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RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Nelson Henrique Joly G es tã o R E S IS T Ê N C IA D O S M A T E R IA IS N el so n H en riq ue J ol y Curitiba 2021 Resistência dos Materiais Nelson Henrique Joly Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. J75r Joly, Nelson Henrique Resistência dos materiais / Nelson Henrique Joly. – Curitiba: Fael, 2021. 195 p. ISBN 978-65-86557-78-7 1. Materiais – Propriedades mecânicas I. Título CDD 620.11292 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Stock.adobe.com/Rick Henzel Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Objetivos e aplicações de Resistência dos Materiais | 7 2. Tensão normal: compressão e tração | 19 3. Deformação | 35 4. Propriedades geométricas da seção transversal | 51 5. Flexão pura | 65 6. Flexão composta | 81 7. Flexão oblíqua composta | 97 8. Flexão em vigas compostas | 111 9. Tensão de Cisalhamento | 129 10. Flambagem | 145 11. Conceitos de isostática | 161 12. Forças internas | 175 Gabarito | 187 Referências | 193 Prezado(a) aluno(a), O ensino nos exige constante atualização, e no desenvol- vimento desta obra não foi diferente. A pesquisa e a atualização constantes são necessárias para qualquer aspecto pessoal e pro- fissional. Neste texto inicial, gostaria de colocar que o estudo desta disciplina, Resistência dos Materiais, requer habilidade ou conhecimento prévio sobre conceitos de materiais e mecânica, e irá contar com sua atenção e dedicação. Nesta disciplina, vamos tratar dos primeiros passos para o aprendizado dos conceitos de resistência dos materiais, a sua importância e a utilização nas várias áreas da engenharia. Assim, qualquer aluno que se dedi- que a entender as regras básicas e os procedimentos entenderá os conceitos. Aprender esta disciplina não significa aprender a calcular, pois é necessário aprender como representar um objeto, aprender a interpretar os esforços e como usá-los nas aplicações dos problemas. Carta ao Aluno – 6 – Resistência dos Materiais Para isso, é necessário que você aprenda a pensar no objeto, enten- dendo as regras e o dinamismo dos esforços. Após entender as regras bási- cas iniciais, você poderá se dedicar a aprender a disciplina por meio dos vários softwares específicos para sua área e avançar no conteúdo. Bons estudos! Acredita-se que a origem da resistência dos materiais esteja associada aos experimentos conduzidos por Galileu no início do século 17, quando estudou os efeitos de cargas em vigas e hastes feitas de diversos materiais. Em 1678, Robert Hooke estabeleceu os fundamentos da elasticidade por meio dos seus estudos com mola. Há diversos outros nomes que poderíamos citar, dentre eles destacam-se: Saint Venant, Bernoulli, Navier, Poisson, Cauchy, Euler, Castigiliano, Tresca, Von Mises (KAEFER, 1998). Um livro de resistência dos materiais tem como principal objetivo desenvolver a habilidade de resolver um problema de forma simples, clara e objetiva. Como vocês verão no decorrer deste livro, as operações matemáticas desenvolvidas ao longo da resolução dos exercícios são bem simples. No entanto, o raciocí- nio necessário para a resolução dos problemas torna-se o grande desafio desta disciplina. Objetivos e aplicações de Resistência dos Materiais 1 Resistência dos Materiais – 8 – Primeiramente, devemos fazer a seguinte pergunta: o que é resistên- cia dos materiais? Conforme Hibbeler (2010) explica, a resistência dos materiais é uma área da mecânica que estuda as relações entre as cargas externas aplicadas a um corpo deformável, chamada carregamento, e a intensidade das forças internas que agem no interior do corpo. Em uma estrutura, esse carregamento pode ser gerado devido a alguns fatores, entre eles o próprio peso da estrutura, cargas de parede e disposi- ção dos elementos estruturais que podem vir a gerar os esforços internos conhecidos como flexão, compressão, tração, torção, cisalhamento. Den- tro da visão da Engenharia, de uma forma simples, podemos dizer que a resistência de um material está ligada diretamente à capacidade de esforço que ele consegue absorver mantendo a segurança do projeto. No entanto, um conceito muito importante é o das propriedades mecânicas de cada um dos materiais. Para descobrir essas propriedades, diversos ensaios podem ser realizados. Na realização de ensaios, busca-se quantificar e qualificar cada um dos materiais, uma vez que os parâmetros definidos serão extremamente importantes nas aplicações da Engenharia. Qualquer erro na obtenção das propriedades dos materiais pode trazer diversos problemas, um deles seria superestimar a resistência de um certo tipo de material, o que pode causar ruptura. Verificada a finalidade do material, deve-se escolher qual tipo de ensaio mecânico deverá ser utilizado, avaliando principalmente qual é o tipo de esforço que o material irá sofrer na sua aplicação. O inverso também é possível – primeiramente, são impostas diversas situações de carga no material para que, em uma etapa posterior, seja analisado quais dessas solicitações apresentam uma melhor resposta. As aplicações são determinadas pelos ensaios mecânicos tendo em vista o tipo de solicitação aplicada no material em análise (SOUZA, 1982). O desconhecimento da resistência em face de um esforço específico pode ocasionar possíveis falhas. Desta forma, caracterizar um material minunciosamente é um procedimento que ajuda a compreender o comporta- mento desse material. As ligas ferrosas (Fe-C) têm suas propriedades mecâ- nicas influenciadas diretamente pela quantidade do teor de carbono. Com o acréscimo da quantidade das ligas de carbono, as tensões de escoamento, a – 9 – Objetivos e aplicações de Resistência dos Materiais dureza e ruptura são melhoradas, entretanto, a tenacidade e ductilidade são propriedades que sofrem redução em seus valores. A segurança nos projetos de Engenharia se justifica pela importância do conhecimento, o mais amplo possível, das propriedades mecânicas do material (ZOLIN, 2011). Para a concepção de um projeto de Engenharia, são importantes os estu- dos que são realizados em um material antes e durante a sua aplicação, tendo como objetivo o acréscimo da confiabilidade dos projetos de Engenharia. Esses estudos podem mostrar um modelo do comportamento real perante as diferentes solicitações de carga do material, portanto, pode-se atuar de forma mais segura dentro de um projeto de Engenharia real (RAMÍREZ, 2017). A depender das propriedades que se deseja analisar, existe uma gama de tipos de ensaios que têm como objetivo avaliar as características físicas e químicas dos materiais. Hibbeler (2010) descreve os principais ensaios usados internacionalmente para caracterizar ótica e mecanicamente um corpo sólido. Os testes de tração e compressão foram desenvolvidos para avaliar a resistência do material perante solicitações de carga de tensão axial. Avalia-se também a resistência do material à deformação plástica, por meio de ensaios de dureza sobre a superfície do material. A partir do ensaio de impacto, é obtido o comportamento frágil ou dúctil dos mate- riais quando submetidos a altos índices de deformação. Conforme Ramírez (2017), a escolha do material que será usado em alguns projetos de Engenharia é uma das partes mais importantes a ser considerada no momento de avaliar a viabilidade de um projeto. Com o avanço da tecnologia e o elevado grau de exigência na Engenharia em termos de qualidade, deve se procurar sempre satisfazer as solicitações de esforço que o material deve suportar, visando sempre à melhor rela- ção custo-benefício. Em muitos projetos de Engenharia, são necessárias peças mecânicas que são submetidas a algum tipo desolicitação de carga. As solicitações podem ser suportadas por uma quantidade alta ou escassa de materiais que têm uma variedade de preços e qualidades diferentes. Com a avaliação das propriedades mecânicas, pode ser feita a escolha de um material que cumpra com as solicitações de carga do projeto, evi- tando falhas indesejadas e com preço mais favorável do que outros tipos de materiais que cumprem o mesmo objetivo. Resistência dos Materiais – 10 – Os materiais podem ser produzidos dentro de um ambiente indus- trial ou retirados diretamente da natureza. Podemos utilizar como exem- plo dois tipos de materiais industriais: o aço e o concreto; e um material natural: a madeira. O aço é uma liga obtida por meio do ferro e do car- bono, e costuma sair da indústria pronto para ser aplicado. O concreto, conforme definição de Chust e Figueiredo (2014), é obtido por meio de uma mistura adequada de cimento, agregado fino, agregado graúdo e água. O autor cita uma mistura adequada, ou seja, isso pode variar. Essa variação pode impactar diretamente nas propriedades do concreto no seu estado endurecido, e o fato do concreto depender de uma etapa in loco pode explicar sua variabilidade. A quantidade de água colocada, o tipo de agregado utilizado e outros fatores podem interferir diretamente na resistência obtida. Figura 1.1 – Seção transversal de um tronco Medula Cerne Raios medulares Anéis de crescimento Alburno Camada de células cambiais Casca interna Casca externa Fonte: adaptada de Stock.adobe.com/kajani A madeira, por sua vez, é um material natural e desta forma apresenta inúmeros defeitos, como nós e fendas que interferem nas suas proprieda- des mecânicas (PFEIL, 2003). A Figura 1.1 apresenta a seção transversal de uma madeira. As madeiras de construção devem ser retiradas, de prefe- rência, do cerne, por serem mais duráveis. Como demonstrado, cada material possui suas peculiaridades, e deve-se buscar o entendimento do modo como esses materiais possam – 11 – Objetivos e aplicações de Resistência dos