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AULA 07 – AGRAVANTES (CONT.) E ATENUANTES 1. Agravantes (continuação) – Art. 61, CP: h) contra criança, maior de 60 (sessenta anos), enfermo ou mulher grávida; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003). · Criança: Idade menor que 12 anos (até 12 anos incompletos ou 11 anos completos) consoante o ECA; · Maior de 60 (sessenta anos) é a pessoa idosa conforme o Estatuto do Idoso; · Enfermo: Pessoa que, no momento, se encontra abaixo das suas condições físicas normais. · A condição da vítima de pessoa com deficiência (vide o atentado na escola em Barreiras-BA) se enquadra como uma agravante da alínea h? A doutrina e a jurisprudência ainda não tem um posicionamento definido, sendo um bom debate para se incluir, inclusive, como matéria de artigo. · A mulher grávida também é considerada uma pessoa com maior teor de vulnerabilidade i) Quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade; · Se A bate em B, a vítima direta é B, mas o Estado é vítima indireta de todo e qualquer crime já que foi a norma estatal que foi violada; · O Estado é, pelo menos, vítima indireta de todo e qualquer crime (já que existem os crimes que o Estado é vítima direta, como aqueles contra a Administração Pública); · O Estado considera uma afronta/audácia/ousadia a prática de um crime contra uma pessoa que se encontra sob sua imediata proteção; · Ex: A entra na delegacia para matar um preso (pessoa sob custódia do Estado); · Ex: Pessoas incluídas no programa da Lei n. 9809/99*; · Ex: Ajudar um preso a fugir da penitenciária através de violência contra as autoridades estatais; *Abre ao Orçamento Fiscal da União, em favor do Gabinete do Ministro Extraordinário de Política Fundiária, crédito suplementar no valor de R$ 95.191.000,00, para os fins que especifica. j) Em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; · Em outras palavras, admite-se a interpretação analógica ou extensiva (exemplos + cláusula geral); · Ex: Durante a disseminação da Covid-19 (calamidade pública); · Ex: Greve de polícia (calamidade pública) gera favorabilidade à prática de delitos; · Ex: Pessoas que sofrem acidentes de carro e são vítimas de crimes patrimoniais; l) Em estado de embriaguez preordenado; · O indivíduo bebe almejando à prática do delito; · Não há exculpante e, além disso, há um agravante de pena; EMBRIAGUEZ VOLUNTÁRIA/DOLOSA EMBRIAGUEZ PREORDENADA O indivíduo bebe por livre e espontânea vontade, geralmente para se divertir. Esse indivíduo pode vir a cometer crime ou não. Não é agravante de pena e não é exculpante. O indivíduo bebe para “criar coragem” e cometer a prática de um delito (doloso ou culposo). Além de não ser exculpante, é um agravante de pena. 2. Agravantes no caso de concurso de pessoas: As agravantes no concurso de pessoas não impedem o princípio da individualização da pena. Aqui se fala, normalmente, para os indivíduos que estão em um patamar mais elevado na execução do delito. Art. 62 – CP: A pena será ainda agravada em relação ao agente que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; Aqui há a menção ao “cabeça”, “manda-chuva”, “líder”, o qual contribui mais para o crime. II - coage ou induz outrem à execução material do crime; Aqui há menção a uma hipótese de autoria mediata. Por exemplo: A coage B para cometer um delito X contra C. A é o autor mediato e B, o autor imediato (executor). COAÇÃO A B (COATOR) (COACTO) O executor terá a culpabilidade excluída em razão da coação moral irresistível. O autor mediato é popularmente conhecido como “homem de trás” e é aquele que, de fato, é o responsável pelo crime. OBS: Coator não se confunde com coautor. III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; Trata-se de mais uma hipótese de autoria mediata. O autor imediato se encontra sob exclusão da culpabilidade, seja por obediência hierárquica ou qualquer outra excludente de inimputabilidade (seja em virtude de idade, insanidade mental, etc). IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa. O autor está recebendo algo para praticar o delito (apoio político, quantia financeira...). 3. As circunstâncias atenuantes: Art. 65 – CP: São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) A doutrina e a jurisprudência impedem o duplo-benefício por atenuante. I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; · 21 anos incompletos na data do fato (“atenuante da menoridade” ou “atenuante da menoridade relativa”): 18 ≤ IDADE < 21 anos; · Maior de 70 anos na data da sentença (“atenuante da senilidade”: senil = gagá, termo pejorativo). Daniela Portugal sustenta que a razão para essa atenuante deve ser pautada na lógica da ressocialização, ou seja, para que o condenado, ainda em vida, consiga retornar à sociedade; · O patamar de 70 anos é muito criticado por divergir em relação ao Estatuto do Idoso (norma posterior à previsão do Código Penal que prevê como idoso aquele indivíduo