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Aula 04 - Movimentos Literários - Parte IV_P_105

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Aula 04
Senado Federal (Técnico - Policial
Legislativo) Literatura Nacional -
Cebraspe 2022
Autor:
Luana Signorelli
03 de Dezembro de 2021
03164915195 - Willy Clayton Alves dos Santos
1 
 
Sumário 
Introdução ............................................................................................................................................... 3 
1 – Realismo: A Nova Linguagem da Representação ............................................................................ 3 
1.1 – Contexto Europeu ................................................................................................................. 7 
1.2 – O Cientificismo ...................................................................................................................... 9 
1.3 – Características Gerais do Realismo ..................................................................................... 11 
1.4 – Realismo versus Naturalismo .............................................................................................. 13 
1.5 – Quadro sinóptico de características ................................................................................... 17 
2 – Realismo e Naturalismo em Portugal .............................................................................................. 17 
2.1 – A Questão Coimbrã ............................................................................................................. 18 
2.2 – Antero de Quental ............................................................................................................... 20 
2.3 – Eça de Queirós ..................................................................................................................... 22 
3 – Realismo e Naturalismo no Brasil ................................................................................................... 36 
3.1 – Machado de Assis ................................................................................................................ 37 
 3.1.1 – Romances .................................................................................................................... 42 
 3.1.2 – Contos .......................................................................................................................... 54 
3.2 – Aluísio Azevedo .................................................................................................................. 56 
3.3 – Raul Pompéia ...................................................................................................................... 62 
4 – A Arte do Final do Século XIX ........................................................................................................ 66 
4.1 – Realismo .............................................................................................................................. 66 
4.2 – Impressionismo ................................................................................................................... 67 
4.3 – Rodin .................................................................................................................................... 68 
4.4 – Realismo no Brasil ............................................................................................................... 69 
4.5 – Intepretação de Obra Realista ............................................................................................ 69 
Luana Signorelli
Aula 04
Senado Federal (Técnico - Policial Legislativo) Literatura Nacional - Cebraspe 2022
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5 – Quadro Sinóptico ........................................................................................................................... 69 
6 – Crítica Literária .............................................................................................................................. 72 
7 – Lista de Questões ........................................................................................................................... 75 
8 – Gabarito ........................................................................................................................................ 85 
9 – Questões Comentadas .................................................................................................................... 85 
10 – Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 100 
10.1 – Referências Bibliográficas das Imagens .......................................................................... 101 
11 – Considerações FInais .................................................................................................................. 101 
 
 
 
 
 Professora Luana Signorelli 
 Instagram: @profa.luana.signorelli 
 Telegram: Luana Signorelli 
 Facebook: /luana.signorelli 
 YouTube: Professora Luana Signorelli 
 
 
Luana Signorelli
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Carruagem de terceira 
classe (1864) de Honoré 
Daumier (1808-1879). 
 
INTRODUÇÃO 
Olá, prezados concurseiros. 
Hoje nós vamos dar continuidade ao nosso Curso de Literatura para Técnico 
Legislativo/Policial Legislativo – Senado Federal 2020 em teoria e questões. Lembrem-se sempre do 
nosso lema: 
 
O segredo do sucesso é a constância no objetivo. 
 
Segundo o nosso cronograma de aulas, hoje estudaremos o seguinte: 
 
AULA TÓPICOS ABORDADOS DATA 
 
 
Aula 04 
Realismo e Naturalismo 
Características gerais. Tendências do século XIX. (cientificismo; 
evolucionismo; darwinismo; determinismo; positivismo). Diferenciação 
entre Realismo e Naturalismo. Contexto em Portugal: Eça de Queiroz e 
Antero de Quental. Contexto no Brasil: Machado de Assis, Aluísio de 
Azevedo e Raul Pompéia. 
 
 
05/10/2020 
 
Hoje abordaremos quadros sinópticos de obras mais importantes. O quadro sinóptico é um 
material de apoio que irá poder ajudá-los pouco antes da prova, por se tratar de conteúdos grandes 
com muita informação. Tanto é que se quiserem ler a obra inteira, cuidado com os spoilers. Hoje em 
particular, vamos fazer a interpretação de texto e a análise sintática ao longo da própria aula. 
 
Então, vamos lá, não percamos tempo! 
 
1 – REALISMO: A NOVA LINGUAGEM DA 
REPRESENTAÇÃO 
Vamos começar essa aula de hoje observando a figura abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luana Signorelli
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Este quadro expressa com muita clareza a nova estética realista. Impressiona, à primeira vista, 
a escolha dos indivíduos representados. O foco não é a elite, muito menos homens ou mulheres 
idealizados. O pintor escolheu passageiros da terceira classe, ou seja, pessoas que viviam em 
condições miseráveis, fato que pode ser observado nas roupas simples, no amontoado das gentes e 
no cansaço evidente dos personagens da primeira fila. Essa imagem traduz visualmente aquilo que o 
Realismo literário também expressa. 
Assim como na pintura, o cotidiano passa a ser matéria da literatura. Observe, a título de 
comparação, os dois fragmentos descritivos, um do Romantismo, outro do Realismo. 
 
 
 
DESCRIÇÃO ROMÂNTICA 
 “Afastemos indiscretamente uma dobra do reposteiro que 
recata a câmara nupcial. 
 É uma sala em quadro, toda ela de uma alvura deslumbrante, 
que realça o azul celeste do tapete de riço recamado de estrelas 
e a bela cor de ouro das cortinas e do estofo dos móveis. 
A um lado, duas estatuetas de bronze dourado 
representando o amor e a castidade sustentam uma cúpula ovalde forma ligeira, donde se desdobram até o pavimento, 
bambolins de cassa finíssima. 
[…] 
Correu-se uma cortina, e Aurélia entrou na câmara nupcial. 
Seu passo deslizou pela alcatifa de veludo azul marchetado de 
alcachofras de ouro, como o andar com que as deusas 
perlustravam no céu a galáxia quando subiam ao Olimpo.” 
(Senhora, José de Alencar) 
 
 
DESCRIÇÃO REALISTA 
“A carruagem parou ao pé de uma casa amarelada, com 
uma portinha pequena. Logo à entrada um cheiro mole e 
salobro enojou-a. A escada, de degraus gastos, subia 
ingrememente, apertada entre paredes onde a cal caía, e 
a umidade fizera nódoas. No patamar da sobreloja, uma 
janela com um gradeadozinho de arame, parda do pó 
acumulado, coberta de teias de aranha, coava a luz suja 
Luana Signorelli
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do saguão. E por trás de uma portinha, ao lado, sentia-se 
o ranger de um berço, o chorar doloroso de uma criança.” 
(O primo Basílio, Eça de Queirós) 
 
ANÁLISE DAS DESCRIÇÕES 
 
Nos dois casos, temos a descrição de um ambiente que servirá de cenário para o encontro 
amoroso: o quarto no qual Aurélia receberá Fernando Seixas, seu marido (Senhora); e o corredor que 
dá a acesso ao quarto alugado, no qual Luísa encontrará seu amante, Basílio (O primo Basílio). 
A cena, portanto, é bastante banal, prosaica. No caso da descrição romântica, José de Alencar 
tenta dar especialidade que um quarto não possui, o ambiente está acima do ordinário. Tal fato pode 
ser notado pelo uso de adjetivos tais como “deslumbrante”, “bela”, “finíssima”, mas não apenas por 
esses recursos. 
As duas estátuas representam o amor e a castidade e o narrador compara Aurélia com as 
deusas do Olimpo. Os objetos ao redor expressam a própria pureza da personagem e lhe dão 
superioridade moral. Sugere-se que, para uma pessoa tão nobre, até mesmo o ambiente é 
superlativo, mesmo que isso custe a verossimilhança e o bom gosto. 
 
Verossimilhança: essa palavra é muito importante para a 
crítica literária. Um texto literário é ficcional, ou seja, ele não 
versa sobre o que aconteceu, mas sobre o que poderia ter 
ocorrido. Apesar de ser fruto da imaginação, o romance tenta 
recriar um ambiente ou uma história que não poderia 
contrariar o espaço real ou o tempo cronológico. Por 
exemplo, o uso de um narrador morto em Memórias 
Póstumas de Brás Cubas é uma licença da verossimilhança. 
 
A escolha dos objetos que serão descritos não tem compromisso com o real, mas com o que 
eles simbolizam. O tapete é azul-celeste, numa alusão à natureza tão cara aos românticos. Essa 
tonalidade se contrapõe ao dourado das cortinas e estofados, cor relacionada à nobreza dos metais. 
Isso sem falar no outro tapete de veludo azul com bordado de alcachofra dourada. O único 
compromisso do autor é com a simbologia dos elementos descritos. 
Na descrição de Eça de Queirós, os elementos não têm qualquer significado. Ao enumerar, o 
narrador se mantém fiel à verossimilhança. O leitor deve ser convencido de que essa escada poderia 
ter existido, dada a descrição exaustiva de pequenos detalhes. 
Observe que não há transposição entre objeto e valores morais ou espirituais (uma escada 
não representa algo como pureza, por exemplo). A materialidade dos objetos se impõe, portanto 
nada é idealizado. Pelo contrário. 
Vale, nesse ponto, uma observação sobre os tipos de adjetivos e os efeitos produzidos no 
texto. Há atributos mais “objetivos” e outros “subjetivos”. Um vocábulo como “bem” ou “mal” 
reflete um julgamento de quem emite a opinião (subjetivo). Já as palavras “branco”, “liso”, “rugoso” 
etc. são independentes da vontade de quem descreve. Eça abusa desse expediente de objetividade. 
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Além disso, inclui adjetivos que revelam imperfeições em expressões como “casa amarelada”, 
“degraus gastos” e “luz suja”. 
Por fim, vale a pena destacar a escolha dos objetos a serem descritos. Ele faz questão de 
direcionar o olhar do leitor para detalhes que depõem contra o item descrito. Há nódoas na parede, 
pó acumulado, cal se despregando da parede etc. 
Deve ter ficado claro para você, corujinha esperta, que o Realismo parece ser o oposto do 
Romantismo. Vejamos o que escreveu sobre isso o maior nome do movimento em Portugal, Eça de 
Queirós. (LOPES; SARAIVA, 1985). 
 
