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1 1 Fisiopatologia II e Atividade Integradora | 5º semestre | Débora Sousa | 17/05/2022 ETIOLOGIA AGENTE ETIOLÓGICO: Mycobacterium tuberculosis, A tuberculose é uma doença infecciosa de evolução crônica que compromete principalmente os pulmões. As bactérias do gênero Mycobacterium são caracterizadas principalmente por apresentarem um tempo de geração longo, 3 horas para as espécies de crescimento rápido e 18 horas, em média, para as espécies de crescimento lento e serem resistentes à descoloração por solução contendo álcool e ácido (possui alto teor de lipídeos na cápsula). Com seu metabolismo voltado especialmente para a construção da cápsula que o protege dos agentes químicos, o M. tuberculosis cresce lentamente. Aeróbio, duplica sua população em 18 a 48 horas, dependendo da maior ou menor oferta de oxigênio, do pH do meio e acesso a nutrientes. É, entretanto, facilmente destruído por agentes físicos, como o calor, os raios ultravioletas da luz solar e radiações ionizantes. PATOGENIA Tem uma baixa morbidade que, associada ao crescimento lento, provoca principalmente doença de curso lento e crônico em indivíduos com baixa imunidade, com destaque para a subnutrição. Por ser um aeróbio estrito para a maior parte das suas populações, infecta os pulmões e aí se localiza preferencialmente – a presença de oxigênio favorece sua multiplicação e a ligação do órgão com o meio externo facilita sua transmissão. Principal porta de entrada: vias aéreas bacilos fixam-se no trajeto birfurcado da árvore traqueobrônquica eliminados pelo sistema de defesa mucociliar Capacidade do agente sobreviver no pulmão: depende da sua virulência e do sistema imune do hospedeiro Células de 1ª linha de defesa: macrófagos se resposta efetiva, causará a sua eliminação pela ação fagocítica de macrófagos alveolar Se a resposta imunológica for ineficaz, os bacilos poderão deixar o interior dos macrófagos e disseminar p/ corrente linfática até os linfonodos regionais. Os linfonodos hilares enfartam-se, constituindo o complexo primário tuberculoso, composto pelo cancro de inoculação, a linfangite e a adenomegalia hilar. Indivíduos cuja resposta imunológica foi suficiente para conter o M. tuberculosis: desenvolverão uma forma clínica de infecção (infecção latente), em que os bacilos permanecerão nesse estado por tempo indeterminado Explica o aparecimento da tuberculose pulmonar ou extrapulmonar, quase sempre, como uma reativação de um foco primário contido em seu início. O risco do desenvolvimento da doença é maior nos primeiros dois anos após a infecção! IMUNIDADE CELULAR DA TUBERCULOSE 2 2 Fisiopatologia II e Atividade Integradora | 5º semestre | Débora Sousa | 17/05/2022 NÃO INFECTADOS: os tuberculino-negativos, nos grupos de riscos, afastando os falso-negativos com a repetição da prova (booster). Considerar as propostas de positividade do teste entre portadores do HIV/AIDS. Portadores de lesões radiológicas sugestivas de sequelas da infecção primária ou doença anterior devem ser mais bem investigados considerando a faixa etária e imunodeficiências. INFECTADOS: os tuberculino-positivos, com presença ou não de alterações radiológicas. Considerar em crianças e jovens a possibilidade do teste positivo induzido pelo BCG, quando em presença de pega vacinal. DOENTES: assintomáticos ou sintomáticos, com teste positivo ou não, mas presença de lesões pulmonares compatíveis. Os assintomáticos podem corresponder a curados espontaneamente ou à tuberculose inaparente como classificavam os tisiologistas antigos. TRANSMISSÃO Transmite-se principalmente por via aérea, facilitada pela aglomeração humana. A maior transmissibilidade do foco se relaciona à doença pulmonar (ou laríngea); à presença de cavidades, comuns nas formas de reativação; à