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Curso de Direito Civil (Paulo Nader)_ Direitos da Personalidade

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63. DIREITOS DA PERSONALIDADE	Comment by Adriano S Prazeres: 
Histórico do DP (Direitos da Personalidade)
Estes direitos individuais, que possuem por único fato jurídico o nascimento com vida, apenas chegaram às legislações com o famoso Código Civil alemão, de 1900. A previsão legal foi precedida, no âmbito da Filosofia do Direito, pela doutrina francesa e alemã do fim do século XIX. O interesse pelo estudo da matéria teria sido despertado, segundo Maria Celina Bodin de Moraes, pelo artigo “The Right to Privacy” ("O Direito à Privacidade", em inglês), publicado em 1890, na revista Harvard Law Review. O Código Beviláqua foi omisso a respeito, embora a sua promulgação tenha ocorrido dezesseis anos após o BGB.
63.1. Conceito	Comment by Adriano S Prazeres: Conceito do DP
Inovou o legislador de 2002, em matéria dos direitos da personalidade, abrindo um leque normativo sobre temas anteriormente entregues a leis diversas, à doutrina e à jurisprudência. Os direitos em epígrafe decorrem unicamente da condição humana e visam a proteger os atributos da personalidade. Não se confundem com os direitos humanos, mas deles se desprendem. Pode-se dizer que os direitos da personalidade constituem expressão do Direito Natural, porque são a-históricos, derivam da ordem natural das coisas e são revelados pela participação conjunta da razão e experiência. Por isto mesmo não expressam uma nacionalidade, mas um elemento humano do Direito. Embora o rico conteúdo da matéria, o legislador pátrio optou por dispor da temática em poucos artigos. Conforme depoimento de Miguel Reale, tal atitude foi proposital, a fim de permitir que os subsídios da doutrina e da jurisprudência se somem à visão do legislador: “Tratando-se de matéria de per si complexa e de significação ética essencial, foi preferido o enunciado de poucas normas dotadas de rigor e clareza, cujos objetivos permitirão os naturais desenvolvimentos da doutrina e da jurisprudência”.
O princípio básico do qual derivam todos os direitos da personalidade é o relativo ao direito à vida. O jurista Roberto Rosas também sustenta esta opinião, ao dizer que “O Direito da Personalidade vai surgir em decorrência de um princípio constitucional do respeito à vida, a partir da concepção, protegendo, assim, o nascituro. Em consequência, derivam-se outros aspectos do Direito da Personalidade, como o direito ao nome, à imagem e à intimidade, proteções que a Constituição explicitamente traz e resguarda”. Titular dos direitos da personalidade é o cidadão, terminologia adotada também no sentido político de eleitor. A qualidade da pessoa protegida pela gama de direitos inerentes à personalidade chama-se cidadania. Por esta, expressa-se também ao poder de votar e de ser votado.
O Código Civil anterior não dispôs sobre a matéria, de acordo com a observação de José Carlos Moreira Alves, porque se discutia, na época, se haveria direitos subjetivos da personalidade, uma vez que alguns não os admitiam sob o argumento de que o ser humano não pode, ao mesmo tempo, ser sujeito e objeto de um direito.
63.2. Características	Comment by Adriano S Prazeres: Características do DP
Os direitos de personalidade, malgrado algumas opiniões em contrário, constituem direitos subjetivos. Como todo direito se origina de um fato jurídico lato sensu, os direitos da personalidade decorrem do nascimento. Este fato instaura uma relação jurídica, na qual a pessoa figura como portadora de direito subjetivo, ocupando o polo ativo, e a coletividade integra o polo passivo, assumindo a titularidade do dever jurídico. Aquele se denomina sujeito ativo da relação jurídica, enquanto a coletividade se apresenta como sujeito passivo. Depreende-se desta análise que os direitos subjetivos são absolutos, ou seja, oponíveis contra todos – erga omnes. Os próprios atributos da pessoa figuram como objeto da relação, entendendo-se o termo objeto do ponto de vista lógico. Assim, a coletividade é portadora de deveres jurídicos omissivos, segundo os quais deverá respeitar o nome, a honra, a individualidade do semelhante.
