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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 ESTRESSE E SAÚDE MENTAL: CONCEITOS E DEFINIÇÕES ............... 4 3 ESTRESSE: MECANISMOS DE ATIVAÇÃO E IMPACTOS NO ORGANISMO ............................................................................................................ 11 4 TRANSTORNOS RELACIONADOS AO ESTRESSE ............................... 20 5 RELAÇÃO ENTRE AMBIENTE E ESTRESSE ......................................... 27 5.1 Síndrome de Burnout ......................................................................... 29 5.2 Ações que podem reduzir casos de doença mental no trabalho ........ 35 6 COMO LIDAR COM O ESTRESSE .......................................................... 38 7 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 44 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 ESTRESSE E SAÚDE MENTAL: CONCEITOS E DEFINIÇÕES Fonte: minhasaude.proteste.org.br Ao longo da história, houve segundo Silva, Goulart e Guido (2018) o reconhecimento de que o homem sofria exaustão em diferentes situações, como por exemplo após o trabalho, a exposição ao frio ou calor, a perda de sangue, doença ou mesmo após sentir medo, fome ou sede, o que acaba gerando variados desfechos biológicos e psicológicos, que ficaram conhecidos hoje como estresse. Devido as mudanças da contemporaneidade, o estresse vem se tornando tema de muitos debates, entretanto, sua definição ainda se encontra em um campo não consensual, uma vez que ora o estresse é considerado doença e ora é considerado fator de risco (GARCIA et al, 2019). Hans Selye é apontado na literatura como o primeiro a pesquisar sobre o estresse, ainda na década de 1930, a partir de um viés biológico, apresentando-o de acordo com Garcia et al (2019) como uma “Síndrome Geral de Adaptação”. Tal Síndrome consiste necessariamente em um conjunto de respostas coordenadas pelo organismo em função de alterações, de perturbações no meio interno do organismo. Os autores apontam que essa síndrome se refere à quebra da homeostase interna, diante de um evento estressor, o qual exige do indivíduo um esforço para adaptação. Assim, entende-se como evento estressor, tudo aquilo que causa o 5 estresse, ou seja, qualquer situação geradora de um estado emocional forte, que leve ao desequilíbrio da homeostase interna e exija uma adaptação. Como são várias as situações que podem ser desencadeadoras de estresse e cada pessoa responde de determinada forma a essas situações, a literatura aponta três tipos básicos de agentes estressores: estressores sensoriais ou físicos, estressores psicológicos e estressores tóxi-infecciosos e traumáticos. Os estressores sensoriais ou físicos, abrangem questões sensoriais, como a mudança de temperatura, o ruído, bem como outros aspectos físicos, além de esportes de aventura e exercícios físicos. Os estressores psicológicos, referem-se aos acometimentos por exigências emocionais como falar em público, perda de familiares, mudanças, provas e exames. Já os estressores tóxi-infecciosos e traumáticos, são as reações de estresse causadas por cirurgias, parto, vírus, bactérias, fungos, entre outros. Ainda conforme publicação realizada em 2012 na Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, o estresse refere-se a uma reação natural do organismo, diante de situações potencialmente ameaçadoras ou perigosas, que acabam acionando um estado de alerta ou alarme, e consequentemente, provocando alterações emocionais e físicas. Sendo assim, a reagir ao estresse é uma atitude biológica necessária para que o indivíduo seja capaz de se adaptar a novas situações. O estresse então, pode ser identificado como distresse ou eustresse. O distresse é um termo das áreas de psicologia e psiquiatria relacionado ao estresse excessivo, ou seja, aquele em maior nível, capaz de causar sofrimento e prejudicar a saúde e, consequentemente, outras dimensões da vida pessoal e profissional de um sujeito. O eustresse, por sua vez, refere-se a um estresse bom e que ajuda as pessoas a reagirem positivamente diante de desafios e mudanças. É um tipo de estresse que leva o organismo a produzir adrenalina, dando à pessoa ânimo e energia (FARO, 2015). Sendo assim, entende-se que o estresse pode ser negativo quando, por exemplo, o sujeito se encontra preso no trânsito e está atrasado para um compromisso. Porém pode em alguns casos desempenhar função positiva, servindo de motivação para que o sujeito melhore a qualidade de sua performance em alguma atividade, por exemplo. Por isso, o estresse pode ser considerado aspecto importante para a realização de qualquer atividade. 6 Entretanto, situações extremas podem ser prejudiciais à saúde, uma vez que a exposição prolongada a eventos de estresse pode desenvolver quadro patológico, originando doenças e distúrbios transitórios. A intensidade, a duração e a forma como o indivíduo percebe o agente estressor (GARCIA et al, 2019), vão indicar também se o estresse tende a ser positivo ou negativo. Nesse sentido, conforme a publicação da Biblioteca Virtual em Saúde, o estresse pode então, ser classificado como agudo ou crônico. O estresse agudo acontece de forma mais intensa e tem curta duração, sendo normalmente causado por situações traumáticas, porém passageiras, como por exemplo, a depressão causada pela morte de alguém próximo, a chegada de um filho ou um acidente. Geralmente são situações isoladas, as quais não tem efeito persistente no organismo. Em caso de situações em que o trauma é muito elevado, como em acidentes em que a vítima fica gravemente ferida ou quando a situação é potencialmente fatal, desenvolve-se um quadro psiquiátrico denominado de transtorno de estresse pós- traumático. Mas, geralmente o estresse agudo é entendido como saudável, pois possibilita que o corpo desenvolva novas formas de reagir, diante de situações estressantes. Já o estresse crônico, afeta grande parte das pessoas, sendo constante no dia a dia. Nesses casos, o estresse se torna persistente e se prolonga por grandes períodos. Pode decorrer de experiências traumáticas que ocorrem na primeira infância, as quais são internalizadas e permanecem presentes. Tais experiências, podem afetar a personalidade e as percepções de mundo, causando estresse sem fim. O estresse crônico passa a ser um problema, quando o sujeito passa a viver em um contexto estressor e não apenas uma situação estressora, já que vários fatores acabam gerando pressões sobre o mesmo. O estresse também pode passar por um processo de evolução, o qual Selye (1965, apudSILVA; MARTINEZ, 2005) descreveu em três fases: alerta, resistência e exaustão. Todavia, Silva e Martinez (2005) destacam que Lipp acrescentou uma nova fase denominada de quase-exaustão, que seria a fase intermediária entre a resistência e a exaustão. Dessa forma, as fases do estresse caracterizam-se como: Fase de Alerta: essa fase é inicia-se no momento em que a pessoa entra em contato com o elemento estressor. Nessa fase são comuns sintomas como: Mãos e/ou pés frios, boca seca, dor no estômago, suor, tensão e dor muscular por exemplo, na 7 região dos ombros, aperto na mandíbula (ranger os dentes) ou roer unhas/ponta da caneta, diarréia passageira, insônia, batimentos cardíacos acelerados, respiração ofegante, aumento súbito e passageiro da pressão sanguínea, agitação. Fase de Resistência: nessa fase o corpo tenta voltar ao seu equilíbrio. O organismo pode se adaptar ao problema ou eliminá-lo. Problemas de memória, formigamento nas mãos e/ou pés, mal-estar generalizado, mudança no apetite, sensação de desgaste físico constante, aparecimento de problemas de pele, sensibilidade emotiva excessiva, hipertensão arterial, cansaço constante, obsessão com o agente estressor, gastrite prolongada, irritabilidade excessiva, tontura, e desejo sexual diminuído, são alguns dos sintomas dessa fase. Fase de quase-exaustão: fase em que o organismo está enfraquecido e não consegue se adaptar ou resistir ao estressor. As doenças, tais como herpes simples, psoríase, picos de hipertensão e diabete, começam a aparecer nos indivíduos geneticamente predispostos (LIPP, 2000, apud SILVA; MARTINEZ, 2005). Quando o estressor permanece atuante por muito tempo, ou quando muitas fontes de estresse ocorrem simultaneamente, a reação do organismo progride para a fase de exaustão. Fase de Exaustão: nessa fase pode haver o surgimento de diversos comprometimentos físicos em forma de doença. São sintomas dessa fase: Diarréias frequentes, dificuldades sexuais, formigamento nas mãos e/ou pés, insônia, tiques nervosos, hipertensão arterial confirmada, problemas de pele prolongados, mudança extrema de apetite, batimentos cardíacos acelerados, tontura frequente, úlcera, impossibilidade de trabalhar, pesadelos, apatia, cansaço excessivo, irritabilidade angústia, hipersensibilidade emotiva, perda do senso de humor. Observa-se que o desenvolvimento do estresse varia de acordo com o quanto o indivíduo foi afetado pelo estressor, ou seja, quando o estresse é pouco se desencadeia um movimento do organismo para lidar com a situação. Entretanto, quando o estresse ocorre por um período prolongado ou é mais intenso, o organismo precisa despender muita energia, o que provoca um desequilíbrio que pode tornar o sujeito susceptível a doenças. Dessa forma, quanto mais duradouro o período de estresse, mais negativos os impactos na saúde. A necessidade de pagar contas, a pressão por resultados e os malabarismos para conciliar a vida profissional e a familiar, são exemplos de situações