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EC DPOC Definição de DPOC A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma condição caracterizada por limitação persistente do fluxo de ar geralmente progressiva e associada a uma resposta inflamatória crônica exacerbada a partículas nocivas e gases nas vias aéreas e nos pulmões (BROADDUS,2017) Enfisema e a bronquite crônica são tipicamente agrupados em doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pois muitos pacientes demonstram características sobrepostas de dano (previsível, uma vez que o tabagismo é muitas vezes um denominador comum). (KUMAR,2017) Epidemiologia da DPOC A DPOC é um problema de saúde global e causa importante de mortalidade em todo o mundo. (BROADDUS,2017) A DPOC aumentará em decorrência de aumento do envelhecimento, bem como pelo tabagismo mais generalizado nos países em desenvolvimento. (BROADDUS,2017) A DPOC é um grande problema de saúde pública mundial, sendo a quarta causa de morte no mundo, e a quinta no Brasil, além de ser responsável por intensa morbidade (DARIO,2006) Como a epidemia de tabagismo acometeu primeiramente indivíduos do gênero masculino, a mortalidade entre homens ainda é superior em relação ao gênero feminino. Posteriormente, houve aumento da incidência do tabagismo entre as mulheres, o que justifica a ascensão da curva de mortalidade por DPOC no gênero feminino. Nos EUA a mortalidade em mulheres já superou a dos homens, mas não no Brasil. (AZAMBUJA et al., 2013) Aproximadamente 10 por cento dos indivíduos com 40 anos ou mais têm DPOC, embora a prevalência varie entre os países e aumente com a idade (DARIO,2006) Segundo as estimativas, quase 30 milhões de americanos apresentam algum grau de DPOC; 16 milhões estão diagnosticados com a doença. (NORRIS,2021) A partir de dados do DATASUS se pode ter uma noção do impacto desta doença sobre a população brasileira, onde o número de internações (SUS) de indivíduos com mais de 40 anos em 2004 foi de 191.681 pacientes, onde 34.857 evoluíram a óbito e gerando um gasto com as internações (SUS) de 86 milhões de reais. (DARIO,2006) Como consequência de sua alta prevalência e cronicidade, a DPOC causa alta utilização de recursos com visitas frequentes ao consultório médico, hospitalizações frequentes devido a exacerbações agudas e necessidade de terapia crônica (por exemplo, oxigenoterapia suplementar, medicação) (DARIO,2006) Apesar desses dados, constata-se que, com freqüência, existe retardo no reconhecimento da doença pela população em geral e pelos profissionais da área médica. Dados do projeto PLATINO, o qual avaliou a prevale ̂ncia e os fatores de risco para essa doença em cinco países da América Latina, revelam que a doença não havia sido previamente diagnosticada em 88,7% dos indivíduos com DPOC detectada pela espirometria (BARRETO,2008) Etiologia e fatores de risco A função pulmonar normalmente aumenta à medida que os pulmões crescem durante a infância e adolescência, atinge o pico logo após os 20 anos de idade e depois começa a diminuir gradualmente. (BROADDUS,2017) Os fatores de risco para doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) causam um ou mais padrões anormais de função pulmonar. Os fatores de risco podem ser considerados “exposições” e “fatores endógenos”. (BROADDUS,2017) Genética A DPOC é uma doença poligenética e um exemplo de interação entre genética e ambiente. A deficiência hereditária de alfa1- antitripsina é uma condição recessiva rara que apresenta enfisema panlobular em não fumantes. (BROADDUS,2017) DPOC e Asma TUTORIA 14 @juliaasoare_• 3 período de Medicina Nutrição Seu papel isolado é duvidoso, mas a desnutrição em animais de experimentos produziu DPOC, mostrou alterações semelhantes às do enfisema. O baixo peso ao nascer é fator de risco para DPOC. (BROADDUS,2017) Tabagismo Globalmente, o tabagismo é o fator de risco mais comumente encontrado para DPOC. O tabagismo durante a gravidez traz um risco para o feto, acometendo o crescimento e o desenvolvimento pulmonares intraútero. O tabagismo na infância e na adolescência leva ao tolhimento do crescimento pulmonar e ao declínio precoce da função pulmonar, em comparação com não tabagistas. Os tabagistas adultos têm uma prevalência mais alta de sintomas respiratórios, função pulmonar mais baixa, maior taxa anual de declínio do VEF1, maior perda de densidade pulmonar e maior taxa de mortalidade por DPOC do que os não tabagistas. (BROADDUS,2017) Exposição a combustível de biomassa Exposição a combustível de biomassa é o termo que cobre a exposição a fumaça de madeira, esterco de animais, resíduos de colheitas e carvão, tipicamente queimado em fogos abertos ou em fogões primitivos. A exposição a combustível de biomassa é fonte importante de poluição do ar em ambientes internos em países subdesenvolvidos, onde quase três bilhões de pessoas são expostas e existem evidências cada vez maiores de que essa exposição seja importante fator de risco para DPOC. (BROADDUS,2017) Infecções e exarcebações Infecções respiratórias graves na infância, que podem depender de baixo peso ao nascer ou hiper-reatividade brônquica, relacionam-se com sintomas respiratórios na idade adulta. (BROUADDUS,2017) A tuberculose se mostra fator de risco para DPOC, mas não está claro se isso se dá principalmente por limitação ao fluxo de ar pelas cicatrizes ou por verdadeira DPOC. (BROADDUS,2017) Condição socioeconômica desvaforecida É fator de risco para DPOC, podendo depender de maior risco de exposição à poluição interna e externa, desnutrição, além do convívio em aglomerados e na pobreza. (BROADDUS,2017) Gênero As mulheres parecem ser biologicamente mais suscetíveis (dose e exposição menores para um maior efeito). Além disso, tem ocorrido um aumento do tabagismo entre mulheres. (BROADDUS,2017) Estresse oxidativo Os pulmões são expostos a oxidantes endógenos provenientes dos fagócitos e de outras células, assim como oxidantes exógenos oriundos da poluição e dos cigarros. Quando há um desequilíbrio entre os sistemas enzimáticos e não enzimáticos, ativam-se mecanismos moleculares inflamatórios. (BROADDUS,2017) Asma e hiper-reatividade enzimática A asma e a DPOC, em geral, são vistas como duas doenças diferentes com sobreposição variável. No entanto, a asma também pode ser vista como fator de risco para o desenvolvimento de DPOC. (BROADDUS,2017) Na European Community Respiratory Health Survey, a hiperreatividade brônquica ficou atrás apenas do