Materiais ser utilizados da forma mais otimizada possível, tendo como propósito a segurança e a viabilização dos projetos de Engenharia. Uma aplicação muito interessante é na obtenção do parâmetro de resistência à compressão característica do concreto ( ckF ), indicando a qual tensão o concreto tem a capacidade de resistir. O conceito de tensão é a relação entre a força aplicada em uma determinada área, ou seja, a ten- são e a força são unidades diretamente proporcionais. Com relação à área, a tensão é inversamente proporcional. A Figura 1.2 apresenta um corpo de prova de concreto rompido após a realização de um ensaio de com- pressão. O ensaio tem como premissa um corpo de prova com medidas padrões, que é submetido a cargas de compressão até sua ruptura. Desta forma, a partir do diâmetro, a área é conhecida e sabe-se também qual é a força que está sendo aplicada. De posse desses dois valores, é possível obter a tensão de ruptura do corpo de prova, geralmente fornecida em Megapascal (Mpa). Figura 1.2 – Ruptura do corpo de prova de concreto Fonte: Stock.adobe.com/mzglass96 Resistência dos Materiais – 12 – Outra aplicação importante da resistência dos materiais é no cálculo de sapatas de fundações. A Figura 1.3 ilustra uma sapata de fundação. As fundações transmitem a carga da estrutura para o solo. Sabendo a carga dos pilares que chega a cada uma das sapatas, é necessário obter uma área que seja suficiente para dissipar as tensões sem ultrapassar a capacidade de carga do solo. Ou seja, quanto maior a área da sapata, menor será a tensão transmi- tida ao solo. Neste caso em particular, conhecer a tensão resistente do solo é o grande desafio, pois, sabendo a carga que chega à sapata e conhecendo a ten- são do solo, rapidamente se obtém a área da sapata. No entanto, este processo não é simples, uma vez que o solo é um material natural e tem grande varia- bilidade. Rotineiramente, nos projetos de fundações, recorre-se a ensaios de laboratório e de campo para conhecer melhor as propriedades do solo. Figura 1.3 – Sapata de fundação Fonte: acervo do autor. Os conceitos de resistência dos materiais também podem ser aplica- dos ao super-herói conhecido como Homem-Aranha. Uma das caracterís- ticas desse personagem é lançar suas teias, que são fixadas em edifícios e propiciam o seu deslocamento pela cidade. Uma imagem dessas teias é ilustrada na Figura 1.4. Dois conceitos importantes podem ser trazidos: tensão e deformação. – 13 – Objetivos e aplicações de Resistência dos Materiais Inicialmente, vamos tratar da deformação. É característica de todos os materiais se deformarem quando sujeitos a carregamento, e isso não seria diferente com a teia do Homem-Aranha. A deformação axial depende de algumas características, como carga, comprimento, módulo de elasti- cidade e área. Ou seja, por se tratar de uma teia, esse material também possui um módulo de elasticidade. As teias são lançadas com o mesmo diâmetro e a carga suportada pela teia é o peso do super-herói. Figura 1.4 – O Homem-Aranha e sua teia Fonte: Stock.adobe.com/Willrow Hood Sendo assim, podemos dizer que o comprimento das teias é o parâ- metro que varia. Da resistência dos materiais, sabemos que, ao mantermos as propriedades descritas acima como constantes, e variarmos o compri- mento da teia, quanto maior for o comprimento da teia maior será sua deformação axial. Resistência dos Materiais – 14 – Ainda tratando do filme do Homem-Aranha, há uma cena em que o super-herói faz parar um trem utilizando seu corpo, com as teias presas em locais fixos. Essa cena é ilustrada na Figura 1.5. Ora, só foi possível parar o trem porque a relação entre a força aplicada por esse meio de transporte e o diâmetro da teia foi inferior à tensão de ruptura da teia. Obviamente, são cenas de filmes, mas podemos trazer aplicações de resistência dos materiais para essas situações. Outros exemplos similares podem ser ilus- trados no cálculo dos cabos de aço utilizados em elevadores e para iça- mento, situações em que deve-se levar em conta a máxima carga que pode ser aplicada sem que haja ruptura. Figura 1.5 – O Homem-Aranha para um trem usando suas teias Fonte: https://youtu.be/lHQHgFNx2kw Dentro de um canteiro de obras, é extremamente comum encontrar as caixarias preparadas para receber o concreto no estado fresco, moldan- do-o para que fique com a forma desejada no estado endurecido. A Figura 1.6 ilustra a montagem de uma viga. As vigas geralmente recebem cargas oriundas das paredes. Esses carregamentos induzem esforços de flexão, fazendo com que parte do elemento estrutural seja comprimido e a outra parte seja tracionada. Este conceito é interessante na aplicação das vigas em concreto armado, e chamamos este modelo construtivo desta forma pois ele utiliza o concreto em conjunto com a armadura de aço. O concreto é um excelente material para absorver os esforços de compressão, supor- tando cargas bem menores quando tracionado. Dessa forma, utilizam-se barras de aço para absorver os esforços de tração. – 15 – Objetivos e aplicações de Resistência dos Materiais Figura 1.6 – Caixaria de viga em concreto armado Fonte: Stock.adobe.com/PiyawatNandeenoparit Nos outros elementos estruturais presentes em obras de Engenharia Civil, como lajes e pilares, percebe-se a utilização do concreto armado. Isso se deve ao fato de esses elementos também estarem sujeitos a esfor- ços de flexão, fazendo com que a presença do aço seja imprescindível para a absorção dos esforços de tração. A Figura 1.7 será utilizada para explicar uma aplicação das proprie- dades geométricas aplicadas na resistência dos materiais. O momento de inércia representa uma resistência da peça ao giro, e para ser calculado depende da forma geométrica da seção transversal. No caso de peças retangulares, o valor do momento de inércia é obtido pela multiplicação da base pelo cubo da altura, sendo este valor dividido por 12. Ouseja, quanto maior a altura da peça, maior será o seu momento de inércia e, consequentemente, maior sua resistência ao giro. A Figura 1.7 ilustra duas situações, (a) e (b). Geralmente, em obras de Engenharia Civil, percebe-se a utilização de vigas com a configuração da Figura 1.7 (a), pois ela teria maior resistência ao giro do que a Figura 1.7 (b). A fórmula do momento de inércia multiplica a altura ao cubo e base não tem nenhuma potência que aumente seu valor; sendo assim, para termos uma equivalência de inércia, precisaríamos de bases muito largas em detrimento do aumento da altura, o que poderia gerar gastos excessivos em concreto. Resistência dos Materiais – 16 – Figura 1.7 – Elemento geométrico para explicação do momento de inércia Fonte: elaborada pelo autor. Conhecer o comportamento e o mecanismo de ruptura de um mate- rial é extremamente importante. Conforme diz Callister (2005), uma fra- tura é definida como sendo a ruptura de um corpo devido a uma força que pode fraturar esse objeto em duas ou mais partes. De forma geral, há duas formas de fratura: frágil e dúctil. Os materiais que têm como ruptura a forma dúctil são caracterizados pela alta absorção de energia e defor- mação plástica excessiva. Em contrapartida, os materiais com ruptura do tipo frágil, possuem a capacidade de absorver uma pequena quantidade de energia antes da fratura. Com o auxílio de um microscópio, é possível identificar uma fratura dúctil a partir do estiramento da vizinhança de uma trinca, enquanto na ruptura frágil não é percebida uma deformação plás- tica excessiva. Hibbeler (2010) define um material com ruptura do tipo dúctil como uma fratura com a presença de grandes deformações antes da ruptura, sendo que os engenheiros costumam escolher materiais com esse tipo de ruptura, pois eles são capazes de absorver choque e energia, e caso cheguem próximo de sua ruptura, exibirão grandes deformações antes da falha. Por outro lado, os materiais que exibem pouca ou nenhuma defor- mação antes da ruptura são aqueles de ruptura do tipo frágil. – 17 – Objetivos e aplicações de Resistência dos Materiais As fraturas dúcteis geralmente ocorrem de forma que a estrutura ten- sionada sofre uma gradual estricção na região de tensão. Essa redução está ilustrada na Figura 1.8. Esta área da seção transversal é reduzida cada vez mais, até o ponto em que ocorre a ruptura do material, que denominamos de ruptura de um material dúctil. Figura 1.8 – Estricção e falha de um material dúctil Fonte: Cdang/CC. A ocorrência de deformações plásticas em vez da ocorrência de trin- cas é um fator preponderante para uma fratura ser classificada como dúc- til. Dessa forma, a ocorrência da propagação de trincas de forma lenta e o material tensionado se deformar plasticamente é uma característica da fratura dúctil (CALLISTER, 2005). Na fratura dúctil, há predominância da deformação plástica e uma resistência à rápida cisão da estrutura oriunda da propagação de trincas, ou seja, o material que sofre fratura dúctil é resistente à ruptura e tende a se deformar plasticamente antes da fratura. A fratura frágil é marcada pela predominância da formação de trincas em relação à deformação plástica. Ocorre, nesse tipo de fratura, uma rápida formação e propagação das trin- cas, o que leva à rápida ruptura do material com a ocorrência de pouca ou nenhuma deformação plástica no processo (DA SILVA et. al, 2017). Resistência dos Materiais – 18 – O objetivo deste livro é oferecer ao estudante uma apresentação clara da teoria e das aplicações dos princípios fundamentais desta disciplina. O entendimento é obtido a partir do comportamento físico dos materiais quando sujeitos a carregamentos e a correta modelagem desses problemas. A ênfase recai sobre a importância de satisfazer as condições de compa- tibilidade de deformações, do comportamento do material e de requisitos de equilíbrio O Capítulo 2 começa com os conceitos de tensão, no qual são vistos esforços de compressão e tração. No Capítulo 3 são definidas as defor- mais normais e por cisalhamento. No Capítulo 4, são demonstradas as propriedades geométricas da seção transversal, nas quais são definidos os conceitos e o cálculo do centro de gravidade e momento de inércia. Nos Capítulos 5, 6, 7 e 8, serão demonstrados diversos tipos de flexões, expla- nando os conceitos, o cálculo de tensões e deformações e a demonstração da linha neutra. No Capítulo 9, serão demonstrados aspectos relacionados ao cisalhamento. No Capítulo 10, apresenta-se o conceito e cálculo de peças submetidas à flambagem. Atividades 1. Quais outras aplicações de resistência dos materiais seriam pos- síveis encontrar em sua casa? 2. Cite e descreva o funcionamento de dois ensaios mecânicos uti- lizados em resistência dos materiais. 