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5) O antirracismo na legislação brasileira Estatutos de proteção à grupos vulneráveis → tentativa legislativa de corrigir uma realidade desigual, violenta e injusta de maneira artificial, como se fosse o suficiente para mudar comportamentos e mentalidades As leis fortalecem movimentos sociais e garantes proteção e equidade de direitos e oportunidades para esses grupos a. A Carta Maior: a Constituição brasileira de 1988 Artigo 20, inciso XI → Estado é proprietário das terras indígenas, o que gera conflitos de retomadas até hoje (p/ demarcação de terra indígena) Artigo 49, inciso XVI → cabe ao Congresso Nacional autorizar ou não a exploração de recursos das terras indígenas Manutenção da tutela do Estado sobre os grupos indígenas, negando a autonomia destes Capítulo VIII → capítulo dedicado aos indígenas, reconhecendo seus direitos Artigo 5º, XLII → racismo como crime inafiançável e que não prescreve Fortalecimento do movimento negro no Brasil → autovalorização de suas raízes, de suas influências latino-americanas, religião, cultura etc. Lei nº 9.459/97 → trata de crimes resultantes de preconceito de raça/cor Artigo 140, inciso III do Código Penal brasileiro trata da injúria O que a legislação brasileira diz sobre o racismo: “(a) o preconceito racial, expresso verbalmente através de ofensas pessoais; (b) a discriminação racial, ou seja, o tratamento desigual de pessoas, nos mais diversos âmbitos da vida social, baseado na ideia de raça, restringindo o seu amplo e líquido direito constitucional e legal à isonomia de tratamento; (c) a expressão doutrinária do racismo ou a incitação pública do preconceito.” (p. 67) Apenas manifestações públicas de racismo são enquadradas na lei vigente b. Estatutos específicos * Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90 “Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (BRASIL, 1990). Crianças e adolescentes passam a ser tratados como cidadãos de direito * Estatuto da Igualdade Racial, Lei nº 12.288/2010 Pressupostos: quais são os direitos garantidos à população afrodescendente no Brasil e como combater a discriminação e a intolerância étnica Artigo 1º já tem como foco: (a) combater a discriminação racial ou étnico-racial; (b) promover a igualdade racial, nos campos político, econômico, social, cultural e outros da vida pública ou privada; (c) combater as assimetrias de gênero e raça, dando condições de inclusão às mulheres negras; (d) valorizar a autodefinição de cor ou raça às pessoas que se autodeclararem pretas e pardas, conforme critérios definidos pelo IBGE; (e) abrir caminhos para a implantação de políticas públicas adotadas pelo Estado com o objetivo da promoção da igualdade racial; (f) incentivar as ações afirmativas, adotadas pelo Estado ou pela iniciativa privada, para a promoção da igualdade de oportunidades. Tem capítulos específicos para cada direito fundamental a ser defendido Institui o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) → órgão criado para organizar e articular as estratégias para implantação do “conjunto de políticas e serviços destinados a superar as desigualdades étnicas existentes no país, prestados pelo poder público federal” * Estatuto do índio Ainda não determinado Durante o século XX, prevaleceu a perspectiva assimilacionista (Lei nº 6.001/73, que estabelece os indígenas como possuidores de uma cultura inferior e primitiva, devendo, assim, serem assimilados pela cultura branca) na relação com os índios. Já a partir da década de 1980, temos o crescimento da visão multiculturalista, que respeita e valoriza a diversidade étnica e racial Constituição de 88 → reconhece o direito dos indígenas de manter e preservar a própria cultura Artigo 232 → os indígenas podem processar o Estado Problema da posse e demarcação das terras indígenas (explicitado anteriormente) c. Leis e diretrizes educacionais * Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96 Pressupostos para a ampliação do debate sobre as relações étnico-raciais e sobre a afrodescendência Artigo 26: “O ensino de História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia” (BRASIL, 1996). * Lei nº 10.639/2003 e Lei nº 11.645/2008 10.639 → altera a LDB, adicionando no currículo oficial a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro- Brasileira; chama a atenção para a importância do estudo da perspectiva étnico-racial Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre história e cultura afro-brasileira. § 1º. O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2º. Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História brasileiras. Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra” (BRASIL, 2003) 11.645 → altera novamente a LBD e a lei 10.639, alterando para ensino da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena Art. 26-A. Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Ensino Médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1º. O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2º. Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras * Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana de 2004 – Parecer CNE 003/2004 Feita para alunos, professores, cidadãos brasileiros e todos aqueles interessados ou comprometidos com a educação brasileira e no diálogo sobre as relações étnico-raciais, na valorização da história e cultura afro- br., na diversidade, da equidade de direitos etc. “[O parecer trata] de [ser] política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe a divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial – descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada (BRASIL, 2004).” p. 75-76 Identificou ascontribuições da Lei º 10.639 Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana de 2009 → identificado a falta de inclusão do plano detalhado acima, este novo plano complementar foi publicado; detalha alguns objetivos para a educação brasileira: A formação dos professores para o trabalho em sala de aula na perspectiva das relações étnico-raciais; A produção de material didático adequado, que desfaça os estereótipos de raça/ cor/gênero; E a sensibilização de todos os agentes envolvidos nesse processo para um compromisso efetivo com a implantação da igualdade racial na escola e em nosso país. Lei nº 11.645/2008 → insere no texto anterior a matriz indígena → “os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras”. 6) Africanidades brasileiras e alguns aspectos da história africana dos negros no Brasil Africanidades brasileiras → processo de valorização e resgate da história e cultura africana e afro-brasileira, a fim de desfazer os estereótipos raciais construídos pelos grupos dominantes (brancos, homens, proprietários, livres e ricos); Significa enxergar o mundo através de uma lente, sob a perspectiva dos afrodescendentes a. Pegando o fio da história: a África antes de 1500 Durante os anos, a história da África passou a ser esquecida, distorcida ou menosprezada nos livros de história “Esta indução errônea tem motivos e consequências, e elas despolitizam a população negra, tornam as identidades negras fragilizadas e permitem a realização de uma ampla desqualificação social das populações negras. As ideias permitem a prática da produção de uma hierarquia social, na qual nada produzido pela população negra parece ter importância, tudo que é produzido pela população branca é bom e necessário” (p. 78) A impressão que temos com o que estudamos em nossa vida escolar é de que a África, antes do início da exploração portuguesa, era um território “perdido no mapa”, com povos “primitivos”, sem cultura escrita e com tribos selvagens que guerreavam e se escravizavam mutuamente. Antes dos genocídios culturais ou etnocídios financiados por Portugal, a África possuía tecnologias muito mais avançadas que este país: a importação de mão de obra especializada, principalmente nas áreas têxteis, de construção, de materiais como madeira e sabão → O acervo de conhecimentos que possibilitou a empresa de produção colonial portuguesa no Brasil é majoritariamente africano. “Devemos também acrescentar que muitas regiões do continente africano foram destruídas pelos europeus durante 400 anos de guerras para imposição da dominação ocidental, política, cultural e econômica. A imposição do comércio europeu de produtos africanos e do comércio de seres humanos, cativos africanos transformados em escravizados nas Américas, foi a que produziu maior devastação no continente africano. Hoje existe uma desigualdade social e econômica entre a África e a Europa em razão de o europeu ter subdesenvolvido o continente africano (CUNHA JUNIOR, 2010, p. 15).” (p. 81) “A história da África não começa no ano de 1500 e não pode ser resumida ao episódio da escravidão de suas populações durante quatrocentos anos de história do Brasil.” (p. 81) b. Heranças