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Kamilla Galiza / 5º Período / Neurologia Anamnese Ouvir atentamente ao paciente e às suas queixas! Quem é o paciente? Identificação, idade, sexo, raça, ascendência, profissão, contatos ambientais, procedência, etc. Tempo em que se iniciaram os sintomas: 1 semana, 6 meses, 2 anos ... Modo de início e evolução cronológica: § Agudo (minutos, horas, de “um dia p/ outro”) – doença vascular, causas infecciosas (meningite bacteriana); § Subagudo (dias ou 1 semana) – doença inflamatória ou tóxica; § Impreciso, de evolução gradual e progressiva; ® Simétrica – doença degenerativa ® Assimétrica – doença expansiva o Em surtos, com períodos de melhora e piora (esclerose múltipla); § Acessos paroxísticos, de curta duração, com intervalos longos de normalidade, e que se repetem periodicamente (epilepsia); § Relação causa-efeito (traumas crânio-encefálicos e raquimedulares). Etapas do exame 1. Estado Mental 2. Nervos cranianos 3. Sistema motor 4. Reflexos 5. Sistema sensorial 6. Sinais meníngeos Função cognitiva § Nível de consciência: alerta, confuso, sonolento, torporoso, comatoso § Orientação: pessoal, tempo e espaço § Atenção e concentração § Estado de espírito e afeto § Julgamento § Memória § Linguagem e fala (afasia, disfasia, disartria, etc.) § Agnosia: perda da capacidade de reconhecimento ® Agnosia visual: “enxerga, mas não vê” § Apraxia: faz com que o paciente fique incapaz de realizar certos movimentos por vontade própria (conscientemente) e não consiga seguir certas sequências de movimento Divisão funcional do encéfalo Nervos cranianos Lesão nas vias visuais centrais Sítios clássicos de lesão Consequências Nervo óptico Cegueira total no olho ipsilateral Quiasma óptico Hemianopsia bitemporal heteronômica (visão em túnel) Borda lateral do quiasma Hemianopsia contralateral no olho ipsilateral Trato óptico Hemianopsia contralateral homônima Neurológica semiologia Kamilla Galiza / 5º Período / Neurologia Alça de meyer ou Giro lingual Quadrantanopsia contralateral homônima superior Membro retrolenticular ou giro cúneo Quadrantanopsia contralateral homônima inferior Área 17 Hemianopsia contralateral homônima, frequentemente sem dano na mácula Obs colocar nervo trigêmeo Motricidade voluntária 1. Flexão e extensão dos artelhos (dedos dos pés), pés, pernas. 2. Flexão e extensão dos dedos, mãos, braços. ® Inspecionar energia e velocidade, simetria. ® Observar maior ou menor grau de dificuldade respiratória, denunciando déficit do diafragma e/ou dos músculos respiratórios. ® Movimentos finos: abotoar roupas, usar tesoura. Força muscular Repetir os movimentos anteriores, porém com oposição do examinador (ou seja, o examinador fazendo força contra). 0 Sem movimento 1 Movimento quase imperceptível 2 Movimento somente coma força da gravidade eliminada 3 Movimento somente contra a força da gravidade 4 Movimentos contra gravidade e resistência, mas não vence a força do examinador 5 Forca normal Padrão de fraqueza § Nervo periférico único § Raiz nervosa única § Difusa/simétrica/proximal > ou < distal § Piramidal (extensores > flexores nos braços, flexores > extensores nas pernas). Na junção do bulbo com a medula, o trato piramidal cruza, ou decussa, na decussação das pirâmides. Isso significa que o córtex motor direito comanda diretamente o movimento do lado esquerdo do corpo, e o córtex motor esquerdo controla os músculos do lado direito. Um AVE que lesiona o córtex motor ou o trato córtico-espinhal pode levar a paralisia no lado contralateral. Figura 1. homúnculo de Penfield Sistema motor e correlações clínicas Componentes Função Manifestações Neurônio motor inferior Via final comum para os movimentos voluntários, posturais e reflexos. Manutenção do tônus e trofismo muscular Manutenção da estabilidade elétrica do axônio e da Paresia (fraqueza) Hiporreflexia ou arreflexia (perda dos reflexos espinhais) Hipotonia ou atonia Atrofia muscular Fasciculações Potenciais de fibrilação Kamilla Galiza / 5º Período / Neurologia membrana muscular Trator espinhais descendentes Trato córtico- espinhal (via lateral, direita) Trato córtico- retículo-espinhal Controle de movimentos voluntários finos (dedos), força muscular Inibição dos reflexos segmentares que interferem com a ação