Os direitos da personalidade são intransmissíveis, irrenunciáveis, imprescritíveis e, conforme análise supra, absolutos. Porque defluem diretamente da personalidade, isto é, do modo de ser próprio da pessoa, algo relacionado à sua natureza, não há como alterar o polo ativo das relações jurídicas quando o objeto é um bem que integra a personalidade. “A” não pode transferir para “B” os direitos de personalidade dos quais é detentor da titularidade. A pessoa pode autorizar que alguém utilize o seu nome em propaganda comercial, mas não pode transmitir os direitos inerentes ao próprio nome. São direitos irrenunciáveis por natureza e por definição legal. O titular não pode despojar-se de seu direito, desintegrando-o de sua personalidade. São ainda imprescritíveis, ou seja, não cessam com o passar do tempo. São vitalícios. O titular de tais direitos não tem disponibilidade sobre os mesmos, não podendo, assim, voluntariamente consentir em sua limitação, como prescreve o art. 11, in fine, do Código Civil. Pode-se acrescentar ainda, não obstante implícito em tudo quanto se escreveu aqui, que os direitos da personalidade se acham fora do comércio. Nulo, de pleno direito, o negócio jurídico que tenha por objeto a alienação de uma peça anatômica.
63.3. Objeto dos direitos da personalidade	Comment by Adriano S Prazeres: Objetos do DP
Do elenco apresentado pelo Código Civil, ex vi do disposto nos artigos 11 ao 21, apuram-se cinco classes de direitos subjetivos protegidos: a) tutela física: caput do art. 13 e art. 15; b) tutela mista ou concomitante: art. 20; c) tutela do nome e pseudônimo: artigo 16 usque 18; d) tutela da honra: art. 17; e) tutela da privacidade: art. 21.
63.3.1.Tutela física
Sendo da natureza dos direitos da personalidade a indisponibilidade, coerentemente, a lei veda a automutilação, sempre que não decorra de exigência médica. É possível a amputação de um membro, por exemplo, motivada por gangrena capaz de comprometer outras partes do físico. Não o será quando a causa determinante for ato de protesto ou pretexto para se pleitear beneficio previdenciário ou indenização de seguro.
As intervenções médicas, sobretudo as cirúrgicas, devem ser programadas entre o profissional e o paciente, seu responsável, cônjuge ou parente. Qualquer ação de risco não autorizada poderá ser impedida mediante recurso processual próprio, como prevê, desnecessariamente, o caput do art. 12. Diferentemente se a intervenção se impõe com toda urgência, como se dá em desastres e tragédias, quando não há tempo suficiente ou informações para os contatos.
Embora a indisponibilidade do direito à vida e, conseguintemente, do corpo que lhe dá sustentação, a Lei Civil reconheceu, em condições especiais, o princípio de doação de órgãos no período de vida do doador ou para depois de sua morte. Quanto à primeira hipótese, o legislador remete o intérprete à legislação especial, mas estabelecendo duas condições: a) não importar o ato em diminuição permanente da integridade física; b) não contrariar os bons costumes. O exemplo mais comum desta espécie é de doação de rim entre pessoas da mesma família, não apenas porque a solidariedade tende a ser maior neste núcleo, como porque a probabilidade de rejeição do órgão pelo paciente receptor é menor. Tal situação está prevista no art. 13 do Código Civil.
A segunda hipótese configura a modalidade mais comum de doação e se destina a produzir efeito após a morte do doador, com a extração de órgãos ou peças anatômicas do cadáver. Pode ter destinação científica ou altruística. A hipótese é tratada no art. 14 da Lei Civil, sendo que o aproveitamento de partes do corpo se dá quase sempre após algum acidente. A disponibilidade requer declaração de vontade, que pode ser revogada a qualquer momento. A sociedade se conscientiza de que a doação, nos termos da lei, é ato de afirmação de solidariedade humana. Quando se tira ou se renova carteira de identidade ou carteira nacional de habilitação, nelas deve constar a condição ounão de doador de órgãos.
63.3.2.Tutela mista ou concomitante
A utilização do nome, palavra ou imagem da pessoa não pode ser objeto de divulgação por qualquer meio, sem a devida autorização e sempre que nociva à honra, boa fama, respeitabilidade ou se destinarem a fins comerciais. No corpo do art. 20, o legislador protege: a) a produção intelectual; b) a honra; c) o interesse contra exploração comercial.