maior carga de bacilos no escarro, expresso pelo número de cruzes no exame baciloscópico. A quantidade, o vigor e as características da tosse interferem na comunicabilidade. Escarros espessos e aderentes produzem menor quantidade de partículas infectantes, ao contrário dos mais fluidos. O tempo de exposição necessário para uma infecção bem-sucedida foi calculado por probabilidade, entre 100 e 200 horas, dependendo das características do foco e a intensidade do contato: quanto mais demorada a convivência, maior a possibilidade de transmissão, daí a necessidade de investigar os contatos mais próximos no rastreamento da doença. Contágio: depende de como se estabelece a relação entre o foco e o contato, sendo os intradomiciliares e os íntimos mais infectados do que os extradomiciliares Transmissão bem-sucedida: depende de um eliminador de bacilos ou foco (Fo) competente, de um contato (Co) capaz de ser infectado, do ambiente e do tipo de relacionamento entre o foco e o contato (Rel.FoCo), sendo influenciado pelo tratamento (Tto). CLÍNICA Cerca de 5 a 10% dos infectados adoecerão em algum momento de sua vida. Se na ocasião da primoinfecção não acontece o equilíbrio imunológico, os bacilos recém- implantados no parênquima pulmonar ou nos linfonodos continuam a se multiplicar, dando origem a lesões sintomáticas – a tuberculose primária. TUBERCULOSE PRIMÁRIA Geralmente assoma antes que se estabeleça a maturidade das defesas imunológicas. Estes pacientes podem ainda não ter concluído sua resposta de hipersensibilidade, tendo resposta negativa ao teste tuberculínico (fase pré- tuberculínica), podendo apresentar viragem em um novo teste posterior caracteriza claramente a tuberculose primária. 3 3 Fisiopatologia II e Atividade Integradora | 5º semestre | Débora Sousa | 17/05/2022 É comum encontrar consolidações, opacidades homogêneas ou algodonosas, de distribuição unifocal, segmentar ou lobar, mais comum em lobos médios e inferiores (figura 1). A associação de uma consolidação parenquimatosa com a linfadenopatia → complexo de Ghon (figura 2). E quando há somente a lesão pulmonar → nódulo de Ghon. Achados menos comuns são o padrão miliar, especialmente em indivíduos não vacinados com BCG (figura 3), o derrame pleural (figura 4) e o edema pulmonar, caracterizado pela presença das linhas B de Kerley. TUBERCULOSE LATENTE Infecção assintomática que pode reativar para TB ativa ¼ da população mundial tenha ILTB Assintomáticas e não transmite Resposta imune inata de imunocompetentes Micobacterias são fagocitadas e inativadas por macrófagos alveolares Linfócitos são atraído p/ local formando granulomas típicos Bacilos permanecem nos granulomas em uma forma dormente e metabolicamente inativa por longos períodos 4 4 Fisiopatologia II e Atividade Integradora | 5º semestre | Débora Sousa | 17/05/2022 FATOR DE RISCO: HIV Imunossupressor Silicose Neoplasia Idade menor que 2 anos e maior que 60 DM Desnutrição INVESTIGAR ILTB: Contatos nos últimos 2 anos HIV com CD4 >= 350 cel Corticoides ou inibidores do TNF alfa Neoplasia Silicose Tabagista > 1 maço dia Profissional da saúde Pessoas que vivem ou trabalham em cadeia ou asilo TRATAMENTO: Isoniazida, 270 doses em 9 a 12 meses Hepatopta, criança < 10 anos, > 50 anos e resistência a H: Rifampicina, 120 doses MONITORAMENTO DA RESPOSTA AO TRATAMENTO BAAR de escarro mensal: Se BAAR positivo no fim do 2º mês de tratamento Se voltar a positivar após negativação Solicitar cultura para teste de sensibilidade TUBERCULOSE PÓS-PRIMÁRIA A infecção pode progredir, independentemente da existência da imunidade. Duas vias p/ novo episódio de tuberculose: por inalação de novos bacilos ou, na maioria dos casos, por meio de reativação do foco primário. Na reinfecção, a hipersensibilidade é a resposta predominante, acompanhada de