na cena criada por Quino, está presente a intertextualidade, pois a) o humor surge em consequência da falta de dedicação e de empenho da faxineira no momento de realizar as tarefas da casa. b) a dona da casa é uma pessoa que aprecia pintura e possui várias obras de artistas cubistas em sua residência. c) as alterações realizadas pela faxineira na pintura de Picasso mantiveram a ideia original proposta pelo pintor para Guernica. d) o cartunista reproduz a famosa pintura de Picasso, inserindo-a em um novo contexto que é a sala em desordem de uma residência. e) a faxineira irrita-se com a sujeira deixada pelos adolescentes da casa os quais frequentemente realizam festas para os amigos. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR88 INTERPRETAÇÃO 02 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL, SIGNO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO 14. Sobre a charge, assinale a alternativa CORRETA. a) A mensagem de paz do texto que introduz a charge apresenta- se substancialmente oposta à imagem violenta retratada. b) O confronto entre os personagens apresenta uma mensagem coerente com a mensagem inicial da charge: de amor e paz. c) Lutar é algo inerente ao ser humano; por isso pode-se afi rmar que não há qualquer contradição entre a mensagem verbal e a não verbal. d) As frases da torcida indicam que esses espectadores não gostam de violência. e) No contexto da charge, a luta pode ser entendida como uma forma de violência pacífi ca. 15. O cartaz a seguir foi usado em uma campanha pública para doação de sangue. Glossário Rolezinho: diminutivo de rolê ou rolé; em linguagem informal, signifi ca “pequeno passeio”. Recentemente, tem designado encontros simultâneos de centenas de pessoas em locais como praças, parques públicos e shopping centers, organizados via internet. Anonymous riot: rebelião anônima. Considerando como os sentidos são produzidos no cartaz e o seu caráter persuasivo, pode-se afi rmar que: a) As fi guras humanas estilizadas, semelhantes umas às outras, remetem ao grupo homogêneo das pessoas que podem ajudar e ser ajudadas. b) A expressão “rolezinho” remete à meta de se reunir muitas pessoas, em um só dia, para doar sangue. c) O termo “até” indica o limite mínimo de pessoas a serem benefi ciadas a partir da ação de um só indivíduo. d) O destaque visual dado à expressão “ROLEZINHO NO HEMORIO” tem a função de enfatizar a participação individual na campanha. 16. (CMRJ 2018) Você já ouviu falar em “pinturas rupestres”? São as mais antigas formas de arte produzidas pelo ser humano – algumas datam de 40.000 anos antes de Cristo! – e se encontram nas paredes das cavernas que serviam de moradia. Essas pinturas mostram situações do dia a dia das pessoas daquela época, como a que inspirou o próximo texto. A charge retrata uma cena ou situação com intenção crítica, usando o desenho como linguagem. Nessa charge, a mensagem tem sentido crítico, uma vez que a) compara os homens de hoje com os da pré-história. b) ironiza a forma como as pessoas viviam nas cavernas. c) chama a atenção para com o desrespeito com a natureza. d) questiona a autoria dos desenhos mais antigos do homem. e) remete à Idade da Pedra o princípio do respeito aos animais. 17. (IFSC 2018) Em relação ao gênero textual história em quadrinhos, analise as afi rmações a seguir. I. É obrigatório o uso de texto verbal em todos os quadrinhos da história. II. As histórias em quadrinhos servem exclusivamente para a contação de piadas. III. A mescla entre informações verbais e visuais é uma característica fundamental na constituição das histórias. IV. Por ser voltada ao público jovem, é imprescindível a presença de personagens adolescentes. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 02 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL, SIGNO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO 89 INTERPRETAÇÃO Assinale a alternativa CORRETA. a) Somente III é verdadeira. b) Somente I e IV são verdadeiras. c) Somente III e V são verdadeiras. d) Somente IV é verdadeira. e) Somente I e II são verdadeiras. 18. (CMRJ 2018) Qual é a crítica presente na charge e como o elemento verbal é inserido? a) Existe uma crítica quanto ao esfriamento das relações familiares e o elemento verbal explicita isso através de eufemismo. b) Existe uma crítica quanto à supervalorização da interação interpessoal através de novas mídias de tecnologia e o elemento verbal explicita isso através de ironia. c) Existe uma crítica quanto à supervalorização da interação interpessoal através de novas mídias de tecnologia e o elemento verbal explicita isso através de eufemismo. d) Existe uma crítica quanto ao impacto social causado pelas novas tecnologias de comunicação e informação nas relações entre os casais e o elemento verbal explicita isso através de metonímia. e) Existe uma crítica quanto ao esfriamento das relações familiares e o elemento verbal explicita isso através de ironia. 19. (IFAL 2017) Pela ordem de aparecimento dos textos acima e, considerando o diálogo neles contido entre linguagem verbal e linguagem não verbal, temos, respectivamente, as seguintes ideias: a) desemprego atinge níveis muito altos no país / as relações trabalhistas são injustas b) o jornalismo também é atingido pelo desemprego / é necessário investir em mão de obra qualificada c) o jornalismo é uma área profissional instável / o trabalhador é considerado um super-herói d) as informações são velozes / há trabalhadores lentos e) é preciso frieza no jornalismo / é necessário modernizar o trabalho 20. (IFPE 2017) Leia a tirinha abaixo para responder à questão. Sobre a linguagem dos personagensda tirinha, retirada da página do Facebook “Bode Gaiato”, avalie as assertivas abaixo. I. O texto verbal, embora escrito, revela aproximação com a oralidade. A grafia da palavra “nãm” evidencia esse aspecto. II. Os falantes se utilizam de uma linguagem com fortes marcas regionais, como, por exemplo, a escolha da palavra “mainha”. III. O diálogo entre mãe e filho revela o registro formal da linguagem, como podemos perceber pela utilização das expressões “venha cá pra eu...” e “que nem...”. IV. O vocábulo “boizin”, formado a partir da palavra inglesa “boy”, é uma marca linguística típica de grupos sociais de jovens e adolescentes. V. Visto que todas as línguas naturais são heterogêneas, podemos afirmar que a fala de Júnio e sua mãe revelam preconceito linguístico. Estão CORRETAS apenas as afirmações contidas nas assertivas a) I, II e IV. b) I, III e V. c) II, IV e V. d) II, III e IV. e) III, IV e V. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR90 INTERPRETAÇÃO 02 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL, SIGNO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UFU 2015) O anúncio publicitário, produzido por uma revista para divulgar seus blogs, dialoga com outro texto. Considerando essa informação, a) indique que texto é esse e explique o processo de intertextualidade que se estabelece entre ele e o anúncio publicitário. b) explique de que maneira a linguagem não verbal do anúncio publicitário contribui com o diálogo estabelecido entre os dois textos. 02. (UERJ 2017) Um estudo sobre contestações do povo dirigidas ao governo na primeira década do século XX, registradas em uma coluna de jornal, revela a atitude do cidadão em momentos não críticos, em seu cotidiano de habitante da cidade do Rio de Janeiro. A conclusão do estudo é que quase só pessoas de algum modo relacionadas com a burocracia do Estado se queixavam, quer os próprios funcionários e operários, quer as vítimas dos funcionários, especialmente da polícia e dos fiscais. Reclamavam funcionários, artesãos, pequenos comerciantes, uma ou outra prostituta. Mas as queixas não revelavam oposição ao Estado. O conteúdo das reclamações girava em torno de problemas elementares, como segurança individual, limpeza pública, transporte, arruamento. Permanece, no entanto, o fato de que entre as reivindicações não se colocava a de participação nas decisões, a de ser ouvido ou representado. O Estado aparece como algo a que se recorre, como algo necessário e útil, mas que permanece fora do controle, externo ao cidadão. Ele não é visto como produto de concerto político, pelo menos não de um concerto em que se inclua a população. É uma visão antes de súdito que de cidadão, de quem se coloca como objeto da ação do Estado e não de quem se julga no direito de a influenciar. Como explicar esse comportamento político da população do Rio de Janeiro? De um lado, a indiferença pela participação, a ausência de visão do governo como responsabilidade coletiva, de visão da política como esfera pública de ação, como campo em que os cidadãos se podem reconhecer como coletividade, sem excluir a aceitação do papel do Estado e certa noção dos limites deste papel e de alguns direitos do cidadão. De outro, 1o contraste de um comportamento participativo em outras esferas de ação, como a religião, a assistência mútua e as grandes festas em que a população parecia reconhecer-se como comunidade. Seria a cidade a responsável pelo fenômeno? Neste caso, como caracterizá-la, como distingui-la de outras? Entramos aqui na vasta e rica literatura sobre o fenômeno urbano, em particular sobre a cultura urbana. JOSÉ MURILO DE CARVALHO Adaptado de Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. No último parágrafo, o autor emprega dois recursos que explicitam sua interlocução com os leitores. Identifique-os. 03. (Fuvest 2015) Examine a seguinte matéria jornalística: Sem-teto usa topo de pontos de ônibus em SP como cama Às 9h desta segunda (17), ninguém dormia no ponto de ônibus da rua Augusta com a Caio Prado. Ninguém a não ser João Paulo Silva, 42, que chegava à oitava hora de sono em cima da parada de coletivos. “Eu sempre durmo em cima desses pontos novos. É gostoso. O teto tem um vidro e uma tela embaixo, então não dá medo de que quebre. É só colocar um cobertor embaixo, pra ficar menos duro, e ninguém te incomoda”, disse Silva depois de acordar e descer da estrutura. No dia, entretanto, ele estava sem a coberta, “por causa do calor de matar”. Por não ter trabalho em local fixo (“Cato lata, ajudo numa empresa de carreto. Faço o que dá”), ele varia o local de pouso. “Às vezes é aqui no centro, já dormi em Pinheiros e até em Santana. Mas é sempre nos pontos, porque eu não vou dormir na rua”. www1.folha.uol.com.br, 19/03/2014. Adaptado. Qual é o efeito de sentido produzido pela associação dos elementos visuais e verbais presentes na imagem acima? Explique. 04. (UNICAMP 2014) PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 02 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL, SIGNO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO 91 INTERPRETAÇÃO Os infográficos apresentam informações de forma sintética, utilizando imagens, cores, organização gráfica, etc. Indique dois exemplos, do infográfico reproduzido acima, em que a informação é apresentada por meio de linguagem não verbal. 05. (UNICAMP 2013) Os textos abaixo integram uma matéria de divulgação científica sobre o tamanho de criaturas marinhas, ilustrada com fotos dos animais mencionados. TEXTO 1 Eles nascem com milímetros e alcançam metros de comprimento, nadam das praias rasas às águas abissais. Em fotos únicas, produzidas em tanques especiais, conheça as medidas dos animais do fundo do mar. TEXTO 2 ESCALA MILIMÉTRICA Enquanto este cavalo-marinho pode chegar a 30 cm, os filhotes medem poucos milímetros ao nascer. Eles surgem depois que a fêmea deposita óvulos em uma bolsa na barriga do macho, que é responsável pela fertilização. Pode-se afirmar que a compreensão do texto 2 depende da imagem que o acompanha. Destaque do texto a expressão responsável por essa dependência e explique por que seu funcionamento causa esse efeito. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. E 02. B 03. B 04. C 05. E 06. A 07. D 08. A 09. C 10. B 11. A 12. D 13. D 14. A 15. B 16. E 17. A 18. E 19. A 20. A EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. a) O anúncio publicitário dialoga com a colocação de Lavoisier: “Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. b) A linguagem não verbal aponta para duas teclas do computador unidas, representando um atalho para o recurso de copiar dados. Ambas, unidas, são alvo de crítica, representada pelo pejorativo arremesso de objetos. 02. Recursos: uso de frases interrogativas; uso da primeira pessoa no plural. 03. Estamos diante de uma contradição e, por conseguinte, de uma ironia. Diante desta imagem, nossos olhos sentem um estranhamento imediato fruto do contraste produzido pela palavra escrita em letras garrafais e tomando boa parte do anúncio: CONFORTO. Em cima, com custo, percebemos a existência de um homem deitado. Abaixo do homem um anúncio imenso. O efeito de sentido é produzido pelo contraste gerador da ironia presente entre a palavra CONFORTO e um homem dormindo ao relento, em um lugar que não foi feito para isso. A posição toda torta do homem enquanto dorme colide com a segurança e a beleza escritas também no anúncio, outro contraste que levará à ironia. Refletido pelo vidro, no canto à esquerda, há um outro homem, que também parece maltrapilho, e que parece estar se penteando e utilizando o vidro do ponto de ônibus para sua toalete, o que também remete à beleza expressa na mensagem escrita do anúncio. Uma ironia produzida pela própria realidade. 04. O infográfico apresenta um homem estilizado para mostrar que o consumo é por pessoa, nas laterais do boneco há uma escala para representar a quantidade de água gasta. As bandeiras representam a nacionalidadeou a localização geográfica. A água é representada pela linha ondulada. Há ainda o balão para representar a fala. 05. Os pronomes demonstrativos demonstram a posição de um elemento qualquer em relação à pessoa do discurso, situando-o no espaço, no tempo ou no próprio discurso. Assim, a compreensão do texto II depende da visualização da imagem que acompanha o texto verbal, dependência estabelecida pelo pronome demonstrativo “este”, elemento catafórico, que antecede o que vai ser revelado posteriormente. ANOTAÇÕES PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR92 INTERPRETAÇÃO 02 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL, SIGNO, SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO ANOTAÇÕES INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 93PROENEM.COM.BR SEMÂNTICA I: POLISSEMIA, AMBIGUIDADE, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO03 Veja esta tira, de Luis Fernando Verissimo: (VERISSIMO, Luis Fernando. As Cobras. Porto Alegre: L&PM, 1997) Nesta tira, Verissimo utiliza o conceito da palavra “semântica” para criar humor. As palavras possuem certos sentidos que podem variar, dependendo do contexto em que são empregadas. Comumente, a Semântica é definida como o estudo do significado. No entanto, como se sabe, esse vocábulo abarca várias acepções. Ogden e Richards (1972), em “O significado de significado”, apontam para a ideia de que “o significado de qualquer frase é aquilo que o elocutor pretende que seja entendido, através dela, pelo ouvinte.” Tal definição deixa implícito um conceito acerca do processo linguístico: o sentido do texto está intrinsecamente ligado ao uso da língua em uma situação de comunicação. De fato, se a língua é um sistema que está em constante processo de construção, sendo constituída por diversas vozes, nas variadas práticas discursivas, é legítimo pensar que o mundo e o homem, que compõem esse processo de referências da língua, também se constroem e se mantêm em processo a cada enunciação. Sendo assim, analisar a língua sob o viés do discurso é trazer para a discussão linguística a interação do homem e seu mundo, atores que são, afinal, desse processo linguístico. Assim, aspectos semânticos envolvidos na construção do sentido como a polissemia, a denontação, a conotação, a homonímia, a sinonímia, a antonímia, a paronímia, e ainda os campos semânticos devem ser analisados sob o olhar discursivo, não podendo ser analisados sem se levar em conta, entre outros fatores, as condições de produção do texto que abarca tais aspectos. A POLISSEMIA Polissemia, como mostram os próprios componentes da palavra (poli + sema + ia), é a capacidade que o vocábulo apresenta de comportar várias significações. Uma das funções da polissemia na construção linguística é economizar as entradas lexicais numa língua, evitando a exacerbação de termos dentro de um sistema linguístico e valorizando, de certa forma, a captação de sentido através do contexto em que determinado signo está inserido. A linguagem publicitária emprega com certa regularidade a polissemia como recurso linguístico, interagindo com o contexto em que o produto está inserido. Neste anúncio, retirado do site do Clube de Criação de São Paulo, o termo “pulso”, como toda lógica discursiva, aponta para uma sequência que caminha em direção a um enfoque biológico: (In www.ccsp.com.br) Pelo direcionamento argumentativo da frase, tem-se a palavra “pulso” entendida como batimento, frequência respiratória. No entanto, quando se percebe que o texto é um anúncio do relógio Rolex, há uma ressignificação do termo “pulso”, que é, de fato, o local apropriado para o uso do relógio. O anúncio, de forma criativa, legitima duas leituras: a biológica e aquela em que o termo “pulso” amplia sua carga de sentido, ganhando expressividade dentro da especificidade do anúncio. CONOTAÇÃO / DENOTAÇÃO A denotação compreende a união do significante e do significado da palavra. A conotação possui outros significados acrescidos à palavra no plano de sua expressão. Pode-se dizer que, na forma denotativa, “dicionarizada”, há a significação objetiva, literal, referencial da palavra. Em contrapartida, a forma conotativa da palavra expressa o sentido subjetivo, figurado, emotivo da palavra. Os textos informativos possuem, predominantemente, a linguagem denotativa, enquanto as propagandas, músicas e poemas caracterizam-se, principalmente, pela linguagem conotativa. http://www.eitapiula.com.br/ A palavra “burro” é explorada em um significado diverso do uso comum: o dicionário é muito bom ou é bom para pessoas ignorantes. Vale lembrar que há um trocadilho intencional com a expressão “pai dos burros”, como se referem aos dicionários. • DENOTAÇÃO – significação específica – sentido comum, dicionarizado utilização do modo automatizado linguagem de uso comum, concreto R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR94 INTERPRETAÇÃO 03 SEMÂNTICA I: POLISSEMIA, AMBIGUIDADE, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO • CONOTAÇÃO – significação ampla – sentidos que ultrapassam o sentido comum, utilização do modo criativo – linguagem de uso expressivo, abstrato A AMBIGUIDADE E SUA EXPRESSIVIDADE As pesquisas sobre linguagem têm considerado a ambiguidade um fenômeno até certo ponto bem delineado: é um fenômeno ligado a traços discursivos do enunciado, ocorrendo sempre que uma mesma frase apresenta vários sentidos, sendo, então, suscetível a diferentes interpretações. As causas da ambiguidade podem ser de ordem fonética, gramatical ou lexical. A ambiguidade de ordem fonética acontece quando uma unidade sonora é pronunciada sem interrupção, tornando palavras diferentes potencialmente ambíguas. Em português, é o caso de “agosto” – oitavo mês do ano – e “a gosto” – locução adverbial. A ambiguidade gramatical pode ser originada de forma bipartida: em um primeiro caso, a ambiguidade se dá pelas formas gramaticais, em especial no emprego de prefixos e sufixos que possuem mais de um sentido, como o prefixo in-, que assume o sentido de negação em “inapropriado” e “incapaz”, por exemplo, e o sentido de introdução, de movimento para dentro, como em “influir”, “ingerir”. Em outro caso, a ambiguidade se dá pela combinação de palavras numa frase equívoca. Servem como exemplo frases como (1) e (2): (1) O pai trouxe este mapa da França para a filha. (2) Vi uma foto sua no metrô. A construção (1) torna-se ambígua na medida em que se podem observar duas leituras da frase: o mapa caracteriza o território francês ou o mapa foi trazido de lá. Sintaticamente, não está clara a relação estabelecida pelo termo “da França”, se se liga ao substantivo “mapa” ou à forma verbal “trouxe”. Para a construção (2), poderia haver até mais de duas leituras: 2.1 Eu estava no metrô quando vi uma foto em que você estava. 2.2 Eu estava no metrô quando vi a foto que você tirou. 2.3 Eu vi uma foto em que você estava no metrô. Este caso, gerado pela combinação equivocada das palavras na estrutura frasal, recebe o nome de ambiguidade sintática. A ambiguidade de ordem lexical, considerada a mais importante dentre os fatores de ambiguidade presentes na língua, assume duas formas diferentes – a polissemia e a homonímia: (3) Aquela carteira estava velha. A palavra “carteira” pode assumir duas leituras: a de um objeto utilizado para guardar documentos e um objeto utilizado para sentar-se, como uma carteira escolar. Há outro tipo de ambiguidade a que alguns autores chamam de ambiguidade discursiva. O duplo sentido, aqui, não reside na estrutura léxica, nem na construção frasal, mas no sentido implícito do enunciado: (4) Tenho 35 anos. Tal enunciado, solto, não permite saber se o sujeito falante se considera velho ou jovem. Fosse o sujeito um esportista, por exemplo, poderíamos considerá-lo velho, pelas exigências da prática de determinado esporte; fosse um professor, entenderíamos como a voz de um jovem com um futuro profissional pela frente. Apesar de, no ideário linguístico, o discurso ambíguo ser tomado com um fator negativo, a produtividade da ambiguidade,quando intencional, é um importante recurso textual, valendo-se da condição interpretativa do receptor. Um bom exemplo pode ser verificado nesta propaganda eleitoral “disfarçada” do ex-deputado Eduardo Paes, que foi matéria de O Globo, em dezembro de 2001: Foto tirada de um cartaz na cidade do Rio. Verifica-se que a proximidade fônica do nome do deputado e da mensagem gera uma ambiguidade intencional, reiterada, inclusive, pela marca da assinatura, que é a mesma em “Paes” e “paz”. Como a propaganda política, fora do período eleitoral, é considerada ilegal, os autores do cartaz souberam explorar as datas festivas do final de ano para mandar o “lembrete” aos eleitores: no discurso subentendido, “nas eleições de 2002, Paes.” Dessa forma, o duplo sentido é visto como fonte importante de expressividade no contexto linguístico e recurso muito utilizado na linguagem referencial, seja em propagandas, em letras de músicas ou em charges. Esse recurso que a língua oferece dá aos autores a possibilidade da exploração semântica de aspectos verbais e não verbais, atraindo a atenção do leitor–ouvinte. PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Defina o conceito da palavra Semântica. 02. Conceitue conotação. 03. Conceitue denotação. 04. Conceitue denotação. 05. Defina polissemia e apresente um exemplo desse uso. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 03 SEMÂNTICA I: POLISSEMIA, AMBIGUIDADE, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO 95 INTERPRETAÇÃO PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. Conflitos de interação ajudam a promover o efeito de humor. No cartum, o recurso empregado para promover esse efeito é a a) intertextualidade, sugerida pelos traços identifi cadores do homem urbano e do homem rural. b) ambiguidade, produzida pela interpretação da fala do locutor a partir da variedade do interlocutor. c) conotação, atribuidora de sentidos fi gurados a palavras relativas às ações e aos seres. d) negação enfática, elaborada para reforçar o lamento do interlocutor pela perda da estrada. e) pergunta retórica, usada pelo motorista para estabelecer interação com o homem do campo. 02. (ENEM) No ano passado, o governo promoveu uma campanha a fi m de reduzir os índices de violência. Noticiando o fato, um jornal publicou a seguinte manchete: CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA FASE A manchete tem um duplo sentido, e isso difi culta o entendimento. Considerando o objetivo da notícia, esse problema poderia ter sido evitado com a seguinte redação: a) Campanha contra o governo do Estado e a violência entram em nova fase. b) A violência do governo do Estado entra em nova fase de Campanha. c) Campanha contra o governo do Estado entra em nova fase de violência. d) A violência da campanha do governo do Estado entra em nova fase. e) Campanha do governo do Estado contra a violência entra em nova fase. 03. (UERJ) Ideologia Meu partido É um coração partido E as ilusões estão todas perdidas Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Eu nem acredito Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Frequenta agora as festas do “Grand Monde” Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver O meu prazer Agora é risco de vida Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll Eu vou pagar a conta do analista Pra nunca mais ter que saber quem eu sou Pois aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Agora assiste a tudo em cima do muro Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver (Cazuza e Frejat – 1988 In: www.cazuza.com.br) Nos dois primeiros versos, a palavra “partido” é empregada com significados diferentes. Esta repetição produz, no texto, o seguinte sentido: a) revela o nível de alienação do sujeito poético. b) reafi rma a influência coletiva na esfera pessoal. c) acrescenta elementos pessoais a um tema social. d) projeta um sentimento de desencanto sobre a política 04. (UERJ) O sentido da charge se constrói a partir da ambiguidade de determinado termo. O termo em questão é: a) fora; b) agora; c) sistema; d) protestar. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR96 INTERPRETAÇÃO 03 SEMÂNTICA I: POLISSEMIA, AMBIGUIDADE, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO 05. (FUVEST) (www.istoÉ.com.br) Considerando-se o contexto deste anúncio, o tipo de efeito de sentido que ocorre na expressão “deixa no ar” também se verifi ca em: a) Reflorestar as margens dos rios Pinheiros e Tietê. b) Melhorar a qualidade do ar. c) Consciência ecológica dos adultos e das futuras gerações. d) Em cada canto da cidade. e) Concreto aqui, só os resultados. 06. (FUVEST) Um dos traços marcantes do atual período histórico é (...) o papel verdadeiramente despótico da informação. (...) As novas condições técnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta, dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca. Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado de atores em função de seus objetivos particulares. Essas técnicas da informação (por enquanto) são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais periférica, seja porque não dispõe totalmente dos novos meios de produção, seja porque lhe escapa a possibilidade de controle. O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. (SANTOS, Milton. Por uma outra globalização.) Observe os sinônimos indicados entre parênteses: I. “o papel verdadeiramente DESPÓTICO (tirânico) da informação”; II. “dos homens em sua realidade INTRÍNSECA (inerente)”; III. “são APROPRIADAS (adequadas) por alguns Estados”. Considerando-se o texto, a equivalência sinonímica está correta APENAS em: a) I b) II c) III d) I e II e) I e III 07. (FUVEST) A característica da relação do adulto com o velho é a falta de reciprocidade que se pode traduzir numa tolerância sem o calor da sinceridade. Não se discute com o velho, não se confrontam opiniões com as dele, negando-lhe a oportunidade de desenvolver o que só se permite aos amigos: a alteridade, a contradição, o afrontamento e mesmo o conflito. Quantas relações humanas são pobres e banais porque deixamos que o outro se expresse de modo repetitivo e porque nos desviamos das áreas de atrito, dos pontos vitais, de tudo o que em nosso confronto pudesse causar o crescimento e a dor! Se a tolerância com os velhos é entendida assim, como uma abdicação do diálogo, melhor seria dar-lhe o nome de banimento ou discriminação. (BOSI, Ecléa, Memória e sociedade - Lembranças de velhos) Na avaliação da autora, o que habitualmente caracteriza a relação do adulto com o velho é: a) o desinteresse do adulto pelo confronto de ideias, expressando uma tolerância que atua como discriminação do velho; b) uma sucessão de conflitos, motivada pela baixa tolerância e pela insinceridade recíprocas; c) a inconsequência dos diálogos, já que a um e a outro interessa apenas a reiteração de seus pontos de vista; d) o equívoco do adulto, que trata o velho sem considerar as diferenças entre a condição deste e a de um amigo mais próximo; e) a insinceridade das opiniões do adulto, nas quais se manifestam sua divergência e sua impaciência. 08. (ENEM) O cartaz aborda a questão do aquecimento global. A relação entre os recursos verbais e não verbais nessa propaganda revela que: a) o discurso ambientalista propõe formas radicais de resolver os problemas climáticos; b) a preservação da vida na Terra depende de ações de dessalinização da água marinha; c) a acomodação da topografi a terrestre desencadeia o natural degelo das calotas polares; d) o descongelamentodas calotas polares diminui a quantidade de água doce potável do mundo; e) a agressão ao planeta é dependente da posição assumida pelo homem frente aos problemas ambientais. 09. (ENEM) O termo (ou expressão) destacado que está empregado em seu sentido próprio, denotativo ocorre em a) (....) É de laço e de nó De gibeira o jiló Dessa vida, cumprida a sol (....) (TEIXEIRA, Renato. Romaria. Kuarup Discos. setembro de 1992.) b) Protegendo os inocentes é que Deus, sábio demais, põe cenários diferentes nas impressões digitais. (CARVALHO, Maria N. S. Evangelho da Trova. /s.n.b.) R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 03 SEMÂNTICA I: POLISSEMIA, AMBIGUIDADE, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO 97 INTERPRETAÇÃO c) O dicionário-padrão da língua e os dicionários unilíngues são os tipos mais comuns de dicionários. Em nossos dias, eles se tornaram um objeto de consumo obrigatório para as nações civilizadas e desenvolvidas. (BIDERMAN. Maria T. Camargo. O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.) d) (O Globo. O menino maluquinho. agosto de 2002.) e) Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico é o que é verdadeiramente trágico para se fazer. (Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.acessado em julho de 2005.) 10. (ENEM) Revista Bolsa, 1986. In: CARRASCOZA, J. A. A evolução do texto publicitário: a associação de palavras como elemento de sedução na publicidade. São Paulo: Futura, 1999 (adaptado). Nesse cartaz publicitário de uma empresa de papel e celulose, a combinação dos elementos verbais e não verbais visa a) justifi car os prejuízos ao meio ambiente, ao vincular a empresa à difusão da cultura. b) incentivar a leitura de obras literárias, ao referir-se a títulos consagrados do acervo mundial. c) seduzir o consumidor, ao relacionar o anunciante às histórias clássicas da literatura universal. d) promover uma reflexão sobre a preservação ambiental ao aliar o desmatamento aos clássicos da literatura. e) construir uma imagem positiva do anunciante, ao associar a exploração alegadamente sustentável à produção de livros. 11. TEXTO 1 Criatividade em publicidade: teorias e reflexões Resumo: O presente artigo aborda uma questão primordial na publicidade: a criatividade. Apesar de aclamada pelos departamentos de Criação das agências, devemos ter a consciência de que nem todo anúncio é, de fato, criativo. A partir do resgate teórico, no qual os Conceitos são tratados à luz da publicidade, busca-se estabelecer a compreensão dos temas. Para elucidar tais questões, é analisada uma campanha impressa da marca XXXX. As reflexões apontam que a publicidade criativa é essencialmente simples e apresenta uma releitura do cotidiano. Depexe, S D. Travessias: Pesquisas em Educação, Cultura, Linguagem e Artes, n. 2, 2008. TEXTO 2 Os dois textos apresentados versam sobre o tema Criatividade. O Texto I é um resumo de Caráter Científi co e o Texto II, uma homenagem promovida por um site de publicidade. De que maneira O Texto II exemplifi ca o conceito de criatividade em publicidade apresentado no Texto I? a) Fazendo menção ao difícil trabalho das mães em criar seus fi lhos. b) Promovendo uma leitura simplista do papel materno em seu trabalho de criar os fi lhos. c) Explorando a polissemia do termo “criação”. d) Recorrendo a uma estrutura linguística simples. e) Utilizando recursos gráfi cos diversifi cados. 12. Lépida e leve Língua do meu Amor velosa e doce, que me convences de que sou frase, que me contornas, que me vestes quase, como se o corpo meu de ti vindo me fosse. Língua que me cativas, que me enleias os surtos de ave estranha, em linhas longas de invisíveis teias, de que és, há tanto, habilidosa aranha... R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR98 INTERPRETAÇÃO 03 SEMÂNTICA I: POLISSEMIA, AMBIGUIDADE, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO [...] Amo-te as sugestões gloriosas e funestas, amo-te como todas as mulheres te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor, pela carne de som que à ideia emprestas e pelas frases mudas que proferes nos silêncios de Amor!... MACHADO, G. In: MORICONI, I. (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. o de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento). A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções artísticas simbolistas. Entretanto, o texto selecionado incorpora referências temáticas e formais modernistas, já que, nele, a poeta a) procura desconstruir a visão metafórica do amor e abandona o cuidado formal. b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e questiona o poder da palavra. c) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a construção do verso livre. d) propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e propõe a simplificação verbal. e) explora a construção da essência feminina, a partir da polissemia de “língua“, e inova o léxico. 13. A frase que não apresenta ambiguidade é: a) O coordenador informou ao grupo que sua proposta não tinha sido aceita. b) A briga entre Pedro e Miguel foi séria, por isso lhe disse que era melhor não insistir na viagem. c) De presente de aniversário, a menina pediu muito ousada fantasia de fada. d) Ator e diretor se desentenderam, mas, posteriormente, o ator reconheceu suas próprias falhas. e) Maria assinou o projeto e o orçamento, cujo prazo de entrega estava se esgotando. 14. Tristeza de Cronista A moça viera da cidade para os lados de Botafogo. No ônibus repleto, dois rapazes de pé conversavam, e sua conversa era ouvida por todos os passageiros. (Inconveniente dos hábitos atuais). Eram dois rapazes modernos, bem vestidos, bem nutridos. (Ah! Este excesso de vitaminas e de esportes!). Um não conhecia quase nada da cidade e outro servia-lhe de cicerone. Mostrava-lhe, pois, a avenida e os seus principais edifícios, a Cinelândia, o Obelisco, o Monumento dos Pracinhas, o Museu de Arte Moderna, o Aterro, o mar... O outro interessava-se logo pelas minúcias: qual o melhor cinema? Quantos pracinhas estão ali? que se pode ver no museu? Mas os ônibus andam tão depressa e caprichosamente que as perguntas e respostas se desencontravam. (Que fôlego humano pode competir com o de um ônibus?). Quanto ao Pão de Açúcar, o moço não manifestou grande surpresa: já o conhecia de cartões-postais; apenas exprimiu o seu receio de vir o carrinho a enguiçar. Mas o outro combateu com energia tal receio, como se ele mesmo fosse o engenheiro da empresa ou, pelo menos, agente turístico. Assim chegaram a Botafogo, e a atenção de ambos voltou-se para o Corcovado, porque um dizia: “Quando você vir o Cristo mudar de posição, e ficar de lado e não de frente, como agora, deve tocar a campainha, porque é o lugar de saltar”. O companheiro prestou atenção. Mas, enquanto não saltava, o cicerone explicou ao companheiro: “Nesta rua há uma casa muito importante. É a casa de Rui Barbosa. Você já ouviu falar nele?” O outro respondeu que sim, porém sem grande convicção. Mais adiante, o outro insistiu: “É uma casa formidável. Imagine que tudo lá dentro está conforme ele deixou!” O segundo aprovou, balançando a cabeça com muita seriedade e respeito. Mas o primeiro estava empolgado pelo assunto e tornou a perguntar: “Você sabe quem foi Rui Barbosa, não sabe?” O segundo atendeu ao interesse do amigo: “Foi um sambista, não foi?” O primeiro ficou um pouco sem jeito, principalmente porque uns dois passageiros levantaram a cabeça para aquela conversa. Diminuiu um pouco a voz: ”Sambista, não”. E tentou explicar. Mas as palavras não lhe ocorriam e ficou por aqui: “Foi... foi uma pessoa muito falada”. O outro não respondeu. E foi assim que o Cristo do Corcovado mudou de posição sem eles perceberem, e saltaram fora do ponto. Ora, a moça disse-me; “Você com isso pode fazer uma crônica”. Respondi-lhe: “A crônica já está feita por si mesma. É o retrato deste mundoconfuso, destas cabeças desajustadas. Poderão elas ser consertadas? Haverá maneira de se pôr ordem nessa confusão? Há crônicas e crônicas mostrando o caos a que fomos lançados. Adianta alguma coisa escrever para os que não querem resolver?” A moça ficou triste e suspirou. (Ai, nós todos andamos tristes e suspirando!). Meireles, Cecília. Escolha o seu sonho.São Paulo: Círculo do livro, s/d. Das estruturas destacadas, a que apresenta ambiguidade é a) “A moça ficou triste e suspirou.” (§ 9º.) b) “... como se ele fosse o engenheiro da empresa ...” (§ 3º.) c) “Quando você vir o Cristo mudar de posição, e ficar de lado e não de frente, ...” (§ 4º.) d) “... o Cristo do Corcovado mudou de posição sem eles perceberem, ...” (§ 7º.) e) “Foi ... foi uma pessoa muito falada.” (§ 6º.) 15. Políticas Públicas de Segurança no Brasil Parece que uma das razões do fracasso e da inexistência de políticas nessa área reside num plano puramente cognitivo. A proposição de políticas públicas de segurança, no Brasil, consiste num movimento pendular, oscilando entre a reforma social e a dissuasão individual. A ideia da reforma decorre da crença de que o crime resulta de fatores socioeconômicos que bloqueiam o acesso a meios legítimos de se ganhar a vida. Esta deterioração das condições de vida traduz-se no acesso restrito de alguns setores da população a oportunidades no mercado de trabalho e de bens e serviços, assim como na má socialização a que são submetidos nos âmbitos familiar, escolar e na convivência com subgrupos desviantes. Consequentemente, propostas de controle da criminalidade passam inevitavelmente tanto por reformas sociais de profundidade como por reformas individuais voltadas a reeducar e ressocializar criminosos para o convívio em sociedade. A par das políticas convencionais de geração de empregos e combate à fome e à miséria, ações de cunho assistencialista visariam minimizar os efeitos mais imediatos da carência, além de incutir em jovens candidatos potenciais ao crime novos valores através da educação, da prática de esportes, do ensino profissionalizante e do aprendizado de artes e na convivência pacífica e harmoniosa com seus semelhantes. Quando isto já não é mais possível, que se reformem então aqueles indivíduos que caíram no mundo do crime através do trabalho e da reeducação nas prisões. (Cláudio C. Beato Filho) R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 03 SEMÂNTICA I: POLISSEMIA, AMBIGUIDADE, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO 99 INTERPRETAÇÃO Assinale a afirmativa em que há possibilidade de ambiguidade. a) “Parece que uma das razões do fracasso e da inexistência de políticas nessa área reside num plano puramente cognitivo". b) “A proposição de políticas públicas de segurança, no Brasil, consiste num movimento pendular, oscilando entre a reforma social e a dissuasão individual". c) “A ideia da reforma decorre da crença de que o crime resulta de fatores socioeconômicos que bloqueiam o acesso a meios legítimos de se ganhar a vida". d) “Quando isto já não é mais possível, que se reformem então aqueles indivíduos que caíram no mundo do crime através do trabalho e da reeducação nas prisões". e) “Esta deterioração das condições de vida traduz-se no acesso restrito de alguns setores da população a oportunidades no mercado de trabalho e de bens e serviços". 