tabagismo como fator de risco principal para DPOC, responsável por 15% do risco atribuível à população (BROADDUS,2017) Fisiopatologia da DPOC A exposição inalatória provoca uma resposta inflamatória nas vias respiratórias e nos alvéolos. (BROADDUS,2017) O processo é mediado pelo aumento da atividade da protease, liberadas pelos neutrófilos e outras células inflamatórias, e pela diminuição da atividade da anti-- protease. (BROADDUS,2017) As proteases pulmonares provocam a lise da elastina e do tecido conjuntivo no processo normal de reparação tecidual. A atividade dessas proteases costuma ser balanceada por antiproteases, como alfa-1 antitripsina. (BROADDUS,2017) Esse desbalanço entre as proteases e as antiproteases é o principal mecanismo do componente enfisematoso da doença, uma vez que causa hiperinsuflação e dificuldade de expiração (BROADDUS,2017) @juliaasoare_• 3 período de Medicina A inflamação causa estreitamento e obstrução das vias respiratórias, além de hipersecreção de muco, espasmo brônquico, fibrose peribrônquica e destruição das pequenas vias respiratórias. (BROADDUS,2017) Isso normalmente costuma ocorrer devido à exposição crônica à substâncias inalatórias irritantes, que induzem a uma reação inflamatória crônica nas pequenas vias aéreas, compresença de linfócitos CD8+, macrófagos e neutrófilos. (BROADDUS,2017) Essa inflamação crônica resulta na proliferação das células caliciais e hipertrofia das glândulas submucosas, causando assim hipersecretividade de muco e estreitamento das pequenas vias aéreas. (BROADDUS,2017) A maior resistência das vias respiratórias aumenta o trabalho de respiração. A hiperinsuflação pulmonar, embora diminua a resistência das vias respiratórias, também aumenta o esforço respiratório. (BROADDUS,2017) A força expiratória depende em grande parte da elasticidade pulmonar, que está diminuída na DPOC. Trata-se do fenômeno do aprisionamento de ar que promove um aumento do volume residual, da capacidade residual funcional e da capacidade pulmonar total (BROADDUS,2017) Os espaços alveolares dilatados às vezes se fundem em bolhas, definidas como espaços aéreos ≥ 1 cm de diâmetro. As bolhas podem estar totalmente vazias ou ter filamentos de tecido pulmonar que as atravessam em áreas de enfisema localmente grave e, ocasionalmente, ocupam todo o hemitórax (BROADDUS,2017) A troca gasosa está comprometida tanto pela lesão enfisematosa quanto pela lesão bronquítica. Assim, os alvéolos ficam mal ventilados, porém, bem perfundidos (aumento do espaço morto pulmonar). (BROADDUS,2017) Nesses alvéolos, o sangue venoso passa recebendo pouco O2, um mecanismo denominado shunt parcial. Com isso, a mistura de sangue mal oxigenado produzirá hipoxemia e dessaturação da hemoglobina. (BROADDUS,2017) Em estágios tardios, esses trechos mal ventilados do pulmão se tornam também mal perfundidos, como resultado da hipóxia crônica nessas regiões. (BROADDUS,2017) Com o tempo, o centro respiratório desses pacientes está hipossensível ao CO2 e hipersensível à hipoxemia. (BROADDUS,2017) Esses pacientes começam a reter CO2 de forma lenta e progressiva (acidose respiratória), sendo que o rim compensa retendo HCO3- (alcalose metabólica compensatória), aumentando o base excessiva na gasometria. (BROADDUS,2017) Alterações Patológicas Enfisema O enfisema se caracteriza pela perda da elasticidade pulmonar e aumento anormal dos alvéolos distais aos bronquíolos terminais, com destruição das paredes alveolares e dos leitos capilares (PORTH,2021) Alargamento dos espaços aéreos distais aos bronquíolos secundários à destruição progressiva dos septos alveolares. (PORTH,2021) A ampliação dos alvéolos conduz à hiperinflação dos pulmões e produz um aumento da capacidade pulmonar total (CPT). (PORTH,2021) Duas das causas reconhecidas de enfisema são o tabagismo, que incita a lesão pulmonar, e uma deficiência herdada de AAT, uma enzima antiprotease que protege o pulmão de lesões (PORTH,2021) Acredita-se que o enfisema seja o resultado da degradação de elastina e outros componentes da parede dos alvéolos por enzimas, chamadas proteases, que digerem as proteínas. Normalmente, enzimas antiprotease, incluindo a AAT, protegem o pulmão. (PORTH,2021) A fumaça do cigarro e outros irritantes estimulam o movimento de células inflamatórias nos pulmões, resultando no aumento da liberação de elastase e outras proteases. Quando o fumante desenvolve DPOC, a produção e liberação antiprotease pode ser inadequada para neutralizar o excesso de produção de protease, de tal maneira que o processo de destruição do tecido elástico permanece sem controle (PORTH,2021) O tipo e a quantidade de AAT que uma pessoa tem são determinados por um par de genes codominantes denominados genes PI (inibidores de proteína). A DAAT @juliaasoare_• 3 período de Medicina é herdada como uma característica autossômica recessiva. (NORRIS,2021) A maioria das pessoas com enfisema clinicamente diagnosticado antes dos 40 anos de idade tem uma DAAT. O tabagismo e infecções repetidas das vias respiratórias, que também diminuem os níveis de AAT, contribuem para o risco de desenvolvimento de enfisema em pessoas com DAAT. (PORTH,2021) Existem dois tipos comumente reconhecidos de enfisema: centroacinar ou centrolobular e pan-acinar (NORRIS,2021) O enfisema centroacinar está associado mais frequentemente ao tabagismo (cigarros) e existe comprometimento dos bronquíolos respiratórios, predominantemente nos lobos superiores e nos segmentos superiores dos lobos inferiores. É o tipo mais comum de enfisema e pode ser observado principalmente em fumantes do sexo masculino. O tipo pan-acinar produz o envolvimento inicial dos alvéolos periféricos e depois se estende para envolver os bronquíolos mais centrais. Esse tipo de enfisema é mais comum em pessoas com DAAT. Também é encontrado em fumantes, associado ao enfisema centroacinar Resumo da patogênese do enfisema ➢ Leucócitos e mediadores inflamatórios, incluindo leucotrieno B4, interleucina (IL)-8 e TNF: são liberados por macrófagos e células epiteliais residentes; essas recrutam células inflamatórias, exacerbam o processo inflamatório e induzem a alterações estruturais (p. ex., por fatores de crescimento). (ROBBINS) ➢ Desequilíbrio entre protease e antiprotease: as proteases liberadas pelas células inflamatórias e pelo epitélio podem degradar tecidos conjuntivos. A deficiência relativa de antiproteases protetoras – algumas delas hereditárias – pode estar por trás do