coloniais africanas e a formação de um país chamado Brasil É mentira o mito da imigração de bandidos portugueses para o Brasil O objetivo da coroa portuguesa era sustentar os próprios luxos e pagar os investimentos feitos pela burguesia (que financiava as viagens de navio e exploração) Primeira matéria-prima explorada → pau-brasil Poucos portugueses exploradores → conseguiam se “infiltrar”, se assimilar à cultura indígena No entanto, os indígenas não deixaram que os brancos tomassem suas terras de graça; houve conflitos Problema da coroa → falta de mão de obra: indígenas eram um obstáculo para a posse de terra, embora fossem uma boa fonte de mão de obra barata. Contudo, por conta do genocídio para conquistar as terras, sua população diminuiu consideravelmente Coroa investe em trazer homens e mulheres da África, principalmente Congo e Angola, pois eram grandes produtores agrícolas e possuíam tecnologias que Portugal não tinha c. Diáspora, travessia dos escravizados e o constrangimento de seres humanos à condição de objetos A partir de 1550 → começam a chegar os escravizados Escravidão já era extinta na Europa, mas retornou com um capitalismo moderno, baseado na exploração colonial, com uma economia mercantil e trabalho não assalariado “Índios e negros têm uma posição demarcada num sistema de relações sociais concretas, sistema que é orientado de modo vertical: para cima e para baixo, nunca para os lados.” (p. 84) Desumanização dos escravizados → colocando-os em condições deploráveis de sobrevivência e apagando sua cultura e história “Desterrados de seu continente, separados de seus laços de relação pessoal, ignorantes da língua e dos costumes, os recém-chegados se transformavam em boçais (na época, boçal queria dizer “aquele que não conhece a língua” e era o termo oposto a ladino, que se referia aos cativos já ambientados ou nascidos no país). Entendido como propriedade, uma peça ou coisa, o escravo perdia sua origem e sua personalidade.” (p. 86) Aspectos da forte presença africana na formação do Brasil, segundo Munanga e Gomes (2006): Campo econômico → escravizados, construíram as riquezas e a sustentar a empresa colonial portuguesa Campo demográfico → povoamento do país Campo cultural → influência linguística, religiosa, artística d. Resistência negra e movimento abolicionista: antes e depois da Lei Áurea Alguns historiadores distinguem a resistência negra contra a escravidão em dois tipos: a passiva e a ativa. No entanto, fazer esse tipo de distinção acaba levando a desvalorização da dita resistência passiva, que dá a entender que os escravizados ficaram numa posição passiva, sem ação, apenas aceitando sua condição Um dos principais exemplos de resistência contra o regime de escravatura foram os quilombos → eram unidades básicas de resistência dos escravizados; “Nele se incluem não apenas negros fugitivos, mas também índios perseguidos, mulatos, pessoas perseguidas pela polícia em geral, devedores do fisco, brancos pobres, mulheres sem profissão ou prostitutas” (p. 89) “Na África, a palavra quilombo refere-se a uma associação de homens, abertas a todos. [...]” (p. 89) Nos quilombos, havia uma forma de viver diferente daquela implantada pelos escravizadores e colonizadores; existiam novas formas de organização social O movimento de resistência pouco se relaciona ao movimento abolicionista, cujo objetivo era diminuir os impactos da abolição para os escravizadores. Existiram três grandes leis abolicionistas: Ventre Livre (1871), Sexagenários (1885) e Áurea (1888) “Não houve qualquer planejamento do poder público no sentido de incorporar a mão de obra negra recém-liberta ao novo mercado de trabalho nacional naquele momento, tampouco se pensou em qualquer forma de indenização aos escravos pelos anos (e séculos) de exploração sem qualquer tipo de remuneração. Ao contrário, as leis abolicionistas garantiam aos senhores, donos dos escravos, altas indenizações quando da libertação de cada um de seus trabalhadores.” (p. 89) Migração do povo para as periferias dos centros urbanos Exposição do grupo a um processo de competição desigual por conta do projeto de “branqueamento”, que trazia imigrantes “mais capacitados” “Essa tática de enviar negrosà guerra [do Paraguai] serviu, de um lado, para branquear a população brasileira e, de outro, para justificar a política imigrantista que era patrocinada por parcelas significativas do capitalismo nativo e