Buscar

AULA 8 - LGBTQ

Prévia do material em texto

Direito de minorias e grupos vulneráveis
Prof. Luiz Henrique Milaré de Carvalho
Sigla LGBTQI+
Para entender a sigla LGBTQI+, com base nas definições da Aliança Nacional LGBTI, é importante saber que parte dela, as letras LGB, refere-se a orientação sexual da pessoa, ou seja, as formas de se relacionar afetiva e/ou sexualmente com outras pessoas, e outra parte, TQI+, diz respeito a identidade de gênero, ou seja, como a pessoa se identifica, e vai além do gênero feminino ou masculino.
Cisgênero e transgênero
Vale ressaltar que uma pessoa pode ser cisgênero (cis), esta é uma nomenclatura usada para definir um indivíduo que se identifica, em todos os aspectos, com o gênero atribuído ao nascer. 
Já o transgênero (trans), é uma pessoa que transitam entre os gêneros, ou seja, é aquele/a que nasceu com órgão sexual feminino ou masculino, mas se identifica com o gênero diferente.
Siglas
L - lésbica: Pessoa cis ou trans que se identifica no gênero feminino e se relaciona afetiva e/ou sexualmente com outras pessoas do gênero feminino;
G - gay: Pessoa cis ou trans que se identifica no gênero masculino e se relaciona afetiva e/ou sexualmente com outras pessoas do gênero masculino;
B - bissexual: Aquele ou aquela que se relaciona afetiva e/ou sexualmente com pessoas do gênero feminino, masculino ou demais gêneros.
T - transgêneros (travestis ou transexuais): Pessoas que não se identificam com o gênero atribuído com base nos órgãos sexuais e transacionam para outro gênero. 
Exemplificando, uma pessoa que nasceu com órgão sexual feminino, mas se identifica com o gênero masculino. Há algumas diferenciações entre travestis e transexuais e divergências entre as definições do termo, mas segundo a definição adotada pela Conferência Nacional LGBT de 2008, as travestis são pessoas que nasceram com o órgão sexual masculino, mas se identificam pelo gênero feminino, no entanto ainda desejam manter o órgão sexual biológico.
Q - queer: Esse é um termo mais recente e ainda em discussão, mas de acordo com a Teoria Queer da pesquisadora Judith Butler, são pessoas fluidas, ou seja, que não se identificam com o feminino ou masculino e transitam entre os “gêneros”. Elas também podem não concordar com os rótulos socialmente impostos. O termo pode englobar minorias sexuais e de gênero que não são heterossexuais (pessoa que se relaciona com outra do gênero oposto) ou cisgênero (pessoa que se identifica com o gênero biológico).
I - intersexual: Segundo a Sociedade Intersexual Norte Americana, esse termo é usado para designar uma variedade de condições em que uma pessoa nasce com uma anatomia reprodutiva ou sexual que não se encaixa na definição típica de sexo feminino ou masculino. Por exemplo, uma pessoa intersexual pode nascer com uma aparência exterior da genitália do gênero feminino mas com anatomia interior, maioritariamente do gênero masculino.
+ - engloba todas as outras letras da sigla LGBTT2QQIAAP: como o “A” de assexualidade (indivíduo que não sente nenhuma atração sexual, seja pelo sexo/gênero oposto ou pelo igual) e o “P” de pansexualidade (aqueles que podem desenvolver atração física, amor e desejo sexual por outras pessoas, independentemente de sua identidade de gênero ou sexo biológico).
Aliados, agêneros e andrógino
Algumas versões da sigla também englobam o termo “Aliados” que, segundo a Aliança Nacional LGBTI+ são pessoas que, independente da orientação sexual ou identidade de gênero, tomam ação para promover os direitos e a inclusão LGBTI+. 
Outro “A” também se refere a pessoa “Agênero”, ou seja, alguém que não se identifica ou não se sente pertencente a nenhum gênero. 
Outro termo mais conhecido é o Andrógino, uma expressão de gênero usada para descrever uma pessoa que assuma postura social, especialmente a relacionada à vestimenta, comum ao gênero masculino ou feminino.
Silenciamento, prisões, mortes e patologização. 
Até 1990, a homossexualidade era considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde. 
Até hoje, em muitos países ocidentais, ser transgênero é considerado um transtorno mental. 
Um breve olhar sobre a evolução da situação dos LGBTQ+s revela um enorme atraso das instituições oficiais estatais e internacionais em dar tratamento adequado a estas minorias. 
Por outro lado, nenhum debate sobre reparação histórica é feito. 
E, continuamente, as soluções adotadas para a violência contra a comunidade são paliativas, retroativas e sem medidas concretas para minimizar danos. 
Portanto, a criminalização da LGBTfobia no Brasil é para ontem, mas deve vir com muitos mais avanços
Destaca-se nesse sentido a articulação social de caráter reivindicatório nos Estados Unidos, a datar da década de 1940 até meados dos anos 1980. 
A Rebelião de Stonewall, de 1969, que ocorrera nos Estados Unidos, e as mudanças que a nomenclatura ‘homossexual’ perpassou são condicionantes que contribuíram, em certa medida, para a emersão da agenda LGBTQ+. 
O que foi a Rebelião de Stonnewall?
A Rebelião de Stonewall foi uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, localizado no bairro de Greenwich Village, em Manhattan, em Nova York, nos Estados Unidos. 
Esses motins são amplamente considerados como o evento mais importante que levou ao movimento moderno de libertação gay e à luta pelos direitos LGBT no país.