estressoras. Assim, Margis et al (2003) destacam que as situações ambientais que podem provocar 8 o estresse são agrupadas como: acontecimentos vitais, acontecimentos diários menores e situações de tensão crônica. Os acontecimentos vitais, relacionam-se com acontecimentos que marcam a vida da pessoa e podem ou não, ser controlados por ela. Como exemplos desses acontecimentos podem ser citados a aprovação em vestibular, o casamento, o divórcio, o emprego novo, entre outras situações. Os acontecimentos diários menores, estão relacionados a eventos do cotidiano que vão influenciar de forma significativa a vida da pessoa. Um exemplo seria um vizinho barulhento, o trânsito congestionado, a necessidade de enfrentar longas filas ou até mesmo o latido de um cachorro. Já as situações de tensão crônica, são aquelas que permanecem por um período de tempo maior e geram estresse intenso. Relacionamentos abusivos, onde agressões físicas e psicológicas são frequentes, são exemplos desse tipo de situação. Ao entrar em contato com um evento estressor, o corpo irá gerar uma resposta, a qual vai depender de como o sujeito entende a informação e como ele avalia a situação ou estimulo, se é agradável, aterrorizante, relevante, entre outras percepções. Ou seja, a percepção do sujeito sobre a situação é que vai determinar o modo como ele vai responder ao estressor, bem como a forma como o mesmo será afetado pelo estresse. Por isso, o impacto que cada estressor terá na vida das pessoas será diferente. Ademais, as respostas ao evento estressor podem se dar em três níveis, que de acordo com Margis et al (2003) são: Nível cognitivo, Nível comportamental e Nível fisiológico. Em nível cognitivo, os autores apontam que podem ser distinguidos quatro componentes, os quais são: Avaliação inicial automática da situação ou estímulo: também denominada como reação afetiva, caracteriza a fase em que o sujeito vai avaliar inicialmente o grau de ameaça para si, determinando um padrão de resposta do tipo defesa ou conferência e orientação. Caso o sujeito sinta o estimulo como uma ameaça, será ativada uma resposta do tipo defesa. Caso seja o contrário, e o mesmo não entenda o estímulo como ameaça, será ativada uma resposta do tipo conferência e orientação. Respostas fisiológicas diferentes serão provocadas, a depender de qual tipo de resposta foi ativada. 9 Avaliação da demanda da situação ou avaliação primária: caracteriza o momento em que o sujeito vai avaliar a situação estressora a partir das suas experiências e história pessoal. Nesse momento, o relevante é a forma como o sujeito vai vivenciar a situação de estresse. Avaliação das capacidades para lidar com a situação estressora ou avaliação secundária: refere-se a fase em que o sujeito vai avaliar a situação a partir das suas capacidades e recursos para enfrentar a situação e manejá-la. Organização da ação ou seleção da resposta: momento em que a partir das avaliações realizadas nas fases anteriores, o sujeito vai elaborar suas respostas às demandas percebidas. Margis et al (2003) ressaltam que as respostas podem ser específicas para a situação ou também podem não haver respostas, cabendo ao sujeito decidir se arrisca uma resposta nova ou se irá suportar de forma passiva a situação de estresse. É importante destacar que os recursos comportamentais, bem como os fisiológicos que serão mobilizados vão depender geralmente, de tal escolha. Em nível comportamental, os autores afirmam que as respostas básicas frente a um estressor são de enfrentamento, evitação e passividade. A habilidade de responder de forma adequada a cada estressor, vai depender das experiências prévias e se em situações prévias e similares, a emissão de tal resposta recebeu reforço. Já em nível fisiológico, percebe-se que as situações de estresse produzem de modo geral, um aumento na ativação do organismo, com intuito de que o indivíduo possa reagir, uma vez que diferentes mecanismos neurais e endócrinos estão envolvidos na resposta ao estresse, os quais podem ser ativados seletivamente. Labrador e Cols (1994 apud MARGIS et al, 2003) distinguem três eixos de atuação da resposta fisiológica ao estresse: o eixo neural, o eixo neuroendócrino e o eixo endócrino. O eixo neural, ativa-se imediatamente diante de uma situação de estresse. O mesmo implica principalmente, na ativação do sistema nervoso autônomo e do sistema nervoso periférico, tendo como efeitos o aumento do ritmo cardíaco e da pressão arterial, sensação de boca seca e de “nó” na garganta, sudorese intensa, formigamento nos membros, dificuldade de respirar e dilatação das pupilas. 10 O eixo neuroendócrino possui uma ativação mais lenta e carece de condições de estresse mais prolongadas. Seu disparo ativa a medula das suprarrenais, o que provoca a secreção da adrenalina e noradrenalina,auxiliando no aumento e manutenção da atividade adrenérgica somática, proporcionando efeitos semelhantes aos gerados pela ativação simpática. Por preparar o organismo para uma atividade muscular intensa, caracteriza-se como um eixo de luta e fuga, tendo como efeitos o aumento da pressão arterial, do aporte sanguíneo para o cérebro, do ritmo cardíaco, da estimulação muscular, dos ácidos graxos, triglicerídeos e colesterol no sangue, secreção de opioides endógenos e diminuição do fluxo sanguíneo nos rins, no trato gastrointestinal e na pele. Tal resposta aumenta o risco de desenvolvimento da hipertensão, da formação de trombos e de dores no peito em pessoas propensas, além de aumentar a probabilidade de arritmias, elevando também a probabilidade de morte súbita. O eixo endócrino é caracterizado por um disparo mais lento e por efeitos mais duradouros, quando comparado aos eixos anteriores. Além disso, necessita que a situação de estresse seja mantida por tempo prolongado. Tal eixo é disparado quando o sujeito não possui estratégia de enfrentamento para a situação de estresse. Entre os efeitos estão o aumento da glicogênese, da produção de corpos cetônicos, da produção de ureia, da liberação de ácidos graxos livres no sistema circulatório, da suscetibilidade a processos ateroscleróticos e da necrose miocárdica, exacerbação de lesão gástrica, supressão de mecanismos imunológicos e redução do apetite. Assim, pode-se perceber que os impactos do estresse no corpo humano podem causar prejuízos diversos a saúde do sujeito, sejam eles físicos ou mentais. Além disso, instabilidade dos tempos modernos faz com que o estresse se torne algo inevitável, uma vez que constantemente o ser humano está diante de situações que o tiram da zona de conforto, expondo-o a adaptações frequentes. É a partir desse fluxo intenso de mudanças e necessidade de adaptações que o estresse impacta na saúde mental dos seres humanos, pois as pessoas passam a se sentir mais cansadas, irritáveis ou incapazes de se concentrar. A Saúde e a saúde mental têm de acordo com Gaino et al (2018), conceitos complexos e historicamente influenciados por contextos sócio-políticos e pela evolução das práticas em saúde. Os autores destacam que a Organização Mundial 11 da Saúde – OMS, define saúde mental como um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua comunidade. Ou seja, a saúde mental não envolve apenas problemas psiquiátricos mais graves, como quadros psicóticos que é o caso da esquizofrenia, como depressão, ansiedade ou transtornos bipolares. Mas, refere-se também a capacidade de lidar com situações simples que podem levar ao estresse. A saúde mental não sofre influência apenas de fatores biológicos, mas também é influenciada pela qualidade das diferentes relações que o sujeito estabelece ao longo da vida, sejam familiares, de trabalho ou no ambiente de lazer e também de como ele lida com o estresse. Algumas pessoas devido à alta exposição ao estresse, acabam lançando mão de hábitos negativos como o aumento do consumo de álcool e o tabagismo, para lidar com as tensões. Além disso, o estresse pode funcionar como gatilho para alguns transtornos mentais. Quando o sujeito passa por grandes momentos de estresse, enquadrando-se em um caso de estresse crônico, doenças como esquizofrenia, síndrome do pânico, depressão, ansiedade, as quais podem estar latentes, acabam emergindo. Dessa forma, saber identificar fatores estressores, bem como controlá-los torna-se fundamental para preservar a saúde mental dos sujeitos, pois quando a exposição a episódios de estresse acontece por períodos prolongados, ele provavelmente se tornará um problema crônico, a menos que o sujeito tome alguma atitude. 