"[O Realismo] É a negação da arte pela arte; é a 
proscrição do convencional, do enfático e do piegas. É a 
abolição da retórica considerada como arte de promover a 
comoção usando da inchação do período, da epilepsia da 
palavra, da congestão do tropos 'realismo'. 
 É a análise com o fito na verdade absoluta. – Por outro 
lado, o Realismo é uma reacção contra o Romantismo: o 
Romantismo era a apoteose do sentimento; – O Realismo é a 
anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos 
pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver 
de mau na nossa sociedade." 
 
 
 
 
ALMEIDA, Belmiro. Arrufos (1887). Disponível em: Ficheiro da Wikipedia. 
Disponível em: https://tinyurl.com/y65wgvdy. Acesso em: 24 set. 2020. 
 
Figura: Pixabay 
Luana Signorelli
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Pertencente ao Realismo, a obra de Belmiro Almeida caracteriza-se como uma falência da 
instituição do casamento na classe burguesa. Percebe-se a indiferença do homem para com o 
sofrimento da mulher, representado não só pelo semblante choroso dela, como também pela rosa 
caída no chão. O adultério e o fatalismo eram temas comuns representados na arte realista do século 
XIX. 
1.1 – Contexto Europeu 
 
Figura 1 – Referências da esquerda para a direita no sentido horário 
 
O século XIX foi abalado por uma série de revoltas e de ideias que mudariam a cara da Europa. 
Os conflitos refletiam a luta pela consolidação do poder da burguesia e a tensão entre proletários e 
proprietários. Em 1815, Napoleão é derrotado em Waterloo. No mesmo ano, os embaixadores de 
diversos países do continente se reúnem para redefinir as fronteiras entre as nações. Na prática, isso 
significou o retorno da monarquia ao poder. 
Em 1848, Paris assiste a uma nova revolta em moldes muito parecidos aos da Revolução 
Francesa. A burguesia, descontente com o governo monárquico, alia-se aos operários de Paris. Essa 
revolta foi vitoriosa para a rica classe social, mas não para o proletariado. Os operários organizam 
protestos que serão violentamente reprimidos em junho de 1848. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1840 
Proudhon 
publica O que 
é a 
propriedade 
privada?..., 
marco do 
Socialismo. 
Utópico. 
1848 
Marx publica 
O Manifesto 
Comunista. 
1857 
Gustave 
Flaubert 
publica 
Madame 
Bovary, 
marco do 
Realismo 
francês 
Luana Signorelli
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Novamente, em 1871, a luta entre burguesia nacional e operários se repete na França. Os 
proletários organizados tomam Paris e estabelecem um governo comunitário. A burguesia francesa, 
assustada e incapaz de fazer frente aos rebelados, alia-se a um inimigo histórico, a Alemanha, e 
consegue enfim vencer a guerra. 
Nesse percurso histórico, a divisão entre duas classes com interesses contraditórios se torna 
evidente. A “traição” da burguesia significa uma pá de cal nos anseios de uma sociedade mais justa, 
ideário promovido desde a Revolução Francesa. 
O impacto no pensamento político é grande com consequências nos movimentos sociais. Os 
dois grandes teóricosdo socialismo viveram no século XIX. Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), 
filósofo francês que, juntamente com outros escritores, lançou as bases do Anarquismo e do 
Socialismo Utópico (segundo Marx), escreveu O que é a propriedade? Pesquisa sobre o princípio do 
Direito e do governo. O pensador defendia a tese de que a propriedade é roubo. Imagine como a 
obra foi recebida pelas elites do mundo inteiro… 
O outro pensador, Karl Marx (1818-1883), filósofo, 
sociólogo, jornalista e revolucionário, escreveu O capital e O 
manifesto do Partido Comunista, um tratado analítico-panfletário 
que tinha o propósito de preparar as massas para a Revolução. 
Defendeu o “Socialismo Científico” para se opor às ideias de 
Proudhon que, para ele, eram ingênuas. 
Toda essa agitação social e política migra para a cultura. 
Escritores e artistas começam a representar a classe dos 
trabalhadores que se faz notar (como tema no quadro de Gustave 
Coubert, por exemplo). Além disso, esse gosto amargo de traição, 
resíduo de 1848 e 1871, tinge a forma como a burguesia se vê. O 
escritor, ele próprio filho dessa classe social, registra o cotidiano 
medíocre e hipócrita dessa nova ordem. Ao simplesmente 
registrar com senso crítico agudo, sem idealizar, como faziam os 
românticos, os escritores exibem a vergonha de uma nova era 
 
 
 
 
 
Então, o escritor era um burguês e 
falava mal da própria burguesia? 
Lembra-se da aula anterior que 
mencionou a grande ambiguidade da 
sociedade burguesa? Ela prometeu ideais 
libertários e precisa deles, mas não consegue 
cumpri-los. Dessa ambiguidade surgem os 
movimentos de ideias e movimentos literários. 
No Realismo essa crítica é mais cortante. 
 
 
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Fo
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te
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ix
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ay
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E de onde vinham as ideias que levaram operários e artistas a se revoltarem? 
 
É isso o que iremos estudar agora. 
 
 
1.2 – O Cientificismo 
No final do século XVIII, a Revolução Industrial muda as relações de trabalho. A introdução de 
máquinas como o tear mecânico, a fiandeira e a lançadeira móvel, entre outros equipamentos, 
aumenta a produtividade. Tais engenhocas, produtos de novas técnicas baseadas na racionalização 
dos processos de produção, aumentam a riqueza de forma exponencial. 
 A ciência/tecnologia deixa de ser área de interesse de diletantes empenhados em 
discutir o funcionamento do mundo para fazer parte do cotidiano. O conhecimento científico avança 
e impacta a saúde, a indústria, a agricultura e as comunicações. Foi possível usar conceitos de física 
para o uso controlado dos raios X, para a produção de eletricidade e para a invenção do telefone, só 
para citar alguns exemplos. 
O método utilizado pela ciência mostra-se tão eficiente 
que surge como tábua de salvação para a resolução de qualquer 
problema enfrentado pelo ser humano. Até para problemas 
políticos? Problemas sociais? Problemas de relacionamento? 
Vários pensadores acreditavam que sim. 
Se fosse possível encontrar as causas da ação humana e 
criar leis e teorias sobre esse mundo à parte da realidade física, 
seria viável organizar a sociedade de uma maneira mais 
eficiente. Essa ideia levou os pensadores a tentar estender o método científico para áreas 
aparentemente resistentes a esse artifício. É no século XIX que são lançadas as sementes da nova 
historiografia e geografia, da psicologia e da sociologia. 
 
 
 
A esse otimismo exagerado com o método científico e à tentativa de submeter 
outras áreas da vida humana a essa mesma lógica denominaremos cientificismo. 
Por conta do cenário de pandemia global devido à Covid-19, é muito provável que 
este tema seja explorado de alguma forma. 
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O primeiro ímpeto dessa tendência se traduz em várias teorias filosóficas: positivismo, 
darwinismo, evolucionismo, determinismo e o racismo científico. 
 
 
 
 
 
 
TEORIAS DO SÉCULO XIX 
 
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A literatura deve ser uma espécie de documento da sociedade, 
deve fazer refletir sobre a realidade social
CIENTIFICISMO 
Incluir no texto literário a 
visão:
Positivista, determinista, 
darwinista 
ESTILO /TEMAS
Observação da realidade, 
descricionismo, análise 
psicológica
 
 
 
