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Unidade 3 Livro Didático Digital Rodrigo Gonçalves Tópicos Avançados da Teoria Literária Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autor RODRIGO GONÇALVES O AUTOR Rodrigo Gonçalves Olá. Meu nome é Rodrigo Gonçalves. Sou graduado em Letras já há quase 20 anos, com uma experiência técnico-profissional na área de ensino de língua e literatura. Já ministrei aulas para diversos públicos, do infantil ao infanto-juvenil, tendo passagens por cursinhos e Educação para Jovens e Adultos. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Teoria do Conto ............................................................................................ 10 Três Acepções da Palavra Conto .......................................................................................... 11 Tentativas de Definição ............................................................................................ 12 Aspectos dos Contos Segundo Cortázar ...................................................................... 15 Tipologia dos Contos ................................................................................. 19 Outros Gêneros Derivados dos Contos...........................................................................25 Da Teoria do Romance ..............................................................................30 Romance e Conto Versus Novela ...................................................................................... 38 Composição das Narrativas ....................................................................43 Origem das Narrativas .................................................................................................................44 Sobre Tema, Assunto e Mensagem de uma Narrativa ....................................... 46 Enredo .................................................................................................................................................... 48 Considerações Preliminares Sobre Outros Elementos da Narrativa ........ 50 Tópicos Avançados da Teoria Literária 7 LIVRO DIDÁTICO DIGITAL UNIDADE 03 Tópicos Avançados da Teoria Literária8 INTRODUÇÃO A atividade de narrar é inerente a atividade humana. É por meio dela que toda a comunicação se dá. Desde os primórdios, as histórias eram narradas de pai para filho de forma oral, porém, em algumas comunidades primitivas já existia a figura do contador, daquele que era o guardião das histórias do povo. Cada guardião lançava mão de sua criatividade, iria requintando cada vez mais as histórias, fazendo, assim, nascer as primeiras narrativas literárias. Aqui nesta unidade vamos mergulhar no discurso narrativo dos principais gêneros narrativos, os contos e os romances, explanando por intermédio deles outros tantos gêneros importantes e tão comuns em nossa era. Então? Vamos lá? Tópicos Avançados da Teoria Literária 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Fomentar questões inerentes a teoria dos contos. 2. Descrever alguns dos tipos clássicos de contos. 3. Esclarecer pontos importantes sobre os romances, assim como compará-los com as novelas. 4. Introduzir a composição das narrativas. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Tópicos Avançados da Teoria Literária10 Teoria do Conto INTRODUÇÃO Ao término deste capítulo você será capaz de entender um pouco sobre a Teoria do Conto. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que tentaram lecionar a Teoria do Conto sem a devida instrução tiveram problemas ao ministrar suas aulas ou até mesmo interpretando contos simples. E aí, você está motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!. Uma vez que imergimos na prosa literária, tais como suas características, elementos e outras tantas coisas, parece-nos que não há mais o que tratar, ou há muito pouco o que dizer. Contudo, na Literatura nada está fechado, tudo é continuamente estudado, e a cada novo estudante, novos olhares, novos pontos de vistas vão sendo apresentados. Embora tenhamos usado o conto como referência para falar de forma geral do discurso prosaico noutra unidade, podemos afirmar que ainda não exaurimos todo estudo sobre esse valioso gênero. Muitos tentaram empreender esforços e trabalhos sobre uma descrição mais concreta sobre o que é um conto, porém, nos filiamos as palavras de Júlio Cortázar quando este assim proferiu: [...] se não tivermos uma ideia viva do que é o conto, teremos perdido tempo, porque um conto, em última análise, se move nesse plano do homem onde a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha fraternal, se me for permitido o termo; e o resultado dessa batalha é o próprio conto, uma síntese viva ao mesmo tempo que uma vida sintetizada, algo assim como um tremor de água dentro de um cristal, uma fuga cidade numa permanência, Só com imagens se pode transmitir essa alquimia secreta que explica a profunda ressonância que um grande conto tem em nós, e que explica também por que há tão poucos contos verdadeiramente grandes. (CORTÁZAR, 1993, p. 147) Tópicos Avançados da Teoria Literária 11 Todavia, não é porque algo não tenha uma definição fechada que não podemos dizer que não seja categorizado. Dito essas considerações, convoco você, aluno, a navegar comigo e conhecer um pouco sobre o gênero conto neste capítulo. Vamos lá? Três Acepções da Palavra Conto Ante uma vastíssima literatura científica sobre o conto, três acepções mostram-se plausíveis, porém, ainda passíveis de algum debate. A primeira delas é que o conto seja um “relato de um acontecimento”, isso se dá, pois, a palavra “conto” vem do mesmo radical do verbo “contar”, por sua vez do latim computare. Ou seja, por assepsia que se iniciou oralmente, o conto veio para registrar histórias. Mas daí seriam histórias ou Histórias? Aqui é quando encontramos a graça do conto, pois ele não existe somente para relatar acontecimentos ou ações, se fosse assim, ele estaria composto somente de um discurso denotativo e, como já sabemos, tal discurso não gera preceito literário. O conto, portanto, não se refere só ao acontecido, ele gera um compromisso com a ficção para, por sua vez, gerar Literatura. NOTA Assim, embora o conto bebamediatamente de acontecimentos da realidade, sua essência é transmiti- los de uma forma poética e não referencial. E é daí que chegamos a segunda acepção, a de que o conto, sendo uma narração ou pela via oral ou pela escrita, narra um acontecimento falso. O termo falso aqui não é para ser compreendido como inverídico, e sim como fictício. Desde sua origem, os fatos históricos eram transmitidos de forma oral, só depois de muito tempo, com a invenção da escrita, foi que os contos puderam ser documentados e propostos num papel. Neste arcabouço, temos a figura dos contadores de estórias como primeiros contistas. Tópicos Avançados da Teoria Literária12 É claro que, ao transmitir os fatos históricos, os contadores de estórias iam carregando as narrativas de poesia, tornando as histórias cada vez mais atrativas. É por isso que, quando estudamos a fundo a mitologia, percebemos as histórias tão cheias de furos, pois esses furos foram preenchidos de traços pictóricos de quem contava. EXPLICANDO MELHOR Evidentemente que isso variava muito de povo para povo. Por exemplo, para o povo romano antigo, que era extremamente supersticioso, as histórias de seus deuses recaiam, muitas vezes, em textos recobertos de falhas de conexão e de precisão, porém, suas leis eram fundamentadas somente em vontades humanas. Já o povo judaico-cristão sempre foi mais rígido, prova é tal que suas leis são fundamentadas numa relação íntima religiosa, daí as histórias serem muito mais precisas, pois a precisão das histórias recai na precisão do cumprimento das leis. Tentativas de Definição Superficialmente, estudiosos tentam diferenciar o conto como uma narrativa curta em relação ao romance e a novela, mas isso gera uma certa imprecisão, pois o que seria curto, longo ou mediano em Literatura? Uma coisa é certa, quantidades de páginas não querem dizer muita coisa. SAIBA MAIS Na França, acima de 20 laudas já se considera uma novela. Entretanto, como veremos nesta unidade, isso não quer dizer muita coisa, pois cada gênero tem suas características próprias, mesmo sendo muito semelhantes uns aos outros. Tópicos Avançados da Teoria Literária 13 Também não podemos classificar e diferenciar contos de outros gêneros narrativos pela concentração de assuntos ou de personagens, pois isso não é por si só um parâmetro. Existem obras românticas com uma quantidade finita de assuntos, e existem contos com infindáveis assuntos. Aparentemente, a diferenciação pela quantidade personagem parece ser plausível, mas quantos personagens seriam suficientes para um conto, e quantos personagens seriam suficientes para um romance, por exemplo? Falam ainda sobre a pureza da narrativa, quanto mais fictícia, mais firmada nos contos, e quanto mais verídica, mais próxima do romance. Mas isso