Buscar

Rinite Alérgica: Causas e Sintomas

Prévia do material em texto

RINITE ALÉRGICA (RA) 
É uma doença respiratória crônica resultada de uma reação 
de hipersensibilidade do tipo I (resposta imune mediada por 
células Th2, anticorpos IgE e mastócitos com liberação de 
mediadores inflamatórios na mucosa nasal) 
Ocorre em indivíduos atópicos, geralmente em associação 
com dermatite atópica, alergia alimentar, urticaria e/ou 
asma. 
FATORES DE RISCO para o desenvolvimento da RA são: 
1. Sexo feminino 
2. Exposição à poluição atmosférica particulada 
3. Tabagismo materno 
A rinite alérgica pode ser DESENCADEADA OU 
AGRAVADA principalmente pela exposição a aeroalérgenos 
que são elementos proteicos solúveis de baixo peso 
molecular, que podem facilmente se tornar dispersos no ar 
e penetrarem no epitélio respiratório. 
Os principais aeroalérgenos são: 
1. Ácaros pó domiciliar 
2. Baratas 
3. Fungos 
4. Animais de pelo 
5. Pólens 
6. Ocupacionais (trigo, poeira de madeira, 
detergentes, látex) 
Além dos aeroalérgenos, atuam como desencadeantes de 
sintomas da rinite: 
1. Mudanças bruscas de clima 
2. Poluentes 
a. Intradomiciliares - fumaça de cigarro, 
fogão à lenha, derivados da combustão do 
gás de cozinha 
b. Extradomiciliares – ozônio, dióxido de 
enxofre 
3. Irritantes – Odores fortes, perfume, ar 
condicionado e produtos de limpeza 
4. Ingestão de anti-inflamatórios não hormonais 
(principalmente AAS) em indivíduos predispostos – 
especialmente adultos 
Apesar dos animais de pelo, principalmente gato e 
cachorro, estarem relacionados à ocorrência de crises em 
pacientes alérgicos, já existem evidências de que a 
exposição precoce desses animais, antes da sensibilização, 
ainda na infância, é um fator protetivo, reduzindo o risco de 
desenvolvimento de rinite alérgica 
A ocorrência dos sintomas de rinite alérgica pode ser: 
1. Sazonal → Estão relacionados principalmente à 
sensibilização e à exposição a polens 
2. Perene → Quando o indivíduo sensibilizado é 
exposto ao alérgeno de forma continuada 
(exemplo: poeira doméstica) 
FISIOPATOLOGIA 
A RA ocorre devido ao desequilíbrio entre imunidade inata e 
adaptativa, junto com fatores ambientais. Para que a rinite 
ocorra precisa ter uma sensibilização prévia. 
PRIMEIRO CONTATO DO INDIVÍDUO COM O ALÉRGENO 
1. O alérgeno são captados pela APC (células 
apresentadoras de antígeno como macrófagos e 
células dendríticas) por endocitose. 
2. Alérgeno + APC → são apresentados a células Th2. 
3. As células Th2 começam então a produzir 
inteleucinas IL3 e IL4 e a promover a diferenciação 
de linfócitos B em IgE alérgenos-especifico. 
4. Esse IgE se ligam aos mastócitos e basófilos. 
 
