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Políticas públicas para a saúde no Brasil SST Dos Santos, Rosana Oliveira Políticas públicas para a saúde no Brasil / Rosana Oliveira dos Santos Ano: 2021 nº de p.: 12 Copyright © 2021. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Políticas públicas para a saúde no Brasil 3 Apresentação Nesta unidade, estudaremos sobre a história da saúde pública no Brasil e a sua evolução, juntamente com os conceitos de saúde e doença. Veremos também as principais ações e movimentos ao longo dos anos, grandes nomes que marcaram as ações em prol da saúde, toda a sua evolução até chegarmos à criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e as principais políticas públicas em saúde da atualidade. 4 Políticas públicas em saúde no Brasil de A a Z Ações relacionadas ao trabalho na contenção das epidemias, melhoria do ambiente físico, questões de higiene, provisão de águas e assistência médica, entre outras medidas, originaram o que chamamos de saúde pública, que tem relação direta com a área governamental, voltada para as questões de saúde que atingem a coletividade. Assim, é fundamental entender os fatores que podem contribuir para a falta de equilíbrio do processo saúde-doença e, a partir disso, determinar os pontos cruciais de intervenção com o intuito de reverter o processo do adoecimento. O termo “saúde coletiva” refere-se ao processo que objetiva promoção de saúde e prevenção de risco e agravos, com foco na melhoria da qualidade de vida, privilegiando mudanças nos modos de vida de determinada população. Segundo Solha (2014), na metade do século XIX, a higiene é reconhecida como um saber social, envolvendo assim toda a sociedade e dando início à atenção para a saúde pública. Nesse contexto, foram realizados trabalhos científicos que revelaram a relação entre saúde e condições de vida. Proteger a saúde da população carente e modificar os hábitos de higiene passam a ser objetivos nacionais. A partir disso, o conceito de prevenção vem se aproximando cada vez mais da saúde pública, propagando-se e causando um grande impacto com a entrada da vacinação na prevenção de algumas doenças. Surgem, então, os primeiros comitês de vacinação, e as questões de riscos envolvendo as doenças passam a ser um objetivo coletivo, e não apenas individual. 5 No início do século XX, surgiu a proteção sanitária como política de governo. Foram criadas três formas clássicas de prevenção: primária, secundária e terciária. A forma primária trabalha com a eliminação das causas e condições de aparecimento das doenças, agindo no ambiente. A secundária, ou prevenção específica, busca impedir o aparecimento de determinada doença, por meio da vacinação, campanhas, e controles de saúde. Já a forma terciária visa limitar a prevalência de incapacidades crônicas ou recidivas. Atenção Ainda no século XX, começam a surgir grandes mudanças e marcos para as políticas públicas em saúde. No chamado modelo campanhista (inspirado nas ações do médico Oswaldo Cruz), o saber tem base em pesquisas e experimentos, com o objetivo de combater as endemias e epidemias. Os ricos da época, também chamados de burguesia, pressionaram os governantes e favoreceram a criação de uma Diretoria Geral para Saúde Pública, para dar suporte às ações de erradicação da febre amarela e varíola. Para saber mais sobre esse assunto, assista ao vídeo da Fundação Oswaldo Cruz: “A história da saúde pública no Brasil – 500 anos na busca de soluções”. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/video-historia-da-saude- publica-no-brasil-500-anos-na-busca-de-solucoes. Saiba mais Como a Constituição de 1891 não mencionou diretamente o assunto da saúde pública, deixou para os estados e municípios os cuidados com saúde e saneamento. Competiam, então, ao governo federal as ações de saúde do Distrito Federal, a vigilância sanitária nos portos e o acompanhamento dos Estados em casos previstos constitucionalmente. https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/video-historia-da-saude-publica-no-brasil-500-anos-na-busca-de-solucoes https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/video-historia-da-saude-publica-no-brasil-500-anos-na-busca-de-solucoes 6 Em 1902, esse quadro foi alterado na gestão Rodrigues Alves, em que passou a ser responsabilidade do governo federal, devido ao avanço das epidemias de febre amarela e varíola em várias regiões do país. O médico Emílio Marcondes Ribas foi o condutor da visão política sanitária, e o estado de São Paulo tornou-se um polo científico e sanitário. O ano de 1926 foi um marco na saúde pública brasileira, com os movimentos mais intensificados pela população e a publicação, pelo Instituto Oswaldo Cruz, dos cadernos de viagem dos médicos Artur Neiva e Belisário Pena, que realizaram um trabalho no interior dos estados do Nordeste e de Goiás. Essa viagem denunciou as precárias condições de vida no interior do país, e o movimento sanitarista passou a ser também o “saneamento dos sertões”. Essa missão impulsionou o poder central dos estados da região Nordeste frente às políticas públicas de saúde. Curiosidade Em 1934, durante o governo Getúlio Vargas, um novo cenário para a saúde brasileira surgiu com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, sob o comando de Gustavo Capanema. O intuito era criar um aparato governamental que centralizasse as ações para nível federal, estadual e municipal. O território nacional foi dividido em oito regiões, objetivando à fiscalização e execução das ações de saúde nos estados. Na década de 1930, um novo sistema voltado aos trabalhadores foi criado: Instituto de Aposentadoria (IAPS), que tinha o objetivo de integrar as categorias dos trabalhadores. Esse período foi marcado pela desigualdade, porque alguns movimentos trabalhistas exerciam mais força e poder sobre outros, e essa pressão resultava em piores ou melhores serviços. Na década de 1950, o movimento médico-sanitarista teve o seu fortalecimento, quando as discussões entre a economia nacional e as precárias condições da maioria da população justificaram o sanitarismo desenvolvimentista (movimento que afirmava que o bom nível de saúde de uma população depende primeiramente do grau de desenvolvimento econômico de um país). 