3 ESTRESSE: MECANISMOS DE ATIVAÇÃO E IMPACTOS NO ORGANISMO É possível dizer que o estresse se refira muito mais a uma reação, do que um sentimento ou emoção, que prepara o indivíduo para situações que exigem mais foco mental ou intensidade muscular do que o normal. Por isso, o estresse pode em alguns casos ser positivo, já que é a partir dele, que se torna possível a ativação da resposta de luta ou fuga, diante de determinadas situações. Esse tipo de resposta foi bastante útil aos nossos antepassados, uma vez que essa capacidade de resposta, possibilitou que um indivíduo que, por exemplo, avistasse uma onça, pudesse correr, se esconder ou até mesmo lutar pela 12 sobrevivência. Na atualidade, a necessidade de lidar com predadores é muito pequena, entretanto, somos submetidos a outras situações como provas, trabalho, contas, que como já mencionado, são potenciais causadoras de estresse. O estresse é comumente definido como uma condição ou estado em que a homeostase do organismo é perturbada, como resultado de estímulos estressores. É uma constelação de eventos, envolvendo a participação de diferentes sistemas do organismo em resposta a agentes estressores, como fatores climáticos, hiperpopulação, infecções, exercício físico intenso, desnutrição, ruído, odor, entre muitos outros. Sabe-se que quando um agente estressor atua sob o organismo, ocorre uma série de reações que resultam na interação dos sistemas endócrino, imunológico e nervoso através de mediadores químicos. Tais reações, que nada mais são do que respostas do organismo ao estímulo estressor, visam fornecer ao indivíduo condições para que ele possa lidar com tais situações estressoras, o que por vezes, acaba levando o organismo a colocar suas variáveis acima dos níveis normais, ou seja, ocasiona o aumento da pressão arterial, aumento da glicemia, entre outros. Essas reações que são responsáveis pela ativação da resposta de luta ou fuga necessária quando o indivíduo se encontra em uma situação estressora. Através dessa resposta, o indivíduo altera a forma como o organismo funciona, com intuito de se adaptar ao meio externo inconstante e com possíveis surpresas. Importante mencionar, que o estresse também pode ser entendido como uma condição fisiológica, uma vez que ele pode causar um aumento na capacidade metabólica quando o indivíduo está diante de uma situação potencialmente perigosa. Embora o estresse atualmente esteja associado a algumas doenças, normalmente o mesmo não é considerado uma condição patológica, visto que ele acontece para condições de sobrevivência. Entretanto, ele deixa de ser uma condição fisiológica, tornando-se patológico, quando passa a ser constante, podendo levar a problemas cardiovasculares, aumentando a probabilidade de desenvolvimento de diabetes, obesidade, depressão, entre outras patologias. Sendo assim, quando o estresse não apresenta um quadro crônico, o mesmo assume uma condição fisiológica e necessária para a manutenção da vida. Ao ser exposto a um evento estressor, o corpo produz respostas tanto neurais, quanto hormonais. Essas respostas são coordenadas pelo hipotálamo (Figura 1), via 13 Sistema Nervoso Autônomo Simpático – SNAS e via secreção de alguns hormônios específicos que são controlados pelo eixo Hipotálamo-Hipófise e suas glândulas alvo, especialmente as adrenais. Figura 1 - Fonte: www.sanarmed.com As glândulas Adrenais, também conhecidas como suprarrenais (Figura 2), localizam-se sobre o topo dos rins e ocupam um papel de destaque nesse processo de resposta ao estresse. Figura 2 - Fonte: www.sanarmed.com 14 Além disso, as adrenais compreendem duas regiões distintas (Figura 3): uma parte interna ou medular e uma camada externa ou córtex. Figura 3 - Fonte: www.todamateria.com.br A região medular, secreta Adrenalina e Noradrenalina, enquanto que a região do córtex, secreta mineralocorticóides e glicocorticoides. Os hormônios presentes em ambas as regiões participamefetivamente da resposta do corpo ao estresse e por isso, as adrenais são tão importantes nesse processo. As respostas neurais, que são vinculadas ao SNAS, fazem parte de uma reação de alarme, sendo então caracterizada como uma reação a curto prazo, enquanto que as respostas hormonais, que acontecem através do eixo hipotálamo-hipófise, relacionam-se a uma reação de resistência ao estímulo estressor, o que a caracteriza como uma reação de longo prazo. Sendo assim, quando um evento estressor age sobre o corpo, o mesmo é processado pelo hipotálamo que, em uma resposta neural, ativa o Sistema Nervoso Autônomo Simpático – SNAS. Os nervos simpáticos, via ativação das glândulas adrenais, vão liberar adrenalina sistemicamente ou então a atividade dos vários nervos simpáticos, vão coordenar uma gama de respostas entre as quais estão: O aumento da frequência cardíaca e da força de contração cardíaca Vaso constrição dos vasos sanguíneos na maioria das vísceras e na pele 15 Dilatação dos vasos sanguíneos especialmente no coração, pulmão, encéfalo e músculos esqueléticos que são regiões que vão eventualmente, participar de uma resposta emergencial, Contração do baço Conversão de glicogênio em glicose, ou seja, fornecimento extra de energia para esse organismo Dilatação das vias aéreas, facilitando e potencializando a oxigenação do organismo Diminuição das atividades digestivas, ou seja, o fluxo sanguíneo e a atividade do organismo é direcionada para as regiões que vão participar efetivamente da resposta a esse estímulo estressor. Vale lembrar que essas respostas são dadas a curto prazo, são rápidas, então são acionadas diante de um estímulo estressor momentâneo. Quando o evento estressor é duradouro, ou seja, é persistente, outras respostas são ativadas e são aquelas que estão relacionadas ao eixo hipotálamo- hipófise, envolvendo as glândulas adrenais, e até mesmo o fígado e a tireoide, caracterizando então, a reação de resistência. A participação do fígado na resposta ao estresse, se dá através do aumento dos triglicerídeos e de glicogenólise, ou seja, a quebra de glicogênio em glicose, uma vez que o hormônio de crescimento – GH, que foi estimulado pelo eixo hipotálamo- hipófise, vai ocasionar no fígado o aumento nos níveis de triglicerídeos e de glicogenólise, que irão posteriormente, fornecer energia extra para o organismo. Os hormônios tireoidianos, que foram estimulados pela hipófise, também participam da resposta ao estresse, atuando no aumentando do catabolismo da glicose para produzir ATP, disponibilizando também, energia extra para que o organismo consiga lidar com o evento estressor. Os hormônios presentes no córtex das glândulas adrenais são estimulados pelo hormônio da hipófise, chamado de Adrenocorticotrófico – ACTH, que por sua vez, foi estimulado pelo Fator Liberador de Corticotrofina – CRF que é uma a resposta hormonal do Hipotálamo. A Adrenocorticotrófico – ACTH, é quem estimula as adrenais a liberar mineralocorticoides e glicocorticoides. O principal mineralocorticoide secretado pelas adrenais é a aldosterona, a qual estimula a retenção de sódio. Por estimular a retenção de sódio, a aldosterona, 16 indiretamente, contribui para a retenção de água, aumentando assim, o volume sanguíneo e eventualmente a pressão arterial. Como principal glicocorticoide, a literatura aponta o cortisol, o qual é considerado o hormônio do estresse, sendo ele o hormônio que desencadeia variadas respostas de resistência frente a um evento estressor. Entre algumas respostas estão: Gliconeogênese: nada mais é do que a formação de glicogênio a partir de outros derivados que não a glicose, como por exemplo os ácidos graxos e aminoácidos. Esse glicogênio, posteriormente vai ser quebrado em glicose e fornecerá energia extra ao organismo. Catabolismo proteico: aumento da quantidade de aminoácidos disponíveis para a gliconeogênese Sensibilização dos vasos sanguíneos: principalmente em agentes vasoconstritores, uma vez que ocorre o aumento da pressão arterial em consequência do aumento da resistência periférica Redução da inflamação, já que o cortisol é um potente anti-inflamatório Observa-se então que, junto com outros hormônios, o cortisol ajuda a tornar disponível mais energia para uso imediato, estimulando a gliconeogênese no fígado, o catabolismo das proteínas no músculo e, no tecido adiposo a lipólise, fornecendo mais ácidos graxos para uma eventual gliconeogênese. A gliconeogênese hepática é uma das principais ações metabólicas do cortisol no organismo, uma vez que ele atua protegendo o organismo contra a hipoglicemia. No sistema cardiovascular, o cortisol apresenta efeitos positivos, aumentando o débito cardíaco, podendo aumentar tanto o volume sistólico, quanto a frequência cardíaca, além de aumentar também a pressão arterial. O cortisol estimula também a síntese de eritropoietina que é um hormônio que estimula a produção de hemácias, ou seja, as células vermelhas. Em uma situação em que não há cortisol, aumentam-se as chances de desenvolvimento de anemia. Entretanto o acesso de cortisol, pode acarretar no desenvolvimento da policitemia, que é o aumento nos níveis de hemácias. Em relação ao sistema reprodutor, sabe-se que a reprodução, demanda um alto gasto energético no organismo. Sendo assim, o comportamento e a função reprodutora ficam diminuídos em situações de estresse, uma vez que o cortisol diminui 17 a função reprodutiva no eixo hipotálamo-hipófase-gonadal, tanto no homem, quanto na mulher. Somado a isso, um outro efeito do cortisol no corpo é a diminuição da absorção intestinal de cálcio, ou seja, o cálcio ingerido na alimentação não é bem absorvido pelo intestino. O cortisol também diminui a reabsorção renal de cálcio, ou seja, existe uma maior eliminação de cálcio na urina. Ambos os mecanismos contribuem para a queda nos níveis de cálcio no sangue, o que pode tornar o tecido ósseo mais fraco e propenso a fraturas e ao desenvolvimento de osteoporose. Sobre o tecido conjuntivo, o cortisol inibe a proliferação de fibroblastos e colágeno, que são substâncias que dão viscosidade e boa aparência à pele. Por isso, altas concentrações de cortisol podem tornar na pele mais fina e mais propensa a lesões. A rede de tecido conjuntivo que dá suporte aos capilares sanguíneos, também fica comprometida em casos de alta concentração de cortisol, o que pode levar a equimose, que se refere a ruptura de pequenos vasos sanguíneos que podem resultar em manchas arroxeadas na pele. No tecido muscular, quando há aumento nos níveis de cortisol, ocorre fraqueza muscular e dor. Essa fraqueza tem várias origens, sendo a proteólise excessiva, a qual é induzida pelo cortisol, a principal delas. Além disso, esse aumento dos níveis de cortisol, pode levar a um quadro de hipocalemia, ou seja, as células vão ficar menos excitáveis o que também contribui para a fraqueza muscular. No trato gastrointestinal – TGI, sabe-se que o cortisol exerce efeito estimulante positivo sobre a mucosa do mesmo, e que a ausência desse hormônio faz com que a mobilidade do TGI fique diminuída, assim como diminui a produção de ácidos e enzimas, ocorrendo também a degeneração da mucosa. Contuso, o excesso de cortisol aumenta o apetite, estando frequentemente associado ao aumento de peso. Ademais, o excesso de cortisol estimula o aumento da secreção de ácido gástrico o que aumenta as chances de desenvolvimento de úlcera gástrica. A elevação, bem como a deficiência nos níveis de cortisol, também possui associação com distúrbios psiquiátricos. Inicialmente, níveis aumentados de cortisol podem promover a sensação de bem-estar. Porém, a exposição excessiva a níveis elevados de cortisol, podem provocar uma instabilidade emocional e até mesmo depressão. 