16. (CPS 2019) Leia o texto e a charge de Alberto Montt para responder à(s) questão(ões). Charles Baudelaire, poeta do século XIX, é autor do livro As Flores do Mal. Nele, seus poemas abordam temas que questionam as convenções morais da sociedade francesa, sendo, por isso, tachado como obsceno, como um insulto aos bons costumes da época. A partir dele, originaram-se na França os chamados “poetas malditos”. O título da charge retoma o título da obra de Baudelaire, As Flores do Mal. O autor, para construir o humor em seu texto, utiliza-se de a) metalinguagem, na representação das flores, que recitam versos compostos pelo poeta ao próprio Baudelaire. b) saudosismo, nas falas das flores, pois elas representam costumes morais inerentes à sociedade francesa do século XIX. c) metáfora, na representação do poeta como flores que apenas dizem verdades, indiferentes às regras morais da sociedade. d) polissemia do substantivo “flores”, uma vez que podem se referir às próprias flores representadas na charge ou aos desejos moralmente rejeitados pelo poeta. e) ambiguidade na locução adjetiva “do mal”, pois, no título original, a locução representa a temática dos poemas, mas, na charge, representa o conteúdo dos conselhos das flores. 17. (IFAL 2018) Os anúncios publicitários, em linhas gerais, têm como propósito estabelecer, no imaginário social, um desejo “inconsciente” pelo consumo de um produto. Em muitos casos, há uma nítida falta de preocupação entre o que está sendo divulgado e a norma culta da língua, já que esses exemplares de textos circulam em várias instâncias públicas, a exemplo deste acima, disposto no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, em set. de 2017. Assim, podemos verificar que a violação gramatical se deu no plano do(a): a) Segmentação de palavras. b) Sentido estabelecido entre as partes e o todo. c) Ambiguidade entre termos. d) Polissemia entre palavras homônimas e parônimas. e) Desrespeito ao Novo Acordo Ortográfico. 18. (MACKENZIE 2018) A arqueologia não pode ser 1desvencilhada de seu caráter aventureiro e romântico, 2cuja melhor imagem talvez seja, desde 3há alguns anos, as saborosas aventuras do arqueólogo Indiana Jones. Pois bem, quando do 4auge do sucesso de Indiana Jones, o arqueólogo brasileiro Paulo Zanettini escreveu um artigo no Jornal da Tarde, de São Paulo, intitulado “Indiana Jones deve morrer!”. Para ele, assim como para outros arqueólogos profissionais, envolvidos com um trabalho 5árduo, sério e distante das 6peripécias das telas, essa imagem aventureira é incômoda. O fato é que o arqueólogo, 7à diferença do historiador, do geógrafo ou de outros estudiosos, possui uma imagem muito mais atraente, inspiradora não só de filmes, mas também de romances e livros os mais variados. Bem, para usar uma expressão de Eça de Queiroz, 8“sob o manto 9diáfano da fantasia” escondem-se as histórias reais que fundamentaram 10tais percepções. 11A arqueologia surgiu no 12bojo do Imperialismo do século XIX, como um subproduto da expansão das potências coloniais europeias e dos Estados Unidos, que procuravam enriquecer explorando outros territórios. Alguns dos primeiros arqueólogos de fato foram aventureiros, responsáveis, e não em pequena medida, pela fama que se propagou em torno da profissão. Adaptado de Pedro Paulo Funari, Arqueologia R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR100 INTERPRETAÇÃO 03 SEMÂNTICA I: POLISSEMIA, AMBIGUIDADE, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO Assinale a alternativa correta. a) Encontra-se no texto o predomínio da conotação, uma vez que as palavras empregadas transmitem sentidos figurados com várias possibilidades de interpretação. b) O texto possui um caráter predominantemente estético, com os sentidos das palavras reinventados constantemente pelo seu autor, a aprofundar o valor literário do texto. c) A referência a um autor português reforça o caráter literário que o texto assume ao direcionar subjetivamente o teor das informações transmitidas. d) O domínio discursivo do texto apresenta um caráter instrucional, pois seu principal objetivo é transmitir um conhecimento ou um saber definido pelo seu autor. e) O texto apresenta todas as características de um texto oral, com marcas como hesitação, repetição, interação com o leitor, o que permite concluir que ele foi escrito para uma exposição oral, em uma palestra, por exemplo. 19. (CFTRJ 2016) A tira é um gênero que apresenta linguagem verbal e não verbal e, geralmente, propõe uma reflexão por meio do humor.No plano verbal, o humor da tira: a) tem como foco principal a imagem do carro para ilustrar a situação econômica do pai do personagem. b) baseia-se na polissemia do termo “crise”, ora relacionado à situação econômica, ora a uma fase da vida. c) baseia-se na linguagem não verbal, que apresenta dois amigos assustados com o tamanho do carro. d) está centrado na hipérbole, observada na fala do personagem Armandinho, quando usa a palavra “gigante”. 20. (UEG 2016) Em termos verbais, o humor da tira é construído a partir da polissemia presente na palavra a) engenheiro b) resolvido c) cadeira d) grande e) subir 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UNICAMP 2013) Leia a propaganda (adaptada) da Fundação SOS Mata Atlântica reproduzida abaixo e responda às questões propostas. a) Há no texto uma expressão de duplo sentido sobre a qual o apelo da propaganda é construído. Transcreva tal expressão e explique os dois sentidos que ela pode ter. b) Há também uma ironia no texto da propaganda, que contribui para o seu efeito reivindicativo, expressa no enunciado: “Aproveita enquanto tem água.” Explique a ironia contida no enunciado e a maneira como ele se relaciona aos elementos visuais presentes no cartaz. 02.(FUVEST 2010) Leia o seguinte texto: Um músico ambulante toca sua sanfoninha no viaduto do Chá, em São Paulo. Chega o “rapa”* e o interrompe: — Você tem licença? — Não, senhor. — Então me acompanhe. — Sim, senhor. E que música o senhor vai cantar? *rapa: carro de prefeitura municipal que conduz fiscais e policiais para apreender mercadorias de vendedores ambulantes não licenciados. Por extensão, o fiscal ou o policial do rapa. Para o efeito de humor dessa anedota, contribui, de maneira decisiva, um dos verbos do texto. De que verbo se trata? Justifique sua resposta. 03. (FUVEST 2017) Leia o seguinte texto, extraído de uma matéria jornalística sobre supercomputadores: Supercomputadores são usados para cálculos de simulação pesada. Um exemplo recorrente do uso desse tipo de equipamento é a de simulação climática: com quatrilhões por segundo de processamento, torna-se possível que um computador tenha capacidade de calcular as oscilações meteorológicas. Isso ajuda a prevenir desastres, ou a preparar políticas de apoio à agricultura, se antecipando a cenários os mais variados. Evidentemente, há outros usos, como pesquisas científicas que precisam também simular cenários, com uma ampla gama de variáveis. Estudos militares e de desenvolvimento de tecnologia também se beneficiam do poder computacional desse tipo de equipamento. www.techtudo.com.br, 24.06.2016. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 03 SEMÂNTICA I: POLISSEMIA, AMBIGUIDADE, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO 101 INTERPRETAÇÃO Reescreva o trecho “é a de simulação climática: com quatrilhões por segundo de processamento”, levando em conta a correção e a clareza. 04. (FGV 2016) Examine a seguinte mensagem publicitária de uma empresa do ramo de construção civil: a) Tanto a frase quanto a imagem que compõem essa propaganda estão divididas, visualmente, em duas partes. Explique resumidamente a relação de sentido que existe entre imagem e frase, em cada uma das duas partes. b) Identifique algum recurso expressivo, sintático ou semântico, presente na frase do anúncio. 05. (FUVEST 2015) Leia a seguinte mensagem publicitária de uma empresa da área de logística: A gente anda na linha para levar sua empresa mais longe Mudamos o jeito de transportar contêineres no Brasil e Mercosul. Através do modal ferroviário, oferecemos soluções logísticas econômicas, seguras e sustentáveis. a) Visando a obter maior expressividade, recorre-se, no título da mensagem, ao emprego de expressão com duplo sentido. Indique essa expressão e explique sucintamente. b) Segundo o anúncio, uma das vantagens do produto (transporte ferroviário) nele oferecido é o fato de esse produto ser “sustentável”. Cite um motivo que justifique tal afirmação. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. B 02. E 03. D 04. C 05. E 06. D 07. A 08. E 09. C 10. E 11. C 12. E 13. D 14. E 15. D 16. E 17. A 18. D 19. B 20. D EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. a) Trata-se da expressão “Lavar as mãos” que pode ser interpretada no seu sentido literal, limpar as mãos com água, ou no sentido conotativo, não assumir responsabilidades. b) A imagem de uma torneira que verte uma gota de água “alimentada” pelas árvores enfileiradas sobre o cano a que está ligada sugere uma relação intrínseca entre o consumo dos recursos hídricos e a devastação da Mata Atlântica. Assim, a frase “Aproveita enquanto tem água” é irônica, pois alude à possibilidade de escassez de água até para lavar as mãos, se não se tomarem iniciativas que impeçam o desmatamento. 02. A polissemia do verbo acompanhar instaura o humor da anedota, pois o ambulante que tocava sanfona depreende que a ordem “Então me acompanhe” se refere à execução de um tema musical que deveria acompanhar o canto do policial e não ao sentido mais provável: ir junto. 03. O trecho, do modo como está redigido, possui problemas de coesão, já que sua clareza fica comprometida. São possíveis diversas redações, umas delas seria: “Um exemplo recorrente do uso desse tipo de equipamento é a simulação climática, que possui a capacidade de processar quatrilhões de dados por segundo, tornando possível que um computador calcule as oscilações meteorológicas”. 04. a) O anúncio faz uso de uma fotografia e de um desenho. A fotografia representa a realidade e o desenho representa o projeto, ou seja, a fotografia e o desenho representam duas coisas distintas, apesar da correlação imagética que há entre elas: a realidade (a fotografia) e o projeto (o desenho) que também pode ser entendido como um sonho, algo que se almeja construir. O slogan da campanha está escrito em letra de mão quando em cima do desenho, representando o projeto; em letra de tipografia quando está sobre a fotografia, que representa a realidade que “saiu do papel”. A ideia do anúncio é vender os serviços de alguma grande construtora, através da dicotomia sonho e realidade. b) A palavra “papel” adquire o sentido de “trabalho” ou “função” na primeira ocorrência e, na segunda, de material que serve de suporte ao desenho. Além da polissemia do termo, o quiasmo, figura de linguagem que resulta da disposição cruzada de elementos, reforça a expressividade do anúncio. 05. a) Para maior expressividade a palavra linha traz uma ambiguidade bastante pertinente, mencionando a expressão andar na linha que quer dizer fazer tudo de maneira correta e a ideia de linha de trem, já que a empresa oferece transportes em containers via férrea. b) Hoje sustentável ganhou um significado a mais, quer dizer de toda forma de trabalho que não prejudica o meio ambiente, o que acontece com os trens, eles não poluem o ar como outros meios de transporte e também são mais baratos. ANOTAÇÕES R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR102 INTERPRETAÇÃO 03 SEMÂNTICA I: POLISSEMIA, AMBIGUIDADE, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO ANOTAÇÕES R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 103PROENEM.COM.BR SEMÂNTICA II: CAMPO SEMÂNTICO, SINONÍ- MIA, ANTONÍMIA, HIPERONÍMIA E HIPONÍMIA04 CAMPO SEMÂNTICO, HIPONÍMIA E HIPERONÍMIA Leia este enunciado: Teve que comprar um computador, um monitor e uma impressora para trabalhar em casa, pois, sem esse equipamento, não conseguiria dar conta do projeto. Perceba que as palavras computador, monitor e impressora apresentam certa familiaridade de sentido pelo fato de pertencerem ao mesmo campo semântico, ou seja, ao universo da informática. Já a palavra equipamento engloba todas as outras. No caso, dizemos que as primeiras são hipônimos e a última é um hiperônimo. Hipônimo e Hiperônimo são palavras que pertencem a um mesmo campo semântico, sendohipônimo uma palavra de sentido mais específico e hiperônimo uma palavra de sentido mais amplo. O humor da charge seguinte está intimamente ligado à concepção de campos semânticos: (TACHO. Jornal NH [RS], 08/06/04.) A charge trata da campanha decepcionante do Grêmio no Campeonato Brasileiro de 2004, tendo inclusive sido rebaixado para a segunda divisão. Essa leitura é legitimada pelas palavras que compõem o campo semântico do futebol, como “gol”, “defesa”, “ataque”, e até “Adilson”, técnico do time durante o campeonato. No entanto, o humor reside na escolha de outros vocábulos do universo da informática, como “acesso ilimitado” e “conexão muito lenta”, o que autoriza a esdrúxula solução de se pensar em um técnico de informática para treinar o time e tentar salvá-lo do vexame. As unidades lexicais se avizinham de tal forma que deixam claros os limites dos campos semânticos envolvidos no contexto da charge: o do futebol e o da informática. SINONÍMIA Veja estes enunciados: Comprei um carro zero km. Comprei um automóvel zero km. Os compêndios gramaticais assim caracterizam a sinonímia: Quando em contextos diferentes uma palavra pode ser substituída por outra, sem alteração semântica, dizemos que são sinônimas entre si. Salvo uma linguagem técnica, não se pode, a bem da verdade, afirmar que existam sinônimos perfeitos, pois a substituição de uma palavra por outra não se dará em absolutamente todos os contextos. Vejamos as palavras “matar” e “assassinar”: os verbos “matar” e “assassinar” são comumente vistos como sinônimos, mas não admitem uma substituição integral, na medida em que o primeiro apresenta traços semânticos que legitimam seu uso em contextos em que estão envolvidos seres humanos ou não, enquanto o último apresenta apenas um traço [+humano]. Pode-se matar um homem ou um inseto − metaforicamente até mesmo um sonho − , mas “assassinar” só caberia no primeiro caso. O que chama a atenção, nesses casos, é a ideia de similaridade que se quer apresentar. Veja um bom exemplo: O vocábulo “locupletar”, definido como “enriquecer”, “tornar-se rico”, tem um sentido similar a esses termos, mas não idêntico, na medida em que apresenta um tom mais cerimonioso e, para uma compreensão integral, não pode ser analisado fora de um contexto. Na charge, por exemplo, esse tom formal em que se apresenta confere ao texto uma ironia, como se aquele ato cometido por ele – o político – não fosse um ato de enriquecer ilicitamente, dada a pompa com que se apresenta o item lexical. Da mesma maneira, na sequência pronunciada pela população (“corrupto, ladrão, f.d.p., safado”) as palavras não podem ser consideradas idênticas; se tomadas isoladamente, não têm o mesmo significado de modo algum. Porém, inseridas no contexto político que a charge apresenta, desempenham uma função comunicativa bastante similar. ANTONÍMIA Numa definição muito ampla, o processo de antonímia se caracteriza por uma relação de inversão de sentido entre dois termos, como em “grande” / “pequeno” ou em “feio” / “bonito”. Edward Lopes (2003) resume a abordagem sobre a antonímia, tratando a relação de oposição entre itens lexicais como pares antônimos: “são antonímicos dois termos, a e b, se as frases que obtemos, comutando-os, possuírem, sob algum ponto de vista, sentidos opostos.” Ilari e Geraldi (1985) não compartilham dessa definição. Para eles, as definições tradicionais que tratam de sentidos “contrários” ou “opostos” implicam, antes, uma dúvida e não esgotam essencialmente a questão da antonímia. É preciso, portanto, investigar o que se entende por oposição de sentido ou sentidos contrários. Esses autores apontam o exemplo do par “nascer” / “morrer”, que não representam, realmente, ações contrárias, mas dois momentos do processo de viver: o começo e o término da vida. Da mesma maneira, aludem ainda os autores ao par “chegar” / “partir”; R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR104 INTERPRETAÇÃO 04 SEMÂNTICA II: CAMPO SEMÂNTICO, SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HIPERONÍMIA E HIPONÍMIA os versos de Fernando Brant para melodia de Milton Nascimento em “Encontros e despedidas” ilustram a oposição que capta momentos diferentes de um mesmo processo: “chegar e partir são só dois lados da mesma viagem / o trem que chega é o mesmo trem da partida”. Em “abrir” / “fechar”, o procedimento é diferente. Não são momentos de um mesmo processo, mas ações distintas pela direção e pelos resultados que acarretam. É caso de “subir” / “descer”, por exemplo. Há, ainda, segundo Ilari e Geraldi, o caso de “dar” / “receber”, que podem ser analisados como a descrição de uma mesma cena, sob pontos de vista diferentes quanto ao papel dos sujeitos gramaticais: o sujeito de “dar” é a fonte, o sujeito de “receber” é o destinatário, papéis considerados incompatíveis na cena proposta. Assim, da mesma forma que o contexto é fundamental para estabelecer as relações de sinonímia, igualmente o é para estabelecer as relações de antonímia no âmbito discursivo. O anúncio a seguir, da Casa do Hemofílico do Rio de Janeiro, traz a dimensão do processo antonímico ao nível do discurso: (In www.ccsp.com.br) O anúncio baseia-se num jogo de oposições. A principal delas se dá pela oposição “vê” / “não vê” (sangue). A denotação empregada na primeira construção, “ver sangue”, opõe-se à conotação da outra; “não ver sangue” representa, aqui, não ter sangue disponível para uma transfusão. A partir daí interagem as oposições secundárias, o interlocutor a quem se dirige a mensagem (“você”) se opõe às milhares de pessoas que precisam “ver” sangue. O traço individual se opõe ao traço coletivo. A gradação entre os verbos “desmaiar” e “morrer” também forma uma relação de oposição, ratificando o traço de banalidade da primeira atitude se confrontada com a outra. Assim, apropriando-se do caráter polissêmico do signo, seja ele verbal ou não verbal, o jogo discursivo do anúncio, representado pelos vocábulos envolvidos, estabelece uma relação de oposição entre as duas atitudes presentes no contexto. O processo de oposição pode se dar, como já visto, em linguagem não verbal. O anúncio a seguir, da joalheria Natan, serve de exemplo: o homem, careca, oferece uma joia à mulher. Ao ver a joia, o homem aparece aos olhos dela, agora, com cabelos e “pinta” de galã. http://dapleura.blogspot.com/ A campanha, que tem como conceito “o poder dos quilates”, trabalha com um jogo discursivo baseado na oposição de sentidos na maneira como a pessoa que dá o presente é vista por quem recebe. O “poder” da joia faz com que a pessoa veja com outros olhos o doador do presente. Há, assim, uma aproximação com o ditado popular “quem ama o feio bonito lhe parece”. Jocosamente, o amor aqui é materializado pela joia da Natan. O processo de construção de sentido, dessa forma, baseia-se em um contexto. Assim como há uma sinonímia textual, há também uma antonímia textual, ancorada no discurso. São os elementos presentes no anúncio – a joia e a mudança estética do homem, por exemplo – que ajudam a representar a cena composta por uma contradição dependente direta do contexto em que se insere. HOMONÍMIA Veja estes pares de palavras: cem / sem colher (verbo) / colher (substantivo) manga (fruta) / manga (camisa) Segundo os compêndios gramaticais, quando há duas palavras com a mesma escrita ou o mesmo som, temos homônimos. Os homônimos podem ser homófonos, quando o som é igual e a escrita é diferente: cem / sem; homógrafos, quando a escrita é igual e o som é diferente: colher (v) / colher (s). Quando há escrita e som iguais dizemos que são homônimos perfeitos: manga / manga. Por conta da imprecisão dos critérios em estabelecer uma diferenciação entre os conceitos de polissemia e homonímia, é preferível abarcar a ideia de que tais conceitos se relacionam, de fato – já que os fenômenos apresentam uma mesma forma com vários sentidos, dependendo do contexto em que estão inseridos.Contudo, é importante entender que a homonímia se realiza no plano diacrônico, enquanto a polissemia no plano sincrônico. Assim, como afirma Valente (2001), sincronicamente, a homonímia é uma polissemia, numa palavra com duas significações. Dessa forma, o conceito de homonímia perfeita fica restrito a investigações de cunho diacrônico, e a polissemia será investigada sob uma perspectiva sincrônica. PARONÍMIA Palavras parecidas em escrita e pronúncia recebem o nome de parônimos. Os pares “bocal” / “bucal” servem de exemplo: bocal, extremidade de lâmpada, por exemplo, nada tem a ver com bucal, relativo à boca. No entanto, pela sua proximidade gráfica e sonora, são parônimos. Essas palavras no português costumam causar dificuldades ao falante. Alguns exemplos: Eminente / Iminente Retificar / Ratificar Fragrante / Flagrante Infligir / Infringir Despercebido / Desapercebido Inflação / Infração É importante notar como esses aspectos semânticos podem ser expressivos na construção da mensagem. Veja o exemplo a seguir: Amarildo R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 04 SEMÂNTICA II: CAMPO SEMÂNTICO, SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HIPERONÍMIA E HIPONÍMIA 105 INTERPRETAÇÃO Os sujeitos da charge são o Presidente do Banco Central no governo Lula, Henrique Meirelles, e o robô, do filme estrelado por Will Smith, Eu, Robô. Meirelles estava sendo acusado de sonegar fontes de renda, e a charge, por meio de um processo de paronomásia, cria humor ao explicitar o jogo fônico da palavra “robô” com a palavra implícita “roubou”. PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Defina o conceito de hipônimo. 02. Defina o conceito de hiperônimo. 03. Justifique por que não é possível existir sinônimos perfeitos. 04. Explique como se caracteriza o processo de antonímia. 05. Determine o que significa homônimo. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. Leia o seguinte texto, que faz parte de um anúncio de um produto alimentício: EM RESPEITO A SUA NATUREZA, SÓ TRABALHAMOS COM O MELHOR DA NATUREZA Selecionamos só o que a natureza tem de melhor para levar até a sua casa. Porque faz parte da natureza dos nossos consumidores querer produtos saborosos, nutritivos e, acima de tudo, confiáveis. www.destakjornal.com.br, 13/05/2013. Adaptado. Procurando dar maior expressividade ao texto, seu autor a) serve-se do procedimento textual da sinonímia. b) recorre à reiteração de vocábulos homônimos. c) explora o caráter polissêmico das palavras. d) mescla as linguagens científica e jornalística. e) emprega vocábulos iguais na forma, mas de sentidos contrários. 02. Minha vida Minha vida não é tempo que corre do meu natal à minha morte Minha vida é o meu dia de natal Dia da minha morte In: COOPER, Jorge. Poesia Completa. Maceió: Cepal, 2010, p. 41. No poema, aparecem os vocábulos “vida” e “morte”, que, sendo antônimos, contribuem para o desfecho paradoxal expresso nos dois últimos versos. Quanto às relações semânticas dos pares de palavras abaixo, qual das alternativas apresenta um erro? a) extroversão / introversão – antonímia b) experto / esperto – homonímia c) ratificar / retificar – paronímia d) pelo (contração prepositiva) / pelo (substantivo) – homonímia e) concerto / ajuste – sinonímia 03. Expressões Idiomáticas Expressões idiomáticas ou idiomatismo são expressões que se caracterizam por não identificar seu significado através de suas palavras individuais ou no sentido literal. Não é possível traduzi-las em outra língua e se originam de gírias e culturas de cada região. Nas diversas regiões do país, há várias expressões idiomáticas que integram os chamados dialetos. Disponível em: www.brasilescola.com. Acesso em: 24 abr. 2010 (adaptado). O texto esclarece o leitor sobre as expressões idiomáticas, utilizando-se de um recurso metalinguístico que se caracteriza por a) influenciar o leitor sobre atitudes a serem tomadas em relação ao preconceito contra os falantes que utilizam expressões idiomáticas. b) externar atitudes preconceituosas em relação às classes menos favorecidas que utilizam expressões idiomáticas. c) divulgar as várias expressões idiomáticas existentes e controlar a atenção do interlocutor, ativando o canal de comunicação entre ambos. d) definir o que são expressões idiomáticas e como elas fazem parte do cotidiano do falante pertencente a grupos regionais diferentes. e) preocupar-se em elaborar esteticamente os sentidos das expressões idiomáticas existentes em regiões distintas. 04. O gosto da surpresa Betty Milan Psicanalista e escritora Nada é melhor do que se surpreender, olhar o mundo com olhos de criança. Por isso as pessoas gostam de viajar. Nem o trânsito, nem a fila no aeroporto, nem o eventual desconforto do hotel são empecilhos neste caso. Só viajar importa, ir de um para outro lugar e se entregar à cena que se descortina. Como, aliás, no teatro. O turista compra a viagem baseado nas garantias que a agência de turismo oferece, mas se transporta em busca de surpresa. Porque é dela que nós precisamos mais. Isso explica a célebre frase “navegar é preciso, viver não”, erroneamente atribuída a Fernando Pessoa, já que data da Idade Média. Agora, não é necessário se deslocar no espaço para se surpreender e se renovar. Olhar atentamente uma flor, acompanhar o seu desenvolvimento, do botão à pétala caída, pode ser tão enriquecedor quanto visitar um monumento histórico. Tudo depende do olhar. A gente tanto pode olhar sem ver nada quanto se maravilhar, uma capacidade natural na criança e que o adulto precisa conquistar, suspendendo a agitação da vida cotidiana e não se deixando absorver por preocupações egocêntricas. Como diz um provérbio chinês, a lua só se reflete perfeitamente numa água tranquila. O que nós vemos e ouvimos depende de nós. A meditação nos afasta do clamor do cotidiano e nos permite, por exemplo, ouvir a nossa respiração. Quem escuta com o espírito e não com o ouvido, percebe os sons mais sutis. Ouve o silêncio, que é o mais profundo de todos os sons, como bem sabem os músicos. Numa de suas músicas, Caetano Veloso diz que “só o João (Gilberto) é melhor do que o silêncio”. Porque o silêncio permite entrar em contato com um outro eu, que só existe quando nos voltamos para nós mesmos. Há milênios, os asiáticos, que valorizam a longevidade, se exercitam na meditação, enquanto nós, ocidentais, evitamos o desligamento que ela implica. Por imaginarmos que sem estar ligado não é possível existir, ignoramos que o afastamento do circuito habitual propicia uma experiência única de nós mesmos, uma experiência sempre nova. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR106 INTERPRETAÇÃO 04 S EMÂNTICA II: CAMPO SEMÂNTICO, SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HIPERONÍMIA E HIPONÍMIA Desde a Idade Média, muitos séculos se passaram. Mas o lema dos navegadores continua atual. Surpreender-se é preciso. A surpresa é a verdadeira fonte da juventude, promessa de renovação e de vida. (Veja, Editora Abril, edição 2184 – ano 43 – nº 39, 29/09/2010, p. 116) No trecho: “...suspendendo a agitação da vida cotidiana e não se deixando absorver por preocupações egocêntricas”, as palavras grifadas mantêm, com os vocábulos “absolver” e “personalistas”, uma relação de: a) homonímia e sinonímia, respectivamente. b) sinonímia e homonínia, respectivamente. c) antonímia e paronímia, respectivamente. d) antonímia e sinonímia, respectivamente. e) paronímia e sinonímia, respectivamente. 05. Os textos 1 (manchete de capa da revista Época de 26/08/2013), 2 (manchete de capa da revista Veja de 28/08/2013) e 3 serão analisados em conjunto, na perspectiva da polifonia, do dialogismo e da intertextualidade, isto é, das relações mantidas entre eles. TEXTO 1 TEXTO 2 TEXTO 3 Cair das nuvens 1. Espantar-se, surpreender-se (com algo que é muito diferente do que se pensava ou se desejava); perceber o próprio equívoco ou engano. 2. Restr. Decepcionar-se intensamente; desiludir-se. 3. Chegar de modoimprevisto; aparecer repentinamente; cair do céu. Dicionário Caldas Aulete. http://aulete.uol.com.br/nuvem#ixzz2ggk52qoh No que diz respeito ao signifi cado das expressões, numere a segunda coluna de acordo com a primeira: COLUNA I COLUNA II 1. Ir às nuvens. II. (fi car ou estar) Nas nuvens. III. Pôr (alguém ou algo) nas nuvens. IV. Tomar a nuvem por Juno. V. (passar) Em brancas nuvens. ( ) Sem notar o que se passa em volta; em estado de distração e alheamento; em estado de intensa alegria ou contentamento. ( ) Elogiar muito, com entusiasmo, ou usando palavras muito enfáticas. ( ) Alegrar-se intensamente, fi car exultante com algo. ( ) Sem celebração, sem festas; sem ser notado, em branco; sem sofrimento, sem amarguras. Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência: a) 5 – 4 – 1 – 3. b) 2 – 3 – 1 – 5. c) 2 – 1 – 3 – 5. d) 1 – 3 – 2 – 4. e) 1 – 4 – 3 – 2. 06. (ENEM) Nas conversas diárias, utiliza-se frequentemente a palavra “próprio” e ela se ajusta a várias situações. Leia os exemplos de diálogos: I. — A Vera se veste diferente! — É mesmo, é que ela tem um estilo próprio. II. — A Lena já viu esse fi lme uma dezena de vezes! Eu não consigo ver o que ele tem de tão maravilhoso assim. — É que ele é próprio para adolescente. III. — Dora, o que eu faço? Ando tão preocupada com o Fabinho! Meu fi lho está impossível! — Relaxa, Tânia! É próprio da idade. Com o tempo, ele se acomoda. Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é sinônimo de, respectivamente: a) adequado, particular, típico; b) peculiar, adequado, característico; c) conveniente, adequado, particular; d) adequado, exclusivo, conveniente; e) peculiar, exclusivo, característico. 07. (ENEM) O efeito de sentido da charge é provocado pela combinação de informações visuais e recursos linguísticos. No contexto da ilustração, a frase proferida recorre à: a) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da expressão “rede social” para transmitir a ideia que pretende veicular; b) ironia para conferir um novo signifi cado ao termo “outra coisa”; c) homonímia para opor, a partir do advérbio de lugar, o espaço da população pobre e o espaço da População rica; d) personifi cação para opor o mundo real pobre ao mundo virtual rico; e) antonímia para comparar a rede mundial de computadores com a rede caseira de descanso da família. 08. (ENEM) Soneto de fi delidade De tudo ao meu amor serei atento Antes e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou ao seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fi m de quem ama. Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infi nito enquanto dure. (MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Cia das Letras, 1992. ) R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 04 SEMÂNTICA II: CAMPO SEMÂNTICO, SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HIPERONÍMIA E HIPONÍMIA 107 INTERPRETAÇÃO A palavra mesmo pode assumir diferentes significados, de acordo com a sua função na frase. Assinale a alternativa em que o sentido de mesmo equivale ao que se verifica no 3º verso da 1a estrofe do poema de Vinicius de Moraes: a) Pai, para onde fores, / irei também trilhando as mesmas ruas... (Augusto dos Anjos) b) Agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é modesta, com a exterior, que é ruidosa. (Machado de Assis) c) Havia o mal, profundo e persistente, para o qual o remédio não surtiu efeito, mesmo em doses variáveis. (Raimundo Faoro) d) Mas, olhe cá, Mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo padre? (Machado de Assis) e) Vamos de qualquer maneira, mas vamos mesmo. (Aurélio) 09. (UERJ) Com base no texto a seguir, responda à questão. Existe sempre um conceito por trás do que faço, só que nem sempre a montagem se completa. Os conceitos se escondem no subconsciente. Zigue-zagues que atordoam. Quando o xadrez funciona, o conceito é formado por encaixes eliminando a importância exagerada que poderia ser dada a certas fotos mais formais. Não são acasos felizes, pois, desde o começo de um projeto, uma ideia já existe; apenas ela é flexível e se deixa impregnar pela existência das pessoas fotografadas. O interessante é fazer a matéria externa vibrar em toda sua força de maneira que seja espelho de minhas intenções, sem deixar de ser espelho da vida. CORAÇÃO ESPELHO DA CARNE. Edward Weston diz nos Notebooks que “a câmera deve ser usada para documentar a vida”. Documentar no sentido íntegro, não o bater chapa automático de algum acontecimento mais importante histórico ou socialmente, porém o documento de vida. Diria que revelar essa vida, essa força, é o essencial, pois de qualquer forma documento sempre será a foto tomada. Ele continua: “rendendo a verdadeira substância da coisa em si, seja ela aço polido ou carne palpitante”. (Miguel Rio Branco [fotógrafo]. Notes on the tides. Rio de Janeiro: Sol Gráfica , 2006) de maneira que seja espelho de minhas intenções, sem deixar de ser espelho da vida. O significado essencial do fragmento destacado acima também pode ser observado em: a) Os conceitos se escondem no subconsciente. b) Quando o xadrez funciona, o conceito é formado por encaixes c) pois, desde o começo de um projeto, uma ideia já existe; d) e se deixa impregnar pela existência das pessoas fotografadas. 10. (ENEM) Nuances Euforia: alegria barulhenta. Felicidade: alegria silenciosa. Gravar: quando o ator é de televisão. Filmar: quando ele quer deixar claro que não é de televisão. Grávida: em qualquer ocasião. Gestante: em filas e assentos preferenciais. Guardar: na gaveta. Salvar: no Computador. Salvaguardar: no Exército. Menta: no sorvete, na bala ou no xarope. Hortelã: na horta ou no suco de abacaxi. Peça: quando você vai assistir. Espetáculo: quando você está em cartaz com ele. DUVIVIER, G. Folha de S. Paulo, 24 mar. 2014 (adaptado) O texto trata da diferença de sentido entre vocábulos muito próximos. Essa diferença é apresentada considerando-se a(s) a) alternâncias na sonoridade. b) adequação às situações de uso. c) marcação flexional das palavras. d) grafia na norma-padrão da língua. e) categorias gramaticais das palavras. 11. Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem, o seguinte par de palavras: a) estrondo – ruído; b) pescador – trabalhador; c) pista – aeroporto; d) piloto – comissário; e) aeronave – jatinho. 12. Assinale a única frase que se completa com a segunda forma entre parênteses: a) Os culpados __________ as leis. (infringiram / infligiram). b) O ___________ do senador termina no próximo ano. (mandado / mandato). c) Não saia, pois a chuva está ___________. (iminente / eminente). d) Ladrão foi apanhado em __________. (flagrante / fragrante). e) Os requintes de educação caracterizam um perfeito ___________. (cavalheiro / cavaleiro). 13. Observe as frases. I. O paciente submeteu-se a SESSÕES de sangria, utilizando-se de sanguessugas. II. Encontrou, na SEÇÃO de remédios, o que procurava para o seu alívio. O par de palavras SESSÃO/SEÇÃO relaciona-se ao estudo da: a) homonímia; b) sinonímia; c) paronímia; d) antonímia; e) polissemia. 14. No ______ do violoncelista ______ havia muitas pessoas, pois era uma ______ beneficente. a) conserto - eminente - sessão b) concerto - iminente - seção c) conserto - iminente - seção d) concerto - eminente – sessão 15. Assinale o item em que a palavra destacada está incorretamente aplicada: a) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes. b) A justiça infligiu pena merecida aos desordeiros. c) Promoveram uma festa beneficiente para a creche. d) Devemos ser fiéis aos cumprimentos do dever. e) A cessão de terras compete ao Estado. 16. (IFAL 2017) Como se sabe, galinhas são aves. Assim, a relaçãoque se estabelece, respectivamente, entre esses dois termos é de a) homonímia. b) paronímia. c) antonímia. d) hiponímia. e) hiperonímia. 17. (ENEM PPL 2017) Acho que educar é como catar piolho na cabeça de criança. É preciso ter confiança, perseverança e um certo despojamento. É preciso, também, conquistar a confiança de quem se quer educar, para fazê-lo deitar no colo e ouvir histórias. MUNDUKURU, D. Disponível em: http://caravanamekukradja.blogspot.com.br. Acesso em: 5 dez. 2012. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR108 INTERPRETAÇÃO 04 SEMÂNTICA II: CAMPO SEMÂNTICO, SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HIPERONÍMIA E HIPONÍMIA Concorrem para a estruturação e para a progressão das ideias no texto os seguintes recursos: a) Comparação e enumeração. b) Hiperonímia e antonímia. c) Argumentação e citação. d) Narração e retomada. e) Pontuação e hipérbole. 18. (IFPE 2017) UM DOADOR UNIVERSAL Tomo um táxi e mando tocar para o hospital do Ipase. Vou visitar um amigo que foi operado. O motorista volta-se para mim: - O senhor não está doente e agora não é hora de visita. Por acaso é médico? Ultimamente ando sentindo um negócio esquisito aqui no lombo... - Não sou médico. Ele deu uma risadinha. - Ou não quer dar uma consulta de graça, hein, doutor? É isso mesmo, deixa para lá. Para dizer a verdade, não tem cara de médico. Vai doar sangue. - Quem, eu? - O senhor mesmo, quem havia de ser? Não tem mais ninguém aqui. - Tenho cara de quem vai doar sangue? - Para doar sangue não precisa ter cara, basta ter sangue. O senhor veja o meu caso, por exemplo. Sempre tive vontade de doar sangue. E doar mesmo de graça, ali no duro. Deus me livre de vender meu próprio sangue: não paguei nada por ele. Escuta aqui uma coisa, quer saber o que mais, vou doar meu sangue e é já. Deteve o táxi à porta do hospital, saltou ao mesmo tempo que eu, foi entrando: - E é já. Esse negócio tem de ser assim: a gente sente vontade de fazer uma coisa, pois então faz e acabou-se. Antes que seja tarde: acabo desperdiçando esse sangue meu por aí, em algum desastre. Ou então morro e ninguém aproveita. Já imaginou quanto sangue desperdiçado por aí nos que morrem? - E nos que não morrem? - limitei-me a acrescentar. - Isso mesmo. E nos que não morrem! Essa eu gostei. Está se vendo que o senhor é moço distinto. Olhe aqui uma coisa, não precisa pagar a corrida. Deixei-me ficar, perplexo, na portaria (e ele tinha razão, não era hora de visitas) enquanto uma senhora reclamava seus serviços: - Meu marido está saindo do hospital, não pode andar direito... - Que é que tem seu marido, minha senhora? - Quebrou a perna. - Então como é que a senhora queria que ele andasse direito? - Eu não queria. Isto é, queria... Por isso é que estou dizendo - confundiu- se a mulher. - O seu táxi não está livre? - O táxi está livre, eu é que não estou. A senhora vai me desculpar, mas vou doar sangue. Ou hoje ou nunca. E gritou para um enfermeiro que ia passando e que nem o ouviu: - Você aí, ô, branquinho, onde é que se doa sangue? Procurei intervir: - Atenda a freguesa... O marido dela... - Já sei: quebrou a perna e não pode andar direito. - Teve alta hoje. - acudiu a mulher, pressentindo simpatia. - Não custa nada – insisti. - Ele precisa de táxi. A esta hora... - Eu queria doar sangue - vacilou ele. - A gente não pode nem fazer uma caridade, poxa! - Deixa de fazer uma e faz outra, dá na mesma. Pensou um pouco, acabou concordando: - Está bem. Mas então faço o serviço completo: vai de graça. Vamos embora. Cadê o capenga? Afastou-se com a mulher, e em pouco passava de novo por mim, ajudando-a a amparar o marido, que se arrastava, capengando. - Vamos, velhinho: te aguenta aí. Cada uma! Ainda acenou para mim, de longe, se despedindo. SABINO, Fernando. Um doador universal. Disponível em: <<http://www.otempo.com. br/opini%C3%A3o/fernando-sabino/fernando-sabino-um-doador-universal-1.538>>. Acesso: 08 maio 2017. Na leitura de textos, deparamo-nos, muitas vezes, com palavras das quais desconhecemos o significado, no entanto, a partir do contexto, conseguimos interpretá-las. Seguindo esse entendimento, a partir da significação contextual da palavra, assinale a alternativa que contém o vocábulo que substituiria adequadamente o termo destacado no trecho a seguir, extraído do texto, de acordo com a relação de significado estabelecida. “Está se vendo que o senhor é moço distinto.” a) Rápido; antonímia. b) Comum; sinonímia. c) Inteligente; sinonímia. d) Forte; antonímia. e) Exigente; sinonímia. 