Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FISIOPATOLOGIA - NEURO PROFA. MARISTELA NATÁLIA SILVÉRIO ESCLEROSE MÚLTIPLA Esclerose é a principal doença do grupo das desmielinizantes que causa diversos tipos de sinais e sintomas. Esclerose é sinônimo de processos de desmielinização do axônio, e por ter vários episódios de é chamada de múltipla. A célula neuronal é dividida em componentes: corpo celular, dendritos e axônios que é o prolongamento onde a atividade elétrica percorre. A maioria das células humanas são mielinizadas, isto é, os axônios possuem um envoltório, a BAINHA DE MIELINA que só está presente nos axônios dessas células, e possui função ISOLANTE, pois o impulso tem que ser extremamente veloz. Toda resposta nervosa precisa ser veloz em muitas situações - tem-se uma rede neuronal trabalhando coordenadamente para entregar a resposta rápido. A bainha serve como isolante em cada pedaço do axônio, o espaço “desencapado” chamamos de NÓDULO DE RANVIER. Nódulo de ravier: pequena região da membrana plasmática axonal exposta. Os axônios são mielinizados pedacinho por pedacinho, não é encapado inteiro. Isso ocorre porque a célula neuronal tem a função exclusiva de propagar impulso elétrico. Células de Schwann: compõe a bainha de mielina que reveste o axônio. A bainha de mielina é fabricada principalmente pelos Oligodendrócitos e Astrócitos, essas células compõem as células de Schwann. Oligodendrócitos: ramificam-se em vários processos, que vão para os axônios circundantes. Esses processos envolve os axônios em organelas membranosas especializadas – os segmentos de mielina. O impulso elétrico percorre o corpo celular (também chamado de soma) em sentido ao terminal axônico/nervoso. Esses neurônios fabricam o impulso e propagam, e além disso, eles transferem esse impulso de uma célula para outra. Ex: movimento de retirada quando se queima a mão. O impulso é SALTATÓRIO: é propagado, e se existe isolante a cada pedaço do axônio, ele vai saltar de nodo a nodo e por isso é instantâneo e veloz. Com a perda de mielina o potencial de ação não é conduzido normalmente e a função do nervo cessa rapidamente. A esclerose nada mais é que uma doença desmielinizantes que gera a perda ou deficiência da bainha de mielina. É causada por FATOR GENÉTICO, tem predomínio em homens brancos, com menos de 60 anos em média. Doenças desmielinizantes: apresentam destruição da bainha de mielina, mediado pelo sistema imunológico, com relativa preservação de outros elementos do tecido nervoso. Tem-se uma produção de anticorpos que não reconhecem a bainha de mielina como própria/pertencente a normalidade do neurônio (autoimune), isto é, os anticorpos atacam a bainha de mielina gerando degeneração. A reação imunológica que faz com que tenhamos a perda ou deficiência da bainha de mielina. Nesse caso, não ocorre destruição/degeneração axônica pois eles não são rompidos, não tem morte neuronal, não tem degeneração do corpo celular, apenas a desmielinização da bainha (focos de desmielinização) e disfunção do impulso elétrico, que não é mais normal, saltatório e veloz, e com isso aparece os sinais e sintomas da doença. Como consequência o impulso se torna mais lento ou deficiente, gerando alterações motoras, sensoriais. FISIOPATOLOGIA - NEURO PROFA. MARISTELA NATÁLIA SILVÉRIO É uma doença especifica da SUBSTÂNCIA BRANCA (axônios). Via corticoestriatal: os corpos dos neurônios dessa via estão no córtex e os axônios chegam no corpo estriado. Córtex (substância cinzenta) → Via corticoestriatal (substância branca, onde a esclerose atinge) → corpo estriado (onde faz conexão). Encefalites causam desmielinização, então entra para o grupo de doenças desmielinizantes. Desmielinização de nervos periféricos causam neuropatia. A desmielinização é disseminada de forma aleatória e total: » Hemisférios cerebrais » Tronco encefálico » Cerebelo » Medula espinhal » Interior do nervo óptico e quiasma óptico EPIDEMIOLOGIA E PREDISPOSIÇÃO– HIPÓTESES * Variabilidade da prevalência da EM, de acordo com a latitude. Ex: regiões equatoriais, climas temperados do norte europeu e da América do Norte. * Tendência familiar: 15% dos pacientes com EM têm um parente afetado. Ex: gêmeos idênticos (30%), gêmeos não idênticos (5%). * Fator genético: HLA-DR, DR, B e A (marcadores para o gene de suscetibilidade) – antígenos de histocompatibilidade. * Ambiental: exposição e agentes externos vírus – resposta autoimune. TIPOS CONFORME A FORMA DE INSTALAÇÃO 1. EM recidivante com remissão: Caracterizada por recidivas recorrentes e discretas entremeadas, por período de remissão quando a recuperação é completa. Progressão da doença a incapacidade aumenta: 2. EM progressiva secundária: Depois de um período de remissão, a doença entra em uma fase em que há deterioração progressiva com ou sem recidivas sobrepostas identificáveis (efeitos cumulativos das recidivas). 