18 O cortisol está associadotambém a regulação do sono. Conforme a literatura, o aumento nos níveis de cortisol, principalmente nas primeiras horas da manhã, estimula o despertar, ou seja, promove um aumento na pressão arterial e dos batimentos cardíaco que nos leva a acordar. Ao longo do dia, os níveis de cortisol vão diminuindo, alcançando os seus níveis mais baixos no período noturno. Sendo assim, caso haja o aumento nos níveis de cortisol no período noturno, pode-se gerar insônia e diminuição do sono profundo, o que impacta diretamente na qualidade de vida do indivíduo. Vale ressaltar que o excesso de cortisol prolongado, aumenta também a atividade e o número de conexões entre neurônios nas amídalas cerebrais que são encarregadas de nos despertar medo e raiva, tornando o indivíduo mais medroso e agressivo. Um dos principais efeitos do estresse no cérebro é a alteração no funcionamento e diminuição do tamanho de algumas partes, como o córtex pré-frontal e o hipocampo (Figura 4). Fonte: activepharmaceutica.com.br Todavia, essas regiões são fundamentais para lidar com fatores estressores, já que estão relacionados com a capacidade de autocontrole e aprendizagem. Sendo assim, a tendência é que indivíduos que são expostos a situações estressoras de 19 forma persistente e frequente, piorem as suas condições, uma vez que com o passar do tempo, vão perdendo a capacidade de regular emoções e lidar com novos eventos estressores, já que passam a perder o controle sobre o eixo Hipotálamo – Hipófise – Adrenais. Como já mencionado, os efeitos do estresse também impactam o sistema imunológico, uma vez que o desequilíbrio nas respostas ao estresse, que como já apresentado são coordenadas pelo Sistema Nervoso Autônomo Simpático – SNAS e pelo eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenais, têm como consequências o desenvolvimento de enfermidades, como depressão, câncer e doenças inflamatórias crônicas, além de maior susceptibilidade a infecções causadas por microrganismos. Assim, especial atenção tem sido dada ao estudo dos denominados “hormônios do estresse” e à regulação do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenais. Tais consequências decorrem da alta concentração dos hormônios liberados no organismo, em um estado de estresse crônico, o que acaba fazendo com que o corpo “relaxe” as suas defesas, tornando difícil a resposta do sistema imunológico. Assim, devido a essa inibição do sistema imunológico, o corpo perde a capacidade de combater, com a mesma eficiência, os vírus, bactérias, o câncer, entre outras doenças. Segundo Pagliarone e Sforcin (2009) tanto o excesso quanto a inadequação da resposta dos hormônios do estresse, estão associados com doenças, levando à suscetibilidade a infecções e a doenças inflamatórias crônicas, autoimunes e alérgicas. Assim, a ativação crônica do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenais durante o estresse pode afetar a susceptibilidade ou o grau das doenças infecciosas através do efeito imunossupressivo dos glicocorticóides. Em contraste, a diminuída ativação do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenais está associada com alta suscetibilidade a doenças autoimunes e inflamatórias crônicas. Normalmente a reação de resistência é efetiva, ou seja, ela consegue auxiliar o organismo a passar por um evento estressor e fazer com que o mesmo posteriormente seja capaz de voltar ao estado inicial. Entretanto, pode ser que as reservas energéticas do indivíduo se esgotem e nesse caso, o indivíduo entre em um estado de exaustão. Por isso, quando um corpo é submetido a eventos estressores prolongados, acumulando altas concentrações de cortisol por muito tempo, aumenta-se a 20 predisposição para o desenvolvimento de patologias como hipertensão, diabetes, osteoporose, entre outras, uma vez que começa a se observar uma diminuição da massa muscular, da massa óssea, a supressão do sistema imunológico, bem como a elevação da glicemia por tempo prolongado como foi apresentado acima. Sendo assim, pode-se dizer que o problema com o estresse não está em um caso isolado durante a semana, mas sim no somatório constante de situações estressantes que se acumulam durante a rotina, sendo então, o estresse crônico o verdadeiro problema para o organismo e para a saúde humana. 4 TRANSTORNOS RELACIONADOS AO ESTRESSE Fonte: learningsg.com Como se sabe, eventos estressantes são muito frequentes considerando a sociedade em que vivemos na atualidade. Além disso, a alta exposição a esses eventos, bem como a durabilidade dos mesmos, pode funcionar como gatilho para alguns transtornos mentais, uma vez que o sofrimento psicológico após esses eventos também tem sido frequente. Dessa forma, Martins-Monteverde, Padovan e Juruena (2017) destacam que devido a relevância do trauma no desencadeamento de psicopatologias na vida adulta, lançou-se em 2013 a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), no qual consta uma seção específica para caracterizar 21 os quadros psiquiátricos relacionados a traumas, denominado de Transtornos Relacionados a Traumas e a Estressores. Conforme o manual, nessa categoria incluem-se: Transtorno de apego reativo, Transtorno de Interação Social Desinibida, Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Transtorno de Estresse Agudo, Transtornos de Adaptação, Transtorno Relacionado a Trauma e a Estressores Não Especificado e o Transtorno Relacionado a Trauma e a Estressores Especificado. Como transtornos relacionados diretamente ao estresse estão o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Transtorno de Estresse Agudo e o Transtornos de Adaptação. Transtorno de Estresse Pós-Traumático – TEPT Refere-se a uma patologia mental que está englobada na esfera de ansiedade, caracterizando-se por um conjunto de sintomas físicos, psíquicos e emocionais, os quais decorrem da pessoa ter sido vítima ou testemunha de situações traumáticas, que em geral representaram ameaça a própria vida ou a vida de terceiros. A literatura tem mostrado que as memórias afetivas têm papel fundamental no desenvolvimento humano, uma vez que as emoções impactam o processo de ensino aprendizagem. Sendo assim, o indivíduo tende a gravar com mais força as informações, quando as mesmas estão acompanhadas de estímulos afetivos. As memórias negativas, no entanto, podem ser ainda ser mais marcantes, o que pode ter relação com a secreção de hormônios durante o estresse, como é o caso do cortisol, que ajuda a consolidar essas novas memórias, podendo inclusive, apagar memórias antigas. É por isso, que algumas pessoas ao vivenciarem situações extremas, podem desenvolver Transtorno de Estresse Pós-Traumático – TEPT. Ao ser exposta a uma situação potencialmente traumática, o corpo e a mente da pessoa entra em um estado de choque. Contudo, após um período de tempo, quando a pessoa consegue compreender o ocorrido, e processar as emoções, geralmente ela consegue sair dessa condição. No entanto, em casos de TEPT, a pessoa permanece em estado de choque, onde as memórias e as lembranças não possuem muita conexão, sendo necessário que a pessoa enfrente as emoções para que consiga sair desse estado. 