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Unidade 2 Fundamentos da Educação Inclusiva TULIANE FERNANDES DUTRA ISABELA CRISTINA MARINS BRAGA Educação Inclusiva Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autor TULIANE FERNANDES DUTRA ISABELA CRISTINA MARINS BRAGA AS AUTORAS Tuliane Fernandes Dutra Eu, Tuliane, sou formada em Pedagogia e Sistemas de Informação, com experiência técnico-profissional na área de Análise de Sistemas e desenvolvimento de materiais para Educação a Distância há mais de 15 anos. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida. Isabela Cristina Marins Braga Eu, Isabela, sou Doutora em Educação (UCB-DF), Mestre em Educação (UCB-DF), especialista em Gestão Empresarial (Instituto de Ensino Superior Cenecista de Unaí) e graduada em Administração (Instituto de Ensino Superior Cenecista de Unaí). Professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Unaí – FACTU desde 2013, lecionando as disciplinas de Metodologia do Trabalho Acadêmico, Pesquisa Aplicada, Hermenêutica, Teorias das Organizações, Gestão de Pessoas 1 e 2, Comportamento Organizacional, Gestão Estratégica, Negociação e Resolução de Conflitos, Administração da Produção e Economia básica. Sou orientadora de Trabalhos Acadêmicos, examinadora de bancas de monografia, revisora e consultora de trabalhos acadêmicos, além de pesquisadora do grupo de Pesquisa de Políticas Federais de Educação – GPPFE da UCB-DF Por isso fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva .....................10 Barreiras atitudinais vivenciadas no espaço escolar .............................................10 Lei 9.394 de 1996 ............................................................................................................................. 14 Lei 13.146 de 2015 ............................................................................................................................ 17 Adaptações curriculares para a inclusão ........................................ 22 Currículo escolar ..............................................................................................................................23 Currículo e a inclusão escolar................................................................................................25 Os desafios dos professores na educação inclusiva ....................31 O papel e os desafios dos professores na Educação Inclusiva .................... 31 Capacitação docente para educação inclusiva ............................41 Formação Docente ........................................................................................................................ 41 A formação docente e a Educação Inclusiva ............................................................47 7 UNIDADE 02 Educação Inclusiva 8 INTRODUÇÃO Olá estudante! Seja bem-vindo a Unidade 2! Na Unidade 1 você estudou o período da segregação em que as pessoas com deficiência eram isoladas em institutos especializados para atendimento de acordo com a sua deficiência. Estudou também as declarações e documentos que serviram de base para a construção das leis de inclusão do país. Em seguida, você aprendeu a diferença entre educação especial e educação inclusiva. Você estudou que a inclusão é bilateral e que a inclusão escolar deve ser para todos e todas. Neste sentido, um sistema educacional inclusivo deve atender às dificuldades de aprendizagem de todos os estudantes. Partindo dessa ideia, daremos continuidade aos estudos. Os capítulos que serão abordados são: • Princípios e Fundamentos de Uma Escola Inclusiva; • Adaptações curriculares para a inclusão; • Os desafios dos professores na Educação Inclusiva; • Capacitação docente para Educação Inclusiva. Então, você está preparado? Vamos aprofundar o conhecimento sobre a Educação Inclusiva! Educação Inclusiva 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 02. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar os princípios e fundamentos para a construção de uma escola inclusiva. 2. Elaborar as adaptações curriculares para propiciar a aprendizagem de todos os alunos. 3. Avaliar os desafios dos professores para implantar e manter uma Educação Inclusiva discernindo sobre suas dificuldades e as resistências impostas pelo sistema e pela sociedade como um todo. 4. Identificar os requisitos curriculares e as competências a serem desenvolvidas no processo de capacitação docente para atuar na Educação Inclusiva. Antes de iniciar os estudos reflita: “As práticas humanas, em suas diversificadas formas de interação com o mundo, sempre se deram a partir da necessidade de resolver algum problema, ou de desvelar um enigma que se postava como um desafio.” (Lusia Ribeiro Pereira e Martha Lourenço Vieira) Então vamos nos preparar para esse desafio? Buscar conhecimento para uma verdadeira Educação Inclusiva! Educação Inclusiva 10 Princípios e fundamentos de uma escola inclusiva INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de identificar os princípios e fundamentos de uma escola inclusiva. Esse conhecimento é muito importante para você, profissional da educação, que busca a construção de uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Então, para começar você saberia dizer o que uma escola inclusiva não pode ter? Pense. E então, já sabe? Vamos conhecer juntos! Barreiras atitudinais vivenciadas no espaço escolar O que você sabe sobre as barreiras atitudinais no espaço escolar? Antes de responder essa pergunta, vamos retomar um pouco a história da educação, quando a escola era possível apenas para uma parte da população, para os filhos de nobres, pessoas de classes sociais e poder econômico elevados e religiosos. Diante deste contexto, a outra parte da população, que não pertencia a nenhum desses grupos era total ou parcialmente excluída do processo de ensino aprendizagem promovido pela educação formal no ambiente escolar. As pessoas com deficiência também faziam parte deste grupo de excluídos, com exceção dos deficientes filhos de nobres. Tem-se um modelo de educação especial, em que as pessoas com deficiência deveriam frequentar instituições de ensino especiais (segregadas), pois não teriam a capacidade de ter uma educação formal em uma escola regular. De acordo com Ribeiro et al. (2017), esse modelo de educação era justificado por meio da compreensão da classe dominante, que sujeitos quetivessem qualquer deficiência não seriam capazes de acompanhar a formação regular. Mantoan (2003) apud Ribeiro et al. (2017), explica que o enfoque das aulas era na deficiência e não nas necessidades Educação Inclusiva 11 dos educandos de serem incluídos na sociedade, consequentemente, eles ficavam à margem de espaços sociais que não os acolhiam. De acordo com Ribeiro et al. (2017), as pessoas com deficiência que não se enquadravam no padrão determinado pela cultura ideológica de normalidade; foram e ainda são, vítimas de preconceitos, estereótipos e barreiras atitudinais, “recebendo o rótulo de limitados e incapacitados, sendo-lhes proibido o exercício de papéis sociais que lhes são de direito”. (RIBEIRO, et al., 2017, p. 4). A ideologia da normalidade é apresentada em discursos, que corroboram ações e/ou omissões para as pessoas, neste re- corte, com deficiência, que sofrem cotidianamente com barrei- ras atitudinais (posturas afetivas e sociais, que se traduzem em discriminação e preconceito) que, em geral, estão travesti- das de generalizações, subestimações, rejeições, praticadas sob o manto do tradicional argumento falacioso: “É melhor para ELE”. (LIMA; SILVA, 2009, apud, RIBEIRO, et al., 2017, p. 4) Nesta perspectiva, Dischinger e Machado (2006) explicam que as barreiras atitudinais são aquelas determinadas na esfera social, sendo que, as relações humanas centram-se nas restrições dos indivíduos e não em suas habilidades. Um exemplo no ambiente escolar citado pelas autoras é [...] quando o professor de educação física impede um estudante cadeirante de participar de um jogo de bola, o faz principalmente por não reconhecer seu direito de inclusão, e não tanto por não saber criar modos de brincar que permitam sua participação no jogo. (DISCHINGER; MACHADO, 2006, p. 36) A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (13.146) define barreiras atitudinais como “atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas” (BRASIL, 2020). Apesar dos movimentos sociais lutarem pelo direito da inclusão das pessoas com deficiência em uma escola regular, esse ambiente apresenta fragilidades, pois ele não foi pensado e nem projetado para atender essa Educação Inclusiva 12 diversidade. Além disso, esses espaços não estão sendo adequados, consequentemente, a educação