 
Nesse contexto, os escritores tentam dar um outro status à Literatura. Não se trata de um 
texto ficcional para entreter leitoras, mas uma narrativa com forte carga de verossimilhança capaz 
de provar as ideias cientificistas da época. Torna-se comum, nesse período, o gênero romance de 
tese, no qual o autor cria uma história muito próxima da realidade para provar uma opinião. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
• Sistema criado por Auguste Comte (1798-1857). Considerada a ciência como modelo
por excelência do conhecimento humano em detrimento das especulações metafísicas
(místicas) ou teológicas. Tudo poderia e deveria ser explicado e organizado pelo
conhecimento científico.
POSITIVISMO
• Conjunto de doutrinas que dão sustentação à tese positivias, pois considera a
concepção filosófica evolucionista – o desenvolvimento inevitável do real em direção a
estados mais aperfeiçoados – um modelo explicativo fundamental para o incessante
fluxo de transformação do mundo natural, biológico e espiritual (Dicionário Houaiss
Eletrônico/modificado).
EVOLUCIONISMO
• Aplicação não justificada cientificamente do conceito de seleção natural de Charles
Robert Darwin (1809-1882) na compreensão das relações humanas. A análise social é
feita pela ótica da luta e da lei do mais forte ou do mais apto. Percebe-se a
solidariedade como um artifício social que mascara os conflitos.
DARWINISMO
• Princípio segundo o qual os fenômenos, inclusive sociais, estão ligados entre si por
rígidas relações de causalidade e leis universais que excluem o acaso, a
indeterminação e a liberdade. Segundo essa ideia, o homem é determinado pela raça,
pela história e pelo ambiente. Como se o lema fosse: “Diga-me a que raça você
pertence, onde você mora e sua época histórica e direi quem você é”.
DETERMINISMO
• É a crença pseudocientífica de que existem evidências que justificam a superioridade
de uma raça sobre outra. Usando como critério o desenvolvimento da escrita e da
ciência, ou europeus acreditavam que a raça branca era superior; a amarela,
intermediária, e a negra e a indígena, inferiores, por não terem nem escrita nem
técnicas sofisticadas.
RACISMO CIENTÍFICO OU BIOLÓGICO
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1.3 – Características Gerais do Realismo 
Vamos resumir o que já vimos? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O QUE É OBJETIVIDADE E COMO IDENTIFICÁ-LA NO TEXTO? 
Objetividade se refere a um estilo pautado por recursos linguísticos cujos efeitos levam o 
leitor a acreditar que aquela opinião tem caráter geral, e não particular. 
Objetividade vem da palavra “objeto” e se refere à forma analítica e impessoal como tratamos 
determinado assunto. Se tivermos de fazer um texto sobre, por exemplo, uma cadeira, adotaremos 
uma linguagem com poucos adjetivos valorativos, poucos advérbios e faremos uma enumeração de 
traços que não despertaria qualquer emoção. Essa situação mudaria de figura se alguém pedisse que 
você descrevesse a cadeira onde seu avô, de quem você tem muitas saudades, se sentava 
regularmente. Um jornalista que cobre uma tragédia, por mais emocionado que esteja, deveadequar 
a linguagem para que ela seja informativa, não emotiva. 
Observe o exemplo abaixo. A linguagem científica com seus termos precisos, uso da terceira pessoa 
e referencialidade cria a ilusão de uma verdade inquestionável. A poesia vai em outra direção. O 
poeta se vale da primeira pessoa, utiliza figuras de linguagem, pontuação expressiva para criar a 
ilusão de que se expressa uma emoção, mesmo que o assunto seja astronomia. 
 
OBJETIVIDADE SUBJETIVIDADE 
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POR QUE AS ESTRELAS TÊM CORES DIFERENTES? 
PETRÔNIO DE TILIO NETO, 12 ANOS, JAÚ (SP). 
(...) 
RAMIRO DE LA REZA, DO OBSERVATÓRIO 
NACIONAL DO RIO DE JANEIRO (RJ), RESPONDE: 
 
AS ESTRELAS TÊM CORES DIFERENTES PORQUE TÊM 
TEMPERATURAS DIFERENTES. AS CORES SÃO 
DEFINIDAS APENAS PELAS EMISSÕES NA CHAMADA 
FAIXA ÓPTICA, A REGIÃO DO ESPECTRO QUE O OLHO 
HUMANO, NU OU COM LUNETA, É CAPAZ DE 
CAPTAR. O OLHO HUMANO NÃO VÊ, POR EXEMPLO, 
NEM NO INFRAVERMELHO NEM NO ULTRAVIOLETA. 
DA FAIXA VISÍVEL, SUA EFICIÊNCIA É MAIOR NO 
AMARELO. 
FOLHA DE SÃO PAULO – CADERNO MAIS! 
01/08/93. 
“Ouvir Estrelas” 
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, 
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, 
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto 
E abro as janelas, pálido de espanto... 
 
E conversamos toda a noite, 
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto, 
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, 
Inda as procuro pelo céu deserto. 
 
Direis agora: “Tresloucado amigo! 
Que conversas com elas? Que sentido 
Tem o que dizem, quando estão contigo?” 
 
E eu vos direi: “Amai para entendê-las! 
Pois só quem ama pode ter ouvido 
Capaz de ouvir e de entender estrelas”. 
 
O que você vai encontrar no movimento do Realismo? 
 
 
 
 
 
 
 
Crítica à burguesia, à família, ao casamento, à Igreja e ao clero
Combate à idealização romântica
Visão objetiva da 
realidade
Descritivismo; 
verossimilhança
Realce aos defeitos e 
imperfeições
Personagens complexas 
(esféricas): profundidade 
psicológica.
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1.4 – Realismo versus Naturalismo 
Assim como no Romantismo ocorreu uma vertente exagerada em relação aos pressupostos 
do movimento, no Realismo acontece algo parecido a partir de dois autores que dão respostas 
diferentes aos desafios impostos pelo século XIX. 
Gustave Flaubert (1821-1880), escritor francês, dá início ao Realismo com a publicação de 
Madame Bovary (1857). O público, acostumado às histórias adocicadas de heroínas virgens que 
finalmente encontravam o amor verdadeiro, espantou-se com a narrativa de uma mulher já casada 
e fútil, que se entregava a um amante que passa pela cidade onde mora. A história parecia cotidiana 
demais e imoral demais para a sensibilidade da época. Além disso, os leitores se irritaram com a 
descrição quase fotográfica das cenas. 
O romance foi proibido e Flaubert foi acusado de 
“imoralidade”. Os críticos perceberam que se expunha a 
hipocrisia burguesa no coração da própria classe, a família, e 
acusavam o autor de investir contra sua própria classe social. Essa 
é a vertente que define o Realismo. 
Já o francês Émile Zola (1840-1902) tomou outro caminho. 
Ele não foi apenas um escritor, mas também jornalista e 
importante crítico político. Em 1866, publica Thérèse Raquin, 
obra em que mistura ficção com as ideias cientificistas, 
compondo aquilo que se convencionou chamar de “romance de 
tese”, um gênero ficcional cuja histórica tem a finalidade de 
revelar uma verdade social. 
Mas é com Germinal que o autor consolida essa nova 
vertente que ficará conhecida como Naturalismo. O protagonista 
do romance não é exatamente um herói solitário, mas um 
personagem coletivo, os trabalhadores de uma mina de carvão 
que, motivados pelas péssimas condições em que viviam e pelos 
ideais socialistas, revoltam-se e organizam uma greve geral. A 
manifestação é reprimida com violência. Para escrever a obra, 
Zola passou dois meses trabalhando em uma mina de carvão. O Naturalismo surge como uma grande 
novidade temática (inclusive no que diz respeito à aproximação com a ciência). 
Além disso, Zola se vale de uma linguagem sem rodeios, utiliza termos considerados “não 
literários” e inclui algumas palavras próprias das ciências naturais. Para se ter uma ideia, seguem dois 
fragmentos textuais do Naturalismo: um do próprio Zola (Germinal) e outro de Aluísio Azevedo (O 
homem). 
 
TEXTO I 
“o poço engolia magotes de vinte e de trinta homens, e com tal facilidade que 
nem parecia senti-los pela goela.” 
“[...] a corda, para dar o sinal embaixo, era puxada quatro vezes, convenção 
que queria dizer 'aí vai carne' e que avisava da descida desse carregamento de 
carne humana.” 
Émile Zola 
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TEXTO II 
“Pobre velha! Consumia-se numa infernal complicação de moléstias; eram 
intestinos, era cabeça, eram pernas, era o diabo! Parecia uma decomposição em 
vida: fedia como coisa podre! Já se não alimentava pela boca; os seus gemidos eram 
arrotos de ovo choco, e os humores que ela expelia por toda a parte do corpo 
empesteavam a casa inteira. […]” 
 
Perceberam como o personagem, nesses casos, não têm qualquer especialidade? A tese dos 
naturalistas é a de que o homem não se diferencia do animal. Como expressar isso? 
 
 
 
 
Pense rápido, qual a diferença entre homem e animal? A racionalidade. Tire a razão, resta o 
quê? O corpo. Eles irão focalizar o corpo usando os seguintes recursos: 
Comparações entre homens e animais (zoomorfismo). Exemplo: “daquele lameiro, e 
multiplicar-se como larvas no esterco” (O cortiço, Aluísio Azevedo). 
 Destacar aspectos fisiológicos que nos igualam aos animais, o cheiro, o hálito, o suor etc. 
Exemplo: “os seus gemidos eram arrotos de ovo choco”. 
 Focalizar comportamentos movidos pelo instinto. Exemplo: “Não era a inteligência nem a 
razão o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e desconfiado de toda a fêmea pelas 
outras, quando sente o seu ninho exposto.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REALISMO NATURALISMO 
Origem: França (1857) 
Gustave Flaubert – Madame Bovary 
Origem: França (1867) 
Émile Zola – Thérèse Raquin 
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Representava desvios morais. Representava desvios sociais e sexuais, 
mazelas. 
Romance documental, fotografa a realidade 
para dar impressão de vida real, 
psicologismo. Retrato da alta burguesia da 
segunda metade do século XIX. 
Romance experimental, que pretende 
apoiar-se na experimentação científica e 
numa tese, no determinismo, no 
evolucionismo, no homem é fruto do meio. 
Impassibilidade. Narrador em um ângulo 
neutro, não há interesse em agradar ao 
público, mas sim em retratar a realidade tal 
qual ela é. 
Arte engajada, preocupações políticas e 
sociais. 
Seleciona os temas, tem aspirações 
estéticas. 
Detém-se nos aspectos mais torpes e 
degradantes. 
Reproduz a realidade exterior bem como a 
interior, por meio da análise psicológica. 
Centra-se nos aspectos externos: atos, 
gestos, ambientes, personagens e seus 
instintos, animalização, zoomorfismo. 
Volta-se para a psicologia, para o indivíduo. 
Nomes: Dom Casmurro, Quincas Borba, 
Memórias póstumas de Brás Cubas. 
Volta-se para o coletivo, para a biologia, a 
patologia, centra-se mais no social. 
Retrata e critica as classes dominantes, a 
alta burguesia. 
Espelhacamadas inferiores: o 
proletariado, os marginais, o povão. 
É indireto na interpretação, o leitor tira as 
suas conclusões: sutil, sugere. 
É direto na interpretação, expõe 
conclusões, cabendo ao leitor aceitá-las ou 
discuti-las: grotesco, mostra. 
Grande preocupação com o estilo. O estilo é relegado ao segundo plano; no 
primeiro, há denúncia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eis abaixo outros conceitos quanto à Literatura do período que podem lhes ajudar. 
 