cuja idade é superior ou igual a 60); · Nesse sentido, nem todo idoso terá aplicada a atenuante do inciso I (60 ≤ IDADE < 70). Pode-se, destarte, se pensar em uma analogia favorável ao réu (in bonam partem), ainda que não seja o pensamento majoritário adotado pelos tribunais; II - o desconhecimento da lei; O inciso II dialoga com o erro sobre a ilicitude do fato. O art. 21 do Código Penal, conforme já estudado em Direito Penal II, é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. O desconhecimento da lei não exclui a culpabilidade, todavia, atenua a pena. O desconhecimento da lei (nunca ter lido a lei) não se confunde com o desconhecimento da ilicitude (erro de ilicitude ou erro de proibição = não sabia que era ilícito). ERRO DE PROIBIÇÃO DESCONHECIMENTO DA LEI Excludente de culpabilidade. Envolve a potencial consciência da ilicitude. Não exclui a culpabilidade (responsabilidade penal). Trata-se de uma atenuante de pena. III - ter o agente: O inciso III lista uma série de circunstâncias atenuantes para o agente QUALIFICADORAS E PRIVILÉGIOS (mais força) CAUSAS DE AUMENTO E CAUSAS DE DIMINUIÇÃO AGRAVANTES E ATENUANTES CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS (menos força); a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; Só irá atenuar quando a referida circunstância não for prevista como privilégio ou causa de diminuição para o crime. Motivação relativamente acolhida, para fins de minimizar a reprovabilidade da conduta. · “Valor social”: A motivação do crime encontra respaldo no desejo social comum – ex: roubar dos ricos para dar aos pobres ou matar um ditador; · “Valor moral”: Desejo do próprio agente, mas socialmente “compreendido/acolhido” – ex: A mata o estuprador da sua filha; É possível combinar ambos. Ex: A matou um ditador que havia matado a sua filha (valor social + valor moral). b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; Aqui, tem-se menção aos casos de desistência voluntária, arrependimento eficaz e arrependimento posterior. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA (art. 15 – CP) ARREPENDIMENTO EFICAZ (art. 15 – CP) ARREPENDIMENTO POSTERIOR (art. 16 – CP) Antes de seguir no seu plano executório, o agente para espontaneamente. Ex: A para de atirar facadas em B. O indivíduo já iniciou a execução e realiza uma conduta ativa para impedir a consumação do delito. Ex: A leva B para o hospital e B é salvo a tempo. O delito que não envolva violência ou grave ameaça já se consumou, mas o indivíduo consegue reparar oano antes do recebimento da denúncia. Trata-se de uma atenuante. Deve-se cumprir todos os requisitos do art. 16, Código Penal, que discorre sobre o arrependimento posterior. Art. 16 – CP: Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; Aqui há um diálogo com a culpabilidade estudada em Direito Penal II. Art. 22 – CP: Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Para excluir a culpabilidade: A coação moral deve ser irresistível, assim como a obediência hierárquica deve ter vínculo com uma ordem não manifestamente ilegal, em virtude da inexigibilidade de conduta diversa. Caso não se consiga excluir a culpabilidade, pode a tese defensiva se pautar na atenuação da pena. Art. 28 – CP: Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a emoção ou a paixão; A emoção e a paixão não excluem a imputabilidade penal, contudo, atenuam a pena. d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; A alínea “d” dialoga com questões bastante relevantes. Diálogo com os arts. 158, 186, 197, 198, 199 e 200, CPP. Hoje, com a consolidação do neoconstitucionalismo, o interrogatório é tanto visto como um meio para a obtenção de prova quanto um meio para o exercício do direito fundamental de autodefesa. A confissão não exime a acusação de realizar outros exames probatórios como exame de corpo de delito. A confissão, portanto, não é a “rainha das provas” (art. 158 – CPP). O silêncio não importa em confissão (direito constitucional do silêncio) – arts. 186 e 198 – CPP. A confissão será confrontada com as demais prova do processo (art. 197 – CPP). A confissão será divisível e irretratável (art. 200 – CPP): O indivíduo não pode se retratar, ou seja, mudar a sua versão, mas o juiz pode fatiar a confissão qualificada (ex: matei/em legítima defesa). O entendimento do STJ é que, se o magistrado levar em consideração a confissão retratada/qualificada para condenar, o magistrado deve atenuar a pena. Daniela Portugal critica veementemente essa divisibilidade da confissão para condenar. Súmula 545, STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal. e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou. Para a próxima aula: Leitura e pesquisa - https://www.dizerodireito.com.br/2022/09/o-reu-confessou-o-crime-o-juiz na.html#:~:text=O%20direito%20subjetivo%20do%20r%C3%A9u%20de%20ver%20a,condenat%C3%B3ria%2C%20isso%20%C3%A9%20apenas%20um%20momento%20meramente%20declarat%C3%B3rio.