tem sofrido grandes impactos com a inclusão escolar. Uma vez que sujeitos com deficiência chegam cada vez mais às escolas regulares, o modelo até então projetado para alunos sem deficiência tem apresentado fragilidades (MANTOAN, 2003, apud RIBEIRO, et al., 2017). Embora seja um movimento subversivo, pois rompe com o ideal de normalidade e segregação, a educação inclusiva sofre constantes ataques alegando que a educação não está preparada para tal perspectiva e deixa ainda mais marcada a relação dominante e dominado, pois pela falta de acessibilidade os sujeitos com deficiência são excluídos no próprio modelo que, falaciosamente, é divulgado pelas políticas públicas educacionais como inclusão. (RIBEIRO, et al., 2017, p. 8) Nesse contexto, Ribeiro et al. (2017) explicam que são as barreiras atitudinais que sustentam os preconceitos e as ideologias que não oferecem oportunidade de reconhecer e acreditar no potencial dos estudantes com deficiência. Por causa desta atitude, segundo os autores, não existem reflexões e metodologias que proporcionem recursos didáticos eficientes para o processo educacional de alunos com características particulares de aprendizagem. DEFINIÇÃO: As barreiras atitudinais são barreiras sociais geradas, man- tidas e fortalecidas por meio de ações, omissões e lingua- gem produzida ao longo da história humana, num processo tridimensional que envolve cognições, afetos e ações con- tra a pessoa com deficiência ou quaisquer grupos em si- tuação de vulnerabilidade, resultando no desrespeito ou impedimento dos direitos dessas pessoas, limitando-as ou incapacitando-as para o exercício de direitos e deveres sociais: são abstratas para quem as produz e concretas para quem sofre seus efeitos. (LIMA; TAVARES, 2012 p.12, apud RIBEIRO, et al., 2017, p. 10). Educação Inclusiva 13 ACESSE: Assista ao vídeo: https://bit.ly/2Q6rPum. Ainda, não podemos deixar de mencionar as barreiras atitudinais referentes à cultura, à religião, ao gênero, raça, entre outras. Ribeiro et al. (2017, p. 11) explicam que Os problemas referentes à inclusão social não se finalizam apenas em inserir alunos com deficiência em escolas regulares. Os indivíduos e as instituições que representam as formas dominantes de cultura e as estruturantes da educação regular buscam manter sua posição privilegiada, naturalizando seus bens culturais. O modelo, tal qual se apresenta na atualidade, obriga aqueles que não são pertencentes à classe dominante a se adequarem à cultura de elite via adaptação de seus bens culturais. Os sujeitos que não se adequam são marginalizados. (RIBEIRO et al., 2017, p. 11) De acordo com Campbell (2009), a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular comum exige várias mudanças e adaptações na estrutura social e educacional, o que proporciona mudanças de valores, já que a ideia central de inclusão é uma alteração na forma de compreender a pessoa com necessidades educacionais especiais, proporcionando uma sociedade para todos. Veja que a inclusão busca o rompimento das barreiras atitudinais e, para isso, os profissionais que atuam no ambiente escolar precisam entender que o êxito das escolas inclusivas depende da identificação precoce, avaliação e da estimulação desde cedo das crianças com necessidades educacionais especiais. Educação Inclusiva https://bit.ly/2Q6rPum 14 Figura 1 – Inclusão na sala de aula Fonte: Freepik Nesse contexto, não podemos deixar de evidenciar, que os professores que atuam em salas de ensino regular têm um papel importante na identificação dos alunos com necessidade educacionais e no rompimento dessas barreiras, pois eles têm contato direto e diário com os estudantes. Logo, o professor deve reconhecer que todos os seus alunos são diferentes e que cada um tem o seu tempo e processo individual de aprendizagem. Lei 9.394 de 1996 Na unidade anterior, você estudou o percurso da legislação brasileira até os dias atuais. Neste tópico, vamos retomar a Lei 9.349 de 1996, pois como você já sabe, é por meio da legislação que os princípios e fundamentos da educação inclusiva são regulamentados. Esta lei estabelece as regras básicas para o funcionamento do sistema educacional público e privado do país, os recursos financeiros e a formação dos profissionais que atuam na educação. Então vamos lá? De acordo com Lopes et al. (2013), as políticas apresentarão regras e normativos para que todos sejam incluídos. Nesta perspectiva, o autor explica que a inclusão: Educação Inclusiva 15 [...] como imperativo de Estado, mais do que se apresentar como algo que se impõe a todos, necessita contar com normativas para fazer valer e legislar sobre as práticas. Como imperativo temos que aceitar essa interpelação do Estado, mas como sujeitos desse tempo precisamos radicalizar a crítica, para que possamos analisar as condições de possibilidade para que os diferentes gradientes de inclusão sejam vividos e que a inclusão não seja entendida como um ponto de chegada, mas como um desafio permanente. (LOPES, et al., 2013, p. 110) A LDB 9.394 de 1996, no artigo 4º., regulamenta que é dever do Estado com a educação escolar pública garantir a educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) obrigatória e gratuita para todos, conforme descrito: “I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada daseguinte forma: pré-escola; ensino fundamental; ensino médio” (BRASIL, 2020). Com relação à educação inclusiva, a LDB 9.394 determina que também é dever do estado, conforme descrito a seguir: III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino; (BRASIL, 2020). Não podemos deixar de mencionar que, ainda na legislação, está determinado que o Estado também deve garantir: VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; (BRASIL, 2020) No artigo 5º. explica que, caso o direito a educação básica não seja cumprido, a(s) pessoa(s), pode acionar o Ministério Público para exigi-lo. Art. 5º. O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de Educação Inclusiva 16 classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo. (BRASIL, 2020) Veja que na LDB 9.395, está bem claro que todos têm direito à educação básica, sem qualquer discriminação. Nela se tem um capítulo todo dedicado à Educação Especial, no qual está explicitado: Art. 58o. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei. (BRASIL, 2020) A LDB 9.394/96, no artigo 59o., prescreve que as escolas deverão assegurar aos estudantes métodos, currículo e recursos de acordo com as suas necessidades. Mais adiante você estudará sobre essas questões. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre a LDB 9.394/96, acesse: https://bit. ly/38JTeZr. Observe que no art. 1º. há a determinação de que Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no tra- Educação Inclusiva https://bit.ly/38JTeZr https://bit.ly/38JTeZr 17 balho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. (BRASIL, 2020). Lei 13.146 de 2015 Não podemos deixar de estudar também a Lei 13.146 de 2015, Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. No art. 1º. desta lei, está explicitado que ela é “destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”. (BRASIL, 2020). É também a Lei 13.146 que determina que será considerado pessoa com deficiência: [...] aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2020) Mas, afinal, como é realizada a avaliação da deficiência? De acordo com a Lei 13.146, esta avaliação será realizada somente quando necessária, por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, que deverá analisar: I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III - a limitação no desempenho de atividades; e IV - a restrição de participação. § 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência. (BRASIL, 2020) Nesta lei, também são citadas várias barreiras que impedem a participação social da pessoa com deficiência, como por exemplo, urbanísticas, transportes, comunicação, tecnológicas, mobiliário, entre outras. Veja no quadro 1 as barreiras que impedem a inclusão escolar das pessoas com deficiência na rede regular de ensino. Educação Inclusiva 18 Quadro 1 – Barreiras para a inclusão escolar • Prédios escolares pouco ou nada adaptados, como por exemplo, prédios sem rampas, barra de apoio, banheiro adaptado, passagem para cadeira de rodas etc. • Adaptação insuficiente no mobiliário escolar, como por exemplo, falta de mesa e cadeiras adaptadas de acordo com as características dos alunos. • Número elevado de alunos por sala de aula. • Falta de recursos materiais, como material didático, adaptado em Braile, livros falados e equipamentos específicos, como por exemplo computador com sintetizador de voz etc. • Falta de software