geraria um conflito, pois em toda obra literária reside ficção. Faz parte dela, é inerente a ela, pois toda ficção é feita de conotação; se fosse feita de fatos verídicos, só estaríamos caminhando pela denotação, pela função referencial da língua. Talvez, a única coisa que possa diferenciar o conto de outros gêneros seja a diacronia. VOCÊ SABIA? A diacronia é como descrevemos uma língua ou parte dela ao longo de sua história, evidenciando as mudanças que sofreu; assim como a gramática histórica, linguística diacrônica. Enquanto quase todos os gêneros narrativos mantiveram razoavelmente suas estruturas consagradas, os contos sofreram mutações com o tempo. O conto que nasceu para narrar fatos verídicos, com o tempo, passou a asfixiar o realismo para conduzir cada vez mais o leitor ao imaginário. Inclinando-se, aos poucos, ao onirismo, ou seja, renunciando a realidade e a verossimilhança. Tópicos Avançados da Teoria Literária14 IMPORTANTE Desse modo, começamos a perceber que os personagens, que antes eram figuras reais e que sofreram um processo mitológico, passaram a ter maior simbolismo, revestindo-se de ideários de ética, moralidade, entre outras qualidades, abandonando características individuais com um intuito de formar um senso coletivo. Com o processo e a ascensão da imprensa, os contos se popularizaram e se difundiram muito mais rápido. Um conto que pertencia a tradição oral de um povo, quando se torna publicitado, sai do universo oral, que se pareceria com o tempo, e passa ser mais e mais difundido devido a sua reprodução cada vez mais massiva das histórias. Tal constatação é dever importante, já que os contos passam a se afirmar como corpo do folclore local, ao passo que passam a influenciar outras culturas. Por exemplo, atualmente, a cultura escandinava dos vikings, antes registrada somente nas narrativas de cavalaria, está inserida em roteiros de séries de TV e filmes, assim como em histórias em quadrinhos e outros tantos gêneros modernos. Isso só pode estar conosco atualmente graças aos escritos literários que registravam as invasões europeias, haja vista que os escandinavos antigos não tinham uma cultura escrita formada, tudo deles era registrado oralmente, passados os conhecimentos dos mais velhos para os mais novos. SAIBA MAIS Na prática, os contos clássicos são maiores que as novelas, mas como afirmamos acima, atualmente esses parâmetros devem ser relativizados. Ainda, podemos ver que os contos obedecem a uma narração direta, uma herança de quando as histórias eram transmitidas oralmente. Tópicos Avançados da Teoria Literária 15 Graças à miscigenação com outras formas narrativas, os contos adquiriam uma função didática, vistos principalmente nos contos maravilhosos e fantásticos, bem como nas fábulas, que são, de certa forma, derivações dos contos. A pedagogia dos contos geralmente era para demonstrar, seja de forma implícita ou explícita, um valor moral. Aspectos dos Contos Segundo Cortázar Muitos teóricos tentaram estudar o conto, como já temos apontado desde a unidade passada, desde Edgar Allan Poe, muitos se aventuraram em dissertar e estudar a fundo. Contudo, um dos estudiosos contemporâneos mais bem conceituados do mundo chama-se Júlio Cortázar. Apoiado inteiramente em Edgar Allan Poe, Júlio Cortázar conseguiu expandir os horizontes para que hoje nós, acadêmicos em Letras, possamos discorrer melhor sobre esse universo. Cortázar (1993) inicia seus trabalhos afirmando que o conto sofreu modificações severas desde a época da oralidade. Segundo ele, o conto é o efeito de um empenho consciente do autor, o qual, por sua vez, faz uso de recursos narrativos capazes de lhe garantirem o efeito desejado na obra. Afirma ele, ainda, que o conto consegue ser extremamente multissignificativo e repleto de artifícios estéticos para que o receptor possa apropriar uma experiência extremamente complexa. DEFINIÇÃO Nesta perspectiva, tentando conceituar o conto, Cortázar assim afirma: É preciso chegarmos a ter uma ideia viva do que é o conto, e isso é sempre difícil na medida em que as ideias tendem para o abstrato, para a desvitalização de seu conteúdo, enquanto que, por sua vez, a vida rejeita esse laço que a conceitualização Tópicos Avançados da Teoria Literária16 lhe quer atirar para fixá-la e encerrá-la numa categoria. Mas se não tivermos a ideia viva do que é um conto, teremos perdido tempo, porque um conto, em última análise, se move nesse plano do homem onde a vida e a expressão dessa vida travam uma batalha fraternal, se me for permitido o termo; e o resultado dessa batalha é o próprio conto, uma síntese viva ao mesmo tempo que uma vida sintetizada, algo assim como um tremor de água dentro de um cristal, uma fugacidade numa permanência. (CORTÁZAR, 1993, p. 150) No entanto, embora pareça a nós impreciso, Cortázar (1993) busca identificar e caracterizar o conto por meio de outras narrativas, tais como o romance e outras obras ficcionais hodiernas como os filmes. Tudo isso a fim de trazer para o conto a sensação de fotografia, de retrato, imagem. Numa fotografiaou num conto de grande qualidade [...] o fotógrafo ou o contista sentem necessidade de escolher e limitar uma imagem ou um acontecimento que sejam significativos, que não só valham por si mesmos, mas também sejam capazes de atuar no espectador ou no leitor como uma espécie de abertura, de fermento que projete a inteligência e a sensibilidade em direção a algo que vai muito além do argumento visual ou literário contido na foto ou no conto. (CORTÁZAR, 1993, p. 151-152) Ao fazer esse tipo de análise, podemos extrair as características narrativas e descritivas do conto, e mais, a sua esfera poética, abrindo no receptor um universo novo, com novos conceitos e regras. Prova é tal que Eduardo Melo França (2008) irá elogiar o autor supramencionado com as seguintes palavras: Cortázar é feliz quando compara o trabalho do contista com o de um fotógrafo. Em ambos, é preciso ter noção de que o recorte a ser trabalhado precisa aproveitar todos os detalhes, uma vez que são sucintos e intensos. O escritor deve enxergar, tanto na matéria curta em si quanto no que foi concentrada intensamente num relato breve, a mesma possibilidade e dimensões artísticas e problematizadoras que um fotógrafo ao definir seu alvo e foco. (FRANÇA, 2008, p. 264) Tópicos Avançados da Teoria Literária 17 EXPLICANDO MELHOR Essa fotografia, essa leitura rápida da ambientação, faz com que o leitor tenha maior adesão, uma maior apreensão do conteúdo do conto. É por isso que o autor em comento afirma: O único modo de se poder conseguir esse sequestro momentâneo do leitor é mediante um estilo baseado na intensidade e na tensão, um estilo no qual os elementos formais e expressivos se ajustem, sem a menor concessão, à índole do tema, lhe deem a forma visual a auditiva mais penetrante e original, o tornem único, inesquecível, o fixem para sempre no seu tempo, no seu ambiente e no seu sentido primordial. (CORTÁZAR, 1993, p. 157) Sem desmerecer ainda outras coisas, Cortázar (1993) irá tecer considerações sobre as tensões e a intensidade. A tensão, para o autor, é o momento em que a narrativa propicia a quebra de limites, é o momento, ou são os momentos, em que o leitor será conduzido a imergir cada vez mais na leitura. Isso se dá não somente por um suspense ou qualquer evento com o personagem em si, mas com um processo de significação que ganhará a adesão do leitor. Ao tamanho do engajamento entendemos como intensidade. EXPLICANDO MELHOR Quanto maior a tensão provocada pelo autor do conto sobre o leitor, maior será a intensidade da experiência do leitor sobre a obra. O conto, desse modo, deve conter, de forma compacta, as situações que serão desenvolvidas de formas mais simples, mas que sejam capazes de apreender o leitor. Tópicos Avançados da Teoria Literária18 Para que isso ocorra, apenas o autor se desprendendo e se empenhando é que se será capaz de termos uma obra longe da mediocridade. Somente ele, lúcido e responsável, poderá emancipar uma mecânica interna que despertará a vontade de permanecer até o fim do enredo. Por fim, é o escritor quem deve conceber, mediante recursos estéticos e criativos, um efeito único que singularize seu texto, criando e combinando as ocorrências narrativas que melhor forneçam uma melhor experiência de sua obra. REFLITA Não é difícil ver que, se nas primeiras linhas o leitor não sentir a tensão necessária, o autor fracassará ali mesmo. Todo o empenho do autor deve estar voltado para levar àquele efeito. Ainda que seja uma obra um tanto menor que outras narrativas, é esse o objetivo do conto. Por fim, precisamos entender que os contos são modos peculiares de manifestação de sua época história. Agora que você já foi introduzido no âmbito dos contos, no próximo capítulo iremos ver alguns tipos desse modelo de narrativa, suas características, e iremos nos debruçar em alguns exemplos. Nos vemos lá! RESUMINDO Dentro desse contexto de tantos conceitos abertos sobre os contos, transmite-se um senso de acontecimentos e uma necessidade de transmiti-los, sejam a ouvintes ou a leitores, pois, independente de verídico ou não, o conto é um instrumento poderoso de transmissão de um relato. Os contos não têm formas específicas, podendo ser transmitidos em versos ou em prosa, sendo a última a forma mais comum de publicitação. Ainda que o critério de tamanho seja de certa forma válido, uma vez que os contos tendem a ser menores que um romance, isso não é um parâmetro realmente sólido para que possamos identificar como característica dos contos. Tópicos Avançados da Teoria Literária 19 Tipologia dos Contos INTRODUÇÃO Ao término deste capítulo você será capaz de entender um mais sobre alguns dos principais subgêneros dos contos, assim como de gêneros derivados dele. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que tentaram ingressar no mercado de trabalho sem a devida instrução neste tópico tiveram problemas ao ministrar suas aulas ou até mesmo interpretando contos simples, pois as características de cada conto aqui são bem semelhantes, então, confundir-se aqui é bem fácil. E aí, motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Uma vez que nos encontramos imersos nas especificidades dos contos, vamos adentrando nas tipologias clássicas desse gênero. Caro estudante, o conto gaulês faz menção a certos grupos de contos que tangem as narrativas engraçadas, herdadas inteiramente da tradição popular. São contos que guardam muita relação com produções em verso da Era Medieval e recobertos de apólogos. Esses contos também mitigam com muita maestria para contos de animais, ou então para contar histórias de teor obsceno, libertino. Além disso, representam aventuras divertidas ou satíricas em grandes pretensões. É daqui que surgirão as fábulas que trataremos mais adiante. Esse tipo de narrativa, aos poucos, caiu em desuso, quase não havendo produções dessa modalidade nos dias de hoje. O conto maravilhoso ou, como também é chamado, o conto de fadas, encontra raízes também na Era Medieval. Entretanto, diferente do conto gaulês, que se baseia em eventos reais promovendo uma sátira verossimilhante a realidade, aqui a liberdade encontra seu repouso, e o irreal é permitido. O conto maravilhoso clássico ficou bastante conhecido por usar uma oração, a famosa “era uma vez”. Essa oração funciona como chave Tópicos Avançados da Teoria Literária20 para o leitor abrir as portas de um universo encantado, imaginário. Ela está alocada no início do texto propositalmente, exatamente para conduzir o leitor a interpretação de que os elementos alegóricos não existem no nosso mundo, apenas num mundo criado pelo autor. Entretanto, não podemos dizer que os elementos alegóricos, tais como fadas madrinhas, embora não existam no mundo real, não sirvam para trazer ao texto a verossimilhança necessária para o leitor. Isto é, o irreal aqui não quer dizer não verossímil. EXPLICANDO MELHOR Vamos tomar por base o famoso conto da “Cinderela”. Texto de autor desconhecido, devido sua origem da tradição oral, mas foi originalmente compilado por Charles Perrault, em 1697, encontrando-se sob domínio público: ERA UMA VEZ uma bela jovem chamada Cinderela que vivia com o seu pai, um comerciante viúvo e muito rico. Cinderela perdera a mãe ainda criança e o seu pai, pensando que Cinderela precisava de uma nova mãe, decidiu casar-se novamente. A madrasta da Cinderela, também era viúva e tinha duas filhas muito feias e muito más, do seu primeiro casamento. Como o pai de Cinderela viajava muito, a madrasta malvada e as suas novas irmãs obrigavam a Cinderela, na ausência do pai, a fazer todos os trabalhos domésticos, fazendo troça dela sempre que podiam, e fingindo-se muito amigas na presença do pai. Quando o pai de Cinderela morreu, por ordem da madrasta, Cinderela passou a dormir no sótão e a vestir-se de farrapos. Cinderela nada maistinha que o seu pobre quarto e os seus amigos animais que habitavam na floresta. Tópicos Avançados da Teoria Literária 21 Um certo dia foi anunciado naquele reino que o Rei iria dar um baile no castelo, para que o seu filho, um jovem e belo príncipe, pudesse escolher entre todas as jovens do reino, aquela que seria sua esposa. Temendo que Cinderela fosse escolhida pois ela era realmente muito bela, a madrasta proibiu Cinderela de ir ao baile, argumentando não ter roupas adequadas para a vestir, enquanto suas irmãs experimentavam vestidos luxuosos para a festa. (PERRAULT, [1697] 2005, s/p) Até então não há nada fantasioso, houve a ambientação dos personagens no âmbito espacial e temporal, mas é a partir do próximo trecho que as inserções do maravilhoso começam a ocorrer, veja: Cinderela como era muito habilidosa, decidiu fazer o seu próprio vestido, com ajuda dos seus amiguinhos da floresta. No final estava satisfeita pois tinha conseguido fazer um bonito vestido. (PERRAULT, [1697] 2005, s/p) NOTA Ao introduzir ao leitor os “amiguinhos da floresta”, o autor inicia um processo de condução do receptor ao universo maravilhoso do conto, uma vez que esses amiguinhos não saberiam, a rigor, costurar, colocando o que aparentemente era denotativo de lado e iniciando o processo ficcional, continuemos: Mas, na noite do baile, a madrasta e as suas filhas descobriram o vestido e rasgaram-no em mil pedaços! Desolada, Cinderela foi para o seu quarto a chorar. Sentada à janela, lamentava-se: - Como sou infeliz! Não tenho nem tecido nem tempo para fazer um novo vestido… Tópicos Avançados da Teoria Literária22 Nesse mesmo momento, apareceu a sua fada madrinha que lhe disse: -Não chores mais Cinderela, pois com a minha varinha mágica transformarei esta abóbora num coche puxado por quatro lindos cavalos brancos e destes panos velhos farei o mais formoso dos vestidos! E então, Cinderela apareceu vestida com um sumptuoso vestido azul e uns delicados sapatinhos de cristal; ao seu lado encontrava-se uma luxuosa carruagem dourada e um cocheiro muito bem vestido que gentilmente, lhe abria a porta. Cinderela feliz da vida, entrou na carruagem, mas não sem antes ouvir as recomendações da fada madrinha: - O encantamento terminará à meia-noite por isso terás de voltar a casa antes da última badalada, pois tudo voltará a ser o que era. A jovem menina acenou que sim à fada com a cabeça, e partiu em direção ao castelo. (PERRAULT, [1697] 2005, s/p) EXPLICANDO MELHOR Aqui, uma solução surpreendente acontece: a chegada da fada madrinha. A ruptura com o mundo real está completa, e a partir de agora a heroína ingressará em sua aventura, e para o leitor que não conhece a história, tudo doravante será inédito, pois tudo fugirá da realidade, do seu horizonte de eventos conhecidos. Quando entrou no salão, Cinderela estava tão bela que a madrasta e as suas irmãs, apesar de acharem aquele rosto familiar, não conseguiram reconhecê-la. O príncipe, que não tinha demonstrado até então qualquer interesse pelas meninas que se encontravam na festa, mal viu Cinderela, apaixonou-se perdidamente por ela. Tópicos Avançados da Teoria Literária 23 Cinderela e o príncipe dançaram a noite inteira até que o relógio do castelo começou a tocar as doze badaladas. Cinderela ao ouvir o relógio, fugiu correndo pela escadaria que levava até aos jardins, mas no caminho, deixou ficar um dos seus sapatos de cristal. O príncipe desolado, apanhou o sapato e, no dia seguinte ordenou aos criados do palácio que procurassem por todo o reino a dona daquele pequeno e delicado sapato de cristal. Os criados foram percorrendo todas as casas e experimentando o sapato em cada uma das jovens. Quando chegaram a casa da Cinderela, a madrasta só chamou as suas duas filhas e ordenou ao criado que lhes colocasse o sapato. Por muito que se esforçassem o sapato não serviu a nenhuma das irmãs. Foi então que Cinderela surgiu na sala, e o criado insistiu em calçar-lhe o sapato. Este entrou sem dificuldade alguma. A madrasta e as suas duas filhas nem queriam acreditar! O príncipe, sabendo do sucedido, veio imediatamente buscar a Cinderela, montado no seu cavalo branco e levou-a para o castelo, onde a apresentou ao rei e à rainha. Poucos dias depois, casaram-se numa linda festa, e foram felizes para sempre. (PERRAULT, 1697, s/p) Veja, embora coisas fantásticas tendo acontecido por intermédio da fada madrinha, a ambientação e toda construção espacial e temporal ocorreu no tempo medieval. Isso é um recurso interessante, pois faz com que o mundo conhecido se torne singular. Assim, é proporcionado ao leitor uma experiência na qual ele deseje que o mundo real tenha as alegorias usadas pelo o autor. Tópicos Avançados da Teoria Literária24 IMPORTANTE É importante frisar que os contos maravilhosos sofrem variação de acordo com a cultura. A fada madrinha, que tanto aqui já falamos, é um elemento ocidental, no caso do conto de “Cinderela”, em específico, há relatos de um conto semelhante desde 860 a.C., oriundo da China. Nele não há a fada madrinha a qual promove os desejos da personagem