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TEORIA DE CONTROLE E SERVOMECANISMO Eduardo Nery Introdução aos sistemas de controle Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar sistemas de controle. � Reconhecer diferentes tipos de sistemas de controle. � Diferenciar sistemas de controle em malha aberta de sistemas de controle em malha fechada. Introdução Neste capítulo, será apresentada uma introdução aos sistemas de controle, e você verá o importante papel dessa área nos recentes avanços da en- genharia. O controle automático é de extrema importância em sistemas robotizados e veículos espaciais, por exemplo. Tais sistemas também estão presentes no controle de pressão, temperatura e umidade em processos industriais e, também, em sistemas de localização e navegação automática em aeronaves e veículos autônomos. É essencial que engenheiros e cientistas tenham sólidos conhecimen- tos em sistemas de controle e acompanhem atentamente os avanços mais recentes nessa área, com vistas à necessidade de otimizar cada vez mais os processos já existentes. Identificação de sistemas de controle No contexto da Engenharia Moderna, o termo sistema de controle se refere a qualquer sistema ou processo automatizado. Tais sistemas não se restrin- gem meramente a sistemas robotizados, tão lembrados quando o assunto é tecnologia. Os sistemas de controle também estão presentes nos mais variados equipamentos presentes no nosso dia a dia, desde geladeiras e eletrodomésticos a automóveis e máquinas industriais. Fora do âmbito da Engenharia Elétrica, há outros exemplos de aplicações de sistemas de controle, como a análise de vibrações estruturais na construção civil e o controle de temperatura e pressão em processos químicos. O que são sistemas de controle? Primeiramente, é preciso definir sinal e sistema. Um sinal é um conjunto de dados que contêm informações sobre o comportamento de um fenômeno e é descrito por equações de uma ou mais variáveis. Em geral, a única variável é o tempo. Já um sistema é um conjunto de integrantes que processa sinais de entrada e gera sinais de saída. Esse processamento é descrito por operações matemáticas básicas (como ganhos) ou extensos (como coeficientes de uma Transformada de Fourier). Independentemente da complexidade, sistemas pro- cessam uma informação recebida (entrada) e enviam informações processadas (saída). Dessa forma, um sistema de controle é um sistema projetado para adequar um ou mais sinais a padrões de projeto previamente determinados. Leia com atenção os termos definidos a seguir, pois serão muito utilizados em sua prática profissional: � Sensor: é um dispositivo que converte um estímulo físico em algo mensurável: sonares, câmeras, GPS, termômetros, barômetros, acele- rômetros e giroscópios são exemplos de sensores. Estes dois últimos também são chamados de sensores inerciais. Logo, o sensor mede a saída do sistema e a converte em um sinal que pode ser enviado ao sistema. � Realimentação: ocorre quando a saída do sistema é mensurada a fim de influenciar sua entrada: esse processo ocorre em sistemas em malha fechada. � Atuador: é um dispositivo que altera o sistema ou a variável a ser controlada. A entrada do sistema é enviada para os atuadores. Exemplos de atuadores: motores, transistores, válvulas, cilindros hidráulicos ou pneumáticos. Alguns atuadores, principalmente motores, são o oposto do sensor, uma vez que convertem sinais em estímulos físicos. � Controlador ou compensador: é o dispositivo que gera sinais ao atu- ador, de forma a adequar o sistema aos parâmetros projetados. � Referência: é o valor desejado para comparação com o sinal enviado pelo sensor processado pelo controlador, em sistemas em malha fechada (OGATA, 2003). Introdução aos sistemas de controle2 O conjunto desses dispositivos compõe o sistema de controle. Exemplos de sistemas de controle Conheça alguns exemplos de aplicações de sistemas de controle a seguir. Sistema de controle de velocidade O sistema de controle ilustrado na Figura 1 foi proposto por James Watt, em 1788, para controle de velocidade em máquinas a vapor. Esse sistema também pode ser utilizado em motores de corrente contínua. Figura 1. Controle de velocidade de um motor de combustão interna. Fonte: Adaptada de Ogata (2003, p. 3). Motor de combustão interna Fachada aberta Válvula de controle Combustível Válvula-piloto Óleo sob pressão Cilindro de potência Carga Em motores a combustão, o sistema funciona a partir do ajuste da quantidade de combustível fornecida ao motor. O