22 Pessoas que passam por algum tipo de violência urbana ou doméstica, abuso sexual, tortura, terrorismo, desastres naturais, assalto, sequestro, acidente, guerra, entre outros eventos potencialmente traumáticos, podem desenvolver esse transtorno. Entre os sintomas estão: Reexperimentação do evento traumático: A pessoa acaba lembrando ou revivendo o evento traumático. Muitas vezes a pessoa tem pesadelos e flashbacks, fazendo com que a mesma fique frequentemente nervosa, ansiosa e se assuste facilmente. Evitação: A pessoa tenta evitar pensar ou lembrar do trauma vivenciado, ou até mesmo, evitar trajetos, situações ou objetos que a faça relembrar o trauma. A pessoa começa a fugir de tudo aquilo que a faça reviver o trauma. Hiperexitabilidade psíquica e psicomotora: refere-se a sensações físicas como o aumento da frequência cardíaca, dor de cabeça, tontura, sudorese, insônia, dificuldade de concentração e hipervigilância. Esses episódios podem ocorrer a qualquer momento ou quando a pessoa se depara com um fator que serve de gatilho. São encontradas também algumas alterações nos aspectos cognitivos e no humor da pessoa com TEPT. A nível cognitivo, além da dificuldade de concentração, a pessoa pode apresentar amnésia ou lapsos de memória. Além disso, a pessoa começa a desenvolver crenças negativas, passando a se culpar ou culpar terceiros o que desencadeia um estado emocional negativo. Segundo Soares, Santos e Donadon (2021) na população em geral, prevalência do TEPT pode variar de 1% a 14%, atingindo principalmente as mulheres, podendo essa porcentagem variar, dependendo da fase de desenvolvimento. Os autores ainda mencionam que a etiologia do TEPT pode estar associada a um conjunto de variáveis multifatoriais, a saber: componentes genéticos, ambientais ou sociais e psicológicos. O TEPT, de acordo com Martins-Monteverde, Padovan e Juruena (2017), pode ter três formas de apresentação clínica, sendo a primeira a forma aguda, na qual os sintomas duram de um a três meses após o evento traumático, a segunda à forma crônica, onde os transtornos têm mais de três meses de duração e a última a forma 23 tardia, quando os sintomas começam a se manifestar a partir de seis meses após o evento traumático. Além disso, os autores afirmam que os fatores de risco do TEPT podem ser divididos em pré-traumáticos, peritraumáticos e pós-traumáticos. Os fatores pré- traumáticos possuem associação com problemas emocionais desenvolvidos na infância durante os seis primeiros anos de vida, principalmente abusos, violência e negligência na infância, transtornos mentais prévios, situação socioeconômico desfavorável, problemas emocionais e ser do sexo feminino. Os fatores peritraumáticos, incluem fatores associados ao evento desencadeante do transtorno, ou seja, referem-se à gravidade do trauma, ameaça à vida e dissociação durante o evento. Já os fatores pós-traumáticos, são aqueles que vão influenciar o transtorno após o evento traumático como por exemplo, baixo apoio social, o desenvolvimento de transtorno de estresse agudo, avaliações negativas do trauma e eventos traumáticos adicionais. Somado a isso, estudos tem apontado que a prevalência de comorbidades para o TEPT varia entre 60 a 88,3% (MARTINS-MONTEVERDE; PADOVAN E JURUENA, 2017), sendo as mais comuns a depressão, o transtorno por abuso de substâncias, transtornos ligados a ansiedade, bem como o transtorno de conduta. Já entre as doenças clínicas estão a hipertensão, doenças respiratórias e úlcera péptica. Dessa forma, as comorbidades psiquiátricas representam um importante fator de risco para gravidade e cronicidade do TEPT. O tratamento medicamentoso pode ser favorável para o alívio de alguns sintomas, como agitação, ansiedade, insônia e depressão (SOARES; SANTOS; DONADON, 2021). Já os tratamentos psicoterápicos têm objetivo de evitar que a memória traumática seja validada, sendo fundamental que o diagnostico seja feito o mais rápido possível. Transtorno de Estresse Agudo – TEA O Transtorno de Estresse Agudo – TEA, surge quando o sujeito passa por uma situação traumática, assim como na anterior. Caracteriza-se de acordo com Martins- Monteverde, Padovan e Juruena (2017) pelo desenvolvimento de sintomas de medo intenso ou sensação de impotência, típicos da reação mediante à exposição 24 traumática, envolvendo uma resposta de ansiedade, que também inclui a reexperimentação do evento traumático, seja através de sonhos, pensamentos, objetos e imagens, o que acarreta prejuízos significativos. A principal diferença entre esse transtorno e o TEPT é o fator tempo. No TEPT os sintomas precisam estar recorrentes por pelo menos um mês, enquanto no TEA os sintomas devem ser recorrentes a menos de um mês. Ou seja, no TEA, os sintomas surgem em até 4 semanas do evento estressor inicial, os sintomas duram pelo menos 3 dias e não duram mais de um mês. De acordo com a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM – 5, a manifestação clínica do transtorno de estresse agudo pode variar dependendo do indivíduo, mas na maioria dos casos envolve uma resposta de ansiedade que inclui formas de reviver o evento traumático. Algumas pessoas podem apresentar um quadro dissociativo ou de distanciamento, embora essas pessoas também apresentem geralmente forte reatividade emocional ou fisiológica em resposta a lembranças do trauma. Contudo, em outros casos, a pessoa pode apresentar uma resposta de raiva intensa na qual a reatividade é caracterizada por respostas irritadiças ou possivelmente agressivas. Sendo assim, é necessário que os sintomas estejam presentes por pelo menos três dias após o evento estressor, além disso o diagnóstico só pode ser feito em até um mês depois do trauma. Vale ressaltar que sintomas que ocorrem logo após o evento traumático, mas desaparecem anteriormente aos três dias, não atendem aos critérios para ser considerado transtorno de estresse agudo. Para ser caracterizado como TEA, o evento precisa ser de natureza violenta ou acidental, incluindo acidentes ou lesão grave e ataque pessoal violento. A probabilidade de desenvolvimento do transtorno de estresse agudo aumenta, à medida que a intensidade, bem como a proximidade física ao estressor aumentam. Entre os sintomas estão: sentimento de anestesia ou embotamento emocional, aumento de distração, sensação de estar fora da realidade, sentimento de despersonalização, ou seja, sentir como se o evento não fosse com a pessoa e amnésia de detalhes importantes do evento. São frequentes também o sentimento de evitação, aumento de pensamentos negativos e da sensação de aflição, bem como do estado de hipervigilância. 25 É bastante comum também, que indivíduos com TEA apresentem problemas de insônia, o que pode ter relação com os pesadelos ou excitação elevada que acaba impedindo o sono adequado. Além disso, esses indivíduos acabam se irritando mais facilmente, podendo apresentar comportamentos agressivos diante da menor provocação. Também conforme o DSM – 5, o transtorno de estresse agudo é frequentemente caracterizado como uma hipersensibilidade a ameaças potenciais, incluindo as relacionadas à experiência traumática, como é o caso de pessoas vítimas de acidentes de trânsito, que podem ficar muito sensíveis a ameaças causadas por qualquer automóvel, ou mesmo experiências se qualquer relação ao trauma. Ademais, as pessoas em estado de TEA, comumente relatam dificuldades para lembrar de eventos corriqueiros, como esquecer o próprio número de telefone, bem como apresenta dificuldade em realizar atividades que exigem concentração. Elas também podem ser bastantes reativas a estímulos inesperados, apresentando comportamentos exagerados ao se assustarem. Entre as principais comorbidades existente no TEA, o DSM-5 menciona que é relativamente comum que indivíduos com TEA sofram ataques de pânico dentro do primeiro mês após o evento traumático, sendo desencadeado pelas lembranças do trauma ou até mesmo de maneira espontânea. É importante salientar que o TEA pode ainda predispor ao desencadeamento de TEPT. Deste modo, a pessoa com TEA apresenta graves prejuízos funcionais, sociais, interpessoais e profissionais, já que os níveis extremos de ansiedade interferem no sono, nos níveis de energia e consequentemente na capacidade de realizar tarefas (MARTINS-MONTEVERDE; PADOVAN E JURUENA, 2017). Dessa forma, a pessoa começa a se afastar de qualquer situação que apresente um grau de ameaça, o que a leva a se ausentar de consultas médias, ao trabalho, ou seja, ela passaa evitar até mesmo compromissos importantes. Transtornos de Adaptação São sinais e sintomas comportamentais ou emocionais que se manifestam nos três primeiros meses após um evento estressor. Assim, conforme a DSM – 5, a 26 presença de sintomas emocionais ou comportamentais em resposta a um estressor identificável é o aspecto essencial dos transtornos de adaptação. Nesse tipo de transtorno ocorre um desgaste mental que está associado a mudança de rotina. Mudar de emprego ou de turno de trabalho e mudar de país são exemplos de situações que podem gerar esse estresse e que acabam exigindo que a pessoa passe por um processo de adaptação. Martins-Monteverde, Padovan e Juruena (2017) afirmam que podem haver um ou múltiplos estressores, os quais podem ser recorrentes ou contínuos e podem também afetar um único sujeito, uma família ou um grupo como um todo, como é o caso de desastres ambientais. O DSM-5 ressalta que o transtorno de adaptação pode ser diagnosticado em casos em que a pessoa perde um ente querido, quando a intensidade, a qualidade e a persistência das reações de luto acabam excedendo ao esperado normalmente, considerando a cultura, religião e a idade do sujeito. O manual ainda aponta que a perturbação nos transtornos de adaptação inicia- se dentro de 3 meses do início do evento estressor e sua duração não é maior do que 6 meses, após o fim do evento e de suas consequências. Os prejuízos causados por esse transtorno manifestam-se por meio da queda do desempenho profissional ou acadêmico e por meio de mudanças temporárias nas relações sociais (MARTINS- MONTEVERDE; PADOVAN; JURUENA, 2017). Somado a isso, o DSM-5 aponta que o transtorno de adaptação pode acompanhar grande parte dos transtornos mentais e qualquer distúrbio médico, podendo ser diagnosticado junto a algum outro transtorno mental e também ser a principal resposta psicológica a um distúrbio médico. O transtorno de adaptação, pode apresentar sintomas depressivos, onde o sentimento de tristeza, desânimo, desmotivação e choro fácil são frequentes. Sintomas de ansiedade como a preocupação, nervosismo, tensão e inquietude, também podem se manifestar, além de poder ocorrer um misto entre os sintomas depressivos e de ansiedade. Ainda conforme o manual, os transtornos de adaptação são comuns, embora a prevalência possa variar de acordo com a população estudada e os métodos de avaliação utilizados. A porcentagem de indivíduos em tratamento ambulatorial de saúde mental com um diagnóstico principal de transtorno de adaptação vai de 27 aproximadamente 5 a 20%. Em serviços de consultoria psiquiátrica hospitalar, com frequência é o diagnóstico mais comum, chegando muitas vezes a 50%. É importante lembrar que caso o estressor e suas consequências persistam, o transtorno de adaptação pode manter-se presente e evoluir para a forma persistente. 