3. Cite e explique uma vantagem e uma desvantagem do material madeira. 4. Descreva a importância de pelo menos duas propriedades mecâ- nicas dos materiais. 5. Cite e explique uma vantagem e uma desvantagem do material aço. A análise de um projeto de engenharia acarreta a análise das forças e tensões atuantes em um corpo. Afinal de contas, você sabe a diferença entre força e tensão? Vamos pegar como refe- rência os cabos de um elevador, ilustrados na Figura 2.1. A partir do nosso conhecimento de estática, sabemos que os cabos de aço estão sob a ação de duas forças iguais e de sentido contrário, atuando na direção do eixo do cabo. No caso ilustrado, os cabos estão sendo tracionados, pois eles suportam o peso do elevador. Essa primeira análise não nos leva à conclusão de que tal força pode ser suportada com segurança. O fato desses cabos serem capazes de suportar ou não essa força de tração não depende exclusivamente do valor encontrado para esse esforço, mas, tam- bém, do tipo de material que o forma e da área da seção transver- sal do cabo do aço. Tensão normal: compressão e tração 2 Resistência dos Materiais – 20 – Figura 2.1 – Ilustração dos cabos de um elevador Fonte: Shutterstock.com/tanaworakit orantanaporn A intensidade dessas forças distribuídas é igual à força de tração divi- dida pela área na seção transversal. A ocorrência da falha deste material depende da sua capacidade de resistir à intensidade das forças distribuí- das. Em síntese, a ruptura do cabo depende da força aplicada, da área da seção transversal e das propriedades dos materiais. Os esforços normais em um corpo podem ser divididos em com- ponentes de compressão e tração, conforme ilustrado na Figura 2.2. Os esforços de compressão possuem como característica causar deformações de encurtamento no material, como é possível visualizar na Figura 2.2, em que o vetor da força P está entrando no corpo analisado. Por outro lado, os esforços de tração têm como característica causar deformações de alonga- mento. Dessa forma, temos o vetor da força P saindo do corpo analisado na Figura 2.2. O assunto de deformação será estudado especificamente nos próximos capítulos deste livro. – 21 – Tensão normal: compressão e tração Figura 2.2 – Esforços axiais de tração e compressão Esforço axial de compressão Esforço axial de tração Fonte: Shutterstock.com/adison pangchai A força atuante dividida por uma área correspondente da seção trans- versal é chamada de tensão normal atuante no corpo. A equação da tensão normal é demonstrada na Equação 1: ( ) 1σ = F A Onde: 2 σ : Tensão normal 2 F: Força 2 A: Área Um fator muito importante é saber qual unidade será utilizada na tensão normal, ela é função das unidades informadas tanto de força como de área. Abaixo, estão listadas algumas possibilidades de unidades a serem utilizadas: 2 força – newton, quilograma força, tonelada força, libra força, kip. 2 área – metros quadrados, centímetros quadrados, milímetros quadrados. Resistência dos Materiais – 22 – No sistema internacional, consideramos a unidade de tensão como pascal (Pa), ou seja, para que essa unidade sejaobtida, deveremos usar a força em newton e a área em metros quadrados. O Quadro 2.1 apresenta algumas unidades de tensões usuais, por exemplo, a tensão de Kilopascal (kPa), que é muito utilizada dentro da engenharia geotécnica para defi- nir as tensões efetivas dos solos. Para esse tipo de tensão, é utilizada a unidade de força de Kilonewton (kN) e área de metros quadrados (m²). A tensão de megapascal (MPa) é utilizada para determinar a resistência à compressão característica () dos corpos de prova de concreto armado. Para essa unidade, a força é medida em newton (N) e a área em milímetros quadrados (mm²). Quadro 2.1 – Unidades usuais de tensão Unidade de tensão Unidade de força correspondente Unidade de área correspondente Pa Newton m² kPa Kilonewton m² MPa Newton mm² Fonte: elaborado pelo autor. Um aspecto relevante no estudo das tensões é obter uma noção razoável de quantificação da tensão, por exemplo: quando dizemos que a resistência à compressão característica () é de 20 Mpa, quanto isso signi- fica? Sabemos que 20 MPa equivalem a 20 newtons por milímetro qua- drado, no entanto, vamos converter essa medida para toneladas por metro quadrado. Sendo assim, 20 MPa são equivalentes a 2000 toneladas por metro quadrado. Isto é, se levarmos em consideração um carro muito popular no Brasil, o Fusca, ilustrado na Figura 2.3, ele possui cerca de 800 kg, ou seja, 0,80 toneladas. Para equivalermos a esses 20 MPa, seria necessário colocar 2500 fuscas por metro quadrado. Consegue imaginar 2500 fuscas empilhados descarregando esse carregamento em um metro quadrado? Seria algo extremamente incomum de se ver, no entanto, é essa quantidade que equivale a um de 20 mPa. O mesmo raciocínio aqui demonstrado pode ser utilizado em outras situações para termos uma noção quantitativa de tensão. – 23 – Tensão normal: compressão e tração Figura 2.3 – Volkswagen Fusca Fonte: Shutterstock.com/Johnnie Rik Exemplo numérico 1 A Figura 2.4 ilustra uma luminária de 250 N que é sustentada por três hastes de aço interligadas por um anel em A. Deter- mine qual das hastes está submetida à maior tensão normal média e calcule seu valor. Considere = 30° (HIBBELER, 2010). Figura 2.4 – Problema referente ao exemplo numérico 1 D C A 30°45° Luminária Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). Resistência dos Materiais – 24 – Primeiramente, iremos analisar o problema para a confecção do dia- grama de corpo livre. O diagrama de corpo livre consiste na elaboração de um diagrama que demonstre todas as forças atuantes no sistema. Ao analisar a Figura 2.4, podemos observar que a luminária está agindo como uma força peso no sentido da gravidade que acaba por tracionar os cabos AD e AC. Esses cabos suportam a luminária e deixam o problema em equilíbrio estático, ou seja, o somatório de todas as forças atuantes no sistema é igual a zero. Figura 2.5 – Diagrama de corpo livre TAC TAD P Fonte: elaborada pelo autor. Com base nas análises feitas, elaborou-se o diagrama de corpo livre ilustrado na Figura 2.5. A força peso atua para baixo, no entanto, para deixar o sistema em equilíbrio, os cabos AD e AC reagem no sistema com forças contrárias à direção de P. Sendo assim, temos as forças de tração TAD, referente ao cabo AD e a força TAC, referente ao cabo AC. Estamos diante de um problema de equilíbrio de ponto material. Desse modo, são necessárias duas condições de equilíbrio. 0∑ =fx 0∑ =fy – 25 – Tensão normal: compressão e tração Ou seja, o somatório das forças em x deve ser igual a zero e o somató- rio das forças em y também deve ser igual a zero. Considerando o eixo x o eixo das abcissas e o eixo y o eixo das ordenadas, percebemos que apenas a força P está alinhada a algum desses eixos, nesse caso, ao eixo y. As forças de tração TAD e TAC não estão alinhadas nos eixos mencionados, sendo assim, será necessário decompor essas forças em componentes x e y. A Figura 2.6 ilustra a decomposição das forças TAD e TAC nos eixos x e y. Figura 2.6 – Forças decompostas TACy TACx TADy TADx P Fonte: elaborada pelo autor. As forças decompostas são função dos ângulos que os cabos fazem com o eixo x. Dessa forma, segue a correspondente de cada uma dessas forças: cosα=xTAD TAD senα=yTAD TAD cosθ=xTAC TAD senθ=yTAC TAD Resistência dos Materiais – 26 – Ao considerar os ângulos fornecidos na Figura 2.4, temos que e . Substituindo esses valores nas equações anteriores, temos que: cos 45 0,71 = =xTAD TAD TAD sen45 0,71 = =yTAD TAD TAD cos30 0,87 = =xTAC TAD TAC sen30 0,5 = =yTAC TAD TAC Ao substituir os valores encontrados nos correspondentes da Figura 2.6, obtemos a Figura 2.7. Figura 2.7 – Forças decompostas com seus respectivos valores 0,50 TAC 0,87 TAC 0,71 TAD 0,71 TAD P Fonte: elaborada pelo autor. Com as forças decompostas e seus respectivos valores, é possível fazer os somatórios de forças. Iniciaremos com o somatório das forças em x, considerando as forças que estão indicando para a direta como positi- vas. Dessa forma, temos: 0∑ =fx – 27 – Tensão normal: compressão e tração ( )0,87 0,71 0 2− =TAC TAD O próximo passo é realizar o somatório das forças em y. Considera- remos as forças que apontarem para cima como positivas. No enunciado, é dito que a luminária pesa 250 N, esse valor é correspondente a P. Sendo assim, temos: 0∑ =fy ( )0,71 0,50 250 0 3+ − =TAD TAC Ao observar as Equações (2) e (3), é possível perceber que estamos diante de um sistema de equações. A partir da Equação (2), iremos isolar a componente TAC na equação, consequentemente, temos: ( )0,82 4=TAC TAD Substituindo a Equação (4) na Equação (3): ( )0,71 0,50 0,82 250 0+ − =TAD TAD Desenvolvendo: ( )223,21 5=TAD N Ao substituir a Equação (5) em (4), temos: Em posse das forças, é