voluntária, postura e locomoção Fraqueza, perda da destreza manual, inabilidade em aumentar a força Hiperreflexia e clônus, espascidade (hipertonia), sinal de Babinski Espasticidade: aumento do tônus muscular e dos reflexos espinhais § Rigidez de decerebração § Rigidez de decorticação Tônus muscular Movimentação passiva realizada ao nível das articulações dos MMII e MMSS para avaliar a contração muscular. § Normal § Hipotonia – diminuição do tônus muscular § Espasticidade (em “canivete”) – aumento, velocidade dependente, do tônus muscular, com exacerbação dos reflexos profundos, decorrente de hiperexcitabilidade do reflexo do estiramento. § Rigidez (com ou sem roda denteada, em “cano de chumbo”) § Paratonia – incapacidade de relaxar os músculos esqueléticos voluntariamente; pelo contrário, o músculo apresenta uma tensão anormal e se contrai sem poder evitá-la. Coordenação motora Quando examinamos a marcha, o equilíbrio e a motricidade voluntária, já é possível detectar distúrbios da coordenação (ataxias). Manobra calcanhar-joelho – MMII: com o paciente em decúbito dorsal, solicitar que encoste o calcanhar direito sobre o joelho esquerdo e, em sequência, deslizar o calcanhar sobre a crista da tíbia. Realizar em 2 etapas: inicialmente com olhos abertos e depois sem controle visual. Assim, constataremos se a ataxia é cerebelar ou sensitiva (neste último, ocorre acentuado pronunciado dos erros ao acabar o controle visual). Pode ser uni ou bilateral, simétrica ou assimétrica. Manobra índex-naso – MMSS: MS em total abdução. Com indicador em extensão, tocar a ponta do indicador na ponta do próprio nariz. Com e sem controle visual. Testar ambos MMSS separadamente. Caso a incoordenação seja muito discreta, realizar a manobra naso-índex (o paciente toca a ponta do seu indicador na ponta do seu nariz e depois a ponta do indicador do examinador e novamente a ponta de seu nariz, sendo que o examinador moverá o seu indicador para diferentes posições ao longo do teste). • Disdiadococinesia: incapacidade de executar movimentos coordenados e alternados (pronação e supinação das mãos). Manobra do rechaço (Stewart-Holmes): incapacidade de parar um movimento quando se retira a oposição ao mesmo (com a liberação repentina do antebraço flexionado, o paciente não interrompe o movimento e atinge sua face, por isso, lembrar de proteger o rosto do paciente para evitar que a continuidade do movimento machuque o paciente) Hipercinesias Descreve o aumento da atividade muscular indesejada que pode contribuir para que uma pessoa que exiba movimentos corporais anormais. São resultados do acometimento dos núcleos da base e/ou dos núcleos ao redor. Intensificam-se com a realização de movimentos voluntários. São eles: tremor, mioclono, asterixis, distonia, atetose, coréia, balismo, tiques. Verificar: caráter, localização, fatores precipitantes/agravantes Reflexos de estiramentos fásicos Membros inferiores Reflexo patelar: flexão passiva da perna e golpear tendão patelar. § Resposta = extensão da perna. Reflexo aquileu: MIE flexionado, com a mão esquerda o examinador promove ligeira flexão dorsal do pé e golpeia tendão de aquiles com mão direita. § Resposta = flexão plantar do pé. Membros superiores Normalmente são hipoativos. Hiperatividade é sempre patológica.Kamilla Galiza / 5º Período / Neurologia Reflexo estilorradial: apoiar a mão direita do paciente em nossa região palmar esquerda e ercutir apófise estilóide do rádio. § Resposta = flexão do antebraço. Reflexo bicipital: com o antebraço do paciente “descansando” sobre o do examinador, pressionar o tendão do bíceps com polegar esquerdo e percutir sobre o mesmo. § Resposta = contração do bíceps. Reflexo tricipital: com o braço do paciente apoiado sobre palma da mão do examinador, percutir tendão do tríceps. § Resposta = extensão do antebraço. Gradação 0 Ausente apesar da facilitação 1 Diminuido 2 Normal 3 Hiperativo 4 Hiperativo com clônus Face o arco reflexo é realizado por nervos cranianos, que são avaliados na linha axial da face, normalmente são hipoativos ou ausentes. Quando ativos estão nas lesões bilaterais da via corticonuclear (piramidal), na doença de Parkinson e síndromes parkinsonianas. Reflexo masseterino/mentoniano: com o paciente com boca entreaberta e indicador do examinador