central, ao invés disso, são os pombos e a árvore que crescem no túmulo de sua mãe que o fazem. Nos contos maravilhosos, portanto, o realismo dá espaço para tópicos narrativos que concederão poderes sobrenaturais aos personagens, como objetos mágicos, personagens fabulosos. Também é comum desse tipo de narrativa o caráter pedagógico transparente, mostrando finais felizes em que a ordem e a moral preponderam sobre o mal. Apesar de hoje estarem no rol de leituras infantis, os contos maravilhosos são uma leitura universal e suas mensagens são para todas as idades. O conto filosófico tem seu nascedouro por volta do século XVIII, cujo teor seria mais provocativo, satírico e de conteúdo mais edificante, bebendo da fábula, cujas características trataremos à frente, e do romance, que era um gênero novo na época, trazendo uma dimensão paródica. Por meio desses recursos estéticos, essa modalidade de conto consistia em impor um ponto de vista, demonstrando ou desconstruindo uma tese. O conto fantástico é curiosamente próximo ao conto maravilhoso, tendo muitos autores afirmando que ambos são a mesma coisa. Contudo, atualmente, vemos que o conto fantástico usa do recurso do medo e do sobrenatural com mais intensidade. O medo é essencial nesse tipo de história, pois é ele que impulsiona a narrativa embasado sempre no sentimento inexplicável do sobrenatural, com a finalidade de manter o leitor sempre no suspense. Para isso, é bastante enfatizado o senso de realidade e de verossímil para manter um equilíbrio entre a hesitação e uma curiosidade pelo que irá acontecer. Os filmes de terror bebem desse tipo de narrativa. Tópicos Avançados da Teoria Literária 25 Outros Gêneros Derivados dos Contos Os contos foram, sem dúvidas, uma inovação narrativa que merece nosso destaque, porém, há muitos outros gêneros narrativos importantes que também merecem menção honrosa aqui. Um deles é a fábula. Nome que comunga do mesmo radical latino, fabula, irá significar relato ou narrativa. Seus registros remontam a Idade Média, e servia inicialmente para registrar relatos mitológicos. Com o passar tempo, a fábula serviria para ilustrar uma moral de forma pitoresca, tornando-se um gênero codificado, uma vez que possuía características, entre elas: ser uma narrativa curta, com personagens geralmente alegorizados como animais, porém, com características psicológicas humanas, tornando-se apólogos, escrito em versos, embora mais tarde, tenham aderido à estética em parágrafos. Aqui a ficção nitidamente permeia o não real e o não verossímil. Exemplo Um exemplo disso é o clássico “As formigas e o gafanhoto”, veja: As Formigas e o Gafanhoto Num brilhante dia de outono, uma família de formigas se apressava para aproveitar o calordo sol, colocando para secar, todos os grãos que haviam coletado durante o verão. Então um Gafanhoto faminto se aproximou delas, com um violino debaixo do braço, e humildemente veio pedir um pouco de comida. As formigas perguntaram surpresas: “Como? Então você não estocou nada para passar o inverno? O que afinal de contas você esteve fazendo durante o último verão?” E respondeu o Gafanhoto: “Não tive tempo para coletar e guardar nenhuma comida, eu estava tão ocupado fazendo e tocando minhas músicas, que sequer percebi que o verão chegava ao fim.” Tópicos Avançados da Teoria Literária26 As Formigas encolheram seus ombros indiferentes, e disseram: “Fazendo música, todo tempo você esteve? Muito bem, agora é chegada a hora de você dançar!” E dando às costas para o Gafanhoto continuaram a realizar o seu trabalho. (ROCHA, 2001, p. 105) Primeiramente, a mensagem ao final do texto que se quer transmitir é de que há sempre um tempo para tudo, seja para o trabalho, seja para a diversão. Note que o gafanhoto e as formigas adquiriram características humanas, e esses eventos narrados não existiram de fato, apenas foram uma alegoria para trazer uma mensagem de moral e valor. As fábulas tendem a ser curtas assim como os contos. As crônicas, por seu turno, são textos literários que têm por objetivo trazer um relato de um ou mais acontecimentos do cotidiano de um determinado tempo. Por serem curtos por assepsia, trazem um número reduzido de personagens, frequentemente mesclando ironias, reflexões, humor, criticismo, com informação. Vem do latim chronica, e por isso ela observa seu tempo, tirando dele sua matéria-prima. De todos os gêneros textuais citados nesta unidade, a crônica é a narrativa mais recente e ficou muito popular aqui no Brasil graças ao Modernismo, por intermédio de autores como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga, Luís Fernando Veríssimo, entre outros. A crônica foi aperfeiçoada para ser publicada em revistas, jornais, folhetins e outros meios de impressa, daí sua justa necessidade de ser curta e de fácil compreensão. Algumas crônicas, inclusive, poderiam fazer referência ou buscar elementos publicados durante a semana nesses meios de comunicação. Outras, apenas levavam o leitor a uma reflexão profunda, porém, sem grandes questões estilísticas contidas, como se a narrativa e a mensagem dela fossem mais importantes que as questões estéticas. Devemos reforçar que o cotidiano é a inspiração para as crônicas o que não quer dizer, necessariamente, que os fatos realmente existiram. Tópicos Avançados da Teoria Literária 27 Exemplo Um dos exemplos mais belos é a “Última Crônica”, de Fernando Sabino: Última crônica A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica. Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar- se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome. Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando- Tópicos Avançados da Teoria Literária28 se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim. São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca- Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você...” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá- lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. Tópicos Avançados da Teoria Literária 29 Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso. (SABINO, 1965, p. 178) Note que o autor inicia o texto contextualizando o tempo e colocando-se como narrador, observando a refeição de uma família humilde. Ele descreve o cenário da pobreza daquela família, mostrando que eles partilhavam de um momento de felicidade com sua filha, de um único pedaço de bolo com um refrigerante. Alguns traços, como a forma que a mãe pega as velas, o jeito com que o pai tira a caixa de fósforo, o olhar trocado entre o narrador e o pai, evidenciam um distanciamento de classes sociais. Note, também, que o tamanho da crônica é pequeno exatamente para caber em qualquer editorial. RESUMINDO Os contos são encontrados em diversos subgêneros e em algumas variações, porém, o sentido de todos eles, de relatar um fato verossímil, não se perde. Alguns estão voltados para a comédia e a sátira, outros para apresentar um valor moral ao final da história, outros apenas uma reflexão e uma provocação. As fábulas vão beber das fontes do formato apólogo dos contos, já as crônicas vão beber das fontes mais verídicas remontando os primórdios dos contos. Tópicos Avançados da Teoria Literária30 Da Teoria do Romance INTRODUÇÃO Agora que estamos empossados dos estudos narrativos dos contos, iniciaremos estudos mais aprofundados acerca dos Romances e Novelas e suas particularidades, flertando no que couber aoque já foi apresentado até aqui sobre os contos. Esses três gêneros são responsáveis atualmente por uma gama enorme de outros subgêneros e aprender a interpretá-los, dará a ti, aluno, uma poderosa ferramenta para se tornar no futuro um bom crítico literário. Vamos lá?. VOCÊ SABIA? O termo “romance” vem de radicais latinos, ou seja, das línguas românicas. Por exemplo, em Portugal, é “romance”, assim como no Brasil; já em italiano, “romanzo”; na França, “roman”; e assim por diante. Esse dado é interessante, pois nos indica onde e por qual descendência esse gênero surgiu. O então novo gênero fora constituído inicialmente para narrar eventos heroicos e aventuras galantes (romances de cavalaria). Entretanto, pouco a pouco, passou a narrar conflitos amorosos em ambientes de cunho mais rural. Mas não demorou muito para evoluir, devido a uma crescente demanda de leitores, paulatinamente o romance saía do círculo da burguesia, popularizando-se. Tal fator também se aliou aos processos mais rápidos de impressão de jornais e livros, que os tornavam mais acessíveis. Isso fez com que houvesse uma diversificação temática desse gênero e surgissem diversas variantes, como os romances históricos, de formação, psicológicos, sociais, realistas, naturalistas, policiais, entre outros. Ao longo dos séculos, vários estudiosos afirmavam que o romance morreria, mas o que morreu mesmo foi a forma burguesa de narrar. Tópicos Avançados da Teoria Literária 31 Uma vez que a Literatura passou a ter linguísticos apartados, muitos estudiosos se dedicaram cada vez mais a se especializar