LIBERDADE DETERMINISMO 
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OUTRORA UMA NOVELA ROMÂNTICA, EM LUGAR 
DE ESTUDAR O HOMEM, INVENTAVA-O. 
Hoje o romance estuda-o na sua realidade 
social. 
 OUTRORA NO DRAMA, NO ROMANCE, 
CONCEBIA-SE O JOGO DAS PAIXÕES A PRIORI. 
Hoje, analisa-se a posteriori, por processos 
tão exatos como os da própria fisiologia. 
 
 
 
O Romantismo partia do princípio (a priori) de que o homem era livre e, nas 
narrativas, os protagonistas tinham a liberdade de inventar desejos que poderiam ser 
satisfeitos pela força de vontade; o Realismo partia da análise posterior (a posteriori), 
sob a perspectiva de que o homem não tinha liberdade e de que o personagem 
simplesmente seguia as determinações do seu instinto ou de seu meio social. 
 
Fatalismo. Doutrina segundo a qual os acontecimentos 
são fixados com antecedência pelo destino; atitude 
moral ou intelectual segundo a qual tudo acontece 
porque tem de acontecer, sem que nada possa 
modificar o rumo dos acontecimentos; atitude dos que 
acreditam nessas ideias; doutrina filosófica que 
propensa um rígido determino, equivalente à curva 
mítica ou religiosa na inexorabilidade do destino 
(dicionário Houaiss). Exemplo: no romance Anna 
Kariênina do realista russo Liév Tolstói, a protagonista 
presencia no início do livro uma pessoa que morreu 
sobre os trilhos do trem, sendo que ao fim do romance 
ela decide se suicidar da mesma maneira. 
 
1.5 – Quadro sinóptico de características 
 
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2 – REALISMO E NATURALISMO EM PORTUGAL 
QUESTÕES RELEVANTES/CONSEQUÊNCIAS 
 1865: Questão Coimbrã. 
 1915: Publicação da Revista Orpheu → Modernismo. 
 
 
 
• Enfrentamento da realidade (Realismo) e não fuga da realidade (Romantismo)
• Análise (Realismo) e não fantasia (Romantismo)
• Racionalidade (Realismo) e não sentimentalismo (Romantismo)
• Relações humanas baseadas no interesse financeiro (Realismo) e não relações
humanas baseadas no idealismo (Romantismo)
• Adultério (Realismo) e não amor eterno (Romantismo)
REALISMO
• Mistura entre ficção e cientificismo (Positivismo; Darwinismo; Determinismo)
• Temas: agrupamentos sociais, comportamentos pautados pelos instintos (violência,
adultério, homossexualidade).
• Forma: linguagem simples, agressiva, às vezes chula; incorporação de termos
cientificistas; zoomorfismo; destaque a aspectos fisiológicos.
• Romance de tese.
NATURALISMO
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Se há duas palavras que podem definir a segunda metade do século XX para os portugueses, 
estas palavras são “crise” e “humilhação”. Depois da perda do Brasil como colônia, Portugal não 
conseguiu mais se estabilizar. A partir do momento em que a Monarquia Constitucional se consolida 
no país, uma questão parece assombrar os intelectuais lusitanos: como fazer para tirar o país do 
atraso em que ele se encontra? 
Essa questão se tornará ainda mais contundente pelo fato de que Portugal, finalmente, se 
ligará por via férrea a Paris. A circulação física de pessoas leva à circulação de ideias. Desembarcam, 
no solo de Camões, todas as vertentes do cientificismo que encontrarão nas mentes dos jovens de 
Coimbra uma boa acolhida. 
A pobreza grassa no país. A maior fonte de renda continua a ser o Brasil – imigrantes que 
partem para a ex-colônia fazem remessas generosas de dinheiro. A fundação do partido comunista 
demonstra a influência estrangeira e a existência de um movimento organizado em torno do 
operariado ou do campesinato. 
Em 1890, o Reino Unido exige a retirada imediata das forças militares portuguesas da região 
compreendida entre Angola e Moçambique, na África. Portugal, sem condições de resistir, cede aos 
caprichos ingleses sem sequer tentar uma negociação. A antiga potência marítima teve de renunciar 
às suas pretensões, de forma humilhante. 
Some-se a isso a bancarrota financeira de 1891 e você entenderá o pessimismo e o ponto de 
vista crítico que irão pairar sobre o país. 
 
 
2.1 – A Questão Coimbrã 
A situação de Portugal era a seguinte: diante de um país que dormia em berço esplêndido, a 
Universidade de Coimbra se mantinha como polo de divulgação das ideias gestadas na longínqua 
“Europa”, que já estava na segunda Revolução Industrial. Os jovens que circulavam nesse ambiente 
acadêmico não se conformavam com a pasmaceira lusitana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1836 1871
 
 1814 
1875 1891 
Revolução 
de Setembro 
Ultimato 
Britânico/ 
Crise 
financeira 
Conferências do 
Casino Lisbonense 
Fundação 
do Partido 
Socialista 
Bancarrota 
do Estado 
português 
 
1890 
1850-1864 - Linhas 
Férreas/ Interligação 
com a Europa 
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A questão coimbrã representa, no plano cultural, esse grito de alerta. Em resumo, a questão 
opunha os poetas românticos com sua literatura conformista aos jovens coimbrãos que defendiam 
um caráter revolucionário na literatura. 
 
 
 
Fonte das imagens: Pixabay. 
 
 
Essa polêmica, apesar de ser restrita aos círculos intelectuais, levou à difusão dos ideais 
realistas. O movimento se consolidará em 1871, no que ficou conhecido como Conferências do 
Casino Lisbonense. Antero de Quental, influenciado por Proudhon, propôs a um grupo de intelectuais 
que discutissem as novas ideias científicas e a situação de Portugal. 
Entre as conferências, algumas chamavam atenção até pelo título, “Causas da decadência dos 
povos peninsulares”, “Os historiadores críticos de Jesus” e “O socialismo”. Somente cinco das dez 
Feliciano de Castilho (1800-1875), 
representante da 1ª geração romântica 
e defensor da arte espiritual do 
Romantismo, ao escrever o prefácio do 
livro de Pinheiro Chagas, critica os 
jovens de Coimbra. 
 
 
 
 A Questão Coimbrã em 4 lances 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
v 
 
Antero de Quental (1842-1891), jovem 
poeta, publica o livro Odes Modernas, 
no qual defende que a poesia deve ser 
revolucionária. 
Antero de Quental escreve uma carta 
aberta que circula em Coimbra e 
Lisboa. Sob o título “bom senso e bom 
gosto”, ele ataca diretamente Castilho: 
“A futilidade num velho desgosta-me 
tanto como a gravidade numa criança. 
V. ex.ª precisa menos cincoenta annos 
de edade, ou então mais cincoenta de 
reflexão.” Pinheiro Chagas (1842-1895), poeta 
romântico protegido de Feliciano de 
Castilho, responde acusando Antero de 
um materialismo ambíguo. 
 
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programadas ocorreram, pois as últimas foram proibidas a pretexto de que as ideias ali discutidas 
atacavam a religião e as instituições do Estado. 
Em Portugal, consideram-se dois grandes nomes do movimento: Antero de Quental e Eça de 
Queirós. O primeiro é umgrande representante da poesia realista. O segundo é considerado um dos 
maiores romancistas em Língua Portuguesa. Os dois nos dão, em alguma medida, uma ideia das 
mudanças pelas quais passavam a cultura e a Literatura no final do século XIX. 
 
2.2 – Antero de Quental 
Antero Tarquínio de Quental (1842-1891) teve uma trajetória intensa e trágica. Nascido de 
uma família abastada da região dos Açores, pôde, aos 16 anos, ingressar no curso de direito da 
Universidade de Coimbra. Na época, Coimbra fervia com as ideias cientificistas que circulavam nos 
grandes centros europeus e, ali, a tradição religiosa do jovem foi posta à prova. 
Logo, não somente cedeu às novas ideias do 
século como também tornou-se um dos líderes dos 
estudantes. Em 1865, Antero edita “Odes Modernas”, 
livro no qual ele rompe com o Romantismo e defende 
uma poesia libertária e combatente. Assim começou o 
episódio da Questão Coimbrã, como já mencionado 
anteriormente. 
Entra em contato com as ideias socialistas, 
aprende tipografia e torna-se operário. Entre 1866 e 
1868 vivencia a experiência de ser operário em Paris. 
Volta a Lisboa e começa intensa atividade de militância. 
Inicialmente, participa do círculo intelectual que 
promoveu as conferências do Casino Lisbonense em 
1871. Foi um dos fundadores do Partido Socialista 
Português. Colaborou com diversos periódicos, muitos 
deles de tendências socialistas. 
Em 1873, herda uma quantia que lhe permite 
viver de rendimentos. Contrai tuberculose. Em 1881, 
retira-se para Vila do Conde, onde vive um pouco mais sossegado. Ainda envolve-se com política, 
pois participa da Liga Patriótica do Norte, em resposta ao ultimato inglês em 1890. Em 1891, o poeta 
já dava sinais de depressão profunda e, no mesmo ano, comete suicídio. 
Essa trajetória bastante movimentada está expressa na sua poesia. Nunca abandonou de fato 
o ímpeto religioso por uma busca de algo que fosse além do trivial e do cotidiano. Percebem-se alguns 
temas que sucedem na poesia. 
 Inicialmente, desenvolve uma poesia romântica de cunho religioso; 
na fase de Coimbra, torna-se combativo, defende a razão e parece vislumbrar uma época 
de mudanças; 
 na fase final, o poeta assimila certo pessimismo influenciado pela filosofia do budismo. 
Além dessas fases, é possível fazer outra classificação a partir das poesias do poeta. Ele oscila 
entre o otimismo, que se reflete no uso de expressões que se referem à luz e à luminosidade, e o 
pessimismo, marcado pela escuridão. 
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Essa força de dissolução que se percebe nos temas caros ao poeta encontra contraponto na 
forma: Antero de Quental foi um dos maiores sonetistas em Língua Portuguesa. A fragmentação 
interna do poeta parece necessitar de uma forma que dê alguma permanência fincada na tradição 
literária. 
Para se ter uma ideia da produção de Antero, seguem-se dois sonetos. No primeiro, pode-se 
perceber a fase combativa, luminosa, na qual o poeta defendia que as ideias poderiam ser guias para 
os homens. No segundo, predomina o pessimismo existencial. 
 