necessário calcular a área de cada uma das hastes. A haste AD possui diâmetro de 7,5 mm e a haste AC possui diâme- tro de 6,0 mm. Como as hastes são circulares, iremos utilizar a fórmula da área para seções circulares. Para a haste AC, temos: ² 4 π = acac dA 7,5² 44,18 ² 4 π = =acA mm Resistência dos Materiais – 28 – Para a haste AD, temos: ² 4 π = adad dA 6,0² 28,27 ² 4 π = =adA mm Uma terceira haste está ilustrada no problema, a haste AB, que suporta a luminária. A haste AB possui diâmetro de 9,0 mm, dessa forma: ² 4 π = abab dA 9,0² 63,61 ² 4 π = =abA mm Temos todos os parâmetros necessários para calcular a tensão normal em cada uma das barras. Iniciaremos o cálculo com a haste AC. A força, nessa haste, foi de 183,03 N com uma área de 44,18 mm². Então, podemos calcular a tensão nessa haste: σ = Ac TAC A 183,03 4,14 44,18 σ = = mPa Para a haste AD, calculamos um esforço atuante de tração de 223,21 N, sendo que a haste possui uma área de 28,27 mm². Dessa forma, pode- mos calcular a tensão: σ = AD TAD A 223,21 7,89 28,27 σ = = mPa – 29 – Tensão normal: compressão e tração Para finalizar os cálculos, temos que calcular a tensão na haste AB, com área de 63,61 mm², que suporta a luminária de 250 N. Sendo assim, temos a tensão nessa haste: A Tabela 2.1 demonstra um resumo das tensões encontradas. Tabela 2.1 – Resumo das tensões encontradas Haste Tensão AB 3,93 mPa AD 7,89 mPa AC 4,14 mPa Fonte: elaborada pelo autor. Com base na Tabela 2.1, é possível concluir que a tensão na haste AD é superior à da haste AC e AB. Desse modo, a tensão na haste AD com intensidade de 7,89 mPa é a resposta dessa questão. Exemplo numérico 2 Se a tensão de apoio para o material sob os apoios em A e B for , con- forme mostrado na Figura 2.8, determine os tamanhos das chapas metáli- cas de apoios quadradas A’ e B’ exigidos para suportar a carga. Considere . A dimensão das chapas deverá ter aproximação de 10 mm. As reações nos apoios são verticais (HIBBELER, 2010). Figura 2.8 – Problema referente ao exemplo numérico 2 1 0 .0 k N B A P 1 0 .0 k N1.50 m 1 5 .0 k N 1 0 .0 k N 1.50 m 1.50 m 1.50 m Fonte: Hibbeler (2010). Ao analisar o problema da Figura 2.8, percebemos que se trata de um problema de equilíbrio de corpo rígido. Os apoios em A e B reagem com for- ças verticais no sentido contrário das forças aplicadas para dar equilíbrio ao sistema. Sendo assim, o diagrama de corpo livre está ilustrado na Figura 2.9. Resistência dos Materiais – 30 – Figura 2.9 – Diagrama de corpo livre do exemplo numérico 2 FBFA 10,0 kN 10,0 kN 15,0 kN 10,0 kN 7,5 kN Fonte: elaborada pelo autor. Para descobrir a intensidade das forças nos apoios (FA e FB), é neces- sário realizar as condições de equilíbrio da estática. Nesse caso, iniciare- mos com a somatória das forças em y sendo zero, considerando as forças apontadas para cima como positivas. Dessa forma, temos que: 0∑ =fy ( )10 10 15 10 7,5 0 6+ − − − − − =FA FB A outra condição de equilíbrio necessária para resolver o exercício é a somatória dos momentos em um ponto igual a zero. Calcularemos o momento no ponto de aplicação da Força em A e consideraremos como positivos os giros impostos no sentido horário. Sendo assim, temos que: 0∑ =aM ( ) ( ) ( ) ( ) ( )10 .1 ,5 15 . 3,0 10 . 4,5 7,5 . 8 . 4,5 0− − − − + =FA Ao desenvolver a equação anterior, temos que: ( )36,6 7=FA kN Ao substituir a Equação (7) na Equação (6), temos o seguinte: ( )36,6 10 10 15 10 7,5 0+ − − − − − =FB 15,9 =FB kN – 31 – Tensão normal: compressão e tração A Figura 2.10 ilustra as chapas metálicas apresentadas nesse pro- blema, o enunciado diz que elas são quadradas. Dessa forma, a chapa A possui dimensões e a chapa B possui dimensões . Figura 2.10 – Vista em planta das chapas metálicas Chapa a Chapa ba b ba Fonte: elaborada pelo autor. O objetivo desse exercício é encontrar as dimensões das chapas, já conhecemos a tensão de trabalho nas chapas que é de e as forças nas cha- pas já foram encontradas. Dessa forma, podemos calcular as dimensões. Iniciando pela chapa A, temos que: σ = a FA A Como utilizamos uma tensão em mPa, sabemos, de acordo com o Quadro 2.1, que as tensões em mPa utilizam unidades em newton e milí- metros quadrados. Desse modo, iremos converter a força de kN para N. Consequentemente, temos uma força na chapa A de . Logo, temos que: 366002,8 = a x a 366002,8 ² = a 36600² 2,8 =a Resistência dos Materiais – 32 – 36600 2,8 =a 114,33 =a mm Como o enunciado pede aproximação de 10 mm, temos como resposta: 120,0 =a mm Raciocínio análogo deve ser utilizado na chapa B. Temos, então: σ = b Fb A 159002,8 = b xb 159002,8 ² = b 15900² 2,8 =b 15900 2,8 =b 75,35 =b mm Como o enunciado pede aproximação de 10 mm, temos como resposta: 80,0 =b mm Sendo assim, podemos concluir que as chapas metálicas, com base nas condições impostas, deverão ter, na chapa A, medidas de 120,0 x 120,0 mm e, na chapa B, 80,0 x 80,0 mm de comprimento. O estudo de tensões normais é extremamente importante, uma vez que os conceitos aprendidos nos outros tópicos serão aplicados. Assim, é indispensável desenvolver os exercícios propostos nesta seção. – 33 – Tensão normal: compressão e tração Atividades 1. A coluna está sujeita a uma força de 8 kN, conforme ilustrado a seguir. Essa força é aplicada no centro da área da seção transver- sal. Calcule a tensão normal atuante sobre a seção transversal. Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). 2. O bloco de concreto tem as dimensões ilustradas na figura a seguir. Calcule a ten- são normal atuante caso ele seja subme- tido a uma força P de 4 kN aplicada no cen- tro da peça. 25 mm 25 mm 100 mm 25 mm 50 mm P 50 mm 50 mm 75 mm 75 mm 25 mm Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). Resistência dos Materiais – 34 – 3. Considerando a figura da atividade 2, calcule qual é a maior força que pode ser aplicada no bloco de concreto caso ele suporte uma tensão de 0,840 mPa. 4. O eixo está submetido à força axial de 30 kN, conforme ilus- trado na figura a seguir. Determine a tensão no mancal que age sobre o colar C caso ele passe pelo orifício de 53 mm de diâme- tro no apoio fixo A. 60 mm 10 mm 40 mm 52 mm 53 mm C A 30 kN Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). Quando sujeitos a algum carregamento, os corpos tendem a mudar sua forma e o seu tamanho. Independentemente do tipo de carregamento, sempre ocorrerá uma deformação, mesmo que tenha baixíssima intensidade e seja imperceptível a olho nu. Repare na Figura 3.1: visivelmente, o carregamento imposto na areia está causando deformações. Pensar do ponto de vista das deformações, analisando o solo, torna a compreensão mais fácil, mas o solo seria um material? Certamente, pois, frequentemente, os solos estão sujeitos a carregamentos, seja para absorver a carga de uma fundação ou quando é necessário fazer algum corte para implementar um muro de arrimo. Deformação 3 Resistência dos Materiais – 36 – Figura 3.1 – Caminhada na praia Fonte: Shutterstock.com/Maridav No entanto, nem todos os corpos se deformam com magnitudes que podem ser percebidas visualmente. Quando alguém caminha sobre uma laje, por exemplo, com a força peso de um adulto, também se impõe um carregamento que irá causar alguma deformação. Então, por que é mais fácil perceber a deformação no solo? Porque cada material possui suas propriedades, dispondo de um módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson e uma configuração das suas partículas, que conferem um caráter de deformação frente aos carregamentos. Poderíamos, por exemplo, com- parar o solo com uma piscina de bolinhas, conforme ilustrado na Figura 3.2. Costumamos dizer que o solo é um material trifásico, composto pelas fases sólida, gasosa e líquida. A fase sólida é representada pelas partícu- las, que, ao se acomodarem, deixam vazios que podem ser preenchidos por oxigênio (fase gasosa) e água (fase líquida). Essa analogia do solo é perfeitamente ilustrada na Figura 3.2. As partículas sólidas representam as bolinhas – quando uma criança dá um salto, elas acabam se reacomodando e gerando deformações. Claro que este é um exemplo cheio de simplificações para explicar os diferentes mecanismos de deformações. No entanto, os vazios do material são um fator extremamente importante no desenvolvimento das deforma- – 37 – Deformação ções. Uma barra de aço, por exemplo, tem um menor número de vazios do que um solo. Nesse caso, também há deformações quando impomos um carregamento, contudo, dificilmente observam-se as deformações a olho nu. Figura 3.2 – Piscina de bolinhas Fonte: Shutterstock.com/Kostenko Maxim Em resumo, quando uma força é aplicada a um corpo, este tende a mudar de forma e tamanho. Essas mudanças são chamadas de deformações. Há diversos outros exemplos que podemos mencionar. Fissuras em paredes são um exemplo de deformações, e os elementos estruturais de uma edifi- cação sofrem leves deformações quando há apenas pessoas caminhando, ou podem sofrer deformações quando são mal dimensionadas, o que pode cau- sar sua ruína. Também podem ocorrer deformações quando há mudanças de temperatura – um exemplo clássico são os portões metálicos que ficam expostos às condições atmosféricas. Quando estes recebem a incidência dos raios solares, tendem a expandir o seu tamanho, e fica mais difícil fechar o portão. As deformações nem sempre serão uniformes: em um mesmo corpo, uma parte pode se alongar e outra se comprimir. Essa é uma carac- terística clássica dos corpos sujeitos a flexão; entretanto, este é um assunto que veremos nos próximos capítulos. De qualquer forma, deformações irão ocorrer, e é preciso definir níveis seguros de deformação para que os mate- riais cumpram sua função com a maior eficiência e segurança possível. A famosa Torre de Pisa é um exemplo de