nesse novo ramo da ciência. A partir disso, junto à crescente demanda na produção estética do gênero romântico, que se proliferou depois do Século XVIII, alguns teóricos resolveram estudar suas particularidades, sendo um dos mais famosos deles, sem dúvida, o húngaro Georg Lukács, com o seu trabalho Teoria do Romance. IMPORTANTE Devemos constatar que o ensaio de Georg Lukács sobre a temática aqui abordada fora publicado em 1917, época em que o romance moderno ainda estava se consolidando como gênero. Dessa forma, embora sejam importantes suas análises, outros grandes nomes, como Kafka, Proust, Joyce, Musil, trouxeram trabalhos significativos, enlanguescendo ainda mais os debates e os estudos doravante abordados. Todavia, Georg Lukács representou um marco dentro dessa temática e suas lições foram à miúde por todos esses teóricos já apontados, assim como por muitos romancistas até hoje. Entre um joguete, perpassando pelo passado e presente, comparando o romance com as epopeias, Georg Lukács (2000) assim proferiu: O romance é a epopéia [sic] de um tempo em que a totalidade extensiva da vida já não é dada de maneira imediata, de um tempo para o qual a imanência do sentido à vida se tornou um problema, mas que, apesar de tudo, não cessou de aspirar à totalidade. (LUKÁCS, 2000, p. 61) Com essa passagem já é possível ver que Lukács defende a tese de que o romance é uma leitura contemporânea, e os gêneros baseados nas tendências gregas estão, já em sua época, se esvaindo. Portanto, numa leitura acurada de seu trabalho, é possível ver também que George Lukács atentou pela primazia do romance acima de todas as outras formas de literatura. Tópicos Avançados da Teoria Literária32 SAIBA MAIS Aos poucos vamos entendendo que a estética nos moldes é forma metafísica de expressão poética. Mas é importante que o romance, sendo considerado quase uma evolução da epopeia, também representa uma evolução da Literatura ocidental. De uma forma ontológica, o romance é uma representação da evolução cultural do ocidente. Prova é que houve um surgimento gradual de outros gêneros prosaicos feitos nos moldes de novela, contos, romances de cavalaria, entre outros tantos. Para o referido autor, o romance seria caracterizado como uma narrativa de leitura longa de conteúdo secularizado, mostrando o processo de mudanças de seus personagens. Indo mais além, nas observações de Lukács (2000), é visível vermos que há um abandono dos enredos sobre heróis e deuses, podendo aos personagens se configurarem e se arranjarem de forma a se aproximar dos problemas vividos pelos leitores. Exemplo Na Odisseia, epopeia do século IX a.C., de autoria atribuída ao poeta Homero, é contada a história de Odisseu (na versão latina, Ulisses) e sua viagem de retorno para “Ítaca”, após a Guerra de Troia, da qual recentemente participara. Sua história é narrada em três partes. A primeira parte, chamada “Telemaquia”, ganha esse nome por causa de Telêmaco, filho de Ulisses e Penélope. Aqui o herói só é mencionado em ocasiões específicas, posto que essa parte da trama é ambientada exclusivamente em Ítaca, mostrando personagens desse núcleo e basicamente as conspirações em sua ausência. Na segunda parte, são constantes as aventuras que Odisseu viveu durante a viagem, com frequente amparo de Atena, deusa da sabedoria, da razão e da guerra. A terceira parte e última, mostra como se deu a vingança de Ulisses após seu retorno, depois de vinte anos, disfarçando-se de mendigo e furtivamente integrado ao povo. Aqui vemos a progressiva integração com seu filho, luta em desfavor dos usurpadores, ao final, subjugando e matando todos, reassumindo o seu trono de direito. Tópicos Avançados da Teoria Literária 33 Embora existam vilões, a real antagonista deste enredo é a viajem de retorno e não propriamente os usurpadores. IMPORTANTE Destaca-se aqui exatamente a mudança estética. Enquanto nas epopeias o enfrentamento dos eventos da vida representa os antagonistas, em regra, nos romances, o antagonismo fica personificado num personagem. Mais uma mitigação entre os gêneros poéticos gregos para o romantismo. Essa dinâmica, de hoje termos a personificação do antagonismo num personagem, já está tão enraizada que, no contexto atual, enveredar para o modo narrativo grego enseja riscos para o autor. EXPLICANDO MELHOR Para exemplificar melhor, vamos mudar o gênero. Provavelmente, o aluno deva ter ouvido falar num filme de grande sucesso dos anos 80 chamado Robocop (1987). Nele, conhecemos um policial combatente do crime na corrompida Detroit (EUA), num ato, no exercício regular de sua função, o policial é morto brutalmente por bandidos. Restando poucos minutos de vida, o policial tem sua mente salva e é transformado em um Robô Policial. Num dado momento, sua memória que teria sido apagada, é restabelecida, recordando o momento de seu assassinato, e num ímpeto de vingança, sai em caçada de seus algozes. Num “reboot”, ou seja, uma nova versão do que anteriormente fora feito, Robocop volta no ano de 2014 contando uma versão semelhante. Nesta, a morte do policial está relacionada a um sistema político- econômico-social, sendo este o real antagonista, embora tenhamos vilões no filme. Tópicos Avançados da Teoria Literária34 O caso deste reboot gerou grande burburinho, pois o grande público ficou dividido por não aceitar tão bem uma narrativa sem um antagonista personificado. Voltando à transposição epopeia e romance, precisamos retomar alguns conceitos intrínsecos a esses dois grandes gêneros. Sobre os padrões mitigados de Deuses e heróis, Lukács chama a nossa atenção aos marcos da literatura, como Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Cumpre-nos dizer que os dramas internos nas epopeias são quase nulos, o herói, por assim dizer, é impedido esteticamente de ter qualquer problemática interna, a aventura e sua superação são mais aparentes e de mais fáceis de apreensão do leitor, sendo que os dramas psicológicos são abstrações do leitor para com a obra. EXPLICANDO MELHOR Vamos envolver olhares outra vez para Odisseu, numa leitura acurada, é mais visível ver o sentimento de vingança do herói do que entender e partilhar daquele sentimento. Isso certamente gera no leitor um sentimento de idolatria para com o herói, e não necessariamente uma empatia,posto não conseguir, ao menos de imediato, ter para com o herói um sentimento como se fosse um semelhante seu. Daí Lukács citar Dom Quixote como referência: E Cervantes, o cristão devoto e o patriota ingenuamente leal, atingiu por meio da configuração, a mais profunda essência desta problemática demoníaca: que o mais puro heroísmo tem de tornar-se loucura quando os caminhos para uma pátria transcendental tornaram-se intransitáveis; que a mais autêntica e heroica evidencia subjetiva não corresponde obrigatoriamente à realidade. (LUKÁCS, 2000, p. 107) Tópicos Avançados da Teoria Literária 35 NOTA O termo “demoníaco” é usado por Lukács como algo que desconfigura ou desconstrói o herói como um Deus. Para Lukács, Dom Quixote seria uma paródia aos Romances de Cavalaria, uma vez que ele não obedecia rigorosamente às temáticas centrais desse gênero, rompendo com o sistema axiológico vigente, qual seja, o cristão, vez que a personagem principal passa por um período descrença: “[...] é a profunda melancolia [...] do transcorrer do tempo, que se expressa no fato de as atitudes eternas e os conteúdos eternos perderem o sentido uma vez passado seu tempo” (LUKÁCS, 2000, p. 107). A saber, Dom Quixote é o herói “[...] que age em defesa da honra e da justiça, mas, sua interioridade transformada em ação se revela inadequada e totalmente desconectada da realidade” (MARTINS, 2008, p. 270). Nesse caso, na narrativa ele iniciou um estreitamento com o público por exatamente mostrar uma estreita relação da alma com o mundo. O que faz com que percebamos o início da perda de um simbolismo que habita nas epopeias. Romance, portanto, não é um texto de construções de idealizações, e sim um discurso de desilusões. Mikhail Bakhtin, já conhecido daqui de nossas leituras, irá assim proferir: [...] o romance é o único gênero por se constituir, e ainda inacabado. [...] Os outros gêneros enquanto tais, isto é, como autênticos moldes rígidos para a fusão da prática artística, já são conhecidos por nós em seu aspecto acabado. [...] Encontramos a epopeia não só como algo criado há muito tempo, mas também como um gênero já profundamente envelhecido [...] com uma ossatura dura e já calcificada. (BAKHTIN, 1998, p. 397) Tópicos Avançados da Teoria Literária36 Para Bakhtin, o romance irá deixar exposto o conflito de gêneros ainda mais aprofundados, uma vez que enquanto vivia era nítido a distância entre as escolas e movimentos literários já existentes com o crescente Romantismo. O mesmo autor ainda afirma que o romance “[...] é o único gênero realmente nascido e nutrido pela Era Moderna, na história do mundo” (BAKHTIN, 1998, p. 398), chegando inclusive a enaltecê-lo: “[...] só o romance