desenvolvimento do enfisema. (ROBBINS) ➢ Estresse oxidativo (do tabagismo, dano alveolar e células inflamatórias): também estimula o dano tecidual e a inflamação (ROBBINS) Bronquite crônica A bronquite crônica representa uma obstrução das pequenas e grandes vias respiratórias. (PORTH) A condição é mais comumente observada em homens de meia-idade e está associada à irritação crônica causada pelo tabagismo e a infecções recorrentes. (PORTH) Um diagnóstico clínico de bronquite crônica requer histórico de tosse produtiva crônica durante pelo menos 3 meses consecutivos em pelo menos 2 anos consecutivos. (PORTH) A irritação crônica das vias aéreas por substâncias inaladas – especialmente tabagismo – é o mecanismo patogênico dominante. Além de danificar o epitélio, o tabagismo (e outros inalantes) interfere na ação ciliar do epitélio respiratório, impedindo a depuração de muco e agentes infecciosos. Os irritantes causam: (ROBBINS) ➢ Hipersecreção de muco com hipertrofia de glândulas mucosas; estimulada por mediadores inflamatórios como histamina e IL-13. A metaplasia de célula caliciforme no epitélio bronquiolar contribui para a produção de muco e obstrução de vias aéreas pequenas. ➢ Inflamação, tanto aguda quanto crônica, é provocada por inalantes que induzem à bronquite crônica. Inflamação de longa duração e fibrose acompanhante promovem a obstrução das vias aéreas. ➢ Infecções podem exacerbar a lesão iniciada por inalantes. @juliaasoare_• 3 período de Medicina Histologicamente, essas alterações incluem um aumento acentuado nas células caliciformes e um excesso de produção de muco, com obstrução do lúmen das vias respiratórias, infiltração inflamatória e fibrose da parede bronquiolar. (ROBBINS) Manifestações Clínicas As manifestações clínicas da DPOC geralmente têm um início insidioso. Caracteristicamente, o indivíduo busca atendimento médico na quinta ou sexta década de vida, apresentando manifestações como fadiga, intolerância ao exercício, tosse, produção de escarro ou dificuldade respiratória. (PORTH) A tosse produtiva ocorre geralmente na parte da manhã e a dispneia se torna mais grave à medida que a doença progride. (PORTH) A dispneia é o principal sintoma associado à incapacidade, redução da qualidade de vida e pior prognóstico. (PORTH) O terceiro sintoma cardinal da DPOC é a produção excessiva de escarro. (PORTH) É comum observar a exacerbação frequente de infecções e insuficiência respiratória, fazendo com que a pessoa falte ao trabalho e, eventualmente, incapacitando- a. (PORTH) Os estágiostardios da DPOC se caracterizam por infecções respiratórias de repetição e insuficiência respiratória crônica. A morte ocorre geralmente durante uma exacerbação da doença, associada a infecção e insuficiência respiratória. (PORTH) Os termos “soprador rosado” (pink puffer) e “pletórico azulado” (blue bloater) são usados para diferenciar as manifestações clínicas de enfisema e de bronquite obstrutiva crônica. (PORTH) Pessoas com predominância de manifestações de enfisema são classicamente referidas como sopradores rosados (pink puffers), devido a esses motivos: (PORTH) ➢ Ausência de cianose; ➢ Uso de músculos acessórios e à respiração com os lábios semicerrados (“soprador”). ➢ Com a perda da elasticidade e a hiperinsuflação dos pulmões, as vias respiratórias muitas vezes colapsam durante a expiração, porque a pressão nos tecidos pulmonares circundantes excede a pressão das vias respiratórias. O ar permanece retido nos alvéolos e pulmões, provocando aumento das dimensões anteroposteriores do tórax, o chamado tórax em tonel ou barril, típico de pessoas com enfisema. ➢ Diminuição drástica nos sons respiratórios por todo o tórax. ➢ Com o diafragma funcionando perto da capacidade máxima, o indivíduo poderá sinalizar vulnerabilidade ao desenvolvimento de fadiga diafragmática e insuficiência respiratória aguda. A pessoa com a síndrome clínica de bronquite crônica classicamente é chamada de pletórico azulado, uma referência à cianose e à retenção de líquido associadas à insuficiência cardíaca direita. (PORTH) OBS: Na prática, a diferenciação entre os dois tipos de DPOC muitas vezes é difícil, uma vez que pessoas com DPOC costumam apresentar certo grau de enfisema e também de bronquite crônica. (PORTH) @juliaasoare_• 3 período de Medicina As manifestações da DPOC representam uma mudança progressiva na função respiratória. Desenvolve-se comprometimento respiratório moderado a grave devido à obstrução do fluxo de ar, que é maior na expiração que na inspiração, resultando no aumento do TR, mas com eficácia reduzida. (PORTH) O desenvolvimento de dispneia aos esforços, muitas vezes descrito como a necessidade de um esforço maior para respirar, sensação de peso, dificuldade respiratória ou respiração ofegante, pode ser (atividades que envolvem trabalho braçal significativo, em especial acima dos ombros, são particularmente difíceis para as pessoas com DPOC). (PORTH) São muito mais toleradas as atividades que possibilitam que a pessoa firme os braços e use os músculos acessórios. (PORTH) Conforme a doença progride, a respiração se torna cada vez mais difícil, mesmo em repouso. (PORTH) A doença avançada se manifesta com sinais de esforço respiratório (lábios cerrados, uso de musculatura acessória, tiragem intercostal, batimento de asa do nariz), retração paradoxal dos espaços intercostais (sinal de Hoover) e cianose. (PORTH) A fase expiratória da respiração é prolongada e a ausculta pode revelar sibilos expiratórios e crepitações (PORTH) Pessoas com obstrução grave do fluxo de ar também podem apresentar as seguintes características: uso dos músculos acessórios e posição sentada em “tripé”, que facilita a utilização dos músculos esternocleidomastóideos, escalenos e intercostais. A respiração com os lábios semicerrados aumenta o fluxo de ar, porque aumenta a resistência ao fluxo de saída e ajuda a impedir o colapso das vias respiratórias por aumentar a pressão das vias (PORTH) Por fim, pessoas com DPOC são incapazes de manter a gasometria sanguínea em níveis normais pelo aumento do trabalho respiratório. Há desenvolvimento de hipoxemia, hipercapnia e cianose, que refletem o desequilíbrio entre ventilação e perfusão. (PORTH) A hipoxemia grave, em que os níveis de PO2 arterial caem para menos de 55 mmHg, provoca vasoconstrição reflexa dos vasos pulmonares e maior comprometimento das trocas gasosas no pulmão (PORTH) A hipoxemia também estimula a produção de hemácias, causando