Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Processos Proliferativos Não Neoplásicos Introdução - São lesões proliferativas – com crescimento tecidual – mas não são neoplásicos, tem início por causa de traumas físicos, irritações, acúmulo de biofilme, resumindo, trata-se de uma resposta exagerada do tecido frente a algum problema; → Hiperplasia Fibrosa → Hiperplasia Fibrosa Inflamatória → Granuloma Piogênico → Lesão de Células Gigantes !!! Central !!! Periférica → Fibroma Ossificante Periférico - Todos esses processos proliferativos são relativamente comuns. Hiperplasia Fibrosa - É uma das lesões mais frequentes na cavidade oral; - Trata-se de uma hiperplasia reacional do tecido conjuntivo fibroso em resposta à irritação ou trauma local de crescimento lento; → Características Clínicas e Radiográficas - Embora possa ocorrer em qualquer lugar da boca, a localização mais comum é a mucosa jugal, ao longo da linha de oclusão; - Presumivelmente, isto é uma consequência do trauma da mordida na bochecha; - A mucosa labial, a língua e a gengiva também são localizações comuns. Além disso, é provável que muitos fibromas gengivais representem uma maturação fibrosa de um granuloma piogênico preexistente; - Tipicamente, a lesão se apresenta como um nódulo de superfície lisa e coloração rosada, similar à coloração da mucosa circunjacente; - Em pacientes negros, o aumento de volume pode demonstrar uma pigmentação cinza- acastanhada. Em alguns casos, a superfície pode se apresentar branca em decorrência da hiperceratose, resultante da irritação contínua; - Muitos fibromas são sésseis, embora alguns sejam pedunculados – base menor que o corpo. Seus tamanhos podem variar de pequenas lesões, com apenas poucos milímetros de diâmetro, a grandes aumentos de volume com muitos centímetros de diâmetro, entretanto, a maioria dos fibromas tem 1,5 cm ou menos de diâmetro; - A lesão usualmente não produz sintomas, a menos que ocorram ulcerações traumáticas secundárias em sua superfície. Os fibromas de irritação são mais comuns da quarta à sexta década de vida, e a proporção homem-mulher dos casos submetidos à biópsia é de 1:2; OBS.: A hiperplasia do freio é um tipo comum de hiperplasia fibrosa que ocorre mais frequentemente no freio labial superior, ela se apresenta como pequenos crescimentos exofíticos – se desenvolve ou está do lado externo do órgão ou estrutura – assintomáticos aderidos à fina superfície do freio. → Tratamento e Prognóstico - O fibroma de irritação é tratado pela excisão cirúrgica conservadora; - A recidiva é extremamente rara. Entretanto, é importante que o tecido excisado seja encaminhado para exame microscópico, já que outros tumores benignos e malignos podem mimetizar a aparência clínica de um fibroma; - Pelo fato de a hiperplasia do freio ser pequena, crescimentos não expressivos que são facilmente diagnosticados clinicamente, geralmente nenhum tratamento é necessário. Hiperplasia Fibrosa Inflamatória - A epúlide fissurada é uma hiperplasia de tecido conjuntivo fibroso, semelhante a um tumor, que se desenvolve em associação com as bordas de uma prótese total ou parcial mal adaptada; - Embora o simples termo epúlide seja, algumas vezes, usado como sinônimo de epúlide fissurada, epúlide é, na verdade, um termo genérico que pode ser aplicado a qualquer tumor da gengiva ou do rebordo alveolar. Desse modo, alguns autores defendem a não utilização deste termo, preferindo denominar a lesão de hiperplasia fibrosa inflamatória ou utilizar outras denominações descritivas; → Características Clínicas e Radiográficas - Tipicamente a epúlide fissurada se apresenta como uma única prega ou múltiplas pregas de tecido hiperplásico no vestíbulo alveolar; - Mais frequentemente, duas pregas de tecido estão presentes, e as bordas da prótese associada se encaixam perfeitamente dentro da fissura entre as pregas; OBS.: Antigamente, devido a presença da câmara de sucção – depressão/dispositivo presente nas próteses para aumentar a instabilidade dela – era possível observar um crescimento do tecido para dentro dela, formando uma área elevada de tecido no palato – hiperplasia por câmara de sucção. Nesse caso, o tratamento não precisa ser cirúrgico, podia-se apenas preencher essa câmara com resina, e a pressão gerada faria o excesso de tecido sumir/regredir, diferente das pregas, que não somem. - O tecido redundante