educativo específico. • Falta de recursos humanos (contratação de profissionais especializados, como por exemplo, intérprete de Libras, professor com formação em educação especial, psicólogo, fonoaudiólogo etc.). Fonte: SILVA (2012, p. 127, Adaptado). No que se referente ao direito à educação, o art. 27o. da lei 13.146, demonstra que Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados no sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. (BRASIL, 2020) Educação Inclusiva 19 Ainda, no artigo 28o. da lei 13146, está explicitado que é responsa- bilidade do poder público criar, garantir, desenvolver, implementar, incen- tivar, acompanhar e avaliar em todas as modalidades (Educação Básica e Ensino Superior) o sistema educacional inclusivo. Nesta lei, também está explicitado que o projeto pedagógico da escola deve oficializar o atendi- mento educacional especializado, [...] assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia. (BRASIL, 2020) É importante destacar que por meio desta lei, fica reconhecido que Libras é primeira língua das pessoas com deficiência auditiva e que, a língua portuguesa é a segunda língua. Por isso, é necessária a oferta de uma educação bilíngue nas escolas. Veja no Quadro 2 a seguir, alguns direitos que devem ser garantidos às pessoas com deficiência na rede de ensino regular, para uma educação inclusiva. Educação Inclusiva 20 Quadro 2 – Lei 13.146 - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar; XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e demais integrantes da comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às atividades concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino; § 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto nos incisos I, II, III, V, VII,VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas determinações. § 2º Na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, deve-se observar o seguinte: I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na educação básica devem, no mínimo, possuir ensino médio completo e certificado de proficiência na Libras; II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução e Interpretação em Libras. Fonte: LEI 13.146, BRASIL (2020). SAIBA MAIS: Consulte a Lei 13.146, disponível em: https://bit.ly/3cy95vf. Assista também ao vídeo Educação Inclusiva – Sala Debate Canal Futura, disponível em: https://bit.ly/3eLAmNt. Educação Inclusiva https://bit.ly/3cy95vf https://bit.ly/3eLAmNt 21 RESUMINDO: Neste capítulo você estudou que a escola regular precisa ser reestruturada para atender as especificidades de cada estudante, proporcionando um ambiente no qual eles tenham sucesso acadêmico. Por isso, uma escola que pretende ser inclusiva não pode se preocupar apenas com a adaptação da infraestrutura física do ambiente, ela precisa reformular os currículos, as formas de avaliação e a formação dos professores. É importante também lembrar da necessidade de eliminar as barreiras atitudinais, isto é, atitudes referentes às relações entre as pessoas que se concentram nas limitações dos indivíduos e não em suas habilidades. Apesar do direito à inclusão das pessoas com deficiência, negros, índios etc., estar garantido por leis e a despeito dos movimentos sociais que buscam a efetivação dessas leis, ainda existem muitos preconceitos e ideologias que não acreditam no potencial desses sujeitos. Logo, a escola precisa ser um espaço que possibilite a eliminação dessas atitudes com reflexões, metodologias, recursos didáticos etc. Além disso, é função de uma escola inclusiva exigir do governo políticas educacionais voltadas para a diversidade e essa diversidade deve ser aceita, respeitada e, principalmente, valorizada. Nos próximos capítulos, vamos continuar apresentando os fundamentos de uma educação inclusiva e serão abordadas as adaptações curriculares, a formação e os desafios enfrentados pelos docentes. Educação Inclusiva 22 Adaptações curriculares para a inclusão INTRODUÇÃO: Neste capítulo vamos estudar as adaptações curriculares necessárias para que uma escola do ensino regular seja inclusiva. Estas adaptações são necessárias para propiciar a aprendizagem de todos os alunos, pois conforme já discutido anteriormente, a educação inclusiva é processo que exige mudança de atitudes. Salend (2008) apud Silva (2012) elege quatro princípios fundamentais a serem seguidos para que uma inclusão escolar seja bem-sucedida: Figura 2 – Princípios fundamentais para inclusão escolar Fonte: Autora, 2021. 1. Acesso para todos os alunos – conforme você já estudou no capítulo anterior, esse acesso está garantido pelas LDB 9.394 e a Lei 13.146; 2. Aceitação dos pontos fortes e desafiadores dos alunos assim como da diversidade – eliminação das barreiras atitudinais; Educação Inclusiva 23 3. Práticas reflexivas e instruções diferenciadas – assunto que será abordado nesse capítulo; 4. Noções de comunidade e colaboração – ponto que será discutido na unidade 3. Vamos aos estudos? Currículo escolar São diversas as mudanças que vêm acontecendo na educação formal, por isso a busca constante por práticas críticas e reflexivas para a construção do saber de qualidade, que visa aprendizagem de todos. Nesse contexto, a escola tem o currículo para orientar seu processo de aprendizagem. Segundo Sacristán (1998) o currículo escolar se refere à trajetória de formação dos alunos. Este autor explica que o currículo faz parte dos múltiplos tipos de práticas. Ele sugere três grandes grupos de problemas na elaboração de um currículo: • Currículo como projeto cultural, em que conteúdos são selecionados; • Determinações políticas, administrativas e institucionais que modelam a seleção de conteúdo, inclusive os não explicitados, que seria o currículo oculto; • Uma sequência histórica, o que implica na seleção de conteúdo a partir de um campo social, condicionada por uma realidade ampla. Neste contexto, as considerações de Sacristán (1998) instigam um conjunto de questões para a formulação de um currículo, entre elas, de acordo com Ricci (s/a) temos: • Quais conhecimentos devem ser ensinados? • Quais as competências e habilidades que os alunos precisam ter? • Quais os critérios de seleção de tais conhecimentos? • A quem esse currículo se destina? • Que cidadão ou cidadã se pretende formar? Educação Inclusiva 24 Segundo Ricci (online), essas questões foram respondidas a partir dos dilemas sociais da época. No momento atual, estamos vivendo o dilema da Educação Inclusiva no ensino regular. Então, a partir desses questionamentos podemos refletir sobre as adaptações curriculares para a inclusão. Figura 3 – Adaptação para inclusão Fonte: Pixabay É importante lembrar que as adaptações curriculares em uma escola inclusiva são necessárias, pois a inclusão deve ser de todos, independentemente das suas necessidades educacionais especiais, origem socioeconômica, cultural ou religião. A escola e a sala de aula são ambientes em que as necessidades dos estudantes devem ser atendidas e desenvolvidas. Diante deste contexto, Silva (2012, p. 98) explica que o sistema educacional, na inclusão escolar, precisa ser reorganizado para atender as necessidades dos estudantes, proporcionando meios para que esses alunos alcancem progressos escolares e sucesso acadêmico. Mas afinal, quais são as adaptações curriculares necessárias para uma escola inclusiva? O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova redigido por Fernando de Azevedo e assinado por mais de 25 educadores e/ou escritores para o governo, tem como ideia central de que o currículo escolar para educação deve ser funcional e ativo, e ainda, que os currículos devem adaptar-se aos interesses naturais dos alunos, que são o eixo da escola e o centro de gravidade do problema da educação. Educação Inclusiva 25 Nesta perspectiva, os princípios da Escola Nova baseiam-se na iniciativa do estudante; preocupam-se com o que a criança pode realmente aprender; valorizam as tendências espontâneas da criança; os professores sugerem, orientam e coordenam; os métodos, programas e horários são maleáveis; visam as noções utilizáveis; são essencialmente educativos; estão mais próximos do meio natural de vida; buscam o aperfeiçoamento; elevam a natureza moral do aluno; procuram individualizar o ensino produzindo satisfação; atendem mais ao presente; tratam a criança como criança; propõem uma atividade produtiva e obtêm a disciplina voluntária. (RICCI, s/a). Currículo e a inclusão escolar As adaptações curriculares são necessárias, pois têm como objetivo buscar alternativas para o desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes com necessidades educacionais especiais. É importante evidenciar