pelo governo de D. Pedro II.” (p. 90) 7) Identidade, interação e diversidade: por uma educação cidadã Mesmo após a abolição, o preconceito e frases que colocam os negros como inferiores aos brancos continuaram a ser perpetuados em diversas mídias Destaque: livros de Monteiro Lobato → “Essa é uma crítica corrente entre os estudiosos e militantes do movimento negro, que veem nos textos de Monteiro Lobato a reprodução dos estereótipos do negro como submisso e subserviente, visto que, ‘embora liberto, não poderia sobreviver sem a tutela do senhor, pois era hereditariamente predisposto ao trabalho servil e desprovido de qualquer autonomia enquanto pessoa’; além disso, em suas descrições físicas de negros, os traços africanos se comparam muito aos de animais, fato que, inclusive, foi objeto de fortes críticas a um de seus livros escolhido pelo MEC para ser distribuído aos alunos da rede pública” (p. 93) Literatura clássica brasileira ajudou a manter intactos os estereótipos de cunho racista, com a mídia atual não é diferente → negros com posições subalternas, inferiores; tais representações são internalizadas pelos próprios negros (“aceitação passiva”) “Em primeiro lugar, a sociedade que discrimina a população de ascendência negra se supõe branco-europeia. Contudo, não o é. Em segundo lugar, essa sociedade discriminadora é marcadamente negra em termos culturais. Vive, consome e tem internalizados em sua cultura valores negros. Estranho, não? Flagramos agora uma ironia peculiar da terra brasilis: aqui, os brancos (ou supostos), quando agridem os negros, ofendem a si mesmos. Isso porque eles também são meio negros/meio brancos, curtindo e vivenciando a cultura negra (SANTOS, 2001, p.149).” (p. 94-95) A teoria de Pierre Bourdieu, sociólogo francês, oferece-nos outra forma de compreender a configuração desse racismo à brasileira, por meio do que ele denominou violência simbólica. Bourdieu entende os mecanismos sutis de dominação social utilizados por indivíduos, grupos ou instituições e impostos sobre outros. Nesse sentido, por meio da violência simbólica, a construção da identidade brasileira enraíza-se na interiorização por todos os brasileiros (todos mestiços, afinal), de normas enunciadas pelos discursos dos estrangeiros que nos colonizaram (tipificado pelo “branco homem europeu capitalista”). Explicando melhor, seria assumir o universo simbólico de outro sem perceber que essa “transferência” é feita na forma de uma dominação no plano simbólico.” (p. 95-96) “O caso é que uma criança negra, por exemplo, que assiste a essas cenas cotidianamente, percebe e interioriza a mensagem transmitida pelas atitudes da professora: “não estou sendo elogiada porque não sou tão bonita, não tenho um corte de cabelo tão bonito, não estou tão bem vestida, não sou tão inteligente...”, isto é, esses estereótipos vão sendo assimilados como verdades pela criança, que é vítima dessa violência simbólica ao ponto de, quando crescer um pouco, querer alisar seus cabelos e pintá-los de loiro, por exemplo, reproduzindo então os discursos construídos anteriormente a partir de um referencial branco” (p. 96) “Esse sentimento está pautado pela mensagem transmitida às crianças de que, para ser humanizado, é preciso corresponder às expectativas do padrão dominante, ou seja, ser branco.” (p. 96) a. O processo de construção da identidade na infância e na juventude: a igualdade jurídica em meio a uma sociedade hierárquica Identidade → junção/intersecção entre os valores do grupo social (que existem antes do nascimento do indivíduo) e da experiência do sujeito, de como ele interioriza esses valores e age sobre o mundo Socialização ou endoculturação → Processo que explica a transmissão e a aprendizagem de comportamentos dentro de uma mesma cultura (geralmente quando se é criança), feito pela educação, pela imitação e pelo condicionamento do meio social. Cabe a cada um selecionar, entre as coisas previamente dadas pelo ambiente social, aquilo que para ele faz maior ou menor sentido Cultura não é algo acabado; está sempre em movimento, sendo fruto e síntese do diálogo e da inter- relação entre os sujeitos A construção da identidade brasileira não pode deixar de levar em consideração a miscigenação e a pluralidade de culturas que constituem o povo A identidade se constrói no plano simbólico, com os significados, com os valores, crenças etc. que vão se assumindo na relação com o outro “A consciência