controle é feito da seguinte forma: o regulador de velocidade é ajustado de forma a cortar fluxo de óleo sob pressão à velocidade desejada em ambos os lados do interior do cilindro de potência. Se a velocidade diminuir devido a uma perturbação, a redução da força centrífuga 3Introdução aos sistemas de controle do regulador fará com que a válvula de controle se mova para baixo e forneça mais combustível. Assim, a velocidade do motor aumentará até atingir o valor desejado. De forma similar, a válvula de controle se deslocará para cima e diminuirá o suprimento de combustível ao motor se a velocidade do motor aumentar além do desejado. Desse modo, a velocidade do motor será reduzida. Sistema de controle de temperatura O sistema ilustrado na Figura 2 é utilizado para o controle de temperatura de um forno elétrico. Porém, sistemas similares são aplicados a fim de manter determinada temperatura em qualquer espaço fechado. Figura 2. Controle de temperatura de um forno elétrico. Fonte: Adaptada de Ogata (2003, p. 4). Termômetro Aquecedor Relé Conversor A/D Amplif icador Interface Entrada programada Interface Forno elétrico Um termômetro mede a temperatura do ambiente – o forno, conforme o exemplo acima. Como o termômetro é um sensor analógico, o sinal gerado por ele deve ser convertido para o domínio digital por meio de um conversor A/D e enviado a um processador. Por sua vez, o processador é previamente programado para receber dados de temperatura e compará-los com a tempe- ratura desejada. Em caso de divergência, o processador enviará sinais para o aquecedor do forno a partir de um amplificador e um relé, de modo que este aumente ou diminua sua temperatura. Introdução aos sistemas de controle4 Em controladores digitais, é possível implementar uma interface de forma que o usuário possa ajustar a temperatura desejada e ler em um display a temperatura do forno (ou do ambiente que se deseje adequar a temperatura). Outras aplicações O sistema de distribuição de água é feito pela utilização de caixas d’água no terraço da edificação e reservatórios subterrâneos (cisternas) fornecem água para as caixas, em edifícios residenciais: o controle de nível de água visa evitar transbordamento das caixas e evitar que o abastecimento de água dos apartamentos se mantenha constante. Um elevador predial necessita de precisão e confiabilidade a fim de garantir a segurança dos passageiros. Para tal, utilizam-se estratégias de controle para manter as acelerações e desacelerações suaves e posicionar o elevador exatamente na porta do andar selecionado. Em um braço robótico, numerosos atuadores são utilizados. Sistemas de controle são necessários para que o braço seja posicionado precisamente no local pretendido de forma a não danificar nenhuma ferramenta utilizada e seja movimentado em uma área limitada, caso necessário. Sistemas em malha aberta e malha fechada Sistemas em malha aberta Os sistemas de controle em malha aberta são sistemas em que a saída não influencia o sistema. Em outras palavras, a saída não é mensurada para fins de comparação com a entrada ou uma referência. Além disso, nenhum ajuste é realizado para manter o sistema nos parâmetros desejados. A Figura 3 ilustra os sistemas de malha aberta e malha fechada sob a forma de diagrama de blocos. 5Introdução aos sistemas de controle Figura 3. Diagramas de bloco do controlede temperatura de sistemas em malha aberta e em malha fechada. Fonte: Adaptada de Ogata (2003, p. 53-54). Saída do sistema Saída do sistema Entrada do sistema Entrada ou referência Sinal de erro + − Sistema Sistema Essa aplicação é encontrada em aparelhos de ar-condicionado de janela, que se mantêm ligados na temperatura e na velocidade de ventilação ajustadas pelo usuário. O aparelho não recebe sinais de saída, ou seja, não verifica se a sala está bem condicionada. Portanto, sistemas em malha aberta são apropriados quando é impossível ou inviável realizar a leitura da saída do sistema. Para tal, recomenda-se a utilização de componentes de alta precisão e menos sujeitos a modificarem suas características com o tempo. Isso é importante porque esse tipo de sistema é sensível a mudanças e qualquer distúrbio pode levar o sistema a sair do estado desejado e não retornar. Além disso, menos componentes — e menos sensores — são utilizados em sistemas em malha aberta. Por outro lado, é mais simples projetar e implementar sistemas em malha aberta. Além disso, são recomendados nos casos em que a estabilidade não é um fator necessário, uma vez que estabilidade