policitemia. (PORTH) O aumento da vasoconstrição pulmonar e subsequente elevação da pressão arterial pulmonar aumentam ainda mais o trabalho do ventrículo direito. Como resultado, as pessoas com DPOC podem desenvolver insuficiência cardíaca do lado direito com edema periférico (i. e., cor pulmonale). (PORTH) Diagnóstico da DPOC Anamnese A presença de sintomas respiratórios em pacientes tabagistas deve sempre levantar a suspeita para o DPOC. (BROADDUS) A história de exposição à fumaça de combustão da lenha, a poeiras e à fumaça ocupacional deve ser pesquisada. Não há indicação para rastreamento populacional para DPOC, no entanto alguns questionários são úteis como ferramentas na triagem de pacientes com indicação para investigação. (BROADDUS) O questionário CAPTURE (acrônimo em inglês para Avaliação na Atenção Primária para identificação de risco de doença pulmonar obstrutiva crônica, doença pulmonar e exacerbações). Esse questionário questiona os pacientes acerca de exposição a substâncias inalatórias irritantes, dispneia, fadiga maior do que o esperado para sua idade, acometimento por infecções respiratórias e piora de sintomas respiratórios com mudanças climáticas. (BROADDUS) Exame físico No início da evolução da doença, não se observam anormalidades específicas ao exame físico. Pode ou não estar presente uma sibilância e não se relaciona necessariamente com a gravidade da obstrução do fluxo de ar. (BROADDUS) @juliaasoare_• 3 período de Medicina Tempo expiratório prolongado é um achado mais consistente na DPOC, particularmente à medida que a doença avança. (BROADDUS) Em doença muito grave, os pacientes desenvolvem sinais físicos indicativos de hiperinsuflação, incluindo o tórax na forma de barril, diminuição dos sons respiratórios à ausculta, bulhas cardíacas abafadas e aumento da ressonância à percussão. (BROADDUS) Os pacientes podem respirar em uma posição de “tripé”, na qual o indivíduo se inclina para frente e sustenta a parte superior do seu corpo com os membros superiores em extensão. Essa manobra se aproveita dos músculos acessórios do pescoço e da parte superior do tórax para aumentar o movimento do ar. (BROADDUS) Os pacientes com doença grave também podem usar lábios franzidos para respirar, o que envolve expirar sob pressão pelos lábios franzidos. Essa técnica cria pressão retrógrada e acredita-se que reduza a hiperinsuflação dinâmica, embora também funcione reduzindo a constrição brônquica por meio de mecanismos mediados de maneira neutra. (BROADDUS) Nos pacientes com doença grave, outras manifestações sistêmicas podem incluir sinais de cor pulmonale ou insuficiência cardíaca direita, levando a um edema dos membros inferiores. (BROADDUS) Provas de função pulmonar a) Avaliação espirométrica: A espirometria com obtenção da curva expiratória volume-tempo é obrigatória na suspeita clínica de DPOC, devendo ser realizada antes e após administração de broncodilatador, de preferência em fase estável da doença. Os parâmetros mais importantes avaliados são a capacidade vital forçada (CVF), o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e a relação entre esses parâmetros (VEF1∕CVF). A limitação permanente ao fluxo aéreo é definida quando esta relação é menor que 0,70 pós broncodilatador. Alguns autores argumentam que a relação entre VEF1/CVF muda com a idade, de forma que o mais adequado seria obter o valor da relação e avaliar em que percentil essa relação se encontra. Esses autores sugerem que limitação do fluxo aéreo seria definida quando o resultado do paciente, se encontra abaixo do percentil 5 (para a idade do paciente). Uma outra alternativa de índice para avaliar limitação do fluxo aéreo é a relação FEV1/FEV6. Nessa relação, o que é avaliado é a relação entre o fluxo expiratório após 1 segundo e 6 segundos,respectivamente. As vantagens desse teste em relação ao teste clássico da FEV1/CVF é a maior reprodutibilidade, menor risco de síncope na realização do exame, não apresentando redução de sensibilidade ou especificidade em relação ao teste FEV1/CVF (BROADDUS) Estadiamento Com base na espirometria, pode-se realizar o estadiamento da DPOC. Os pacientes no estádio 1 e 2 devem ser acompanhados pelo clínico generalista. Os pacientes no estádio 3 (pacientes com hipoxemia intensa, mas sem hipercapnia) devem ser acompanhados por especialista. Os pacientes no estádio 4 tem mau prognóstico, devido a apresentarem hipercapnia, ou sinais de insuficiência cardíaca ou ainda dispneia incapacitante (BROADDUS) Imagens RX do tórax: A radiografia do tórax não é particularmente sensível ou específica para o diagnóstico de DPOC. Existem certas características, entretanto, frequentemente vistas na DPOC. Radiotransparência, achatamento diafragmático e aumento do espaço aéreo retroesternal na radiografia em perfil podem ser vistos quando está presente uma hiperinsuflação. Ocasionalmente, grandes bolhas podem se manifestar como áreas radiotransparentes. (BROADDUS) @juliaasoare_• 3 período de Medicina TC do tórax: A TC do tórax permite melhor detecção e quantificação do enfisema do que a radiografia de tórax tradicional. Áreas com baixa atenuação são um marcador de enfisema; também se podem ver vias aéreas espessadas indicativas de espessamento brônquico Se forem feitas imagens expiratórias, áreas de aprisionamento de ar indicativas de obstrução de pequenas vias aéreas e enfisema também poderão ser vistas. (BROADDUS) Exames laboratoriais Gasometria arterial: As gasometrias arteriais (GA) não são indicadas como parte da avaliação de rotina para pacientes com DPOC leve a moderada. Para muitos pacientes, a oximetria de pulso será suficiente para fornecer uma estimativa da saturação de oxigênio. (BROADDUS) • Policitemia: Pode-se ver elevação da hemoglobina na DPOC, particularmente na presença de hipoxemia crônica. • Bicarbonato sérico: Um nível elevado de bicarbonato no sangue pode sugerir hipercapnia crônica; no contexto de hipercapnia, o bicarbonato sanguíneo aumenta devido à alcalose metabólica compensatória. Deficiência de alfa-1- antritripsina: A A1AT é uma protease que inativa a elastase dos neutrófilos. O quadro clínico sugestivo de deficiência de A1AT inclui enfisema em idade baixa, enfisema em indivíduo com história de tabagismo mínimo ou ausente, enfisema predominante no lobo inferior e antecedentes familiares de enfisema. (BROADDUS) Tratamento da DPOC Não Farmacológico A cessação do tabagismo é a única medida que retarda a progressão da doença (PORTH) A orientação às pessoas com DPOC e a seus familiares é fundamental para o manejo bem-sucedido da doença. (PORTH) É fundamental evitar a fumaça de cigarro e outros irritantes ambientais das vias respiratórias. O uso de uma máscara, em grande parte, impede o desenvolvimento de dispneia e broncospasmo devido ao ar frio e à exposição ao vento (PORTH) Infecções respiratórias podem impor risco de morte para pessoas com DPOC grave. (PORTH) O indivíduo com DPOC deve evitar o contato com pessoas com infecção comprovada do sistema respiratório, bem como lugares com grande quantidade de pessoas durante os períodos do ano em que a gripe ou infecções do sistema respiratório predominam. (PORTH) A vacinação contra gripe e infecções pneumocócicas diminui a probabilidade de ocorrência. (PORTH) O condicionamento físico com treinamento adequado aumenta o consumo máximo de oxigênio e reduz o esforço respiratório, bem como a frequência cardíaca para determinada carga de trabalho. (PORTH) Podem ser necessárias estratégias de conservação de energia e de simplificação do trabalho nos casos de deficiência (PORTH) Farmacológico Broncodilatadores A via de administração preferencial é inalatória. ➢ B2-Agonista: atuam aumentando a ação do sistema simpático nas vias aéreas, abrindo os canais de potássio e aumentando o AMP cíclico. Os B2-agonistas de longa duração são mais eficazes (formoterol e salmeterol) em controlar os sintomas de pacientes fora dos períodos de exacerbações. ➢ Anticolinérgicos: O brometo de ipaprópio é um antagonista específico dos receptores muscarínicos. O pico de ação é entre 30-90 minutos e o efeito dura entre 4 a 6 horas. Os fármacos anticolinérgicos (p. ex., brometo de ipratrópio, brometo de tiotrópio), que são administrados por inalação, produzem broncodilatação via bloqueio dos receptores colinérgicos parassimpáticos geradores de contração do músculo liso dos brônquios. Esse tipo de medicamento, que deve ser administrado por inalação, promove broncodilatação pela ação direta sobre as grandes vias respiratórias, sem alterar a composição ou a viscosidade do muco brônquico. Também reduz o volume de expectoração, sem alterar sua viscosidade. Como esses medicamentos têm um início de ação mais lento e mais prolongado, geralmente são usados em bases regulares em vez de empregados de acordo com a necessidade (PORTH) @juliaasoare_• 3 período de Medicina ➢ Xantinas: Tendo a aminofilina e teofilina como principais fármacos, são consideradas a última opção de terapia broncodilatadora. Seu efeito broncodilatador é inferior as outras drogas, além de causar efeitos adversos como náuseas, tremores e arritmias. Corticoides inalatórios Os corticoides inalatórios são recomendados em pacientes com VEF1 < 50% e que tenham tido exacerbação no ano anterior e que necessitou do uso de antibiótico ou corticoide oral. Porém, a associação dessas drogas com beta-agonistas de ação prolongada, mostra redução da mortalidade, das exacerbações e melhora a qualidade de vida desses pacientes. Os corticosteroides inalatórios muitas vezes são usados no tratamento de DPOC, apesar das controvérsias quanto a sua utilidade. Uma explicação para a falta de efeito pode estar relacionada com o fato de que os corticosteroides prolongam a ação de neutrófilos e, portanto, não suprimem a resposta inflamatória neutrofílica observada nos casos de DPOC. Como os corticosteroides são úteis no alívio de sinais/sintomas de asma, podem beneficiar pessoas com asma concomitante à DPOC Oxigenoterapia A oxigenoterapia tem se mostrado como o principal tratamento para melhorar a sobrevida de pacientes hipoxêmicos portadores de DPOC, com o objetivo de manter SaO2 ≥ 90%. As indicações de oxigenoterapia prolongada domiciliar de baixo fluxo seguem os seguintes achados: • PaO2 ≤55 mmHg ou saturação ≤88% em repouso; • PaO2 entre 56 e 59 mmHg com evidências de cor pulmonale ou Policitemia ASMA Definição de Asma Esse distúrbio inflamatório recorrente crônico caracteriza-se por broncoespasmo reversível paroxístico decorrente da hiperreatividade da musculatura lisa; a produção de muco mais intensa também é uma característica (ROBBINS) A asma é uma síndrome caracterizada pelos sintomas oriundos da redução do calibre das vias aéreas por inflamação crônica da árvore brônquica a partir de uma reação imunomediada, a hiperresponsividade a alérgenos diversos (ROBBINS) Classificação Asma atópica (alérgica), a mais comum. É causada por uma reação clássica de hipersensibilidade mediada por imunoglobulina E [IgE] do tipo I, disparada por antígenos ambientais (como poeira, pólen, determinados alimentos; histórico familiar de atopia é frequente (ROBBINS) Asma não atópica, que pode ser desencadeada por infecções no trato respiratório, irritantes químicos ou fármacos, normalmente sem história familiar. A hiperirritabilidade das vias aéreas é atribuída à inflamação induzida quimicamente ou por infecção viral, a qual reduz o limiar de estimulação vagal por outros irritantes menores. (ROBBINS) Asma induzida porfármaco, que pode ocorrer com vários agentes farmacológicos. Por exemplo, em alguns pacientes, a aspirina (e outros medicamentos antiinflamatórios não esteroides) pode inibir a ciclo- oxigenase (sem afetar a atividade da lipoxigenase) e inclinar o equilíbrio do metabolismo do ácido araquidônico na direção dos leucotrienos broncoconstritores (ROBBINS) Asma ocupacional, que pode ser desencadeada por fumaças (resinas epóxis, plásticos), poeiras orgânicas e químicas (algodão, madeira, platina), gases (tolueno) e outros agentes químicos (formaldeído, produtos de penicilina). Os mecanismos de base variam de acordo com o estímulo e englobam reações alérgicas verdadeiras, liberação direta de substâncias broncoconstritoras e respostas de hipersensibilidade de origem desconhecida. (ROBBINS) Epidemiologia da asma A asma é uma das doenças crônicas mais prevalentes à nível mundial. Ainda que nos últimos 30 anos o número de indivíduos acometidos tenha aumentado, o que pode estar associado com a extensão do processo de urbanização e concomitante exposição à alérgenos inalatórios do ambiente urbano, os índices parecem estar se estabilizando. @juliaasoare_• 3 período de Medicina No Brasil, estima-se que existam aproximadamente 20 milhões de asmáticos. Segundo o DATASUS, ocorrem, em média, 350 mil internações por asma anualmente, no entanto, na última década, houve a queda expressiva de 49% nesse número. Esse fato nos sugere que há uma