é mais jovem do que a escritura e os livros, e só ele está organicamente adaptado às novas formas da percepção silenciosa, ou seja, à leitura” (BAKHTIN, 1998, p. 398). IMPORTANTE Importante sempre frisar que os gêneros textuais não eram tão abundantes como hoje são. Todavia, numa tentativa, ao nosso ver bastante positiva, de tentar diferenciar o romance de outros gêneros, Bakhtin pontua três características basilares que distinguem o romance dos outros gêneros restantes: O primeiro é o que chamou de “tridimensão estilística do romance”, que está relacionada ao plurilinguismo inerente a sua estética. O plurilinguismo se opõe diametralmente ao unilinguíssimo clássico. Enquanto na epopeia são constantes três traços constitutivos, quais sejam: “[...] o passado nacional épico, a lenda nacional e o mundo épico isolado da contemporaneidade, do tempo do autor, pela distância épica absoluta” (BAKHTIN, 1998, p. 405). Essa estrutura canônica da epopeia enrijeceu muitos anos a criatividade, deixando o discurso uníssono, unilinguíssimo. Com a liberdade criativa que o romance oferece, existe uma oportunidade pluralmente criativa para o autor de explorar novas coisas, de inovar na arte e na estética, daí detectarmos plurilinguismo nesse gênero. “A transformação radical das coordenadas temporais das representações literárias no romance” é, por sua vez, uma segunda característica mais marcante. Enquanto, por um lado o herói sempre tinha Tópicos Avançados da Teoria Literária 37 uma intervenção, “um chamado para aventura”, como Joseph Campbell descreve ao estudar o mito do herói, ele sempre se mostrava predestinado a fazer o que seus feitos no transcorrer do enredo mostrariam: o herói nasceu para derrotar o vilão. Sendo assim, o tempo é para epopeia a maior amarra do herói, um Deus imutável e linear que impõe ao autor e seu herói/personagem a mesma forma de agir, de pensar. O romance, por seu turno, não está amarrado ao tempo, muito pelo contrário, o tempo é um instrumento à serviço do autor para melhor narrar suas histórias. Nesse arcabouço, o romance tem oferecido uma terceira grande característica, que é “nova área de estruturação da imagem literária”. Enquanto nos gêneros clássicos a ambientação se passará em tempos pretéritos, justamente por narrar eventos históricos de forma poética, o romance não está preso a isso, ficando livre para constar narrativas contemporâneas, ou até futuras. Tendo isso em vista, Bakhtin afirma que o romance tem aspecto inacabado, em contraponto aos moldes de gêneros textuais clássicos que já estariam exauridos, findos, em seu próprio estilo. IMPORTANTE Tais particularidades do romance são organicamente ligadas entre si, condicionadas e disponíveis para quem irá produzir a obra. Bakhtin (1998) afirma, portanto, que o romance, desde seu nascedouro, fora formado por uma constituição diferenciada daquela dos outros gêneros considerados acabados, pois sua natureza apontava para algo distinto de toda Literatura conhecida em sua época, visto que seu processo evolutivo estava no início, sendo ainda insólito em nosso mundo devido ao “[...] extraordinário crescimento das exigências, pela lucidez e pelo espírito crítico, traços esses, que determinam o desenvolvimento do romance” (BAKHTIN, 1998, p. 428). Tópicos Avançados da Teoria Literária38 Romance e Conto Versus Novela Agora que entendemos a importância dos gêneros narrativos até aqui estudados e as características que os sustentam, estudaremos outro grande pilar da narrativa, a novela. Seu estudo faz-se mister, pois há quem acredite que a novela se trata tão somente de um híbrido do conto com o romance. O que, embora seja em partes uma verdade, é imperioso destacar, empossados tanto das igualdades como das diferenças, que a novela é um pilar autônomo, inclusive sendo fonte estética de inspiração para os outros gêneros em comento, conforme vejamos: Peterson José de Oliveira (2015) afirma, que a novela é um gênero de pouco estudo e aprofundamento, uma vez que os manuais se firmam no conto e no romance. Aqui, apesar de não ser o cerne de nossa unidade, é forçoso a nós fazermos uma relação desse gênero que ainda é vivo no nosso meio social, sobrevivendo inserido nas telenovelas, séries de TV etc. Ao definir novela, Moisés (2000) inicia seus trabalhos pela etimologia da palavra que nomeia esse gênero, a qual remete ao latim novellus, que irá, por sua vez, remeter ao vocábulo “novelo”, assim como o termo também traz como referência ao radical latino novus, que significa “novo”, “jovem”. Sobre o significado, o português irá fazer adesão por meio da herança do italiano novela, que significa “relato”, “comunicação”, “notícia”, “novidade”. Isso é demasiado importante, pois a novela é um gênero textual que surge um pouco antes do romance, sendo para esse o germe. VOCÊ SABIA? O termo “novela”, dependendo da língua, irá também fazer referência tanto para novelas quanto para romances, por exemplo, a língua inglesa denomina ambos como novel, isso mostra a relação intrínseca dos gêneros. Tópicos Avançados da Teoria Literária 39 Isso também nos coloca numa definição delicada, assim como umaeventual caracterização um tanto delicada. Eikhenbaum (1976), citando Edgar Allan Poe como um expoente nos estudos sobre os contos, irá afirmar que o gênero da novela é feito por: “Um escritor hábil construiu um conto. Se ele conhece seu trabalho, não modelou seus pensamentos sobre os incidentes, mas depois de haver concebido com cuidado e reflexão um certo efeito único que se propõe produzir, inventa incidentes – combina acontecimentos –que lhe permitem obter esse efeito preconcebido”. [...] Poe tinha o hábito de escrever suas novelas começando-as pelo fim, assim como os chineses escrevem seus livros. (EIKHENBAUM, 1976, p. 165) O fato é que, embora o significado acima corrobore para identificarmos melhor o gênero em questão, ao final, nos encontramos numa contenda, pois só avulta ainda mais uma relação romance/novela que não os diferencia de fato e, assim, nos impedindo que detectemos traços límpidos de ambos. Há quem irá trazer à tona um critério quantitativo, falando sobre a extensão da obra, afirmando que o romance é mais longo que a novela e esta, por sua vez, é maior que o conto. Conquanto seja em termos práticos uma verdade, isso é insuficiente para caracterizar esses gêneros. Mas em verdade, a novela é, assim como os contos e os romances, uma narrativa de aventuras, todavia, diferentemente desses outros últimos, ela irá explorar, segundo Massaud Moisés (2000) diversos conflitos por meio de um conjunto de células dramáticas. Enquanto nos contos e, geralmente, nos romances é visto um enredo trabalhado ou contado através de uma única célula dramática e, dessa forma, todos os conflitos ali vividos se passam dentro de uma única célula, na novela é permitido vários conflitos em várias células diferentes, ocorrendo com vários personagens diferentes, tudo isso ao mesmo tempo. Tópicos Avançados da Teoria Literária40 EXPLICANDO MELHOR Para entender melhor essa questão, vamos extrair os exemplos percebidos nas telenovelas hodiernas, gênero tão comum em nossa sociedade. Imaginemos uma novela X, que tem três células dramáticas, também pelo meio televisivo chamados de núcleos. Imaginemos inicialmente que existe um núcleo A ambientado no meio rural, onde vive o personagem central, um núcleo B, urbano, e um núcleo C, urbano, mas que denota um subúrbio. Se estivéssemos trabalhando sob a ótica de um romance, o personagem central viveria em A e percorreria sua trajetória entre B e C, apenas com o intuito de cumprir suas tarefas, viver seus conflitos e quiçá até voltar para A. O interessante é apontar que ao percorrer nos núcleos B e C, os personagens que lá habitam são apenas pontes para o enredo caminhar, e não fazem muita diferença, pois o enfoque narrativo está sob o personagem principal e não nos personagens de B e C. Os três núcleos são para fornecer a carga dramática para o personagem central. EXPLICANDO MELHOR Numa novela, os núcleos só são conectados pelo personagem principal, mas as tramas e conflitos dos personagens secundários funcionam de forma independentes do personagem principal. Isso pode ter interferência no final da novela. Num Romance, os três núcleos só poderiam sem engrenados se houvesse a intervenção do personagem principal, ele é a chave para todos os personagens, ele é a chave para toda a trama. Na novela, o personagem principal apenas perpassa nas tramas paralelas, sem ter nelas uma relação assertiva. Tópicos Avançados da Teoria Literária 41 Revisando Num romance, o enfoque está no personagem central e somente para ele tudo converge, ele de fato é o centro da trama. Na novela, os núcleos são o destaque, tendo o personagem principal apenas como um condutor para que suas tramas ganhem vida. Prova é que no final de uma telenovela é comum todos os personagens terem seus finais diante de tantas tramas ocorrendo ao mesmo tempo. Já no romance só existe um final, que