REEXPOSIÇÃO AO ALÉRGENO 
Resposta precoce/imediata: quando o individuo tem uma 
reexposição ao alérgeno, o IgE alérgeno-especifico estimula 
a degranulação dos mastocitos e basofilos, com 
consequente libertação dos mediadores inflamatórios, tais 
como: 
1. Prostaglandinas 
2. Histaminas e leucotrienos 
a. Responsaveis pelo efeito de vasodilatação 
e edema gerando a obstrução nasal (de 
forma menos expressiva) 
b. Produzem o muco → rinorreia 
c. Estimula o sistema nervoso central 
(prurido e espirro) 
A resposta tardia aparece cerca de 4-8 horas depois da 
reexposição ao alérgeno, sendo marcada pela infiltração 
eosinofílica da mucosa nasal. 
A inflamação alérgica será amplificada por vários 
mediadores como diversas interleucinas (IL-1, 3, 4, 5, 9 e 
TNF), moléculas de adesão (ICAMs e VCAMs), leucócitos, 
leucotrienos e produtos de eosinófilos (proteína básica 
principal, proteína eosinofílica) que induzem dano tissular 
através de ruptura da integridade da membrana basal na 
mucosa nasal. Acredita-se que ocorra remodelamento do 
epitélio nasal semelhante ao que ocorre no epitélio 
pulmonar → Obstrução nasal 
QUADRO CLÍNICO 
1. Rinorreia transitória, clara e abundante 
2. Espirros em salva e prurido nasal intenso → 
Resultam na “saudação alérgica” típica de um 
paciente com rinite + epistaxe 
 
3. Congestão nasal principalmente à noite 
a. Pode ser uni ou bilateral 
b. Pode ser intermediaria ou persistente 
c. Nos casos mais graves pode interferir na 
aeração e drenagem dos seios paranasais 
e da tuba auditiva causando cefaleia, 
otalgia e diminuição da acuidade auditiva 
+ respiração oral, ronco, voz anasalada e 
alteração no olfato 
4. Sintomas oculares: lacrimejamento, prurido, 
hiperemia conjuntiva, fotofobia e dor local 
DIAGNOSTICO 
Basicamente, é clínico. 
ANAMNESE 
1. Antecedentes pessoais e familiares de atopia 
2. Evolução de sintomas 
3. Fatores desencadeantes e agravantes como 
tabagismo ou natação 
4. Presença de comorbidades e outras doenças 
alérgicas 
EXAME FISICO 
Procurar por: 
1. Sinais de olheiras 
2. Sinal de dupla linha de Dennie-Morgan 
3. Pregas nasais horizontais 
 
Além disso, deve-se fazer também uma avaliação da 
cavidade nasal: rinoscopia anterior com espéculo nasal e, se 
necessário, endoscopia nasal diagnostica (que permite 
também a coleta de material de áreas especificas do nariz 
para exames bacteriológicos e citopatologicos). 
Mucosa pálida e 
edemaciada 
Secreção clara ou mucoide 
Casos crônicos: hipertrofia 
das conchas inferiores 
DIAGNOSTICO ETIOLOGICO 
1. Testes cutâneos de hipersensibilidade imediata 
(TCHI) 
Teste com alta sensibilidade e especificidade, o TCHI por 
puntura com aeroalérgenos são os recursos mais utilizados 
no diagnóstico da alergia respiratória e evidenciam reações 
alérgicas mediadas por IgE e servem para orientar medidas 
de higiene do ambiente e imunoterapia específica quando 
clinicamente relevantes. 
A reatividade cutânea a alérgenos é menos intensa nos 
extremos da vida havendo maior chance de resultados falso-
negativos em crianças menores e em idosos. As 
contraindicações à sua utilização são a presença de eczema 
extenso ou dermografismo, uso de anti-histamínicos orais, 
uso de corticosteroides tópicos por mais de 7dias, entre 
outros. 
2. Determinação de IgE sérica total e especifica 
A dosagem sérica da IgE total está relacionada a uma maior 
probabilidade de encontro de IgE específicas em indivíduos 
alérgicos, mas seu valor diagnóstico para alergia é limitado, 
já que concentrações séricas elevadas de IgE total podem ser 
detectadas em diferentes doenças como infecção pelo HIV, 
ou tuberculose, parasitoses com ciclo pulmonar, entre 
outras. 
Já a pesquisa de IgE específica, in vitro, para aeroalérgenos 
individualizados, quando realizada com antígenos 
padronizados e técnica adequada, apresenta características 
operacionais (sensibilidade e especificidade) semelhantes às 
dos TCHI. Todavia, são mais dispendiosos, requerem punção 
venosa, laboratório especializado e maior tempo para 
obtenção do resultado. 
3. Teste de provocação nasal (TPN) 
Apesar de ser mais usado na área de pesquisa, tem se 
mostrado muito útil no diagnóstico de rinite alérgica e não 
alérgica. 
Os TPN também podem ser úteis no diagnóstico da rinite 
ocupacional, tendo por objetivo identificar e quantificar a 
relevância clínica de alérgenos inaláveis ou irritantes 
ocupacionais. 
 