melhor compreensão da doença tanto por parte das equipes de saúde, como dos seus portadores e sua adesão/acesso ao tratamento. Outro aspecto importante de sua epidemiologia é o perfil do indivíduo asmático. A asma pode se iniciar em qualquer idade, todavia, o pico de incidência ocorre aos três anos de idade. Ainda, na infância, é mais comum no sexo masculino Para aqueles em que a asma se inicia na infância, pode ser que passem a adolescência assintomáticos e as crises só retornem a partir da fase adulta. Agora, para aqueles em que o quadro se instalou na vida adulta, raramente os sintomas cessam com o passar do tempo. Etiologia da asma O denominador comum subjacente à asma é ao aumento exagerado na capacidade de resposta a vários estímulos. Também contribui para a patogênese da doença uma inflamação das vias respiratórias, manifestada por células inflamatórias (especialmente eosinófilos, linfócitos e mastócitos) e por danos ao epitélio brônquico. (PORTH) Fatores de Risco Endógenos O primeiro, atopia, é o principal fator de risco para asma tal que indivíduos não atópicos possuem baixo risco de desenvolver essa doença. (ROBBINS) A rinite alérgica e dermatite frequentemente estão presentes em indivíduos asmáticos. (ROBBINS) Há uma forte associação familiar na predisposição à essa doença. Múltiplos locos de suscetibilidade interagem com os fatores ambientais para produzir a asma; os genes implicados podem afetar as respostas imunes primárias ou secundárias, o remodelamento tecidual ou, até mesmo, a resposta do paciente à terapia. As associações genéticas mais fortes foram feitas com determinados alelos do antígeno leucocitário humano (HLA) e polimorfismos em IL-13, CD14 (o receptor do monócito de endotoxina), ADAM-33 (uma metaloproteinase de matriz que influencia a proliferação de músculo liso e fibroblasto), receptor α2- adrenérgico (influenciando a reatividade das vias aéreas) e receptor IL-4. 9 (ROBBINS) Fatores ambientais No ambiente doméstico, a exposição aos ácaros em casas mal ventiladas e aquecidas foi associada com a sensibilização alergênica. (ROBBINS) Para além disso, a exposição a animais domésticos, como gatos e cachorros, também foi associada à sensibilização, mas, tal exposição nos primeiros anos de vida pode, contrariamente, conferir proteção por indução de tolerância. (ROBBINS) Alguns fatores externos também são associados com a hiperreatividade ou desencadeamento do quadro da asma. Nesse sentido, temos os poluentes do ar, como dióxido de enxofre, partículas do diesel e oxônio, todos presentes em áreas urbanas e industriais. (ROBBINS) Todavia, é relatado que a exposição em ambientes fechados tende a ser mais prejudicial ainda e neste grupo podemos apontar o tabagismo passivo e a exposição ocupacional. (ROBBINS) A asma ocorre em frequência mais alta em sociedades industrializadas, nas quais a maioria das pessoas vive em cidades: ambientes industrializados contêm muitos poluentes transmitidos pelo ar, que podem atuar como alérgenos para iniciar a resposta de TH2 e a vida urbana tende a limitar a exposição de crianças muito pequenas a determinados antígenos, sobretudo antígenos microbianos. Esse aparente efeito protetor da exposição microbiana precoce é resumido como a hipótese da higiene; os mecanismos de base são incertos. (ROBBINS) Fatores desencadeantes @juliaasoare_• 3 período de Medicina a) Exposição a alérgenos e irritantes inalatórios domiciliares e ocupacionais b) Mundanças climáticas e exposição ao tabagismo; c) Infecções do sistema respiratório d) Fármacos – betabloqueadores, AAS e anti- inflamatórios não hormonais; e) Estresse emocional f) Exercício físico Fisiopatologia da Asma Existem dois subconjuntos de linfócitos T auxiliares (T1 H e T2 H) que se desenvolvem a partir do mesmo precursor, linfócito T CD4+. (PORTH) ➢ Os linfócitos T1H sofrem diferenciação em resposta a micróbios e estimulam a diferenciação dos linfócitos B em plasmócitos produtores das imunoglobulinas M (IgM) e IgG. ➢ Os linfócitos T2H, por outro lado, respondem ao estímulo provocado por alergênios e helmintos (parasitas intestinais), estimulando a diferenciação dos linfócitos B em plasmócitos produtores de IgE, produzem fatores de crescimento para mastócitos, além de recrutar e ativar eosinófilos. Em pessoas com asma alérgica, a diferenciação dos linfócitos T parece estar voltada para uma resposta pró-inflamatória T2 H As citocinas também têm um papel aparente na resposta inflamatória crônica e nas complicações da asma. O fator de necrose tumoral α (TNF-α) e as interleucinas 4 e 5 (IL-4 e IL-5) participam na patogênese da asma brônquica por meio de seus efeitos sobre o epitélio brônquico e as células da musculatura lisa. (PORTH) O TNF-α, uma citocina inflamatória que é armazenada e liberada pelos mastócitos, desempenha um papel crítico na iniciação e amplificação do processo inflamatório das vias respiratórias em pessoas com asma. (PORTH) São creditados ao TNF-α o aumento da migração e ativação de células inflamatórias (p. ex., eosinófilos e neutrófilos), além de uma contribuição em todos os aspectos da remodelação das vias respiratórias, incluindo a proliferação e ativação de fibroblastos, aumento da produção de glicoproteínas pela matriz extracelular e hiperplasia das células da mucosa (PORTH) As infecções respiratórias virais frequentes também podem provocar o desenvolvimento de asma em algumas pessoas. Quando essas infecções respiratórias são frequentes em uma idade precoce, existem evidências de que a resposta das células T auxiliares (T2 H) é exagerada. Quando ocorre a liberação de citocinas CD4 T2H, IL4, IL-5 e IL-13, as vias respiratórias tornam- se predispostas a desenvolver uma resposta alérgica, o que favorece a produção de IgE. (PORTH) Os aspectos imunológicos da asma, incluindo a cascata de neutrófilos, eosinófilos, linfócitos e mastócitos causam lesão epitelial. Isso provoca a inflamação das vias respiratórias, o que aumenta ainda mais a hiperresponsividade e a diminuição do fluxo aéreo. (PORTH) Existem vários tipos de células e mediadores capazes de causar inflamação das vias respiratórias e broncoconstrição na asma. (PORTH) Quando os mastócitos são ativados, a liberação de histamina; prostaglandina D2; citocinas, como IL-1 a IL-5, interferona, TNF e fator de estimulaçãode colônias de granulócitos e macrófagos; e leucotrienos provoca broncoconstrição maciça e inflamação do endotélio vascular pulmonar. (PORTH) Os mastócitos podem