que a menção da adaptação curricular está presente tanto na Lei 13.146, como na Lei 9.394. Lei 13.146, Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia. Lei 9.394, Art. 59. Os sistemas deensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades. (BRASIL, 2020, grifo da autora) Apesar da adaptação curricular estar regulamentada em lei, não está especificado como deve ser realizada. Os autores Oliveiro e Machados Educação Inclusiva 26 (2007 apud SANTANA, et al. 2020) explicam que essas adaptações implicam no número de alunos em sala de aula, na cooperação entre os professores do ensino regular e do ensino especial e, ainda, no tempo de permanência do estudante em uma determinada série. Os autores explicam que este ajuste na promoção do aluno de uma série para outra, precisa prever um atendimento de suplência para apoiá-lo, caso não seja esgotado o plano de ensino da classe anterior. Portanto, compreende-se por adaptação curricular, [...] as modificações realizadas no planejamento, dos objetivos da escola, nos conteúdos, nas atividades, nas estratégias de aplicação deste conteúdo e da avaliação, no currículo como um todo ou um aspecto dele. (OLIVEIRO E MACHADOS, 2007 apud SANTANA, et al. 2020, p. 3) Esta adaptação é um desafio, já que os professores deverão buscar uma educação que possibilite não apenas a aquisição do conhecimento, mas também o desenvolvimento de capacidades dos estudantes de transformarem e conviver com as diferenças. No próximo capítulo vamos aprofundar os estudos sobre os desafios para os professores na Educação Inclusiva. De acordo com Santana et al. (2020), as adaptações curriculares são um caminho para o atendimento dos estudantes com necessidades específicas. No entanto, para compreender essas necessidades deve ser realizada uma avaliação para identificar as necessidades de aprendizagem específicas de cada aluno. Santana et al. (2020) explicam que essa avaliação deve ser realizada por uma equipe interdisciplinar de setor ou servido de orientação do centro ou instituição. No momento que essas necessidades educacionais específicas são identificadas, a escola precisa modificar as suas ações e expectativas em relação aos alunos e também precisa organizar um ambiente escolar em que todos tenham ciência destas especificidades dos estudantes. (SANTANA, et al. 2020). É importante destacar que as adaptações curriculares devem considerar todos os aspectos, já que a educação é muito mais que a transmissão do conhecimento. Por isso a necessidade da participação de todos: da família, da comunidade acadêmica e da sociedade. Em uma Educação Inclusiva 27 sala de aula as necessidades são diversas. Ela não deve se limitar apenas aos estudantes com necessidades especiais. Por isso, a necessidade de se pensar no currículo com foco principal no ser humano (SANTANA, et al. 2020). Nesta perspectiva, MacLaren (1998) explica que o currículo: [...] representa muito mais do que um programa de estudos, um texto em sala de aula ou o vocabulário de um curso. Mais do que isso, ele representa a introdução de uma forma particular de vida; ele serve, em parte, para preparar os estudantes para posições dominantes ou subordinadas na sociedade existente. O currículo favorece certas formas de conhecimento sobre outras e afirmar os sonhos, desejos e valores de grupos seletos de estudantes sobre outros grupos, com frequência discriminando certos grupos raciais, de classe ou gênero. (MACLAREN, 1998, p. 116) apud SANTANA et al.,2020, p. 4) Neste contexto, Santana et al. (2020) afirmam que as modificações curriculares devem influenciar todos que estão envolvidos no processo, para que seja uma preparação para vida. Devem solucionar os conflitos e inquietações que surgem a partir de uma nova perspectiva e, ainda, que todos se entendam e se respeitem cada vez mais. Figura 4 – Todas as pessoas devem seguir juntas nas modificações curriculares Fonte: Pixabay Se faz necessário lembrar que o currículo deve ser adaptado às necessidades educacionais dos estudantes. Logo, a função da escola é oferecer currículos que se adaptem à diversidade de estudantes que ela tem, isto é, o currículo deve ser organizado respeitando os interesses, as potencialidades e capacidades de cada um. Além disso, de acordo com Santana et al. (2020, p. 5) a escola precisa estar atenta para o fato que [...] as necessidades não são estabelecidas de forma definitiva, mas se constituem no fazer pedagógico cotidiano, na busca Educação Inclusiva 28 de caminhos e respostas, indo além das dificuldades, possibilitando ao aluno um desenvolvimento pleno, norteado pelo horizonte da participação social, e não mais pelo patamar dos limites de sua deficiência – o que gera a sua exclusão social. (SANTANA et al., 2020, p. 5) Não podemos deixar de mencionar que em alguns casos, as adaptações curriculares exigem recursos para que elas aconteçam de forma efetiva dentro do sistema educacional. Entre estes recursos, podemos citar: intérprete de Libras para estudantes surdos, diferentes materiais didáticos para o desenvolvimento da percepção tátil para os alunos com deficiência visual, mobiliário, recursos pedagógicos e estratégias adequadas que motivam e possibilitam a aprendizagem dos estudantes com necessidades educacionais especiais, entre outros. As adaptações de acessibilidade ao currículo se referem à eliminação de barreiras arquitetônicas e metodológicas, sendo pré-requisito para que o aluno possa frequentar a escola com autonomia, participar das atividades acadêmicas para os demais alunos. Estas incluem as condições físicas, materiais e de comunicação, como por exemplo, rampas, de acesso e banheiros adaptados, apoio de intérpretes de LIBRAS e/ou capacitação do professor e demais colegas, transição de textos BRAILLE e outros recursos de recursos pedagógicos adaptados para deficientes visuais, uso de comunicação alternativa com alunos com paralisia cerebral ou dificuldades de expressão oral, entre tantos outros. (SANTANA, et al., 2020, p. 8) A Resolução nº 2, 11 de setembro de 2001, institui as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica. Referente à adaptação do currículo, fica instituído que: Art. 8º As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns: III -flexibilizações e adaptações curriculares que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais Educação Inclusiva 29 em consonância com o projeto pedagógico da escola, respeitada a frequência obrigatória; V – Serviços de apoio pedagógico especializado em salas de recursos, nas quais o professor especializado em educação especial realize a complementação ou suplementação curricular, utilizando procedimentos, equipamentos e materiais específicos; VIII – temporalidade flexível do ano letivo para atender as necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas, de forma que possam concluir em tempo maior o currículo previsto para a série/etapa escolar, principalmente nos anos finais do ensino fundamental, conforme estabelecido por normas dos sistemas de ensino, procurando-se evitar grande defasagem de idade/série. Para Santana et al. (2020) a educação especial precisa ser vista como um conjunto de medidas que a escola regular disponibiliza ao serviço de resposta adaptada à diversidade dos seus estudantes. Nesta mesma linha de pensamento, Silva (2012) explica que a inclusão escolar se trata de um processo que exige mudanças de posturas e práticas no ambiente escolar. Tornar real as adaptações curriculares é o melhor caminho para o atendimento às necessidades específicas de aprendizagem dos alunos. Identificar essas“necessidades” requer que os sistemas educacionais modifiquem não apenas suas atividades e expectativas em relação a esses alunos, mas que se organizem para construir uma real escola para todos, que dê conta dessas especificidades. A inclusão de alunos com necessidades especiais na classe regular implica o desenvolvimento de ações adaptativas, visando a flexibilização do currículo, para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e atender as necessidades individuais de todos os alunos. (SANTANA, 2020, p. 8) É diante deste contexto, que fica evidenciado que a prática pedagógica tradicional, baseada na transmissão de conhecimento, se torna ineficaz para o processo de aprendizagem dos alunos, pois desconsidera Educação Inclusiva 30 as outras formas de aprendizagem. Esta proposta homogeneizada do currículo, provoca dificuldades de aprendizagem, desistência, repetência, fracasso escolar etc. e não atende a diversidade dos estudantes presentes no ambiente escolar. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre adaptação curricular para educação inclusiva leia o artigo a seguir. Educação Inclusiva: Um Olhar Sobre As Adaptações Curriculares, de Caroline Borges Zanato e Roberto Gimenez. Este artigo “discute o papel das adaptações curriculares para a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino”. Disponível em: https://bit.ly/3llfi1q. RESUMINDO: No início do capítulo, foi definido que currículo escolar é o percurso de formação dos estudantes e que, de acordo com Sacristán (1998), existem três grandes problemas na elaboração do currículo escolar que são: currículo como projeto cultural; determinações políticas, administrativas e institucionais e uma sequência histórica. Diante deste contexto, o Ricci (s/a) sugere que ao formular um currículo é necessário responder algumas perguntas, sendo que estas perguntas são respondidas a partir dos problemas sociais da época. Além disso, o problema presente na contemporaneidade da sociedade é a educação inclusiva diante de uma sociedade pluricultural. Em seguida, você estudou a complexidade para a elaboração das adaptações curriculares para propiciar a aprendizagem de todos os estudantes e que, em alguns casos, essas mudanças no currículo, exigiriam recursos para que a aprendizagem acontecesse de forma efetiva. Mas, não podemos finalizar, sem mencionar que colocar em prática este currículo requer muita determinação do professor, pois ele precisa estar disposto a examinar suas atitudes, buscar diferentes formas de ensinar, avaliar e organizar a sala de aula. São esses e outros desafios que serão abordados no próximo capítulo. Educação Inclusiva https://bit.ly/3llfi1q 31 Os desafios dos professores na educação inclusiva INTRODUÇÃO: Vamos dar continuidade aos estudos sobre Educação Especial. Nesse capítulo, serão abordados os desafios enfrentados pelos professores para implantar e manter uma Educação Inclusiva, discernido sobre suas dificuldades e as resistências impostas pelo sistema de ensino e pela sociedade como um todo. Para iniciar os estudos, reflita sobre a seguinte questão “Qual a perfil de aluno que precisamos formar para sociedade?” Com acesso fácil à informação por meio dos recursos tecnológicos, presentes no dia a dia dos estudantes, a escola e os professores precisam rever sua metodologia para buscarem formar um aluno integral. Hengemulle (2004) apresenta os quatro pilares da educação, adequados no cenário vivenciado pelos alunos: aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a conviver. Veja que esses quatro pilares estão relacionados com a proposta da educação inclusiva, em que a inclusão é ir além da inserção do estudante com necessidades educacionais especiais no sistema regular de ensino. Esta inclusão tem uma jornada e um propósito, com vários obstáculos durante todo o processo. Então vamos juntos conhecer esses desafios? O papel e os desafios dos professores na Educação Inclusiva Os professores desempenham um papel importante durante todo o processo de aprendizagem dos estudantes com necessidades especiais. É com o apoio destes profissionais que os alunos vão desenvolver e ampliar as habilidades que já possuem. Na sala de aula, o professor é o responsável por organizar o ambiente, guiar e orientar as atividades durante o processo de aprendizagem para Educação Inclusiva 32 aquisição do conhecimento e das competências. Para nortear e adaptar quando necessário a sua prática, o professor tem como apoio o projeto pedagógico da escola, que indica ações que ele deverá assumir diante a diversidade presente na sala de aula. Por isso, sua participação na construção deste documento é relevante. A partir deste documento, ele poderá propor adaptações curriculares individualizadas com foco no atendimento às particularidades de cada aluno. Além disso, o professor é o responsável por proporcionar uma sala de aula de cooperação e oportunidade para todos. É um desafio para os professores proporcionarem esse ambiente perante a diversidade presente em sala de aula. Salend (2008) apud Silva (2012) explica que os professores precisam considerar os diversos fatores que tornam os indivíduos únicos, como raça, gênero, língua, comprometimento e nível econômico, pois esses fatores interagem e influenciam o desempenho acadêmico e social dos seus estudantes. Por isso, de acordo com o autor, “as salas de aulas inclusivas são aquelas que promovem aceitação e equidade, que valorizam a capacidade que todos os indivíduos possuem para aprender e contribuir com a sociedade” (SILVA, 2012, p. 103). Figura 5 – Desafio para o professor Fonte: Freepik Um outro desafio para o docente é refletir sobre a sua prática educativa, pois na Educação Inclusiva, este profissional tem que estar Educação Inclusiva 33 disposto a avaliar suas ações e buscar diferentes formas de ensinar, avaliar e organizar a sala para proporcionar e garantir um ambiente que atenderá as necessidades dos estudantes, a evolução e a experiência escolar significativa. IMPORTANTE: Para que a inclusão escolar seja efetivada com êxito, não basta que apenas alguns professores dentro de uma escola acreditem nela. Pelo contrário, é necessário que toda a comunidade escolar, incluindo familiares e alunos, acreditem e sigam os princípios básicos da inclusão, ou seja, democracia, igualdade, busca de uma educação de qualidade para todos os alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular. (SHAFFNER; BUSWELL, 1999, apud SILVA, 2012, p. 104). É importante evidenciar que os professores precisam do apoio dos gestores da escola na implantação de uma educação inclusiva de qualidade para todos. Shaffner e Buswell (1999) apud Silva (2012) afirmam que são os gestores das escolas responsáveis por definir os objetivos que escola deverá alcançar para se tornar uma escola inclusiva e, ainda, garantir que as ações sejam implementadas para alcançar esses objetivos, e por fornecer apoio para as interações e os processos elaborados de acordo com a perspectiva de inclusão escolar. Frente aos desafios impostos pelo processo de inclusão escolar, os gestores de ensino devem apresentar uma postura firme de defesa dos direitos dos alunos de receberem educação de qualidade na sala comum da escola regular, sem demonstrar ambivalência, porque isso pode ocasionar insegurança entre os membros da comunidade escolar e comprometer todo o processo. (SILVA, 2012, p. 105) Uma dificuldade encontrada pelos professores é a resistência de outros profissionais ou até mesmo, de outros professores em aceitar a inclusão escolar. De acordo com Plaisance (2005) apud Silva (2012), as escolas estão acomodadas com as suas rotinas e por isso, têm Educação Inclusiva 34 dificuldades em aceitar qualquer mudança ou inovação que implique em reestruturação de um sistema já estabelecido. Uma outra dificuldademencionada por este autor é o moralismo abstrato: [...] a inclusão escolar muitas vezes é tratada como um apelo sentimental, como uma missão a ser cumprida por professores que possuem amor ao próximo e alguma vocação especial que lhes possibilita acolher alunos com necessidades educacionais especiais. Esse moralismo abstrato é muito perigoso, já que o amor ao próximo e o simples acolhimento daqueles que são diferentes não garantem que a inclusão seja efetivada e, principalmente, que os alunos com necessidades educacionais especiais consigam obter sucesso acadêmico. (PLAISANCE, 2005, apud SILVA, 2012, p. 129) Nesse sentido, Silva (2012) explica que a inclusão escolar precisa garantir que os estudantes com necessidades especiais tenham acesso a um ensino regular de qualidade, para que todas as necessidades sejam consideradas e supridas. Para isso, de acordo com a autora já citada, a escola deve ir além do discurso “escola para todos e todas”. Ela precisa de profissionais especializados e que os professores sejam formados para responder da melhor maneira possível à diversidade em sala de aula. Além disso, deve ser garantido a esses estudantes materiais didáticos adaptados, mobiliários adaptados e infraestrutura física adaptada, pois, como sabemos, às vezes a escola já tem os profissionais capacitados para uma educação inclusiva de qualidade, entretanto, ela não fornece os recursos necessários para que isso se torne possível. Educação Inclusiva 35 Quadro 3 - As principais características da escola inclusiva Um senso de pertencer - filosofia e visão de que todas as crianças pertencem à escola e à comunidade e de que podem aprender juntos. Liderança - o diretor envolve-se ativamente com a escola toda no provimento de estratégias. Padrão de excelência - os altos resultados educacionais refletem as necessidades individuais dos alunos. Colaboração e cooperação - envolvimento de alunos em estratégias de apoio mútuo (ensino