na região mentoniana, percutir sobre a região. § Resposta exaltada = elevação da mandíbula. Tanto a via aferente como a eferente são representadas pelo nervo trigêmeo. Entretanto, a aferente é veiculada por estímulo desencadeado em região cuja sensibilidade proprioceptiva pertence ao nervo facial. Exame da marcha O paciente deve estar descalço e semidespido. Sempre que possível, solicitar ao paciente para realizar alguns passos sem controle visual. § Marcha espástica: hipertonia (aumento anormal da contração muscular) da musculatura extensora e as pernas se cruzam uma na frente da outra, os pés se arrastam – lesão piramidal; pode ser unilateral ou bilateral. § Marcha escarvante (pé caído): para sia da musculatura dorsiflexora dos artelhos (dedos do pé) e pé, inervada pelo fibular. Pode ser uni ou bilateral. O paciente levanta o joelho acima do normal para não arrastar o pé no chão. § Marcha atáxica cerebelar (“marcha ebriosa”): lembra indivíduo em estado de embriaguez alcoólica (distúrbio cerebelar). A região cerebelar ligada ao equilíbrio dinâmico (marcha) é o córtex do vermis cerebelar e regiões paleocerebelares correspondentes aos MMII do homúnculo paleocerebelar. § Marcha atáxica sensitiva: causada por lesões no sistema lemniscal, sendo as mais frequentes aquelas que se localizam nos funículos posteriores da medula (mielinólise funicular). Semelhante à marcha cerebelar (insegura e titubeante), entretanto, esta é rigorosamente fiscalizada pelo olhar. A marcha da ataxia sensorial resultante da perda de propriocepção é notável pelo movimento abrupto das pernas e pelo impacto dos pés em cada passo. § Marcha petit-pas (pequenos passos): idosos portadores de arteriosclerose cerebral generalizada, paralisia pseudobulbar, atrofia cortical da senilidade. Caracterizada pelo paciente dar passos muito curtos e rígidos, lentos e arrastar os pés como se estivesse dançando “marchinha”. § Marcha parkinsoniana: a marcha vagarosa do paciente parkinsoniano, o doente anda como um bloco, enrijecido, sem movimento automático dos braços. A cabeça inclinada para frente e os passos miúdos e rápidos, dando a impressão de que o doente vai cair para frente. § Marcha helicópode, ceifante ou hemiplégica: ao andar, o paciente mantém o MS fletido em 90° no cotovelo e em adução e a mão fechada em leve pronação. O MI do mesmo lado é espástico, e o joelho não flexiona, por isso, a perna se arrasta descrevendo um semicírculo quando o paciente troca o passo. Ocorre na hemiplegia (doença vascula encefálica). § Marcha anserina: observada em indivíduos que apresentam a fraqueza nos músculos pélvicos, com a rotação exagerada da pelve, arremessando ou rolando o quadril de um lado para outro a cada passo, para deslocar o peso do corpo. Encontrada em doenças musculares e traduz diminuição da força dos mm. pélvicos e das coxas. Kamilla Galiza / 5º Período / Neurologia § Marcha tabética: para se locomover, o paciente mantém o olhar fixo no chão. Os MMII são levantados abrupta e explosivamente e, ao serem recolocados no chão, os calcanhares tocam o solo pesadamente. Com olhos fechados, a marcha piora acentuadamente ou é impossível. Indica a perda da sensibilidade proprioceptiva por lesão do cordão posterior da medula. § Marcha vestibular: o paciente com lesão vestibular (labirinto) apresenta lateropulsão (tendência involuntária para um dos lados ao caminhar) quando anda. É como se fosse empurra- do para o lado ao tentar mover-se em linha reta. § Marcha claudicante: paciente manca para um doslados. Ocorre na insuficiência arterial periférica e em lesões do aparelho locomotor. Equilíbrio Solicitar ao paciente para assumir a posição ereta, ccom os pés juntos e olhos abertos. O examinador deverá estar ao lado do paciente. Observação: pequenas oscilações podem surgir e frequentemente não são patológicas. Verificar se o paciente está utilizando o controle visual, se “precisa enxergar o piso” para manter-se de pé. Em sequência, solicitar ao paciente que feche os olhos. Alterações do equilíbrio já podem ser sugeridas pelo exame da marcha. § Síndrome cerebelar axial: as alterações no equilíbrio ocorrem mesmo com controle visual, e para manter-se de pé, o paciente alarga sua base de sustentação (MMII afastados) e exibe oscilações do tronco. Em