63.3.3.Nome e pseudônimo
Em primeiro lugar, a ordem jurídica garante à cada pessoa, indistintamente, o direito ao nome, que se constitui por prenome e sobrenome. Como regra geral o prenome é imutável. Em qualquer caso, a mudança pressupõe autorização judicial, sendo obrigatória a intervenção do Ministério Público.
A lei autoriza a mudança do prenome em algumas situações: a) para retificações ortográficas (art. 110 da Lei de Registros Públicos); b) quando expõe a pessoa ao ridículo (art. 55 da LRP); c) substituição por apelido público notório (Lei nº 9.708/98); d) para efeito de proteção, quando houver coação ou ameaça decorrente de colaboração com o Ministério Público em apuração de crime (Lei nº 9.807/99); e) em caso de adoção (art. 1.627 do Código Civil); f) ao transexual é reconhecido o direito de mudança do prenome, inclusive antes do ato cirúrgico de mudança do sexo, quando notório é o sexo psíquico e a necessidade de evitar constrangimentos para o interessado. Além de tais hipóteses, permite-se ao jovem, ao completar 18 anos, a alteração de seu nome, conservados os apelidos de família, consoante prevê o art. 56 da Lei de Registros Públicos. Esse direito poderá ser exercitado no prazo de um ano, diretamente pelo interessado ou por seu procurador. A alteração deverá ser averbada e publicada pela imprensa.
Acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro autorizou a retificação de nome, no registro de nascimento, para a inclusão do patronímico de quem criou a pessoa. Ao reformar a decisão de primeiro grau, o acórdão reconheceu que a decisão monocrática vira o fato “apenas e tão somente com sua adequação a textos legais, que exigem aprofundamento na análise da lei e sua repercussão no campo social”. Em decisão inédita, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que é juridicamente possível uma viúva retornar ao nome de solteira. Em seus considerandos, o relator, Ministro Carlos Alberto Direito, declarou que “a dissolução do casamento gera para a mulher a possibilidade de retorno ao nome de solteira, e que o mesmo princípio pode ser adotado com relação à morte do consorte, para a restauração do nome anterior”.
Valorizando a relação sócioafetiva, a lei permite ao interessado, justificadamente, requerer ao juiz a averbação, em seu registro de nascimento, do nome de família de seu padrasto ou madrasta, mediante concordância destes por escrito. A alteração prevista se limita à ampliação do nome, sem a supressão dos apelidos de família. O permissivo legal, que modificou o art. 57 da Lei de Registros Públicos, acrescentando-lhe o § 8º, foi introduzido pela Lei nº 11.924, de 17.04.2009.
A jurisprudência tem admitido, como anota Carlos Roberto Gonçalves, a tradução de nomes estrangeiros, a fim de facilitar a sua adaptação ao novo meio. Em acórdão sobre pleito de retificação de nome, o Superior Tribunal de Justiça, em feito relatado pelo eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, considera: “O que se pretende com o nome civil é a real individualização da pessoa perante à família e à sociedade.” Ser conhecido por uma denominação não é suficiente, para aquela egrégia corte, para fins de retificação de nome. Apreciando recurso especial, decidiu que “Não se justifica a alteração do nome o simples fato de ser o interessado conhecido profissionalmente pela sua forma abreviada.” Em outro feito, deliberou que “a lei não autoriza a fragmentação de prenome.” Relativamente ao conflito entre os chamados sexo biológico e sexo registral, há precedentes com autorização de mudança nos assentamentos.
O nome constitui um patrimônio moral da pessoa. Há profissionais que, ao longo dos anos e por força de seu valor pessoal, mérito, conseguem projetá-lo perante o público, tornando-se alvo muitas vezes de exploração alheia indevida. A utilização do nome de alguém em propaganda comercial requer a sua autorização prévia. Em segundo lugar, a lei veda a sua utilização em publicações ou representações, capazes de provocar o desprezo social. A mesma proteção dada ao nome se estende ao pseudônimo, desde que adotado para atividade lícita. Pseudônimo é recurso literário pelo qual alguém adota nome fictício sob as motivações mais diversas. Os brasileiros iniciados em literatura sabem que Tristão de Ataíde é o pseudônimo empregado, durante muitos anos, por um grande pensador católico e humanista que foi Alceu de Amoroso Lima. Os nomes artísticos também se inserem no âmbito de proteção.