19. (UFU 2015) Como é usual no desenvolvimento de novas tecnologias, os 1drones também brotaram de centros militares. Mas no Exército eles têm outro nome: veículos aéreos não tripulados (os 2vants). São aeronaves autônomas, guiadas a distância por pilotos ou que navegam sozinhas, e que podem medir de poucos centímetros a dezenas de metros de comprimento. No começo dos anos 2000, passaram a ser utilizadas regularmente em missões do governo americano, e gradualmente substituem pilotos no campo de batalha. Se em 2009 3% da tropa da Força Aérea dos Estados Unidos guiava os vants, agora a parcela é de ao menos 10%, e há queixas de que não é o suficiente. E se no início eles substituíam soldados em tarefas arriscadas, agora solucionam até dilemas morais típicos de situações de guerra, e que antes só humanos conseguiam resolver. Às 3máquinas foram atribuídas decisões deontológicas. Quando foram concebidos, os vants eram totalmente guiados por um controle remoto. Tudo que a 4máquina fazia era responder aos comandos de um humano. Mas cada vez mais o homem se mostra dispensável. Os drones militares da década de 2010 contam com softwares dotados de algoritmos capazes de não só guiá-los, mas de identificar alvos e decidir se é preciso abatê-los. Um ex-operador de 5drones militares dos Estados Unidos revelou recentemente que as 6aeronaves rastreavam, sozinhas, o celular de um inimigo e indicavam se era necessário executá-lo, mesmo que ele não fosse o dono do 7aparelho, e com risco real de matar civis ao redor. Israel também divulgou a realização de testes com um programa que fará com que drones solucionem dilemas éticos. Exemplo: se o dano colateral, a morte de civis, for matematicamente mais prejudicial do que a execução de um alvo de menor relevância, a máquina cancela o ataque. Fórmulas matemáticas, em vez de humanos, podem passar a reger o campo de batalha. THOMAS, Jennifer Ann. Veja, 14 de fevereiro, 2015, p. 173. (Fragmento) No fragmento, uma das relações de coesão se estabelece por meio de a) meronímia, o termo drones (ref. 1) constitui uma parte de vants (ref. 2). b) hiperonímia, a relação existente entre um termo mais genérico, máquinas (ref. 3) e um mais específico, drones (ref. 5). c) catáfora, o termo aeronaves (ref. 6) substitui o termo máquina (ref. 4). d) anáfora, o termo drones (ref. 1) aponta para o termo aparelho (ref. 7). R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 04 SEMÂNTICA II: CAMPO SEMÂNTICO, SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HIPERONÍMIA E HIPONÍMIA 109 INTERPRETAÇÃO 20. (UNIRIO 2000) A bola não é inimiga como o touro, numa corrida e embora seja um utensílio caseiro e que se usa sem risco, não é o utensílio impessoal, sempre manso, de gesto usual: é um utensílio semivivo, de reações próprias como bicho, e que, como bicho, é mister (mais que bicho, como mulher) usar com malícia e atenção dando aos pés astúcias de mão. João Cabral de Melo Neto De acordo com o texto, o par em que NÃO há relação de sinonímia é: a) "utensílio" (v. 3) - instrumento. b) "impessoal" (v. 5) - original. c) "usual" (v. 6) - corriqueiro. d) "mister" (v. 9) - necessário. e) "astúcias" (v. 12) - manhas. 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. Examine as tiras do cartunista americano Bill Watterson (1958 - ). (Unesp 2018)Na tira 1, como o garoto Calvin interpreta o choro da mãe? Reescreva a última fala de Calvin, substituindo o verbo “antropomorfiza” por outro de sentido equivalente. 02. Leia a charge. Observando as imagens, vê-se que as personagens estão se referindo a personalidades diferentes, daí o efeito de humor da charge quanto aos seus comentários. (Unifesp 2008) Do ponto de vista linguístico, o que gera a confusão das personagens? 03. (FUVEST 2018) Leia o texto. Um tema frequente em culturas variadas é o do desafio à ordem divina, a apropriação do fogo pelos mortais. Nos mitos gregos, Prometeu é quem rouba o fogo dos deuses. Diz Vernant que Prometeu representa no Olimpo uma vozinha de contestação, espécie de movimento estudantil de maio de 1968. Zeus decide esconder dos homens o fogo, antes disponível para todos, mortais e imortais, na copa de certas árvores – os freixos – porque Prometeu tentara tapeá-lo numa repartição da carne de um touro entre deuses e homens. Na mitologia dos Yanomami, o dono do fogo era o jacaré, que cuidadosamente o escondia dos outros, comendo taturanas assadas com sua mulher sapo, sem que ninguém soubesse. Ao resto do povo – animais que naquela época eram gente – eles só davam as taturanas cruas. O jacaré costumava esconder o fogo na boca. Os outros decidem fazer uma festa para fazê-lo rir e soltar as chamas. Todos fazem coisas engraçadas, mas o jacaré fica firme, no máximo dá um sorrisinho. Betty Mindlin, O fogo e as chamas dos mitos. Revista Estudos Avançados. Adaptado. a) O emprego do diminutivo nas palavras “vozinha” e “sorrisinho”, consideradas no contexto, produz o mesmo efeito de sentido nos dois casos? Justifique. b) Reescreva o trecho “Os outros decidem fazer uma festa para fazê-lo rir (...). Todos fazem coisas engraçadas”, substituindo o verbo “fazer” por sinônimos adequados ao contexto em duas de suas três ocorrências. 04. (FUVEST 2010) Leia este texto. O ano nem sempre foi como nós o conhecemos agora. Por exemplo: no antigo calendário romano, abril era o segundo mês do ano. E na França, até meados do século XVI, abril era o primeiro mês. Como havia o hábito de dar presentes no começo de cada ano, o primeiro dia de abril era, para os franceses da época, o que o Natal é para nós hoje, um dia de alegrias, salvo1 para quem ganhava meias ou uma água-de-colônia barata. Com a introdução do calendário gregoriano, no século XVI, primeiro de janeiro passou a ser o primeiro dia do ano e, portanto, o dia dos presentes. E primeiro de abril passou ser um falso Natal – o dia de não se ganhar mais nada. Por extensão, o dia de ser iludido. Por extensão, o Dia da Mentira. Luís F. Veríssimo, As mentiras que os homens contam. Adaptado. a) Tendo em vista o contexto, é correto afirmar que o trecho “meias ou uma água-de-colônia barata” deve ser entendido apenas em seu sentido literal? Justifique sua resposta. b) Crie uma frase que contenha um sinônimo da palavra “salvo” (ref.1), mantendo o sentido que ela tem no texto. 05. (FGV 2015) Texto I QUAL O PODER DA LEITURA NESTES TEMPOS DIFÍCEIS? Hoje, é possível dizer que o mundo inteiro é um “espaço em crise”. Uma crise se estabelece de fato quando transformações de caráter brutal – mesmo se preparadas há tempos -, ou ainda uma violência permanente e generalizada, tornam extensamente inoperantes os modos de regulamentação, sociais e psíquicos, que até então estavam sendo praticados. Ora, a aceleração das transformações, o crescimento das desigualdades, das disparidades, a extensão das migrações alteraram ou fizeram desaparecer os parâmetros nos quais a vida se desenvolvia, vulnerabilizando homens, mulheres e crianças, de maneira obviamente bastante distinta, de acordo com os recursos materiais, culturais, afetivos de que dispõem e segundo o lugar onde vivem. Para boa parte deles, no entanto, tais crises se manifestam em transtornos semelhantes. Vividas como rupturas, ainda mais quando são acompanhadas da separação dos próximos, da perda da casa ou das paisagens familiares, as crises os confinam em um tempo imediato – sem projeto, sem futuro -, em um espaço sem linha de fuga. Despertam feridas antigas, reativam o medo do abandono, abalam o sentimento de continuidade de si e a R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR110 INTERPRETAÇÃO 04 SEMÂNTICA II: CAMPO SEMÂNTICO, SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HIPERONÍMIA E HIPONÍMIA autoestima. Provocam, às vezes, uma perda total de sentido, mas podem igualmente estimular a criatividade e a inventividade, contribuindo para que outros equilíbrios sejam forjados, pois em nosso psiquismo, como disse René Kaës, uma “crise libera, ao mesmo tempo, forças de morte e forças de regeneração”. “O desastre ou a crise são também, e sobretudo, oportunidades”, escreveram Chamoiseau e Glissant, após a passagem de um ciclone. “Quando tudo desmorona ou se vê transformado, são também os rigores ou as impossibilidades que se veem transformados. São os improváveis que, de repente, se veem esculpidos por novas luzes”. A leitura pode garantir essas forças de vida? O que esperar dela – sem vãs ilusões – em lugares onde a crise é particularmente intensa, seja em contextos de guerra ou de repetidas violências, de deslocamentos de populações mais ou menos forçados, ou de vertiginosas recessões econômicas? Em tais contextos, crianças, adolescentes e adultos poderiam redescobrir o papel dessa atividade na reconstrução de si mesmos e, além disso, a contribuição única da literatura e da arte para a atividade psíquica. Para a vida, em suma. Michèle Petit, A arte de ler ou como resistir à adversidade. São Paulo: ed. 34, 2009. Texto II Paradoxalmente, o caos em que a humanidade corre o risco de mergulhar traz em seu bojo sua própria e última oportunidade. Por quê? Para começar, porque a proximidade do perigo favorece as instâncias de conscientização, que podem então multiplicar- se, ampliar-se e fazer surgir uma grande política de salvação do mundo. E, sobretudo, pela seguinte razão: quando um sistema é incapaz de resolver seus problemas vitais, ou ele se desintegra, ou é capaz, dentro de sua própria desintegração, de metamorfosear- se num metassistema mais rico, capaz de buscar soluções para esses problemas. Edgar Morin, http://www.comitepaz.org.br Texto III O que diz o vento (07/10/1991) Para o Brasil chegar afinal ao Primeiro Mundo só falta vulcão. Uns abalozinhos já têm havido por aí, e cada vez mais frequentes. Agora passa por Itu esse vendaval, com tantas vítimas e tantos prejuízos a lastimar. Alguns jornais não tiveram dúvida: ciclone. Ou tornado, quem sabe. Shelley que me desculpe, mas vento me dá nos nervos. Desarruma a gente por dentro. Mas, em matéria de vento, poeta tem imunidades. Manuel Bandeira associou à canção do vento a canção da sua vida. O vento varria as luzes, as músicas, os aromas. E a sua vida ficava cada vez mais cheia de aromas, de estrelas, de cânticos. Fúria dos elementos, símbolo da instabilidade, o vento é ao mesmo tempo sopro de vida. Uma aragem acompanha sempre os anjos. E foi o vento que fez descer sobre os apóstolos as línguas de fogo do Espírito Santo. Destruidor e salvador, com o vento renasce a vida, diz a “Ode to the West Wind”, de Shelley. No inverno só um poeta romântico entrevê o início da primavera. Divindade para os gregos, o vento inquieta porque sacode a apatia e a estagnação. Com esse poder de levar embora, suponhamos que uma lufada varresse o Brasil, como na canção do Manuel Bandeira. Que é que esse vento benfazejo devia levar embora? Todo mundo sabe o mundo de males que nos oprime nesta hora. Deviam ser varridos para sempre. Se vento leva e traz, se vento é mudança, não custa acreditar que, passada a tempestade, vem a bonança. E com ela, o sopro renovador — garante o poeta. A casa destelhada, a destruição já começou. Vem aí a reconstrução. Otto Lara Resende, Bom dia para nascer: crônicas publicadas na Folha de S. Paulo. São Paulo:Cia. das Letras, 2011. Adaptado. Responda o que se pede a) Apesar do texto II abordar um tema genérico e o texto I, um tema mais específico, é possível identificar no conteúdo de ambos alguma ideia comum? Justifique sua resposta. b) Sem provocar alterações no sentido do texto II, que sinônimos poderiam substituir, respectivamente, as palavras “Paradoxalmente” (início do texto) e “metamorfosear-se” (final do texto)? GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. C 02. E 03. D 04. E 05. B 06. B 07. A 08. C 09. D 10. B 11. E 12. B 13. A 14. D 15. C 16. D 17. A 18. C 19. B 20. B EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. Na tira 1, Calvin atribui o choro da mãe ao fato de ela estar “ferindo” a cebola, ou seja, dá ao verbo “cortar” outro significado, o que se depreende da sua fala no último quadrinho: “deve ser difícil cozinhar se você antropomorfiza as hortaliças”. Esta frase de Calvin poderia ser substituída por: deve ser difícil cozinhar se você humaniza as hortaliças 02. O elemento linguístico gerador da confusão entre as crianças representadas é de ordem fonética: os nomes (Chaves e Chávez) são homônimos homófonos, isto é, palavras de mesma pronúncia. 03. a) Não, o emprego do diminutivo nas palavras “vozinha” e “sorrisinho” não produz o mesmo efeito de sentido nos dois casos. Enquanto que, na primeira ocorrência, o diminutivo pretende diminuir a atitude contestatória de Prometeu, na segunda, confere ironia ao comportamento do jacaré. b) substituindo o verbo “fazer” por sinônimos adequados ao contexto, os trechos poderiam apresentar as seguintes configurações: os outros decidem realizar (preparar) uma festa para provocar-lhe o riso (...). Todos praticam (elaboram) coisas engraçadas. 04. a) Não, a referência a “meias ou uma água-de-colônia barata” é usada ironicamente em sentido figurado, aludindo a um presente banal, adquirido sem grande envolvimento ou preocupação em causar satisfação à pessoa a quem vai ser oferecido. a) Qualquer frase que contivesse os termos “exceto”, “à exceção de” ou “afora” manteria a noção de exclusão que a palavra “salvo” expressa no terceiro período do texto, como por exemplo: Todos os países da América Latina possuem faixa litorânea, exceto Bolívia e Paraguai. 05. a) Sim, pois ambos exprimem a possibilidade de enfrentar e reverter situações difíceis. O texto I defende a tese de que as adversidades podem ser oportunidade e motivo de superações individuais, e o texto II expressa a mesma opinião relativamente às tragédias que a Humanidade enfrenta na atualidade, como referido no excerto “o desastre ou a crise são também e, sobretudo, oportunidades” b) Preservando o sentido do texto, os termos “paradoxalmente” e “metamorfosear- se” poderiam ser substituídos por “contraditoriamente” e “transformar-se”, respectivamente ANOTAÇÕES R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 111PROENEM.COM.BR FUNÇÕES DA LINGUAGEM05 Em um sistema de comunicação, reconhecemos os elementos básicos: o emissor, o receptor e a mensagem. Além desses elementos, temos o código pelo qual a mensagem é decodificada e o canal, que é o suporte físico que sustenta a comunicação. O ar, por exemplo, é o canal mais comum. O último elemento desse sistema de comunicação é o contexto ou referente. Quando se dá uma comunicação, damos ênfase a um desses elementos, o que determina uma função a essa linguagem. Segundo um modelo proposto pelo linguista Roman Jakobson, são seis as funções da linguagem: A ênfase no fator: Emissor ð Emotiva ou Expressiva Receptor ð Apelativa ou Conativa Referente ð Referencial Mensagem ð Poética Código ð Metalinguística Canal ð Fática A FUNÇÃO EMOTIVA Quando a intenção do produtor do texto é posicionar-se em relação ao que está abordando, é expressar seus sentimentos e emoções e o texto resultante é subjetivo, temos a função emotiva. Uma autobiografia, um diário são exemplos desses textos. Veja outros exemplos: (QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2002.) Velha infância Você é assim Um sonho pra mim E quando eu não te vejo Eu penso em você Desde o amanhecer Até quando eu me deito Eu gosto de você E gosto de ficar com você Meu riso é tão feliz contigo O meu melhor amigo é o meu amor [...] (ANTUNES, A. / BROWN, C. / MORAES, D. / MONTE, M. / BABY, Pedro. CD Tribalistas. EMI. 2002.) Ainda que de gêneros diferentes, os dois textos – a tira de Quino e a música dos Tribalistas – apresentam uma linguagem centrada na 1ª pessoa, dando ênfase à expressividade, à subjetividade do emissor. A FUNÇÃO APELATIVA Quando a intenção do produtor da mensagem é influenciar, envolver, persuadir o destinatário; quando a mensagem se organiza em forma de ordem, chamamento, apelo ou súplica, temos a função conativa ou apelativa da linguagem. A linguagem publicitária utiliza essencialmente essa função da linguagem: (Veja) Veja que o anúncio se constrói a partir de um apelo ao leitor para que experimente a tinta da HP. Repare, também, nos verbos no Imperativo [ouse, invente]. O foco da mensagem está centrada no receptor. O uso do imperativo é representativo dessa função da linguagem. A FUNÇÃO REFERENCIAL A função referencial centra-se na informação. Quando a intenção é transmitir ao interlocutor dados da realidade de uma forma direta e objetiva, sem ambiguidades, com palavras empregadas em seu sentido denotativo. Portanto, essa é a função que predomina em textos técnicos, institucionais, jornalísticos – informativos por excelência. Veja um exemplo: China quer investir na produção de soja no país A China, maior importador mundial de soja, está promovendo uma ofensiva em várias frentes e em vários Estados no Brasil visando aumentar a sua presença na cadeia produtiva da cultura no país, informam Fabiano Maisonnave e Estelita Hass Carazzai. A estratégia será concretizada por meio de acordos de exportação com os agricultores, investimentos em indústrias e compra de terras. (www.folhauol.com.br) PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR112 INTERPRETAÇÃO 05 FUNÇÕES DA LINGUAGEM A FUNÇÃO POÉTICA Quando a intenção do produtor do texto está voltada para a própria mensagem, mas não com a informação somente, e sim com a construção dessa mensagem, com uma melhor arrumação das palavras, quer na escolha, quer na combinação delas, temos a função poética. Assim, a função poética abarca elementos fundamentais expressivos como a sonoridade, o ritmo, o belo e o inusitado das imagens, valores conotativos, figuras de palavras. Esse belo poema de Manuel Bandeira dispensa comentários maiores. Apenas absorva a beleza de sua linguagem e de suas imagens poéticas: Belo belo I Belo belo belo, Tenho tudo quanto quero. Tenho o fogo de constelações extintas há milênios. E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes. A aurora apaga-se, E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora. O dia vem, e dia adentro Continuo a possuir o segredo grande da noite. Belo belo belo, Tenho tudo quanto quero. Não quero o êxtase nem os tormentos. Não quero o que a terra só dá com trabalho. As dádivas dos anjos são inaproveitáveis: Os anjos não compreendem os homens. Não quero amar, Não quero ser amado. Não quero combater, Não quero ser soldado. — Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples. A linguagem publicitária frequentemente utiliza a função poética em seus anúncios. Repare a imagem poética gerada pela palavra “princípio” em uma campanha veiculada na década de 90: Ética: uma questão de princípio. A FUNÇÃO METALINGUÍSTICA Quando a preocupação do emissor está voltada para o próprio código utilizado, ou seja, o código é o tema da mensagem ou é utilizado para explicar o próprio código, temos a função metalinguística. Veja os exemplos: Gosto da palavra fornida. É uma palavra que diz tudo o quer dizer. Se você lê que uma mulher é bem fornida, sabe exatamente como ela é. Não gorda, mas cheia, roliça, carnuda. E quente. Talvez sejaa semelhança com forno. Talvez seja apenas o tipo de mente que eu tenho. (Luis Fernando Verissimo) Fornido [part. De fornir.] Adj. 1. Abastecido, provido. 2. Robusto, carnudo, nutrido, alentado. HOLLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio Eletrônico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.) Repare que nos dois exemplos temos uma metalinguagem. O cronista escreve um texto em que utiliza o código da língua portuguesa exatamente para falar da língua portuguesa; já o verbete do dicionário é o exemplo típico, uma vez que as palavras se organizam para explicar as próprias palavras. A FUNÇÃO FÁTICA A preocupação do emissor em manter o contato com o interlocutor, prolongando uma comunicação ou então testando o canal com frases do tipo “Veja bem...” ou “Olha...” ou “Entende?” caracteriza a função fática. Assim, o início, a retomada e final de uma conversação centram-se numa função fática. Veja um trecho da canção Sinal Fechado, de Paulinho da Viola, que caracteriza essa função: – Olá, como vai? – Eu vou indo. E você, tudo bem? – Tudo bem, eu vou indo correndo pegar meu lugar no futuro e você? – Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranquilo, quem sabe... – Quanto tempo. – Pois é. Quanto tempo. [...] PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Explique no que consiste a função emotiva e apresente um exemplo. 02. Apresente dois exemplos de função apelativa. 03. Justifique por que as propagandas usam essencialmente a função apelativa. 04. Explique o que é função referencial e apresente dois exemplos. 05. Apresente uma característica da função fática. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. Desabafo Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado. CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento). Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código. b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito. c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem. d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais. e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 05 FUNÇÕES DA LINGUAGEM 113 INTERPRETAÇÃO 02. Assinale a alternativa que contenha a sequência correta sobre as funções da linguagem, importantes elementos da comunicação: 1. Ênfase no emissor (lª pessoa) e na expressão direta de suas emoções e atitudes. 2. Evidencia o assunto, o objeto, os fatos, os juízos. É a linguagem da comunicação. 3. Busca mobilizar a atenção do receptor, produzindo um apelo ou uma ordem. 4. Ênfase no canal para checar sua recepção ou para manter a conexão entre os falantes. 5. Visa à tradução do código ou à elaboração do discurso, seja ele linguístico ou extralinguístico. 6. Voltada para o processo de estruturação da mensagem e para seus próprios constituintes, tendo em vista produzir um efeito estético. ( ) função metalinguística. ( ) função poética. ( ) função referencial. ( ) função fática. ( ) função conativa. ( ) função emotiva. a) 1, 2, 4, 3, 6, 5. b) 5, 2, 6, 4, 3, 1. c) 5, 6, 2, 4, 3, 1. d) 6, 5, 2, 4, 3, 1. e) 3, 5, 2, 4, 6, 1. 03. O exercício da crônica Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado. MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991. Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista. b) nos elementos que servem de inspiração ao cronista. c) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. d) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica. e) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica. 04. Há o hipotrélico. O termo é novo, de impensada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou talvez, vicedito: indivíduo pedante, importuno agudo, falta de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando- se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência. (ROSA, G. Tutameia: terceiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001) (fragmento). Nesse trecho de uma obra de Guimarães Rosa, depreende-se a predominância de uma das funções da a) metalinguística, pois o trecho tem como propósito essencial usar a língua portuguesa para explicar a própria língua, por isso a utilização de vários sinônimos e definições. b) referencial, pois o trecho tem como principal objetivo discorrer sobre um fato que não diz respeito ao escritor ou ao leitor, por isso o predomínio da terceira pessoa. c) fática, pois o trecho apresenta clara tentativa de estabelecimento de conexão com o leitor, por isso o emprego dos termos “sabe- se lá” e “tome-se hipotrélico”. d) poética, pois o trecho trata da criação de palavras novas, necessária para textos em prosa, por isso o emprego de “hipotrélico”. e) expressiva, pois o trecho tem como meta mostrar a subjetividade do autor, por isso o uso do advérbio de dúvida “talvez”. 05. O telefone tocou. — Alô? Quem fala? — Como? Com quem deseja falar? — Quero falar com o sr. Samuel Cardoso. — É ele mesmo. Quem fala, por obséquio? — Não se lembra mais da minha voz, seu Samuel? Faça um esforço. — Lamento muito, minha senhora, mas não me lembro. Pode dizer-me de quem se trata? (ANDRADE, C. D. Contos de aprendiz. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.) Pela insistência em manter o contato entre o emissor e o receptor, predomina no texto a função a) metalinguística. b) fática. c) referencial. d) emotiva. e) conativa. 06. (ENEM) Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir- lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que o seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo uma outra não prevista. LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993. Nesse texto, a autora apresenta reflexões sobre o processo de produção de sentidos, valendo-se da metalinguagem. Essa função da linguagem torna-se evidente pelo fato de o texto a) ressaltar a importância da intertextualidade. b) propor leituras diferentes das previsíveis. c) apresentar o ponto de vista da autora. d) discorrer sobre o ato de leitura. e) focar a participação do leitor. 07. (ENEM) Canção do vento e da minha vida O vento varria asfolhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. [...] O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres. O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR114 INTERPRETAÇÃO 05 FUNÇÕES DA LINGUAGEM Predomina no texto a função da linguagem: a) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação. b) metalinguística, porque há explicação do signifi cado das expressões. c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação. d) referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais. e) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto. 08. (ENEM) A biosfera, que reú ne todos os ambientes onde se desenvolvem os seres vivos, se divide em unidades menores chamadas ecossistemas, que podem ser uma tem mú ltiplos mecanismos que regulam o nú mero de organismos dentro dele, controlando sua reproduç ã o, crescimento e migraç õ es. DUARTE, M. O guia dos curiosos. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 1995. Predomina no texto a funç ã o da linguagem a) emotiva, porque o autor expressa seu sentimento em relaç ã o à ecologia. b) fá tica, porque o texto testa o funcionamento do canal de comunicaç ã o. c) poé tica, porque o texto chama a atenç ã o para os recursos de linguagem. d) conativa, porque o texto procura orientar comportamentos do leitor. e) referencial, porque o texto trata de noç õ es e informaç õ es conceituais. 09. (ENEM) TEXTO I Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou. LIMA, C. H. R. Gramática normativa da língua portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989. TEXTO II Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie — nem sequer mental ou de sonho —, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida. PESSOA, F. O livro do desassossego. São Paulo: Brasiliense, 1986. A linguagem cumpre diferentes funções no processo de comunicação. A função que predomina nos textos I e II a) destaca o “como” se elabora a mensagem, considerando-se a seleção, combinação e sonoridade do texto. b) coloca o foco no “com o quê” se constrói a mensagem, sendo o código utilizado o seu próprio objeto. c) focaliza o “quem” produz a mensagem, mostrando seu posicionamento e suas impressões pessoais. d) orienta-se no “para quem” se dirige a mensagem, estimulando a mudança de seu comportamento. e) enfatiza sobre “o quê” versa a mensagem, apresentada com palavras precisas e objetivas. 10. (ENEM) Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. No poema de Manuel Bandeira, há uma ressignifi cação de elementos da função referencial da linguagem pela a) atribuição de título ao texto com base em uma notícia veiculada em jornal. b) utilização de frases curtas, características de textos do gênero jornalístico. c) indicação de nomes de lugares como garantia da veracidade da cena narrada. d) enumeração de ações, com foco nos eventos acontecidos à personagem do texto. e) apresentação de elementos próprios da notícia, tais como quem, onde, quando e o quê. 11. O texto é uma propaganda de um adoçante que tem o seguinte mote: Mude sua embalagem. A estratégia que o autor utiliza para o convencimento do leitor baseia- se no emprego de recursos expressivos, verbais e não verbais, com vistas a: a) ridicularizar a forma física do possível cliente do produto anunciado, aconselhando-o a uma busca de mudanças estéticas; b) enfatizar a tendência da sociedade contemporânea de buscar hábitos alimentares saudáveis, reforçando tal postura. c) criticar o consumo excessivo de produtos industrializados por parte da população, propondo a redução desse consumo; d) associar o vocábulo “açúcar” à imagem do corpo fora de forma, sugerindo a substituição desse produto pelo adoçante; e) relacionar a imagem do saco de açúcar a um corpo humano que não desenvolve atividades físicas, incentivando a prática esportiva. 12. As atrizes Naturalmente Ela sorria Mas não me dava trela Trocava a roupa Na minha frente E ia bailar sem mais aquela Escolhia qualquer um Lançava olhares Debaixo do meu nariz Dançava colada Em novos pares Com um pé atrás Com um pé a fi m Surgiram outras Naturalmente Sem nem olhar a minha cara Tomavam banho Na minha frente Para sair com outro cara Porém nunca me importei Com tais amantes [...] Com tantos fi lmes Na minha mente É natural que toda atriz Presentemente represente Muito para mim CHICO BUARQUE. Carioca. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2006 (fragmento) PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 05 FUNÇÕES DA LINGUAGEM 115 INTERPRETAÇÃO Na canção, Chico Buarque trabalha uma determinada função da linguagem para marcar a subjetividade do eu lírico ante as atrizes que ele admira. A intensidade dessa admiração está marcada em: a) "Naturalmente/ Ela sorria/ Mas não me dava trela". b) "Tomavam banho/ Na minha frente/ Para sair com outro cara". c) "Surgiram outras/ Naturalmente/ Sem nem olhar a minha cara". d) "Escolhia qualquer um/ Lançava olhares/ Debaixo do meu nariz". e) "É natural que toda atriz/ Presentemente represente/ Muito para mim". 13. Entre as funções de um cartaz, está a divulgação de campanhas. Para cumprir essa função, as palavras e as imagens desse cartaz estão combinadas de maneira a a) evidenciar as formas de contágio da tuberculose. b) mostrar as formas de tratamento da doença. c) discutir os tipos da doença com a população. d) alertar a população em relação à tuberculose. e) combater os sintomas da tuberculose. 14. 14 coisas que você não deve jogar na privada Nem no ralo. Elas poluem rios, lagos e mares, o que contamina o ambiente e os animais. Também deixa mais difícil obter a água que nós mesmos usaremos. Alguns produtos podem causar entupimentos: • cotonete e fi o dental; • medicamento e preservativo; • óleo de cozinha; • ponta de cigarro; • poeira de varrição de casa; • fi o de cabelo e pelo de animais; • tinta que não seja à base de água; • querosene, gasolina, solvente, tíner. Jogue esses produtos no lixo comum. Alguns deles, como óleo de cozinha, medicamento e tinta, podem ser levados a pontos de coleta especiais, que darão a destinação fi nal adequada. MORGADO, M.; EMASA. Manual de etiqueta. Planeta Sustentável, jul.-ago. 2013 (adaptado). O texto tem objetivo educativo. Nesse sentido, além do foco no interlocutor, que caracteriza a função conativa da linguagem, predomina também nele a função referencial, que busca a) despertar no leitor sentimentos de amor pela natureza, induzindo-o a ter atitudes responsáveis que benefi ciarão a sustentabilidade do planeta. b) informar o leitor sobre as consequências da destinaçãoinadequada do lixo, orientando-o sobre como fazer o correto descarte de alguns dejetos. c) transmitir uma mensagem de caráter subjetivo, mostrando exemplos de atitudes sustentáveis do autor do texto em relação ao planeta. d) estabelecer uma comunicação com o leitor, procurando certifi car-se de que a mensagem sobre ações de sustentabilidade está sendo compreendida. e) explorar o uso da linguagem, conceituando detalhadamente os termos utilizados de forma a proporcionar melhor compreensão do texto. 15. TEXTO 1 TEXTO 2 Como já visto, a propaganda emprega a função apelativa numa intenção persuasiva. É o que acontece com esta propaganda do projeto “Brasil — um país de todos”: Nessa propaganda, para expressar a necessidade de erradicação do trabalho escravo, as ferramentas apresentam um valor simbólico representado como: a) armas de defesa que sugerem medo de transformações; b) grades de prisão que marcam a intensidade da exploração; c) instrumentos de luta que mostram o poder dos exploradores; d) objetos de tortura que expressam a insignifi cância do trabalho. 16. (EPCAR (AFA) 2020) Em 1934, um redator de Nova York chamado Robert Pirosh largou o emprego bem remunerado numa agência de publicidade e rumou para Hollywood, decidido a trabalhar como roteirista. Lá chegando, anotou o nome e o endereço de todos os diretores, produtores e executivos que conseguiu encontrar e enviou-lhes o que certamente é o pedido de emprego mais efi caz que alguém já escreveu, pois resultou em três entrevistas, uma das quais lhe rendeu o cargo de roteirista assistente na MGM. Prezado senhor: Gosto de palavras. 1Gosto de palavras gordas, untuosas, como lodo, torpitude, glutinoso, bajulador. Gosto de palavras solenes, como pudico, ranzinza, pecunioso, valetudinário. 2Gosto de palavras espúrias, enganosas, como mortiço, liquidar, tonsura, mundana. Gosto de suaves palavras com “V”, como Svengali, avesso, bravura, verve. Gosto de palavras crocantes, quebradiças, crepitantes, como estilha, croque, esbarrão, crosta. 3Gosto de palavras emburradas, carrancudas, amuadas, como furtivo, macambúzio, escabioso, sovina. 4Gosto de palavras chocantes, exclamativas, enfáticas, como astuto, estafante, requintado, horrendo. Gosto de palavras elegantes, rebuscadas, como estival, peregrinação, Elísio, PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR116 INTERPRETAÇÃO 05 FUNÇÕES DA LINGUAGEM Alcíone. Gosto de palavras vermiformes, contorcidas, farinhentas, como rastejar, choramingar, guinchar, gotejar. Gosto de palavras escorregadias, risonhas, como topete, borbulhão, arroto. Gosto mais da palavra roteirista que da palavra redator, e por isso resolvi largar meu emprego numa agência de publicidade de Nova York e tentar a sorte em Hollywood, mas, antes de dar o grande salto, fui para a Europa, onde passei um ano estudando, contemplando e perambulando. Acabei de voltar e ainda gosto de palavras. Posso trocar algumas com o senhor? Robert Pirosh Madison Avenue, 385 Quarto 610 Nova York Eldorado 5-6024. (USHER, Shaun .(Org) Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis. Trad. de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.p. 48.) Analisando a forma e o objetivo do texto, é correto afirmar que a) a linguagem utilizada é acentuadamente formal, já que o remetente está em um contexto que necessita desse tipo de tratamento. b) para convencer o destinatário, Robert utilizou, ao longo da carta, discurso direto, caracterizando assim um tom de proximidade e amizade com o receptor. c) o texto é marcadamente denotativo, possibilitando ao destinatário perceber a versatilidade linguística do remetente. d) a carta se utiliza de elementos da função emotiva – centrada no emissor – ainda que a intenção predominante do autor seja a função apelativa – conquistar o receptor. 17. (PUCSP 2017) Segundo o crítico Araripe Jr., referindo-se à produção de Alencar no romance Iracema, “os assuntos pouco interessavam à sua musa fértil; a linguagem era tudo”. Ou seja, o como se diz é mais importante do que aquilo que se diz. Assim, é correto afirmar que, na linguagem da obra, a) predomina a função poética, ou seja, a que se volta para a construção do texto, a partir dos aprocedimentos de seleção e combinação vocabular, marcado por princípio estético. b) predomina a função emotiva, em detrimento da referencial, já que é sob a ótica de Iracema que se constrói a narrativa. c) a função referencial, de caráter histórico, é que dá chão firme para o desenvolvimento do romance que alegoriza a fundação do Ceará. d) há largo uso da função apelativa, visto que é forte a intervenção do narrador sobre os sentimentos das personagens. 18. (EPCAR (CPCAR) 2017) Leia o texto a seguir e responda à questão. O Sal da Terra Anda! Quero te dizer nenhum segredo Falo desse chão, da nossa casa Vem que tá na hora de arrumar Tempo! Quero viver mais duzentos anos Quero não ferir meu semelhante Nem por isso quero me ferir Vamos precisar de todo mundo Pra banir do mundo a opressão Para construir a vida nova Vamos precisar de muito amor A felicidade mora ao lado E quem não é tolo pode ver A paz na Terra, amor O pé na terra A paz na Terra, amor O sal da Terra! És o mais bonito dos planetas Tão te maltratando por dinheiro Tu que és a nave nossa irmã Canta! Leva tua vida em harmonia E nos alimenta com seus frutos Tu que és do homem, a maçã Vamos precisar de todo mundo Um mais um é sempre mais que dois Pra melhor juntar as nossas forças É só repartir melhor o pão Recriar o paraíso agora Para merecer quem vem depois Deixa nascer, o amor Deixa fluir, o amor Deixa crescer, o amor Deixa viver, o amor O sal da terra GUEDES, Beto. www.mundojovem.com.br/musicas/o-sal-da-terra-beto-guedestransito. Acesso em 18/04/2016. Assinale a opção que contém uma informação correta sobre a canção “O Sal da Terra”. a) A função apelativa é predominante no texto. b) Apenas a linguagem padrão foi empregada em toda a canção. c) Foi utilizado, no texto, apenas pronome de segunda pessoa gramatical para se referir à Terra. d) A canção foi escrita apenas para dois interlocutores: a Terra e o Tempo. 19. (IFCE 2016) Leia os textos abaixo e indique a alternativa que contém, respectivamente, a classificação correta quanto à função da linguagem neles predominante. Texto I “Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor de cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos.” (Carlos Drummond de Andrade) Texto II “Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais”. (Clarice Lispector) Texto III a) Referencial – apelativa – poética. b) Fática – poética – apelativa. c) Metalinguística – emotiva – poética. d) Poética – metalinguística – emotiva. e) Metalinguística – referencial – emotiva. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 05 FUNÇÕES DA LINGUAGEM 117 INTERPRETAÇÃO 20. (IFSP 2016) Observe o texto adaptado abaixo. O zika vírus foi identificado no Brasil pela primeira vez no final de abril por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pertencente à mesma família dos vírus da dengue e da febre amarela, o zika é endêmico de alguns países da África e do sudeste da Ásia. Veja perguntas e respostas sobre a doença: Como ocorre a transmissão? Assim como os vírus da dengue edo chikungunya, o zika também é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. A prevenção, portanto, segue as mesmas regras aplicadas a essas doenças. Evitar a água parada, que os mosquitos usam para se reproduzir, é a principal medida. Quais são os sintomas? Os principais sintomas da doença provocada pelo zika vírus são febre intermitente, erupções na pele, coceira e dor muscular. Segundo a infectologista Rosana Richtmann, a boa notícia é que o zika vírus é muito menos agressivo que o vírus da dengue: não há registro de mortes relacionadas à doença. A evolução é benigna e os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente em um período de 3 até 7 dias. Como é o tratamento? Não há vacina nem tratamento específico para a doença. Segundo informações do Ministério da Saúde, os casos devem ser tratados com o uso de paracetamol ou dipirona para controle da febre e da dor. Assim como na dengue, o uso de ácido acetilsalicílico (aspirina) deve ser evitado por causa do risco aumentado de hemorragias. É correto afirmar que, no que tange às funções da linguagem, o texto acima é um exemplo de Função a) Referencial ou Denotativa. b) Expressiva ou Emotiva. c) Apelativa ou Conativa. d) Fática. e) Metalinguística 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UFU 2018) Considerando-se o total de 140.350 relatos de violência à Central de Atendimento à Mulher, escreva um parágrafo com, no máximo 10 linhas, a partir do texto II, cuja função da linguagem predominante seja a referencial. 02. (UFPE 2013) Em todo texto, predomina uma determinada finalidade comunicativa. Escreva um comentário, no qual você apresente a finalidade comunicativa predominante no texto acima, e pelo menos três características ou recursos da linguagem nele utilizada, em função dessa finalidade. 03. (UFU 2016) O Brasil conheceu em 2015 a pior epidemia de dengue de sua história. Segundo o Ministério da Saúde, foram notificados mais de 1,5 milhão de possíveis casos da doença, que resultaram em 811 mortes. Viu, além disso, a chegada do vírus zika, que rapidamente se espraia pelo território. Dados oficiais estimam em ao menos 500 mil o número de possíveis contaminações por esse agente infeccioso. A princípio considerado pouco perigoso, o zika tornou-se motivo de inquietação após ser confirmada a relação entre o vírus e o nascimento de bebês com microcefalia. Tais números evidenciam as diversas falhas no combate ao mosquito transmissor dos dois patógenos, o famigerado Aedes aegypti. Como se não bastasse, é provável que esse quadro se agrave em 2016. Dados oficiais mostram 199 municípios sob risco de novas epidemias de dengue, zika e chikungunya e 665 em situação de alerta – cifras mais expressivas do que as registradas no ano passado. Diante de tal situação, seria de se esperar que as autoridades buscassem com máxima presteza todos os meios para enfrentar a doença e o seu transmissor. O sentido de urgência, entretanto, parece não contaminar a burocracia nacional. Folha de S. Paulo, 11 de dezembro de 2015 (fragmento). Com base no texto acima, faça o que se pede. Qual é a função da linguagem predominante desse texto, levando em consideração os recursos linguísticos empregados pelo autor? Justifique sua resposta com fragmentos do texto. 