5 RELAÇÃO ENTRE AMBIENTE E ESTRESSE Fonte: vittude.com Fontes de tensão e estresse, podem ser encontradas na rua, no ambiente de trabalho, nos meios de comunicação, em casa e em variados outros espaços. Rotinas cada vez mais intensas, trânsito caótico, falta de dinheiro, excesso de trabalho e a baixa qualidade nos momentos de descanso e lazer são potencialmente fatores estressores comuns no dia a dia da população mundial. Nesse sentido Sadir, Bignotto e Lipp (2010) afirmam que diferentes autores acreditam que as mudanças no estilo de vida têm deixado as pessoas debilitadas e vulneráveis ao estresse, principalmente por não saberem como lidar com o mesmo. Um dos ambientes em que o sujeito se encontra mais exposto a agentes estressores é no trabalho. O profissional da era globalizada se encontra frequentemente em situações que exigem do mesmo uma adaptação rápida. Além disso, tem se observado que profissionais em que a atividade laboral demanda um alto grau de responsabilidade, tomada rápida de decisões ou qualquer outro elemento 28 que exija níveis satisfatórios de resultados, tem frequentemente renunciado ao descanso e ao lazer, os quais são fundamentais para o corpo e a mente. A competitividade, o medo de perder o emprego e a cobrança excessiva por resultados, tem deixado o colaborador sob um estado constante de pressão. Devido a essa pressão, ocorre um desgaste físico e emocional que se torna fator significativo no desenvolvimento de transtornos de saúde relacionados ao estresse, como depressão, ansiedade, síndromes e fobias. O estresse ocupacional corresponde a um estado em que ocorre um desgaste do organismo humano e/ou redução da capacidade de trabalho. Segundo Prado (2016) são considerados agentes estressores os fatores extraorganizacionais e organizacionais, individuais e de grupo. Além disso, a autora afirma que o diagnóstico dos sinais e sintomas do estresse ocupacional é essencialmente clínico, baseado no rastreamento individual e do risco nas situações de trabalho. Entre as causas de estresse no ambiente de trabalho estão: Competitividade exagerada: em ambientes onde a competitividade é frequentemente incentivada, acaba se desenvolvendo uma atmosfera nociva aos trabalhadores, uma vez que ao se exigir que os sujeitos atinjam metas, os mesmos começam a enxergar uns aos outros como inimigos e não como parceiros. Pressão excessiva: embora seja importante o estabelecimento de metas, bem como objetivos que incentivem os colaboradores a trabalharem, torna-se fundamental que as mesmas não ultrapassem os limites e passem a exigir demais dos colaboradores, a ponto de também se tornarem nocivas. Sobrecarga de trabalho: quando a pessoa precisa cumprir horário além daquele que está previsto em lei ou também devido ao acumulo de funções, exigindo que a pessoa tenha um maior desgaste físico e mental. Metas inalcançáveis: quando as empresas não traçam e distribuem seus objetivos e metas de forma inteligente, acaba sendo desencadeado um sentimento de frustração e angustia em seus colaboradores, pois mesmo que eles se esforcem as metas apresentam-se muito distantes da realidade, o que é pouco motivador. Ausência de flexibilidade: ambientes muito rígidos também podem ser fonte de estresse, uma vez que os sujeitos possuem vida fora do ambiente de trabalho o que demanda que os mesmos tenham responsabilidades e necessidades pessoais. Em ambientes onde a flexibilidade é reduzida, os colaboradores acabam se sentindo 29 infelizes e acuados e a dificuldade em conciliar a vida pessoal e profissional, acaba tornando-se um fator estressor. Infraestrutura inadequada: considerando que o colaborador passa a maior parte do dia no ambiente de trabalho, é importante que as condições materiais e organizacionais do local sejam adequadas, uma vez que se torna difícil trabalhar em locais onde a ventilação e a iluminação não estejam apropriadas, o que pode gerar mal-estar e consequentemente, deixar o colaborador mais estressado. Assédio e indelicadeza: ambientes onde prevalece uma conduta hostil e indesejada, onde comentários e gestos acabam minando a dignidade do colaborador também devem ser observados, uma vez que o assédio moral, bem como o sexual, pode acarretar danos psicológicos e físicos a pessoa que sofre. Autoritarismo do chefe: chefes ou líderes despreparados, que trabalham de forma autoritária, desenvolvendo um relacionamento abusivo com seus colaboradores, acabam gerando adoecimento nos membros da equipe e na empresa de forma geral. As consequências dos altos níveis de estresse podem ser percebidas de acordo com Sadir, Bignotto e Lipp (2010) pelas licenças médicas e absenteísmo, queda de produtividade, desmotivação, falta de envolvimento com o trabalho e a organização, excesso de visitas ao ambulatório médico e farmacodependência. O estresse organizacional é considerado como um dos riscos mais sérios ao bem-estar psicossocial do indivíduo e é umafonte constante de preocupação, pois coloca em risco a saúde dos trabalhadores de uma organização, ambiente no qual a maioria das doenças é de fundo psicossomático ou estão relacionadas ao estresse. Os excessos que decorrem da rotina intensa podem levar o colaborador a um estado de esgotamento, chamado de síndrome de burnout, que decorre de um estado de estresse prolongado. 5.1 Síndrome de Burnout Essa síndrome, caracteriza-se como um distúrbio emocional que possui sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico que são resultados de situações de trabalho desgastantes, que demandam muita competitividade ou 30 responsabilidade. Assim, o excesso de trabalho é apontado como a principal causa da doença. O termo burnout, traduzido do inglês significa queimar lentamente, até o fim, e tem relação com o desgaste emocional que impacta nos aspectos físicos e emocionais do indivíduo. A síndrome de burnout foi descrita por Freudenberger como um distúrbio psíquico relacionado ao esgotamento profissional, acarretado por condições de trabalho desgastantes e em excesso e por conflitos interpessoais com os colegas de trabalho e demais pessoas envolvidas nele (1974 apud ROSSI et al., 2010). É uma síndrome considerada no mundo organizacional como um grande problema e responsável, dentre outras coisas, pela diminuição do interesse em trabalhar. Dessa forma, a síndrome de burnout é uma síndrome psicológica que envolve uma reação prolongada à tensão emocional crônica e que se dá em três dimensões, cujas reações são exaustão devastadora, sensação de ceticismo e desligamento do trabalho, sensação de ineficácia e falta de realização. Essas dimensões (LEITER; MASLACH, 2005), caracterizam-se como: Dimensão da exaustão: os trabalhadores sentem-se esgotados, sem energia e reclamam de estarem sobrecarregados de trabalho. Essa exaustão tem como fontes principais a sobrecarga de trabalho e o conflito pessoal no trabalho. Dimensão do ceticismo: refere-se à sensação negativa e insensível aos diversos aspectos do trabalho. Normalmente, desenvolve-se como uma resposta à sobrecarga de exaustão emocional, ou seja, atua como uma proteção emocional. Diante da carga excessiva de trabalho, o trabalhador começa a se retrair e a reduzir o que está fazendo. Esse desligamento do trabalho pode incorrer na perda do idealismo e na desumanização dos outros, ou seja, com o passar do tempo, essa proteção e a diminuição do trabalho se transformam em uma reação negativa do trabalhador em relação às pessoas e ao trabalho. Conforme o ceticismo vai se desenvolvendo, o trabalhador vai deixando de fazer o melhor para fazer o mínimo, isto é, diminui o tempo que passa no trabalho e o esforço e a dedicação a ele. Com isso, o desempenho cai e o trabalhador acaba fazendo o mínimo para garantir seu salário. Dimensão da ineficácia: refere-se ao sentimento de incompetência, de falta de realização profissional e de produtividade no trabalho. Esse sentimento é disparado pela falta de recursos para a execução do trabalho e pela falta de apoio social e de oportunidades para se desenvolver profissionalmente. Os indivíduos que vivenciam 31 essa dimensão do burnout sentem-se como se tivessem cometido um erro na escolha de sua carreira e passam a se autocriticar e a ter uma ideia negativa de si mesmo e dos outros. Uma importante questão a ser abordada é que a ocorrência de burnout em um indivíduo depende de diferentes fatores individuais, que incluem a maneira como ele enxerga o seu trabalho, além de características culturais e da organização do trabalho. Isso significa que cada trabalhador tem sua individualidade, ou seja, nem todos que são expostos à sobrecarga excessiva desenvolverão burnout, pois depende, ainda, de como o trabalhador percebe o seu trabalho e de como os fatores estressores podem influenciar na rotina. Alguns estudos têm demonstrado que a doença tende a se desenvolver em pessoas com baixa autoestima, baixos níveis de resistência, comportamento de risco e que apresentam traços de ansiedade, hostilidade, depressão, insegurança e vulnerabilidade, ou seja, aspectos relacionados ao neuroticismo. Essas pessoas encaram as situações estressantes de forma passiva e defensiva e são