7 A partir desse momento, a saúde pública brasileira iniciou a fase do modelo assistencial-privatista (a assistência médica da previdência social), que tinha como base as ações médicas de evolução da medicina terapêutica para a medicina preventiva. O Ministério da Saúde atribuiu também os chamados “negócios de saúde pública” a outros profissionais, e não apenas aos médicos sanitaristas da época. Atenção Mesmo reorganizado o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), e criados Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps) e um programa específico para os trabalhadores rurais e autônomos, ainda essas ações causavam discussões na esfera política, porque ao mesmo tempo que mantinham trabalhos assistenciais, a desigualdade e a discriminação se destacavam. Podemos perceber que a história da saúde pública no Brasil se confunde com a história da previdência social em determinados períodos. Em 1988, foi criado pela Constituição Federal o SUS, regulamentado pelas Leis n. 8080/1990 (Lei Orgânica da Saúde) e n. 8.142/1990. O objetivo do SUS era erradicar a desigualdade de acesso à assistência à saúde, passando a ser obrigatório o atendimento público gratuito a toda a população. Políticas públicas nos tempos atuais A partir da criação do SUS, foram estabelecidos, segundo o Ministério da Saúde (2018): Três princípios fundamentais: universalidade, equidade e integralidade. Três princípios organizativos: regionalização e hierarquização, descentralização e comando único, participação popular. 8 Em um balanço feito no ano de 2008 pelo militante do movimento sanitário Nelson Rodrigues dos Santos, e pelas informações do Conselho Nacional de Saúde, o SUS tornou-se um dos maioresprojetos de saúde pública do mundo, com ênfase na inclusão social ao longo de duas décadas. Apesar dos grandes avanços alcançados nos últimos anos, o SUS apresenta algumas dificuldades e desafios, como o subfinanciamento e as insuficiências da gestão local, os quais podem causar impactos no trabalho das equipes de saúde e da população atendida. Esses impasses demonstram que os recursos destinados não acompanham o crescimento da população, deixando de suprir as demandas dos cidadãos. No ano de 2006, com o intuito de fortalecer as relações institucionais da gestão do SUS, criou-se o pacto pela vida em defesa do SUS, e foi firmado um compromisso baseado em algumas medidas para a melhoria da saúde da população do Brasil, com metas definidas para a União, estados e municípios. As prioridades estabelecidas para a melhora da saúde da população brasileira são: • saúde do idoso; • controle do câncer de colo do útero e de mama; • redução da mortalidade infantil e materna; • fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; • promoção da saúde; • fortalecimento da Atenção Básica. Atenção A condição de saúde para toda a população requer uma política que represente a sociedade como um todo, sem responder somente a grupos específicos. Os fundamentos da política nacional são o acesso ao sistema de saúde, a atenção à saúde, e educação para a saúde. 9 Por demanda espontânea ou da comunidade, os serviços de saúde promovem ações para cuidados médicos e demais áreas da saúde, por meio de procedimentos cirúrgicos, terapêuticos, reabilitação e reeducação, desenvolvidos como atenção em saúde em níveis secundários e terciários, muito voltados para as ações curativas, porém também são fornecidas ações de prevenção e educação em saúde. Políticas públicas e a política A política pública pode ser vista como a soma das atividades dos governos que causam impacto diretamente na população devido a escolhas de cada governo. Resumindo, a política pública tem como objetivo colocar as ações do governo em prática e avaliar/analisar essas ações, propondo mudanças com foco prioritário no bem-estar na população. A definição de política pública é ampla, mas podemos conceituá- la como um campo específico da política que avalia as ações governamentais sobre grandes questões públicas. Curiosidade Como citamos no tópico anterior, o SUS é o maior sistema de saúde pública em vigor no Brasil e é regulamento por algumas leis, conforme você pode observar na figura a seguir. Principais leis que regularizam o SUS Ar�gos 196 a 200 da Cons�tuição Federal Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990 Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990 Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer Na imagem, há as principais leis que regularizam o SUS: arti- gos 196 a 200 da Constituição Federal; Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990; Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990. 10 A seguir, vamos destacar as partes mais importantes dessas leis para entendimento sobre a essência do SUS. Acompanhe. Artigos da Constituição Federal (BRASIL, [2020]): Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único [...]. Com relação aos artigos da Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990a), destacamos: Art. 2º: A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. [...] Art. 4º: O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). § 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para a saúde. § 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter complementar. Art. 5º: São objetivos do Sistema Único de Saúde (SUS): I – A identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; 11 II – A formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, a observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei. E, por fim, temos o art. 1º da Lei n. 8.142/1990 (BRASIL, 1990b): Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas: I – A Conferência de Saúde; II – E o Conselho de Saúde. Fechamento Conhecemos sobre as políticas públicas de saúde no Brasil, com foco na história da saúde e a sua evolução, juntamente com os conceitos de saúde e doença. Abordamos, ainda, o início da saúde pública no Brasil, as principais ações e movimentos ao longo dos anos, os grandes nomes que marcaram as ações em prol da saúde, toda a sua evolução até chegarmos à criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e as principais políticas públicas em saúde da atualidade. 12 Referências BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 21 jul. 2021. ______. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1990a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080. htm. Acesso em: 21 jul. 2021. ______. Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1990b. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8142.htm. Acesso em: 21 jul. 2021. MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2018. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/. Acesso em: 21 jul. 2021. SOLHA, R. K. T. Saúde coletiva para iniciantes. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
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