necrosee caseificação. Na primoinfecção, 95% dos indivíduos conseguem bloquear a propagação das lesões, permanecendo os bacilos em estado de latência. A forma pulmonar é a mais comum. A resposta à multiplicação dos bacilos provoca necrose caseosa, que amolece e se liquefaz. Mecanismos da liquefação: provavelmente relacionados às enzimas produzidas por estímulo da hipersensibilidade quanto maior a hipersensibilidade, maior a capacidade de liquefação das lesões e maior a destruição tecidual. Os bacilos até então inibidos no seu desenvolvimento pela formação do granuloma encontram condições favoráveis à sua multiplicação após liquefação do cáseo e o aparecimento da cavidade, com um rápido crescimento das populações bacilíferas. Caracterização: desenvolvimento para a formação de lesões cavitárias pulmonares (caverna tuberculosa), e dela pode se propagar material infeccioso diretamente p/ dentro dos brônquios, resultando em contínua eliminação de escarro. Evoluindo naturalmente, as lesões pós-primárias podem se disseminar e levar ao óbito mais de 50% dos pacientes, ou se cronificar em cerca de 25 a 30% deles. Se a imunidade está íntegra, pode haver cura natural do processo, em 20 a 25% dos doentes. TUBERCULOSE MILIAR Forma mais grave da doença HIV Positivos e com quadros mais agudos Múltiplos focos granulomatosos pulmonares 5 5 Fisiopatologia II e Atividade Integradora | 5º semestre | Débora Sousa | 17/05/2022 TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR: Pacientes com imunossupressão grave TUBERCULOSE PLEURAL: Forma mais comum de TB extra pulmonar Forma mais comum em HIV-Negativos. ▪ Dor pleurítica ▪ Astenia ▪ Perda ponderal ▪ Febre ▪ Tosse seca ▪ Derrame pleural com linfócitos ▪ ADA ▪ Difícil cultura TUBERCULOSE GANGLIONAR: Forma mais comum de TB extra em HIV positivos e criança. Aumento subagudo, indolor, e assimétrico das cadeias ganglionares, cervicais e supraclaviculares Linfonodos podem flutuar ou fistulizar TUBERCULOSE MENINGOENCEFÁLICA: Cefaleia holocraniana Irritabilidade Alteração de comportamento, sonolência... TUBERCULOSE PERICÁRDICA: Subaguda Dor torácica, tosse seca, dispneia, Febre, perda ponderal Edema de membros Dor em hipocôndrio direito por congestão hepática e ascite Aumento da área cardíaca 6 6 Fisiopatologia II e Atividade Integradora | 5º semestre | Débora Sousa | 17/05/2022 TC: derrame pericárdico (setas amarelas) associado à derrame pleural (seta vermelha) TUBERCULOSE ÓSSEA: Mais frequente na coluna vertebral Articulação coxofemoral e joelhos. TB NA COLUNA: Mal de Pott: ▪ Dor lombar ▪ Dor a palpação ▪ Sudorese noturna ▪ Mais comum na coluna torácica baixa e lombar FATORES DE RISCO: ➢ Indivíduos de baixa idade ➢ Idosos ➢ Portadores de doenças ou em condições imunossupressoras ➢ Tuberculino-negativos. SINAIS E SINTOMAS ➢ Tosse: resulta do estímulo pelo processo inflamatório alveolar ou comprometimento granulomatoso das vias aéreas ➢ Hemoptise ➢ Dispneia: lesões avançadas, derrame pleural ou pneumotórax ➢ Dor torácica: quando há comprometimento da pleura ➢ Rouquidão: comprometimento da laringe ➢ Febre e sudorese ➢ Perda ponderal DIAGNÓSTICO Exame físico (estertores na região das lesões, sibilos e ronco no comprometimento brônquico, diminuição do MV e broncofonia caso tenha derrame pleural, sopro anfórico nas cavidades) Radiografia convencional Tomografia computadorizada USG: imagens pleurais Bacteriologia (coleta, microscopia, cultura, tipificação de micobactérias) MALDI-TOF MS Teste tubertulínico Marcadores biológicos Sorologia ALTERAÇÃO SIGNIFICATIVA OU FORTE SUSPEITA CLÍNICA: 2 amostras de escarro para BAAR e cultura Intervalo de 8-24 horas entre elas e pelo menos uma assim que o paciente acorda BAAR positivo indica que tem microbactéria A cultura identifica a espécie Teste de sensibilidade a droga 7 7 