usualmente é firme e fibroso, embora algumas lesões se apresentem eritematosas e ulceradas, semelhantes ao granuloma piogênico. Ocasionalmente, observa- se áreas de hiperplasia papilar inflamatória em sua superfície; - O tamanho da lesão pode variar de hiperplasias localizadas menores que 1 cm, a grandes lesões que envolvem grande parte da extensão do vestíbulo; - Usualmente se desenvolve na face vestibular do rebordo alveolar, embora lesões ocasionais possam ser vistas na face lingual do rebordo alveolar inferior; - Ocorre mais comumente em adultos de meia- idade e em idosos, como era de se esperar para uma lesão relacionada ao uso de prótese. Pode ocorrer tanto na maxila quanto na mandíbula, sendo a porção anterior dos ossos maxilares mais afetada do que as porções posteriores; - Há uma pronunciada predileção pelo gênero feminino; → Tratamento e Prognóstico - O tratamento consiste na remoção cirúrgica, com exame microscópico do tecido removido. A prótese mal adaptada deve ser refeita ou corrigida para prevenir a recidiva da lesão. Granuloma Piogênico - O granuloma piogênico é um crescimento semelhante a tumor da cavidade oral que, tradicionalmente, tem sido considerado como tendo natureza não-neoplásica; - Embora originalmente se acreditasse que a lesão fosse causada por organismos piogênicos – que geram pus – atualmente acredita-se que não esteja relacionada a infecção; - Acredita-se que o granuloma piogênico represente uma resposta tecidual a um irritante local ou a um trauma – acúmulo de placa também pode gerar um granuloma. Apesar de seu nome, não é um granuloma verdadeiro; → Características Clínicas e Radiográficas - O granuloma piogênico é um aumento de volume com superfície lisa ou lobulada, que usualmente é pedunculada, embora algumas lesões sejam sésseis; - A superfície é caracteristicamente ulcerada e varia do rosa ao vermelho ao roxo, dependendo da idade da lesão – granulomas piogênicos jovens têm aparência altamente vascular, enquanto lesões mais antigas tendem a se tornar mais colagenizadas e apresentar coloração rosa; - Seu tamanho pode variar de pequenos crescimentos com poucos milímetros, a grandes lesões que podem medir vários centímetros de diâmetro; - Tipicamente, o crescimento é indolor, embora em geral sangre facilmente devido à sua extrema vascularização; - Os granulomas piogênicos podem exibir um crescimento rápido, o que pode alarmar tanto o paciente quanto o clínico, que poderão temer uma lesão maligna; - Marcante predileção pela gengiva – lesões são ligeiramente mais comuns na gengiva superior do que na gengiva inferior, sendo as áreas anteriores mais frequentemente afetadas do que as posteriores – representando 75% dos casos. Essas lesões são mais comuns na face vestibular da gengiva do que na face lingual, sendo que algumas lesões estendem-se por entre os dentes, envolvendo tanto a gengiva vestibular quanto a lingual. Em muitos pacientes, a irritação e a inflamação gengivais resultantes da má higiene oral podem ser fatores precipitadores; - Os lábios, a língua e a mucosa jugal são as outras localizações mais comuns. Não é incomum uma história de trauma antes do desenvolvimento da lesão, especialmente para os granulomas piogênicos extragengivais; - Embora o granuloma piogênico possa se desenvolver em qualquer faixa etária, ele é mais comum em crianças e adultos jovens. Muitos estudos também demonstram uma predileção pelogênero feminino, possivelmente devido aos efeitos vasculares dos hormônios femininos; OBS.: Os granulomas piogênicos da gengiva frequentemente se desenvolvem em mulheres grávidas, quando os termos tumor gravídicos ou granuloma gravídico geralmente são usados. O crescimento gradual no desenvolvimento destas lesões durante a gravidez pode estar relacionado ao aumento dos níveis de estrogênio e progesterona com a progressão da gravidez. Após a gravidez, com o retorno dos níveis hormonais normais, alguns destes granulomas piogênicos resolvem-se sem tratamento ou sofrem maturação fibrosa e lembram um fibroma. Caso necessário, o tratamento deve ser postergado, a menos que se desenvolvam problemas funcionais ou estéticos significativos. A taxa de recidiva é alta para os granulomas piogênicos removidos durante a gravidez, e algumas lesões irão se resolver espontaneamente após o parto. → Diagnóstico Diferencial - Lesão periférica de células