Naquela época, não era ilegal ser homossexual ou trans, mas vender bebida alcoólica para a comunidade era considerado indecente e passível de multa. 
Por essa razão, o Stonewall Inn – assim como muitos bares em Nova York – era clandestino, de propriedade da máfia genovesa e também adotava diversas táticas para escapar da regulamentação local; dentre elas, subornar as delegacias para avisarem as fiscalizações iminentes.
 Quando a polícia chegava para batida, a regra era conhecida: clientes deveriam parar o que estavam fazendo e vestir ao menos três peças de roupa atreladas ao sexo designado ao nascer (meninos vestem azul, meninas vestem rosa)
As reivindicações pelo mundo são considerados como propulsores para o advento da agenda na Organização das Nações Unidas (ONU). 
A partir da inserção das pautas LGBTQ+ na ONU, gerou-se um espaço mais amplo para discussões e debates das pautas reivindicatórios, bem como um caráter mais jurídico passou a ser atribuído a estes.
Mas seria possível dizer que o Brasil, enquanto um Estado democrático, tem promovido políticas públicas de inclusão de pautas LGBT? 
A priori, o movimento LGBT não possuía a abrangência política e o caráter identitário que reconhece-se atualmente, sendo conhecido apenas como um ‘movimento homossexual’, com uma identidade que pautava-se em reivindicações por direitos civis e não em classes sociais. 
Inicialmente, a luta centrava-se na consolidação de uma identidade homogênea do grupo, bem como na construção de “uma imagem pública mais respeitável para os homossexuais e na sua plena integração à sociedade”. 
Apesar das reivindicações por direitos civis ser o pilar identitário do movimento homossexual, ao decorrer das décadas de 1940 e 1950 o movimento não possuía uma identidade homogênea. 
Isso se deve a dois fatores: o primeiro refere-se diretamente aos indivíduos homossexuais, estes ainda não haviam internalizado um sentimento de pertencimento ao grupo/movimento.
O segundo fator, que impedira a consolidação identitária do movimento, fora as teorias e estudos biomédicos acerca da homossexualidade. 
Estes procuravam circunscrever um modelo ideal de sexualidade respaldado na heterossexualidade e adotava a identidade de gênero como correspondente ao sexo biológico do indivíduo. 
Como consequência, as teorias biomédicas passaram a atribuir um caráter patológico à homossexualidade.  
Os estudos biomédicos impactaram significativamente o movimento e a imagem dos indivíduos homossexuais, de forma que relatórios produzidos pelo Departamento de Estado,dos Estados Unidos, “[degradaram] o caráter pessoal de gays e lésbicas, e [sustentando] que os homossexuais encarnavam uma ameaça à segurança nacional”.  
Isso se deve principalmente ao fato de que Joseph McCarthy, senador norte-americano pelo estado de Wisconsin, de 1947 a 1957, compreendia que indivíduos que não compatibilizavam com a imagem heteronormativa convencional eram potenciais inimigos do Estado. 
McCarthy promoveu uma forte repressão e caçada a pessoas homossexuais, principalmente a partir da publicação de relatórios elaborados pelo Departamento de Estado que debatiam a questão de pessoas gays atuando em cargo públicos. 
O turning point para o ativismo gay norte-americano, entretanto, concretizou-se com a “Rebelião de Stonewall’, que por diversas vezes é apontada como um marco histórico no processo de evolução do ativismo norte-americano, bem como uma transformação política do movimento
A década de 1990 proporcionou circunstâncias mais otimistas que viabilizaram a criação de um maior espaço de discussão dentro da Organização das nações Unidas sobre a agenda LGBTQ+, especialmente no que concerne aos direitos humanos. 
O episódio que notoriamente causou maior impacto na agenda LGBTQ+ per se, bem como em outras organizações, foi a remoção da homossexualidade do Código Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde.
Dos antecendentes à institucionalização da agenda LGBTQ+ no Brasil
Divide-se em três períodos, conhecidos por “ondas”:
Primeira = Desvincular a imagem dos homossexuais de condições pejorativas. Difusão de informações acerca de tabus, principalmente no tocante à dificuldade em estabelecer o parâmetro de orientação sexual, problematizando sobre problemas sociais de gays, lésbicas e transexuais no Brasil, bem como em relação à prostituição nas áreas urbanas.
Segunda = sucedeu-se com a redemocratização brasileira ao longo dos anos 1980. A causa catalisadora da Segunda Onda, contudo, está ligada a eclosão do vírus HIV. A lentidão governamental em fornecer melhores explicações sobre a doença fez com que se associasse a Aids à chamada “peste gay”, gerando mais intolerância e atos violentos contra homossexuais e travestis em sua maioria.
Terceira = ocorreu ao longo dos anos 1990, fortemente marcada por dois aspectos. O primeiro refere-se à Assembleia Constituinte que ocorrera de 1987 a 1988.  Redesignação de transexuais no Sistema Único de Saúde (SUS), entre 2008 e 2010 (mesmo que o processo leve anos na fila de espera), e a possibilidade do nome social, a união estável (e depois casamento), adoção, previdência social, direitos sucessórios entre pessoas do mesmo sexo.
https://globoplay.globo.com/v/7713775/

Continue navegando