04. (FUVEST 2010) Leia estas duas estrofes da conhecida canção “Asa-Branca”, de Luís Gonzaga e Humberto Teixeira. Quando olhei a terra ardendo Qual fogueira de São João, Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação. Quando o verde dos teus olhos se espalhar na plantação, eu te asseguro, não chores não, viu, eu voltarei, viu, meu coração. a) Na segunda estrofe, substitua a palavra “viu” por outra que cumpra a mesma função comunicativa que ela tem no texto. b) Nessas estrofes, os únicos recursos poéticos utilizados são rima e ritmo? Justifique sua resposta. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR118 INTERPRETAÇÃO 05 FUNÇÕES DA LINGUAGEM 05. (UERJ 2005) TEXTO I COPLAS1 I O GERENTE - Este hotel está na berra2! Coisa é muito natural! Jamais houve nesta terra Um hotel assim mais tal! Toda a gente, meus senhores, Toda a gente ao vê-lo diz: Que os não há superiores Na cidade de Paris! Que belo hotel excepcional O Grande Hotel da Capital Federal! CORO - Que belo hotel excepcional, etc... II O GERENTE - Nesta casa não é raro Protestar algum freguês: Acha bom, mas acha caro Quando chega o fim do mês. Por ser bom precisamente, Se o freguês é do bom-tom Vai dizendo a toda a gente Que isto é caro mas é bom. Que belo hotel excepcional! O Grande Hotel da Capital Federal! CORO - Que belo hotel excepcional, etc... O GERENTE (Aos criados) - Vamos! Vamos! Aviem-se! Tomem as malas e encaminhem estes senhores! Mexam-se! Mexam-se!... (Vozerio. Os hóspedes pedem quarto, banhos, etc... Os criados respondem. Tomam as malas, saem todos, uns pela escadaria, outros pela direita.) CENA II O GERENTE, depois, FIGUEIREDO O GERENTE (Só.) - Não há mãos a medir! Pudera! Se nunca houve no Rio de Janeiro um Hotel assim! Serviço elétrico de primeira ordem! Cozinha esplêndida, música de câmara durante as refeições da mesa redonda! Um relógio pneumático em cada aposento! Banhos frios e quentes, duchas, sala de natação, ginástica e massagem! Grande salão com um plafond3 pintado pelos nossos primeiros artistas! Enfim, uma verdadeira novidade! - Antes de nos estabelecermos aqui, era uma vergonha! Havia hotéis em S. Paulo superiores aos melhores do Rio de Janeiro! Mas em boa hora foi organizada a Companhia do Grande Hotel da Capital Federal, que dotou esta cidade com um melhoramento tão reclamado! E o caso é que a empresa está dando ótimos dividendos e as ações andam por empenhos! (Figueiredo aparece no topo da escada e começa a descer.) Ali vem o Figueiredo. Aquele é o verdadeiro tipo do carioca: nunca está satisfeito. Aposto que vem fazer alguma reclamação. (AZEVEDO, Arthur. A Capital federal. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1972.) 1espécie de estrofe 2estar na moda 3teto O texto I faz parte de uma peça de teatro, forma de expressão que se destacou na captação das imagens de um Rio de Janeiro que se modernizava no início do século XX. a) Aponte o gênero de composição em que se enquadra esse texto e um aspecto característico desse gênero. b) A fala do gerente revela atitudes distintas, quando se dirige aos criados e quando está só. Identifique o modo verbal e a função da linguagem predominantes na fala dirigida aos criados. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. B 02. C 03. E 04. A 05. B 06. D 07. E 08. E 09. B 10. E 11. D 12. E 13. D 14. B 15. B 16. D 17. A 18. A 19. C 20. A EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. Para atender às exigências da linguagem referencial, as ocorrências relatadas à Central de Atendimento à Mulher, que infringem as disposições legais enunciadas no texto I, o parágrafo deve apresentar objetividade, imparcialidade e clareza. Como sugestão, poderia ser redigido o seguinte: O gráfico apresentado revela que o percentual de relatos relativos à violência física supera todos os outros que atingem a mulher de variadas formas. A violência psicológica, forma subjetiva de agressão por ferir a autoestima, abrange um terço das ocorrências, em um universo em que figuram também as de ordem moral e sexual, assim como as que resultam em cárcere privado, violação de patrimônio e tráfico de pessoas. 02. O conteúdo do texto e o próprio título, associados à fotografia de um jovem com síndrome de Down, incitam o receptor da mensagem a participar na construção de um mundo mais justo, aceitando a diversidade, a convivência pacífica com as diferenças e a união cada vez maior dos que abraçam essa causa. Assim, a função conativa ou apelativa, cujo objetivo é de influenciar e convencer o receptor de alguma coisa por meio de uma ordem ou pedido, usa verbos no imperativo (“mostre”, “junte”, “seja”) ou conjugados na 3ª pessoa, enfaticamente repetidos na expressão “se você acredita”, para defender a inclusãosocial das pessoas portadoras dessa deficiência e,assim, ajudar a construção de um mundo mais justo. 03. A função da linguagem predominante no trecho é referencial, uma vez que o destaque dado pelo autor é o assunto. Portanto, são esperados fatos concretos (“O Brasil conheceu em 2015 a pior epidemia de dengue de sua história. Segundo o Ministério da Saúde, foram notificados mais de 1,5 milhão de possíveis casos da doença, que resultaram em 811 mortes.”) descritos de forma objetiva e impessoal (“A princípio considerado pouco perigoso, o zika tornou-se motivo de inquietação após ser confirmada 04. a) No contexto, o termo “viu” assinala a função fática da linguagem em que o emissor deseja chamar a atenção do receptor para se certificar que existe contato entre ambos e equivale a tá? ouviu? entendeu? b) Além da rima e do ritmo marcado pelo predomínio do verso redondilho maior, o poeta usou figuras de estilo que traduzem a sua emoção: decepção, na primeira estrofe e anseio de regresso, na segunda. A comparação (“a terra ardendo/Qual fogueira de São João”), a metáfora (“Quando o verde dos teus olhos/se espalhar na plantação”) e a metonímia (”meu coração”) revelam a preocupação do eu lírico em transmitir sentimentos de forma original e concisa, como é típico da linguagem poética. 05. a) Gênero dramático. Podemos citar como características desse gênero: - ausência de narrador - presença de rubricas - predomínio de diálogos - personagens encarnados por atores - encenação dos episódios em um palco b) Modo imperativo. Função apelativa ou conativa. ANOTAÇÕES INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 119PROENEM.COM.BR PALAVRAS DENOTATIVAS06 A gramática usualmente apresenta dez classes gramaticais nas quais insere as palavras por conta de sua flexão, uso e relação com outras palavras. Entretanto, alguns vocábulos não se enquadram em nenhuma das dez categorias, ainda que sejam utilizadas normalmente em nosso dia a dia. São termos semelhantes a advérbios, mas que, por não exprimirem exatamente uma circunstância, classificam-se à parte, sem uma categoria particular. O termo “denotativo” refere-se a uma significação plena, literal; denotar significa caracterizar ou demonstrar. Assim, uma palavra denotativa indica um significado preciso, sem que esteja funcionando como uma das dez classes gramaticais. Esses significados são úteis e auxiliares na construção da textualidade, já que funcionam como modalizadores do discurso ou mesmo como mecanismos de coesão. Na verdade, chega a ser mais correto nomear esses termos como palavras e expressões denotativas, já que muitas vezes se constituem de vários vocábulos combinados, em lugar de apenas um vocábulo. Entre as diversas significações que assumem dentro dos mais variados contextos, podem denotar, entre outras: Inclusão até, inclusive, mesmo, também, até mesmo, além disso. Exclusão apenas, salvo, senão, nem sequer, só, somente. Afastamento embora. Designação eis. Realce cá, lá, é que, só. Retificação aliás, ou antes, isto é, ou melhor. Situação afinal, então, aí. PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Explique o que significa uma palavra em seu uso denotativo 02. Identifique a diferença entre o uso de palavras em sentido denotativo e conotativo. 03. Apresente dois exemplos de frases em seu sentido denotativo. 04. Justifique por que a palavra usada na frase ao lado está sem sentido denotativo: “O homem chorou rios e rios de lágrima.” 05. Explique por que os significados das palavras denotativas são uteis para a construção do texto. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. Observe o emprego da palavra então em: “Ela o trouxe pela mão até a cozinha. Ele não se queria deixar ir. Então, o que queres fazer aqui? Ele respondeu: quero a mulher.“ Nelida Piñon O mesmo sentido da palavra então ocorre na alternativa: a) “Ele ainda herói bateu algumas vezes mais. Até que gritou seu nome, sou eu, então não vê, então não sente (...)” (Nelida Piñon) b) “Mas eis que Portugal se faz aos mares! E raras são então as armadas e os combates do Oriente em que se não esforce um Ramires (...)” (Eça de Queirós) c) “No fim da tarde do dia 12 de fevereiro de 1970, eu, então com 13 anos, estava caminhando pela praia de Torres, no Rio Grande do Sul.” (Luis Fernando Veríssimo) d) “A luz da sala parecia então mais amarela e mais rica, as pessoas envelhecidas.” (Clarice Lispector) e) “Na hora da pílula lilás ela foi buscar o copo d’água e então ele me olhou lá do seu mundo de estruturas.” (Lygia Fagundes Telles) 02. Assinale a alternativa em que a palavra “só” classifica-se como palavra denotativa: a) Ele sentia-se muito só em casa. b) Dentre todas as pessoas presentes, só ele levantou a mão. c) Ele apresentou-se só diante da plateia. d) Só, não conseguia ajuda para consertar o telhado. e) Mesmo em meio àquela multidão, só, era como se sentia. 03. Assinale a alternativa em que a palavra “embora” classifica-se como palavra denotativa: a) Embora chovesse, todos foram à praia. b) Não havia muita gente, embora o evento tivesse sido divulgado. c) Ir embora é a melhor opção quando não se quer esperar. d) Fazíamos tudo na casa, embora não reclamássemos. 04. A partícula “é que” indica realce em: a) A verdade é que vamos vencer! b) Isso é que é filme! c) A profecia da vidente é que seremos felizes. d) Toda a nossa expectativa é que a chuva caia sobre o sertão. 05. Assinale a alternativa em que o termo sublinhado seja uma palavra ou expressão denotativa: a) Eis que surge um policial para evitar o crime. b) Ainda que haja resistência, é necessário seguir em frente. c) O ideal é que todos assumam suas responsabilidades. d) Não houve qualquer problema, embora todos esperassem o pior. e) Depois de um dia duro de trabalho, enfim estava só e poderia descansar. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR120 INTERPRETAÇÃO 06 PALAVRAS DENOTATIVAS 06. Assinale a opção em as palavras / locuções denotativas NÃO foram bem classificadas: a) A palavra se, por exemplo, pode ter muitas funções. (de explicação) b) Todos saíram, exceto o vigia. (de exclusão) c) Mesmo eu não sabia de nada! (de inclusão) d) Ele também participou da homenagem. (de inclusão) e) O pároco, isto é, o vigário da nossa paróquia esteve aqui. (de adição) 07. Bode no pasto Quase ninguém duvidou do saber do homem, do seu poder mágico, pois andava com uns livros de história, de magia, com versões sobre fatos reais, mistérios, ciências ocultas. Até mesmo os céticos, críticos, admitiam sua condição de mestre, de domínio da arte, da mágica, reflexo de vivências no país e no mundo. Então visto como sábio, senhor de poderes ocultos, o homem prometeu uma façanha, ou seja, domar bodes, mudar o hábito da espécie. Aí pegou umas folhas, esfregou na venta dum cabrito, e garantiu que a praga estava eliminada, nunca mais faria estragos naquela terra. (…) (Nagib Jorge Neto. Diário de Pernambuco. 20 / 11/ 98) As palavras destacadas no texto estabelecem, respectivamente, as seguintes relações lógicas: a) soma, soma, conclusão b) inclusão, explicação, situação c) exclusão, retificação, lugar d) soma, ratificação, tempo e) inclusão, retificação, conclusão 08. “Aliás – descubro eu agora – também eu não faço a menor falta, e até o que escrevo um outro escreveria. Um outro escritor, sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas.” (Clarice Lispector, A hora da estrela.) As palavras sublinhadas no texto estabelecem, respectivamente, as seguintes relações lógicas: a) designação, inclusão, exclusão b) situação, realce, inclusão c) retificação, situação, situação d) situação, situação, realce e) retificação, inclusão, inclusão 09. Assinale a alternativa em que o termo sublinhado classifique- se como “palavra denotativa”: a) Eu lá que vou saber! b) Venha cá, menino! c) Tenho medo de ir lá longe. d) O livro está aí na prateleira. 10. O termo sublinhado representa uma palavra denotativa em: a) O menino foi salvo pelos bombeiros. b)Ele tinha muito medo das histórias do além. c) Ele até fugiu da sala com medo! d) Mesmo triste, voltou ao palco. 11. Atleta de Bengala O tigre-de-bengala não tem esse nome porque precisa de ajuda para andar. Ele é chamado assim só porque mora na região de Bengala, na Ásia. Aliás, ele salta e corre muito bem e é um grande caçador. Essa espécie chega a medir quase 4 metros da cabeça até o fim da cauda e pode pesar até 250 quilos. As palavras denotativas servem para apresentar um sentido real, literal de uma palavra ou de uma expressão que não se encaixa, no contexto da oração, a uma classe de palavra. Observe o trecho abaixo, extraído do texto: "Essa espécie chega a medir quase 4 metros da cabeça até o fim da cauda e pode pesar até 250 quilos." Considerando o termo destacado acima, pode-se observar um valor de: a) explicação b) inclusão c) adição d) realce e) aproximação 12. Em “Podemos até dançar.”, o elemento em destaque apresenta sentido de a) inclusão. b) conclusão. c) tempo. d) delimitação. e) modo. 13. Bode no Pasto Quase ninguém duvidou do saber do homem, do seu poder mágico, pois andava com uns livros de história, de magia, com versões sobre fatos reais, mistérios, ciências ocultas. Até mesmo os céticos, críticos, admitiam sua condição de mestre, de domínio da arte, da mágica, reflexo de vivências no país e no mundo. Então visto como sábio, senhor de poderes ocultos, o homem prometeu uma façanha, ou seja, domar bodes, mudar o hábito da espécie. Aí pegou umas folhas, esfregou na venta dum cabrito, e garantiu que a praga estava eliminada, nunca mais faria estragos naquela terra. (…) (Nagib Jorge Neto. Diário de Pernambuco. 20 / 11/ 98) As palavras destacadas no texto estabelecem, respectivamente, as seguintes relações lógicas: a) explicação, soma, comparação, soma, conclusão b) causa, inclusão, comparação, explicação, situação c) causa, exclusão, conformidade, retificação, tempo d) conclusão, soma, conformidade, ratificação, tempo e) explicação, inclusão, causa, retificação, conclusão 14. Assinale a opção em que o termo destacado não identifica rigorosamente o que está indicado após o enunciado: a) O pedreiro precisa fazer esse trabalho. Aliás eu já lhe paguei por isso. — retificação. b) Todos me acusaram e se opuseram às minhas ideias. Até você ficou contra mim. — inclusão. c) No quintal é que vocês podem fazer a festa. — restrição. d) Deixe brincar no balanço somente as crianças. — seleção. e) Era para pegar peixe que íamos até o açude. — restrição. 15. Leia as estrofes a seguir: Qual não é sua surpresa Ao ver à sua oração A rosa branca ir ficando Rubra de indignação É que a rosa, além de branca (Diga-se isso a bem da rosa) Era da espécie mais franca E da seiva mais raivosa. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 06 PALAVRAS DENOTATIVAS 121 INTERPRETAÇÃO Nos versos acima, a locução É que denota: a) designação. b) explicação. c) inclusão. d) realce. e) retificação. 16. Somente uma crise muito séria faria o presidente desistir de enfrentar o protocolo que ele tanto aprecia. Para falar a verdade, nem chega a haver uma crise específica na vida nacional.(...) Tampouco o problema de violência é novo, é endêmico, nada tem de epidêmico. Pessoalmente, acho que Lula se sai muito bem quando viaja: destaca o Brasil como um país diferente dos outros, no bem e no mal, – e a eleição de Lula, em tese, foi um bem, do qual podemos nos orgulhar.” (Carlos H. Cony - F.S.P.- 04/08/03) Na crônica acima, “No outro lado da rua”, Carlos H. Cony comenta o adiamento da viagem de Lula à África e aventa uma hipótese explicativa: Destacamos dois elementos que caracterizam a presença do enunciador no enunciado: “Para falar a verdade” e “Pessoalmente”. Assinale o valor que esses marcadores indicam, respectivamente: a) explicação e explicação. b) restrição e ênfase. c) ênfase e restrição. d) oposição e explicação. e) explicação e oposição. 02. (ITA – ADAPTADA) Com um pouco de exagero, costumo dizer que todo jogo é de azar. Falo assim referindo-me ao futebol que, ao contrário da roleta ou da loteria, implica tática e estratégia, sem falar no principal, que é o talento e a habilidade dos jogadores. Apesar disso, não consegue eliminar o azar, isto é, o acaso. E já que falamos em acaso, vale lembrar que, em francês, “acaso” escreve-se “hasard”, como no célebre verso de Mallarmé, que diz: “um lance de dados jamais eliminará o acaso”. Ele está, no fundo, referindo- se ao fazer do poema que, em que pese a mestria e lucidez do poeta, está ainda assim sujeito ao azar, ou seja, ao acaso. Se no poema é assim, imagina numa partida de futebol, que envolve 22 jogadores se movendo num campo de amplas dimensões. Se é verdade que eles jogam conforme esquemas de marcação e ataque, seguindo a orientação do técnico, deve-se no entanto levar em conta que cada jogador tem sua percepção da jogada e decide deslocar-se nesta ou naquela direção, ou manter-se parado, certo de que a bola chegará a seus pés. Nada disso se pode prever, daí resultando um alto índice de probabilidades, ou seja, de ocorrências imprevisíveis e que, portanto, escapam ao controle. Tomemos, como exemplo, um lance que quase sempre implica perigo de gol: o tiro de canto. Não é à toa que, quando se cria essa situação, os jogadores da defesa se afligem em anular as possibilidades que têm os adversários de fazerem o gol. Sentem- se ao sabor do acaso, da imprevisibilidade. O time adversário desloca para a área do que sofre o tiro de canto seus jogadores mais altos e, por isso mesmo, treinados para cabecear para dentro do gol. Isto reduz o grau de imprevisibilidade por aumentar as possibilidades do time atacante de aproveitar em seu favor o tiro de canto e fazer o gol. Nessa mesma medida, crescem, para a defesa, as dificuldades de evitar o pior. Mas nada disso consegue eliminar o acaso, uma vez que o batedor do escanteio, por mais exímio que seja, não pode com precisão absoluta lançar a bola na cabeça de determinado jogador. Além do mais, a inquietação ali na área é grande, todos os jogadores se movimentam, uns tentando escapar à marcação, outros procurando marcá-los. Essa movimentação, multiplicada pelo número de jogadores que se movem, aumenta fantasticamente o grau de imprevisibilidade do que ocorrerá quando a bola for lançada. A que altura chegará ali? Qual jogador estará, naquele instante, em posição propícia para cabeceá-la, seja para dentro do gol, seja para longe dele? Não existe treinamento tático, posição privilegiada, nada que torne previsível o desfecho do tiro de canto. A bola pode cair ao alcance deste ou daquele jogador e, dependendo da sorte, será gol ou não. Não quero dizer com isso que o resultado das partidas de futebol seja apenas fruto do acaso, mas a verdade é que, sem um pouco de sorte, neste campo, como em outros, não se vai muito longe; jogadores, técnicos e torcedores sabem disso, tanto que todos querem se livrar do chamado “pé frio”. Como não pretendo passar por supersticioso, evito aderir abertamente a essa tese, mas quando vejo, durante uma partida, meu time perder “gols feitos”, nasce-me o desagradável temor de que aquele não é um bom dia para nós e de que a derrota é certa. Que eu, mero torcedor, pense assim, é compreensível, mas que dizer de técnicos de futebol que vivem de terço na mão e medalhas de santos sob a camisa e que, em face de cada lance decisivo, as puxam para fora, as beijam e murmuram orações? Isso para não falar nos que consultam pais-de-santo e pagam promessas a Iemanjá. É como se dissessem: treino os jogadores, traço o esquema de jogo, armo jogadas, mas, independentemente disso, existem forças imponderáveis que só obedecem aos santos e pais- de-santo; são as forças do acaso. Mas não se pode descartar o fator psicológico que, como se sabe, atua sobre os jogadores de qualquer esporte; tanto isso é certo que, hoje, entre os preparadores das equipes há sempreum psicólogo. De fato, se o jogador não estiver psicologicamente preparado para vencer, não dará o melhor de si. Exemplifico essa crença na psicologia com a história de um técnico inglês que, num jogo decisivo da Copa da Europa, teve um de seus jogadores machucado. Não era um craque, mas sua perda desfalcaria o time. O médico da equipe, depois de atender o jogador, disse ao técnico: “Ele já voltou a si do desmaio, mas não sabe quem é”. E o técnico: “Ótimo! Diga que ele é o Pelé e que volte para o campo imediatamente”. Na frase, “Apesar disso, não consegue eliminar o azar, isto é, o acaso.”, a utilização da expressão denotativa “isto é” permite entender que “o azar” é: a) consequência do acaso. b) sinônimo de acaso. c) causa do acaso. d) justificação para o acaso. e) o contrário de acaso. 18. Se 01 Você disse que não sabe se não Mas também não tem certeza que sim Quer saber? Quando é assim 05 Deixa vir do coração Você sabe que eu só penso em você Você diz que vive pensando em mim Pode ser se é assim 10 tem que largar a mão do não Soltar essa louca, arder de paixão Não há como doer pra decidir Só dizer sim ou não Mas você adora um se... 15 Eu levo a sério, mas você disfarça Você me diz à beça e eu nessa de horror E me remete ao frio que vem lá do sul Insiste em zero a zero e eu quero um a um Sei lá o que te dá que não quer meu calor R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR122 INTERPRETAÇÃO 06 PALAVRAS DENOTATIVAS 20 São Jorge por favor me empresta o dragão Mais fácil aprender japonês em braile Do que você decidir se dá ou não Assinale a opção em que se faz uma análise inaceitável em relação à estratégia de estruturação do texto acima: a) O uso da palavra “também” (verso 02) pressupõe uma informação que está contida no verso anterior. b) No verso 06, a palavra “só” introduz uma ideia de seleção de um fato entre outros potencialmente possíveis. c) A palavra “só”, no verso 13, introduz uma noção de restrição em relação a outras situações pressupostas. d) A palavra “lá” (verso 17) indica noção de explicação. e) A palavra lá (verso 19) traduz apenas uma noção enfática, que a classifica como meramente expletiva. 19. dor de dente Em frente de Sousa Costa, a pretinha Marina, imóvel, se agarra com as duas mãos no banco, estarrecida, boca aberta, olhos esbugalhados, gozando. Como tinham ido ao Rio pelo noturno, esta era realmente a primeira vez que enfim Marina viajava de trem, a sua maior aspiração. Automóvel, jamais a interessara, era canja, não tinha apito. Mesmo pra ir da casinha dela, na chegada de Jundiaí, para a vila Laura, foram buscá-la na Fiat, não tinha apito. E nos seus quatorze anos, Marina guardava aquele deseja eterno com que, todos os dias de sua já longa vida, espiava os trens, trepada no barranco, os trens sublimes passando. A casa do pai dela, carapina em Jundiaí, era justo numa curva de apitar, e o apito nascera dentro dela como a suprema expressão da dignidade dos veículos. Só uma coisa Marina ainda achava superior ao trem: ter dor de dente. Chegara a rezar a Deus pedindo que mandasse uma dor de dente, nem que fosse uma dorzinha só, bem pequenina, porque achava muito lindo a gente andar com um lenço vermelho amarrado na cara. Achava lidíssimo. No tempo em que morava com a família, chegava a chorar de escondido, porque o Dito andava sempre de lenço amarrado na cara, maravilhoso, já todo banguela de tanto dente arrancado com dor. E ela com aquela dentadura branca, alvinha sem uma dor... Chorava. (Mário de Andrade) Identifique a opção em que não ocorre uma palavra denotativa: a) “Mesmo pra ir da casinha dela, na chegada de Jundiaí, para a vila Laura, foram busca-la na Fiat, não tinha apito.” b) “Só uma coisa Marina ainda achava superior ao trem: ter dor de dente.” c) “Chegara a rezar a Deus pedindo que mandasse uma dor de dente, nem que fosse uma dorzinha só, bem pequenina, porque achava muito lindo a gente andar com um lenço vermelho amarrado na cara.” d) “Como tinham ido ao Rio pelo noturno, esta era realmente a primeira vez que enfim Marina viajava de trem, a sua maior aspiração. Automóvel, jamais a interessara, era canja, não tinha apito.” 20. Leia o fragmento abaixo, extraído de uma canção de Gilberto Gil: Sabe, gente Eu sei que no fundo o problema é só da gente É só do coração dizer não quando a mente Tenta nos levar pra casa do sofrer E quando escutar um samba-canção Assim como “Eu preciso aprender a ser só” Reagir e ouvir o coração responder: “Eu preciso aprender a só ser” Identifique o verso em que a palavra “só” foi empregada com sentido e valor diferente das demais: a) Eu sei que no fundo o problema é só da gente b) É só do coração dizer não quando a mente c) Assim como “Eu preciso aprender a ser só” d) “Eu preciso aprender a só ser”05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UFJF 2012) As imagens abaixo ilustram alguns procedimentos utilizados por um novo modo de conhecer e explicar a realidade que se estruturou entre os séculos XVI e XVIII. Com base nas informações acima e em seus conhecimentos, responda ao que se pede: Explique o impacto desse novo modo de conceber o conhecimento sobre os dogmas religiosos vigentes na época. 02. “O casal Arnolfini”, Jan Van Eyck (1389-1441). http://upload.wikimedia.org Sempre que se evoca o tema do Renascimento, a imagem que nos vem à mente é a dos grandes artistas e de suas obras mais famosas. Isso nos coloca a questão: por que razão o Renascimento implica esse destaque tão grande dado às artes visuais? De fato, as artes plásticas acabaram se convertendo num centro de convergência de todas as principais tendências da cultura renascentista. E mais do que isso, acabaram espelhando os impulsos mais marcantes do processo de evolução das relações sociais e mercantis. NICOLAU SEVCENKO Adaptado de O Renascimento. São Paulo: Atual; Campinas: Ed. Unicamp, 1968. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 06 PALAVRAS DENOTATIVAS 123 INTERPRETAÇÃO As diversas manifestações da cultura renascentista na Europa ocidental, entre os séculos XIV e XVI, estiveram relacionadas à criação de novos valores e práticas sociais que se confrontaram com aqueles da sociedade medieval. Cite dois aspectos da cultura renascentista que justifiquem a sua importância para o início dos Tempos Modernos. 03. (UFF 2012) O Renascimento é caracterizado pela valorização do homem, da razão e da ciência, contrapondo-se ao pensamento teocêntrico predominante no período medieval. Esse movimento artístico-cultural contribuiu para o estreitamento das relações entre ciência e arte, como citado no texto: “os cientistas também iriam [...] conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e mesmo a expressão e o sentimento”. Um dos aspectos mais importantes da nova ordem decorrente do Renascimento foi a formação das repúblicas italianas. Dentre elas, se destacaram Florença e Veneza. Essas repúblicas inovaram no sentido das suas formas de governo, assim como na redefinição do lugar do homem no mundo, inspirando a partir daí novas formas de representá-lo. Analise o papel de Veneza no desenvolvimento do comércio europeu, e suas relações com o Oriente. 04. (FUVEST 2011) Observe a imagem e leia o texto a seguir: Michelangelo começou cedo na arte de dissecar cadáveres. Tinha apenas 13 anos quando participou das primeiras sessões. A ligação do artista com a medicina foi reflexo da efervescência cultural e científica do Renascimento. A prática da dissecação, que se encontrava dormente havia 1.400 anos, foi retomada e exerceu influência decisiva sobre a arte que então se produzia. Explique a relação, mencionada no texto, entre artes plásticas e dissecação de cadáveres, no contexto do Renascimento. 05. Identifique, na imagem acima, duas características da arte renascentista. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. A 02. B 03. C 04. B 05. A 06. E 07. B 08. E 09. A 10. C 11. E 12. A 13.B 14. A 15. D 16. B 17. B 18. E 19. D 20. C EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. O estudante poderá destacar, dentre outros: o choque entre as concepções teocêntricas e da Igreja Católica e as baseadas no empirismo e no racionalismo. Também será considerada a identificação das reações que este processo produziu na Igreja, a exemplo do acirramento das perseguições aos adeptos desta nova forma de pensar e da condenação de diversas obras de intelectuais da época. Além de obras condenadas, diversos intelectuais foram condenados e executados na fogueira, destacando-se como principais exemplos Giordano Bruno e Galileu Galilei (que para fugir à condenação negou suas teorias). 02. Entre os séculos XIV e XVI, um conjunto de transformações econômicas, sociopolíticas e culturais contribuiu para a desestruturação dos valores da sociedade medieval no Ocidente europeu. O Renascimento, como movimento filosófico e artístico, e as ideias humanistas. 03. Os candidatos devem explicar o papel vanguardista de Veneza no desenvolvimento do comércio com o Oriente e associar a isso a variedade de produtos colocados na Europa que aumentaram o comércio e expandiram o luxo. Em decorrência disso, foram criadas novas necessidades que ajudaram a alterar as formas econômicas feudais e que levaram às trocas científicas e culturais com o Ocidente. Tais modificações alimentaram mudanças no cenário da ciência, da religião e da arte. 04. Influenciado pelas concepções gregas de humanismo e naturalismo, os renascentistas procuravam reproduzir e valorizar o homem. A dissecação de cadáveres - como mencionada no texto - permitiu maior conhecimento do corpo humano, favorecendo a riqueza de detalhes e fortalecendo o realismo. 05. A valorização do ser humano (antropocentrismo) e a adoção da perspectiva na pintura, associada a novidades como a noção de profundidade e a projeção de luz e sombra ANOTAÇÕES R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR124 INTERPRETAÇÃO 06 PALAVRAS DENOTATIVAS ANOTAÇÕES R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 125PROENEM.COM.BR HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA07 A língua portuguesa compõe um grupo de idiomas chamados “neolatinos”, por serem derivados do Latim, língua oficial do Império Romano, que dominou praticamente toda a Europa durante sete séculos. Ao longo do tempo, especialmente após a queda do Império Romano, o latim sofreu inúmeras mudanças e acabou por transformar-se em uma gama enorme de idiomas, como o italiano, o francês, o romeno, o espanhol, o provençal, o catalão, o sardo, o dalmático, o galego e, claro, nosso português. O latim, introduzido na Península Ibérica em torno do século III AEC, foi a língua oficial da região até a chegada dos invasores germânicos que ficaram na localidade do século V ao VII. A península é invadida pelos muçulmanos em 711 e permanecem por lá até por volta do século X. Apenas no século XII surge o reino de Portugal. Durante toda essa jornada, o latim falado na região sofreu a influência das línguas germânicas, do árabe, além da natural evolução temporal que sofre qualquer idioma falado. Palavras de influência germânica agasalhar, aia, albergue, arrear, bando, brotar, elmo, enguiçar, espeto, espiar, espora, estaca, ganso, garbo, guarda, guerra, íngreme, luva, mofo, roca, sítio, trégua triscar; Palavras de influência árabe Açúcar, alcateia, álcool, alcova, aldeia, alecrim, alfaiate, alface, alfândega, algarismo, algibeira, algoz, almanaque, almofada, alquimia, armazém, arroz, arsenal, auge, azul, damasco, elixir, enxaqueca, esmeralda, fulano, garrafa, girafa, harém, ímã, javali, limão, magazine, masmorra, mesquita, resma, sorvete, sultão, talco, tapete, xadrez, xarope, xaveco, xeque, xerife, zarabatana. Os primeiros textos escritos em português datam do século XIII. Esses registros mostram que a língua portuguesa não se diferencia do galego, idioma utilizado na província da Galícia, que, nos dias de hoje, fica na Espanha. Foi essa língua amalgamada, “galego-português” ou “galaico-português”, que era a “versão do latim” falada na região da Península Ibérica. As primeiras obras do Trovadorismo, como cantigas de amor e cantigas de amigo são registradas nesse “proto” português. Somente por volta de 1350, com a extinção da escola literária galego- portuguesa, que o português se afirma como língua independente, oficializando como a expressão idiomática do Reino de Portugal. A partir do século XV, com a expansão marítima, Portugal começa a levar sua língua ao mundo. Transportada por capitães e fixada junto às conquistas e colonizações, o português chega à África, Ásia, Oceania e, evidentemente, desembarca também no Brasil. É no século XVI que a língua encontra seu “esplendor” renascentista. Os Lusíadas de Camões e a publicação da primeira gramática da língua portuguesa em 1536 por Fernão de Oliveira são marcos significativos que elevam a língua portuguesa a uma organização e expressão extraordinárias. Neste período, era comum que os portugueses nobres e aqueles em campanhas colonizatórias usassem também o espanhol como segunda língua e muitos autores portugueses também escrevem suas obras na língua vizinha. Essa proximidade geográfica, cultural e política acaba por influenciar ambas as línguas ao longo da história. Palavras de influência espanhola Aperrear, boina, bolero, caudilho, cavalheiro, chiste, cordilheira, galã, lagartixa, mantilha, mochila, muleta, pirueta, tijolo A partir do século XVIII, por conta da preponderância econômica, política e cultural da França, o francês passa a ser uma língua de prestígio mundial, contribuindo com diversas expressões que acabaram por ser incorporadas à língua portuguesa. Fato semelhante ocorre a partir do século XX com o inglês, devido, em especial, à influência dos Estados Unidos. Palavras de influência francesa Ateliê, abajur, avenida, bijuteria, bufê, buquê, capô, chance, chassis, chique, chofer, crachá, departamento, envelope, felicitar, greve, guichê, menu, omelete, pose, restaurante, sutiã, toalete, tricô, vitrine. Palavras de influência inglesa Basquetebol, bife, coquetel, detetive, escanear, estartar, filme, futebol, lanche, náilon, nocaute, pulôver, repórter, sanduíche, suéter, xampu. No Brasil, a língua desenvolveu-se com influência das línguas indígenas e das línguas de origem africana, traços sentidos tanto no vocabulário quanto na pronúncia brasileira, que se diferencia da forma de falar dos europeus. Esporadicamente, palavras e termos oriundos de línguas dos imigrantes também se incorporaram ao léxico português. Palavras de influência africana Acarajé, angu, babalaô, batuque, cachumba, cachimbo, caçula, candoblé, cochilar, Exu, fubá, Iemanjá, miçangacamundongo, marimbondo, moleque, quilombo, senzala, tanga. Palavras de influência tupi Abacaxi, arara, capinar, carioca, jabuticaba, jararaca, jiboia, mandioca, Mooca, Niterói, piranha, Tietê, urubu. Palavras de influência italiana Cantina, boletim, carnaval, mortadela, risoto, salsicha, confete, porcelana, banquete, macarrão, cenário, violino, violoncelo, bandolim, sonata, ária, dueto, soprano. Com duzentos milhões de falantes da língua e sua ampla territorialidade, o Brasil é o principal país lusófono. É comum que hoje se diferenciem o português europeu do português brasileiro, dado que apresentam variações significativas nos campos fonético, lexical e sintático. A língua portuguesa, hoje a quinta língua mais falada no mundo em número de falantes, estende seus domínios por todos os continentes, sendo falada oficialmente, além de Brasil e Portugal, em Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Timor Leste, São Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial e Timor Leste. Além disso, regiões como Goa, na Índia, e Macau, na China, também são regiões onde a língua é falada, herança dos tempos das grandes navegações empreendidas pelos portugueses. R ep ro du çã o proi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR126 INTERPRETAÇÃO 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Identifique o nome do grupo ao qual a Língua Portuguesa pertence. 02. Cite em quais aspectos são sentidas as diferenças entre o português europeu e o português brasileiro. 03. Cite cinco palavras de influência africana. 04. Apresente as influências diretas que são sentidas pela Língua Portuguesa do Brasil. 05. Identifique o período em que o latim foi inserido na Península Ibérica. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. (ENEM) A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil, corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portuguesa, paralelo ao que já ocorrera em relação à aplicação do domínio de ter na área semântica de “posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de João de Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com concordância, lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali. Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua. Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma fazer uma avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra? CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente para o passado, In: Cadernos de Letras da UFF, n.° 36, 2008. Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado). Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que a) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica. b) os estudo clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua. c) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma. d) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos linguísticos. e) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística. 02. (ENEM) O léxico e a cultura Potencialmente, todas as línguas de todos os tempos podem candidatar-se a expressar qualquer conteúdo. A pesquisa linguística do século XX demonstrou que não há diferença qualitativa entre os idiomas do mundo – ou seja, não há idiomas gramaticalmente mais primitivos ou mais desenvolvidos. Entretanto, para que possa ser efetivamente utilizada, essa igualdade potencial precisa realizar-se na prática histórica do idioma, o que nem sempre acontece. Teoricamente, uma língua com pouca tradição escrita (como as línguas indígenas brasileiras) ou uma língua já extinta (como o latim ou o grego clássicos) podem ser empregadas para falar sobre qualquer assunto, como, digamos, física quântica ou biologia molecular. Na prática, contudo, não é possível, de uma hora para outra, expressar tais conteúdos em camaiurá ou latim, simplesmente porque não haveria vocabulário próprio para esses conteúdos. É perfeitamente possível desenvolver esse vocabulário específico, seja por meio de empréstimos de outras línguas, seja por meio da criação de novos termos na língua em questão, mas tal tarefa não se realizaria em pouco tempo nem com pouco esforço. BEARZOTI FILHO, P. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa. Manual do professor. Curitiba: Positivo, 2004 (fragmento). Estudos contemporâneos mostram que cada língua possui sua própria complexidade e dinâmica de funcionamento. O texto ressalta essa dinâmica, na medida em que enfatiza a) a inexistência de conteúdo comum a todas as línguas, pois o léxico contempla visão de mundo particular específica de uma cultura. b) a existência de línguas limitadas por não permitirem ao falante nativo se comunicar perfeitamente a respeito de qualquer conteúdo. c) a tendência a serem mais restritos o vocabulário e a gramática de línguas indígenas, se comparados com outras línguas de origem europeia. d) a existência de diferenças vocabulares entre os idiomas, especificidades relacionadas à própria cultura dos falantes de uma comunidade. e) a atribuição de maior importância sociocultural às línguas contemporâneas, pois permitem que sejam abordadas quaisquer temáticas, sem dificuldades. 