Força é pois ir buscar outro caminho! 
Lançar o arco de outra nova ponte 
Por onde a alma passe — e um alto monte 
Aonde se abre à luz o nosso ninho. 
 
Se nos negam aqui o pão e o vinho, 
Avante! é largo, imenso esse horizonte... 
Não, não se fecha o mundo! e além, defronte, 
E em toda a parte há luz, vida e carinho! 
 
Avante! os mortos ficarão sepultos... 
Mas os vivos que sigam, sacudindo 
Como o pó da estrada os velhos cultos! 
 
Doce e brando era o seio de Jesus... 
Que importa? havemos de passar, seguindo, 
Se além do seio D’Ele houver mais luz! 
 
Esse soneto já abre a primeira estrofe com a tese do poeta: “é preciso buscar outro caminho!”. 
Parece uma conclamação à coletividade que, aliás, aparece ao final da primeira estrofe, quando o 
poeta usa o pronome “nosso”, ou seja, na primeira pessoa do plural. 
Essa necessidade não é vista como impossível. O eu lírico incentiva seus leitores “avante” e, 
por fim, faz uma comparação com a perspectiva religiosa “doce e brando era o seio de Jesus...”. Na 
comparação, o além D’Ele promete ser melhor, pois haverá mais luz. 
Nesse poema, Antero parece comungar com as ideias filosóficas correntes de que a ciência e 
o conhecimento indicavam um avanço progressista das sociedades. A religião fora uma fase, para 
além da fé, haveria a ciência e um mundo melhor a ser buscado. Nesse texto não se observa traço de 
pessimismo. 
O tom é totalmente outro no poema que se segue: 
 
No Turbilhão 
(A Jaime Batalha Reis) 
 
No meu sonho desfilam as visões, 
Espectros dos meus próprios pensamentos, 
Como um bando levado pelos ventos, 
Arrebatado em vastos turbilhões... 
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Fonte: Pixabay. 
N'uma espiral, de estranhas contorsões, 
E d'onde saem gritos e lamentos, 
Vejo-os passar, em grupos nevoentos, 
Distingo-lhes, a espaços, as feições... 
 
— Fantasmas de mim mesmo e da minha alma, 
Que me fitais com formidável calma, 
Levados na onda turva do escarcéu, 
 
Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes? 
Quem sois, visões misérrimas e atrozes? 
Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!... 
 
Nesse poema, que manifesta quase uma análise da subjetividade, o eu lírico se vale do sonho 
para mostrar sua fragmentação. O eu dividido se reflete em espectros de seus próprios pensamentos. 
O resultado disso são lamentos e gritos. Essas imagens, fantasmas do próprio poeta, surgem com 
algozes. O poema é inconclusivo. O poeta não reconhece seus fantasmas e não reconhece a si 
mesmo. 
As duas obras mais famosas publicadas em vida são Odes Modernas e Sonetos Completos. 
 
 
2.3 – Eça de Queirós 
Eça de Queirós (1845-1900) é considerado um 
dos grandes escritores em língua portuguesa. Mudou 
os rumos da Literatura e da própria língua portuguesa 
ao adotar um estilo mais enxuto e trazer para a prosa 
literária a linguagem próxima à do jornalismo. Com suas 
obras, conquistou fama internacional em vida. 
José Maria da Eça de Queirós nasceu em Póvoa 
do Varzim, em 1845, e morreu na França, em 1900. 
Chama a atenção em sua biografia o fato de seus pais 
só terem se casado quando ele tinha quase 4 anos. O 
fato em si aponta para uma família na qual as tradições 
não eram levadas tão a sério, o que, sem dúvida, deve 
ter colaborado para que ele se mostrasse sempre 
desconfiado diante das tradições. 
Na adolescência foi para um internato e, depois, para Coimbra, onde se formou em Direito. 
Na cidade universitária conheceu Antero de Quental, que o influenciou na sua verve crítica. Escreveu 
artigos que foram publicados depois com o título de Prosas Bárbaras. 
Em 1866, mudou-se para Lisboa, onde exerceu advocacia e jornalismo. Em 1871, participou 
das Conferências do Casino Lisbonense. Mais tarde, em 1870, começa sua carreira pública, sendo 
nomeado administrador do Concelho de Leiria. Três anos depois, ingressou na carreira diplomática. 
Casou-se aos 40 anos e teve 4 filhos. Morreu em Neuilly-Sur-Seine, cidade próxima de Paris. 
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A imagem que ficou para a história é a de um escritor combativo, crítico cortante, irônico, 
acertando, com suas opiniões, “o homem de bem”, as instituições falidas e corrompidas. Através da 
Literatura, ele ambicionava traçar um retrato da sociedade portuguesa sem condescendência, 
deixando as ossadas à mostra para a repugnância de quem observava a cena. Há certo pessimismo e 
fastio com os homens da sua época, que será parcialmentereduzido com o passar dos anos, deixando 
despontar uma ponta de esperança somente nos seus romances finais. 
Vale destacar e relembrar que os críticos dividem sua produção literária em 3 fases: 
 
 
 
 
 
Na última fase, Eça de Queirós parece se reconciliar com os homens. Em A cidade e as serras, 
o personagem principal, Jacinto (o próprio Eça?), cansado da civilização e dos cientificismos, encontra 
paz para sua alma junto ao povo simples das serras portuguesas. 
Nessa obra, ele abandona a crítica mordaz e cria um enredo alegórico. Jacinto é o próprio 
Portugal e há nesse enredo uma lição para os “homens de bem” perdidos de sua época. Quase chega 
a ser uma fábula moderna. Algo semelhante ocorre em A ilustre casa de Ramires. 
 
• Prosas Bárbaras: textos influenciados pelos 
românticos da terceira fase (idealização 
social)
• Traços românticos
1ª fase
• O Crime do Padre Amaro (1874); Primo 
Basílio (1878) e Os Maias (1888), obras 
realistas naturalistas (crítica, patologia 
social, hipocrisia)
• Crítica das instituições portuguesas: Igreja, 
pequena burguesia (classe média), elite, 
pessimismo;
2ª fase
• A Ilustre Casa de Ramires (1900), A Cidade 
e as Serras (1901, obra póstuma), obras pós 
realistas (valorização de Portugal, caráter 
mais alegórico do que realista)
• Romance de tese, exaltação da 
simplicidade portuguesa, esperança.
3ª fase
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CARACTERÍSTICAS DO AUTOR 
 
 
 
Seguem algumas das obras mais importantes do autor. 
 
 O primo Basílio 
Romance publicado em 1877, retrata com bastante 
fidelidade a sociedade portuguesa. O autor investe contra a classe 
média lusitana, correndo o risco de construir personagens 
estereotipados. Encontramos o “corno” típico, a mulher fútil, a 
amiga má companhia etc. Desponta como personagem complexa 
a empregada, Juliana, que desperta no leitor sentimentos de 
raiva, de pena e de compreensão. 
A obra foi inspirada em Madame Bovary, e alguns críticos 
insistem em ver nisso certa falta de criatividade. O romance 
lusitano, assim como o francês, se estrutura em torno da traição 
e do adultério. Eça, apesar da evidente imitação, transpõe o enredo para a realidade portuguesa com 
uma maestria ímpar, até porque se vale de uma linguagem sem adjetivação romântica, mudando a 
estilística da língua portuguesa na escrita. 
 