Fisiopatologia II e Atividade Integradora | 5º semestre | Débora Sousa | 17/05/2022 Outra opção é o teste rápido molecular para tuberculose realizado em uma amostra Broncoscopia para obtenção de lavado broncoalveolar: Falha na obtenção de amostra adequada de escarro Exame de escarro negativo na presença de forte suspeita clínica Possível diagnóstico diferencial Biópsia no caso de TB extrapulmonar: Evidencia granuloma com necrose caseosa Adenosina deaminase (ADA) no líquido pleural: Permite o diagnóstico indireto de TB extrapulmonar Principalmente a pleural AVALIAÇÃO DE CONTATOS Toda pessoa exposta ao caso índice por convívio em casa, no trabalho, escola... CONTATOS SINTOMÁTICOS: Exame de escarro (baciloscopia ou TRM-TB) Raio X de tórax CONTATOS ASSINTOMÁTICOS: Investigação com prova tuberculínica Raio X de tórax CONTATO ASSINTOMÁTICO VIVENDO COM HIV: Tratar infecção latente de TB independente da prova tuberculínica PPD: Avalia infecção latente Inoculação intradérmica de proteína do M. bovis BCG provoca sua enduração em 10 anos da vacina Se positivo em adolescente ou adulto indica infecção latente PPD < 5mm: não reator TRATAMENTO Entre as diversas características do Mycobacterium tuberculosis, três são importantes para entender o tratamento quimioterápico: AEROBIOSE ESTRITA: Os bacilos comportam-se de maneira diferente de acordo com sua localização e tipo de lesão no organismo (aeróbio). | | Inflamação + necrose: crescimento + dificultado | Liquefação do cáseo e o esvaziamento da lesão: pH neutro -> crescimento rápido INTERIOR DOS MACRÓFAGOS: pH ácido, multiplicação lenta | rifampicina (RF), a pirazinamida (PZA) e o etambutol (ETH) → atuam em pH ácido LESÕES FECHADAS: bacilos persistentes - pH neutro/ácido, multiplicação c/ crescimento intermitente | Rifampicina (RF), isoniazida (INH) possui ação lenta PAREDES CAVITÁRIAS: RF, INH e a estreptomicina (SM) – somente pH neutro MULTIPLICAÇÃO LENTA Quanto mais lento o metabolismo, mais demorada é a atividade medicamentosa. Determina uma evolução crônica para a doença e exige um tempo maior de tratamento. No estado de infecção, sem doença e sem atividade bacilar, as drogas não apresentam atividade. Um experimento recente, entretanto, parece indicar que imidazólicos, como o metronidazol, possam ter ação sobre essas populações. ALTA PROPORÇÃO DE MUTANTES RESISTENTES O M. tuberculosis apresenta uma frequência de mutantes naturalmente resistente às drogas, variável de acordo com cada uma delas. 8 8 Fisiopatologia II e Atividade Integradora | 5º semestre | Débora Sousa | 17/05/2022 Tratamentos irregulares, interrompidos antes de uma completa esterilização dos germes (abandono) ou com doses inadequadas, condicionam o aparecimento de cepas resistentes aos medicamentos (resistência pós-primária/adquirida). Para prevenir a falência do tratamento em virtude de resistência adquirida, associam-se drogas de alto poder bactericida na fase inicial do tratamento. O prolongamento da terapia ou fase de manutenção, tem como objetivo a eliminação dos germes persistentes e a prevenção de recaídas e recidivas. ESQUEMAS NORMATIZADOS 9 9 Fisiopatologia II e Atividade Integradora | 5º semestre | Débora Sousa | 17/05/2022 EFEITOS ADVERSOS ASSOCIADOS AO TRATAMENTO ANTITUBERCULOSE VACINA BCG: PREVENTIVA RN com peso >= 2 kg Criança entre 0 e 4 anos 10 10 Farmacologia clínica | 5º semestre | Débora Sousa | 03/05/2022 Contatos domiciliares de portadores de hanseníase com mais de 1 ano e sem cicatriz vacinal Criança HIV positiva até 4 anos 11 meses e 29 dias assintomáticas e sem imunodeficiência Referências principais: Veronesi R., Focaccia R. Tratado de Infectologia. 3ª ed. São Paulo: Ed Atheneu; 2005. GOLDMAN, Lee. Cecil Medicina Interna. 24ed. Rio de Janeiro:Elsevier, 2014
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