3. EM progressiva primária: Déficit neurológico progressivo e cumulativo desde o início (raro). Mais comum quando o início se dá em fase tardia da vida. SINAIS E SINTOMAS » “Acontecimento inesperado” (pensamento errôneo). » Queixam-se de vagas sensações de mal-estar nos meses ou anos precedentes. » “Sensações” – distúrbios sensoriais esporádicos, incômodos e dores ou letargia. HMA: visão dupla, cegueira, vertigem, ou fraqueza nos membros (episódio anterior de desmielinização). » O início dos sintomas: aguda (minutos) ou crônico (meses) » Típico: evoluam durante horas ou dias. DESMIELINIZAÇÃO NOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS: * Os núcleos dos neurônios da via corticoespinhal estão situados no córtex e chega na medula espinhal de cervical a sacral, passando por várias regiões. * É uma via que leva informação motora do corpo inteiro. FENÔMENO DE LHERMITTE: * É um sinal clínico que observamos quando ocorre especificamente uma desmielinização de axônios que estão situados na medula espinhal. * Pacientes relatam sensação repentina de dor e parestesia (“formigamento”) no local FISIOPATOLOGIA - NEURO PROFA. MARISTELA NATÁLIA SILVÉRIO da desmielinização – da medula para baixo a sensação é mais intensa. * Isso é um sinal agudo, paciente relata parestesia mas o déficit ao longo da doença não necessariamente é a parestesia. * Sensação de levar um tiro repentino ou um choque elétrico que desce pelas costas até os MMII ao flexionar a cervical (desmielinização medular). DESMIELINIZAÇÃO CEREBELAR: * Ataxias: disfunção da coordenação – movimentos retilíneos, desordenados, desorganizados. * Ataxia troncular: desmielinização do vérmis do cerebelo (região axial, mediana do cerebelo), relacionada aos músculos de troncos próximos (quadril e ombro). * Ataxia apendicular: lesões de hemisférios cerebelares mais periféricos, região mais distal, relacionada aos apêndices do corpo (braços e pernas). - Paciente tende a ter dificuldades de posturas mais altas, como ficar em pé. - Dificuldade em crianças que estão começando a engatinhar, andar. * Lesões no hemisfério cerebelar DIREITO pode encontrar ataxia ipsilateral (ataxia apendicular direita – só de um lado, braços + pernas). Lesão direita = déficit direito e vice-versa. * Nistagmo: movimentação ocular involuntária, são sinais de lesões/alterações cerebelares. * Disartria cerebelar: alteração na fala onde o paciente tem o entendimento/compreensão e o veículo de fala, a expressão também é preservada, mas é um paciente que não articula bem a fala. - Para termos uma fala constante, sem pausas, é necessário coordenação da musculatura da língua por exemplo, esses pacientes têm dificuldade também nos movimentos finos fazendo com que a escrita fique difícil, diferente, mas não por falta de expressão, e sim pela movimentação fina afetada. O que difere a disartria da afasia? Lesões em locais diferentes. Na afasia o paciente tem dificuldadeno veículo e entendimento da linguagem, expressão difícil pois ocorre por lesões na Área de Broca e de Wernick (cortical). A disatria ocorre por lesões no cerebelo. * Tremores são muito comuns quando é desmielinização cerebelar ou em estruturas abaixo do córtex (subcorticais, como na substância branca que passa no tálamo). São desmielinizações voltadas para regiões extrapiramidais pois o cerebelo participa das funções, sistema, circuito extrapiramidal. DESMIELINIZAÇÃO MEDULAR: * Tetraparesia: déficit de movimento (grau 1, 2, 3 ou 4). - Ela vem acompanhada muitas vezes da espasticidade e está relacionada as lesões medulares altas (lesões cervicais, nos 4 membros). Importante: paciente com paresia topograficamente extensa e por desuso se torna plegico (atrofia por desuso devido a paresia intensa), perde o movimento e a força pode ser 0 – isso não quer dizer que a inervação não está ali, porém não tem função muscular. Isso é muito comum ocorrer na esclerose. Na esclerose paciente tem normalmente déficit motor, raramente tem ausência de movimento. * Tetraplegia: não tem movimento (grau 0). Na esclerose múltipla vemos muitas paresias e não plegias, principalmente quando inicia as crises de desmielinização porque não tem lesão axonal e muito menos morte neuronal. FISIOPATOLOGIA - NEURO PROFA. MARISTELA NATÁLIA SILVÉRIO * Paraparesia: dimuição de força em ambas as pernas (da cintura para baixo) com menor gravidade que a paraplegia. Ocorre em lesões medulares abaixo da cervical, nos segmentos