 
DESCRITIVISMO
IRONIA
LINGUAGEM OBJETIVA
ANÁLISE DE CARÁTER
• Narrador: terceira pessoa, onisciente e que se propõe a apresentar de forma fria e
distante os fatos que serão narrados; uso de discurso indireto.
• Tempo: não tem data definida, mas passa-se na segunda metade do século XIX; a
narrativa é linear.
• Espaço: o espaço predominante é Lisboa. Percebe-se a intenção de Eça em criticar
a sociedade lisboeta.
FICHA DE LEITURA
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Enredo 
O enredo tem como protagonista Luísa, esposa de Jorge, um engenheiro bem colocado em 
um ministério. O cotidiano do casal é extremamente banal. O momento mais excitante dessa vida a 
dois acontece quando Jorge recebe seus amigos. 
 O grupo é composto por D. Felicidade, que sente atração pelo Conselheiro Acácio, outro 
ilustre integrante da turma, sujeito caricato e que vomita uma erudição vazia. Há ainda Ernestinho, 
um arremedo de escritor romântico; Julião, um estudante de Medicina, crítico oportunista da 
sociedade portuguesa; e Sebastião, único personagem que não é caricato e que se mantém leal ao 
drama humano seja de Luísa, seja de Jorge. 
 Os amigos discutem sobre frivolidades como se fossem as coisas mais importantes do mundo. 
Essas “palestras” entediantes ocupam uma parte significativa dos primeiros capítulos e são 
extremamente irritantes para o leitor. É como se o leitor sentisse na pele o tédio desse estilo de vida. 
 Por motivos profissionais, Jorge vai ficar algumas semanas longe de Luísa, vai para o Alentejo. 
No ínterim, Basílio, primo de Luísa, retorna de Paris para ficar algum tempo em Lisboa. Decide visitar 
a prima e, como lhe parecesse bem apessoada, resolve seduzi-la. 
 A tarefa não foi difícil. Luísa era ávida leitora de romances românticos e sonhava com um 
amor mais ardente e aventuroso. Eles trocam várias cartas e se encontram algumas vezes num quarto 
denominado por Basílio de “Paraíso”. 
 Juliana, a empregada ressentida, recolhe algumas dessas cartas comprometedoras à espera 
do momento certo para chantagear a patroa. Luísa não tem dinheiro nem ideia de como conseguir a 
quantia exigida pela empregada. Para piorar, Jorge retorna e a relação com Basílio esfria. 
 Nesse contexto, ocorrem várias peripécias que têm como motivação a resolução do impasse. 
Luísa tenta ter relações com um homem rico, mas não consegue; faz concessões a Juliana, começa a 
trabalhar no lugar da empregada e, lógico, pede dinheiro a Basílio, que se retira de Portugal. 
 Desesperada, confia seu problema a Sebastião, que se prontifica a ajudá-la. Acompanhado 
de um policial, o amigo de Jorge aborda a empregada com ameaças, momento em que ela, assustada, 
morre devido a um aneurisma. Tudo parece estar resolvido. 
 Luísa, dada a situação estressante, adoece. 
Jorge fica ao lado dela, cuidando da saúde da 
amada. Nesse momento, o marido recebe uma 
carta de Paris. Basílio escrevera se justificando por 
não poder ajudá-la a esconder o adultério. Como 
ela está acamada, Jorge abre a correspondência e 
descobre tudo. Luísa, ao saber disso, entra em 
desespero e morre. Jorge se muda. Basílio volta a 
Lisboa e, ao saber da morte da amante, lamenta 
não ter mais diversão em Lisboa. 
 
 
Interpretação 
O romance pertence à segunda fase do autor. A configuração do círculo de amizades de Jorge 
é muito importante para Eça, pois através deles o autor dispara farpas críticas aos lisboetas, que se 
consideravam a camada pensante de Portugal. 
 Em alguma medida, o leitor de Eça reconheceria algum vício exposto na obra de forma irônica 
e risível. Vamos aos tipos: 
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 Indivíduo moralista, arrogante e cheio de erudição fútil, mas 
que tinha uma amante bem mais jovem (Conselheiro Acácio). 
 Senhora moralista, mas que tinha desejos sexuais e vontades 
imorais (D. Felicidade). 
 Jovem ambicioso e inteligente capaz de tecer críticas próprias 
e contundentes, mas que as usa como forma de ascensão social (Julião). 
 Escritor romântico que finge criticar a sociedade quando, na 
verdade, adapta o enredo para conseguir aplauso do público valendo-
se de uma narrativa óbvia (Ernestinho). 
 Mulher casada que poderia fingir-se de esposa ideal, 
contanto que pudesse manter seus relacionamentos adúlteros em 
segredo (Luísa). 
Ao lado, cartaz do filme “O primo Basílio” (2007). Fonte: Imdb. 
 
O primo Basílio (1878) 
 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA 26 (XVI) capítulos. 
PERSONAGENS Luísa, Jorge, D. Felicidade, Conselheiro Acácio, Ernestinho, Basílio, Sebastião. 
TEMPO Segunda metade do século XIX; a narrativa é linear. 
ESPAÇO Predominantemente Lisboa. 
ENREDO Luísa é esposa de Jorge, um engenheiro bem colocado em um ministério. O 
cotidiano do casal é extremamente banal. O momento mais excitante dessa vida a 
dois acontece quando Jorge recebe seus amigos. 
CONFLITO Por motivos profissionais, Jorge vai ficar algumas semanas longe de Luísa, vai para 
o Alentejo. No ínterim, Basílio, primo de Luísa, retorna de Paris para ficar algum 
tempo em Lisboa. Decide visitar a prima e, como lhe parecesse bem apessoada, 
resolve seduzi-la,o que não foi difícil – ela era uma ávida leitora romântica. 
CLÍMAX Juliana, a empregada ressentida, recolhe algumas dessas cartas comprometedoras 
à espera do momento certo para chantagear a patroa. Luísa não tem dinheiro nem 
ideia de como conseguir a quantia exigida pela empregada. Para piorar, Jorge 
retorna e a relação com Basílio esfria. Desesperada, Luísa confia seu problema a 
Sebastião. Acompanhado de um policial, ele aborda a empregada com ameaças, 
que , morre devido a um aneurisma. 
DESFECHO Luísa adoece. Nesse momento, Jorge recebe uma carta de Paris e descobre tudo. 
Luísa entra em desespero e morre. Jorge se muda. Basílio volta a Lisboa e, ao saber 
da morte da amante, lamenta não ter mais diversão em Lisboa. 
 
 
 
 
 
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TRECHO DE O PRIMO BASÍLIO 
Sebastião fechou a porta da sala de jantar, pousou o candeeiro sobre a mesa, onde havia 
ainda um prato com côdeas de queijo e um fundo de vinho num copo, deu alguns passos 
fazendo estalar nervosamente os dedos, e parando bruscamente diante de Juliana: 
– Dê cá umas cartas que roubou à senhora... 
Juliana teve um movimento para correr à janela, gritar. 
Sebastião agarrou-lhe o braço, e fazendo-a sentar com força sobre a cadeira: 
– Escusa de ir à janela gritar, a polícia já está dentro de casa. Dê cá as cartas, ou para a 
enxovia! 
Juliana entreviu num relance um quarto tenebroso no Limoeiro, o caldo do rancho, a 
enxerga nas lajes frias... 
– Mas que fiz eu? — balbuciava. – Que fiz eu? 
– Roubou as cartas. Dê-as para cá, avie-se. 
Juliana, sentada à beira da cadeira, apertando desesperadamente as mãos, rosnava por 
entre os dentes cerrados: 
– A bêbeda! A bêbeda! 
Comentários 
 A cena representa uma cena íntima desesperada entre Sebastião tentando preservar os 
segredos epistolares de Luísa e Juliana tentando revelá-los. Nesse sentido, o texto realista 
evidencia-se cheio de intrigas. 
 
 
 Os Maias 
Esse é considerado o último livro da fase crítica de Eça de Queirós. Nele, o escritor tem como 
foco a classe mais alta de Portugal. O enredo, centrado em alguns personagens românticos, serve 
para que o autor se posicione contra o movimento anterior. Vale-se do tema de um amor proibido 
entre irmãos. 
 
 
 
Enredo 
A saga dos Maias começa com o casamento de Afonso, rico proprietário, com Maria Eduarda. 
Desse enlace, nasce Pedro Maia. O filho teve uma educação romântica e católica. A mãe, por quem 
o rapaz tinha verdadeira adoração, morre e Pedro se apaixona perdidamente por Maria Monforte, 
filha de um negociante de escravos. 
O pai de Pedro se opõe ao casamento e o filho se afasta do convívio paterno. O casal tem 2 
filhos, Carlos Eduardo e Maria Eduarda. Maria Monforte se apaixona por um italiano e abandona o 
• Narrador: terceira pessoa, onisciente.
• Tempo: segunda metade do século XIX, com flashbacks que permitem reconstituir a
história familiar de 3 gerações. O momento em que avô e neto se instalam no
casarão chamado “Ramalhete”, em 1875.
• Espaço: o espaço predominante é Lisboa.
FICHA DE LEITURA
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marido e um dos filhos. Pedro retorna desolado apenas com o filho mais velho, Carlos. Pedro se 
suicida. 
Restam avô e neto. Carlos se forma em medicina. 
Monta um consultório e começa a clinicar. Conhece uma 
jovem encantadora, Maria Eduarda, que acredita ser 
esposa de Castro Gomes. O jovem amante compra uma 
quinta afastada para encontrá-la. 
Castro, enfim, revela a Carlos que Maria Eduarda 
não é sua mulher, mas sua amante. O jovem fica animado 
com a perspectiva de poder se casar com ela. Mas ocorre a 
reviravolta. Um tal Sr. Guimarães chega de Paris com uma 
revelação trágica: Maria Eduarda seria filha de Monforte, 
logo, irmã de Carlos. 
O avô, Afonso, morre. Maria Eduarda foge para a 
França e se casa. Carlos parte numa longa viagem. No final 
do romance, encontramos Carlos recordando o passado 
junto com seu amigo João da Erga. A conversa com o amigo 
transcorre com muita ironia e pessimismo. 
 
Interpretação 
O romance é perpassado pelo pessimismo e tragédia. Expressa o mal-estar que pairava sobre 
Portugal. Eça, aparentemente já desencantado com a política, investiga o próprio povo como causa 
da decadência do país. No texto, surgem alguns elementos dessa crítica. Há uma discussão sobre a 
educação de Carlos – se ele deveria frequentar uma escola católica, portuguesa ou protestante, ou 
seja, inglesa. A mãe determina que seja uma educação lusitana. Carlos refletirá esse espírito nada 
prático, romântico e indolente. Pensa em ajudar a nação, em fundar uma revista, mas, basicamente, 
frequenta as rodas sociais afrancesadas e se entrega a uma paixão que e se revelará trágica. 
Além desses elementos já interpretados, o narrador ou mesmo os personagens vão 
destilando críticas ao colonialismo, aos impostos e aos governantes. 
 