de iguais, sistema de companheiro, aprendizado cooperativo, ensino em equipe, co-ensino, equipe de assistência aluno- professor etc.). Novos papéis e responsabilidades - os professores falam menos e assessoram mais; psicólogos atuam mais junto aos professores nas salas de aula, todo o pessoal da escola faz parte do processo de aprendizagem. Parceria com os pais - os pais são parceiros igualmente essenciais na educação de seus filhos. Acessibilidade - todos os ambientes físicos são acessíveis e, quando necessário é oferecida tecnologia assistida. Ambientes flexíveis - espera-se que os alunos se desenvolvam de acordo com o estilo e ritmo individual de aprendizagem e não de uma única maneira para todos. Estratégias baseadas em pesquisas - aprendizado cooperativo, adaptação curricular, ensino de iguais, instrução direta, ensino recíproco, treinamento em habilidades sociais, instrução assistida por computador, desenvolvimento de hábitos e técnicas de estudo etc. Novas formas de avaliação escolar - dependendo cada vez menos de testes padronizados, a escola usa novas formas para avaliar o progresso de cada aluno rumo aos respectivos objetivos. Desenvolvimento profissional continuado - aos professores são oferecidos cursos de aperfeiçoamento contínuo visando a melhoria de seus conhecimentos e habilidades para melhor educar seus alunos. Fonte: SOUZA, 2008. Na educação inclusiva, não podemos deixar de mencionar que também é um desafio para o professor a busca permanente de aprendizagem. Este profissional precisa estar constantemente se atualizando, pois ele deve ir além da implantação de currículos e Educação Inclusiva 36 programas estabelecidos pela escola. De acordo com Campbell (2009) o professor precisa ter condições para escolher atividades, conteúdos ou experiências que sejam mais adequados ao desenvolvimento das capacidades do grupo de alunos, sempre levando em consideração o nível e as necessidades de cada um. IMPORTANTE: A educação inclusiva veio tornar mais complexa e mais desafiadora a tarefa dos educadores e evidenciou que sua formação nunca está acabada. Eles precisarão estudar o que estavam dispensados de estudar, aprender técnicas nas quais antes não pensavam, adequar seu ritmo ao de seus alunos, aprender a “ouvir” por outros meios diferentes da audição, terão de rever suas expectativas, as formas de ensinar, avaliar, aprovar e reprovar (CAMPBELL, 2009, p. 158). De acordo com Campbell (2009, p. 158) o professor precisa “descer de seu pedestal e admitir que não se considera capaz de lidar, sem o apoio de colegas ou profissionais de áreas afins, com a diversidade de problemas que se apresentam em seu cotidiano”. Esse é um papel do professor na educação inclusiva, assumir as suas dificuldades e compartilhar com seus colegas ou profissionais da área para juntos buscarem um caminho para atender com qualidade as necessidades educacionais do estudante. É importante lembrar que um outro desafio do professor é conhecer as necessidades educacionais do seu aluno, saber o que ele já domina e quais são as possibilidades de desenvolver esses conhecimentos. Para isso, o professor precisa conversar com os pais e os professores anteriores, para conhecer melhor o perfil do seu estudante e, ainda, ter acesso ao seu histórico escolar. Professor eficiente é aquele que observa seus alunos, percebendo suas dificuldades, potencialidades, e desenvolve práticas que viam, ao máximo, ao desenvolvimento de cada um e de todos, utiliza métodos diferenciados de ensino e de avaliação, respeitando as limitações de cada um, buscando Educação Inclusiva 37 formas cooperativas e colaborativas que propiciem a integração do conjunto de seus alunos. (CAMPBELL, 2009, p. 159) Campbell (2009) explica que o professor precisa mudar o foco das incapacidades dos seus estudantes para as potencialidades que eles possuem. Isto pode ser um desafio para o docente, pois ele precisará buscar novas estratégias para evidenciar essas potencialidades do estudante. De acordo com Campbell (2009, p. 159) “novas estratégias, para o alcance de seus objetivos é um bom começo para tornar eficiente o trabalho do educador, qualquer que seja o tipo de escola em que atue”. Sabemos que é necessário mudar a forma de ensinar, tornan- do mais atraente os conteúdos a serem ministrados, não só integrando a realidade, mas também a transformando, alian- do-a aos interesses dos alunos, tornando prazeroso e mais efetivo o ato educativo. (CAMPBELL, 2009, p. 159) Não podemos deixar de citar que outro desafio do professor dentro do ambiente escolar é fazer com que os estudantes com necessidades especiais sintam que pertencem àquela sala de aula, que também fazem parte daquele grupo e podem, de alguma forma, contribuir para o crescimento do grupo. Quais são as características do professor inclusivo? Você consegue lista-las? • Conhece cada um dos seus estudantes e ainda, educa-os, dando ênfase à aprendizagem significativa. • Cria tarefas de acordo com a capacidade do aluno, entretanto, desafiadoras. • Acredita na capacidade do aluno, proporcionando diversas experiências para que a aprendizagem seja desenvolvida e efetiva. • Proporciona um ambiente positivo dentro da sala, incentivando os estudantes a trabalharem em colaboração, fazendo com que todos se sintam pertencentes ao grupo. Educação Inclusiva 38 • Reconhece e valoriza os esforços e os resultados alcançados pelos estudantes, mesmo quando esse resultado não alcance o objetivo esperado. • Sempre busca dar feedback para os seus alunos, orientando os seus progressos e dando condições para eles progredirem tanto nos estudos, como no relacionamento com outros indivíduos. O trabalho desenvolvido pelo professor dentro da sala de aula em uma turma mista (com alunos sem nenhuma necessidade educacional especial ou com necessidade educacional especial) é difícil, mas é possível com o sistema de ensino,da família e até da comunidade. As mudanças nesse ambiente, para uma educação inclusiva requerem mudanças dos conceitos, das práticas pedagógicas e de recursos necessários para uma educação inclusiva de qualidade. Vamos analisar os quatro pilares apresentados no início deste capítulo, que estão relacionados com a educação do mundo contemporâneo, no qual, neste cenário, está a educação inclusiva. Veja o quadro a seguir. Observe que esses quatro pilares abordam pontos que estão diretamente ou indiretamente relacionados com a perspectiva da educação inclusiva, não somente no Brasil, mas no mundo. Educação Inclusiva 39 Quadro 4 – Os quatro pilares da educação 4 pilares da educação contemporânea O que significa Aprender a ser Desenvolvimento total da pessoa: afetividade; valores éticos e morais; honestidade e coerência; liberdade e responsabilidade; perseverança, constância e persistência; pensamento autônomo e crítico; equilíbrio emocional; integração entre o físico, psíquico e espiritual. Aprender a conhecer Domínio dos instrumentos do conhecimento: espírito de pesquisa e busca; compreensão de fenômenos; capacidade de argumentar; conhecimento técnico-científico; integração da teoria e prática; consciência de aprender a aprender e atualizar-se sempre; conhecimento sensitivo, artístico, estético; apropriação crítica das informações e dos recursos tecnológicos. Aprender a fazer Qualificação profissional e o desenvolvimento de competências para solucionar diversas situações e trabalhar em equipe: solução de problemas; elaboração de conceitos autônomos e críticos; capacidade empreendedora; elaboração de projetos, propostas; liderança; espírito de iniciativa, invenção e imaginação; administração e resolução de conflitos. Aprender a conviver Educar para convivência para enfrentar as questões postas pela diversidade e pelo multiculturalismo: espírito cooperativo e de equipe; respeito às diferenças culturais, sociais e religiosas; autoconhecimento para conhecer e compreender os outros; espírito de autocrítica e humildade; capacidade de dialogar; ética pessoal e profissional; sociabilidade e harmonia; capacidade para enfrentar as tensões entre pessoas, grupos e nações. Fonte: HENGEMULLE (2004, p. 44, Adaptado). Educação Inclusiva 40 RESUMINDO: Chegamos ao final de mais um capítulo desta unidade! Agora vamos rever alguns pontos importantes abordados aqui. Você compreendeu que o professor tem um papel fundamental durante todo o processo de aprendizagem de seus alunos com necessidades educacionais especiais, pois são eles que auxiliarão os alunos a desenvolver e ampliar as habilidades que já possuem. O professor tem o projeto pedagógico da escola que serve de apoio para nortear e adaptar, quando necessário, a sua prática docente. Este projeto é