deformações consideráveis que não Resistência dos Materiais – 38 – causaram ruptura, mas atrapalharam a utilização da edificação. Imagine um edifício com a inclinação dessa torre, comoficaria o percurso da água até os ralos do banheiro? Se a inclinação fosse para o lado contrário, teríamos um grande problema, e esse é só um exemplo de diversos problemas que poderiam ser causados pelas deformações excessivas. A contração ou o alon- gamento de um segmento de reta por unidade de com- primento pode ser definido como deformação normal. A Figura 3.3 ilustra uma borra- cha sofrendo uma deforma- ção normal. A deformação pode ser positiva se causar alongamento do corpo anali- sado, e negativa se ocasionar encurtamento do material. Figura 3.3 – Tira de borracha sob efeito da deformação Fonte: Shutterstock.com/bartu Para definir um conceito de deformação normal é necessário analisar a Figura 3.4. Inicialmente, consideraremos a reta AB. Essa reta possui um comprimento s∆ e está situada no eixo n , conforme a Figura 3.4 (a). Pos- teriormente ao desenvolvimento de uma deformação, os pontos A e B são movidos para os pontos A’ e B’, conforme ilustrado na Figura 3.4 (b). A reta com o comprimento s∆ passa a ter um comprimento 's∆ , a diferença entre s∆ e s′∆ nos fornece o comprimento da reta. Dessa forma, podemos definir a deformação normal média conforme a Equação (1): ( ) 1s s s ε ′∆ − ∆= ∆ Desse modo, os valores da deformação positiva indicam um alonga- mento do corpo, enquanto valores negativos indicam um encurtamento do corpo analisado. – 39 – Deformação O valor da deformação é adimensional pelo fato de ser uma razão entre dois comprimentos. Figura 3.4 – Conceito de deformação normal Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). Ao passo que o ponto B se aproxima do ponto A, o comprimento de reta fica cada vez menor, tendendo a zero. De forma análoga, o ponto b’ se aproxima do ponto A e temos a reta s′∆ tendendo a zero. Dessa forma, a deformação normal no ponto A na direção de n é representado pelo limite descrito na Equação (2): ( ) lim 2s s B A ao longo de n s ε ′ → ∆ − ∆ = ∆ Considerando a Figura 3.5 (a), temos os pontos A e C situados ao longo do eixo n , e os pontos A e B situados ao longo do eixo t . A mudança que ocorre no ângulo entre o eixo t e o eixo n é denominada deformação por cisalhamento. Após as deformações os eixos, t e n deixam de ser retas e transformam-se em curvas, como ilustrado na Figura 3.5 (b). Resistência dos Materiais – 40 – Figura 3.5 – Conceito de deformação por cisalhamento Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). Dessa forma, podemos definir a deformação no ponto A em função dos eixos t e n por meio do limite desenvolvido na Equação (3): ( ) lim 3 2nt B A ao longo de n e C A ao longo de t πγ θ → → − ′= O ângulo representado pela letra gama é definido em radianos. Se o valor obtido por θ′ for menor do que 2 π , então a deformação por cisalhamento será positiva. No entanto, se o valor de θ′ for maior do que 2 π , a deformação por cisalhamento será negativa. No capítulo 2 foram demonstrados os conceitos a respeito das ten- sões. Até o momento, neste capítulo, estamos vendo os conceitos relati- vos às deformações. No entanto, esses dois valores podem ser utilizados em conjunto, o que chamamos de diagrama tensão-deformação. Em um ensaio de tração ou compressão, sabendo qual é a força aplicada e a área – 41 – Deformação do corpo de prova, é possível calcular a tensão atuante no material. É possível realizar também a instalação de extensômetros no corpo de prova para medir as deformações. A deformação utilizada na Engenharia é a deformação nominal, medida diretamente a partir do extensômetro. Essa medida é determinada pela variação do comprimento ( )δ em referência ao comprimento original ( )0 .L . Dessa forma, podemos definir a deforma- ção pelos extensômetros pela Equação (4): ( ) 0 4 L δε = Os valores medidos pela tensão, correspondentes a uma deformação, são plotados em um gráfico, no qual a ordenada é representada pelas ten- sões e a abcissa é representada pelas deformações. Para o estudo do grá- fico tensão-deformação, utilizaremos como exemplo o comportamento do aço, ilustrado na Figura 3.6. Figura 3.6 – Diagrama tensão-deformação do aço Diagrama tensão-deformação convencional e real para material dúctil (aço) (sem escala) Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). Resistência dos Materiais – 42 – Por meio da Figura 3.6 podemos notar quatro regiões de interesse que demonstram o comportamento do material: região elástica, escoamento, endurecimento por deformação e estricção. A região elástica (Figura 3.6) tem comportamento elástico, ou seja, há uma proporcionalidade entre tensão e deformação. Dessa forma, nessa região não temos uma curva, e sim uma reta que vai até a tensão limite de proporcio- nalidade. Nesse trecho, devido à proporcionalidade entre tensão e deforma- ção, é possível aplicar a lei de Hooke, que está representada na Equação (5): ( ) 5Eσ ε= Nela, σ é a tensão aplicada, ε é a deformação e E é o módulo de elasticidade que corresponde à rigidez do material. O limite superior para essa linearidade entre tensão e deformação é a tensão limite de proporcio- nalidade. Se a tensão ultrapassar essa tensão, o material ainda se compor- tará de forma elástica, no entanto, a reta tende a se curvar e achatar. Uma característica dos materiais que atuam em níveis de tensões e deforma- ções compatíveis com a região elástica é que, ao cessar o carregamento imposto, o material voltará ao seu formato original, não havendo nenhum ganho permanente de deformação. A segunda região é denominada de resistência ao escoamento, con- forme ilustrado na Figura 3.6. Nesse período, o material deixa de ter com- portamento elástico e passa a ter comportamento plástico. Ao cessar o carregamento, ocorrerá uma deformação irrecuperável do corpo de prova, resultando em uma deformação irreversível, característica pertinente à região de comportamento plástico. Nessa região, ocorre uma deformação acentuada sem que ocorra um aumento da tensão aplicada. A Figura 3.6 não está em escala, no entanto, Hibbeler (2010) afirma que as deforma- ções induzidas nesta região são de 10 a 40 vezes maiores que as produzi- das até o limite de elasticidade. A elevação da tensão nesta fase da defor- mação plástica pode causar o fenômeno do encruamento, que é o aumento da dureza do material. Sobre este fenômeno, recomenda-se ao aluno a pesquisa nas bibliografias indicadas nesta disciplina. A terceira região ilustrada na Figura 3.6 é a de endurecimento por deformação. Quando terminam as deformações por cisalhamento, é possí- – 43 – Deformação vel adicionar novos níveis de tensão. O crescimento da curva nessa região tem como característica um formato achatado. Nessa região é alcançada a tensão máxima, a qual é denominada de limite de resistência. A quarta região analisada é a região de estricção, conforme demons- trado na Figura 3.6. Após alcançar o limite de resistência, o corpo de prova passa a reduzir sua seção transversal em uma região localizada, não em todo o seu comprimento. O corpo de prova passa a alongar, causando uma estricção no ponto em que está ocorrendo o alongamento acentuado. Como a área está diminuindo, a tensão absorvida pelo material é con- sequentemente decrescente, o que explica a forma descendente da curva nesta região. Dessa forma, o material alcança a tensão de ruptura. O material demonstrado na Figura 3.6 possui comportamento dúctil, pois sofre grandes deformações antes de ocorrer a sua ruptura. O uso de materiais com esse comportamento é interessante para a Engenharia Civil. Como esses materiais se alongam muito antes de ocorrer a ruptura, é possível retirar as pessoas que estejam dentro da edificação, evitando a perda de vidas humanas. O escoamentodesses materiais é característico devido aos estalos ouvidos pelos morados nas edificações com materiais com essa característica. Sendo assim, podemos definir a porcentagem de alongamento e de redução de área do material ilustrado no ensaio da Figura 3.6. A porcen- tagem de alongamento pode ser definida pelo comprimento original do material ( )0 L com o comprimento do material na ruptura ( )rupL . Dessa maneira, temos a porcentagem de alongamento definida na Equação (6). ( ) ( )0 0 100% 6rup L L Porcentagemdealongamento L − = A porcentagem de redução de área pode ser definida pela área inicial ( 0 )A ) em conjunto com a área na ruptura ( )rupA ). A Equação 7 ilustra esta área: ( ) ( )0 0 100% 7rup A A Porcentagemderedução deárea A − = Resistência dos Materiais – 44 – Figura 3.7 – Diagrama tensão-deformação demonstrando comportamento dúctil e frágil Fonte: Callister (2005). A Figura 3.7 apresenta as diferenças de comportamento entre um material dúctil e um material frágil. Repare que o material frágil rompe antes de atingir a tensão de escoa- mento. Esse tipo de material apresenta pouca ou nenhuma deformação até o momento da ruptura, enquanto os materiais dúcteis deformam considera- velmente. Assim, um material frágil se rompe na fase elástica sem sofrer nenhuma deforma- ção elástica. 