Os Maias (1888) 
 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA Livro Primeiro (X capítulos); Livro Segundo (VIII capítulos). 
PERSONAGENS Afonso, Pedro Maia, Maria Eduarda, Maria Monforte, Castro Alves, João da Ega. 
TEMPO Segunda metade do século XIX, com flashbacks que permitem reconstituir a história 
familiar de 3 gerações. O ano quando o avô e neto se instalam no casarão é 1875. 
ESPAÇO Predominantemente Lisboa. 
ENREDO A saga dos Maias começa com o casamento de Afonso, rico proprietário, com Maria 
Eduarda. Desse enlace, nasce Pedro Maia. O filho teve uma educação romântica e 
católica. A mãe morre e Pedro se apaixona por Maria Monforte, filha de um 
negociante de escravos. 
CONFLITO O pai de Pedro se opõe ao casamento e o filho se afasta do convívio paterno. O casal 
tem 2 filhos, Carlos Eduardo e Maria Eduarda. Maria Monforte se apaixona por um 
italiano e abandona o marido e um dos filhos. Pedro retorna desolado apenas com 
o filho mais velho, Carlos. Pedro se suicida. 
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Ao lado, cartaz da minissérie “Os Maias” 
(2001), em 44 episódios. Fonte: Imdb. 
CLÍMAX Restam avô e neto. Carlos se forma em medicina. Conhece uma jovem encantadora, 
Maria Eduarda. O jovem amante compra uma quinta afastada para encontrá-la. Mas 
ocorre a reviravolta. Um tal Sr. Guimarães chega de Paris com uma revelação 
trágica: Maria Eduarda seria filha de Monforte, logo, irmã de Carlos. 
DESFECHO O avô, Afonso, morre. Maria Eduarda foge para a França e se casa. Carlos parte 
numa longa viagem. No final do romance, encontramos Carlos recordando o 
passado junto com seu amigo João da Ega. A conversa com o amigo transcorre com 
muita ironia e pessimismo. 
 
TRECHO DE OS MAIAS 
“Ega declarou muito decididamente ao sr. Sousa Neto que era pela escravatura. Os 
desconfortos da vida, segundo ele, tinham começado com a libertação dos negros. Só podia ser 
seriamente obedecido quem era seriamente temido... Por isso ninguém agora lograva ter seus 
sapatos bem envernizados, o seu arroz bem cozido, a sua escada bem lavada, desde que não 
tinha criados pretos em quem fosse lícito dar vergastadas... Só houvera duas civilizações em 
que o homem conseguira viver com razoável comodidade: a civilização romana e a civilização 
especial dos plantadores da Nova Orleães. Por quê? Porque numa e noutra existira a 
escravatura absoluta, a sério, com o direito de morte!... ” (QUEIRÓS, 2000, p. 271). 
Comentários 
Aqueles jovens veneravam Victor Hugo, dizendo que ele é o campeão heroico das verdades 
eternas, e que ele não era um homem, era um mundo. Eles ainda compactuavam o que 
chamavam de a Ideia Nova. Em particular,João da Ega é importante, porque ele é essa 
personagem dialeticamente contraditória, bancando o democrata, mas no fundo é um falso 
moralista e machista, dizendo que era dever da mulher primeiro ser bela, e depois ser estúpida, 
e que a mulher só devia ter duas prendas: saber cozinhar e amar bem. Enfim, Ega se passava 
por intelectual, mas não consegue se livrar da sua máscara e maneiras burguesas, e por isso 
comparado ao Mefistóteles, do Fausto de Goethe, tendo inclusive indo fantasiado assim para o 
baile dos judeus Cohen. 
Entre esses jovens também está o Alencar, escritor de Elvira e do poema A Democracia, 
versos históricos. Carlos quando se forma e arranja uma espécie de escritório junto com 
laboratório, onde vai para não fazer nada, não trabalhar, matando as suas horas de ócio 
escrevendo. A civilização lhe custava caro, esse tédio infindável. Nesse sentido, na Alemanha 
havia mais comércio, em Portugal era fastio total. Ega também escrevia para matar o tempo, e 
era morto pelo que escrevia, nunca tendo terminado um escrito. A sua grande obra prima 
chamar-se-ia Memórias dum átomo, e tinha uma forma autobiográfica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 A cidade e as serras 
A cidade e as serras é uma obra da 
terceira fase de Eça de Queirós, momento 
em que seu criticismo se arrefece e ele faz 
uma revisão de suas convicções. Outrora um 
feroz crítico do atraso português, agora aos 
50 e poucos anos, entende o atraso 
econômico como uma espécie de benção 
para o espírito humano. 
Ele escreveu um texto curto (novela) 
com características de romance de tese. Eça 
de Queirós cria uma narrativa para “provar” que o estilo de vida simples da serra supera o da cidade 
e suas comodidades tecnológicas. 
 
 
 
Enredo 
O protagonista, o rico Jacinto, nasce em Paris rodeado de todas as comodidades tecnológicas 
da época, tornando-se entusiasta da ciência e da modernidade. Acredita que a ciência (teórica) e a 
potência (tecnológica) serão capazes de trazer a felicidade perene ao ser humano. 
Nesse momento de otimismo, conhece José Fernandes, narrador da obra. O amigo serve 
como contraponto crítico, pois encara as crenças de Jacinto com ceticismo. Na segunda visita que 
José Fernandes faz ao amigo, percebe que a ilusão cientificista do protagonista vai se transformando 
em tédio e desilusão. 
A multidão de Paris lhe parece entediante, os aparelhos tecnológicos não lhe despertam mais 
a paixão e as relações pessoais e amorosas parecem ser circunstanciais e fúteis. É nesse ponto que o 
cosmopolita amigo de José Fernandes recebe uma carta avisando que houve uma tempestade na 
região de Tormes, onde fica a propriedade de Jacinto e os restos mortais de seus antepassados foram 
descobertos. Ele deveria ir para as serras para participar do sepultamento. 
Em verdade, Jacinto jamais saíra de Paris, e essa viagem, para ele, tem o gosto amargo da 
barbárie, pelo menos é como ele pensa inicialmente. A caminho, o trem para na Espanha, pois haverá 
uma baldeação. Todas as roupas e artigos de luxo ficam no vagão estacionado na plataforma, 
• Narrador: primeira pessoa, narrador-testemunha. Quem conta a história é José
Fernandes, amigo do protagonista. Trata-se de um narrador muito limitado, ele só
pode contar o que o protagonista disse para ele ou o que ele viu como testemunha.
No caso dessa obra, isso se justifica. José Fernandes encarna a forma de viver do
camponês lusitano e, na sua rusticidade, ele consegue ver o que há de ridículo no
comportamento do sofisticado Jacinto.
• Tempo: Final do século XX, época em que já era possível observar invenções como
telefone, telégrafo e automóvel, que são mencionados no livro (Eça morreu em 1900
e o romance foi terminado a posteriori).
• Espaço: como o nome já diz, o livro se divide em dois espaços: a cidade, que remete
a Paris; e o campo, região de Tormes, onde Jacinto tem sua propriedade rural.
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enquanto, em outro comboio, o protagonista e José Fernandes partem para Tormes sem nada, a não 
ser a roupa do corpo. 
Chegando na estação, há outro contratempo: ninguém do solar o 
espera. Ele consegue um cavalo para si e um burro para José Fernandes. 
Irritado, ele pretende ir para Lisboa no dia seguinte. Mas aos poucos vai 
sendo seduzido pelas serras, pela culinária do local, pelo colhimento 
caloroso que recebe e pela beleza da região. 
José Fernandes, quando o encontra, percebe que o amigo está mudado, está feliz, 
entusiasmado com o novo modo de vida. Mas, mesmo aí, Jacinto começa perceber que há 
problemas. Entra em contato com a pobreza extrema de alguns camponeses e vivencia a experiência 
de ser confundido com D. Sebastião, o rei renascentista que morreu no século XVI e que, segundo a 
lenda, voltaria para trazer glória a Portugal. 
O príncipe de grã-ventura, como era chamado, casa-se com uma mulher simples da região, 
Joaninha, e resolve trazer aparatos tecnológicos para melhorar a vida dos moradores da Serra. A 
novela (uma espécie de romance curto) termina com final feliz e uma nota de esperança de que seria 
possível conciliar esses dois mundos, cidade e serras. 
 
Interpretação 
Essa novela representa a “conversão” de Eça de Queirós. É interessante notar que o autor, 
em sua juventude, defendia o cientificismo e, agora, vê essa fé na ciência como algo exagerado. 
Jacinto desenvolvera uma teoria: a de que a Suma Ciência junto com a Suma Potência poderia levar 
o indivíduo à felicidade. Ora, guardadas as devidas diferenças, o próprio Eça pensava dessa forma, lá 
pelos idos de 1871. 
A cidade de Paris representava o que havia de mais moderno em 1900; as serras, o que havia 
de mais atrasado. A opção pelas serras mostra um certo desencanto do próprio Eça em relação à 
tecnologia. A indicação do livro para leitura no século XXI cai como uma luva para aqueles que 
precisam estar atentos à ilusão tecnológica. Há trechos bem escritos e muito expressivos de 
condenação do mundo tecnológico se considerado à luz do humanismo. 
Vale a pena destacar ainda a alegoria utilizada pelo autor. Jacinto é uma figura mitológica, 
seria um jovem muito bonito por quem Apolo se apaixona. O deus desce do Olimpo para se aproximar 
do jovem e brinca de arremessar o disco das olimpíadas com o rapaz. Zéfiro, enciumado, muda a 
trajetória do disco que atinge Jacinto e o mata. Desconsolado, Apolo transforma o amado em uma 
flor que nasce no campo. Na história de Eça, algo parecido acontece. Jacinto morre na tórrida 
civilização e renasce nas serras. 
 