emocionalmente instáveis e passíveis de distresse psicológico, ou seja, são pessoas que correm maior risco de desenvolver a síndrome de burnout. Os sintomas da síndrome de burnout podem ser físicos ou psíquicos, como, por exemplo, dores no corpo, cansaço, desânimo, apatia, desinteresse, irritabilidade, alterações no sono e no apetite, além de tristeza excessiva. É importante destacar que a síndrome foi identificada no mundo do trabalho, mais precisamente nas áreas de assistência, como saúde, saúde mental, assistência social, sistema judiciário penal, profissões religiosas, de aconselhamento e no ensino. Nessas áreas de atuação, a necessidade dos outros é colocada em primeiro lugar, e isso exige muito trabalho, abnegação, contato pessoal e emocional intenso e fazer o que for preciso para ajudar o outro. Assim, profissionais da área de saúde, professores e policiais possuem grande propensão a desenvolver a síndrome (LEITER; MASLACH, 2005). Outro aspecto que deve ser destacado é que o problema que causa a síndrome não surge em decorrência de falha pessoal, e, sim, da falta de afinidade do indivíduo com aspectos de seu trabalho, como a sobrecarga de trabalho, falta de controle, recompensas insuficientes, ruptura na comunidade, falta de justiça e conflitos de valor. Dessa forma, o acúmulo de atividades e de responsabilidades, bem como o alto nível 32 de exigências e pressões por parte das empresas, pode desencadear os primeiros sintomas da síndrome. Nesse contexto, três aspectos principais se manifestam: o esgotamento físico e mental, a sensação de impotência e a falta de expectativas. Cabe destacar que, quanto maior for a incompatibilidade entre o trabalhador e seu trabalho, maior é a probabilidade de desenvolver burnout. Por outro lado, quanto menor for essa incompatibilidade, maior será o nível de comprometimento com o trabalho (ROSSI et al., 2010). Como fatores de incompatibilidade destacam-se: Sobrecarga de trabalho: é um dos principais preditores da dimensão de exaustão do burnout. O trabalhador sente que tem muito trabalho a realizar e pouco tempo e recursos para isso. Pessoas com sobrecarga de trabalho, normalmente sentem um desequilíbrio entre tal sobrecarga de trabalho e a vida pessoal, uma vez que, muitas vezes, acabam sacrificando momentos em família para concluir o trabalho. Falta de controle: o trabalhador não tem controle sobre diversos aspectos que podem interferir no trabalho, como por exemplo, demissão, mudanças na gerência, alterações do quadro funcional, necessidade de trabalhar fora da empresa, de viajar, de trabalhar fora do horário de expediente, entre outros. Essas situações causam impactos significativos sobre os níveis de estresse e burnout. Recompensas insuficientes: o trabalhador acredita que não está sendo adequadamente recompensado pelo trabalho exercido e pelo desempenho apresentado. Isso se refere não somente ao salário e aos benefícios recebidos, mas também ao reconhecimento pela qualidade do trabalho e o esforço empreendido para a sua realização. O reconhecimento positivo sobre o trabalho realizado é fundamental para prevenir o bunout. Ruptura na comunidade: refere-se às relações entre as pessoas no ambiente de trabalho, como a falta de apoio e confiança e conflitos não resolvidos. A quebra do senso de comunidade gera hostilidade e concorrência, dificultando a resolução dos conflitos, o que eleva os níveis de estresse e burnout, dificultando a realização do trabalho. Falta de justiça: refere-se à falta de justiça e igualdade no local de trabalho, situações que levam a raiva e hostilidade, fazendocom que o trabalhador se sinta tratado com desrespeito. 33 Conflitos de valor: acontece quando há uma incompatibilidade entre os valores da empresa e os valores pessoais. Ou seja, há um conflito, por exemplo, entre o que o trabalhador quer fazer e o que ele tem que fazer. Assim, o trabalhador precisa agir de uma forma com a qual não concorda para realizar o trabalho, havendo, assim, um conflito de valores. Além das problemáticas apresentadas acima, a síndrome torna-se preocupante porque pode gerar custos não só para os funcionários, mas também para as empresas. Muitas vezes, os gerentes não dão a devida importância para os sintomas de estresse e esgotamento apresentados pelo trabalhador. De modo geral, ao identificar tais sintomas, os gerentes pensam que se trata de um dia ruim na vida do trabalhador, considerando que esse é um problema seu, e não da empresa. Muitas pesquisas revelam que o estresse no trabalho indica uma piora no desempenho do trabalhador, problemas nos relacionamentos com a família e de saúde. Por exemplo, o auge da síndrome pode causar uma crise física e emocional que, muitas vezes, requer um atendimento médico com intervenção medicamentosa e psicoterapia. Um funcionário com burnout apresenta padrões mínimos de trabalho, passa a ter um desempenho bem abaixo da média e queda na qualidade da produtividade. Além disso, comete mais erros, torna-se menos cuidadoso e apresenta baixo nível de criatividade na resolução de problemas, aspectos que podem gerar altos custos para as empresas (ROSSI et al., 2010). Os problemas emocionais e psíquicos relacionados ao trabalho, como é o caso da síndrome de burnout, acabam desencadeando outras doenças, causando sintomas como dores no corpo, cansaço, desânimo, apatia, desinteresse, irritabilidade, alterações no sono e no apetite, tristeza excessiva, entre outras. Entre os prejuízos gerados a empresa estão o absenteísmo (falta ao trabalho), alta rotatividade (grande fluxo de entrada e saída de profissionais na empresa), afastamento por doenças, conflitos interpessoais, acidentes de trabalho, e outros (ROSSI et al., 2010). Não existe receita pronta para resolver o problema das doenças do trabalho. Cada organização é única e conta com estruturas e processos diferenciados. No caso de identificação de estresse e burnout, por exemplo, é preciso avaliar os seus impactos e consequências na saúde do trabalhador e nos resultados da organização, com a participação dos gestores de pessoas, psicólogos, médicos do trabalho, entre outros, pois, como apontam Rossi et al (2010) para cada caso, haverá uma solução 34 ou ação específica que deve ser buscada com a participação do trabalhador envolvido. É importante que seja dada uma atenção maior ao comportamento e ao desempenho do trabalhador, ou seja, a como ele está se relacionando com seu líder, com seus colegas e seus clientes, se a sua relação com os outros é respeitosa, se está conseguindo executar suas atividades diárias dentro do prazo estabelecido, se cumpre normalmente seu horário de trabalho, se participa com contribuições significativas nas reuniões com seu líder e equipe, se consegue atingir as metas estabelecidas, entre outros. Observar esses fatores facilita na identificação de situações de estresse, pois cabe destacar que, se a empresa cobra tanto do profissional, deve estar atenta a esses e outros aspectos. Por sua vez, Rossi et al (2010) mencionam que é preciso avaliar se a empresa oferece boas condições de trabalho e disponibiliza os recursos necessários para a sua realização, como ela remunera, recompensa e valoriza seus trabalhadores, se as metas estabelecidas para os trabalhadores são factíveis, se o trabalho é significativo para o trabalhador e se este possui autonomia e responsabilidade para sua execução, se a empresa investe e estimula relações pessoais saudáveis, se gerencia os níveis de estresse no ambiente de trabalho, se a comunicação com os trabalhadores é clara e transparente, entre outros. Nesse mesmo sentido Prado (2016) destaca que práticas gerenciais do ambiente de trabalho, colaboram para que os níveis de estresse sejam controlados, uma vez que quando bem elaboradas, podem melhorar a comunicação, a seleção adequada de funcionários para o cargo, além de estimular a participação e capacitação dos funcionários. Assim, podemos concluir que a manutenção da saúde do trabalhador dentro da empresa é fundamental, pois, além de oferecer ao trabalhador maior qualidade de vida no trabalho, traz para a empresa maior produtividade e obtenção dos resultados esperados, uma vez que trabalho e saúde não se dissociam. Nesse sentido, o psicólogo organizacional atua na prevenção de adoecimentos relacionados ao trabalho. 