03. (ENEM) TEXTO I Antigamente Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais, e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo-d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco. ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983 (fragmento). TEXTO II Expressão Significado Cair nos braços de Morfeu Dormir Debicar Zombar, ridicularizar Tunda Surra Mangar Escarnecer, caçoar Tugir Murmurar Liró Bem-vestido R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 127 INTERPRETAÇÃO Copo d’água Lanche oferecido pelos amigos Convescote Piquenique Bilontra Velhaco Treteiro de topete Tratante atrevido Abrir o arco Fugir FIORIN, J. L. As línguas mudam. In: Revista Língua Portuguesa, n. 24, out. 2007 (adaptado). Na leitura do fragmento do texto Antigamente constata-se pelo emprego de palavras obsoletas, que itens lexicais outrora produtivos não mais o são no português brasileiro atual. Esse fenômeno revela que a) a língua portuguesa de antigamente carecia de termos para se referir a fatos e coisas do cotidiano. b) o português brasileiro se constitui evitando a ampliação do léxico proveniente do português europeu. c) a heterogeneidade do português leva a uma estabilidade do seu léxico no eixo temporal. d) o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para ser reconhecido como língua independente. e) o léxico do português representa uma realidade linguística variável e diversificada. 04. (ENEM) TEXTO I A língua ticuna é o idioma mais falado entre os indígenas brasileiros. De acordo com o pesquisador Aryon Rodrigues, há 40 mil índios que falam o idioma. A maioria mora ao longo do Rio Solimões, no Alto Amazonas. É a maior nação indígena do Brasil, sendo também encontrada no Peru e na Colômbia. Os ticunas falam uma língua considerada isolada, que não mantém semelhança com nenhuma outra língua indígena e apresenta complexidades em sua fonologia e sintaxe. Sua característica principal é o uso de diferentes alturas na voz. O uso intensivo da língua não chega a ser ameaçado pela proximidade de cidades ou mesmo pela convivência com falantes de outras línguas no interior da própria área ticuna: nas aldeias, esses outros falantes são minoritários e acabam por se submeter à realidade ticuna, razão pela qual, talvez, não representem uma ameaça linguística. Língua Portuguesa, n. 52, fev. 2010 (adaptado). TEXTO II “O inglês está destinado a ser uma língua mundial em sentidomais amplo do que o latim foi na era passada e o francês é na presente”, dizia o presidente americano John Adams no século XVIII. A profecia se cumpriu: o inglês é hoje a língua franca da globalização. No extremo oposto da economia linguística mundial, estão as línguas de pequenas comunidades declinantes. Calcula-se que hoje se falem de 6 000 a 7 000 línguas no mundo todo. Quase metade delas deve desaparecer nos próximos 100 anos. A última edição do Ethnologue — o mais abrangente estudo sobre as línguas mundiais —, de 2005, listava 516 línguas em risco de extinção. Veja, n.36, set. 2007 (adaptado). Os textos tratam de línguas de culturas completamente diferentes, cujas realidades se aproximam em função do(a) a) semelhança no modo de expansão. b) preferência de uso na modalidade falada. c) modo de organização das regras sintáticas. d) predomínio em relação às outras línguas de contato. e) fato de motivarem o desaparecimento de línguas minoritárias. 05. (ENEM) A forte presença de palavras indígenas e africanas e de termos trazidos pelos imigrantes a partir do século XIX é um dos traços que distinguem o português do Brasil e o português de Portugal. Mas, olhando para a história dos empréstimos que o português brasileiro recebeu de línguas europeias a partir do século XX, outra diferença também aparece: com a vinda ao Brasil da família real portuguesa (1808) e, particularmente, com a Independência, Portugal deixou de ser o intermediário obrigatório da assimilação desses empréstimos e, assim, Brasil e Portugal começaram a divergir, não só por terem sofrido influências diferentes, mas também pela maneira como reagiram a elas. ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. Os empréstimos linguísticos, recebidos de diversas línguas, são importantes na constituição do português do Brasil porque a) deixaram marcas da história vivida pela nação, como a colonização e a imigração. b) transformaram em um só idioma línguas diferentes, como as africanas, as indígenas e as europeias. c) promoveram uma língua acessível a falantes de origens distintas, como o africano, o indígena e o europeu. d) guardaram uma relação de identidade entre os falantes do português do Brasil e os do português de Portugal. e) tornaram a língua do Brasil mais complexa do que as línguas de outros países que também tiveram colonização portuguesa. 06. (ENEM) A língua tupi no Brasil Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”, pois “aquela gente não se explica em outro idioma”. Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao sertão em busca de escravos índios. Muitos bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos Jorge Velho, o paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de Pernambuco como “um bárbaro que nem falar sabe”. Em suas andanças, essa gente batizou lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua. “Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o historiador e antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso mudou o tupi paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de outros idiomas.” O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma espécie de tupi facilitado. ÂNGELO, C. Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 8 ago. 2012 (adaptado). O texto trata de aspectos sócio-históricos da formação linguística nacional. Quanto ao papel do tupi na formação do português brasileiro, depreende-se que essa língua indígena a) contribuiu efetivamente para o léxico, com nomes relativos aos traços característicos dos lugares designados. b) originou o português falado em São Paulo no século XVII, em cuja base gramatical também está a fala de variadas etnias indígenas. c) desenvolveu-se sob influência dos trabalhos de catequese dos padres portugueses, vindos de Lisboa. d) misturou-se aos falares africanos, em razão das interações entre portugueses e negros nas investidas contra o Quilombo dos Palmares. e) expandiu-se paralelamente ao português falado pelo colonizador, e juntos originaram a língua dos bandeirantes paulistas. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR128 INTERPRETAÇÃO 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 07. (ENEM) Nestes últimos anos, a situação mudou bastante e o Brasil, normalizado, já não nos parece tão mítico, no bem e no mal. Houve um mútuo reconhecimento entre os dois países de expressão portuguesa de um lado e do outro do Atlântico: o Brasil descobriu Portugal e Portugal, em um retorno das caravelas, voltou a descobrir o Brasil e a ser, por seu lado, colonizado por expressões linguísticas, as telenovelas, os romances, a poesia, a comida e as formas de tratamento brasileiros. O mesmo, embora em nível superficial, dele excluído o plano da língua, aconteceu com a Europa, que, depois da diáspora dos anos 70, depois da inserção na cultura da bossa-nova e da música popular brasileira, da problemática ecológica centrada na Amazônia, ou da problemática social emergente do fenômeno dos meninos de rua, e até do álibi ocultista dos romances de Paulo Coelho, continua todos os dias a descobrir, no bem e no mal, o novo Brasil. Se, no fim do século XIX, Sílvio Romero definia a literatura brasileira como manifestação de um país mestiço, será fácil para nós defini-la como expressão de um país polifônico: em que já não é determinante o eixo Rio-São Paulo, mas que, em cada região, desenvolve originalmente a sua unitária e particular tradição cultural. É esse, para nós, no início do século XXI, o novo estilo brasileiro. STEGAGNO-PICCHIO, L. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004 (adaptado). No texto, a autora mostra como o Brasil, ao longo de sua história, foi, aos poucos, construindo uma identidade cultural e literária relativamente autônoma frente à identidade europeia, em geral, e à portuguesa em particular. Sua análise pressupõe, de modo especial, o papel do patrimônio literário e linguístico, que favoreceu o surgimento daquilo que ela chama de “estilo brasileiro”. Diante desse pressuposto, e levando em consideração o texto e as diferentes etapas de consolidação da cultura brasileira, constata-se que a) o Brasil redescobriu a cultura portuguesa no século XIX, o que o fez assimilar novos gêneros artísticos e culturais, assim como usos originais do idioma, conforme ilustra o caso do escritor Machado de Assis. b) a Europa reconheceu a importância da língua portuguesa no mundo, a partir da projeção que poetas brasileiros ganharam naqueles países, a partir do século XX. c) ocorre, no início do século XXI, promovido pela solidificação da cultura nacional, maior reconhecimento do Brasil por ele mesmo, tanto nos aspectos positivos quanto nos negativos. d) o Brasil continua sendo, como no século XIX, uma nação culturalmente mestiça, embora a expressão dominante seja aquela produzida no eixo Rio-São Paulo, em especial aquela ligada às telenovelas. e) o novo estilo cultural brasileiro se caracteriza por uma união bastante significativa entre as diversas matrizes culturais advindas das várias regiões do país, como se pode comprovar na obra de Paulo Coelho. 08. (ENEM) Quando os portugueses se instalaram no Brasil, o país era povoado de índios. Importaram,depois, da África, grande número de escravos. O Português, o Índio e o Negro constituem, durante o período colonial, as três bases da população brasileira. Mas no que se refere à cultura, a contribuição do Português foi de longe a mais notada. Durante muito tempo o português e o tupi viveram lado a lado como línguas de comunicação. Era o tupi que utilizavam os bandeirantes nas suas expedições. Em 1694, dizia o Padre Antônio Vieira que “as famílias dos portugueses e índios em São Paulo estão tão ligadas hoje umas com as outras, que as mulheres e os filhos se criam mística e domesticamente, e a língua que nas ditas famílias se fala é a dos Índios, e a portuguesa a vão os meninos aprender à escola.” TEYSSIER, P. História da língua portuguesa . Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1984 (adaptado). A identidade de uma nação está diretamente ligada à cultura de seu povo. O texto mostra que, no período colonial brasileiro, o Português, o índio e o Negro formaram a base da população e que o patrimônio linguístico brasileiro é resultado da a) contribuição dos índios na escolarização dos brasileiros. b) diferença entre as línguas dos colonizadores e as dos indígenas. c) importância do padre Antônio Vieira para a literatura de língua portuguesa. d) origem das diferenças entre a língua portuguesa e as línguas tupi. e) interação pacífica no uso da língua portuguesa e da língua tupi. 09. (MPE-RS – Promotor) “Nada paralisou mais a inteligência do que a busca por bodes expiatórios”, escreveu o historiador Theodore Zeldin. A tentativa de jogar a culpa por uma situação indesejada - de desastres naturais a guerras, de crises econômicas a epidemias - nas costas de um único indivíduo ou grupo quase sempre inocente é uma prática tão disseminada que alguns estudiosos a consideram essencial para entender a vida em sociedade. No livro Bode Expiatório - Uma História da Prática de Culpar Outras Pessoas, Charlie Campbell defende a tese de que cada ser humano tende a se considerar melhor do que realmente é, e por isso tem dificuldade de admitir os próprios erros. Junte-se a isso a necessidade intrinsecamente humana de tentar encontrar um sentido, uma ordem no caos do mundo, e têm-se os elementos exatos para aceitarmos a primeira e a mais simples explicação que aparecer para os males a nos afligir. Desde muito cedo, provavelmente com o surgimento das primeiras crenças religiosas, a humanidade desenvolveu rituais para transferir a culpa para pessoas, animais ou objetos como uma forma de purificação e recomeço. A expressão “bode expiatório” refere-se a uma passagem do Velho Testamento que descreve o sacrifício de dois ruminantes no Dia da Expiação. O primeiro bode era sacrificado em tributo a Deus, para pagar pelos pecados da comunidade. O segundo era enxotado da aldeia, carregando consigo, simbolicamente, a culpa de todos os moradores. A escolha do bode expiatório costuma obeceder a, pelo menos, um de três requisitos. Primeiro, deve ser alguém capaz de substituir sozinho muitas vítimas potenciais. Foi o que ocorreu com Andrés Escobar, zagueiro da seleção colombiana de futebol, cujo gol contra na partida com os Estados Unidos eliminou seu time da Copa do Mundo de 1994. Quando voltou à Colômbia, Escobar foi assassinado a tiros, supostamente por apostadores que haviam perdido dinheiro com a derrota. Por maior que tenha sido o erro do jogador, é óbvio que num time que tem onze integrantes não se pode atribuir a apenas um deles toda a culpa por um resultado ruim. O segundo quesito a ser preenchido por um candidato a bode expiatório é ser um alvo facilmente identificável. O ditador alemão Adolf Hitler, um dos mais cruéis inventores de bodes expiatórios de todos os tempos, achava que um verdadeiro líder nacional era aquele que, em vez de dividir a atenção de seu povo, tratava de canalizá- la contra um grande inimigo. Após séculos de antissemitismo na Europa, não foi difícil para os nazistas transformar os judeus em suas vítimas preferenciais, atribuindo a eles a responsabilidade por uma série de malfeitorias. A expiação coletiva imposta pelos nazistas resultou na morte de 6 milhões de judeus. O terceiro critério para encontrar um bom culpado é suspeitar de qualquer pessoa que tente defender a inocência de um bode expiatório. Na caça às bruxas da Idade Média, que resultou no julgamento e na execução de milhares de mulheres, funcionava assim. Os métodos para identificar uma “noiva do demônio” eram absurdos. Um deles consistia em jogar a acusada num rio com as mãos e os pés atados; se ela boiasse, seria culpada;. se afundasse, seria inocente, mas aí já estaria morta. Nessas condições, poucos testemunhavam em favor das supostas bruxas. Essa regra também é atávica dos estados totalitários, que, por princípio, não podem assumir as próprias falhas sob o risco de perderem a legitimidade, e por isso precisam de alguém para expiar suas culpas. Adaptado de: SCHELP, D. A arte de culpar os outros. Veja, 16 de maio de 2012, p. 113-114. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 129 INTERPRETAÇÃO Em uma perspectiva etimológica, muitas palavras entraram prontas do latim ou de outro idioma para o léxico da Língua Portuguesa. No entanto, a maioria dos falantes não reconhece a origem das palavras, quer na sua forma mais antiga conhecida, quer em alguma etapa de sua evolução. Para compreender o processo de derivação das palavras que utiliza em seu dia a dia, o falante geralmente lança mão de seu conhecimento acerca do sentido e da função de prefixos e sufixos. Com base nessa ressalva, pode-se afirmar corretamente que, entre as palavras abaixo extraídas do texto, a única que foi formada pelo acréscimo de sufixo que transforma adjetivos em substantivos é a) humanidade. b) rituais. c) purificação. d) ruminantes. e) zagueiro. 10. (UEG) O islamismo surge na península arábica no século 7 d.C. Dentre as obras literárias que surgiram no mundo islâmico, influenciadas pela religião muçulmana, destaca-se a obra: a) os Vedas b) os Upanishades c) os Contos de Grimm d) As mil e uma noites 11. “Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade “Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis. Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado afirma: “É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na internet, tem até dicionário ...”, comenta. Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio linguístico, especialmente por a) ter mais de mil palavras conhecidas. b) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta. c) ser consolidado por objetos formais de registro. d) ser utilizado por advogados em situações formais. e) ser comum em conversas no ambiente de trabalho. 12. (UNICAMP) Morro da Babilônia À noite, do morro descem vozes que criam o terror (terror urbano, cinquenta por cento de cinema, e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua Geral). Quando houve revolução, os soldados espalharam no morro, o quartel pegou fogo, eles não voltaram. Alguns, chumbados, morreram. O morro ficou mais encantado. Mas as vozes do morro não são propriamente lúgubres. Há mesmo um cavaquinho bem afinado que domina os ruídos da pedra e da folhagem e desce até nós, modesto e recreativo, como uma gentileza do morro. (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.19.) No poema“Morro da Babilônia”, de Carlos Drummond de Andrade, f) a menção à cidade do Rio de Janeiro é feita de modo indireto, metonimicamente, pela referência ao Morro da Babilônia. g) o sentimento do mundo é representado pela percepção particular sobre a cidade do Rio de Janeiro, aludida pela metáfora do Morro da Babilônia. h) o tratamento dado ao Morro da Babilônia assemelha-se ao que é dado a uma pessoa, o que caracteriza a figura de estilo denominada paronomásia. i) a referência ao Morro da Babilônia produz, no percurso figurativo do poema, um oximoro: a relação entre terror e gentileza no espaço urbano. 13. No ano de 1985 aconteceu um acidente muito grave em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, perto da aldeia guarani de Sapukai. Choveu muito e as águas pluviais provocaram deslizamentos de terras das encostas da Serra do Mar, destruindo o Laboratório de Radioecologia da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, construída em 1970 num lugar que os índios tupinambás, há mais de 500 anos, chamavam de Itaorna. O prejuízo foi calculado na época em 8 bilhões de cruzeiros. Os engenheiros responsáveis pela construção da usina nuclear não sabiam que o nome dado pelos índios continha informação sobre a estrutura do solo, minado pelas águas da chuva. Só descobriram que Itaorna, em língua tupinambá, quer dizer ‘pedra podre’, depois do acidente. FREIRE, J. R. B. Disponível em: www.taquiprati.com.br. Acesso em: 1 ago. 2012 (adaptado). Considerando-se a história da ocupação na região de Angra dos Reis mencionada no texto, os fenômenos naturais que a atingiram poderiam ter sido previstos e suas consequências minimizadas se a) o acervo linguístico indígena fosse conhecido e valorizado. b) as línguas indígenas brasileiras tivessem sido substituídas pela língua geral. c) o conhecimento acadêmico tivesse sido priorizado pelos engenheiros. d) a língua tupinambá tivesse palavras adequadas para descrever o solo. e) o laboratório tivesse sido construído de acordo com as leis ambientais vigentes na época. 14. O INTERNETÊS NA ESCOLA O internetês – expressão grafolinguística criada na internet pelos adolescentes na última década – foi, durante algum tempo, um bicho de sete cabeças para gramáticos e estudiosos da língua. Eles temiam que as abreviações fonéticas (onde “casa” vira ksa; e “aqui” vira aki) comprometessem o uso da norma culta do português para além das fronteiras cibernéticas. Mas, ao que tudo indica, o temido intemetês não passa de um simpático bichinho de uma cabecinha só. Ainda que a maioria dos professores e educadores se preocupe com ele, a ocorrência do internetês nas provas escolares, vestibulares e em concursos públicos é insignificante. Essa forma de expressão parece ainda estar restrita a seu hábitat natural. Aliás, aí está a questão: saber separar bem a hora em que podemos escrever de qq jto, da hora em que não podemos escrever de “qualquer jeito”. Mas, e para um adolescente que fica várias horas “teclando” que nem louco nos instant messengers e chats da vida, é fácil virar a “chavinha” no cérebro do internetês para o português culto? “Essa dificuldade será proporcional ao contato que o adolescente tenha com textos na forma culta, como jornais ou obras literárias. Dependendo deste contato, ele terá mais facilidade para abrir mão do internetês” – explica Eduardo de Almeida Navarro, professor livre-docente de língua tupi e literatura colonial da USP. RAMPAZZO, F. Disponível em: www9.revistalingua.com.br. Acesso em: 01 mar. 2012 (adaptado). R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR130 INTERPRETAÇÃO 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA Segundo o texto, a interação virtual favoreceu o surgimento da modalidade linguística conhecida como internetês. Quanto à influência do internetês no uso da forma culta da língua, infere-se que a) a ocorrência de termos do internetês em situações formais de escrita aponta a necessidade de a língua ser vista como herança cultural que merece ser bem cuidada. b) a dificuldade dos adolescentes para produzirem textos mais complexos é evidente, sendo consequência da expansão do uso indiscriminado da internet por esse público. c) a carência de vocabulário culto na fala de jovens tem sido um alerta quanto ao uso massivo da internet, principalmente no que concerne a mensagens instantâneas. d) a criação de neologismos no campo cibernético é inevitável e restringe a capacidade de compreensão dos internautas quando precisam lidar com leitura de textos formais. e) a alternância de variante linguística é uma habilidade dos usuários da língua e é acionada pelos jovens de acordo com suas necessidades discursivas. 15. A Língua Portuguesa tem origem no idioma: a) Francês. b) Italiano. c) Espanhol. d) Galego-Português. e) Mandarim. 16. (ENEM) Texto I Um ato de criatividade pode gerar um modelo produtivo. Foi o que aconteceu com a palavra sambódromo, criativamente formada com a terminação -(o)dromo (=corrida), que figura em hipódromo, autódromo, cartódromo, formas que designam itens culturais da alta burguesia. Não demoraram a circular, a partir de então, formas populares como rangódromo, beijódromo, camelódromo. AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008 Texto II Existe coisa mais descabida do que chamar de sambódromo uma passarela para desfile de escolas de samba? Em grego, -dromo quer dizer “ação de correr, lugar de corrida”, daí as palavras autódromo e hipódromo. É certo que, às vezes, durante o desfile, a escola se atrasa e é obrigada a correr para não perder pontos, mas não se descoloca a velocidade de um cavalo ou de um carro de Fórmula 1. GULLAR, F. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 3 ago. 2012. Há nas línguas mecanismos geradores de palavras. Embora o texto II apresente um julgamento de valor sobre a formação da palavra sambódromo, o processo de formação dessa palavra reflete a) o dinamismo da língua na criação de novas palavras. b) uma nova realidade limitando o aparecimento de novas palavras. c) a apropriação inadequada de mecanismos de criação de palavras por leigos. d) o reconhecimento a impropriedade semântica dos neologismos. e) a restrição na produção de novas palavras com o radical grego. 17. (ENEM) Mandinga — Era a denominação que, no período das grandes navegações, os portugueses davam à costa ocidental da África. A palavra se tornou sinônimo de feitiçaria porque os exploradores lusitanos consideravam bruxos os africanos que ali habitavam — é que eles davam indicações sobre a existência de ouro na região. Em idioma nativo, manding designava terra de feiticeiros. A palavra acabou virando sinônimo de feitiço, sortilégio. COTRIM, M. O pulo do gato 3. São Paulo: Geração Editorial, 2009 (fragmento). No texto evidencia-se que a construção do significado da palavra mandinga resulta de um(a) a) contexto sócio-histórico. b) diversidade étnica. c) descoberta geográfica. d) apropriação religiosa. e) contraste cultural. 18. (ENEM) Cuitelinho Cheguei na bera do porto Onde as onda se espaia. As garça dá meia volta, Senta na bera da praia. E o cuitelinho não gosta Que o botão da rosa caia. Quando eu vim da minha terra, Despedi da parentaia. Eu entrei em Mato Grosso, Dei em terras paraguaia. Lá tinha revolução, Enfrentei fortes bataia. A tua saudade corta Como o aço de navaia. O coração fica aflito, Bate uma e outra faia. E os oio se enche d´água Que até a vista se atrapaia. Folclore recolhido por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó. BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna. São Paulo: Parábola, 2004. Transmitida por gerações, a canção Cuitelinho manifesta aspectos culturais de um povo, nos quais se inclui sua forma de falar, além de registrar um momento histórico. Depreende-se disso que a importância em preservar a produção cultural de uma nação consiste no fato de que produções como a canção Cuitelinhoevidenciam a a) recriação da realidade brasileira de forma ficcional. b) criação neológica na língua portuguesa. c) formação da identidade nacional por meio da tradição oral. d) incorreção da língua portuguesa que é falada por pessoas do interior do Brasil. e) padronização de palavras que variam regionalmente, mas possuem mesmo significado. 19. Resta saber o que ficou das línguas indígenas no português do Brasil. Serafim da Silva Neto afirma: “No Português do Brasil, não há, positivamente, influência das línguas africanas ou ameríndias”. Todavia, é difícil de aceitar que um longo período de bilinguismo de dois séculos não deixasse marcas no português do Brasil. ELIA, S. Fundamentos Histórico-Linguísticos do Português do Brasil. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003 (adaptado). No final do sec. XVIII, no norte do Egito, foi descoberta a Pedra de Roseta, que continha um texto escrito em egípcio antigo, uma versão desse texto chamada “demótico”, e o mesmo texto escrito em grego. Até então, a antiga escrita egípcia não estava decifrada. O inglês Thomas Young estudou o objeto e fez algumas descobertas como, por exemplo, a direção em que a leitura deveria ser feita. Mais tarde, o francês Jean- François Champollion voltou a estudá-la e conseguiu decifrar a antiga escrita egípcia a partir do grego, provando que, na verdade, o grego era a língua original do texto e que o egípcio era uma tradução. Com base na leitura dos textos conclui-se, sobre as línguas, que: a) cada língua é única e intraduzível. b) elementos de uma língua são preservados, ainda que não haja mais falantes dessa língua. c) a língua escrita de determinado grupo desaparece quando a sociedade que a produzia é extinta. d) o egípcio antigo e o grego apresentam a mesma estrutura gramatical, assim como as línguas indígenas brasileiras e o português do Brasil. e) o egípcio e o grego apresentavam letras e palavras similares, o que possibilitou a comparação linguística, o mesmo que aconteceu com as línguas indígenas brasileiras e o português do Brasil. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 131 INTERPRETAÇÃO 20. Compare os textos I e II a seguir, que tratam de aspectos ligados a variedades da língua portuguesa no mundo e no Brasil. Texto I Acompanhando os navegadores, colonizadores e comerciantes portugueses em todas as suas incríveis viagens, a partir do século XV, o português se transformou na língua de um império. Nesse processo, entrou em contato — forçado, o mais das vezes; amigável, em alguns casos — com as mais diversas línguas, passando por processos de variação e de mudança linguística. Assim, contar a história do português do Brasil é mergulhar na sua história colonial e de país independente, já que as línguas não são mecanismos desgarrados dos povos que as utilizam. Nesse cenário, são muitos os aspectos da estrutura linguística que não só expressam a diferença entre Portugal e Brasil como também definem, no Brasil, diferenças regionais e sociais. PAGOTTO, E. P. Línguas do Brasil. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br. Acesso em: 5 jul. 2009 (adaptado). Texto II Barbarismo é vício que se comete na escritura de cada uma das partes da construção ou na pronunciação. E em nenhuma parte da Terra se comete mais essa figura da pronunciação que nestes reinos, por causa das muitas nações que trouxemos ao jugo do nosso serviço. Porque bem como os Gregos e Romanos haviam por bárbaras todas as outras nações estranhas a eles, por não poderem formar sua linguagem, assim nós podemos dizer que as nações de África, Guiné, Ásia, Brasil barbarizam quando querem imitar a nossa. BARROS, J. Gramática da língua portuguesa. Porto: Porto Editora, 1957 (adaptado). Os textos abordam o contato da língua portuguesa com outras línguas e processos de variação e de mudança decorridos desse contato. Da comparação entre os textos, conclui-se que a posição de João de Barros (Texto II), em relação aos usos sociais da linguagem, revela: a) atitude crítica do autor quanto à gramática que as nações a serviço de Portugal possuíam e, ao mesmo tempo, de benevolência quanto ao conhecimento que os povos tinham de suas línguas. b) atitude preconceituosa relativa a vícios culturais das nações sob domínio português, dado o interesse dos falantes dessa línguas em copiar a língua do império, o que implicou a falência do idioma falado em Portugal. c) o desejo de conservar, em Portugal, as estruturas da variante padrão da língua grega — em oposição às consideradas bárbaras —, em vista da necessidade de preservação do padrão de correção dessa língua à época. d) adesão à concepção de língua como entidade homogênea e invariável, e negação da ideia de que a língua portuguesa pertence a outros povos. e) atitude crítica, que se estende à própria língua portuguesa, por se tratar de sistema que não disporia de elementos necessários para a plena inserção sociocultural de falantes não nativos do português. 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (PUCRJ 2017 Adaptada) Efeitos da mudança das condições Tenho, até o presente, falado de mudanças — tão comuns e tão diversas nos seres orgânicos reduzidos ao estado doméstico e, em menor escala, naqueles que se encontram em estado selvagem — como se elas fossem fortuitas. É, sem objeção, uma expressão muito incorreta; talvez, contudo, seja suficiente para demonstrar a nossa total ignorância sobre as razões de cada variação particular. Alguns cientistas julgam que uma das funções do sistema reprodutor consiste tanto em produzir diferenças individuais, ou pequenos desvios de estrutura, como em produzir descendentes semelhantes aos pais. Mas o fato de as variações e de as deformações se apresentarem em maior número no estado doméstico que no estado natural, o fato de as espécies que têm um habitat muito extenso serem mais variáveis que as que têm um habitat restrito, permitem-nos concluir que a variabilidade deve ter, comumente, qualquer analogia com as condições de sobrevida às quais cada espécie foi submetida durante algumas gerações sucessivas. Tentei provar que as mudanças de condições atuam de duas maneiras: diretamente, sobre toda a organização, ou sobre algumas partes unicamente do organismo; e indiretamente, por meio do sistema reprodutor. Em todos os casos, há dois fatores: a natureza do organismo, que é a mais importante das duas, e a natureza das condições ambientes. Neste último caso, o organismo parece tornar-se plástico e encontramos uma grande variabilidade incerta. No primeiro caso, a natureza do organismo é tal que cede facilmente, quando submetido a certas condições, e todos, ou quase todos os indivíduos, se modificam da mesma maneira. É difícil delimitar até que ponto a alteração das condições — por exemplo, a alteração do clima, da alimentação, etc. — atua de uma maneira definida. Há razão para se acreditar que, no decurso do tempo, os efeitos destas alterações sejam tão marcantes que possam ser provados por evidências claras. Contudo, podemos concluir, sem receio de engano, que não se pode atribuir unicamente a uma tal causa atualmente as adaptações de estrutura, tão numerosas e tão complicadas, que observamos na natureza entre os diferentes seres orgânicos. DARWIN, Charles. A origem das espécies. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A., pp. 143-4 (Tradução de Eduardo Fonseca, 2004.) a) Indique a palavra ou expressão a que se refere a última ocorrência de “que” no texto. b) No texto, o enunciador apresenta suas reflexões acerca do que está sendo observado e das investigações que vem desenvolvendo. Destaque, do último parágrafo, a expressão que, em si mesma, denota certeza a respeito do que é enunciado. 02. (UNIFESP 2007) Leia o trecho de Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, para responder às questões seguintes: Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais,na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais que o Brasil continha; sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras holandesas, as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso de todos os rios. (...) Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, antes que a “Aurora com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo”, ele se atracava até ao almoço com o Montoya, “Arte y diccionario de la lengua guarani ó más bien tupi”, e estudava o jargão caboclo com afinco e paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse seu estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo - Ubirajara. Certa vez, o escrevente Azevedo, ao assinar o ponto, distraído, sem reparar quem lhe estava às costas, disse em tom chocarreiro: “Você já viu que hoje o Ubirajara está tardando?” Quaresma era considerado no Arsenal: a sua idade, a sua ilustração, a modéstia e honestidade do seu viver impunham- no ao respeito de todos. Sentindo que a alcunha lhe era dirigida, não perdeu a dignidade, não prorrompeu em doestos e insultos. Endireitou-se, consertou o seu “pince-nez”, levantou o dedo indicador no ar e respondeu: R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR132 INTERPRETAÇÃO 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA - Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que trabalham em silêncio, para a grandeza e a emancipação da Pátria. Vocabulário: amanuenses: escreventes; doestos: injúrias. Examine a frase: “Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani.” a) No conjunto da obra, que relação há entre nacionalismo e o estudo de tupi-guarani? b) Quanto ao sentido, explique o emprego da forma verbal “dedicava” e justifique sua resposta com uma expressão presente no texto. 03. (FGV 2012) Os mecanismos constitucionais que caracterizam o Estado de direito têm o objetivo de defender o indivíduo dos abusos do poder. Em outras palavras, são garantias de liberdade, da assim chamada 1liberdade negativa, entendida como esfera de ação em que o indivíduo não está obrigado por quem detém o poder coativo a fazer aquilo que não deseja ou não está impedido de fazer aquilo que deseja. Há uma acepção de liberdade – que é a acepção prevalecente na tradição liberal – segundo a qual “liberdade” e “poder” são dois termos 3antitéticos, que denotam duas realidades em contraste entre si e são, portanto, incompatíveis: nas relações entre duas pessoas, à medida que se estende o poder (poder de comandar ou de impedir) de uma diminui a liberdade em sentido negativo da outra e, vice-versa, à medida que a segunda amplia a sua esfera de liberdade diminui o poder da primeira. Deve-se agora acrescentar que para o pensamento liberal a liberdade individual está garantida, mais que pelos mecanismos constitucionais do Estado de direito, também pelo fato de que ao Estado são reconhecidas tarefas limitadas à manutenção da ordem pública interna e internacional. No pensamento liberal, teoria do controle do poder e teoria da limitação das tarefas do Estado procedem no mesmo passo: pode-se até mesmo dizer que a segunda é a 2conditio sine qua non da primeira, no sentido de que o controle dos abusos do poder é tanto mais fácil quanto mais restrito é o âmbito em que o Estado pode estender a própria intervenção, ou mais breve e simplesmente no sentido de que o Estado mínimo é mais controlável do que o Estado máximo. Do ponto de vista do indivíduo, do qual se põe o liberalismo, o Estado é concebido como um mal necessário; e enquanto mal, embora necessário (e nisso o liberalismo se distingue do 4anarquismo), o Estado deve se intrometer o menos possível na esfera de ação dos indivíduos. Noberto Bobbio, Liberalismo e democracia. São Paulo: Brasiliense, 2006. a) Considerada no contexto, a expressão “liberdade negativa” (ref. 1) deve ser entendida como algo positivo para o indivíduo. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta. b) Considerando o gênero a que pertence o texto, é adequado, do ponto de vista lógico, o emprego da expressão latina “conditio sine qua non” (ref. 2)? Justifique sua resposta. c) É correto afirmar que os prefixos que ocorrem nas palavras “antitéticos” (ref. 3) e “anarquismo” (ref. 4) têm o mesmo sentido que os prefixos formadores, respectivamente, das palavras “antediluviano” e “amoral”? Justifique sua resposta. 04. (CP2 2012) Texto I Mestiços (fragmento) É no mirar nossas raízes que vamos encontrar as características de nossa singularidade. Estamos maduros para encarar nossa condição de únicos, originais. 1Somos, com muita honra, provavelmente o maior país mestiço do mundo. Reconhecer isso é galgar mais um degrau na direção de nosso orgulho, de nossa nacionalidade (...). Entramos no século 21 no apogeu do poder da mídia, deixando que ela faça a nossa cabeça. Não há novela que não mostre brancos e pretos namorando, apaixonando-se. Nossos filmes e mesmo a nossa publicidade começaram, há não muito tempo, a escancarar a mestiçagem. A porta da frente já está aberta para pardos, brancos e pretos.(...) Ouço da boca dos negros que conheço que, quando entram em livraria, por mais bem vestidos que estejam, são discretamente seguidos e vigiados. Ainda se estranha um negro em livraria. 2Conheço também a 3vox populi que diz não ter preconceito, desde que “esse estranho” não queira entrar na família. Sim, temos preconceito, mas o nosso preconceito não é igual ao dos países de Primeiro Mundo que supõem pureza racial. Discriminamos cor e também nos isolamos de pobres, de delinquentes e, em certas circunstâncias, até dos “CDFs” e de outros tipos de “certinhos”. Frequentemente, honestos são vistos como tolos ou simplórios. Vi, há não muito tempo, num documentário de uma ONG que estuda o caipira paulista, uma senhora – classe A – dizendo saber que branco e preto são iguais e que gostaria de não ter preconceito, mas não consegue. Ela sabe que está errada, mas, de maneira muito ingênua, pergunta ao entrevistador: “Não seria melhor se fôssemos todos brancos ou pretos?” (Anna Veronica Mautner. In: Folha de S. Paulo, 31/12/2004) 3 Vox populi: expressão em latim que significa literalmente “voz do povo”. Texto II “Conheço também a vox populi que diz não ter preconceito, desde que “esse estranho” não queira entrar na família”. (Texto I, referência 2) Que expressão do texto II se refere ao termo “vox populi” do texto I? 05. (UNICAMP 2010) a) Qual é o pressuposto da personagem que defende o acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa? Por que esse pressuposto é inadequado? b) Explique como, na tira ao lado, esse pressuposto é quebrado. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 133 INTERPRETAÇÃO GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. E 02. D 03. E 04. D 05. A 06. A 07. C 08. E 09. A 10. D 11. C 12. A 13. A 14. E 15. D 16. A 17. A 18. C 19. B 20. D EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. a) Na última ocorrência de “que”, vemos que “que” se refere à expressão “as adaptações de estrutura”, uma vez que são as adaptações de estrutura que observamos na natureza entre os diferentes seres orgânicos. b) A expressão é “sem receio de engano”, já que indica que para o autor não há possibilidade de engano/erro nessa afirmação. 02. a) O tupi guarani representa a língua dos nativos, ou seja, uma língua sem influências estrangeiras. b) Dedicar representa no texto estudar, pesquisar, descobrir, é que fazia Lima Barreto. Isso fica claro no trecho: “Todas as manhãs, antes que a ‘Aurora com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo’, ele se atracava até ao almoço com o Montoya, ‘Arte y diccionario de la lengua guarani ó más bien tupi’, e estudava o jargão caboclo comafinco e paixão”. 