A cidade e as serras (1901) 
 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA 26 (XVI) capítulos. 
PERSONAGENS Jacinto, José Fernandes, Joaninha. 
TEMPO Final do século XX (telégrafo e automóvel). 
ESPAÇO Paris e Tormes. 
ENREDO Jacinto nasce em Paris rodeado de todas as comodidades tecnológicas da época, 
tornando-se entusiasta da ciência e da modernidade. Acredita que a ciência 
(teórica) e a potência (tecnológica) serão capazes de trazer a felicidade perene ao 
ser humano. 
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CONFLITO Nesse momento de otimismo, conhece José Fernandes, narrador da obra. O amigo 
serve como contraponto crítico, pois encara as crenças de Jacinto com ceticismo. 
Jacinto percebe que a ilusão cientificista do protagonista vai se transformando em 
tédio e desilusão. 
CLÍMAX Houve uma tempestade na região de Tormes, onde fica a propriedade de Jacinto e 
os restos mortais de seus antepassados foram descobertos.A caminho, no trem 
para na Espanha haverá uma baldeação. Todas as roupas e artigos de luxo ficam no 
vagão estacionado na plataforma e partem só com a roupa do corpo. 
DESFECHO José Fernandes, quando o encontra, percebe que o amigo está mudado, está feliz, 
entusiasmado com o novo modo de vida. O príncipe de grã-ventura, como era 
chamado, casa-se com uma mulher simples da região, Joaninha, e resolve trazer 
aparatos tecnológicos para melhorar a vida dos moradores da Serra. Termina com 
final feliz e uma nota de esperança de que seria possível conciliar esses dois 
mundos, cidade e serras. 
 
TRECHOS DE A CIDADE E AS SERRAS 
 
TRECHO I 
Ora nesse tempo Jacinto concebera uma ideia... Este Príncipe concebera a ideia de que o 
“homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. E por homem civilizado 
o meu camarada entendia aquele que, robustecendo a sua força pensante com todas as 
noções adquiridas desde Aristóteles, e multiplicando a potência corporal dos seus órgãos com 
todos os mecanismos inventados desde Teramenes, criador da roda, se torna um magnífico 
Adão, quase onipotente, quase onisciente, e apto portanto a recolher [...] todos os gozos e 
todos os proveitos que resultam de Saber e Poder... [...] 
Este conceito de Jacinto impressionara os nossos camaradas de cenáculo, que [...] 
estavam largamente preparados a acreditar que a felicidade dos indivíduos, como a das 
nações, se realiza pelo ilimitado desenvolvimento da Mecânica e da erudição. Um desses 
moços [...] reduzira a teoria de Jacinto [...] a uma forma algébrica: 
 
 
Suma ciência
Suma felicidade
Suma potência


 =


 
 
E durante dias, do Odeon à Sorbona, foi louvada pela mocidade positiva a Equação 
Metafísica de Jacinto. 
Eça de Queirós, A cidade e as serras. 
 
Comentários 
A equação elaborada por Jacinto, durante o período que vivia em Paris, para sintetizar a felicidade, 
torna-se ao fim do romance uma equação que resultava em servidão ou dependência, já que o 
protagonista percebe que era como um escravo da tecnologia, que deveria torná-lo feliz. 
 
TEXTO II 
Mas o meu novíssimo amigo, debruçado da janela, batia as palmas – como Catão para chamar os 
servos, na Roma simples. E gritava: 
– Ana Vaqueira! Um copo de água, bem lavado, da fonte velha! 
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Pulei, imensamente divertido: 
– Oh Jacinto! E as águas carbonatadas? E as fosfatadas? E as esterilizadas? E as sódicas?... O meu 
Príncipe atirou os ombros com um desdém soberbo. E aclamou a aparição de um grande copo, todo 
embaciado pela frescura nevada da água refulgente, que uma bela moça trazia num prato. Eu admirei 
sobretudo a moça... Que olhos, de um negro tão líquido e sério! No andar, no quebrar da cinta, que 
harmonia e que graça de ninfa latina! 
E apenas pela porta desaparecera a esplêndida aparição: 
– Oh Jacinto, eu daqui a um instante também quero água! E se compete a esta rapariga trazer as 
coisas, eu, de cinco em cinco minutos, quero uma coisa!... Que olhos, que corpo... Caramba, menino! 
Eis a poesia, toda viva, da serra... 
O meu Príncipe sorria, com sinceridade: 
– Não! Não nos iludamos, Zé Fernandes, nem façamos Arcádia. É uma bela moça, mas uma bruta... 
Não há ali mais poesia, nem mais sensibilidade, nem mesmo mais beleza do que numa linda vaca 
turina. Merece o seu nome de Ana Vaqueira. Trabalha bem, digere bem, concebe bem. Para isso a fez 
a Natureza, assim sã e rija 
(...). 
Eça de Queirós, A cidade e as serras. 
 
Comentários 
O fragmento reproduz uma cena passada na Quinta de Tormes, local em que Jacinto passa a morar 
depois de se ter mudado de Paris. O estranhamento de Zé Fernandes face ao pedido de Jacinto para 
que lhe tragam água da fonte, ao invés das águas sofisticadas que sempre preferira, a beleza natural 
de Ana Vaqueira, assim como a simplicidade do cenário remetem personagens e leitor às paisagens 
bucólicas descritas pelos autores clássicos que tematizavam o locus amoenus e o inutila truncat, como 
base essencial para se atingir o equilíbrio e a felicidade. 
A expressão “nem façamos Arcádia” alude ironicamente à visão idealizada de Zé Fernandes 
relativamente aos dotes físicos de Ana Vaqueira, dona de beleza invulgar, mas, como trabalhadora 
braçal e rude, seria insensível a apelos sentimentais. 
 
 A ilustre casa de Ramires 
O romance foi publicado em 1900, portanto reflete a terceira fase do autor. A ironia cáustica 
dá lugar a uma narrativa mais equilibrada e sóbria. Nessa obra o autor deixa transparecer o otimismo 
e a esperança em relação a Portugal. 
Chama a atenção a estrutura narrativa em que o autor, à maneira de Almeida Garret, organiza 
duas histórias em tempos diferentes e depois as entrelaça. 
 
 
 
• Narrador: dois narradores em terceira pessoa. Há um narrador que conta a história
de Gonçalo, e Gonçalo conta a história de seu antepassado.
• Tempo: como é um romance que lida com o passado, há três marcações históricas.
Gonçalo encontra um poema romântico sobre os heróis de sua família da década de
1840; agora, na década de 1890, ele resolve reescrever a história que se passa no
século XII.
• Espaço: há menção a vários locais, mas predomina a Torre da aldeia de Santa
Irineia.
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Enredo 
Gonçalo é um português de ascendência nobre que na atualidade está falido e tem dívidas a 
pagar. O arrendamento de suas terras não cobre as despesas. Assim, a política lhe parece a maneira 
mais fácil de sair dessa situação. Contudo, quem ocupava o lugar de deputado da sua região era um 
inimigo seu que tinha mais influência no governo e entre os aldeões. Ele se resolve, então, pela fama. 
Haveria de, através da Literatura, fazer-se conhecido. Decide escrever a história de Tructesindo 
Ramires, um antepassado da época dos primeiros reis de Portugal. 
O narrador passa a contar o que aconteceu à 
linhagem de tal nobre protagonista. De forma até irônica, 
ele vai mostrando o declínio da família a partir de 1640, 
data da Restauração (época em que termina a união das 
duas coroas, a de Portugal com a da Espanha, e os lusitanos 
restauram sua Monarquia). 
A narrativa do declínio tem como contrapartida, no 
presente, a constante humilhação de Gonçalo. Um 
arrendatário seu, irritado e bêbado, lança pedras no solar 
e o nobre senhor da torre se esconde covardemente. Ele 
refaz o contrato com outro arrendatário, mas sem 
formalizar a ação comercial. Parte em seguida para 
Oliveira, onde encontra alguns desafetos. Sua vida 
medíocre vai sendo contraposta à dos aventureiros do 
passado. 
No romance histórico que ele está escrevendo, 
Tructesindo se indispõe com o novo rei, pois tinha prometido a D. Sancho que seria o protetor de D. 
Sancha. Vai à guerra contra D. Afonso II, mesmo sabendo que poderia perder a batalha. Essa 
demanda real é cumprida ao mesmo tempo que o cavaleiro vinga a morte de seu filho. O assassino 
de seu herdeiro é Lopo Baião, também fiel vassalo de D. Afonso. A vingança se concretiza. 
Quando volta ao solar, sofre nova humilhação. O atual arrendatário, irritado com a falta de 
palavra de Gonçalo, põe-no a correr e ele é socorrido pelos empregados. 
Seu inimigo político morre e abre-se uma possibilidade de ele entrar para a política. Para 
tanto, precisa se aproximar de André Cavaleiro, mesmo sabendo que tal senhor usaria esse pretexto 
para seduzir a irmã de Gonçalo. O protagonista fica entre a política e a honra familiar. 
De fato, embora as coisas

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