desencadear a liberação de diversas citocinas, o que provoca grande inflamação das vias respiratórias. A contração das vias respiratórias e o edema posterior aumentam ainda mais a obstrução. (PORTH) A liberação dos mastócitos pode estar vinculada à asma induzida por exercício (AIE), uma condição na qual o indivíduo experimenta sibilação e broncospasmo durante a prática de exercícios físicos. A causa de AIE ainda não está totalmente compreendida, mas duas teorias representam explicações possíveis. (PORTH) ➢ Uma teoria defende que a causa de AIE se baseia na perda de água e calor pela árvore traqueobrônquica por causa da necessidade de aquecimento e umidificação de grandes volumes de ar A resposta comumente é exagerada quando a pessoa pratica exercícios em um ambiente frio. ➢ A outra teoria é a de que AIE representa o reaquecimento das vias respiratórias, afirmando que estas se resfriam e, em seguida, se aquecem durante a prática de exercícios. Isto provoca a congestão dos vasos bronquiolares que circundam a árvore brônquica e torna possível que os exsudatos de líquido se desloquem para a mucosa das vias respiratórias, o que desencadeia a cascata inflamatória. @juliaasoare_• 3 período de Medicina Eosinófilos tendem a permanecer nas vias respiratórias de pessoas com asma, produzindo enzimas inflamatórias e liberando leucotrienos, assim como muitas enzimas pró- inflamatórias. A liberação de leucotrienos provoca maior secreção de muco, o que muitas vezes obstrui ainda mais a via respiratória e aumenta a liberação de histamina pelos mastócitos. (PORTH) ➢ A COX-1 é responsável pela síntese das prostaglandinas protetoras ➢ A COX-2 pela síntese de mediadores inflamatórios e causadores de broncoconstrição. Postula-se que, em pessoas com asma induzida por ácido acetilsalicílico, a inibição da COX-1 desvia o metabolismo do AA da produção de prostaglandinas protetoras para a produção de COX2 e outros mediadores inflamatórios causadores de broncoconstrição. (PORTH) Além disso, acredita-se que tanto fatores emocionais quanto alterações nos níveis hormonais possam contribuir para a exacerbação dos sintomas de asma. Os fatores emocionais produzem broncospasmo por meio de vias vagais. Podem agir como um gatilho broncospástico ou podem aumentar a capacidade de resposta das vias respiratórias para outros gatilhos por meio de mecanismos não inflamatórios. (PORTH) Os hormônios sexuais femininos têm um papel regulador na função β2-adrenérgica, e foi apontado que a regulação anormal pode ser um mecanismo possível para a manifestação de asma no período pré-menstrual. (PORTH) Respostas de TH2, IgE e inflamação: a diferenciação de célula T é distorcida para produzir em excesso células do tipo TH2 com subsequentes respostas imunes dominadas por eosinófilos e IgE; nos pacientes pré- sensibilizados, a exposição repetida a um antígeno causa: (PORTH) ➢ Fase aguda: a ligação do antígeno aos mastócitos cobertos por IgE promove a liberação de mediadores primários (como leucotrienos) e secundários (como citocina). Os mediadores de fase aguda causam broncoespasmo, edema, secreção de muco e recrutamento de leucócitos. ➢ Fase tardia: mediada por leucócitos recrutados (como eosinófilos, linfócitos, neutrófilos, monócitos) e caracterizada por edema e broncoespasmo persistente, infiltração leucocítica, dano e perda epitelia Manifestações clínicas da asma Os sintomas clássicos da asma são: dispneia, sibilância e tosse. Alguns indivíduos asmáticos podem não relatar todos os três na mesma intensidade, devido ao grau de heterogeneidade da doença. (PORTH) Frequentemente, os sintomas de asma pioram durante a noite, o que confere à condição a denominação de asma noturna. Estudos sobre a asma noturna indicam que há variações relacionadas com o ciclo circadiano e o sono na função hormonal e respiratória. A maior diminuição da função respiratória ocorre aproximadamente às 4 h, período em que os níveis de cortisol estão baixos, os níveis de melatonina estão altos e a atividade dos eosinófilos é maior. (PORTH) Dispneia A dispneia pode ser descrita como falta de ar ou dificuldade de encher o pulmão. (PORTH) Ao exame físico, achados de obstrução grave do fluxo aéreo como taquipneia, taquicardia, fase expiratória prolongada e má movimentação do ar podem estar presentes. Além disso, sinais de esforço respiratórios também são comuns, como uso da musculatura acessória da respiração. (PORTH) Sibilância Sibilos, sons de alta frequência, frequentemente descritos como chiado são característicos, mas não específicos da asma. São ouvidos mais comumente na expiração. (PORTH) Ruídos expiratórios, audíveis sem o estetoscópio, podem simular sibilos, mas os ruídos são mais audíveis no pescoço e mais baixos no peito enquanto a sibilância é tipicamente mais audível no peito. (PORTH) Tosse A tosse dos asmáticos pode ser seca ou produzir expectoração com aparência de muco e de coloração clara ou amarelo-pálida, pela presença de eosinófilos. É comum que a tosse, bem como os demais sintomas sejam exacerbados pela noite. (PORTH) Outras características Conforme a evolução da doença, o paciente desenvolve fadiga, a pele fica úmida, e os sintomas de ansiedade e apreensão se tornam evidentes. A dispneia piora, e muitas vezes a pessoa é capaz de pronunciar apenas @juliaasoare_• 3 período de Medicina uma ou duas palavras, antes de precisar respirar novamente. (PORTH) Por fim, é importante também se atentar para os sintomas prodrômicos, ou seja, aqueles que podem preceder uma crise asmática: prurido sob o queixo, desconforto entre as escápulas e sensação de morte iminente/medo inexplicável. (PORTH) Diagnóstico da asma O diagnóstico de asma costuma ser feito no contexto ambulatorial e se baseia em uma história pessoal cuidadosa, exame físico e testes de função pulmonar (BROADDUS) Anamnese A história de sintomas intermitentes, episódicos, no padrão discutido anteriormente com a sibilância característica da asma observada no exame físico apontam fortemente o diagnóstico da asma. (BROADDUS) Exame físico O exame físico geralmente é normal; entretanto, achados como sibilância durante a respiração normal e/ou fase expiratória prolongada podem sugerir asma. (BROADDUS) A manobra para potencializar a sibilância, a expiração forçada, não é específica de asma, mas sugere obstrução ou colapso das vias aéreas. Além das anormalidades respiratórias, os sujeitos com asma costumam ter sinais concomitantes de condições alérgicas associadas e