é o do protagonista. Endossando nossos dizeres, Peterson José de Oliveira (2015), usando das lições de Massaud Moisés, assim explica: A sucessividade da novela também se caracteriza pela substituição dos personagens ao longo da trama. Desse modo, um personagem que era protagonista numa novela, na sequência [sic] da mesma ocupará um segundo plano, sendo substituído por um secundário que passa então a protagonista. O escritor teria a liberdade de continuar quase infinitamente a trama, por meio da sucessão de grupos de personagens. Neste momento a argumentação de Moisés deixa claro que os ciclos novelescos de que fala usam essa sucessividade do gênero. De todo modo, tal compreensão da novela vai na contramão de um senso mais generalizado sobre este gênero, segundo o qual as novelas são narrativas de menor fôlego que o romance. (OLIVEIRA, 2015, p. 146) Portanto, na novela, podemos dizer que as tramas são estruturadas e desenvolvidas PARA o personagem central e não POR ele, como seria costumeiramente desenvolvida em um romance ou conto. IMPORTANTE É importante destacar que regularmente as novelas costumam ter uma narrativa linear. Cronologicamente falando, isso quer dizer que boa parte delas não vão, necessariamente, usar de recursos de tempo como o psicológico. Sempre vamos ver uma incursão de tempo linear. Tópicos Avançados da Teoria Literária42 Isso é importante, pois vamos nos remeter mais uma vez aos exemplos das telenovelas. Se pensarmos que cada episódio equivalesse a um capítulo escrito, o que acontece hoje, terá repercussão amanhã, levando o leitor/expectador a querer sempre acompanhar a história inteira. Agora vamos perceber essa relação de episódio de novela com um capítulo de um romance. Na novela, principalmente, na televisiva, é comum termos imagens de todos os núcleos episódio por episódio; já num romance, é mais comum termos um capítulo dedicado a um personagem, outro capítulo dedicado a outro personagem e assim por diante, inclusive, isso é o que garante a esse último gênero o recurso de trabalhar em diversas linhas temporais. Como já deve ter notado, embora o gênero novela possua característica distintas, elas não são privativas suas, ou seja, em que pese podermos avistar traços singularizantes na novela, essas não são inteiramente suas, podendo serem usadas em romances, contos ou em outro gênero narrativo. RESUMINDO O romance é um gênero narrativo considerado novo, que proporciona ao autor uma gama infinita de possibilidades estéticas e narrativas. Embora comungue em muitos aspectos com a novela, essa, por sua vez, tem alguns traços sutis que a diferencia do romance. Espero que você tenha gostado de mais um encontro. Tópicos Avançados da Teoria Literária 43 Composição das Narrativas INTRODUÇÃO Neste capítulo, vamos iniciar discussões sobre o que é a narrativa, bem como apresentar de forma preambular algumas de suas características, preparando, você, aluno, para a unidade quatro. Preparado? Nas unidades anteriores, podemos observar características e elementos proeminentes numa narrativa. Isso pode fazer com que as leituras até aqui façam com que você, aluno, possa achar esse assunto exaurido. Porém, isso é um equívoco. Relembre-se que, desde o início, reforçamos sempre que a Literatura não encontra limites. Contudo, sempre avigoramos que trataríamos no transcorrer das unidades suas fronteiras acadêmicas no intuito de analisar detalhes científicos. Como se deve ter notado, não há muitos conceitos prontos, ou canônicos, tendo que, em muitos casos, o observador, cientista ou estudante tomar para si seus próprios conceitos. Nesta esteira, iremos retomar os elementos da prosa, universalizando-os com os da narrativa. Nesse sentido, muitos autores com muito empenho tentaram dissecar o tema aqui proposto a ponto de termos um certo denominador comum para fins de estudo. E é sobre esse denominador comum que trataremos neste capítulo. Tópicos Avançados da Teoria Literária44 Origem das NarrativasA capacidade de narrar é inata a atividade humana. Posto que, no reino animal, cada espécie com sua forma particular de linguagem narra os acontecidos aos membros de sua comunidade, é observado que na atividade humana é onde encontramos riquezas de detalhes e uma proposta de expansão criativa que irá verter em arte. Exemplo Uma ratoeira só é eficiente com o primeiro ou os primeiros ratos. Uma vez que o primeiro rato é pego, e ali é morto, os membros da comunidade de ratos avisam uns aos outros que aquele objeto é mortífero para qualquer membro, deixando o aparelho ineficiente para futuras capturas. Já com as formigas cortadeiras, é possível observar que ao menor impedimento no trajeto cuidadosamente e anteriormente eleito, elas, por meio de expressões de linguagens físicas, comunicam-se para que um novo trajeto seja criado, tornando-se uma nova passagem ou, dependendo das circunstâncias, é avisado que elas retornem todas em segurança para o formigueiro, a fim de servir de abrigo contra eventuais perigos. Embora possamos elogiar e reconhecer os sistemas linguísticos de outros animais, é na atividade humana que a linguagem toma suas proporções mais interessantes por conta dos mecanismos de narrativa. Posto o homem ter não somente a capacidade de se comunicar, narrando veridicamente uma história, ele também é capaz de produzir um conteúdo verossimilhante, dando à narrativa características poéticas. Barthes (2002) afirma que: [...] a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da humanidade; não há, nunca houve em lugar nenhum povo algum sem narrativa; todas as classes, todos os grupos humanos têm as suas narrativas, muitas vezes essas narrativas são apreciadas em comum por homens de culturas Tópicos Avançados da Teoria Literária 45 diferentes, até mesmo opostas: a narrativa zomba da boa e da má literatura: internacional, trans-histórica, transcultural, a narrativa está sempre presente, como a vida. (BARTHES, 2002, p. 103-104) EXPLICANDO MELHOR Neste esboço, podemos afirmar que uma narrativa impinge no receptor uma ideia de encadeamento de acontecimentos interligados, os quais poderão ser transmitidos por linha temporal verídica ou fictícia. Aqui, para os nossos estudos, não trataremos de uma narrativa verídica, pois deixaremos para os que querem seguir carreiras que usam a linguagem denotativa como seu padrão, tais como repórteres, jornalistas, historiadores etc. Aqui, faremos referência às estórias, ou seja, àquelas narrativas que usam a linguagem conotativa, obras ficcionais literárias. Atualmente, as obras narrativas existem em diversas modalidades e gêneros, sendo publicadas nos mais variados meios de comunicação. Desse modo, embora não possamos precisar em quantos meios podemos encontrar as narrativas, podemos afirmar que elas têm alguns padrões ou elementos estruturais. Tópicos Avançados da Teoria Literária46 Sobre Tema, Assunto e Mensagem de uma Narrativa Quando nos referimos primeiramente ao tema de uma narrativa, acenamos também para dizer que estamos nos referindo ao assunto e à mensagem a que diz respeito ao que é narrado. Os três conceitos estão intimamente ligados, ao ponto de muitos autores tratarem como a mesma coisa. Contudo, acreditamos que existam sutis diferenças entre eles. Voltando ao tema em específico, é interessante alinhar que não é um elemento da narrativa que seja plenamente visível, ou seja, algo apalpável. IMPORTANTE É imperioso dizer que, mesmo não estando dentro estrutura da narrativa, o tema é por assepsia a essência da estória. Dessa forma, o tema é o fio condutor que irá transportar o receptor a um assunto por meio da narrativa, levando-o a uma mensagem conclusiva, o que convencionalmente chamamos de moral da história. Meu caro, é pertinente falar que a moral da história nem sempre está no final do texto narrativo, podendo estar ventilada em todo texto. Também é importante falar que ela não precisa estar necessariamente explícita no texto. Para que possamos, então, diferenciar os termos aqui tratados, trazemos as falas de Gancho (2013), que assim os diferencia: a. Tema é a ideia em torno da qual se desenvolve a história. Pode- se identificá-lo, pois corresponde a um substantivo (ou expressão substantiva) abstrato(a). b. Assunto é a concretização do tema, isto é, como o tema aparece desenvolvido no enredo. Pode-se identificá-lo nos fatos da história e Tópicos Avançados da Teoria Literária 47 corresponde geralmente a um substantivo (ou expressão substantiva) concreto (a). c. Mensagem é um pensamento ou conclusão que se pode depreender da história lida ou ouvida. Configura-se como uma frase. (GANCHO, 2013, p. 30) Como se vê, um leitor mais atento, um pesquisador mais prudente, irá constatar o tema e o assunto de pronto, contudo, “[...] o tema, a rigor, seria um elemento imaterial, ao passo que o assunto seria um elemento material” (CARDOSO, 2001 p. 42). Exemplo Para exemplificar melhor, tomaremos posse de um exemplo constante no livro Teoria e prática de leitura, apreensão