03. A a) Sim, pois o conceito de “liberdade negativa” traz subjacente a garantia de o indivíduo não ser obrigado a atos indesejados por abuso do poder constituído ou não ser impedido de fazer aquilo que deseja, ou seja, supõe um estado de direito em que sejam evitadas arbitrariedades por parte da esfera estatal. b) Sim, a expressão “conditio sine qua non” é adequada ao contexto, erudito e de cunho científico, pois trata-se de uma expressão latina que remonta aos termos jurídicos do Direito romano e que pode ser traduzido como sem a/o qual não pode deixar de ser, indispensável. c) Não, os prefixos gregos ant(i) e a(n) que ocorrem nas palavras “antitéticos” e “ anarquismo” expressam oposição e negação, respectivamente. Já o prefixo latino ante e o de origem mista a das palavras “antediliviano” e “amoral” expressam anterioridade e ausência. 04. A expressão “vox Populi” significa “voz do povo”, ou seja, indica a opinião das pessoas. Uma expressão do texto II que se refere a esse termo é “opinião alheia”, pois também indica a opinião das pessoas 05. a) O pressuposto é que o acordo ortográfico promoveria a unidade da língua em todos os países lusófonos. O acordo contempla apenas a ortografia e não interfere nos aspectos morfossintáticos ou lexicais que caracterizam a relação da Língua e seus falantes com a região onde se desenvolve a sua cultura, razão pela qual é inadequado o pressuposto do personagem. Embora se possa unificar a ortografia, as variantes sempre existirão. b) Ao desconhecer o significado de “peúgas”(*) e “bica”(**) e estranhar a palavra “bicha”(***) no contexto da frase (termos usados no português europeu e não no Brasil), o personagem fica confuso, pois verifica que não houve unificação do idioma como afirmara anteriormente. ANOTAÇÕES R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR134 INTERPRETAÇÃO 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 135PROENEM.COM.BR FIGURAS DE LINGUAGEM I: FIGURAS DE PALAVRA E DE PENSAMENTO08 ESTILÍSTICA Quando falamos em Estilística estamos realmente falando da parte da gramática que estuda o estilo, entendendo por estilo um conjunto de características e de usos de linguagem representativos da intencionalidade do enunciador e capazes de estabelecer distinção entre dois textos. Quando diretamente relacionada à Semântica, a Estilística ocupa-se significação contextual e expressiva das palavras e expressões, baseando-se nas suas possibilidades de plurissignificação. Pode, também, dar conta de modelos de construção gramatical, desde que sirvam à expressividade. Contudo, sua principal área de atuação reside no par conotação/ denotação e no estabelecimento da linguagem figurada. Normalmente encontraremos a base para a análise da Estilística nos textos literários, já que “a linguagem literária desvia-se, sistematicamente, da norma padrão com o objetivo de colocar em primeiro plano as propriedades linguísticas do texto e de desfamiliarizar as percepções automatizadas do leitor”. Outro campo de análise será a linguagem publicitária que utiliza diversos jogos de palavras e sentidos em sua tarefa de persuadir os consumidores. LINGUAGEM FIGURADA Procura da Poesia (...) Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra (Carlos Drummond de Andrade) O poeta Drummond ensina que as palavras podem apresentar múltiplos significados, dependendo do contexto em que as utilizemos. A essa possibilidade de uma palavra apresentar diversos sentidos chamamos polissemia. Alguns desses sentidos nos remetem à ideia original da palavra, isto é, seu sentido primordial, denotativo. Outros ganham um sentido dentro do contexto em que são usados, o chamado sentido figurado ou conotativo. No mesmo poema, Drummond fala que as palavras, antes da poesia, ficam em “estado de dicionário”, isto é, apresentando apenas sua significação objetiva, ligada diretamente à necessidade em se nomear determinado ser ou processo. Contudo, podem-se usar as palavras atribuindo-lhes novos sentidos de acordo com a intenção, com o estilo a que se propõe. Alguns desses sentidos são absolutamente comuns (ainda que se distanciem do significado original) formados por associações ou aceitos culturalmente como tais. É o que ocorre com a palavra coração que, por extensão e associação, pode significar amor, paixão ou até mesmo ser usada como adjetivo. Desta maneira, pode-se entender que as figuras de linguagem são manifestações do indivíduo na intenção estilística de explorar usos da língua em determinados contextos, buscando a superação da linguagem em prol de maior expressividade para o texto. É sempre útil alertar que as figuras dependem da intenção e, normalmente, do contexto em que são empregadas para que se as possa realmente considerar. Entre as várias maneiras de obterem-se tais efeitos, faz-se uma divisão entre as figuras. Duas delas apresentaremos aqui: aquelas que manifestam suas relações através de expressões que se revelam possuidoras de outros sentidos, as figuras de pensamento; e aqueles chamamos tropos linguísticos – por alguns considerados figuras de palavra – em que os termos são usados em sentido conotativo para sua realização. FIGURAS DE PENSAMENTO Antítese - Consiste na oposição entre duas ou mais ideias, onde os conceitos se contrapõem, mas não se excluem. “Os jardins têm vida e morte” No caso de os conceitos tornarem-se irrealizáveis, teremos um paradoxo: “Rio de neve em fogo convertido” L. Camões Apóstrofe – é uma invocação ou interpelação direta às pessoas ou seres personificados. “Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?!” Castro Alves Comparação ou símile – é o estabelecimento de uma comparação entre duas ideias, através do uso explícito de um conectivo ou de uma construção marcantemente comparativa. “Seus olhos brilhavam mais do que as estrelas” “A saudade bateu foi que nem maré” J. Vercillo Eufemismo – é uma forma suave de expressar alguma mensagem desagradável, forte ou socialmente desvalorizada. Com o aparecimento do comportamento “politicamente correto”, o eufemismo ganha uso corrente, seja nas empresas – como forma de prestigiar funções subalternas com nomes imponentes – seja no cotidiano, em que o uso de algumas expressões passou a soar preconceituoso ou grosseiro. “Ela deu o último suspiro” “Meu avô trabalhava como um humilde chefe de recepção de edifícios” Quando se utilizam expressões para satirizar ou mesmo fazer um uso popular diante determinada situação, temos o disfemismo. “O bandido vestiu o paletó de madeira” Gradação – configura-se como uma sequência de palavras, sejam sinônimas ou não, promovendo a intensificação de uma ideia. “O trigo nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se, mediu-se” Pe. Antônio Vieira Hipérbole - consiste no exagero deliberado de uma afirmação. “Ela chorou rios de lágrimas” Ironia – consiste em dizer justamente o oposto do que se pretende. “Este goleiro é excelente: dez falhas numa única partida...” R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR136 INTERPRETAÇÃO 08 FIGURAS DE LINGUAGEM I: FIGURAS DE PALAVRA E DE PENSAMENTO Perífrase – é o emprego de vários vocábulos para expressar um único nome. “O Poeta dos Escravos” (Em lugar de Castro Alves) Prosopopéia (ou Personificação) – é a atribuição de vida e vontade própria a seres inanimados. “Os penhascos gemiam” Sinestesia – consiste em mesclar numa mesma expressão sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido. “Um grito áspero revelava todo o seu medo.” ‘TROPOS’ LINGUÍSTICOS - AS FIGURAS DE PALAVRA Consideram-se tropos as palavras tomadas fora de seu sentido original, explorando claramente as possibilidades de significação contextual, sendo utilizadas em sentido conotativo. É comum também a designação desse processocomo figuras de palavra. Metáfora – figura que realça os aspectos conotativos de um vocábulo, ensejando uma comparação imediata. “Seus olhos eram estrelas” “Alessandra é uma flor” Metonímia – Existe quando o significado sugerido pelo termo resulta de uma aproximação de ideias, empregando um termo no lugar de outro, com o qual mantém uma relação de contiguidade (autor pela obra, todo pela parte, lugar pelo produto, efeito pela causa etc.). Note que, quando se fala em metonímia, sempre haverá uma substituição de uma ideia pela outra. “Vivem sem teto” (sem casa) “Pegar um níquel” (uma moeda) “Ele comeu dois pratos” (a comida contida nos pratos) “Pedir a mão da moça em casamento” (a própria moça, não só a mão) “Coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do rosto.” Machado de Assis Catacrese – é a figura que confere novo emprego a um vocábulo, por falta de termos apropriados. “O pé da mesa quebrou” “Apoiou-se, então, nos braços da cadeira” Antonomásia – é um caso especial de metonímia, através do qual um nome próprio é substituído por uma circunstância ou qualidade a ele intrinsecamente relacionada. “O Genovês salta os mares...” (Castro Alves) (o termo “Genovês” se refere a Cristóvão Colombo) PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Explique o que significa estilística. 02. Cite e defina duas figuras do pensamento. 03. Justifique por que o texto publicitário usa diversos recursos linguísticos, como jogos de palavras. 04. Explique o sentido de linguagem figurada. 05. Defina o que significa ‘estado de dicionário’. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. (ENEM) Metáfora Gilberto Gil Uma lata existe para conter algo Mas quando o poeta diz: "Lata" Pode estar querendo dizer o incontível Uma meta existe para ser um alvo Mas quando o poeta diz: "Meta" Pode estar querendo dizer o inatingível Por isso, não se meta a exigir do poeta Que determine o conteúdo em sua lata Na lata do poeta tudo-nada cabe Pois ao poeta cabe fazer Com que na lata venha caber O incabível Deixe a meta do poeta, não discuta Deixe a sua meta fora da disputa Meta dentro e fora, lata absoluta Deixe-a simplesmente metáfora. Disponível em: http://www.letras.terra.com.br. Acesso em: 5 fev. 2009. A metáfora é a figura de linguagem identificada pela comparação subjetiva, pela semelhança ou analogia entre elementos. O texto de Gilberto Gil brinca com a linguagem remetendo-nos a essa conhecida figura. O trecho em que se identifica a metáfora é: a) “Uma lata existe para conter algo”. b) “Mas quando o poeta diz: ’Lata’”. c) “Uma meta existe para ser um alvo”. d) “Por isso não se meta a exigir do poeta”. e) “Que determine o conteúdo em sua lata”. 02. (ENEM) TEXTO I Onde está a honestidade? Você tem palacete reluzente Tem joias e criados à vontade Sem ter nenhuma herança ou parente Só anda de automóvel na cidade… E o povo pergunta com maldade: Onde está a honestidade? Onde está a honestidade? O seu dinheiro nasce de repente E embora não se saiba se é verdade Você acha nas ruas diariamente Anéis, dinheiro e felicidade… Vassoura dos salões da sociedade Que varre o que encontrar em sua frente Promove festivais de caridade Em nome de qualquer defunto ausente… ROSA, N. Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010. TEXTO II Um vulto da história da música popular brasileira, reconhecido nacionalmente, é Noel Rosa. Ele nasceu em 1910, no Rio de Janeiro; portanto, se estivesse vivo, estaria completando 100 anos. Mas faleceu aos 26 anos de idade, vítima de tuberculose, deixando um acervo de grande valor para o patrimônio cultural brasileiro. Muitas de suas letras representam a sociedade contemporânea, como se tivessem sido escritas no século XXI. Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 08 F IGURAS DE LINGUAGEM I: FIGURAS DE PALAVRA E DE PENSAMENTO 137 INTERPRETAÇÃO Um texto pertencente ao patrimônio literário-cultural brasileiro é atualizável, na medida em que ele se refere a valores e situações de um povo. A atualidade da canção Onde está a honestidade?, de Noel Rosa, evidencia-se por meio a) da ironia, ao se referir ao enriquecimento de origem duvidosa de alguns. b) da crítica aos ricos que possuem joias, mas não têm herança. c) da maldade do povo a perguntar sobre a honestidade. d) do privilégio de alguns em clamar pela honestidade. e) da insistência em promover eventos benefi centes. 03. I - DENTRO DA NOITE (Manuel Bandeira) Dentro da noite a vida canta E esgarça névoas ao luar... Fosco minguante o vale encanta. Morreu pecando alguma santa... A água não para de chorar. [...] II - SONHO BRANCO (Cruz e Sousa) De linho e rosas brancas vais vestido, Sonho virgem que cantas no meu peito!... És do Luar o claro deus eleito, Das estrelas puríssimas nascido. [...] Após atenciosa leitura dos textos acima (textos de séculos diferentes: o primeiro, do início do século XX; o segundo, do fi nal do século XIX), considerando a falta de semelhança entre eles, identifi que uma fi gura de linguagem comum. a) Paradoxo b) Catacrese c) Sinestesia d) Hipérbole e) prosopopéia 04. 1 Triste Bahia! Oh quão dessemelhante 2 Estás, e estou do nosso antigo estado! 3 Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, 4 Rica te vejo eu já, tu a mi abundante. 5 A ti trocou-te a máquina mercante, 6 Que em tua larga barra tem entrado, 7 A mim foi-me trocando, e tem trocado 8 Tanto negócio, e tanto negociante. 9 Deste em dar tanto açúcar excelente 10 Pelas drogas inúteis, que abelhuda 11 Simples aceitas do sagaz Brichote. 12 Oh se quisera Deus, que de repente 13 Um dia amanheceras tão sisuda 14 Que fora de algodão o teu capote! (MATOS, Gregório de. Poesias selecionadas. 3. ed. São Paulo: FTD, 1998. p. 141.) Sobre fi guras de linguagem no poema, considere as afi rmativas a seguir. I. A descrição do eu lírico e da Bahia confi gura uma antítese entre o estado antigo e o atual de ambos. II. A antítese é verifi cada na oposição entre as expressões “máquina mercante” e “drogas inúteis”, embora ambas se refi ram à Bahia. III. Os versos 3 e 4 são exemplos do papel relevante da gradação no conjunto do poema, pois enumeram estados de espírito do eu lírico. IV. Os versos “Um dia amanheceras tão sisuda / Que fora de algodão o teu capote!” confi guram exemplos de personifi cação e metáfora, respectivamente. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afi rmativas I e IV são corretas. b) Somente as afi rmativas II e III são corretas. c) Somente as afi rmativas III e IV são corretas. d) Somente as afi rmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afi rmativas I, II e IV são corretas 05. (ENEM) Aquarela O corpo no cavalete é um pássaro que agoniza exausto do próprio grito. As vísceras vasculhadas principiam a contagem regressiva. No assoalho o sangue se decompõe em matizes que a brisa beija e balança: o verde - de nossas matas o amarelo - de nosso ouro o azul - de nosso céu o branco o negro o negro CACASO. In: HOLLANDA, H. B (Org.). 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007. Situado na vigência do Regime Militar que governou o Brasil, na década de 1970, o poema de Cacaso edifi ca uma forma de resistência e protesto a esse período, metaforizando a) as artes plásticas, deturpadas pela repressão e censura. b) a natureza brasileira, agonizante como um pássaro enjaulado. c) o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexidade com a Ditadura. d) o emblema nacional, transfi gurado pelas marcas do medo e da violência. e) as riquezas da terra, espoliadas durante o aparelhamento do poder armado. 06. (ENEM) Disponível em: www.portaldapropaganda.com.br. Acesso em: 29. out. 2013 (adaptado). Os meios de comunicação podem contribuir para a resolução de problemas sociais, entre os quais o da violência sexual infantil. Nesse sentido, a propaganda usa a metáfora do pesadelo para a) informar crianças vítimas de abuso sexual sobre os perigos dessa prática, contribuindo para erradicá-la.b) denunciar ocorrências de abuso sexual contra meninas, com o objetivo de colocar criminosos na cadeia. c) dar a devida dimensão do que é o abuso sexual para uma criança, enfatizando a importância da denúncia. d) destacar que a violência sexual infantil predomina durante a noite, o que requer maior cuidado dos responsáveis nesse período. e) chamar a atenção para o fato de o abuso infantil ocorrer durante o sono, sendo confundido por algumas crianças com um pesadelo. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR138 INTERPRETAÇÃO 08 FIGURAS DE LINGUAGEM I: FIGURAS DE PALAVRA E DE PENSAMENTO 07. (ENEM) Aquele bêbado — Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool. O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio. — Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos. Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos. ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991. A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo da narrativa, ocorre uma a) metaforização do sentido literal do verbo “beber”. b) aproximação exagerada da estética abstracionista. c) apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem. d) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”. e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas. 08. (ENEM) O açúcar O branco açúcar que adoçará meu café nesta manhã de Ipanema não foi produzido por mim nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. Vejo-o puro e afável ao paladar como beijo de moça, água na pele, flor que se dissolve na boca. Mas este açúcar não foi feito por mim. Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, [dono da mercearia. Este açúcar veio de uma usina de açúcar em Pernambuco ou no Estado do Rio e tampouco o fez o dono da usina. Este açúcar era cana e veio dos canaviais extensos que não nascem por acaso no regaço do vale. (...) Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produziram este açúcar branco e puro com que adoço meu café esta manhã em Ipanema. Ferreira Gullar. Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980, p. 227-8. A antítese que configura uma imagem da divisão social do trabalho na sociedade brasileira é expressa poeticamente na oposição entre a doçura do branco açúcar e a) o trabalho do dono da mercearia de onde veio o açúcar. b) o beijo de moça, a água na pele e a flor que se dissolve na boca. c) o trabalho do dono do engenho em Pernambuco, onde se produz o açúcar. d) a beleza dos extensos canaviais que nascem no regaço do vale. e) o trabalho dos homens de vida amarga em usinas escuras. 09. (ENEM) TEXTO I Onde está a honestidade? Você tem palacete reluzente Tem joias e criados à vontade Sem ter nenhuma herança ou parente Só anda de automóvel na cidade... E o povo pergunta com maldade: Onde está a honestidade? Onde está a honestidade? O seu dinheiro nasce de repente E embora não se saiba se é verdade Você acha nas ruas diariamente Anéis, dinheiro e felicidade... Vassoura dos salões da sociedade Que varre o que encontrar em sua frente Promove festivais de caridade Em nome de qualquer defunto ausente... ROSA, N. Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010 TEXTO II Um vulto da história da música popular brasileira, reconhecido nacionalmente, é Noel Rosa. Ele nasceu em 1910, no Rio de Janeiro; portanto, se estivesse vivo, estaria completando 100 anos. Mas faleceu aos 26 anos de idade, vítima de tuberculose, deixando um acervo de grande valor para o patrimônio cultural brasileiro. Muitas de suas letras representam a sociedade contemporânea, como se tivessem sido escritas no século XXI. Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010. Um texto pertencente ao patrimônio literário-cultural brasileiro é atualizável, na medida em que ele se refere a valores e situações de um povo. A atualidade da canção Onde está a honestidade?, de Noel Rosa, evidencia-se por meio a) da ironia, ao se referir ao enriquecimento de origem duvidosa de alguns. b) da crítica aos ricos que possuem joias, mas não têm herança. c) da maldade do povo a perguntar sobre a honestidade. d) do privilégio de alguns em clamar pela honestidade. e) da insistência em promover eventos beneficentes. 10. (ENEM) Oximoro, ou paradoxismo, é uma figura de retórica em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir- se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Considerando a definição apresentada, o fragmento poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publicada em 2004, em que pode ser encontrada a referida figura de retórica é: a) “Dos dois contemplo rigor e fixidez. Passado e sentimento me contemplam”. b) “De sol e lua De fogo e vento Te enlaço”. c) “Areia, vou sorvendo A água do teu rio”. d) “Ritualiza a matança de quem só te deu vida. E me deixa viver nessa que morre”. e) “O bisturi e o verso. Dois instrumentos entre as minhas mãos”. 11. (IFSP 2016) Tintim Durante alguns anos, o tintim me intrigou. Tintim por tintim: o que queria dizer aquilo? Imaginei que fosse alguma misteriosa medida de outros tempos que sobrevivera ao sistema métrico, como a braça, a légua, etc. Outro mistério era o triz. Qual a exata definição de um triz? É uma subdivisão de tempo ou de espaço. As coisas deixam de acontecer por um triz, por uma fração de segundo R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 08 FIGURAS DE LINGUAGEM I: FIGURAS DE PALAVRA E DE PENSAMENTO 139 INTERPRETAÇÃO ou de milímetro. Mas que fração? O triz talvez correspondesse a meio tintim, ou o tintim a um décimo de triz. Tanto o tintim quanto o triz pertenceriam ao obscuro mundo das microcoisas. Há quem diga que não existe uma fração mínima de matéria, que tudo pode ser dividido e subdividido. Assim como existe o infinito para fora – isto é, o espaço sem fim, depois que o Universo acaba – existiria o infinito para dentro. A menor fração da menor partícula do último átomo ainda seria formada por dois trizes, e cada triz por dois tintins, e cada tintim por dois trizes, e assim por diante, até a loucura. Descobri, finalmente, o que significa tintim. É verdade que, se tivesse me dado o trabalho de olhar no dicionário mais cedo, minha ignorância não teria durado tanto. Mas o óbvio, às vezes, é a última coisa que nos ocorre. Está no Aurelião. Tintim, vocábulo onomatopaico que evoca o tinido das moedas. Originalmente, portanto, "tintim por tintim" indicava um pagamento feito minuciosamente, moeda por moeda. Isso no tempo em que as moedas, no Brasil, tiniam, ao contrário de hoje, quando são feitas de papelão e se chocam sem ruído. Numa investigação feita hoje da corrupção no país tintim por tintim ficaríamos tinindo sem parar e chegaríamos a uma nova concepção de infinito. Tintim por tintim. A menina muito dada namoraria sim-sim por sim-sim. O gordo incontrolável progrediria pela vida quindim por quindim. O telespectador habitual viveria plim-plim por plim-plim. E você e eu vamos ganhando nosso salário tin por tin (olha aí, a inflação já levou dois tins). Resolvido o mistério do tintim, que não é uma subdivisão nem de tempo nem de espaço nem de matéria, resta o triz. O Aurelião não nos ajuda. "Triz", diz ele, significa por pouco. Sim, mas que pouco? Queremos algarismos, vírgulas, zeros, definições para "triz". Substantivo feminino. Popular. "Icterícia." Triz quer dizer icterícia. Ou teremos que mudar todas as nossas teorias sobre o Universo ou teremos que mudar de assunto. Acho melhor mudar de assunto.O Universo já tem problemas demais. (VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.) Considere o trecho: “O Aurelião não nos ajuda. "Triz", diz ele, significa por pouco”. A figura de linguagem presente no trecho é: f) metáfora. g) antítese. h) hipérbole. i) eufemismo. j) personificação. 12. (UNICAMP) Morro da Babilônia À noite, do morro descem vozes que criam o terror (terror urbano, cinquenta por cento de cinema, e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua Geral). Quando houve revolução, os soldados espalharam no morro, o quartel pegou fogo, eles não voltaram. Alguns, chumbados, morreram. O morro ficou mais encantado. Mas as vozes do morro não são propriamente lúgubres. Há mesmo um cavaquinho bem afinado que domina os ruídos da pedra e da folhagem e desce até nós, modesto e recreativo, como uma gentileza do morro. (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.19.) No poema “Morro da Babilônia”, de Carlos Drummond de Andrade, k) a menção à cidade do Rio de Janeiro é feita de modo indireto, metonimicamente, pela referência ao Morro da Babilônia. l) o sentimento do mundo é representado pela percepção particular sobre a cidade do Rio de Janeiro, aludida pela metáfora do Morro da Babilônia. m) o tratamento dado ao Morro da Babilônia assemelha-se ao que é dado a uma pessoa, o que caracteriza a figura de estilo denominada paronomásia. n) a referência ao Morro da Babilônia produz, no percurso figurativo do poema, um oximoro: a relação entre terror e gentileza no espaço urbano. 13. A tirinha denota a postura assumida por seu produtor frente ao uso social da tecnologia para fins de interação e de informação. Tal posicionamento é expresso, de forma argumentativa, por meio de uma atitude a) crítica, expressa pelas ironias. b) resignada, expressa pelas enumerações. c) indignada, expressa pelos discursos diretos. d) agressiva, expressa pela contra-argumentação. e) alienada, expressa pela negação da realidade. 14. (IFAL 2018) Antítese é a figura de linguagem que ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. Assinale a opção em que há uma antítese. a) "O homem é uma substância vivente, sensitiva, racional. O pó vive? Não. Pois como é pó o vivente? O pó sente? Não. Pois como é pó o sensitivo? O pó entende e discorre? Não. Pois como é pó o racional?" (VIEIRA, Antônio Pe. Sermões, Erechim: Edelbra, 1998, p. 56) b) "Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei / Vou- me embora pra Pasárgada." (Texto extraído do livro Bandeira a Vida Inteira, Rio de Janeiro: Editora Alumbramento, 1986, p. 90) c) "O Trivium explica que a lógica é a arte da dedução. Na qualidade de seres pensantes, sabemos alguma coisa e desse saber podemos deduzir um novo saber, um novo conhecimento." (MIRIAM, Joseph. O Trivium: as artes liberais da lógica, gramática e retórica: entendendo a natureza e a função da linguagem. Trad.: Henrique Paul Dimyterko. São Paulo: É Realizações, 2008, p. 24) d) "Mas que o homem, pela necessidade de sua natureza, busque não existir, ou mudar de forma, isso é tão impossível quanto criar algo a partir de nada, como todos podem concluir meditando um pouco." (MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 75) e) "Deve-se reconhecer que muitas proposições mencionam a “quantidade” mais especificamente do que as proposições de forma típica." (COPI, Irving. Introdução à Lógica. Trad.: Álvaro Cabral. 2.ª ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978, p. 200) R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR140 INTERPRETAÇÃO 08 FIGURAS DE LINGUAGEM I: FIGURAS DE PALAVRA E DE PENSAMENTO 15. (UNIFESP) Maria Bofetão A surra que Maria Clara aplicou na vilã Laura levantou a audiência da novela Celebridade. Na segunda-feira passada, 28 tabefes bem aplicados pela heroína Maria Clara (Malu Mader) derrubaram a ignóbil Laura (Cláudia Abreu) e levantaram a audiência de Celebridade, a novela das 8 da Globo. (…) Tanto a mocinha quanto a vilã ganharam nova dimensão nos últimos tempos. Maria Clara, depois de perder sua fortuna, deixou de ser apenas uma patricinha magnânima e insossa, a aborrecida Maria Chata. Ela ganhou fibra e mostrou que não tem sangue de barata. Quanto à Laura, ficou claro que sua maldade tem proporções oceânicas: continuou com suas perfídias mesmo depois de conquistar a fama e o dinheiro que almejava. Por tripudiar tanto assim sobre a inimiga, atraiu o ódio dos noveleiros. (Veja, 05.05.2004.) Em “Quanto à Laura, ficou claro que sua maldade tem proporções oceânicas”, a figura de linguagem presente é a) uma metáfora, já que compara a maldade com o oceano. b) uma hipérbole, pois expressa a ideia de uma maldade exagerada. c) um eufemismo, já que não afirma diretamente o quanto há de maldade. d) uma ironia, pois se reconhece a maldade, mas ficam pressupostos outros sentidos. e) um pleonasmo, já que entre maldade e oceânicas há uma repetição de sentido. 16. (EEAR 2019) Leia: I. O Rio Doce entrou em agonia, após o desastre que poluiu suas águas com lama. II. Suas águas, claras, estão agora escuras, de mãos irresponsáveis que a sujaram. Nas frases há, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem: a) Eufemismo – Prosopopeia. b) Prosopopeia – Antítese. c) Antítese – Prosopopeia. d) Eufemismo – Antítese. 17. (CP2 2019) Do Velho ao Jovem Na face do velho as rugas são letras, palavras escritas na carne, abecedário do viver. Na face do jovem o frescor da pele e o brilho dos olhos são dúvidas. Nas mãos entrelaçadas de ambos, o velho tempo funde-se ao novo, e as falas silenciadas explodem. O que os livros escondem, as palavras ditas libertam. E não há quem ponha um ponto final na história Infinitas são as personagens… Vovó Kalinda, Tia Mambene, Primo Sendó, Ya Tapuli, Menina Meká, Menino Kambi, Neide do Brás, Cíntia da Lapa, Piter do Estácio, Cris de Acari, Mabel do Pelô, Sil de Manaíra E também de Santana e de Belô e mais e mais, outras e outros… Nos olhos do jovem também o brilho de muitas histórias. E não há quem ponha um ponto final no rap É preciso eternizar as palavras da liberdade ainda e agora… Texto de Conceição Evaristo publicado no livro Poemas da recordação e outros movimentos (Belo Horizonte: Nandyala, 2008). Em “as rugas são letras” (linha 2), foi empregada como recurso estilístico a figura de linguagem a) antítese. b) hipérbole. c) metáfora. d) metonímia. 18. (CP2 2019) Coleção Colecionamos objetos mas não o espaço entre os objetos fotos mas não o tempo entre as fotos selos mas não viagens lepidópteros mas não seu voo garrafas mas não a memória da sede discos mas nunca o pequeno intervalo de silêncio entre duas canções MARQUES, Ana Martins. O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. Quanto aos termos relacionados no poema, pode-se identificar uma antítese entre a) “fotos” e “tempo”. b) “selos” e “viagens”. c) “silêncio” e “canções”. d) “lepidópteros” e “voo”. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 08 FIGURAS DE LINGUAGEM I: FIGURAS DE PALAVRA E DE PENSAMENTO 141 INTERPRETAÇÃO 19. (IME 2019) O elefante Fabrico um elefante de meus poucos recursos. Um tanto de madeira tirado a velhos móveis talvez lhe dê apoio. E o encho de algodão, de paina, de doçura. A cola vai fixar suas orelhas pensas. A tromba se enovela, é a parte mais feliz de sua arquitetura. Mas há também as presas, dessa matéria pura que não sei figurar. Tão alva essa riqueza a espojar-se nos circos sem perda ou corrupção. E há por fim os olhos, onde se deposita a parte do elefante mais fluida e permanente, alheia a toda fraude. Eis o meu pobre elefante pronto para sair à procura deamigos num mundo enfastiado que já não crê em bichos e duvida das coisas. Ei-lo, massa imponente e frágil, que se abana e move lentamente a pele costurada onde há flores de pano e nuvens, alusões a um mundo mais poético onde o amor reagrupa as formas naturais. Vai o meu elefante pela rua povoada, mas não o querem ver nem mesmo para rir da cauda que ameaça deixá-lo ir sozinho. É todo graça, embora as pernas não ajudem e seu ventre balofo se arrisque a desabar ao mais leve empurrão. Mostra com elegância sua mínima vida, e não há cidade alma que se disponha a recolher em si desse corpo sensível a fugitiva imagem, o passo desastrado mas faminto e tocante. Mas faminto de seres e situações patéticas, de encontros ao luar no mais profundo oceano, sob a raiz das árvores ou no seio das conchas, de luzes que não cegam e brilham através dos troncos mais espessos. Esse passo que vai sem esmagar as plantas no campo de batalha, à procura de sítios, segredos, episódios não contados em livro, de que apenas o vento, as folhas, a formiga reconhecem o talhe, mas que os homens ignoram, pois só ousam mostrar-se sob a paz das cortinas à pálpebra cerrada. E já tarde da noite volta meu elefante, mas volta fatigado, as patas vacilantes se desmancham no pó. Ele não encontrou o de que carecia, o de que carecemos, eu e meu elefante, em que amo disfarçar-me. Exausto de pesquisa, caiu-lhe o vasto engenho como simples papel. A cola se dissolve e todo o seu conteúdo de perdão, de carícia, de pluma, de algodão, jorra sobre o tapete, qual mito desmontado. Amanhã recomeço. ANDRADE, Carlos Drummond de. O Elefante. 9ª ed. - São Paulo: Editora Record, 1983. Considere os versos 95 a 98 do poema, transcritos abaixo: “e todo o seu conteúdo de perdão, de carícia, de pluma, de algodão, jorra sobre o tapete,” A figura de linguagem construída a partir de uma relação entre os campos semânticos evocados pelo título do poema e de seus versos acima destacados é a (o) a) ambiguidade. b) apóstrofe. c) antítese. d) eufemismo. e) metonímia. 20. (CFTMG 2018) A alegria O sofrimento não tem nenhum valor não acende um halo em volta de tua cabeça, não ilumina trecho algum de tua carne escura (nem mesmo o que iluminaria a lembrança ou a ilusão de uma alegria). Sofres tu, sofre um cachorro ferido, um inseto que o inseticida envenena. Será maior a tua dor que a daquele gato que viste a espinha quebrada a pau arrastando-se a berrar pela sarjeta sem ao menos poder morrer? A justiça é moral, a injustiça não. A dor te iguala a ratos e baratas que também de dentro dos esgotos espiam o sol e no seu corpo nojento de entre fezes querem estar contentes. GULLAR, Ferreira. Na vertigem do dia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. Na segunda estrofe, o questionamento do eu lírico é expresso por meio de uma a) metáfora da impotência diante da morte iminente. b) antítese entre as ideias de sofrimento e de alegria. c) comparação entre a dor humana e a dor do gato. d) hipérbole da violência cometida contra o animal. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR142 INTERPRETAÇÃO 08 FIGURAS DE LINGUAGEM I: FIGURAS DE PALAVRA E DE PENSAMENTO APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (CP2 2014) Uma música que seja... ...como os mais belos harmônicos da natureza. Uma música que seja como o som do vento na cordoalha dos navios, aumentando gradativamente de tom até atingir aquele em que se cria uma reta ascendente para o infinito. Uma música que seja como o som do vento numa enorme harpa plantada no deserto. Uma música que seja como a nota lancinante deixada no ar por um pássaro que morre. Uma música que seja como o som dos altos ramos das grandes árvores vergadas pelos temporais. Uma música que seja como o ponto de reunião de muitas vozes em busca de uma harmonia nova. Uma música que seja como o voo de uma gaivota numa aurora de novos sons. (Moraes, Vinícius de. Poesia completa e prosa: volume único/ Organização Eucanaã Ferraz._ Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. Pág. 623) Vocabulário: Cordoalha – conjunto de cordas de várias espécies, geralmente usado em navios. Lancinante – pungente; que aflige, que atormenta. No texto, o eu lírico relaciona a música à natureza por meio de qual figura de linguagem? 02. Texto 1 A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855. Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das poucas festas populares da corte. Conforme o costume, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa e ao longo do cais, serpejava nas faldas do outeiro e apinhava-se em torno da poética ermida, cujo âmbito regurgitava com a multidão do povo. Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a mole de gente que murava cada uma das portas da igreja, nos resignamos a gozar da fresca viração que vinha do mar, contemplando o delicioso panorama da baía e admirando ou criticando as devotas que também tinham chegado tarde e pareciam satisfeitas com a exibição de seus adornos. Enquanto Sá era disputado pelos numerosos amigos e conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sentado comodamente sobre a pequena muralha e resolvido a estabelecer ali o meu observatório. Para um provinciano recém-chegado à corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, à doce luz da tarde, uma parte da população desta grande cidade, com os seus vários matizes e infinitas gradações? Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha. (ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Editora Ática, 1988, p.12.) Texto 2 Quando a manhã chuvosa nasceu, as pessoas que passavam para o trabalho se aproximavam dos corpos para ver se eram conhecidos, seguiam em frente. Lá pelas nove horas, Cabeça de Nós Todo, que entrara de serviço às sete e trinta, foi ver o corpo do ladrão. Ao retirar o lençol de cima do cadáver, concluiu: “É bandido”. O defunto tinha duas tatuagens, a do braço esquerdo era uma mulher de pernas abertas e olhos fechados, a do direito, são Jorge guerreiro. E, ainda, calçava chinelo Charlote, vestia calça boquinha, camiseta de linha colorida confeccionada por presidiários. Porém, quando apontou na extremidade direita da praça da Quadra Quinze, em seu coração de policial, nos passos que lhe apresentavam a imagem do corpo de Francisco, um nervosismo brando foi num crescente ininterrupto até virar desespero absoluto. O presunto era de um trabalhador. (LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p 55-56.) a) No último parágrafo do Texto 1, Alencar contrasta a seda e o algodão, o havana e o cigarro de palha. Explique a natureza desse contraste explicitando conotações associáveis a tais expressões substantivas. b) Reproduzimos a seguir um outro fragmento do livro Lucíola, de José de Alencar (um diálogo entre os personagens Paulo e Sá). - Quem é esta senhora? perguntei a Sá. [...] - NÃO É UMA SENHORA, PAULO! É UMA MULHER BONITA. QUERES CONHECÊ-LA? Transforme em discurso indireto a frase destacada nesse diálogo, dando continuidade à seguinte estrutura: Paulo perguntou a Sá quem era aquela senhora. Este respondeu-lhe que ... 03. (UERJ 2016) VAGABUNDO Eu durmo e vivo ao sol como um cigano, Fumando meu cigarro vaporoso; Nas noites de verão namoro estrelas; Sou pobre, sou mendigo e sou 1ditoso! Ando roto, sem bolsos nem dinheiro Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas, E quem vive de amornão tem pobreza. (...) Oito dias lá vão que ando cismado Na donzela que ali defronte mora. Ela ao ver-me sorri tão docemente! Desconfio que a moça me namora!... Tenho por meu palácio as longas ruas; Passeio a gosto e durmo sem temores; Quando bebo, sou rei como um poeta, E o vinho faz sonhar com os amores. O degrau das igrejas é meu trono, Minha pátria é o vento que respiro, Minha mãe é a lua macilenta, E a preguiça a mulher por quem suspiro. Escrevo na parede as minhas rimas, De painéis a carvão adorno a rua; Como as aves do céu e as flores puras Abro meu peito ao sol e durmo à lua. (...) Ora, se por aí alguma bela Bem doirada e amante da preguiça Quiser a 2nívea mão unir à minha, Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa. Álvares de Azevedo Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 08 FIGURAS DE LINGUAGEM I: FIGURAS DE PALAVRA E DE PENSAMENTO 143 INTERPRETAÇÃO 1ditoso − feliz 2nívea − branca Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso! (v. 4) O verso acima reúne dois traços que podem ser considerados inconciliáveis. Explicite esses traços e nomeie duas figuras de linguagem que reforçam o significado do verso. 04. (UNESP 2018) Para responder à(s) questão(ões), leia o soneto de Raimundo Correia (1859-1911). Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados, Por céus de ouro e de púrpura raiados, Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se, além, da serrania Os vértices de chama aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia... Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe nódoa, avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua... A natureza apática esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula... Anoitece. (Poesia completa e prosa, 1961.) a) Há no soneto menção a um sentimento que permeia e circunda a natureza retratada. Que sentimento é esse? Do que decorre tal sentimento? b) Verifica-se na terceira estrofe a ocorrência de uma antítese. Que termos configuram essa antítese? 05. (UNESP 2017) Leia o soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” do poeta português Luís Vaz de Camões (1525?-1580) para responder à questãoa seguir. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da 1esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem – se algum houve –, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e enfim converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de 2mor espanto: que não se muda já como 3soía. Sonetos, 2001. 1esperança: esperado. 2mor: maior. 3soer: costumar (soía: costumava). A sinestesia (do grego syn, que significa “reunião”, “junção”, “ao mesmo tempo”, e aisthesis, “sensação”, “percepção”) designa a transferência de percepção de um sentido para outro, isto é, a fusão, num só ato perceptivo, de dois sentidos ou mais. (Massaud Moisés. Dicionário de termos literários, 2004. Adaptado.) Transcreva o verso em que se verifica a ocorrência de sinestesia. Justifique sua resposta. Reescreva o verso da terceira estrofe “que já coberto foi de neve fria”, adaptando-o para a ordem direta e substituindo o pronome “que” pelo seu referente. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. E 02. A 03. E 04. A 05. D 06. C 07. A 08. E 09. A 10. D 11. E 12. A 13. A 14. A 15. B 16. B 17. C 18. D 19. C 20. C EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. A palavra “como” é típica da figura de linguagem da comparação. No texto, observa-se que o eu lírico está, a todo momento, comparando a música à natureza a partir dessa palavra, como visto, por exemplo, no trecho “Uma música que seja como o som do vento numa enorme harpa plantada no deserto.” 02. a) Na referida passagem, José de Alencar explora as diferenças socioeconômicas entre os personagens da cena urbana que descreve. Utilizando-se de metonímia, a seda e o havana conotam a riqueza e o status das classes socialmente privilegiadas, enquanto o algodão e o cigarro de palha evocam a condição desfavorecida das classes populares. b) Paulo perguntou a Sá quem era aquela senhora. Este respondeu-lhe que não se tratava de uma senhora, mas sim de uma mulher bonita. Em seguida, perguntou a ele se desejava conhecê-la. 03. Traços que caracterizam o verso: pobreza/mendicância × felicidade. Tem-se aí algumas figuras de linguagem e de pensamento como a antítese, ou seja, há contradição entre ser muito pobre e ser feliz (ditoso). Há uma gradação quando a ordem de apresentação é pobre, mendigo e ditoso, que quer dizer feliz. A anáfora fica por conta do verbo sou repetido em cada período por coordenação. 04. a) No soneto “Anoitecer”, o poeta descreve o final do dia incorporando à paisagem uma profunda melancolia. Embora vinculada à estética parnasiana, a obra de Raimundo Correia evolui, iniciando sua carreira como romântico, para depois adotar o parnasianismo até se aproximar, em alguns poemas, com a escola simbolista. Assim, o final do dia sugere também o declínio da vida, o que gera reflexões e sentimentos de tristeza e melancolia sobre a passagem do tempo, a transitoriedade e efemeridade das coisas. a) Na terceira estrofe, os termos “sombra” e “luz” configuram uma antítese, figura de estilo que recorre a termos, palavras ou orações que se opõem quanto ao sentido para conferir mais expressividade ao texto. 05. No verso “e enfim converte em choro o doce canto”, ocorre a sinestesia, transferência de percepção do sentido gustativo (doce) para o auditivo (canto). Se o verso “que já coberto foi de neve fria” fosse reescrito na ordem direta e o pronome “que” substituído pelo seu referente, teríamos a seguinte redação: “o chão de verde manto já foi coberto de neve fria”. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR144 INTERPRETAÇÃO 08 FIGURAS DE LINGUAGEM I: FIGURAS DE PALAVRA E DE PENSAMENTO ANOTAÇÕES R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 85PROENEM.COM.BR FIGURAS DE LINGUAGEM II: FIGURAS DE CONSTRUÇÃO E DE HARMONIA09 FIGURAS DE CONSTRUÇÃO OU DE SINTAXE As figuras de sintaxe caracterizam-se por alterarem de alguma maneira as regras tradicionais da Gramática, isto é, a coesão normativa é substituída por uma coesão significativa, condicionada pelo contexto geral e pela situação, em busca de maior expressividade. Com isso, encontraremos repetições de termos, inversão de elementos, discordância entre outras modificações. Podemos classificá-las em grupos: 1. por repetição 2. por omissão 3. transposição 4. discordância FIGURAS DE CONSTRUÇÃO POR REPETIÇÃO Anáfora - é a repetição de um termo ao início de versos ou frases. “Tudo é silêncio, tudo (é) calma, tudo (é) mudez” Olavo Bilac Pleonasmo - repetição desnecessária de um termo já expresso, com valor enfático. Note que tal repetição tem de apresentar valor estilístico, do contrário será considerado vicioso. Podemos ainda dividir o pleonasmo em sintático e semântico. 1. Pleonasmo sintático - É a repetição de um termo da oração, normalmente por referência pronominal. “A mim, não me agradam tais comentários” 2. Pleonasmo semântico - Consiste na repetição das ideias presentes nos termos. “Sonhei que estava sonhando um sonho sonhado” Martinho da Vila Polissíndeto - emprego reiterado de conectivos entre elemen- tos coordenados. “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua” Olavo Bilac FIGURAS DE CONSTRUÇÃO POR OMISSÃO Assíndeto - omissão do conectivo entre termos coordenados. “A barca vinha perto, chegou, atracou, entramos.” Machado de Assis Elipse - omissão de um termo da oração, facilmente percebido pelo contexto. Um cavalheiro. Até na miséria, um cavalheiro. Faltei à prova. Zeugma - tipo de elipse em que um termo participa de duas ou mais orações, porém sóaparece em uma única vez. Eu fiz uma parte, Antônio fez outra e Sueli fez a última. FIGURAS DE CONSTRUÇÃO POR TRANSPOSIÇÃO Hipérbato - inversão da ordem natural das palavras na oração ou da ordem das orações no período. Existe, então, a introdução de uma expressão no interior de outro sintagma. Também é chamada de “inversão”. “A casa, torno a ver, em que moramos” Prolepse (ou Antecipação) - deslocamento de um termo do interior de uma oração para o início do período. “Os pastores parece que vivem no fim do mundo.” (Parece que os pastores vivem no fim do mundo) “Prima Justina creio que se levantou.” (Creio que prima Justina se levantou) FIGURAS DE CONSTRUÇÃO POR DISCORDÂNCIA Anacoluto - introdução aleatória de um termo sem qualquer função sintática dentro da oração. “Bom! Bom! Eu parece-me que ainda não ofendi ninguém!” José Régio Hipálage - transposição de uma virtude própria de determinado termo para outro integrante da oração. “As lojas loquazes dos barbeiros” (Loquazes, que tem o sentido de “falantes”, refere-se aos barbeiros, não às lojas.) Silepse - concordância estabelecida ideologicamente, contra- riando a norma gramatical. São de três tipos: 1. Silepse de gênero - concordância ideológica com a pessoa referida e não com a exigência do termo. “Senhor Presidente, Vossa Excelência parece cansado.” 2. Silepse de número - concordância ideológica com o número (singular ou plural), contrariando o número do termo referido. “A multidão ouvia com atenção. Ao final, aplaudiram.” 1. Silepse de pessoa - concordância ideológica com uma pessoa diferente da expressa na oração. “Todos entramos imediatamente” “no fundo a gente se consolava, pensávamos em nós mesmos.” Autran Dourado PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR86 INTERPRETAÇÃO 09 FIGURAS DE LINGUAGEM II: FIGURAS DE CONSTRUÇÃO E DE HARMONIA FIGURAS DE HARMONIA Aliteração - é a incidência expressiva de fonemas consonantais idênticos. “Me deixa ser teu escracho capacho, teu cacho, riacho de amor...” Chico Buarque Assonância - é a repetição de sílabas ou vogais idênticas. “Duma nuança mansa que não cansa” E. Perneta Onomatopeia - quando o vocábulo busca reproduzir o próprio som ou ruído de objeto representado. “Sino de Belém, como soa bem! Sino de Belém bate bem-bem-bem.” Manuel Bandeira Paronomásia - consiste no emprego, ao final ou no interior dos versos, de vocábulos parônimos. “Por todo o dia um certo verde um inseto verde o incerto ver-te” Ramos Filho PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Conceitue as três figuras de construção por omissão. 02. Cite duas figuras de construção por repetição. 03. Identifique os grupos pertencentes às figuras de construção ou sintaxe. 04. Conceitue duas figuras de harmonia. 05. Identifique quantos e quais são os grupos de silepse. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. (IBMEC-RJ) Joaquim Maria Machado de Assis é cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Em 2008, comemora-se o centenário de sua morte, ocorrida em setembro de 1908. Machado de Assis é considerado o mais canônico escritor da Literatura Brasileira e deixou uma rica produção literária composta de textos dos mais variados gêneros, em que se destacam o conto e o romance. Segue o texto desse autor, em poesia. À Carolina Querida! Ao pé do leito derradeiro, em que descansas desta longa vida, aqui venho e virei, pobre querida, trazer-te o coração de companheiro. Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro que, a despeito de toda a humana lida, fez a nossa existência apetecida e num recanto pôs um mundo inteiro... Trago-te flores - restos arrancados da terra que nos viu passar unidos e ora mortos nos deixa e separados; que eu, se tenho, nos olhos mal feridos, pensamentos de vida formulados, são pensamentos idos e vividos. “E num recanto pôs um mundo inteiro.” (verso 8). Observamos no verso destacado as seguintes figuras de linguagem: a) Metonímia e hipérbato. b) Hipérbato e hipérbole. c) Hipérbole e pleonasmo. d) Pleonasmo e anáfora. e) Personificação e pleonasmo. 02. (ENEM) Canção do vento e da minha vida O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. [...] O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres. O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967. Na estruturação do texto, destaca-se a) a construção de oposições semânticas. b) a apresentação de ideias de forma objetiva. c) o emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo. d) a repetição de sons e de construções sintáticas semelhantes. e) a inversão da ordem sintática das palavras. 03. (UECE) A Fita Métrica do Amor Martha Medeiros Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade. Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto. É pequena quando desvia do assunto. Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 09 FIGURAS DE LINGUAGEM II: FIGURAS DE CONSTRUÇÃO E DE HARMONIA 87 INTERPRETAÇÃO com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês. Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo. É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes. Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho. Como figura de linguagem, a anáfora é caracterizada pela repetição de uma ou mais palavras no início de versos, orações ou períodos. Na crônica, a autora recorre à anáfora, nos três primeiros parágrafos do texto, pela repetição da conjunção “quando”, com o objetivo de a) ampliar a expressividade do conteúdo da mensagem, enfatizando o sentido do termo repetido consecutivamente. b) empregar a anáfora como um recurso estilístico indispensável a qualquer texto de cunho literário. c) respeitar as características da crônica, já que a anáfora é um recurso linguístico próprio deste tipo de gênero textual. d) fazer referência a uma informação previamente mencionada. 04. (UFG) Leia o poema a seguir. br um ônibus na estrada é só uma faixa contínua que puxa & piche & placas & postes & mais & mais asfalto & pastos & bois & soja & cana ao longo da estrada interminável & monótona & sem fim PEREIRA, Luís Araujo. Minigrafias. Goiânia: Cânone Editorial, 2009. p. 75. A anáfora é um recurso de linguagem cuja função é de organização textual, de retomada referencial ou de repetição da mesma palavra ou construção. No poema apresentado, emprega-se “&” por meio dessa figura de linguagem, fazendo a anáfora produzir efeito de sentido equivalente ao a) movimentoacelerado do ônibus, evidente na imagem “um ônibus/ na estrada/ é só uma faixa/ contínua/ que puxa”. b) tipo de vida monótono dos motoristas de ônibus implicado na anáfora e na repetição de consoantes e de vogais. c) som do ônibus na estrada, sugerido pelo emprego de aliterações e assonâncias ao longo do poema. d) panorama econômico da rodovia, reiterado nas palavras “piche”, “placas”, “postes”, “asfalto”, “pasto”, “bois”, “soja” e “cana”. e) cenário da rodovia, igual a todas as estradas, presente na imagem “interminável/ & monótona/ & sem fim”. 05. (UEG) Leia o trecho abaixo: – Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva; só morte tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de vida severina (aquela vida que é menos vivida que defendida, e é ainda mais severina para o homem que retira). NETO, João Cabral de Melo. Morte e vida severina. Rio de Janeiro: MEDIAfashion, 2008. p. 82. Verifica-se, em termos estruturais, uma a) aliteração no penúltimo verso. b) anáfora no segundo e terceiro versos. c) comparação no quinto verso. d) metáfora no terceiro e quarto versos. 06. (UFU-MG) Dionisos Dendrites Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas Ramos nascem de seu peito Pés percutem a pedra enegrecida Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados. Acorre o vento ao círculo demente O vinho espuma nas taças incendiadas. Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas E o vaticínio do tumulto à Noite – Chegada do inverno aos lares Fim de guerra em campos estrangeiros. As bocas mordem colos e flancos desnudados: À sombra mergulham faces convulsivas Corpos se avizinham à vida fria dos valados Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio. Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos Mergulham no vórtice da festa consagrada. E quando o Sol o ingênuo olhar acende Um secreto murmúrio ata num só feixe O louro trigo nascido das encostas. SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43. Considerando a leitura do poema e o uso dos recursos expressivos, em Dionisos Dendrites, a) a aliteração no verso “Pés percutem a pedra enegrecida” indica um som reproduzido como o dos tambores do verso subsequente. b) a gradação em ‘bocas’, ‘faces’ e ‘corpos’, nos três primeiros versos da 3ª estrofe, aponta para a opulência do ritual. c) a metonímia em “seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas” revela o embate estabelecido entre a vida e a morte. d) a metáfora em ‘taças incendiadas’, no verso “o vinho espuma nas taças incendiadas”, denota o sentimento de enfado dos presentes em relação ao ritual. 07. (FUVEST) Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. Tia Tula, que achava que mormaço fazia mal, sempre gritava: “Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!” Mas eu ouvia o mormaço com M maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho que pegava crianças! Ia pra dentro logo. E ainda hoje, quando leio que alguém se viu perseguido pelo clamor público, vejo com estes olhos o Sr. Clamor Público, magro, arquejante, de preto, brandindo um guarda-chuva, com um gogó protuberante que se abaixa e levanta no excitamento da perseguição. E já estava devidamente grandezinho, pois devia contar uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de colegas, a ver o lançamento da pedra fundamental da ponte Uruguaiana- PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR88 INTERPRETAÇÃO 09 FIGURAS DE LINGUAGEM II: FIGURAS DE CONSTRUÇÃO E DE HARMONIA Libres, ocasião de grandes solenidades, com os presidentes Justo e Getúlio, e gente muita, tanto assim que fomos alojados os do meu grupo num casarão que creio fosse a Prefeitura, com os demais jornalistas do Brasil e Argentina. Era como um alojamento de quartel, com breve espaço entre as camas e todas as portas e janelas abertas, tudo com os alegres incômodos e duvidosos encantos de uma coletividade democrática. Pois lá pelas tantas da noite, como eu pressentisse, em meu entredormir, um vulto junto à minha cama, sentei-me estremunhado* e olhei atônito para um tipo de chiru*, ali parado, de bigodes caídos, pala pendente e chapéu descido sobre os olhos. Diante da minha muda interrogação, ele resolveu explicar-se, com a devida calma: – Pois é! Não vê que eu sou o sereno... Mário Quintana, As cem melhores crônicas brasileiras. *Glossário: estremunhado: mal acordado. chiru: que ou aquele que tem pele morena, traços acaboclados (regionalismo: Sul do Brasil). Considerando que “silepse é a concordância que se faz não com a forma gramatical das palavras, mas com seu sentido, com a ideia que elas representam”, indique o fragmento em que essa figura de linguagem se manifesta. a) “olha o mormaço”. b) “pois devia contar uns trinta anos”. c) “fomos alojados os do meu grupo”. d) “com os demais jornalistas do Brasil”. e) “pala pendente e chapéu descido sobre os olhos”. 08. (UNESP) Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, poeta e cidadão A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas. Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva. De repente não tinha pai. No escuro de minha casa em Los Angeles procurei recompor tua lembrança Depois de tanta ausência. Fragmentos da infância Boiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menino Correndo ao teu encontro. Na ilha noturna Tinham-se apenas acendido os lampiões a gás, e a clarineta De Augusto geralmente procrastinava a tarde. Era belo esperar-te, cidadão. O bondinho Rangia nos trilhos a muitas praias de distância... Dizíamos: “Ê-vem meu pai!”. Quando a curva Se acendia de luzes semoventes*, ah, corríamos Corríamos ao teu encontro. A grande coisa era chegar antes Mas ser marraio** em teus braços, sentir por último Os doces espinhos da tua barba. Trazias de então uma expressão indizível de fidelidade e paciência Teu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçura De quem se deixou ser. Teus ombros possantes Se curvavam como ao peso da enorme poesia Que não realizaste. O barbante cortava teus dedos Pesados de mil embrulhos: carne, pão, utensílios Para o cotidiano (e frequentemente o binóculo Que vivias comprando e com que te deixavas horas inteiras Mirando o mar). Dize-me, meu pai Que viste tantos anos através do teu óculo de alcance Que nunca revelaste a ninguém? Vencias o percurso entre a amendoeira e a casa como o atleta exausto no último lance da maratona. Te grimpávamos. Eras penca de filho. Jamais Uma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa humilde A um gesto do mar. A noite se fechava Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa. Muitas vezes te vi desejar. Desejavas. Deixavas-te olhando o mar Com mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feios Buscavam ilhas, outras ilhas... — as imaculadas, inacessíveis Ilhas do Tesouro. Querias. Querias um dia aportar E trazer — depositar aos pés da amada as joias fulgurantes Do teu amor. Sim, foste descobridor, e entre eles Dos mais provectos***. Muitas vezes te vi, comandante Comandar, batido de ventos, perdido na fosforência De vastos e noturnos oceanos Sem jamais. Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste A suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar Em silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor Em silêncio. Foste um no lado esquerdo. Mas Teu amor inventou. Financiaste uma lancha Movida a água: foi reta para o fundo. Partiste um dia Para um brasil além, garimpeiro sem medo e sem mácula. Doze luas voltaste. Tua primogênita — diz-se — Não te reconheceu. Trazias grandes barbas e pequenas águas- marinhas. (Vinicius de Moraes. Antologia poética. 11 ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1974, p. 180-181.) (*) Semovente: “Que ou o que anda ou se move por si próprio.” (**) Marraio: “No gude e noutros jogos, palavra que dá, a quem primeiro a grita, o direito de ser o último a jogar.” (***) Provecto: “Que conhece muito um assunto ou uma ciência, experiente, versado, mestre.” (Dicionário Eletrônico Houaiss) Marque a alternativa cujo verso contémum pleonasmo, ou seja, uma redundância de termos com bom efeito estilístico. a) De repente não tinha pai. b) Rangia nos trilhos a muitas praias de distância... c) Se curvavam como ao peso da enorme poesia d) Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa. e) Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste 09. (UNESP) Para chegar ao soberbo resultado de transformar a banha em fibra, aí vem o futebol. Mas por que o futebol? Não seria, porventura, melhor exercitar-se a mocidade em jogos nacionais, sem mescla de estrangeirismo, o murro, o cacete, a faca de ponta, por exemplo? Não é que me repugne a introdução de coisas exóticas entre nós. Mas gosto de indagar se elas serão assimiláveis ou não. No caso afirmativo, seja muito bem-vinda a instituição alheia, fecundemo-la, arranjemos nela um filho híbrido que possa viver cá em casa. De outro modo, resignemo-nos às broncas tradições dos sertanejos e dos matutos. Ora, parece- -me que o futebol não se adapta a estas boas paragens do cangaço. É roupa de empréstimo, que não nos serve. Para que um costume intruso possa estabelecer-se definitivamente em um país é necessário, não só que se harmonize com a índole do povo que o vai receber, mas que o lugar a ocupar não esteja tomado por outro mais antigo, de cunho indígena. É preciso, pois, que vá preencher uma lacuna, como diz o chavão. O do futebol não preenche coisa nenhuma, pois já temos a muito conhecida bola de palha de milho, que nossos amadores mambembes1 jogam com uma perícia que deixaria o mais experimentado sportman britânico de queixo caído. Os campeões brasileiros não teriam feito a figura triste que fizeram em Antuérpia se a bola figurasse nos programas das Olimpíadas e estivessem a disputá-la quatro sujeitos de pulso. Apenas um representante nosso conseguiu ali distinguir-se, no tiro de revólver, o que é pouco lisonjeiro para a vaidade de um país em que se fala tanto. Aqui seria muito mais fácil o indivíduo salientar- se no tiro de espingarda umbiguda, emboscado atrás de um pau. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 09 FIGURAS DE LINGUAGEM II: FIGURAS DE CONSTRUÇÃO E DE HARMONIA 89 INTERPRETAÇÃO Temos esportes em quantidade. Para que metermos o bedelho em coisas estrangeiras? O futebol não pega, tenham a certeza. Não vale o argumento de que ele tem ganho terreno nas capitais de importância. Não confundamos. As grandes cidades estão no litoral; isto aqui é diferente, é sertão. As cidades regurgitam de gente de outras raças ou que pretende ser de outras raças; nós somos mais ou menos botocudos, com laivos de sangue cabinda e galego. Nas cidades os viciados elegantes absorvem o ópio, a cocaína, a morfina; por aqui há pessoas que ainda fumam liamba². 1 mambembe: medíocre, reles, de baixa condição. 2 liamba: cânhamo, maconha. (Linhas tortas, 1971.) Na oração “O do futebol não preenche coisa nenhuma” (7o parágrafo) é omitida, por elipse, uma palavra empregada anteriormente: a) país. b) povo. c) lugar. d) costume. e) chavão. 10. (CISMETRO-SP – VETERINÁRIO) Observe o trecho do hino nacional apresentado a seguir, e responda à questão. “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heroico o brado retumbante” Assinale a alternativa que corresponde à figura de linguagem empregada no trecho. a) Hipérbole. b) Eufemismo. c) Hipérbato. d) Zeugma. 11. (FEI) Assinalar a alternativa correta, correspondente à figuras de linguagem, presentes nos fragmentos abaixo: I. “Não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puro viste.” II. “A moral legisla para o homem; o direito para o cidadão.” III. “A maioria concordava nos pontos essenciais; nos pormenores porém, discordavam.” IV. “Isaac a vinte passos, divisando o vulto de um, para, ergues a mão em viseira, firma os olhos.” a) anacoluto, hipérbato, hipálage, pleonasmo; b) hipérbato, zeugma, silepse, assíndeto; c) anáfora, polissíndeto, elipse, hipérbato; d) pleonasmo, anacoluto, catacrese, eufemismo; e) hipálage, silepse, polissíndeto, zeugma. 12. (PUC – SP) Nos trechos: “…nem um dos autores nacionais ou nacionalizados de oitenta pra lá faltava nas estantes do major” e “…o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja” encontramos, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem: a) prosopopeia e hipérbole; b) hipérbole e metonímia; c) perífrase e hipérbole; d) metonímia e eufemismo; e) metonímia e prosopopeia. 13. (UM-SP) Indique a alternativa em que haja uma concordância realizada por silepse: a) Os irmãos de Teresa, os pais de Júlio e nós, habitantes desta pacata região, precisaremos de muita força para sobreviver. b) Poderão existir inúmeros problemas conosco devido às opiniões dadas neste relatório. c) Os adultos somos bem mais prudentes que os jovens no combate às dificuldades. d) Dar-lhe-emos novas oportunidades de trabalho para que você obtenha resultados mais satisfatórios. e) Haveremos de conseguir os medicamentos necessários para a cura desse vírus insubordinável a qualquer tratamento. 14. (CESGRANRIO) Na frase “O fio da ideia cresceu, engrossou e partiu-se” ocorre processo de gradação. Não há gradação em: a) O carro arrancou, ganhou velocidade e capotou. b) O avião decolou, ganhou altura e caiu. c) O balão inflou, começou a subir e apagou. d) A inspiração surgiu, tomou conta de sua mente e frustrou-se. e) João pegou de um livro, ouviu um disco e saiu. 15. (UNESP) Na frase: "O pessoal estão exagerando, me disse ontem um camelô", encontramos a figura de linguagem chamada: a) silepse de pessoa b) elipse c) anacoluto d) hipérbole e) silepse de número 16. (UDESC) O nome de Emir quase nunca era mencionado nas horas das refeições ou nas conversas animadas por baforadas de narguilé, goles de 1áraque e lances de gamão. 2Os filhos de Emilie éramos proibidos de participar dessas reuniões que varavam a noite e terminavam no pátio da fonte, aclarado por uma luz azulada. Era um momento em que os assuntos, já peneirados, esgotados e fartos de serem repetidos, 3davam lugar a 4confidências e 5lamúrias, 6abafadas às vezes pela linguagem dos pássaros, e entremeadas por exclamações e vozes que pronunciavam o nome de Deus. Era como se a manhã – 7como uma intrusa que silencia as vozes calorosas da noite – 8dispersasse o ambiente festivo, 9arrefecendo os gestos dos mais exaltados, chamando-os ao ofício 10que se inicia com a aurora. 11Mas, em algumas reuniões de sextas-feiras, o 12prenúncio da manhã não os dispersava. Eu acordava com berros dilacerantes, gemidos terríveis, ruídos de trote e 13uma algazarra de alimárias que 14assistiam à agonia dos carneiros que possuíam nomes e 15eram alimentados pelas mãos de Emilie. HATOUM, Milton. Relato de um certo Oriente. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, pp. 50 e 51. Assinale a alternativa correta em relação à obra Relato de um certo Oriente, Milton Hatoum, e ao texto. a) O uso do sinal gráfico da crase é opcional em “abafadas às vezes” (referência 6), assim como em “davam lugar a confidências” (referência 3). b) Em “Os filhos de Emilie éramos proibidos de participar dessas reuniões” (referência 2) há a figura de linguagem chamada silepse de pessoa. c) As palavras “áraque” (referência 1), “confidências” (referência 4), “lamúrias” (referência 5) e “prenúncio” (referência 12) são acentuadas por serem paroxítonas terminadas em ditongo. d) Infere-se da leitura da obra, que o nome de Emir, filho mais novo de Emilie, quase nunca era mencionado nos encontros familiares porque há muito abandonara a família, causando mágoa. e) Infere-se da leitura da obra, que os empregados, principalmente as mulheres, eram tratados com muita regalia, pois participa- vam de todos os encontros e de todas as atividades festivas da família de Emilie. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR90 INTERPRETAÇÃO 09 FIGURAS DE LINGUAGEM II: FIGURAS DE CONSTRUÇÃO E DE HARMONIA 17. (CPS) Leia o texto e o poema para responder à questão a seguir. A ondomotriz é uma forma de energia renovável que se aproveita da energia das ondas oceânicas.Além de poder fornecer energia, as ondas também serviram de inspiração para Manuel Bandeira compor o poema “A onda”. A onda a onda anda aonde anda a onda? a onda ainda ainda onda ainda anda aonde? aonde? a onda a onda Assinale a alternativa que apresenta uma figura de linguagem utilizada no poema. a) Antítese, associação de ideias contrárias por meio de palavras de sentidos opostos. b) Catacrese, emprego de uma palavra no sentido figurado por falta de um termo apropriado. c) Eufemismo, atenuação de ideias consideradas desagradáveis, ofensivas ou cruéis. d) Onomatopeia, palavras especiais criadas para representar sons específicos. e) Paranomásia, semelhança sonora e gráfica entre palavras de significados distintos. 18. (FAAP) Soneto de Separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. (Vinícius de Morais) "Silencioso e branco como a bruma". À repetição das mesmas consoantes em BRANCO e BRUMA em busca da sonoridade, dá-se o nome: a) assonância b) aliteração c) eco d) trocadilho e) pleonasmo 19. (UFRN) Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e O RIO-RIO-RIO - O RIO - PONDO PERPÉTUO [grifo nosso]. Eu sofria já o começo da velhice - esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar o vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranquilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse - se as coisas fossem outras. E fui tomando ideia. (ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.) Pode-se afirmar que, na expressão em destaque no fragmento textual, a manifestação da função poética da linguagem evidencia o dinamismo do tempo. Esse dinamismo é representado por a) ritmo cadente e neologismo. b) assonância e reiteração de vocábulo. c) onomatopeia e uso de metáfora. d) efeitos de eco e uso de metonímia. 20. (FATEC) As Cousas do Mundo Neste mundo é mais rico o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa; Com sua língua, ao nobre o vil decepa: O velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa; Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa. Mais isento se mostra o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazo a tripa E mais não digo, porque a Musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa. (Gregório de Matos Guerra, Seleção de Obras Poéticas) Em "Para a tropa do trapo vazo a tripa", pode-se constatar que o poeta teve grande cuidado com a seleção e disposição das palavras que compõem a sonoridade do verso, para salientar certos fonemas que se repetem (principalmente os "pês" e os "tês"), utilizando, ao mesmo tempo, palavras que se diferenciam por mudanças fonéticas mínimas (tropa/trapo/tripa). Os recursos estilísticos empregados aí foram a) personificação e alusão. b) paralelismo e comparação. c) aliteração e paronomásia. d) assonância e preterição. e) metáfora e metonímia. 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UNESP) Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder à questão a seguir. Poema só para Jaime Ovalle1 Quando hoje acordei, ainda fazia escuro (Embora a manhã já estivesse avançada). Chovia. Chovia uma triste chuva de resignação PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 09 FIGURAS DE LINGUAGEM II: FIGURAS DE CONSTRUÇÃO E DE HARMONIA 91 INTERPRETAÇÃO Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite. Então me levantei, Bebi o café que eu mesmo preparei, Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando... – Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei. (Estrela da vida inteira, 1993.) 1 Jaime Ovalle (1894-1955): compositor e instrumentista. Aproximou-se do meio intelectual carioca e se tornou amigo íntimo de Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Sérgio Buarque de Hollanda e Manuel Bandeira. Sua música mais famosa é “Azulão”, em parceria com o poeta Manuel Bandeira. (Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira) Pleonasmo (do grego pleonasmós, superabundância): emprego de palavras redundantes, de igual sentido; redundância. Há o pleonasmo vicioso, decorrente da ignorância da língua e que deve ser evitado, e o pleonasmo estilístico, usado intencionalmente para comunicar à expressão mais vigor ou intensidade. (Domingos Paschoal Cegalla. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa, 2009. Adaptado.) Transcreva o verso em que se verifica a ocorrência de um pleonasmo. Justifique sua resposta. Identifique ainda duas características do poema, uma formal e outra temática, que o vinculam ao movimento modernista brasileiro. 02. (FGV) Meu amigo Marcos O generoso e divertido companheiro de crônicas Conheci Marcos Rey há mais de vinte anos, quando sonhava tornar-me escritor. Certa vez confessei esse desejo à atriz Célia Helena, que deixou sua marca no teatro paulista. Tempos depois, ela me convidou para tentar adaptar um livro para teatro. Era O RAPTO DO GAROTO DE OURO, de Marcos. Passei noites me torturando sobre as teclas. Célia marcou um encontro entre mim e ele, pois a montagem dependia da aprovação do autor. Quando adolescente, eu ficara fascinado com MEMÓRIAS DE UM GIGOLÔ, seu livro mais conhecido. Nunca tinha visto um escritor de perto. Imaginava uma figura pomposa, em cima de um pedestal. Meu coração quase saiu pela boca quando apertei a campainha. Fui recebido por Palma, sua mulher. Um homem gordinho e simpático entrou na sala. Na época, já sofria de uma doença que lhe dificultava o movimento das mãos e dos pés. Cumprimentou-me. Sorriu. Estava tão nervoso que nem consegui dizer “boa-tarde”. Gaguejei. Mas ele me tratou com o respeito que se dedica a um colega. Propôs mudanças no texto. Orientou-me. Principalmente, acreditou em mim. A peça permaneceu em cartaz dois anos. Muito do que sou hoje devo ao carinho com que me recebeu naquele dia. (WALCYR CARRASCO, PÁG. 98 - VEJA SP, 14 DE ABRIL, 1999.) Em português, expressões como SAIR PARA FORA ou SUBIR PARA CIMA são criticáveis por serem redundantes, isto é, conterem repetição desnecessária da mesma ideia. Trata-se de um defeito de estilo denominado PLEONASMO. Na frase a seguir, é possível perceber a presença de DOIS pleonasmos: Na reunião, houve uma inesperada surpresa: todos os membros do Conselho foram unânimes em reconhecer os méritos do escritor. Reescreva essa frase, eliminando os pleonasmos. Justifique as alterações feitas. 03. (UNESP) As questões de números seguintes tomam por base um fragmento da Poética, do filósofo grego Aristóteles (384- 322 a.C.), um fragmento de Corte na Aldeia, do poeta clássico português Francisco Rodrigues Lobo (1580-1622), e um fragmento de uma crônica do escritor realista brasileiro Machado de Assis (1839-1908). Poética Pelas precedentes considerações se manifesta que não é ofício de poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade. Com efeito, não diferem o historiador e o poeta, por escreverem verso ou prosa (pois que bem poderiam ser postas em verso as obras de Heródoto, e nem por isso deixariam de ser história,se fossem em verso o que eram em prosa), - diferem, sim, em que diz um as coisas que sucederam, e outro as que poderiam suceder. Por isso a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquela principalmente o universal, e esta o particular. Por “referir-se ao universal” entendo eu atribuir a um indivíduo de determinada natureza pensamentos e ações que, por liame de necessidade e verossimilhança, convêm a tal natureza; e ao universal, assim entendido, visa a poesia, ainda que dê nomes aos seus personagens; particular, pelo contrário, é o que fez Alcibíades ou o que lhe aconteceu. (Aristóteles, Poética) Corte na Aldeia — A minha inclinação em matéria de livros (disse ele), de todos os que estão presentes é bem conhecida; somente poderei dar agora de novo a razão dela. Sou particularmente afeiçoado a livros de história verdadeira, e, mais que às outras, às do Reino em que vivo e da terra onde nasci; dos Reis e Príncipes que teve; das mudanças que nele fez o tempo e a fortuna; das guerras, batalhas e ocasiões que nele houve; dos homens insignes, que, pelo discurso dos anos, floresceram; das nobrezas e brasões que por armas, letras, ou privança se adquiriram. [...] [...] — Vós, senhor Doutor (disse Solino) achareis isso nos vossos cartapácios; mas eu ainda estou contumaz. Primeiramente, nas histórias a que chamam verdadeiras, cada um mente segundo lhe convém, ou a quem o informou, ou favoreceu para mentir; porque se não forem estas tintas, é tudo tão misturado que não há pano sem nódoa, nem légua sem mau caminho. No livro fingido contam- se as cousas como era bem que fossem e não como sucederam, e assim são mais aperfeiçoadas. Descreve o cavaleiro como era bem que os houvesse, as damas quão castas, os Reis quão justos, os amores quão verdadeiros, os extremos quão grandes, as leis, as cortesias, o trato tão conforme com a razão. E assim não lereis livro em o qual se não destruam soberbos, favoreçam humildes, amparem fracos, sirvam donzelas, se cumpram palavras, guardem juramentos e satisfaçam boas obras. [...] Muito festejaram todos o conto, e logo prosseguiu o Doutor: — Tão bem fingidas podem ser as histórias que merecem mais louvor que as verdadeiras; mas há poucas que o sejam; que a fábula bem escrita (como diz Santo Ambrósio), ainda que não tenha força de verdade, tem uma ordem de razão, em que se podem manifestar as cousas verdadeiras. (Francisco Rodrigues Lobo, Corte na Aldeia) Crônica (15.03.1877) Mais dia menos dia, demito-me deste lugar. Um historiador de quinzena, que passa os dias no fundo de um gabinete escuro e solitário, que não vai às touradas, às câmaras, à rua do Ouvidor, um historiador assim é um puro contador de histórias. E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de histórias é justamente o contrário de historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias. Por que essa diferença? Simples, leitor, nada mais simples. O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo, que nunca leu Tito Lívio, e entende que contar o que se passou é só fantasiar. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR92 INTERPRETAÇÃO 09 FIGURAS DE LINGUAGEM II: FIGURAS DE CONSTRUÇÃO E DE HARMONIA O certo é que se eu quiser dar uma descrição verídica da tourada de domingo passado, não poderei, porque não a vi. [...] (Joaquim Maria Machado de Assis, História de Quinze Dias. In: Crônicas) A leitura do último período do fragmento de Rodrigues Lobo revela que o escritor valeu-se com elegância do recurso à elipse para evitar a repetição desnecessária de elementos. Com base nesta observação, a) aponte, na série enumerativa que começa com a oração “se não destruam soberbos”, os vocábulos que são omitidos, por elipse, nas outras orações da série; b) considerando que as sete orações da série enumerativa se encontram na chamada “voz passiva sintética”, indique o sujeito da primeira oração e as características de flexão e concordância que permitem identificá-lo. 04. (UERJ) Ao 1valimento que tem o mentir Mau ofício é mentir, mas proveitoso... Tanta mentira, tanta utilidade Traz consigo o mentir nesta cidade Como o diz o mais triste mentiroso. Eu, como um ignorante e um baboso, Me pus a verdadeiro, por vaidade; Todo o meu 2cabedal meti em verdade E saí do negócio 3perdidoso. Perdi o principal, que eram verdades, Perdi os interesses de estimar-me, Perdi-me a mim em tanta 4soledade; Deram os meus amigos em deixar-me, 5Cobrei ódios e inimizades... Eu me meto a mentir e a aproveitar-me. GREGÓRIO DE MATOS PIRES, M. L. G. (org.). Poetas do período barroco. Lisboa: Comunicação, 1985. 1valimento − validade 2cabedal − conhecimento 3perdidoso − prejudicado 4soledade − solidão 5cobrar − receber A primeira estrofe do poema apresenta inversões da ordem direta das orações. Esse recurso expressivo, chamado hipérbato, é frequente na estética barroca. Reescreva os versos 2 e 3 da primeira estrofe na ordem direta, desfazendo o hipérbato. Em seguida, explique o efeito do hipérbato para a camada sonora dessa estrofe. 05. (UNESP) A questão a seguir tomam por base um texto do poeta simbolista brasileiro Alphonsus de Guimaraens (1870-1921). Eras a Sombra do Poente Eras a sombra do poente Em calmarias bem calmas; E no ermo agreste, silente, Palmeira cheia de palmas. Eras a canção de outrora, Por entre nuvens de prece; Palidez que ao longe cora E beijo que aos lábios desce. Eras a harmonia esparsa Em violas e violoncelos: E como um voo de garça Em solitários castelos. Eras tudo, tudo quanto De suave esperança existe; Manto dos pobres e manto Com que as chagas me cobriste. Eras o Cordeiro, a Pomba, A crença que o amor renova... És agora a cruz que tomba À beira da tua cova. (“Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte”, 1923. In: GUIMARAENS, Alphonsus de. POESIAS - I. Rio de Janeiro: Org. Simões, 1955, p. 284.) A reiteração é um procedimento que, aplicado a diferentes níveis do discurso, permite ao poeta obter efeitos de musicalidade e ênfase semântica. Para tanto, o escritor pode reiterar fonemas (aliterações, assonâncias, rimas), vocábulos, versos, estrofes, ou, pelo processo denominado “paralelismo”, retomar mesmas estruturas sintáticas de frases, repetindo alguns elementos e fazendo variar outros. Tendo em vista estas observações, a) identifique no poema de Alphonsus um desses procedimentos. b) servindo-se de uma passagem do texto, demonstre o processo de reiteração que você identificou no item a. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. B 02. D 03. A 04. D 05. B 06. A 07. C 08. E 09. D 10. C 11. A 12. E 13. C 14. E 15. E 16. B 17. E 18. B 19. B 20. C EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. Há pleonasmo no quarto verso: “Chovia uma triste chuva de resignação”. Aqui o autor procura enfatizar a ideia de chuva, pois poderia substituir o verbo “chover” pelo verbo “cair” (“Caía uma triste chuva de resignação”). Trata-se, portanto, de um pleonasmo estilístico. No aspecto formal, o poema se vincula ao movimento modernista brasileiro por apresentar versos livres. Quanto à temática, demonstra características modernistas por discorrer sobre o cotidiano. 02. Na reunião, houve uma surpresa: todos os membros do Conselho reconheceram os méritos do escritor. Há redundância em “surpresa inesperada” (toda surpresa é inesperada); e todos “unânimes”. 03. a) O que se encontra elíptico (por zeugma) no trecho mencionado é “se não”. O pronome apassivador seguido do advérbio de negação. b) O sujeito da primeira oração é “soberbos”, com o qual concorda o verbo “destruam”, apassivado pelo “se”. O que assegura a identificação do sujeito é a flexão do verbo no plural. 04. Uma das respostas: - O mentir traz consigo tanta mentira, tanta utilidade nesta cidade. - O mentir nesta cidade traz consigo tanta mentira, tanta utilidade. O hipérbato produz a rima. 05. a) O uso da anáfora.b) A anáfora gradativamente vai relevando os atributos da amada morta chegando à sublimação mística da mulher relacionando-a com o “Cordeiro” e a “Pomba”. ANOTAÇÕES INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 95PROENEM.COM.BR MODALIZADORES10 O QUE É MODALIZAÇÃO? A modalização é um conceito advindo da ciência linguística para definir os mecanismos discursivos que apresentam a função de manifestar o posicionamento do enunciador em relação àquilo que é dito. Por não ser uma categoria estrutural da gramática, é bastante complexo realizar uma classificação das modalidades na língua, cabendo seu entendimento à própria área da compreensão textual e mesmo da análise do discurso. De forma geral, um modalizador é um elemento gramatical ou lexical – palavra ou expressão – por meio do qual o enunciador revela alguma atitude relativa ao conteúdo daquilo que ele mesmo enuncia. Assim, mesmo de forma encoberta, o enunciador deixa seus posicionamentos subentendidos ou sugeridos, de forma a influenciar o coenunciador a compreender o enunciado sob um determinado aspecto que lhe é dissimuladamente proposto. Em todo ato de comunicação, podem-se fazer presentes mediações diversas, oriundas das intenções com as quais um discurso é imaginado, produzido e realizado. Seja evidenciar uma certeza, uma dúvida, a obrigatoriedade ou a proibição, uma possibilidade, algum sentimento, entre outros. Para a linguística a própria língua guarda características argumentativas, na medida em que, por meio dela, interagindo escrita ou oralmente, os falantes reproduzem entendimentos, atitudes e argumentos. Os elementos modalizadores, portanto, são utilizados como um indicativo da própria existência de um discurso argumentativo, ao transparecer o ponto de vista apresentado pelo enunciador da maneira como ele buscou a elaboração de seu discurso. Entre as inúmeras possibilidades intencionais que podem ser expressas na comunicação, destaca-se que, no geral, os recursos gramaticais utilizados para expressá-los não são tão extensos quanto as alternativas de significação. A função modalizadora manifesta-se principalmente por meio de advérbios – quando indicativos acerca do acolhimento do enunciado em sua totalidade ou parcialidade por parte do enunciador; do uso de modos verbais, de forma a indicar se o enunciado expressa um acontecimento ou uma vontade; do emprego de verbos auxiliares que acrescentam noções circunstanciais que podem apontar necessidades ou possibilidades; do uso de estruturas subordinativas, como orações principais em que seus verbos constitutivos possam expressar modalidade; ou do uso de adjetivos, cuja escolha pode revelar opinião ou posicionamento. Pode-se afirmar, sem margem para dúvidas, que não existe possibilidade de comunicação sem que haja modalização (que, inclusive pode manifestar-se pela entoação da voz na fala) explícita ou implícita, uma vez que sempre haverá intencionalidade nos discursos que são produzidos. Assim, sem esgotar as possibilidades significativas, pode-se enumerar algumas possibilidades modalizadoras, como a seguir: • asseverativos Aqueles que conferem certeza a um discurso, podendo ser afirmativos (evidentemente, certamente, claro, sem dúvida, lógico); ou negativos como a polarização de termos pelo uso do “não” ou expressões como “de jeito nenhum”, “de forma alguma”, entre outros. • dubtáveis Aqueles que colocam um discurso em dúvida, estabelecem que um enunciado está sujeito à desconfiança, à incerteza ou à imprecisão. Exemplos: talvez, possivelmente, é provável etc. • delimitadores Aqueles que estabelecem uma restrição ou um limite ao entendimento do alcance de conceitos ou do discurso. Exemplos: quase, tipo de, espécie de, linguisticamente, matematicamente, geograficamente etc. • deontológicos Aqueles que indicam obrigatoriedades, proibições e permissões. Exemplos: necessariamente, obrigatoriamente, não deve fazer, deve apresentar etc. • afetivos Apresentam as emoções do enunciador diante do conteúdo do discurso, bem como posicionamentos de princípio ou predileções. Esses modalizadores podem ser subjetivos, quando marcam a reação do enunciador diante do que é exposto (infelizmente, curiosamente, espantosamente etc.) ou intersubjetivos, quando incluem na sensação emotiva a relação com o coenunciador, seja pela aceitação, pela colaboração ou pela rejeição (sinceramente, francamente, lamentavelmente etc.) PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Conceitue o que é um modalizador. 02. Cite quais são os tipos de modalizadores. 03. Identifique como a função modalizadora ocorre. 04. Explique o que é modalização. 05. Apresente as características dos modalizadores dubtáveis. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. (UERJ) Aparentemente, foi o filósofo grego Epicuro que sugeriu, já em torno de 270 a.C., que existem inúmeros mundos espalhados pelo cosmo, alguns como o nosso e outros completamente diferentes, muitos deles com criaturas e plantas. Desde então, ideias sobre a pluralidade dos mundos têm ocupado uma fração significativa do debate entre ciência e religião. Em um exemplo dramático, o monge Giordano Bruno foi queimado vivo pela Inquisição Romana em 1600 por pregar, dentre outras coisas, que cada estrela é um Sol e que cada Sol tem os seus planetas. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR96 INTERPRETAÇÃO 10 MODALIZADORES Religiões mais conservadoras negam a possibilidade de vida extraterrestre, especialmente se for inteligente. No caso do cristianismo, Deus é o criador e a criação é descrita na Bíblia, e não vemos qualquer menção de outros mundos e gentes. Pelo contrário, os homens são as criaturas escolhidas e, portanto, privilegiadas. Todos os animais e plantas terrestres estão aqui para nos servir. Ser inteligente é uma dádiva que nos põe no topo da pirâmide da vida. O que ocorreria se travássemos contato com outra civilização inteligente? Deixando de lado as inúmeras dificuldades de um contato dessa natureza - da raridade da vida aos desafios tecnológicos de viagens interestelares - tudo depende do nível de inteligência dos membros dessa civilização. Se são eles que vêm até aqui, não há dúvida de que são muito mais desenvolvidos do que nós. Não necessariamente mais inteligentes, mas com mais tempo para desenvolver suas tecnologias. Afinal, estamos ainda na infância da era tecnológica: a primeira locomotiva a vapor foi inventada a menos de 200 anos (em 1814). Tal qual a reação dos nativos das Américas quando viram as armas de fogo dos europeus, o que são capazes de fazer nos pareceria mágica. Claro, ao abrirmos a possibilidade de que vida extraterrestre inteligente exista, a probabilidade de que sejam mais inteligentes do que nós é alta. De qualquer forma, mais inteligentes ou mais avançados tecnologicamente, nossa reação ao travar contato com tais seres seria um misto de adoração e terror. Se fossem muito mais avançados do que nós, a ponto de haverem desenvolvido tecnologias que os liberassem de seus corpos, esses seres teriam uma existência apenas espiritual. À essa altura, seria difícil distingui-los de deuses. Por mais de 40 anos, cientistas vasculham os céus com seus rádio telescópios tentando ouvir sinais de civilizações inteligentes. (...) Infelizmente, até agora nada foi encontrado. Muitos cientistas acham essa busca uma imensa perda de tempo e de dinheiro. As chances de que algo significativo venha a ser encontrado são extremamente remotas. Em quais frequências os ETs estariam enviando os seus sinais? E como decifrá-los? Por outro lado, os que defendem a busca afirmam que um resultado positivo mudaria profundamente a nossa civilização. A confirmação da existência de outra forma de vida inteligente no universo provocaria uma revolução. Alguns até afirmam que seria a maior notícia já anunciada de todos os tempos. Eu concordo. Não estaríamos mais sós. Se os ETs fossem mais avançados e pacíficos, poderiam nos ajudar a lidar com nossos problemas sociais, como a fome, o racismo e os confrontosreligiosos. Talvez nos ajudassem a resolver desafios científicos. Nesse caso, quão diferentes seriam dos deuses que tantos acreditam existir? Não é à toa que inúmeras seitas modernas dirigem suas preces às estrelas e não aos altares. Marcelo Gleiser - Folha de S. Paulo, 01/03/2009 Claro, ao abrirmos a possibilidade de que vida extraterrestre inteligente exista, (7° parágrafo) No fragmento acima, o vocábulo claro projeta uma opinião do autor do texto sobre o que vai ser dito em seguida. Outro exemplo em que a palavra ou expressão sublinhada cumpre função semelhante é: a) Desde então, ideias sobre a pluralidade dos mundos têm ocupado (2° parágrafo) b) Por mais de 40 anos, cientistas vasculham os céus (8° parágrafo) c) Infelizmente, até agora nada foi encontrado. (8° parágrafo) d) Nesse caso, quão diferentes seriam dos deuses (10° parágrafo) 02. (UERJ) Existe sempre um conceito por trás do que faço, só que nem sempre a montagem se completa. Os conceitos se escondem no subconsciente. Ziguezagues que atordoam. Quando o xadrez funciona, o conceito é formado por encaixes eliminando a importância exagerada que poderia ser dada a certas fotos mais formais. Não são acasos felizes, pois, desde o começo de um projeto, uma ideia já existe; apenas ela é flexível e se deixa impregnar pela existência das pessoas fotografadas. O interessante é fazer a matéria externa vibrar em toda sua força de maneira que seja espelho de minhas intenções, sem deixar de ser espelho da vida. CORAÇÃO ESPELHO DA CARNE. Edward Weston diz nos “Notebooks” que “a câmera deve ser usada para documentar a vida”. Documentar no sentido íntegro, não o bater chapa automático de algum acontecimento mais importante histórico ou socialmente, porém o documento de vida. Diria que revelar essa vida, essa força, é o essencial, pois de qualquer forma documento sempre será a foto tomada. Ele continua: “rendendo a verdadeira substância da coisa em si, seja ela aço polido ou carne palpitante” MIGUEL RIO BRANCO (fotógrafo) Notes on the tides. Rio de Janeiro: Sol Gráfica , 2006. Existe sempre um conceito por trás do que faço, só que nem sempre a montagem se completa. (. 1) Em relação ao que foi dito anteriormente, o uso da expressão destacada tem o valor de: a) realce. b) ressalva. c) exclusão. d) contestação. 03. (UERJ) Competição e individualismo excessivos ameaçam saúde dos trabalhadores Ideologia do individualismo O novo cenário mundial do trabalho apresenta facetas como a da competição globalizada e a da ideologia do individualismo. A afirmação foi feita pelo professor da Universidade de Brasília (UnB) Mário César Ferreira, ao participar do seminário Trabalho em Debate: Crise e Oportunidades. Segundo ele, pela primeira vez, há uma ligação direta entre trabalho e índices de suicídio, sobretudo na França, em função das mudanças focadas na ideia de excelência. Fim da especialização “A configuração do mundo do trabalho é cada vez mais volátil”, disse o professor. Ele destacou ainda a crescente expansão do terceiro setor, do trabalho em domicílio e do trabalho feminino, bem como a exclusão de perfis como o de trabalhadores jovens e dos fortemente especializados. “As organizações preferem perfis polivalentes e multifuncionais.” Desta forma, a escolarização clássica do trabalhador amplia-se para a qualificação contínua, enquanto a ultraespecialização evolui para a multiespecialização. Metamorfoses do trabalho Ele ressaltou que as “metamorfoses” no cenário do trabalho não são “indolores” para os que trabalham e provocam erros frequentes, retrabalho, danificação de máquinas e queda de produtividade. Outra grande consequência, de acordo com o professor, diz respeito à saúde dos trabalhadores, que leva à alta rotatividade nos postos de trabalho e aos casos de suicídio. “Trata-se de um cenário em que todos perdem, a sociedade, os governantes e, em particular, os trabalhadores”, avaliou. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 10 MODALIZADORES 97 INTERPRETAÇÃO Articulação entre econômico e social Para a coordenadora da Diretoria de Cooperação e Desenvolvimento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Christiane Girard, a problemática das relações de trabalho envolve também uma questão: qual o tipo de desenvolvimento que nós, como cidadãos, queremos ter? Segundo Christiane, é preciso “articular” o econômico e o social, como acontece na economia solidária. “Ela é uma das alternativas que aparecem e precisa ser discutida. A resposta do trabalhador se manifesta por meio do estresse, de doenças diversas e do suicídio. A gente não se pergunta o suficiente sobre o peso da gestão do trabalho”, disse a representante do Ipea. Adaptado de www.diariodasaude.com.br “A resposta do trabalhador se manifesta por meio do estresse, de doenças diversas e do suicídio. A gente não se pergunta o suficiente sobre o peso da gestão do trabalho”, disse a representante do Ipea. (. 38-41) A negação expressa pela fala transcrita acima remete, na verdade, a uma afirmação. Essa afirmação está corretamente enunciada em: a) a gestão do trabalho deve ser mais bem avaliada b) o mundo do trabalho deve secundarizar a gestão c) os gestores precisam ser suficientemente saudáveis d) os trabalhadores precisam atender melhor aos gestores 04. (UERJ) A Arte de Enganar Em seu livro Pernas pro ar, Eduardo Galeano recorda que, na era vitoriana, era proibido mencionar “calças” na presença de uma jovem. Hoje em dia, diz ele, não cai bem utilizar certas expressões perante a opinião pública: “O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado; imperialismo se chama globalização; suas vítimas se chamam países em via de desenvolvimento; oportunismo se chama pragmatismo; despedir sem indenização nem explicação se chama flexibilização laboral” etc. A lista é longa. Acrescento os inúmeros preconceitos que carregamos: ladrão é sonegador; lobista é consultor; fracasso é crise; especulação é derivativo; latifúndio é agronegócio; desmatamento é investimento rural; lavanderia de dinheiro escuso é paraíso fiscal; acumulação privada de riqueza é democracia; socialização de bens é ditadura; governar a favor da maioria é populismo; tortura é constrangimento ilegal; invasão é intervenção; peste é pandemia; magricela é anoréxica. Eufemismo é a arte de dizer uma coisa e acreditar que o público escuta ou lê outra. É um jeitinho de escamotear significados. De tentar encobrir verdades e realidades. Posso admitir que pertenço à terceira idade, embora esteja na cara: sou velho. Ora, poderia dizer que sou seminovo! Como carros em revendedoras de veículos. Todos velhos! Mas o adjetivo seminovo os torna mais vendáveis. Coitadas das palavras! Elas são distorcidas para que a realidade, escamoteada, permaneça como está. Não conseguem, contudo, escapar da luta de classes: pobre é ladrão, rico é corrupto. Pobre é viciado, rico é dependente químico. Em suma, eufemismo é um truque semântico para tentar amenizar os fatos. Frei Betto - Adaptado de O Dia, 21/03/2015. No segundo parágrafo, o emprego de certa estrutura encaminha a reflexão do leitor para os disfarces que a linguagem permite. Essa estrutura é caracterizada principalmente por: a) modalização. b) pressuposição. c) exemplificação. d) particularização. 05. (UERJ) A Educação Pela Seda Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abominável. Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar. Rosa Amanda Strausz - Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990. Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, O vocábulo a é comumente utilizado para substituir termos já enunciados. No texto, entretanto, ele tem um uso incomum, já que permite subentender um termo não enunciado. Esse uso indica um recurso assim denominado: a) elipse b) catáfora c) designação d) modalização 06. (UERJ) Há alguns meses fui convidadoa visitar o Museu da Ciência de La Coruña, na Galícia. Ao final da visita, o curador1 anunciou que tinha uma surpresa para mim e me conduziu ao planetário2. Um planetário sempre é um lugar sugestivo, porque, quando se apagam as luzes, temos a impressão de estar num deserto sob um céu estrelado. Mas naquela noite algo especial me aguardava. De repente a sala ficou inteiramente às escuras, e ouvi um lindo acalanto de Manuel de Falla. Lentamente (embora um pouco mais depressa do que na realidade, já que a apresentação durou ao todo quinze minutos) o céu sobre minha cabeça se pôs a rodar. Era o céu que aparecera sobre minha cidade natal – Alessandria, na Itália – na noite de 5 para 6 de janeiro de 1932, quando nasci. Quase hiper- realisticamente vivenciei a primeira noite de minha vida. Vivenciei-a pela primeira vez, pois não tinha visto essa primeira noite. Provavelmente nem minha mãe a viu, exausta como estava depois de me dar à luz; mas talvez meu pai a tenha visto, ao sair para o terraço, um pouco agitado com o fato maravilhoso (pelo menos para ele) que testemunhara e ajudara a produzir. O planetário usava um artifício mecânico que se pode encontrar em muitos lugares. Outras pessoas talvez tenham passado por uma experiência semelhante. Mas vocês hão de me perdoar se durante aqueles quinze minutos tive a impressão de ser o único homem desde o início dos tempos que havia tido o privilégio de se encontrar com seu próprio começo. Eu estava tão feliz que tive a sensação – quase o desejo – de que podia, deveria morrer naquele exato momento e que qualquer outro momento teria sido inadequado. Teria morrido alegremente, pois vivera a mais bela história que li em toda a minha vida. Talvez eu tivesse encontrado a história que todos nós procuramos nas páginas dos livros e nas telas dos cinemas: uma história na qual as estrelas e eu éramos os protagonistas. Era ficção porque a história fora reinventada pelo curador; era História porque recontava o que acontecera no cosmos num momento do passado; era vida real porque eu era real e não uma personagem de romance. UMBERTO ECO Adaptado de Seis passeios pelos bosques da ficção. Tradução: Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 1 curador − responsável pelo museu 2 planetário − local onde é possível reproduzir o movimento dos astros Talvez eu tivesse encontrado a história que todos nós procuramos nas páginas dos livros e nas telas dos cinemas: uma história na qual as estrelas e eu éramos os protagonistas. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR98 INTERPRETAÇÃO 10 MODALIZADORES Na frase anterior, o autor procura delimitar um sentido para a palavra história por meio dos trechos destacados. Esses trechos apresentam uma formulação do seguinte tipo: a) exemplificação b) particularização c) modalização d) dedução 07. (DPE-RJ) Os muros nas favelas e a segregação social Sob o argumento da proteção ambiental, 13 comunidades, 11 delas localizadas na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, serão cercadas por muros de 3,4 metros de altura, em média. É mais que óbvio para todos a importância que proteger a Mata Atlântica tem nos dias atuais. É claro que o poder público deve se apropriar dessa pauta, a fim de resolver problemáticas como as do desmatamento. Entretanto, ao analisarmos a eficácia e a legitimidade desse projeto, podem-se concluir alguns equívocos, que contribuem para a formação de limites sociais, e não ecológicos. Tomando como referência a formação desses limites sociais, pode-se aferir a exasperação dos conflitos entre os moradores dessas comunidades e os moradores de classe média, já que a sensação de “segurança” é relacionada diretamente à construção do muro, que, por sua vez, pode aprofundar diversos estigmas que são projetados à população das favelas. Quando um muro é construído para separar pessoas, nenhuma outra questão está colocada, a não ser a produção de segregação social e espacial. Não podemos esquecer as políticas de sanitarização do século 19, que contribuíram para a visão da pobreza como doença, sujeira e outras coisas mais. Essas políticas, além de moverem os moradores de baixa renda para locais distantes, no caso os subúrbios, estão diretamente relacionadas ao empreendedorismo imobiliário cujo público alvo era as elites emergentes. A inquietação com o crescimento das favelas deve ter como centro o combate à pobreza, o acesso a direitos e uma política habitacional adequada. Não deve, de forma alguma, ser tratada de forma imediatista, expressando assim o caráter eleitoreiro de nossas políticas públicas. Além do mais, todas as pesquisas relacionadas ao tema nunca contam com a participação de associações de moradores e plebiscitos que são realizados nas comunidades. (http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2010/05/26/os-... A alternativa em que a oração sublinhada exerce função modalizadora é: a) ‘‘...É claro que o poder público deve se apropriar dessa pauta...” b) “...É mais que óbvio para todos a importância que proteger a Mata Atlântica tem nos dias atuais...” c) “...Entretanto, ao analisarmos a eficácia e a legitimidade desse projeto, podem-se concluir alguns equívocos...” d) “...Tomando como referência a formação desses limites sociais, pode-se aferir a exasperação dos conflitos entre os moradores...” 08. (IF-MG) Por que a escola deve ser interdisciplinar? “A proposta de currículo interdisciplinar justifica-se a partir de razões históricas, filosóficas, socio-políticas e ideológicas, acrescidas das razões psicopedagógicas. Historicamente, temos de considerar que vivemos hoje a era da informática, com suas contradições, seus paradoxos. Como já afirmava Heráclito, o filósofo grego pré-socrático, “no mundo tudo flui, tudo se transforma, pois a essência da vida é a mutabilidade, e não a permanência”. Assim, aquela escola, que era boa para o momento da revolução industrial, já não atende às necessidades do homem do final do século XX. Nossa era é a da pós-modernidade (ou neomodernidade, como querem alguns autores), em que à lógica formal, clássica, normativa e maniqueísta (bivalente), impõe-se a lógica dialética, fundamentada na noção de contradição, dialógica. Paralelamente, a luta pela igualdade de direitos, pela supremacia da liberdade, pelo resgate da democracia e a revisão de conceitos de poder deram novo sentido à noção de cidadania, de coletividade, de valores cívicos. Dentre as razões que temos para buscar uma transformação curricular, passa também uma razão política muito forte: hoje vivemos uma democracia, e queremos formar pessoas criativas, questionadoras, críticas, comprometidas com as mudanças e não com a reprodução de modelos. Questões histórico-filosóficas e sociopolítica-ideológicas vêm exigindo, há muito tempo, uma total revisão na instituição escolar. Mais recentemente, com a divulgação dos trabalhos teóricos sobre a psicologia genética e sua aplicação ao campo da pedagogia, tornou-se imperiosa essa necessidade de mudanças na estrutura escolar, visando, sobretudo, ao resgate da inteireza do ser humano e da unidade do conhecimento. A rapidez das mudanças em todos os setores da sociedade atual (científico, cultural, tecnológico ou político-econômico), o acúmulo de conhecimentos, as novas exigências do mercado de trabalho, sobretudo no campo da pesquisa, da gerência e da produção, têm provocado uma revisão didático-pedagógica do processo de educação escolar. Surge, assim, uma nova concepção de ensino e de currículo, baseada na interdependência entre os diversos campos de conhecimento, superando-se o modelo fragmentado e compartimentado de estrutura curricular fundamentada no isolamento dos conteúdos. Temos de considerar ainda as razões psicopedagógicas que nos levam a propor um currículo interdisciplinar, e que estão relacionadas com os conhecimentos já adquiridos sobre o funcionamento do cérebro humano e os processos de conhecimento e de aprendizagem. Os avanços significativos da PsicologiaGenética nos permitem hoje conceituar, com Piaget, inteligência como a capacidade de estabelecer relações; confrontar, com Vygotski, o desenvolvimento de conceitos espontâneos e científicos; admitir com Gardner, a ideia de inteligência múltipla, o que implica uma série de competências a serem desenvolvidas pela escola: competência lingüística, lógico-matemática, espacial, cinestésica, musical, pictórica, intrapessoal e interpessoal. Ora, todos esses avanços exigem um repensar do currículo escolar, baseado na rede de relações, eliminando-se os “redutos disciplinares” em prol de uma proposta interdisciplinar. Um currículo escolar atualizado não pode ignorar o modo de funcionamento da mente humana, as necessidades da aprendizagem e as novas tecnologias informáticas diretamente associadas à concepção de inteligência . É preciso, hoje, pensar o conhecimento (e o currículo) como uma ampla rede de significações, e a escola como lugar não apenas de transmissão do saber, mas também de sua construção coletiva. Eis, pois, a grande razão para termos um currículo interdisciplinar: é preciso resgatar a inteireza do ser e do saber, e o trabalho em parceria.” Artigo: Interdisciplinaridade Um novo paradigma curricular Rosa Maria Calaes de Andrade Assinale a alternativa que não apresenta modalizações deônticas: a) “Ora, todos estes avanços exigem um repensar do currículo escolar, baseado na ideia de rede de relações, eliminando- se os “redutos disciplinares”, em prol de uma proposta interdisciplinar.” (11° parágrafo) PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 10 MODALIZADORES 99 INTERPRETAÇÃO b) “... hoje vivemos numa democracia, e queremos formar pessoas criativas, questionadoras, críticas, comprometidas com as mudanças, e não com a reprodução de modelos.” (5° parágrafo) c) “Historicamente falando, temos de considerar que vivemos hoje a era da informática, com suas contradições, seus paradoxos.” (2° parágrafo) d) “Temos de considerar ainda as razões psicope-dagógicas que nos levam a propor um currículo interdisciplinar.” (10° parágrafo) e) “É preciso hoje pensar o conhecimento (e o currículo) como uma ampla rede de significações e a escola como lugar não apenas de transmissão do saber, mas também de sua construção coletiva.” (11° parágrafo) 09. (CODEMIG) Democracia refém (José Roberto de Toledo) Desde 2008, o ibope pergunta à população em idade de votar quão satisfeita ela está com o funcionamento da democracia no Brasil. Os resultados nunca foram brilhantes ainda menos se comparados com países latino-americanos como Uruguai e Argentina, mas jamais haviam sido tão chocantes quanto agora. Só 15% dos brasileiros se dizem “satisfeitos” (14%) ou “muito satisfeitos” (1%) com o jeito que o regime democrático funciona no país. (Estado de São Paulo, 04/09/2015) Há uma série de vocábulos denominados “modalizadores”, que se caracterizam por inserir opiniões do enunciador sobre o assunto tratado. O segmento abaixo, retirado do texto, cujo vocábulo sublinhado é exemplo de modalizador é: a) “Só 15% dos brasileiros se dizem ‘satisfeitos’”; b) “Desde 2008, o ibope pergunta à população em idade de votar quão satisfeita ela está...”; c) “Os resultados nunca foram brilhantes...”; d) “...mas jamais haviam sido tão chocantes quanto agora.”; e) “...ou ‘muito satisfeitos’ (1%) com o jeito que o regime democrático funciona no país”. 10. (PREFEITURA DE GOIANÉSIA-GO) O verbo achar é usado na fala da personagem como parte da estratégia de a) evidenciação da fonte radiofônica. b) avaliação do fato. c) imposição de verdade. d) modalização do discurso. 11. (PUC-SP) TEXTO I: Poemeu (Millôr Fernandes) Pedem-me um Não, Digo "Pois sim!", Exigem um Sim, Digo "Pois não!". E, entre o Sim e o Não, O Pois Sim e o Pois não, Eu me mantenho Na contramão. Veja. São Paulo. 26 out. 2005. p. 29 TEXTO II: Depois de brincar de referendo... É hora de falar sério Ganhe o NÃO ou ganhe o SIM, o problema do crime no Brasil vai continuar do mesmo tamanho. Durante quase um mês as autoridades submeteram o país à propaganda eleitoral de uma questão sobre a qual a opinião das pessoas, por mais bem- intencionadas, não tem o menor poder. O referendo das armas vai ser lembrado como um daqueles momentos em que um país entra em transe emocional e algumas pessoas se convencem de que basta uma torcida muito forte para que se produza um resultado positivo para a sociedade. Em finais de Copa do Mundo essa mobilização é muito apropriada. O referendo das armas no Brasil tem algo dessa ilusão coletiva de que se pode vencer um inimigo poderoso, o crime violento, apenas pela repetição de mantras e mediante sinais feitos com as mãos imitando o voo da pomba branca da paz. Infelizmente a vida real exige mais do que boas intenções para seguir o vetor do progresso social. Ganhe o SIM ou o NÃO na proposta de proibir a comercialização de armas, continuará intacto e movimentado o principal caminho que elas percorrem das forjas do metal até as mãos dos bandidos. Esse caminho é a corrupção policial. Se quisesse efetivamente diminuir o número de armas em circulação o governo deveria ter optado por agir silenciosa e drasticamente dentro das organizações policiais. São conhecidos os expedientes usados por policiais corruptos que deixam as armas escaparem para as mãos dos bandidos em troca de dinheiro. O caminho mais comum é a simples venda para os bandidos de armas ilegais apreendidas em operações policiais. A apreensão não é reportada ao comando policial e, em lugar de serem encaminhadas para destruição, elas são vendidas aos bandidos. É frequente criminosos serem soltos em troca de deixarem a arma com policiais. O MESMO vale para cidadãos pegos com armas ilegais ou sem licença para o porte. Eles são liberados pagando como pedágio a arma que portavam. Policiais corruptos também simulam o roubo, furto ou até a perda da arma oficial. Depois raspam sua numeração e a vendem. A corporação cuida de entregar-lhes uma nova, que pode vir a ter o MESMO destino. Enquanto esse tráfico não for interrompido, podem ser organizados milhares de referendos e o problema do crime continuará do MESMO tamanho. Shelp, Diogo. Veja. São Paulo. 26 out. 2005. p. 62 De acordo com o discurso gramatical tradicional, advérbio é palavra invariável que expressa circunstância e incide sobre verbos, adjetivos e até mesmo advérbios. No entanto, extrapolando esse discurso, sabe-se que, como modalizador, em vez de exprimir uma circunstância (tempo, lugar, intensidade etc.) relacionada a um verbo, advérbio ou adjetivo, o advérbio pode revelar estados psicológicos do enunciador. Isso se vê em: PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR100 INTERPRETAÇÃO 10 MODALIZADORES a) "[...] basta uma torcida MUITO forte para que se produza um resultado positivo para a sociedade." b) "INFELIZMENTE a vida real exige mais do que boas intenções para seguir o vetor do progresso social." c) "o governo deveria ter optado por agir SILENCIOSA E DRASTICAMENTE dentro das organizações policiais." d) "A apreensão NÃO é reportada ao comando policial [...]" e) "DEPOIS raspam sua numeração e a vendem." 12. (EA CFOAV/CFOINT/CFOINF) Leia o texto e responda à questão. Para Sempre Jovem Recentemente, vi na televisão a propaganda de um jipe que saltava obstáculos como se fosse um cavalo de corrida. Já tinha visto esse comercial, mas comecei a prestar atenção na letra da música, soando forte e repetindo a estrofe de uma canção muito conhecida, “forever Young... I wanna live forever and Young...” (para sempre jovem... quero viver para sempre e jovem). 1Será que, realmente, 2queremos viver muito e, de preferência, para sempre jovens? (...) O crescimento da população idosa nos países desenvolvidos é uma bomba-relógio que já começa a implodir os sistemas previdenciários, despreparados para amparar populações com uma média de vida em torno de anos. A velhice se tornou uma epidemia incontrolável nos países desenvolvidos. Sustentar apopulação idosa sobrecarrega os jovens, cada vez em menor número, pois, nesses países, há também um declínio da natalidade. Será isso socialmente justo? Uma pessoa muito longeva consome uma quantidade total de alimentos muito maior do que as outras, o que contribui para esgotar mais rapidamente os recursos fi nitos do planeta 3e agravar ainda mais os desequilíbrios sociais. Para que uns poucos possam viver muito, outros 4terão de passar fome. Será que, em um futuro breve, teremos uma guerra de extermínio aos idosos, como na fi cção do escritor argentino Bioy Casares, O diário da guerra do porco? Seria uma guerra justa? [...] TEIXEIRA, João. Para sempre jovens. In: Revista Filosofi a: ciência & vida. Ano VII, n. 92, março-2014, p. 54. Elementos de modalização são responsáveis por expressar intenções e pontos de vista do enunciador. Por intermédio deles, o enunciador inscreve no texto seus julgamentos e opiniões sobre o conteúdo, fornecendo ao interlocutor “pistas” de reconhecimento do efeito de sentido que pretende produzir. Observe os elementos de modalização destacados nos excertos e as respectivas análises. I. “...e agravar ainda mais os desequilíbrios sociais.” (ref. 3) – O advérbio destacado ratifi ca a ideia de que a situação que já é caótica vai piorar. II. “...terão de passar fome.” (ref. 4) – O verbo auxiliar utilizado ressalta a total falta de saída para os jovens. III. “Será que, realmente, queremos viver muito...” (ref. 1) – O advérbio utilizado reforça o questionamento sobre o desejo de viver muito, presente no senso comum. IV. “...queremos viver muito e, de preferência, para sempre jovens?” (ref. 2) – A locução adverbial sugere que a vida longa será também de qualidade. Apresentam afi rmações corretas as alternativas a) I e II apenas. b) III e IV apenas. c) I, II e III apenas. d) I, II, III e IV. e) I e IV 13. (VUNESP) Leia a tira para responder à questão. (Dik Browne. Hagar, o Horrível. Folha de S.Paulo, 27.09.2015) A fala da mulher permite inferir que, ao treinar o cão, ela pretendeu a) reproduzir as ordens do marido. b) mostrar-se preocupada com o marido. c) contestar a autoridade do marido. d) tornar-se superior ao marido. e) manter-se submissa ao marido. 14. (FGV) Na frase “Escolas de São Paulo vetam até escova de dente para economizar água.”, o emprego do até mostra um modalizador, ou seja, um termo em que o enunciador do texto expressa uma opinião. Nesse caso, a opinião é de que a) há um exagero na medida. b) mostra um cuidado exemplar na medida tomada. c) indica uma dúvida sobre o efeito pretendido. d) ocorrem inúmeros outros casos de economia de água. e) demonstra um apoio à medida tomada. 15. (TJ-BA) “O caminho para baixo era estreito e íngreme, e tanto os homens quanto os animais não sabiam onde estavam pisando, por causa da neve; todos os que saíam da trilha ou tropeçavam em algo perdiam o equilíbrio e despencavam no precipício. A esses perigos eles resistiam, pois àquela altura já se haviam acostumado a tais infortúnios, mas, por fi m, chegaram a um lugar onde o caminho era estreito demais para os elefantes e até para os animais de carga. Uma avalanche anterior já havia arrastado cerca de trezentos metros da encosta, ao passo que outra, mais recente, agravara ainda mais a situação. A essa altura, os soldados mais uma vez perderam a calma e quase caíram em desespero.” (Políbio, Histórias) “Pois àquela altura já se haviam acostumado a tais infortúnios”; O termo “àquela altura” se refere: a) ao momento por que passavam; b) à altitude das montanhas; c) à dimensão dos caminhos; d) ao modo por que atravessavam os caminhos; e) à consequência dos fatos anteriores. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 10 MODALIZADORES 101 INTERPRETAÇÃO TEXTO PARA AS QUESTÕES 16 E 17: O Lema da Tropa O destemido tenente, no seu primeiro dia como comandante de uma fração de tropa, vendo que alguns de seus combatentes apresentavam medo e angústia diante da barbárie da guerra, gritou, com fi rmeza, para inspirar seus homens a enfrentarem o grupamento inimigo que se aproximava: – Ou mato ou morro! Ditas essas palavras, metade de seus homens fugiu para o mato e outra metade fugiu para o morro. 16. (EEAR) Considere o seguinte trecho do texto: “– Ou mato ou morro! Ditas essas palavras, metade de seus homens fugiu para o mato e outra metade fugiu para o morro.” No fragmento acima, para que houvesse redução de possibilidades interpretativas, do ponto de vista morfológico, e manutenção do sentido original desejado pelo tenente, bastaria que ele, ao encorajar seus combatentes, a) acrescentasse preposições, como, por exemplo, “para”, antes dos substantivos, criando locuções adverbiais. b) acrescentasse determinantes às palavras, como, por exemplo, o artigo defi nido “o” antes dos substantivos. c) conjugasse os verbos pronunciados no tempo presente do modo indicativo. d) pronunciasse as palavras considerando-as como verbos na forma nominal do infi nitivo. 17. (EEAR) No texto acima, considerando os aspectos morfológicos da Língua Portuguesa, a construção do humor se efetua, principalmente, pela a) falta de capacidade linguística dos combatentes que, ao confundirem as palavras do tenente, no contexto, atribuíram valores de advérbios aos verbos pronunciados pelo tenente. b) ausência de interpretação plausível por parte dos combatentes que, ao ouvirem as palavras, confundem suas classes gramaticais, atribuindo a elas valores inadmissíveis na Língua Portuguesa. c) capacidade que os combatentes tiveram de interpretar as palavras pronunciadas, confundindo verbos com substantivos, justifi cando, com isso, a vasta flexibilidade de sentidos de uma língua em sua situação de uso. d) capacidade de os combatentes trocarem, propositalmente, as classes morfológicas das palavras pronunciadas pelo tenente, justifi cando o medo deles e a rigidez de signifi cados e inflexibilidade de sentidos de tais palavras. 18. (CP2) Uma noite real no Museu Nacional Gira coroa da majestade samba de verdade, identidade cultural Imperatriz é o relicário no bicentenário do Museu Nacional Onde a musa inspira a poesia a cultura irradia o cantar da Imperatriz é um palácio, emoldura a beleza abrigou a realeza, patrimônio é raiz que germinou e floresceu lá na colina a obra-prima viu o meu Brasil nascer no anoitecer dizem que tudo ganha vida paisagem colorida deslumbrante de viver bailam meteoros e planetas dinossauros, borboletas brilham os cristais o canto da cigarra em sinfonia relembrou aqueles dias que não voltarão jamais À luz dourada do amanhecer as princesas deixam o jardim os portões se abrem pro lazer pipas ganham ares encontros populares decretam que a Quinta é pra você Samba de enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense em 2018 Compositores: Jorge Arthur, Maninho do Ponto, Julinho Maestro, Marcio Pessi, Piu das Casinhas O título do texto, “Uma noite real no Museu Nacional”, apresenta uma série de recursos linguísticos e textuais frequentes em textos literários, como a rima, a intertextualidade e a ambiguidade. Considerando os versos do texto, o termo do título que foi empregado com sentido ambíguo é a) “noite”. b) “real”. c) “Museu”. d) “Nacional”. 19. (ESPM) “É Brasileiro, já passou de Português...” A ideia de uma língua única, que não se altera, é um mito, pois a heterogeneidade social e cultural implica a heterogeneidade linguística. (...) Embora Brasil e Portugal tenham uma língua comum, é nítido a qualquer falante do português que existem diferenças entre o português falado nos dois países – claro que elas também existem com relação aos demais países de língua portuguesa. (...) Essas diferenças são tão grandes que podemos afi rmar que no Brasil se fala uma língua diferente da de Portugal, que os linguistas denominaram de português brasileiro. Isso é tão evidente que, se você observar um processador de textos, o Word, por exemplo, na ferramenta idiomas há as opções português