é um a condição menos signi- ficativa, como o exemplo do ar-condicionado de janela citado anteriormente. Ademais, sistemas de controle em malha aberta são de fácil manutenção e calibragem, ainda que estas costumem ocorrer mais frequentemente do que nos sistemas em malha fechada. Introdução aos sistemas de controle6 Sistemas em malha fechada Os sistemas de controle em malha fechada, também chamados de sistemas com realimentação, são sistemas influenciados pela saída. Nesses sistemas, a saída é comparada à entrada do sistema, chamada de referência ou sinal desejado, e a diferença entre elas é chamada de erro. O sistema é projetado de forma a manter o erro próximo de zero, ou seja, o sistema mantém a saída no nível desejado. Os sistemas de controle em malha fechada não se restringem à engenharia. O corpo humano, por exemplo, também é um sistema que funciona com realimentação: a temperatura corporal e a pressão sanguínea se mantêm constantes por meio de realimentação fisiológica e, assim, mantêm o perfeito funcionamento do nosso organismo. O equilíbrio corporal também é um bom exemplo de realimentação fisiológica do corpo humano. A maior vantagem dos sistemas em malha fechada, ao contrário dos siste- mas em malha aberta, é a estabilidade e insensibilidade a distúrbios externos. Isso quer dizer que o sistema mantém a saída constante ou retorna para o valor desejado rapidamente. Por isso, são altamente vantajosos em casos de distúrbios e alterações não previsíveis nos componentes do sistema. Essa constância possibilita a utilização de componentes eletrônicos, como motores e atuadores, mais baratos e imprecisos. No entanto, os sistemas em malha fechada podem se tornar instáveis se oscilarem indefinidamente. Nesse caso, poderão levar a uma correção de erros imprecisa e causar grandes oscilações na saída do sistema. Uma série de fatores deve ser levada em conta quando decidir entre projetar um sistema em malha aberta ou em malha fechada. Caso o sistema seja livre de distúrbios, componentes de alta precisão e confiabilidade devem ser utilizados. Além disso, se as entradas forem previamente conhecidas, será possível trabalhar em malha aberta. Por outro lado, sistemas em malha fechada serão utilizados sempre que corrigir o sinal de saída for necessário e mantê-lo em um nível desejado. 7Introdução aos sistemas de controle 1. Em um sistema de controle de velocidade de um motor de corrente contínua, o que deve acontecer quando o sensor detectar que o motor está girando mais devagar do que o desejado? a) Aumentar a resistência de carga. b) Aumentar a indutância de carga. c) Aumentar a tensão de alimentação do motor. d) Reduzir a tensão de alimentação do motor. e) Desligar-se automaticamente. 2. Qual alternativa representa uma condição para a qual é recomendado um sistema de controle em malha aberta? a) Impossibilidade de mensurar a saída. b) Presença de distúrbios externos. c) Atuadores de baixa qualidade. d) Necessidade de modificar a operação do sistema durante a operação. e) Onde não seja possível intervenção humana durante a operação. 3. Um sistema de controle em malha aberta é apropriado para qual dos seguintes sistemas? a) Braço robótico. b) Chaleira elétrica. c) Quadricóptero. d) Impressora 3D. e) Semáforo. 4. Qual alternativa representa uma vantagem de sistemas de controle em malha fechada? a) Simplicidade. b) Correção automática de distúrbios. c) Livre de instabilidade. d) Menor número de componentes. e) Livre de manutenção. 5. Qual dos seguintes sensores é essencial para o controle de uma caldeira? a) Acelerômetro. b) Giroscópio. c) Sonar. d) Sensor de temperatura. e) Câmera. OGATA, K. Engenharia de controle moderno. 4. ed. Pearson: São Paulo, 2003. Leituras recomendadas DORF, R. C.; BISHOP, R. H. Modern control system. Menlo Park: Addison-Wesley, 1995. Referência Introdução aos sistemas de controle8 FRANKLIN, G. F.; POWELL, J. D.; NAEINI, E. Sistemas de controle para engenharia. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. KUO, B. C. Sistemas de controle automático. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1985. NISE, N. S. Control systems engineering. 2. ed. Menlo Park: Addison-Wesley, 1995. LATHI, B. P. Sinais e sistemas lineares. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. GILAT, A. MATLAB® com aplicações em engenharia. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. 9Introdução aos sistemas de controle Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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