35 5.2 Ações que podem reduzir casos de doença mental no trabalho Devido à alta prevalência de doenças relacionadas ao trabalho, instituições e empresas tem se atentado para a promoção de um ambiente de trabalho adequado como forma de prevenir essas doenças. É necessário que colaboradores, gestores e patrões se sensibilizem sobre a importância da promoção de um ambiente de trabalho saudável, com a menor quantidade de estressores possível, pois, além de prevenir doenças, esse cuidado ao trabalhador pode reduzir impactos na previdência e na economia das próprias instituições, o que influencia no desenvolvimento do país. Em relação ao Poder Púbico, a atenção à saúde do trabalhador é garantida na Constituição Federal de 1988, em seu art. 200, o qual define (BRASIL, 1988, documento on-line): Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: [...] II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; [...] VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Nesse sentido, cabe ao Poder Público investigar e apresentar a situação de saúde dos trabalhadores no país e, a partir desses dados, desenvolver e garantir a implementação de políticas e programas capazes de garantir o direito à saúde do trabalhador, uma vez que o adoecimento dessa população causa fortes impactos na economia do país. Para que se crie e propicie um ambiente de trabalho saudável e favorável ao bem- estar do trabalhador, é necessário que se desenvolvam estratégias e políticas institucionais e governamentais sobre a temática. Um ambiente adequado de trabalho só pode ser construído com a colaboração de gestores, trabalhadores e todos os envolvidos nesse meio. Em guia publicado pelo Fórum Econômico Mundial (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016, documento on-line), são sugeridas três grandes áreas de abordagem a serem realizadas pelas instituições/organizações para que se garanta a saúde mental dos trabalhadores: Proteção da saúde mental, por meio da redução dos fatores de risco para problemas de saúde mental relacionados ao trabalho: essa abordagem pode ser realizada com intervenções para proteger a saúde mental, as quais abrangem desde políticas organizacionais que reduzem a pressão no local de trabalho, por exemplo, 36 por meio do aumento do controle do trabalho para os funcionários, até intervenções individuais com o intuito de reduzir o estresse e aumentar a resiliência. Promoção da saúde mental: isso pode ser feito por meio do desenvolvimento dos aspectos positivos do trabalho, bem como as forças do trabalhador e suas capacidades positivas, a estimulação de práticas positivas no local de trabalho como forma de assegurar que o trabalho é significativo, a implementação de práticas de liderança positivas ou a criação de um clima organizacional positivo. Abordagem dos problemas de saúde mental entre os trabalhadores, independentemente da causa: as instituições e organizações podem implementar programas que aumentem o conhecimento em saúde mental dos funcionários, de modoque aprendam a reconhecer os problemas de saúde mental, além de promover a busca por auxílio quando algum sinal ou sintoma for identificado. Walton (1973) propõe que a promoção da saúde mental no trabalho depende da qualidade de vida que o trabalhador apresenta. O Modelo de Qualidade de Vida no Trabalho proposto por Walton, apresenta oito categorias, as quais, quando garantidas ao trabalhador no seu processo de trabalho, tornam-se um norte para a elaboração e implementação de ações para melhoria da qualidade de vida no trabalho e consequente redução do acometimento por doenças mentais (MÔNACO; GUIMARÃES, 2000). Tais categorias são: Compensação justa e adequada: compreende a oferta de remuneração condizente com as atividades exercidas pelo trabalhador. Os critérios que compreendem essa categoria incluem a renda adequada ao trabalho, a equidade interna e a equipe externa. Ações que podem ser feitas nesse âmbito incluem oferecer remuneração digna aos trabalhadores, adequada às funções exercidas e à carga horária de trabalho. Condições de trabalho: essa categoria aborda as condições às quais o trabalhador está submetido. Aqui se inserem ações com a finalidade de garantir jornada de trabalho compatível com as atividades exercidas, além da oferta de condições que favoreçam bem-estar e saúde e reduzam o risco de doenças ou acidentes. Uso e desenvolvimento de capacidades: tal categoria se traduz nas oportunidades que o trabalhador tem para empregar seus conhecimentos e suas habilidades. Pode ser fortalecido por meio da promoção da 37 autonomia do indivíduo, além de oferecer possibilidades para que ele possa usar sua capacidade. Oportunidades de crescimento e segurança: são as oportunidades de crescimento e desenvolvimento do trabalhador dentro da instituição/ organização. Estratégias que ofereçam oportunidade de crescimento na carreira, além da oferta de segurança no trabalho, são algumas ações a serem desenvolvidas. Integração social na organização: compreende a promoção do sentimento de igualdade entre os trabalhadores, evitando estruturas hierárquicas e discriminações, além de fortalecer o relacionamento e o companheirismo entre os trabalhadores. Constitucionalismo: visa a garantir o respeito aos direitos dos trabalhadores. O respeito às leis e aos direitos do trabalhador, além da sua privacidade pessoal e liberdade de expressão, é uma ação que pode ser realizada. O trabalho e o espaço total da vida: essa categoria defende a existência de um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, como fator primordial para garantir a qualidade de vida, uma vez que se deve considerar, que o trabalhador tem necessidades de lazer e convivência em família. Relevância social da vida no trabalho: aborda a percepção do trabalhador sobre o local onde trabalha, já que uma imagem positiva estimula o indivíduo a ir todos os dias ao trabalho. Assim, a promoção de uma imagem positiva da empresa é fundamental, no entanto, é necessário que a empresa se responsabilize socialmente por suas ações, pelos seus empregados, além dos serviços e dos produtos por ela oferecidos. Alguns outros exemplos de ações que as empresas têm desenvolvido para promover a saúde mental no local de trabalho incluem, ainda, parceria com instituições e empresas relacionadas a cultura e lazer como academia, clubes recreativos, cinemas, dentre outros locais. Gestores das grandes empresas já perceberam que o investimento em ações que promovam a qualidade de vida resulta em melhorias nas taxas de absenteísmo por adoecimento, o que, consequentemente, melhora o desempenho da empresa. 38 6 COMO LIDAR COM O ESTRESSE Fonte: www.vittude.com Como se sabe, fugir de situações estressoras é quase impossível, considerando a realidade em que nos encontramos. Dessa forma, alguns fatores vão influenciar na forma de enfrentamento do estresse. Um dos fatores, refere-se à prevalência de experiências pregressas que o indivíduo teve com o fator estressor. Um bom exemplo é a realização de provas, onde algumas pessoas sentem-se preparas para lidar com tal situação, por já terem sido submetidas a processos avaliativos por um determinado período de tempo, então já sabem identificar os processos de realização da mesma. Entretanto, existem também pessoas que pouco se submeteram a processos avaliativos e sentem-se assustadas ao realiza-los ou não desenvolveram formas de lidar com essa situação. Outro fator, refere-se as habilidades de enfrentamento, ou seja, a habilidade de se defender psicologicamente em momentos de estresse ao longo da vida. A força dos sistemas fisiológicos para defender o corpo contra o estresse que a pessoa não consegue enfrentar psicologicamente, também se apresenta como um fator, uma vez que a pessoa pode adoecer mais ou menos, dependendo das condições imunológicas e físicas em que se encontra. 39 Além disso, a forma como a pessoa lida com a doença quando ela ocorre, também diz de um fator de enfrentamento de estresse, a qual pode referir-se a um comportamento de recuperação ou da busca por ajuda médica. Quando uma pessoa percebe que algo não vai bem com o corpo, como por exemplo uma queimação no estômago e resolve realizar mudanças alimentares ou procurar um médico com intuído de tratar o mal-estar, dificilmente ela vai desenvolver uma úlcera, por exemplo. Todavia, se a pessoa ignora os sintomas e continua com hábitos prejudiciais, a presença do estresse contribui para o adoecimento. Entre algumas medidas que podem ser adotadas para uma melhor administração do estresse, a identificação do fator estressor, apresenta-se como uma das principais ações. Entender qual é o fator estressor, reconhecer os sintomas, identificar seus limites de resistência, ou seja, saber o que tem causado o problema, bem como a necessidade de intervenção médica é um importante passo para lidar com o estresse e suas causas. Ao identificar uma situação de limite é importante que a pessoa procure um profissional de saúde mental, e relate ao mesmo, possíveis situações causadoras de estresse, para que o mesmo possa auxiliar na identificação dos estressores e indicar o melhor tratamento, os quais podem ou não envolver fármacos. Uma outra medida para lidar com o estresse é iniciar práticas e técnicas de relaxamento, como meditação, yoga ou qualquer outra prática relaxante. Esse tipo de prática, nada mais é do que um exercício de foco, de atenção. Ao realizá-la a pessoa consegue prestar atenção na respiração, no próprio corpo e também controlar os pensamentos. Ao conseguir acalmar os pensamentos, a pessoa consegue organiza- los e passa a enxergar as situações com maior clareza. A prática regular de outras atividades físicas, também proporcionam benefícios ao organismo, melhorando as funções cardiovasculares e respiratórias, queimando calorias, ajudando no condicionamento físico e induzindo a produção de substâncias naturalmente relaxantes e analgésicas, como a endorfina. Dedicar-se a algum robby que demande atenção, também pode ser positivo para administrar o estresse, uma vez que destinando um tempo para realizar algo que goste, a pessoa pode se levada a esquecer dos fatores e situações que lhe causam estresse. Vale ressaltar que essas válvulas de escape devem ser saudáveis, pois muitas vezes as pessoas acabam aumentando o consumo de álcool, drogas, jogos, 40 que acabam se tornando um novo vício e contribuindo para o aumento dos níveis de estresse. Entender o poder da respiração é também uma ferramenta importante para conseguir administrar o estresse. Em situações de estresse elevado, mesmo que sem perceber, a pessoa passa a respirar de forma mais ofegante, chamada de hiperventilação. Dessa forma, quando a pessoa consegue controlar a respiração é como se fosse enviado ao cérebro uma mensagem de que
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