gigantes; - Hiperplasia – fibrosa – gengival inflamatória; - Fibroma Ossificante periférico; → Tratamento e Prognóstico - O tratamento dos pacientes com granuloma piogênico consiste na excisão cirúrgica conservadora – para lesões gengivais, a excisão deve ser estendida para a região subperióstica e os dentes adjacentes devem ser raspados de modo eficaz, para remover qualquer fonte de irritação contínua – que usualmente é curativa; - O espécime deve ser submetido a exame microscópico para afastar o diagnóstico de lesões mais graves. Ocasionalmente, a lesão recidiva, e a reexcisão é necessária. Em raras situações são notadas múltiplas recidivas. Lesão Periférica de Células Gigantes - O granuloma periférico de células gigantes é um crescimento semelhante a tumor relativamente comum na cavidade oral; - Provavelmente não representa uma neoplasia verdadeira, mas sim uma lesão reacional causada por irritação local ou trauma; - O granuloma periférico de células gigantes apresenta características microscópicas muito semelhantes às do granuloma de células gigantes central; → Características Clínicas e Radiográficas - Ocorre exclusivamente na gengiva ou no rebordo alveolar edêntulo, apresentando-se como um aumento de volume nodular de coloração que varia do vermelho ao vermelho- azulado; - A maioria das lesões têm menos que 2 cm de diâmetro, embora grandes lesões sejam vistas ocasionalmente; - A lesão pode ser séssil ou pedunculada, e pode ou não ser ulcerada; - A aparência clínica é semelhante ao mais comum granuloma piogênico da gengiva, embora o granuloma periférico de células gigantes seja geralmente mais azul-arroxeado, comparado ao vermelho-brilhante de um granuloma piogênico típico. Pode se desenvolver em praticamente qualquer idade, especialmente da primeira à sexta década de vida. Aproximadamente 60% dos casos ocorrem em mulheres; - A lesão pode se desenvolver tanto na região anterior como na região posterior da gengiva ou do rebordo alveolar, sendo a mandíbula ligeiramente mais afetada do que a maxila; - Embora o granuloma periférico de células gigantes desenvolva-se dentro dos tecidos moles, algumas vezes pode ser observada uma reabsorção em forma de “taça” do osso alveolar subjacente – diagnóstico diferencial para granuloma piogênico; → Diagnóstico Diferencial - Granuloma piogênico; - Hiperplasia – fibrosa – gengival inflamatória; - Fibroma Ossificante periférico; → Tratamento e Prognóstico - O tratamento do granuloma periférico de células gigantes consiste na excisão cirúrgica local, abaixo do osso subjacente; - Os dentes adjacentes devem ser cuidadosamente raspados para remover qualquer fonte de irritação e minimizar o risco de recidiva; - É relatada recidiva em aproximadamente 10% dos casos, e a reexcisão deve ser feita. Lesão Central de Células Gigantes - O granuloma de células gigantes é considerado uma lesão não-neoplásica. Algumas lesões apresentam comportamento agressivo similar ao de um neoplasma; - É incerto e controverso se tumores de células gigantes verdadeiros ocorrem nos ossos gnáticos. Da mesma forma, não é certo se alguns casos atualmente relatados de granulomas de células gigantes extragnáticos representam tumores de células gigantes verdadeiros; → Características Clínicas e Radiográficas - Podem ser encontrados granulomas de células gigantes em pacientes variando de 2 a 80 anos de idade, embora mais de 60% de todos os casos ocorram antes dos 30 anos de idade; - Embora a proporção entre os gêneros varie em diferentes revisões, a maioria dos granulomas de células gigantes são notados em mulheres e aproximadamente 70% surgem na mandíbula. As lesões são mais comuns nas porções anteriores dos ossos gnáticos, e as lesões mandibulares frequentemente cruzam a linha média; - Muitos granulomas de células gigantes dos ossos gnáticos são assintomáticos e chamam atenção primeiramente durante um exame radiográfico de rotina como resultado de expansão indolor do osso afetado. Entretanto, uma minoria de casos pode estar associada a dor, parestesia ou perfuração da tábua óssea cortical, resultando ocasionalmente em ulceração da superfície da mucosa pela lesão subjacente; - Com base nas características clínicas e radiográficas, as lesões centrais de células gigantes dos ossos gnáticos podem ser divididas em duas categorias: !!! Lesões não-agressivas constituem a maioria dos casos e exibem poucos