CRITÉRIOS DE ARIA 
São usados para classificar a rinite alérgica, em: 
1. Intermitente X Persistente 
2. Leve X Moderada-Grave 
 
TRATAMENTO 
NÃO FARMACOLOGICO 
As medidas de controle da exposição aos alérgenos 
constituem uma das etapas da estratégia terapêutica. As 
principais, com especial atenção na redução dos ácaros, 
baratas, umidade e alérgenos de animais, são: 
▪ O quarto de dormir deve ser bem ventilado e 
ensolarado. 
▪ Evitar tapetes, carpetes, cortinas e almofadas. 
▪ Camas e berços não devem ser justapostos à 
parede; se não for possível, colocá-los junto à 
parede sem marcas de umidade ou a mais 
ensolarada. 
▪ Evitar bichos de pelúcia, estantes de livros, revistas, 
caixas de papelão ou qualquer outro local onde 
possam ser formadas colônias de ácaros. 
▪ Identificare eliminar o mofo e a umidade. 
▪ Evitar o uso de vassouras, espanadores e 
aspiradores de pó comuns; passar pano úmido ou 
utilizar aspiradores de pó com filtros especiais. 
▪ Ambientes fechados por tempo prolongado devem 
ser arejados e limpos pelo menos 24h antes da 
entrada de indivíduos com alergia respiratória. 
▪ Evitar animais de peno e pena, especialmente no 
quarto e na cama do paciente. 
▪ Evitar a exposição aos alérgenos de camundongos e 
ratos com intervenção profissional integrada aos 
cuidados de limpeza da moradia. 
▪ Remover o lixo e manter os alimentos fechados e 
acondicionados, pois estes fatores atraem 
roedores. 
▪ Não fumar e nem deixar que fumem dentro da casa. 
▪ Evitar banhos extremamente quentes e oscilação 
brusca de temperatura. 
▪ Dar preferência à vida ao ar livre, exceto nos 
períodos de alta contagem de poles – entre 5 e 10 
horas da manhã e em dias secos, quentes e com 
vento. 
▪ Manter os filtros do aparelho de ar condicionado 
sempre limpos. 
FARMACOLOGICO 
1. ANTI-HISTAMÍNICO H1 ORAL OU NASAL 
Farmacologia de primeira linha, sendo agonistas inversos do 
receptor H1, aliviando principalmente os sintomas da fase 
inicial da rinite e, de forma parcial, a obstrução nasal. Podem 
ser classificados em: 
a) Primeira Geração – possuem alta lipofilicidade e 
consequentemente facilidade de penetrar a barreira 
hematoencefálica, além de baixa seletividade pelo receptor 
da histamina, o que resulta em sedação e potenciais efeitos 
adversos relacionados à sua ligação com outros tipos de 
receptores, respectivamente. 
 