A tutela deste direito da personalidade se faz impedindo o uso do nome e pseudônimo por outras pessoas, garantindo o seu uso pelo titular do direito e permitindo a sua modificação nos casos previstos em lei.
Com o casamento, qualquer dos nubentes pode acrescer ao seu nome de solteiro o sobrenome do outro cônjuge, conforme o permissivo do art. 1.565, § 1º. A autorização legal limita-se a tanto, sendo vedada a supressão ou alteração do nome ou sobrenome de solteiro. O acréscimo ao sobrenome pode efetuar-se não apenas no ato do casamento, mas também posteriormente e a qualquer tempo, como já decidiu a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (REsp 910.094). Igual direito assiste aos companheiros durante a união estável.
63.3.4.Tutela da honra
Sem prejuízo de eventual enquadramento criminal, uma vez que ofensa à honra pode caracterizar os crimes de calúnia, injúria ou difamação, configura ilícito civil a hipótese do art. 17 em que, mediante publicações ou representações, o nome da pessoa é exposto ao ridículo. Tutela-se diretamente o nome e indiretamente a honra da pessoa atingida. Nos meios de comunicação, há periódicos que se alimentam do sensacionalismo, colocando em risco a fama alheia. Tais procedimentos, ainda que sem intuito difamatório, ensejam ação de reparação de danos morais.
63.3.5.Tutela da privacidade
As pessoas que exercem função pública, ou que se projetam de qualquer modo no mundo da fama, são visadas e tornam-se permanente tema de exploração na imprensa em geral, seja mediante fotografias, colunas sociais, reportagens. Os arts. 20 e 21 do Código Civil, nestes casos, tutelam apenas a vida privada, a que diz respeito ao âmbito pessoal, familiar. É evidente que se exclui da proibição os episódios que envolvam crimes. A parte interessada poderá recorrer ao Judiciário para a retirada de circulação de publicação geradora de danos morais ou materiais. À vista do aparente conflito entre o direito à liberdade de expressão e o direito à privacidade, o Supremo Tribunal Federal se posicionou contra a censura prévia e rejeitou a tese de autorização como exigência necessária à publicação de biografias.
A lei não proíbe o uso da imagem, tanto que não condiciona a sua utilização inocente à prévia autorização. O que a lei visa é coibir o abuso, o uso indevido que provoque constrangimentos, ofensa à honra, boa fama e respeitabilidade.
Ainda sob a vigência do Código Civil de 1916, mas à vista do que dispõe a Constituição Federal, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, tendo por relator o Min. Carlos Velloso, julgou procedente pedido de indenização por dano moral por motivo de publicação, não consentida, de fotografias, reconhecendo assim o direito à imagem. A instância inferior havia dado procedência parcial ao pedido, reconhecendo apenas a ocorrência de dano material devido à exploração das fotos da autora, dada a sua condição de atriz, negando-lhe o outro pleito uma vez não tivesse ocorrido “qualquer abalo à sua imagem”. A Suprema Corte entendeu que “o acórdão recorrido emprestara ao dano moral caráter restritivo, ofendendo, assim, o art. 5º, X, da CF”. O quantum fixado para o dano material foi repetido no valor da reparação moral: 21,51 saláriosmínimos.
Atualmente, desenvolve-se na doutrina, com repercussão nos tribunais, o chamado direito ao esquecimento, que constitui um direito da personalidade. Não sendo fato histórico, não se justificaria, no presente, a abordagem, na mídia, de acontecimentos do passado, devidamente apurados e observada a lei, quando a sua revivescência puder provocar dor moral nas pessoas envolvidas. Em março de 2013, a VI Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal, aprovou, neste sentido, o Enunciado 531.