importante para o docente, pois ele sinaliza ações que deverá assumir diante da diversidade presente na escola (cultura, ética, racial, religiosa, etc.). Por isso, a sua participação na construção deste projeto é tão importante. Mas, apesar disso tudo, a situação não é tão simples! Por isso, a necessidade do apoio da família, da comunidade e do próprio sistema de ensino. Uma educação inclusiva requer a mudança de conceitos, das práticas e recursos. Entretanto, nem todos estão abertos para essa mudança. Não podemos encerrar esta unidade, sem mencionar um dos maiores desafios da educação inclusiva, que é formação dos professores para lidarem com a diversidades de alunos presentes na escola. Este assunto será discutido no próximo capítulo. Educação Inclusiva 41 Capacitação docente para educação inclusiva INTRODUÇÃO: Vamos identificar aqui os requisitos curriculares e as competências a serem desenvolvidas no processo de capacitação docente para atuar na Educação Inclusiva. Você sabia que a capacitação docente é tão importante que ela está regulamentada pelas políticas públicas do nosso governo? É função do professor repensar sobre sua formação inicial e continuada. A formação inicial representa a obtenção do título de graduação e a formação continuada é aquela que acontece durante a sua carreira acadêmica. Pronto para adquirir novos conhecimentos? Então, vamos lá! Formação Docente O docente deve estar sempre considerando e reconsiderando as suas práticas educativas, no contexto social em que essas práticas acontecem, na vivência acadêmica, mas também na sociedade em que a escola está inserida. Ele não pode descartar experiências já desenvolvidas e vivenciadas em outros momentos e espaços, mas ele precisa considerar também, diante do contexto atual, buscar sua atualização. De acordo com Grochoska (2012, p. 128) “o professor deve estar preparado tanto teoricamente quanto em sua prática para interagir de maneira conjunta com os diversos elementos que compõem a dinâmica escolar”. É importante destacar que a formação docente, está também estabelecida nas políticas públicas para a educação, conforme está descrito na LDB 9.394: Parágrafo único “A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos: Educação Inclusiva 42 I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho; II - a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço; III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (BRASIL, 2020) Também, referente à formação docente, a Resolução CNE/CP n. 2, de 20 dezembro de 2019, em seu artigo 2º. estabelece que: Art. 2º. A formação docente pressupõe o desenvolvimento, pelo licenciando, das competências gerais previstas na BNCC-Educação Básica, bem como das aprendizagens essenciais a serem garantidas aos estudantes, quanto aos aspectos intelectual, físico, cultural, social e emocional de sua formação, tendo como perspectiva o desenvolvimento pleno das pessoas, visando à Educação Integral. (BRASIL, 2020) IMPORTANTE: A Resolução CNE/CP n. 2, de 20 dezembro de 2019, em seu anexo BASE NACIONAL COMUM PARA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA (BNC- FORMAÇÃO) lista as competências gerais e específicas para os docentes. Para saber mais acesse: encurtador.com. br/fgAD2. Com base nestas competências, compreende-se que a formação docente deve ser vivenciada numa perspectiva integral, pois além de dominar os conteúdos, o professor também precisa saber planejar a sua prática, ter engajamento profissional e saber como uma escola é estruturada. Grochoska (2012) explica que o docente precisa conhecer os processos de aprendizagem para buscar oferecer o melhor atendimento para o estudante com necessidades educacionais especiais. Educação Inclusiva encurtador.com.br/fgAD2 encurtador.com.br/fgAD2 43 Tornar-se exímio pesquisador também é requisito para a formação docente, visto que o professor é um sujeito do processo. Assim, é preciso que os sistemas de ensino proponham estratégias de formação inicial e continuada, a fim de melhor preparar esse profissional para o exercício da sua profissão, inclusive prevendo seus planos de carreira a ascensão para aqueles que manifestarem interesse nessa formação. (GROCHOSKA, 2012, p. 128) É importante destacar que a escola é um local de aprendizagem e para o desenvolvimento profissional dos docentes. Conforme é explicado por Saviani (2009) apud Nascimento et al. (2016) a formação pedagógico- didática dos docentes acontecerá em decorrência do domínio dos conteúdos e da própria prática docente. Entretanto, Nascimento et al. (2016) explicam, que infelizmente existe um distanciamento entre a formação dos professores e a realidade escolar. Consequentemente, essa formaçãodesvinculada da realidade escolar é a responsável pela ineficácia do sistema escolar. Neste contexto, Nascimento et al. (2016) indicam que a formação inicial deve consistir em aprender a aprender com a experiência. Diante desta perspectiva, os autores explicam que a formação docente precisa entender que existe uma relação entre a formação e o trabalho docente e que essa relação pode ser traduzida em um somatório de momentos formais e não articulados. Não podemos deixar de mencionar a importância da formação docente continuada, que também está regulamentada na LDB 9.394/96: § 2º A formação continuada e a capacitação dos profissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecnologias de educação a distância. [...] Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos Educação Inclusiva 44 de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. (BRASIL, 2020) E, também na Lei 13.146, no art. 28: Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendimento educacional especializado; (BRASIL, 2020) XI - formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio; A formação docente continuada é importante para o exercício da profissão da docência e essa formação se justifica pela fragilidade na formação inicial e, também, pela necessidade de compreender a complexidade e diversidade da sala de aula. [...] a formação continuada passa a ser um dos pré-requisitos básicos para a transformação do professor, pois é através do estudo, da pesquisa, da reflexão, do constante contato com novas concepções, proporcionado pelos programas de formação continuada, que é possível a mudança. Fica mais difícil de o professor mudar seu modo de pensar o fazer pedagógico se ele não tiver a oportunidade de vivenciar novas experiências, novas pesquisas, novas formas de ver e pensar a escola. (CHIMENTÃO, 2009, p. 3) Nesta perspectiva, observa-se que a formação continuada dos docentes deve ser contínua, para que sejam aperfeiçoados os conhecimentos necessários à sua prática profissional no contexto atual, em que a informação está disponível para todos e todas nas redes de comunicação. Entretanto, essa informação somente poderá ser considerada conhecimento quando ela tem sentido para os estudantes. Educação Inclusiva 45 Candau (1997) apud Chimentão (2009) destaca três aspectos necessários para o processo de formação continuada dos professores: a escola, como locus privilegiado de formação, a valorização do saber docente e o ciclo de vida dos professores. Chimentão (2009) explica que isso significa dizer que a formação continuada parte das necessidades reais do cotidiano escolar do professor. Em seguida, valoriza o saber docente, isto é, o saber curricular/disciplinar e o saber da experiência e, por último, a valorização do saber construído na prática pedagógica, ou seja, teoria e prática. Diante do atual contexto em que a diversidade faz parte do cotidiano escolar, em que o acesso das pessoas com deficiência no ensino regular está regulamentado pelas políticas públicas, fica mais evidente a necessidade da formação continuada docente. Além disso, de acordo com o INEP (2019), tem aumentado gradualmente o percentual de alunos com deficiência (transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades) matriculados em classes comuns em todas as etapas da educação. De acordo com o Instituto, 88% dos alunos estão incluídos em classe comuns em 2018, sendo que a maior proporção de estudantes incluídos é observada no ensino médio, em que 98,9% deles se encontram nessa posição. Mas, entre 2014 e 2018, o maior aumento na proporção de alunos incluídos foi observado na educação infantil, um aumento de 11,5%. Veja o gráfico a seguir. Gráfico 1 – Percentual de alunos com deficiência matriculados em classes comuns Fonte: https://bit.ly/3eKVy6e Educação Inclusiva 46 [[Saiba mais]] Destaca-se aqui o Plano Nacional de Educação (PNE), cuja meta 4 se refere à educação especial inclusiva para a população de 4 a 17 anos de idade