muitos casos de ataxia cerebelar axial, o paciente possui incapacidade da marcha (abasia), o mesmo ocorrendo com o equilíbrio (astasia). § Mielinólise funicular: lesões dos funículos posteriores da medula. Embora demonstre instabilidade, é capaz de ficar em pé desde que haja controle visual. Logo após fechar os olhos, as oscilações aumentam e a queda é inevitável (sinal de Romberg). § Lesão labiríntica: lesão do nervo vestibular. Tanto a marcha como o equilíbrio apresentam desvios sempre para um lado. Sensibilidade Exteroceptiva Sensibilidade dolorosa epicrítica: forma de sensibilidade dolorosa cutânea que possui sistema neuronal bem definido (sistema extralemniscal). Avaliamos com o paciente em decúbito dorsal, semidespido, pressionando uma agulha sobre a pele do mesmo. Iniciar pesquisa pelos MMII e paciente com olhos fechados. Nas polineuropatias periféricas, a anestesia dolorosa ocorre apenas nas extremidades distais dos membros (anestesia em bota e luva). A sensibilidade térmica possui a mesma rota da dolorosa epicrítica, por isso a sua pesquisa é dispensável. Sensibilidade táctil: examinada com um pincel ou chumaço de algodão. Orientação semelhante à acima. Proprioceptiva Cinestesia: é o sentido da percepção de movimento, peso, resistência e posição do corpo, provocado por estímulos do próprio organismo. Avaliamos com o paciente em decúbito dorsal e olhos fechados. Então executamos movimentos passivos e sucessivos de flexão ventral e dorsal do hálux e pedimos para o paciente identificar os movimentos realizados. Lesões no sistema lemniscal levam a comprometimento da cinestesia iniciando-se pelas extremidades. Artrestesia ou sensibilidade postural: com o paciente em decúbito dorsal, olhos fechados, segurar hálux pelas faces laterais e o colocamos lentamente para cima ou para baixo e o paciente deverá dizer qual a posição imposta pelo examinador. Maioria das lesões no sistema lemniscal exibe comprometimento da sensibilidade cinético-postural, mas em lesões mais amenas, o comprometimento postural precede ao da cinestesia. Palestesia ou sensibilidade vibratória: muitas vezes, é a única forma de sensibilidade proprioceptiva consciente a ser comprometida em neuropatias diabéticas e em vários casos de mielinólise funicular. Avaliamos através de um diapasão, de 128 vibrações, colocando- o sobre saliências ósseas dos MMII e MMSS. O paciente deve acusar a sensação percebida. Diagnostico neurológico Passo 1: Há doença no sistema nervoso? Fisiopatologia • Conjunto de sinais e sintomas,reconhecimento de padrões • DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO Passo 2: Onde está o problema? • Estrutura e função / anatomia e fisiologia • DIAGNÓSTICO TOPOGRÁFICO Passo 3: Que tipo de problema? • Diagnóstico diferencial hierarquizado (tempo de evolução) • DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO Caso clínico Pedro, caminhoneiro de 33 anos lhe procura com história de vários anos de “desmaios”. Durante sua entrevista, você consegue obter a informação com a esposa de que ele apresenta episódios autolimitados de olhar vazio e perdido, não-responsividade, movimentos mastigatórios e automatismos manuais bilaterais em que ele fica puxando sua camisa. Estes episódios duram 1-2 minutos. Após estes eventos, ele é incapaz de falar, e parece ficar confuso por 5- 10 minutos. O paciente relata que esses episódios são precedidos por mal-estar epigástrico caracterizado por uma sensação de uma bola que sobe em seu estômago, e depois ele perde a consciência. Quando criança, o paciente apresentou algumas crises epilépticas febris. Resumo: Homem, 33 anos, episódios autolimitados de alteração de consciência, confusão mental e perda de memória. § Diagnóstico sindrômico: Distúrbio da consciência § Diagnóstico topográfico: Supratentorial – lobo temporal § Diagnóstico etiológico: Epilepsia do lobo temporal por esclerose mesial temporal Época, modo de início e evolução cronológica: Agudo → Vascular, infecciosa Subagudo → Doença inflamatória ou tóxica Crônico → Doença degenerativa ou expansiva Em surtos, com períodos de remissão → Esclerose Múltipla Acessos paroxísticos de curta duração, com intervalos longos de normalidade e que se repetem periodicamente → Epilepsia
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