3.1 Exemplo numérico 1 A barra rígida é sustentada por um pino em A e pelos cabos BD e CE, conforme demonstrado na Figura 3.8. Se a carga aplicada P aplicada à viga provocar um deslocamento de 10 mm para baixo na extremidade C, determine a deformação normal desenvolvida nos cabos CE e BD. Figura 3.8 – Problema referente ao exemplo numérico 1 Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). – 45 – Deformação Ao aplicarem o carregamento P, os cabos BD e CE deformarão para baixo. A deformação do cabo BD será chamada de BDL∆ , e a do cabo CE será chamada de CEL∆ , que estão ilustrados na Figura 3.9. O enunciado fala que a viga se deslocou 10 mm em C, logo, podemos inferir que 10CEL mm∆ = . Figura 3.9 – Esquema utilizado na resolução do problema numérico 1 Fonte: elaborada pelo autor. Para encontrar o valor correspondente a BDL∆ , podemos realizar a semelhança de triângulos descrita a seguir: 3,0 7,0 BD CEL L∆ ∆= 10,0 3,0 7,0 BDL∆ = 4,28 BDL mm∆ = De posse desses dois valores, conseguimos calcular as deformações nos dois cabos. Inicialmente, vamos calcular a deformação no cabo CE. O com- primento do cabo CE foi convertido para mm, conforme ilustrado a seguir: BD BD BD L L ε ∆= 4,28 4000,0BD ε = Resistência dos Materiais – 46 – 0,00107BD mm mm ε = A seguir, será demonstrado o cálculo da deformação para o cabo BD, cujo comprimento também foi convertido para mm: CE CE CE L L ε ∆= 10,0 4000,0CE ε = 0,0025CE mm mm ε = Quando calculadas as duas deformações, o exercício está finalizado. 3.2 Exemplo numérico 2 A viga rígida é sus- tentada por um pino em A e pelos cabos BD e CE, conforme demonstrado na Figura 3.10. Se a carga P aplicada à viga for des- locada 10 mm para baixo, determine a deformação normal desenvolvida nos cabos CE e BD. Figura 3.10 – Problema referente ao exemplo numérico 2 Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). – 47 – Deformação Ao aplicarem o carregamento P, os cabos BD e CE deformarão para baixo. A deformação cabo BD será chamada de BDL∆ , e a do cabo CE será chamada de CEL∆ , que estão ilustradas na Figura 3.11. No entanto, há um deslocamento da barra na extremidade no ponto de aplicação da carga P, que, de acordo com o enunciado, é de 10 mm. Figura 3.11 – Esquema utilizado na resolução do problema numérico 2 Fonte: elaborada pelo autor. Para encontrar os valores correspondentes a BDL∆ e CEL∆ , podemos realizar a semelhança de triângulos descrita a seguir. Primeiramente, cal- cularemos o valor da deformação do cabo CE: 7,0 5,0 CEL∆ ∆= 10,0 7,0 5,0 CEL∆= 7,14 CEL mm∆ = Em seguida, calcularemos a deformação no cabo BD: 7,0 3,0 BDL∆ ∆= 10,0 7,0 3,0 BDL∆= 4,28 CEL mm∆ = Resistência dos Materiais – 48 – De posse desses dois valores, conseguimos calcular as deformações nos dois cabos. Inicialmente, vamos calcular a deformação no cabo CE. O comprimento do cabo CE foi convertido para mm, conforme ilustrado a seguir: CE CE CE L L ε ∆= 4,28 4000,0CE ε = 0,00107CE mm mm ε = A seguir, será demonstrado o cálculo da deformação para o cabo BD. O comprimento do cabo BD também foi convertido para mm: BD BD BD L L ε ∆= 7,14 3000,0BD ε = 0,00238BD mm mm ε = Calculadas as duas deformações, o exercício está finalizado. Atividades 1. Os dois cabos estão interligados em A, conforme mostra a figura a seguir. Se a força P provocar um deslocamento máximo de 2 mm no ponto em A, determine a deformação normal desenvol- vida em cada cabo. – 49 – Deformação Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). 2. Parte da ligação de controle para um avião consiste em um ele- mento rígido CBD e um cabo flexível AB, conforme ilustrado a seguir. Se uma força for aplicada à extremidade D do elemento e provocar uma rotação de 0,3θ = ° , determine a deformação nor- mal no cabo. Em sua posição original, o cabo não está esticado. Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). Resistência dos Materiais – 50 – 3. O cabo AB não está esticado quando o ângulo teta é igual a 45°, conforme ilustrado na figura a seguir. Se uma carga vertical for aplicada à barra AC e provocar a mudança do ângulo teta para 47°, determine a deformação no cabo. Fonte: adaptada de Hibbeler (2010). 4. Considere a Figura 3.10 para a resolução deste problema. Se a deformação máxima admitida em cada cabo é de 0,002 mm/mm, determine o deslocamento máximo vertical da carga P. Neste capítulo, estudaremos duas propriedades geométricas da seção transversal: centro de gravidade e momento de inércia. Primeiramente, vamos conceituar e fornecer exemplos a respeito do centro de gravidade. Fica mais fácil visualizar o con- ceito de centro de gravidade com o exemplo do pássaro equili- brista, ilustrado na Figura 4.1. Para brincar com esse pássaro, basta colocar o seu bico no suporte que o acompanha. É possível dar leves toques no pás- saro e realizar rotações sem que ele caia do suporte. A razão para que o pássaro não caia é baseada em princípios físicos. O pássaro fica em equilíbrio em virtude do contrapeso que existe em suas asas, deslocando o centro de massa do pássaro para o bico. O centro de massa é o ponto médio de toda a massa que constitui o pássaro equilibrista, dessa forma, é possível deixá-lo estável sem que ele caia. Propriedades geométricas da seção transversal 4 Resistência dos Materiais – 52 – Qualquer força aplicada fora do centro de gravidade causará uma ten- dência de giro e a perda de equilíbrio do pássaro. Figura 4.1 – O pássaro equilibrista Fonte: Shutterstock.com/vitec Conhecer o centro de gravidade do pássaro equilibrista é algo mais complexo do que conhecer o centro de gravidade de figuras geométricas bidimensionais, como as ilustradas na Figura 4.2. Para obter o centro de gravidade de um retângulo, basta localizar o ponto médio de cada aresta e convergir todos esses pontos para o centro. Na circunferência, o procedi- mento é semelhante. Esse ponto do centro de gravidade é equivalente ao nariz do pássaro equilibrista, ou seja, poderíamos apoiar essas figuras na base do pássaro equilibrista que elas se manteriam estáveis. Vale lembrar que o centro de gravidade de uma peça pode ser loca- lizado parcial ou completamente se houver uma condição de simetria. O centro de gravidade passará no eixo de simetria da peça. Figura 4.2 – Centro de gravidade de um retângulo e uma circunferência Fonte: elaborada pelo autor. – 53 – Propriedades geométricas da seção transversal É muito comum nos depararmos com corpos compostos, ou seja, formados por diversas figuras geométricas. Para resolver tais proble- mas, é possível seccionar ou dividir suas partes componentes,trans- formando o corpo em vários retângulos, triângulos e circunferências. A divisão é realizada porque, ao conhecer o centro de gravidade das diversas peças, podemos calcular o centro de gravidade do corpo inteiro com base nessas seções. Figura 4.3 – Posicionamento dos eixos auxiliares V e U Fonte: elaborada pelo autor. Para realizar o cálculo do centro de gravidade, inicialmente posi- cionaremos eixos auxiliares no canto inferior esquerdo. A Figura 4.3 ilustra um corpo genérico e a posição dos eixos auxiliares v (eixo das ordenadas) e u (eixo das abcissas). Dessa forma, o centro de gravidade, posicionado em relação aos eixos auxiliares v e u, terá coordenadas v conforme a Equação 1: ( )' 1v Av A ∑ = ∑ Em que a coordenada do centro de gravidade v é, em função do somatório da distância dos centros de gravidade das peças conhecidas ( 'v ), multiplicado pela sua área ( A ). Resistência dos Materiais – 54 – A posição do centro de gravidade em relação ao eixo u é demons- trada na Equação 2: ( )' 2u Au A ∑ = ∑ Em que a coordenada do centro de gravidade u é, em razão do soma- tório da distância dos centros de gravidade das peças conhecidas ( 'u ), multiplicado pela sua área ( A ). Em resumo, para o cálculo do centro de gravidade de peças compos- tas, recomenda-se seguir os seguintes passos: 1. posicionar os eixos auxiliares u e v no canto inferior esquerdo da peça; 2. localizar algum eixo de simetria; 3. seccionar a peça em figuras conhecidas; 4. localizar o centro de gravidade dessas peças; 5. encontrar as medidas 'u e 'v de cada umas das figuras conhecidas; 6. calcular a área das peças conhecidas; 7. aplicar as equações (1) e (2); 8. posicionar os eixos do centro de gravidade z e y (z apontado para a esquerda e y apontado para baixo). Há diversos termos que se associam ao centro de gravidade. Um deles é o conceito de centro de massa, uma propriedade que não depende da ação gravitacional, portanto, é uma propriedade intrínseca ao material. O centro de gravidade coincide com o centro de massa quando o campo gravitacional é homogêneo. Nos casos de Engenharia, essa condição está presente majoritariamente, dessa forma, confundem-se os conceitos, que são tidos como sinônimos. Outro termo comum a ser utilizado é o de cen- troide, que se refere à distribuição de volumes, enquanto o centro de gra- vidade refere-se a uma distribuição de massas. Para maior detalhamento – 55 – Propriedades geométricas da seção transversal dessas nomenclaturas, recomenda-se a leitura da bibliografia recomen- dada para esta disciplina. Exemplo numérico 1 Calcule o momento de inércia da Figura 4.4. As medidas estão em centímetros. O primeiro passo consiste no posicionamento dos eixos auxiliares v e u no canto inferior esquerdo da peça. A Figura 4.5 ilustra o posiciona- mento desses eixos. Figura 4.4 – Figura utilizada no exemplo numérico 1 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.5 – Posicionamento dos eixos auxiliares V e U Fonte: elaborada pelo autor. O segundo passo consiste na constatação de algum eixo de simetria. Na Figura 4.6, é possível visualizar que a peça possui um eixo de simetria. Sendo assim, sabemos que o centro de gravidade passa pelo eixo de sime- tria. A distância até o centro de gravidade no eixo u é 4 cm, ou seja, temos a medida 4,0 cmu = . Resistência dos Materiais – 56 – Figura 4.6 – Eixo de simetria Fonte: elaborada pelo autor. O passo 3 consiste na divisão da figura em formas geométricas conhecidas. É possível obter dois retângulos, os quais chamaremos de retângulo 1 e retângulo 2 e estão ilus- trados na Figura 4.7. Ainda, é possí- vel realizar o passo 4, quando são obtidos os centros de gravidade de cada um desses retângulos, que tam- bém estão ilustrados na Figura 4.7. Figura 4.7 – Localização dos centros de gravidade das peças Fonte: elaborada pelo autor. Iniciaremos os cálculos para o retângulo 1. Conforme demons- trado na Figura 4.8, a distância do centro de gravidade do retân- gulo 1 é ' 11,5 cmv = (passo 5). O retângulo 1 possui base de 8,0 cm e altura de 3,0 cm, sendo assim, ele possui uma área de 24,0 cm² (passo 6). Finalizadas as etapas do retângulo 1, iniciaremos os cálculos para o retângulo 2. Conforme demonstrado na Figura 4.9, a distância do centro de gravidade do retângulo 2 é ' 5,0 cmv = (passo 5). O retângulo 2 possui base de 2,0 cm e altura de 10,0 cm, sendo assim, ele possui uma área de 20,0 cm² (passo 6). – 57 – Propriedades geométricas da seção transversal Figura 4.8 – Distância v' do retângulo 1 Fonte: elaborada pelo autor. Figura 4.9 – Distância v' do retângulo 2 Fonte: elaborada pelo autor. Com esses dados, é possível aplicar o passo 7. O valor do centro de gravidade no eixo u já foi definido a partir do eixo de simetria, dessa forma, encontraremos a posição do centro de gravidade no eixo v: 'v Av A ∑ = ∑ ( ) ( ) ( ) 11,5 . 