com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Observando o Gráfico 32, verifica-se que o percentual de matrículas de alunos incluídos em classe comum vem aumentando gradativamente ao longo dos anos. Em 2014, o percentual de alunos incluídos era de 87,1%; em 2018, esse percentual passou para 92,1%. Além disso, considerando a mesma população de 4 a 17 anos, verifica-se que o percentual de alunos que estão incluídos em classes comuns e que têm acesso às turmas de atendimento educacional especializado (AEE) também cresceu no período, passando de 37,1% em 2014 para 40,0% em 2018. (INEP, 2019, p. 26). Gráfico 2 – Percentual de matrícula de alunos de 4 a 17 anos com deficiência. Fonte: https://bit.ly/3eKVy6e A partir destes dados, vamos estudar a importância da formação docente na Educação Inclusiva. Conforme explicado por Campbell (2009), é necessário que exista o conhecimento e as habilidades para que os docentes atuem com sucesso na inclusão. De acordo com a autora, esse sucesso será possível desde que a boa prática de ensino inclua a avaliação Educação Inclusiva 47 das necessidades educacionais especiais dos estudantes, adaptação do conteúdo curricular, a utilização de tecnologia, individualização dos processos de ensino-aprendizagem, entre outras habilidades. A formação docente e a Educação Inclusiva Como já mencionado anteriormente, o professor tem um papel muito importante na formação educacional dos alunos, pois ele é o indivíduo que convive diariamente com estudantes. Nesse contexto, o professor é responsável por mediar a construção do conhecimento dos estudantes, mas também de valorizar e incentivar a relação entre os seus estudantes, no que se refere ao respeito as diferenças. De acordo com Adams et al. (2017) a formação continuada é uma forma de superar as precariedades na formação inicial, mas também deve ser articulada às mudanças socioculturais. Assim, os autores explicam a necessidade de se discutir sobre o papel do professor para o atendimento às diferenças: uma formação de professores voltada também para a educação especial, já que ele é o sujeito responsável por criar condições que garantam um processo de ensino e aprendizagem efetivo aos estudantes. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre a formação docente continuada leia o artigo “Formação docente continuada e práticas de ensino no atendimento educacional especializado” (https:// bit.ly/38INGym), dos autores Gláucia Uliana Pinto e Mateus Henrique do Amaral. Neste artigo, os autores abordam a importância da formação teórica de qualidade para os docentes, a necessidade de um maior engajamento deles na política por uma educação de qualidade e para que eles tenham maior clareza do que fundamenta as suas práticas. É um desafio a formação docente inicial e continuada de professores, pois segundo Adams et al. (2017) esses cursos devem desenvolver conhecimentos que possibilitem promover nestes profissionais novas atitudes e a compreensão das diversas e complexas situações de Educação Inclusiva https://bit.ly/38INGym https://bit.ly/38INGym 48 ensino, garantindo aos docentes a oportunidade de realizarem de maneira responsável e satisfatória seu papel no processo de ensino e aprendizagem para a diversidade. O conhecimento e as habilidades requeridas para que os professores atuem com sucesso na inclusãodizem respeito principalmente à boa prática de ensino e incluem a avaliação de necessidades especiais, adaptação do conteúdo curricular, utilização de tecnologia de assistência, individualização de procedimentos de ensino de forma que abarquem uma variedade de habilidades etc. (CAMPBELL, 2009, p. 154) De acordo com Campbell (2009), deve ser dada uma atenção especial tanto na formação inicial quanto continuada dos docentes, pois eles precisam aprender a exercer a autonomia e aplicar suas habilidades na adaptação do currículo e na sua prática docente, a fim de atender as necessidades especiais dos estudantes. Além disso, nestas formações é preciso evidenciar a importância da colaboração dos professores com os especialistas e a cooperação com os pais. Não se pode deixar de mencionar que a escola, de acordo com Campbell (2009), deve propiciar condições dignas de trabalho para os professores comuns e especializados. Segundo o autor, a escola precisa compreender que nem todos os professores têm condições psíquicas e profissionais adequadas ao trabalho com alunos com necessidades educacionais especiais, necessitando de orientação, preparo e apoio. Os professores precisam repensar sua prática pedagógica, ela não pode ser baseada apenas no senso comum, pois isso dificulta a detecção dos problemas de aprendizagem de seus estudantes. Eles precisam ter conhecimento referente à deficiência do estudante, pois conforme explica Campbell (2009, p. 158): A educação inclusiva veio tornar mais complexa e mais desafiadora a tarefa dos educadores e evidenciou que sua formação nunca está acabada. Eles precisarão estudar o que antes estavam dispensados de estudar, aprender técnicas nas quais antes não pensavam, adequar seu ritmo ao de Educação Inclusiva 49 seus alunos, aprender a “ouvir” por outros meios diferentes de audição, terão de rever suas expectativas, as formas de ensinar, avaliar, aprovar, reprovar. (CAMPBELL, 2009, p. 158) Referente às atitudes dos professores sobre a inclusão. O que você sabe sobre esse assunto? Existem diversas pesquisas sobre essas atitudes, Farrell e Jenkinson (1997) apud Mittler (2003, p. 185) listam a seguintes atitudes: • A maioria dos professores das escolas regulares apoiam o princípio da inclusão, mas muitos têm dúvidas se isso funcionaria em suas escolas. • Os professores são muito mais positivos sobre a inclusão de crianças com comprometimento sensorial ou físico do que daquelas com dificuldades emocionais e comportamentais ou dificuldades de aprendizagens graves. • Os professores têm atitudes menos positivas do que os diretores, mas muito depende da credibilidade dos profissionais visitantes de apoio especializado. • O apoio à inclusão, em geral, aumenta uma vez que os professores têm uma experiência direta com ela e, por isso, sentem que o esquema tem o total apoio do diretor da escola e das autoridades locais. Antes de encerrar este capítulo, não podemos deixar de destacar que a formação continuada está regulamenta pelas políticas públicas do Brasil, conforme é descrito a seguir: LDB 9.394: Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. (BRASIL, 2020) Lei 13.146: X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e continuada de professores Educação Inclusiva 50 e oferta de formação continuada para o atendimento educacional especializado. (BRASIL, 2020) RESUMINDO: Neste último capítulo desta unidade estudamos a importância da formação inicial e continuada para a educação e ainda, como essa formação pode contribuir para uma educação inclusiva de qualidade. Para isso, foi analisado que o docente deve estar sempre disposto a rever as suas práticas educativas no cenário atual em que a escola está inserida na sociedade. As experiências desenvolvidas e vivenciadas pelos professores também são fundamentais para a sua formação. Além disso, por causa da importância tanto da formação inicial como da continuada, elas estão regulamentadas pelas políticas públicas do país: LDB 9.394/96 “A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica [...]” (BRASIL, 2020); Resolução CNE/CP n. 2, de 20 dezembro de 2019, n. 2, de 20 dezembro de 2019 “A formação docente pressupõe o desenvolvimento, pelo licenciando, das competências gerais previstas na BNCC-Educação Básica, bem como das aprendizagens essenciais a serem garantidas aos estudantes, [...]” (BRASIL, 2020). Para finalizar este capítulo é importante evidenciar que, conforme explicado, nem todos os professores têm condições para trabalhar com os alunos com necessidades educacionais especiais, necessitando de orientação, preparo e apoio. Por isso, a escola deve oferecer condições, tanto psicológicas como profissionais para esses docentes. Educação Inclusiva 51 REFERÊNCIAS ADAMS, F. W.; TARTUCI, D.; PROCÓPIO, M. V. R. Formação de professores de ciência na perspectiva da educação especial: análise da produção científica sobre o tema. Educação e formação de professores. Org. José Selma Peres, Maria Helena de Paula, Márcia Pereira dos Santos. São Paulo: Blucher, 2017. BRASIL. LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Presidência da República - Casa Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 03 nov 2020. BRASIL. LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Presidência da República - Casa Civil. 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