evidências de inflamação no trato respiratório alto e obstrução com passagens nasais inflamadas e/ou pólipos nasais ou tonsilas grandes. (BROADDUS) Os achados de eczema, urticária ou dermatite atópica no exame da pele dão suporte a um diagnóstico de asma. (BROADDUS) Exames complementares a) Espirometria: A espirometria é o exame funcional de maior importância, dada sua aplicabilidade clínica. No indivíduo asmático, a espirometria simples confirma a redução do fluxo ventilatório com redução do VEF1. Outro fator importante é demonstrar a sua reversibilidade: pode haver aumento maior ou igual a 12% do VEF1 após inalação de beta2- agonista de ação curta. (BROADDUS) b) Teste de broncopovoação: O teste de broncoprovocação pode ser usado para identificar ou excluir hiperresponsividade das vias aéreas em pacientes com apresentações atípicas, como uma espirometria basal normal, sem variabilidade na limitação do fluxo aéreo ou sintomas isolados de asma, especialmente tosse. Nesse teste a broncoconstrição é incentivada a partir de estímulos provocativos como metacolina inalada, manitolinalado ou até mesmo exercício físico. Asmáticos são mais sensíveis – hiper-responsivos – a esses estímulos. Todavia, um teste positivo, que evidencie hiperresponsividade brônquica, não é totalmente específico para asma. (BROADDUS) c) Pico de fluxo expiratório: Esse teste, por ser mais acessível e barato, pode ser utilizado para acompanhar pacientes asmáticos e sua resposta ao tratamento ou até mesmo para observar possíveis exacerbações associadas à exposição ocupacional ou outro gatilho ambiental. A manobra aqui é: inspiração máxima e depois espera-se que o indivíduo sopre o mais rápido e intenso que conseguir no bocal do aparelho. Os valores normais são baseados em altura, idade e sexo, e geralmente variam entre 80 a 100L/min. Assim como na espirometria, a comparação do valor antes e após uso de broncodilatador é realizada e um pico de fluxo reduzido que melhora em mais de 20% aproximadamente 10 a 20 minutos após a administração de um broncodilatador de ação rápida fornece evidências de suporte que favorecem o diagnóstico de asma. (BROADDUS) d) Óxido nítrico exalado: A medição de óxido nítrico no ar expirado de um paciente pode auxiliar no diagnóstico de asma em combinação com outros testes, mas, é preciso ter em mente que um nível normal não exclui asma. O teste baseia-se na observação de que a inflamação eosinofílica das vias aéreas associada à asma leva à regulação positiva do óxido nítrico sintase na mucosa respiratória, que por sua vez gera quantidades aumentadas de óxido nítrico no ar expirado. Nos indivíduos em tratamento com glicocorticoides orais ou inalatórios, a inflamação @juliaasoare_• 3 período de Medicina das vias aéreas reduz e os níveis de óxido nítrico exalado também. (BROADDUS) e) Hemograma: níveis de IgE totais podem estar aumentados. (BROADDUS) f) Teste de alergia: Testes cutâneos positivos para alérgenos comuns. (BROADDUS) g) Radiografia: O raio-X de tórax do paciente asmático é habitualmente normal. (BROADDUS) Tratamento da asma O manejo da asma consiste em medidas de prevenção, medidas não farmacológicas, dessensibilização e tratamento farmacológico. (PORTH) Medidas de prevenção As medidas de prevenção para controlar os fatores que contribuem para a gravidade da asma são destinadas a limitar a exposição a substâncias irritantes e aos fatores que aumentam os sintomas da asma e precipitam as exacerbações. (PORTH) Incluem orientar o paciente e seus familiares com relação a medidas que devem ser empregadas para evitar a exposição a substâncias irritantes e alergênios conhecidos por induzir ou provocar uma crise. (PORTH) Muitas vezes, é necessário obter um histórico detalhado para identificar todos os fatores contributivos. (PORTH) A presença de pólipos nasais, histórico de sensibilidade ao ácido acetilsalicílico e refluxo gastresofágico deve ser considerada. (PORTH) A vacinação anual contra a gripe é recomendada para pessoas com asma persistente. (PORTH) Medidas não farmacológicas O controle não farmacológico inclui o uso de técnicas de relaxamento e respiração controlada, que muitas vezes ajudam a acalmar o pânico e a ansiedade que agravam ainda mais os problemas respiratórios (PORTH) Em crianças, é essencial introduzir medidas destinadas a promover independência em relação ao controle dos sintomas, aliadas a medidas voltadas para o desenvolvimento de um autoconceito positivo (PORTH) Tratamento farmacológico ➢ Corticoesteroides: Os corticosteroides por via inalatória são considerados os agentes mais efetivos na prevenção de inflamação das vias respiratórias e, geralmente, são o tipo de fármaco utilizado. Eles inibem a fosfolipase A2, que bloqueia a liberação de ácido araquidônico (o precursor de prostaglandinas e leucotrienos) dos fosfolipídeos ligados à membrana. Acredita- se que a diminuição da produção de prostaglandinas e leucotrienos é fundamental à ação antiinflamatória (PORTH) ➢ Os medicamentos de alívio imediato, como os agonistas β2-adrenérgicos de ação rápida (SABA, shortating b2- adrenergic agonist) (p. ex., salbutamol, levalbuterol, pirbuterol) relaxam a musculatura lisa dos brônquios e proporcionam alívio imediato dos sintomas, geralmente em um intervalo de 30 min. São administrados por inalação (i. e., inalador dosimetrado ou nebulizador), e a sua utilização é recomendada para aliviar crises agudas de asma, porque o uso regular não produz efeitos benéficos. (PORTH) ➢ As medicações anticolinérgicas (p. ex., ipratrópio) bloqueiam as vias vagais eferentes pós-ganglionares causadoras de broncoconstrição. Esses medicamentos, administrados por inalação, provocam broncodilatação por ação direta sobre as grandes vias respiratórias e não alteram a composição ou a viscosidade do muco brônquico. Acredita-se que podem fornecer algum benefício aditivo para o tratamento de exacerbações da asma quando administrados juntamente com agonistas β2- adrenérgicos. (PORTH) Referencias: Broaddus, V. Murray & Nadel Tratado de Medicina Respiratória. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2017. DARIO, Samira Pires. DPOC-Uma revisão bibliográfica. 2006. MITCHELL, R.N.; KUMAR, V.; ABBAS, A.K.; AL, E. Robbins & Cotran Fundamentos de Patologia. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2017. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Grupo GEN, 2021 @juliaasoare_• 3 período de Medicina
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