24,0 5,0 . 20,0 24,0 20,0 v + = + ( ) ( ) ( ) 276,0 100,0 44,0 v + = Resistência dos Materiais – 58 – 376,0 44,0 v = 8,55 v cm= Finalizados os cálculos, temos as coordenadas do centro de gravi- dade: 4,0 cmu = e 8,55 cmv = . Ao plotar essas coordenadas em relação aos eixos u e v, é possível visualizar o centro de gravidade ilustrado na Figura 4.10. Figura 4.10 – Centro de gravidade posicionado Fonte: elaborada pelo autor. A próxima propriedade geométrica a ser demonstrada é o momento de inércia. Para calcular o momento de inércia, é necessário obter o cen- tro de gravidade, ou seja, se o cálculo do CG estiver errado, o cálculo do momento de inércia carregará esse erro. É muito importante precisão e atenção no cálculo do centro de gravidade para não carregar erros oriun- dos de cálculos malfeitos. – 59 – Propriedades geométricas da seção transversal O momento de inércia é uma propriedade física que representa uma resistência ao giro da peça, quanto maior o momento de inércia, maior a resistência ao giro da peça. O cálculo do momento de inércia é muito importante no cálculo de deflexão de vigas. A unidade do momento de inércia é a medida de comprimento utilizada elevada à potência quarta. O momento de inércia de figuras geométricas conhecidas é ilustrado na Figura 4.11. Figura 4.11 – Momento de inércia de figuras conhecidas Fonte: adaptada de Shutterstock.com/Fouad A. Saa Para áreas compostas, é necessário dividir a peça em figuras geomé- tricas e realizar o somatório de cada uma das parcelas, conforme a Equa- ção 3, que apresenta o cálculo do momento de inércia em z: ZI ' ² (3yIz Ad= ∑ + Com base na Equação 4, o momento de inércia é o somatório dos momentos de inércia da figura geométrica (Iz’), obtido conforme a Figura 4.11, somando com a área da peça multiplicada pelo quadrado do trans- porte do eixo da peça, considerada em relação ao centro de gravidade. Para áreas compostas, o momento de inércia em y é demonstrado na Equação 5: ( )' 2yI Iy 4zAd= ∑ + Resistência dos Materiais – 60 – Conforme a Equação 5, o momento de inércia é o somatório dos momentos de inércia da figura geométrica (Iy’), obtido conforme a Figura 4.11, somando com a área da peça multiplicada pelo quadrado do trans- porte do eixo da peça, considerada em relação ao centro de gravidade. ( ) 4 4 4 64 DI D dπ= − Para consolidação dos conceitos demonstrados aqui, recomenda-se ao leitor o acompanhamento da literatura indicada na disciplina. Para simplificar os conceitos demonstrados, faremos a resolução do exemplo numérico 2. Exemplo numérico 2 Calcular o momento de inércia para a Figura 4.4. Medidas em centímetros. Primeiramente, é neces- sário calcular o centro de gra- vidade da peça, no entanto, esse procedimento já está calculado e representado na Figura 4.10. Para proceder ao cálculo do momento de inércia, é necessário dividir a peça em figuras geométricas conheci- das. Consideraremoso racio- cínio do exemplo numérico 1, em que a peça foi dividida em dois retângulos. Figura 4.12 – Parâmetros necessários para o cálculo do momento de inércia Fonte: elaborada pelo autor. A Figura 4.12 ilustra a posição do centro de gravidade da peça e a posição do centro de gravidade dos retângulos 1 e 2. O momento de inércia do retângulo é demonstrado na Figura 4.11, então temos que: 3 12 bhI = – 61 – Propriedades geométricas da seção transversal Iniciaremos o cálculo do momento de inércia em z. Conforme a Equação 4, temos que: ( ) ( ) 3 3 ² ² 12 12 bh bhIz Ady Ady = + + + A primeira parcela da equação corresponde ao retângulo 1 e a outra parcela ao retângulo 2. Para obtermos as medidas necessárias para o cál- culo da inércia da peça, consideraremos as medidas em relação ao eixo y. A Tabela 4.1 apresenta os parâmetros para o cálculo do momento de inércia dos retângulos. Tabela 4.1 – Parâmetros necessários para o cálculo do momento de inércia Base Altura Área Retângulo 1 8,0 cm 3,0 cm 24,0 cm² Retângulo 2 2,0 cm 10,0 cm 20,0 cm² Fonte: elaborada pelo autor. O transporte do eixo em y é correspondente à distância em y do cen- tro de gravidade da peça em relação ao centro de gravidade do sistema, dessa forma, temos os parâmetros de cálculo na Tabela 4.2. Tabela 4.2 – Cálculo do transporte em y (dy) V CG – Sistema V Peça dy Retângulo 1 8,55 cm 11,50 cm 2,95 cm Retângulo 2 8,55 cm 5,00 cm 3,55 cm Fonte: elaborada pelo autor. Com base nos dados das Tabelas 4.1 e 4.2, é possível realizar o cál- culo a seguir: ( )( ) ( )( ) 3 38,0.3,0 2,0.10,024,0 .(2,95² 20,0 .(3,55² 12 12 Iz = + + + ( ) ( )166,66 252,05 18 208,86Iz = + + + Resistência dos Materiais – 62 – 4645,57 Iz cm= Para o cálculo do momento em inércia em y, conforme a Equação 5: ( ) ( ) 3 3 ² ² 12 12 bh bhIy Adz Adz = + + + A primeira parcela da equação corresponde ao retângulo 1 e a outra parcela ao retângulo 2. Para obtermos as medidas necessárias para o cál- culo da inércia da peça, consideraremos as medidas em relação ao eixo z. A Tabela 4.3 apresenta os parâmetros para o cálculo do momento de inércia dos retângulos. Tabela 4.3 – Parâmetros necessários para o cálculo do momento de inércia Base Altura Área Retângulo 1 3,0 cm 8,0 cm 24,0 cm² Retângulo 2 10,0 cm 2,0 cm 20,0 cm² Fonte: elaborada pelo autor. Na Figura 4.12, é possível observar que no eixo z não há distância dos centros de gravidade dos retângulos em relação ao centro de gravi- dade do sistema, todos estão alinhados ao eixo y. Dessa forma, o valor do transporte dos eixos em z (dz) é igual a zero. Assim, é possível calcular o momento de inércia em y: ( ) ( )( ) ( )( )( ) 3 33,0.8,0 10,0.2,024,0 . 0,0 ² 20,0 0,0 ² 12 12 Iy = + + + ( ) ( )134,66 6,66Iy = + 434,66 Iy cm= Com base nos valores calculados, é possível observar que a peça pos- sui maior resistência ao giro em torno do eixo z em relação a y. – 63 – Propriedades geométricas da seção transversal Atividades 1. Para as seções ilustradas a seguir, determine as coordenadas u e v do centro de gravidade e os momentos de inércia yI e zI . Obs.: todas as dimensões estão dadas em centímetros. a) z 2 v y u CG 2 4 2 2 2 4 6 Fonte: elaborada pelo autor. b) z 20 v y u CG 10 10 20 30 10 30 Fonte: elaborada pelo autor. c) z 20 v y u CG 16 64 20 60 Fonte: elaborada pelo autor. d) z 2,5 1 1 v y u CG 1 2,5 2,5 4 1 4 1 4 1 Fonte: elaborada pelo autor. Para explicar o conceito de flexão, utilizaremos o exemplo ilustrado na Figura 5.1. Inicialmente é possível visualizar um gan- cho segurado por uma corda a uma barra. É aplicado um carrega- mento na extremidade da corda, deixando-a sujeita a um esforço de tração. Esse esforço de tração faz com que a barra passe a sofrer uma deformação para baixo. Devido a essa deformação, as fibras superiores da barra passam a se tracionar, de outra forma, as fibras inferiores da barra passam a estar comprimidas. Flexão pura 5 Resistência dos Materiais – 66 – Figura 5.1 – Exemplo para definição de flexão Fonte: adaptada de Stock.adobe.com/sljubisa Dessa forma, a seção transversal da barra está sujeita a duas tensões, uma de tração e uma de compressão, sujeita assim a um esforço de flexão. O esforço de flexão ocorre quando há uma deformação perpendicular ao eixo do corpo analisado, paralelo ao carregamento atuante. Diversos ele- mentos estruturais dentro da Engenharia Civil estão sujeitos aos esforços de flexão (p. ex.: vigas, pilares, lajes, sapatas, blocos). Nas construções que utilizam o concreto como material de construção é necessário adicio- nar o aço para combater esses esforços de tração, visto que o concreto não tem resistência adequada contra esses tipos de esforços. – 67 – Flexão pura Para analisar as deformações que ocorrem na flexão, será utilizada a Figura 5.2 como exemplo, na qual é utilizado um material homogêneo, reto, submetido à flexão. Inicialmente, considere uma barra não defor- mada conforme a Figura 5.2 (a), e repare nas linhas longitudinais e trans- versais que formam quadrados. Figura 5.2 – Deformação na flexão Fonte: Atlan Coelho. Ao aplicar um momento fletor (Figura 5.2 (b)), ocorre a deformação da barra e a consequente distorção desses quadrados. É possível observar que as linhas longitudinais passam a ser curvas e as linhas transversais permanecem retas, entretanto, elas sofrem rotação. Dessa forma, é possível observar um Resistência dos Materiais – 68 – alongamento das fibras inferiores, ocasionado por tensões de tração e uma compressão das fibras superiores devido a tensões de compressão. Como a seção transversal está sujeita a duas tensões diferentes, é possível imaginar um ponto de transição em que a peça não está sendo nem tracionada e nem comprimida. Esta posição, na qual a tensão é nula é chamada de linha neutra. Tendo como base os conceitos expostos no