e produção de texto, de João Batista Cardoso, publicado em 2001: Um texto narrativo cujo tema são os direitos humanos, por exemplo, não precisa citar esta expressão, mas remete a ela se o autor estiver mostrando uma situação em que o personagem sofre com a opressão vinda de um poder mais forte, contra o qual não pode lutar. O preconceito de qualquer tipo faz parte desse tema. Os direitos humanos são também subjacentes às lutas pela libertação dos escravos e à situação em que viviam. Sendo assim, o tema de um texto que trata da escravidão é, geralmente, direitos humanos. (...) Supõe-se que o leitor esteja analisando, durante uma prova com respostas objetivas, um texto cujo tema seja, por exemplo, a escravidão; se numa questão em que se pergunta sobre o tema houver várias opções para assinalar, deve-se considerar o fato de, não ocorrendo entre as opções os direitos humanos, mas se ocorrer a opção preconceito, ser esse o tema do texto, porque preconceito é tema anexo (subconjunto) do tema maior (conjunto universo) dos direitos humanos. (CARDOSO, 2001, p. 41) Tópicos Avançados da Teoria Literária48 Assim, o tema “direito humanos” está ventilado dentro de assuntos tais como escravidão e preconceito. NOTA Não podemos identificar o tema ou o assunto de uma obra preliminarmente pelo seu título, haja vista que, em vários casos, o título tem conceitos divergentes do que se é tratado. Isso é muito comum na cultura pop, pois, muitas vezes, o título de uma obra é inspirado por fatos alheios e não pelo enredo em específico. Tal fato pode ser verificado em letras de músicas, nomes de quadros, ocorrendo em menor número em obras literárias. Enredo Condecoramos o enredo como o conjunto de eventos que se sobrevêm de modo sistemático numa estória, dos quais participam as personagens. Ele também é denominado pelos estudiosos como a ação, a trama ou a intriga. Para conduzir os personagens, dando ação a trama, toda narrativa passa por uma sistematização de eventos, dos quais dissecaremos agora. a. Na “situação inicial” podemos observar que são apresentados personagens e suas peculiaridades. Feito isso, em seguida, ocorre algo com o protagonista que é posto num conflito que o obriga a partir para uma jornada a fim de reparar o mal causado, indicando o início do desenvolvimento. b. O “desenvolvimento”, também chamado de complicação, é a parte da trama que a torna mais extensa do enredo. Aqui, toda sobrecarga dramática é vivida em decorrência do conflito, uma vez que o protagonista terá que achar ou encontrar uma forma de solver o mal causado. Tópicos Avançados da Teoria Literária 49 IMPORTANTE Destacamos aqui que, neste ponto em específico, história avançará mostrando contingências e peripécias doprotagonista criando no expectador anseios e expectativas pela busca da conclusão. Essa conclusão, por sua vez, não é necessariamente entaramelada com o que sucedera no desenvolvimento, mas é um “ponto final” da história, fornecendo um ponto de vista pelo qual se prestou todo o enredo. c. A “conclusão” é o momento do enredo que oferece a dissolução do conflito, manifestando por completo a essência da obra e, assim, sua mensagem ou moral. É aqui que reside o clímax e o desfecho, costumeiramente vistos ao final da estória: • O clímax é o evento no qual o conflito chega ao seu ápice, para, em seguida, ser solvido. É o clímax o ponto de convergência entre todos os componentes da narrativa. • O desfecho, também chamado de desenlace, ocorre após a resolução do conflito, mostrando frequentemente o destino das personagens. Os desfechos se dão das mais variadas formas, podendo serem: felizes, surpreendentes, trágicos, cômicos etc. Devemos, assim, fechar este tópico sobre o enredo conclamando as lições de Aristóteles quando este afirma que: A parte mais importante é a da organização dos fatos, pois a tragédia é a imitação, não de homens, mas de ações, da vida, da felicidade e da infelicidade (pois a infelicidade resulta também da atividade), sendo o fim que se pretende alcançar o resultado de uma certa maneira de agir, e não de uma maneira de ser. (ARISTÓTELES, 2000, p. 248) O filósofo grego, falando dos gêneros narrativos poéticos de sua era, registrou para nós a importância de uma sequência lógica e organizada de fatos para atingir a poeticidade necessária ao que se presta em fazer, que é contar de forma verossimilhante um fato ocorrido. Tópicos Avançados da Teoria Literária50 Considerações Preliminares Sobre Outros Elementos da Narrativa Na unidade vincenda, ou seja, na unidade IV, continuaremos a tratar com bastante a finco a estrutura narrativa com seus outros pilares, quais sejam: o tempo, o espaço (ambiente), o narrador e as personagens. Todavia, aqui, falaremos superficialmente desses elementos como introdução para o que veremos num futuro próximo. Sem muitas pretensões em entregar para ti, aluno, uma afirmação inteiramente precisa, uma vez que, como sempre dissemos, estamos trabalhando com termos muito relativos, entendemos que o tempo seja o elemento mais importante da narrativa. Quando estudamos a narrativa dos mitos, por exemplo, no tocante à descrição de como surgiu o universo, ou a Terra, vemos que o tempo é o senhor de todas as coisas, é ele quem tudo inicia e tudo termina, é ele o Alfa e o Ômega. Exemplo Na narrativa judaico-cristã, no início, nada havia, e Deus criou a luz. Na narrativa mítica grega, no início, nada havia, exceto o Caos, uma mistura de várias coisas que iria criar o princípio do universo e seus titãs. Na mitologia escandinava, o tempo só passou a existir para nós com a intervenção de Odin, que a partir de seus prodígios criou o mundo e o homem. Poderíamos falar de outras tantas mitologias para aqui exemplificar. Mas se bem observarmos, nenhuma mitologia irá dizer o que havia antes do tempo, mas irá escolher o ponto temporal determinante para que o tempo passasse a existir para nós. O homem sempre soube de sua característica finita, mortal e por isso marcou suas narrativas míticas a partir do momento que passaram a existir. Com a definição de tempo estabelecida, o homem inicia o processo de intervenção espacial, delimitando o seu espaço de atuação. Se o tempo é algo intangível, o espaço é algo apalpável. Tópicos Avançados da Teoria Literária 51 A construção espacial do homem está para o universo de eventos que ele consegue observar. Exemplo Em muitas histórias isso fica nítido, mas, para exemplificar, vamos tomar por base a película cinematográfica O Rei Leão, de 1994. Ainda no início do enredo, Mufasa, atual rei, olhando para o horizonte com seu filho ainda muito jovem, Simba, diz o seguinte: - Olhe, Simba. Tudo isso que o sol toca é nosso reino. - Uau. Responde Simba. O enredo, que tem características de uma fábula, mostra os animais com condutas e características psicológicas humanas. Nesse trecho em especial, deixa-se claro que o universo conhecido é aquele em que a visão pode ser apreendida. Toda história é contada por alguém, pressupõe-se que este alguém ou tenha participado da ação, ou tenha ouvido falar por alguém os acontecidos da trama, a esse contador chamamos de narrador. Seus aspectos são ilimitados, pois é por ele que fala o autor, é por ele que o autor mostra toda sua estilística. É ele quem tudo controla. Todos os elementos temporais, espaciais e todos os movimentos dos personagens passam por esse elemento que é onipresente, onisciente e onipotente. Os personagens são, dessa forma, apenas peças de um tabuleiro, instrumentos da condução das pretensões do autor para execução do tema do enredo. Tópicos Avançados da Teoria Literária52 RESUMINDO A atividade narrativa integra a atividade social do homem. Toda narrativa requer de tema, assunto e mensagem para a construção de um enredo, o qual, por sua vez, traz sempre uma mesma estrutura, apresentando, assim, uma situação inicial, um desenvolvimento e uma conclusão, sendo este último dividido em clímax e desfecho. De todas características narrativas, o tempo é talvez a mais importante, pois é por ele que todos os outros elementos são configurados, desde as narrativas mitológicas até os dias de hoje. O espaço, geralmente, irá tomar para si, visões do universo observável. Já os personagens têm papel importante, uma vez que são os instrumentos que darão ação a narrativa. Tópicos Avançados da Teoria Literária 53 REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Arte poética. In: Arte retórica e Arte poética. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000. BARTHES, R. A aventura semiológica. 9. ed. Paris: Seuil, 2002. BAKHTIN, M. Epos e romance: sobre a metodologia do estudo do romance. In: Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. 4. ed. São Paulo: UNESP-HUCITEC, 1998, p. 397–428. CARDOSO, J. B. Teoria e prática de leitura, apreensão e produção de texto. São Paulo: Editora: Edunb, 2001. CORTÁZAR, J. Alguns aspectos do conto e Do conto breve e seus arredores Valise de Cronópio. 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