ou nenhum sintoma, demonstram crescimento lento e não mostram perfuração da cortical ou reabsorção radicular dos dentes envolvidos na lesão; !!! Lesões agressivas são caracterizadas por dor, crescimento rápido, perfuração da cortical e reabsorção radicular. Elas mostram acentuada tendência a recidivar após o tratamento, comparadas com os tipos não-agressivos; - Radiograficamente, as lesões centrais de células gigantes aparecem como defeitos radiolúcidos que podem ser uniloculares – podem ser confundidas com granulomas periapicais ou cistos – ou multiloculares – não podem ser distinguidas radiograficamente de ameloblastomas ou outras lesões multiloculares. O defeito é geralmente bem delimitado, mas as margens comumente são desprovidas de halo radiopaco; - As lesões podem variar de 5 × 5 mm a uma lesão destrutiva maior que 10 cm de tamanho. Os achados radiográficos não são específicos para o diagnóstico; - A maioria dos granulomas de células gigantes são lesões únicas, raramente é visto envolvimento multifocal em pacientes que não demonstram evidência de doença associada, como hiperparatireoidismo ou querubismo; → Tratamento e Prognóstico - São geralmente tratadas com curetagem cuidadosa. Em relatos de grandes séries de casos, a taxa de recidiva varia de 11% a 50% ou mais. Muitos estudos indicam uma taxa de recorrência de cerca de 15% a 20%; - Aquelas lesões consideradas potencialmente agressivas em bases clínicas e radiográficas mostram maior frequência de recidiva. Muitos investigadores têm notado uma propensão para recidiva entre os pacientes mais jovens. Lesões recidivantes frequentemente respondem à curetagem adicional, embora lesões agressivas requeiram cirurgias mais radicais para a cura; - Em pacientes com tumores agressivos, três alternativas à cirurgia estão sendo investigadas: corticosteroides, calcitonina e interferon alfa-2ª. Fibroma Ossificante Periférico - É um crescimento gengival relativamente comum, que é considerado mais como uma lesão de natureza reacional do que de natureza neoplásica; A patogênese desta lesão é incerta. Devido às suas semelhanças clínicas e histopatológicas, acredita-se que alguns fibromas ossificantes periféricos desenvolvam-se inicialmente como granulomas piogênicos que sofrem maturação fibrosa e subsequente calcificação; - Entretanto, nem todos os fibromas ossificantes periféricos podem se desenvolver dessa maneira. O produto mineralizado provavelmente se origina de células do periósteoou do ligamento periodontal; → Características Clínicas - Ocorre exclusivamente na gengiva; - Apresenta-se como uma massa nodular, séssil ou pedunculada, que usualmente se origina da papila interdental. A coloração varia do vermelho ao rosa, e a superfície é frequentemente, mas nem sempre, ulcerada; - O crescimento provavelmente se inicia como uma lesão ulcerada. As lesões mais antigas comumente mostram a cicatrização da úlcera e uma superfície intacta; - Muitas lesões medem menos de 2 cm, embora ocasionalmente possam ocorrer grandes lesões. As lesões geralmente estão presentes por muitas semanas ou meses antes do diagnóstico ser feito; - É uma lesão predominantemente de adolescentes e adultos jovens, com um pico de prevalência entre os 10 e os 19 anos de idade. Quase dois terços de todos os casos ocorrem em mulheres; - Há uma discreta predileção pelo arco maxilar, e mais de 50% de todos os casos ocorrem na região de incisivos e caninos; - Usualmente, os dentes não são afetados, podendo raramente ocorrer migração e perda dos dentes adjacentes; → Diagnóstico Diferencial - Granuloma piogênico; - Hiperplasia – fibrosa – gengival inflamatória; - Lesão periférica de células gigantes; → Tratamento e Prognóstico - O tratamento de escolha para o fibroma ossificante periférico é a excisão cirúrgica local, com o envio do espécime para o exame histopatológico; - A excisão do aumento de volume deve ser feita subperiosticamente, já que as recidivas são mais comuns se a base da lesão permanecer. Além disso, os dentes adjacentes devem ser vigorosamente raspados para eliminar qualquer possível irritação; - Técnicas cirúrgicas periodontais, como os retalhos reposicionados ou enxertos de tecido conjuntivo, podem ser necessárias para reparar esteticamente os defeitos gengivais. Embora a excisão seja usualmente curativa, uma taxa de recidiva de 8% a 16% têm sido relatada.
Compartilhar