lombares, torácicos e sacrais. Paraplegia: ausência de força. Paresia: déficit muscular. * Em desmielinizações e axônios motores medulares é comum ocasionar distúrbios de esfíncteres e sexuais, pois seus centros estão situados na medula, gerando características de alteração de esfíncter, incontinência urinaria e intestinal e disfunção sexual. * Geralmente a esclerose vem acompanhada de instabilidade emocional (depressões, ansiedade), não só pela desmielinização de axônios responsáveis por mandar informações para essas áreas, mas também pela situação em geral da doença. DESMIELINIZAÇÃO DE TRONCO ENCEFÁLICO: * Déficit voltado para algum nervo craniano pois 10 dos 12 pares de nervos nascem no tronco encefálico. * Desmielinização do Nervo Vago: lesões graves, alterações viscerais pela condição e função do nervo. * Desmielinização do Nervo Vestibular: alterações vestibulares. Desmielinização do Nervo óptico: atrofia óptica muito comum. * Observar alteração sempre relacionada com a função do nervo. POR QUE O PACIENTE COM ESCLEROSE MÚLTIPLA PODE TER ESPASTICIDADE? Pode afetar o sistema piramidal. A espasticidade ocorre porque temos uma excitação de estruturas que mandam informação para medula espinhal, e ela manda para os músculos de muito tônus fazendo com que ele se torne extremamente excitado, ocorre uma facilitação exacerbada gerando aumento de tônus pois não tem ação inibitória. Esses neurônios que levam a informação até a medula de tônus são mielinizados e se tem uma desmielinização naqueles que inibem a condição do tônus, só teremos os excitatórios funcionantes, gerando um DESEQUILIBRIO, a espasticidade, que se instala, é um sinal crônico, vai sendo desenvolvida ao longo do tempo em lesões neurológicas, não só na esclerose. Também pode ocorrer a desmielinização na região de facilitação do movimento, fazendo com que apenas o inibitório fique funcionante, gerando hipotonia, diminuição do desequilíbrio. Espasticidade pode ser tratada com toxina botulínica – fármaco que bloqueia em nível periférico a espasticidade. Isso resolve apenas nos casos de hipertonia espástica, se for do tipo rígida não resolve e também não pode ser aplicado em pessoas hipotônicas. FENÔMENO DE UBTOFF: O aumento da temperatura pode resultar no bloqueio da condução elétrica e a manifestação clinica é conhecida como fenômeno de UBTOFF (os sintomas pioram em temperaturas elevadas). Pode ocorrer ao longo da doença. É uma piora dos sintomas já instalados do paciente com esclerose quando submetido a altas temperaturas (ambientes quentes, chuveiro quente, febre). Gera fadiga intensa, piora na fraqueza muscular, se tem espasticidade piora também, se tiver tremor piora etc. Aconselhados: evitar extremos de temperatura e os exercícios exagerados, uma crise pode ser precipitada. Por que ocorre o Fenômeno de UBTOFF? A condução elétrica do neurônio já está prejudicada, não é mais saltatória, e FISIOPATOLOGIA - NEURO PROFA. MARISTELA NATÁLIA SILVÉRIO quando submetido a altas temperaturas, essa condução diminui mais ainda, a velocidade dos impulsos fica mais lenta, então a função desacerba, fica aumentada. DIAGNOSTICO 1. Histórico clínico. 2. Punção lombar (exame do liquor): análise do LCE observando-se primeiramente a presença de bandas oligocionais e o aumento dos níveis de imunoglobulina (IgG – reações imunes) no interior do SNC. 3. Ressonância magnética da cabeça e medula: pode revelar lesões “silenciosas” que não estão associadas a sinais e/ou sintomas. 4. Potencial equivocado: é o exame que mede o índice de respostas ao SNC através de estímulos e repetidos, porque a condução nervosa diminui quando acontece a desmielinização. Exames de imagem são essenciais pois observa-se os pontos de desmielinização. Paciente com critério de uma única desmielinização não pode ser diagnosticado com esclerose múltipla pois por exemplo, em pessoas mais idosas pode ser achado placas de desmielinização. RESUMINDO OS SINAIS/SINTOMAS: PRECOCEMENTE: * Desmielinização medular: » Fraqueza » Fadiga » Insensibilidade em um ou mais membros (Fenômeno de Lhermitte) * Desmielinização cerebelar: » Nistagmo » Ataxia » Disartria cerebelar * Desmielinização do tronco encefálico: » Paralisia dos nervos cranianos TARDIAMENTE: » Atrofia óptica » Tremor incapacitante (mover- se/grave) » Tetraparesia espástica com aumento de tônus (desmielinização do tracto corticoespinhal e estruturas do tronco cerebral) » Alteração na marcha (necessitam dispositivos auxiliares) » Diminuição da coordenação e equilíbrio » Ataxia » Espasticidade » Distúrbios de esfíncteres » Incontinência urinaria e intestinal » Disfunção sexual » Instabilidade emocional
Compartilhar