de uma cultura própria vence o sentimento de inferioridade diante da cultura opressora” (p. 99) → “A força advinda da (re) apropriação dos valores de origem certamente propicia a passagem do medo e vergonha de não ser branco ao orgulho de ser negro e estimula o impulso de reivindicação de direitos humanos, entre os quais os de cidadania” (p. 100) Interculturalidade → “prática de vida que pressupõe a possibilidade de convivência e coexistência entre culturas e identidades, [...] visando a superação da intolerância e da violência entre indivíduos e grupos sociais culturalmente distintos” (p. 99) Professor → uma das principais figuras no processo de ressignificação da identidade b. Diversidade e currículo: desafios para a prática educativa Importância do livro didático → fonte de leitura (muitas vezes a única fonte de leitura disponível para o aluno e sua família ou para o preparo das aulas por parte do professor) Pesquisas mostram que a maioria dos livros didáticos peca em minimizar os fatos históricos e acaba por estigmatizar ou caricaturar segmentos sociais como idosos, mulheres, negros, trabalhadores etc., o que reforça os estereótipos. Além disso, há a invisibilidade desses grupos sociais desfavorecidos “A falta de representatividade negra e indígena ou de figuras de pessoas negras desempenhando os mais diversos papéis sociais, por exemplo, faz com que a criança afrodescendente não tenha parâmetros de igualdade e diversidade para a construção de sua identidade étnico-racial. Ou mesmo dos índios fora da visão estigmatizada de uma cultura parada no século XVI, quando os portugueses aqui chegaram” (p. 102- 103) “A invisibilidade e o recalque dos valores históricos e culturais de um povo, bem como a inferiorização dos seus atributos adscritivos, através de estereótipos, conduz esse povo, na maioria das vezes, a desenvolver comportamentos de autorrejeição, resultando em rejeição e negação dos seus valores culturais e em preferência pela estética e valores culturais dos grupos sociais valorizados nas representações.” (p. 104) Professores devem trabalhar ativamente na desconstrução de estereótipos, na representatividade de todos os segmentos sociais e na valorização das diversidades étnico-raciais Todos os envolvidos na educação brasileira devem tomar a decisão política pela igualdade nas relações étnico-raciais. Todos eles estão convocados para realizar mudanças nos currículos (pela Lei nº 10.639/2003), nos planos de ensino, nos materiais didáticos etc. O objetivo é promover o reconhecimento, o respeito e a garantia das diversidades culturais e, de forma especial, da população afrodescendente no Brasil. 8) Educação e promoção da igualdade racial: estratégias e possibilidades Além de revisar os livros didáticos e os planos de aula, é importante que o professor conheça a realidade dos alunos, de modo a implementar projetos que sejam mais efetivos e de acordo com a realidade sociocultural dos educandos Para Silva (2003), existem alguns passos importantes que os professores devem seguir: • Ouvir as concepções préviasdos alunos • Fazer com que os alunos entendam que as concepções resultam do que as pessoas falam e das nossas observações e estudos (?) • Desafiar os alunos para que reformulem suas concepções prévias por meio da pesquisa e do debate • Incentivar a observação ativa/crítica da vida cotidiana • Combater os próprios preconceitos e ter desejo sincero em superar sua própria ignorância • Organizar planos de trabalho que coloquem o aluno em ação Existem, também, três pontos principais da pedagogia antirracista: • Respeito • Reconstrução do discurso pedagógico • Estudo da recriação das diferentes raízes da cultura brasileira (de modo que não sejam mais baseadas na visão dos colonizadores, mas de modo a dar mais ênfase à realidade dos afrodescendentes e enfatizar também sua participação na história brasileira) “Precisamos, no nosso trabalho cotidiano, incorporar o discurso das diferenças não como um desvio, mas como algo enriquecedor de nossas práticas e das relações entre as crianças” (p. 107) Quando à realidade indígena: • Pensar na realidade dos povos • Desvincular a ideia de que todos foram exterminados • Dar ênfase nas socio diversidades dos indígenas • Evidenciar a participação histórica dos indígenas Luta diária contra o assujeitamento (maneira de modelar as pessoas de uma mesma forma)
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