parágrafo anterior, é pos- sível definir três formulações de como a tensão deforma o material. O objeto de estudo deste capítulo é o de flexão pura e na flexão pura há ape- nas a atuação do carregamento de momento fletor. Nesse tipo de flexão são desconsiderados outros tipos de carregamento, como de tensão normal e cisalhante. Segundo o primeiro conceito, o eixo x (Figura 5.3 (a)), situado no centro de gravidade da peça, não sofre nenhuma mudança de compri- mento. O momento aplicado tenderá a deformar a barra, fazendo com que o eixo x se torne curvo (Figura 5.3 (b)). Figura 5.3 – Conceito de linha neutra Fonte: Atlan Coelho. – 69 – Flexão pura O segundo conceito é que não há uma distorção da seção transversal, elas permanecem retas e perpendiculares em relação ao eixo longitudinal. O terceiro conceito trata do eixo z, que, contido no centro de gravidade da peça, é o eixo no qual a peça gira. Assim, dizemos que esse é o eixo neutro, ponto pelo qual passa a linha neutra. A fórmula da flexão pura é desenvolvida a partir de um momento fletor interno, que age na seção transversal da viga. Considerando um momento fletor atuante no eixo z, a distribuição das tensões na seção transversal é obtida a partir da Equação (1): ( ) 1z z M y I σ = ± Em que zM é o momento fletor atuante no eixo Z, no qual o seu valor é inserido na fórmula em módulo (o sinal da fórmula depende da direção do momento). zI é o momento de inércia em relação ao eixo z e y é a distância per- pendicular do ponto analisado em rela- ção ao momento em z. O sinal da equa- ção será positivo se o momento aplicado em z tracionar a parte positiva do eixo y. Para explicar o sinal da equação, con- sidere a seção transversal ilustrada na Figura 5.4. Figura 5.4 – Seção transversal retangular Fonte: elaborada pelo autor. Na Figura 5.5 é aplicado um momento fletor positivoem relação ao eixo z, o momento está aplicado no centro de gravidade da peça. Para essa configuração de momento, temos que o momento comprime a parte supe- rior e traciona a parte inferior da seção transversal. Observe que a parte positiva do eixo y é tracionada, sendo assim, para essa configuração de momento, a Equação (1) leva o sinal positivo. Resistência dos Materiais – 70 – Figura 5.5 – Momento tracionando a parte inferior da seção transversal Fonte: elaborada pelo autor. A distribuição das tensões na seção transversal, conforme carre- gamento ilustrado na Figura 5.5, está ilustrado na Figura 5.6. Como já demonstrado, a linha neutra nos casos de flexão neutra passa no centro de gravidade e coincide com o eixo z. No ponto mais afastado do centro de gravidade, na porção superior da seção transversal, temos a maior tensão de compressão, ela vai aumentando linearmente a partir do centro de gra- vidade. Do outro lado, na porção mais inferior, temos a maior tensão de tração, que também cresce linearmente a partir da linha neutra. Figura 5.6 – Diagrama de tensões Fonte: elaborada pelo autor. Na Figura 5.7 é aplicado um momento fletor negativo em relação ao eixo z, e o momento está aplicado no centro de gravidade da peça. Para esta configuração de momento, temos que este momento traciona a parte – 71 – Flexão pura superior e comprime a parte inferior da seção transversal. Observe que a parte positiva do eixo y é comprimida, sendo assim, para esta configura- ção de momento a Equação (1) leva o sinal negativo. Figura 5.7 – Momento tracionando a parte superior da seção transversal Fonte: elaborada pelo autor. A distribuição das tensões na seção transversal, conforme carregamento ilustrado na Figura 5.7, está ilustrado na Figura 5.8. No ponto mais afastado do centro de gravidade na porção superior da seção transversal, temos a maior tensão de tração, ela vai aumentando linearmente a partir do centro de gravidade. Do outro lado, na porção mais inferior, temos a maior tensão de compressão, que também cresce linearmente a partir da linha neutra. Figura 5.8 – Diagrama de tensões Fonte: elaborada pelo autor. De forma análoga às tensões, as deformações na linha neutra são nulas e, à medida que se afastam do centro de gravidade, têm seu valor acrescido tanto para deformações positivas (tração) quanto para deforma- ções negativas (compressão). Resistência dos Materiais – 72 – Exemplo numérico 1 Para a seção transversal ilus- trada na Figura 5.9, confeccione o diagrama de tensão normal e a orientação da linha neutra. Sabe- -se que o momento é aplicado no centro de gravidade e as medidas das figuras estão em centímetros. Considere os seguintes momen- tos: a) Mz = 10 kN.m b) Mz = -10 kN.m Figura 5.9 – Figura utilizada no exemplo numérico 1 Fonte: elaborada pelo autor. O cálculo das propriedades geométricas foi realizado no exemplo numérico 1 e 2 do capítulo anterior. A Tabela 5.1 apresenta as coordenadas do centro de gravidade. Tabela 5.1 – coordenadas do centro de gravidade Coordenada Valor v 8,55 cm u 4,00 cm Fonte: elaborada pelo autor. – 73 – Flexão pura Os momentos de inércia, calculados tanto em z como em y, estão apresentados na Tabela 5.2. Tabela 5.2 – momentos de inércia calculado Eixo Momento de inércia Z 645,57 cm4 Y 34,66 cm4 Fonte: elaborada pelo autor. A Figura 5.10 apresenta o centro de gravidade posicionado na seção transversal. Figura 5.10 – Centro de gravidade posicionado Fonte: elaborada pelo autor. Inicialmente, posicionaremos o Mz com intensidade positiva de 10 kN.m. Por ser positivo, ele está orientado à direita, no sentido do sinal positivo do eixo Z, conforme ilustrado na Figura 5.11. Resistência dos Materiais – 74 – Figura 5.11 – Momento z posicionado e escolha dos pontos A e B Fonte: elaborada pelo autor. Para traçar o diagrama de tensões, é necessário calcular as ten- sões máximas de tração e compressão para a seção transversal. Como o momento é positivo, sabe-se que ele comprime a parte superior da seção transversal e traciona a parte inferior. Dessa forma, determina-se dois pon- tos, os mais distantes possíveis do centro de gravidade. Então, o ponto A é o ponto com a maior tensão de compressão e o ponto B é o ponto com maior tensão de tração, conforme ilustrados na Figura 5.11. As coordena- das dos pontos em relação ao eixo y estão contidas na Tabela 5.3. Tabela 5.3 – coordenada dos pontos A e B Ponto Coordenada y A -4,46 cm B 8,55 cm Fonte: elaborada pelo autor. O ponto A está situado na parte negativa do eixo y, logo, tem sinal negativo. Como o momento traciona a parte positiva do eixo y, nesta – 75 – Flexão pura configuração de momento a Equação (1) assume o sinal positivo. Sendo assim, o cálculo para a tensão no ponto A é: za a z M y I σ = + O momento em z é dado em kN.m. Temos as medidas de inércia e coordenadas y em centímetros. Sendo assim, convertendo esse momento para kN.cm, temos: ( )1000 4,46 645,57a σ = + − 6,91 .a kN cmσ = − O valor da tensão em A é negativo, pois trata-se de uma tensão de compressão. Para o ponto b, temos: zb b z M y I σ = + ( )1000 8,55 645,57b σ = + 13,24 .b kN cmσ = Figura 5.12 – Diagrama de tensões Fonte: elaborada pelo autor. Sinal positivo, pois trata-se de uma tensão de tração. Com base nes- ses valores, é possível traçar o diagrama de tensões normais que está ilus- trado na Figura 5.12. Nesse momento, será realizado o cálculo do Mz com intensidade negativa de -10 kN.m. Por ser negativo, ele está orientado à direita, no Resistência dos Materiais – 76 – sentido contrário do sinal positivo do eixo Z. São mostrados ainda os pon- tos A e B, obtidos conforme descrito acima. Estes itens podem ser vistos na Figura 5.13. Figura 5.13 – Posicionamento do momento z Fonte: elaborada pelo autor. Como os pontos não mudaram, continuam as coordenadas demons- tradas na Tabela 5.1. Como o momento aplicado em z traciona a parte negativa do eixo y, utilizaremos o sinal negativo na Equação (1), desta forma, a tensão no ponto A pode ser definida como: za a z M y I σ = − O momento em z é dado em kN.m. Temos as medidas de inércia e coordenadas y em centímetros, sendo assim, convertendo este momento para kN.cm, temos: ( )1000 4,46 645,57a σ = − − – 77 – Flexão pura 6,91 .a kN cmσ = + O valor da tensão em A é positivo, pois trata-se de uma tensão de tração. Para o ponto b, temos: zb b z M y I σ = − ( )1000 8,55 645,57b σ = − 13,24 .b kN cmσ = − Sinal negativo, pois trata-se de uma tensão de compressão. Com base nesses valores, é possível traçar o diagrama de tensões normais, que está ilustrado na Figura 5.14. Figura 5.14 – Diagrama de tensões Fonte: elaborada pelo autor. Resistência dos Materiais – 78 – Atividades 1. A haste de aço com diâmetro de 20 mm está sujeita a um momento fletor. Determine a tensão criada nos pontos A e B e trace o diagrama de tensão normal que age na seção. Fonte: Atlan Coleho. 2. A viga é composta por três tábuas de madeira pregadas como ilustra a figura. Se o momento fletor que age na seção transversal for M= 1,5 kN.m, determine a tensão normal máxima na viga. Trace também o diagrama de tensão normal que age na seção. 25 0 m m 25 0 m m 38 mm38 mm 300 mm300 mm 38 mm38 mm 150 mm150 mm 25 mm25 mm AA BB MM Fonte: adaptada de Hibbeler (2010) com elementos de Stock.adobe.com/viktorijareut – 79 – Flexão pura 3. Determine o momento M que deve ser aplicado à viga de modo a criar uma tensão de compressão no ponto D Dσ = 30 Mpa. Além disso, trace um rascunho da distribuição de tensão que age na seção transversal e calcule a tensão máxima desenvolvida na viga. 150 mm150 mm 150 mm150 mm 25 mm25 mm 25 mm25 mm 25 mm25 mm DD BB AA MM Fonte: adaptada de Hibbeler (2010) com elementos de Stock.adobe.com/ Svitlana 4. A viga tem seção transversal mostrada na figura. Se for feita de aço, com tensão admissível σ_adm= 170 Mpa, determine o maior momento interno
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