b) Segunda Geração (loratadina e desloratadina) – além da 
baixa penetração na barreira hematoencefálica, com pouco 
efeitos adversos sobre o SNC, possuem elevada potência, 
longa duração de ação e alta afinidade pelo receptor da 
histamina, com pouco ou nenhum efeito anticolinérgico, 
antidopaminérgico e antisserotoninérgico. Devem ser 
priorizados em relação aos compostos mais antigos. 
São medicamentos para utilização de 1 a 4 semanas, mas 
essa duração pode ser prolongada nos casos persistentes e 
moderados-graves. 
C) Tópicos Nasais - Além das formulações orais, atualmente 
são disponíveis anti-H1 para uso tópico nasal e ocular. Os 
anti-H1 tópicos nasais têm eficácia similar aos compostos 
orais, e apresentam como vantagem terapêutica início de 
ação mais rápido e maior efetividade no controle da 
obstrução nasal. Por outro lado, alguns anti-H1 tópicos 
nasais têm gosto amargo o que pode dificultar a adesão ao 
tratamento 
2. CORTICOIDES 
Sistêmicos – seu uso, por períodos curtos de tempo (5 a 7 
dias), pode ter a vantagem de atingir nível terapêutico em 
todas as partes do nariz e dos seios paranasais dos pacientes 
com congestão grave e sintomas muito intensos. Nesses 
casos, deve-se investigar a possibilidade de comorbidades 
associadas, como a rinossinusite bacteriana. 
Tópicos Nasais (budesonida, beclometasona, fluticasona) – 
são os fármacos de escolha no tratamento da RA, uma vez 
que melhoram todos os sintomas – em especial a congestão 
nasal, a alteração do olfato, a coriza, os espirros, o prurido 
nasal e os oculares associados. Seu uso leva à melhora da 
qualidade de vida, do sono e da concentração diurna, além 
de reduzir o risco de complicações (rinossinusite, otite 
secretora e asma) 
3. DESCONGESTIONANTES NASAIS 
São fármacos pertencentes ao grupo dos estimulantes 
adrenérgicos ou adrenomiméticos, cuja ação principal é a 
vasoconstrição produzindo alívio rápido do bloqueio nasal 
na RA. De acordo com a via de aplicação, são divididos em 
dois grupos: oral e tópico nasal. 
Nasal: devem ser utilizados no máximo por até 7 dias, uma 
vez que o risco de rinite medicamentosa de rebote, muitas 
vezes de difícil resolução, aumenta após o uso mais 
prolongado. 
Além disso, podem causar ainda efeitos cardiovasculares e 
no sistema nervoso central importantes, sendo 
contraindicados em crianças menores de seis anos de idade 
e em idoso (risco de hipertensão e retenção urinária) com 
seu uso nesta faixa etária. 
Sistêmicos: os mais utilizados são: 
1. Pseudoefedrina 
a. Pertence à família das anfetaminas 
b. Deve ser utilizada com cautela em função 
de sua ação psicotrópica e potenciais 
efeitos colaterais cardiovasculares. 
c. Seu uso não é recomendado para 
pacientes menores de quatro anos de 
idade, pelo maior risco de toxicidade 
2. Fenilefrina. 
No Brasil, só estão disponíveis em combinação com anti-
histamínicos 
IMUNOTERAPIA ALÉRGENO ESPECÍFICA (ITE) 
É o único tratamento modificador da evolução natural da 
doença alérgica, uma vez que proporciona benefícios 
duradouros após sua descontinuação e previne a progressão 
da doença – incluindo o desenvolvimento de asma –, bem 
como novas sensibilizações. 
Está recomendado para os pacientes com RA intermitente 
moderada -grave e em todas as formas persistentes. A ITE 
pode ser administrada por via subcutânea – cujos 
inconvenientes são as aplicações injetáveis semanais, a 
longa duração do tratamento e o risco de eventos adversos 
– ou sublingual 
LAVAGEM NASAL COM SOLUÇÃO SALINA 
Método barato, prático e bem tolerado tornou-se muito 
difundido, tendo como mecanismo de ação a limpeza das 
cavidades nasais. O uso da solução salina facilita a remoção 
de secreções patológicas, promovendo consequentemente 
alívio sintomático aos pacientes. 
No caso específico das rinites inflamatórias e alérgicas, a 
lavagem nasal também promove a remoção de mediadores 
inflamatórios presentes no muco nasal, atuando assim na 
melhora do quadro. Esta mesma limpeza também pode 
eliminar alérgenos presentes na cavidade nasal, 
diminuindo assim o estimulo alérgico.

Continue navegando