63.4. A defesa dos direitos da personalidade
Os dispositivos legais que visam à proteção da privacidade não constituem leges mere poenales, isto é, não cuidam tão somente da previsão de penalidades na ocorrência de violação de seus preceitos. O art. 12 da Lei Civil, pelo caput prevê, genericamente, o direito à indenização por perdas e danos decorrentes de violação dos direitos da personalidade. Despicienda a disposição à vista do princípio genérico do art. 927 (v. item 63.5). Quase sempre, quando se recorre ao Judiciário, está-se diante de fato consumado, não restando outro caminho senão o de se pleitear ressarcimento, além de eventual procedimento criminal. Os órgãos da administração pública e o judiciário podem, todavia, atuar preventivamente, evitando que a violação dos direitos se concretize. Aliás, a finalidade primordial do Direito é esta, mediante dispositivos de intimidação, evitar a quebra da harmonia e da paz social.
Não se está minimizando, neste breve comentário, o papel do Direito como instrumento de progresso e ainda como fórmulas éticas de cunho pedagógico. A referência é ao conjunto de recursos e de respostas de que dispõe em face de práticas ilícitas cogitadas, tentadas ou consumadas. Sempre que possível, aquele que se encontrar na iminência de sofrer lesão ou dano, deverá recorrer de imediato tanto à autoridade policial quanto à justiça. A ordem processual civil possui medidas capazes de serem acionadas eficazmente diante de urgências. Tão logo seja apresentada petição devidamente instruída e desde que presentes os requisitos que a autorizem, o juiz concederá liminarmente a medida cautelar pleiteada (art. 300, § 1º, do Código de P. Civil de 2015). É possível também a tutela antecipada nas ações cíveis (art. 273 do mesmo Código). Além destas medidas, conforme o caso, poderá o interessado impetrar mandado de segurança (art. 5º, LXIX, da Constituição Federal), tratando-se de direito líquido e certo a ser resguardado ou ingressar com uma ordem de habeas corpus (art. 5º, LXVIII, da CF), sempre que, ilegalmente, for vítima ou se encontrar na iminência de vir a sofrer coação ilegal.
63.5. Indenizações
A indenização por danos morais está prevista expressamente no ordenamento jurídico pátrio, ex vi do disposto nos incisos V e X, do art. 5º, da Constituição Federal, além dos preceitos contidos no capítulo do Código Civil referente aos direitos da personalidade. Para os casos de ofensa à honra ou dano à imagem veiculados pela imprensa, a Lei Maior prevê indenização por dano material e moral, além do direito de resposta (art. 5º, V). Também prevê indenização por dano moral e material para a hipótese de violação da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas. Na legislação ordinária, a obrigação de reparar os danos causados por ato ilícito, in genere, está prevista no art. 927 do Código Civil, que, singela e objetivamente, fixou o princípio da indenização, que tanto se aplica aos danos de ordem material e moral, uma vez que, após o advento da Constituição Federal de 1988, colocou-se um ponto final nas discussões quanto à possibilidade de ressarcimento por dano moral. Aliás, sobre este ponto, a doutrina e a jurisprudência anteciparam-se à Carta Magna. A Lei Civil, pelo conjunto dos arts. 186, 187 e 927, consagrou a teoria subjetiva, pela qual quem pleiteia tem o ônus de provar que o agente praticou o ato com culpa ou dolo. O parágrafo único do art. 927, todavia, abre exceções, admitindo a culpa objetiva nos casos especificados em lei e quando a atividade desenvolvida por quem causou o dano, por sua natureza, implique risco para as pessoas.
A legitimidade ativa para pleitear a indenização é da própria vítima e, na falta desta, sucessivamente, é do cônjuge sobrevivente, ou de qualquer parente em linha reta, ou colateral, até o 4º grau. É o disposto no parág. único do art. 12 do Código Civil. Se o ato ilícito, que deu origem ao direito à indenização, causou dano moral a qualquer um destes familiares, esses também terão legitimidade para requerer em nome próprio. Por outro lado, não há qualquer limite de idade para o exercício do direito, uma vez que basta ser pessoa para se alcançar a titularidade do direito subjetivo. O Superior Tribunal de Justiça, em feito que teve por relator o eminente Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, reconheceu a ocorrência de dano moral em recém-nascido, rejeitando, todavia,

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