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Resumo Unidade 2 Relações étnico-raciais no Brasil

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5) O antirracismo na legislação brasileira 
Estatutos de proteção à grupos vulneráveis → tentativa 
legislativa de corrigir uma realidade desigual, violenta e 
injusta de maneira artificial, como se fosse o suficiente 
para mudar comportamentos e mentalidades 
As leis fortalecem movimentos sociais e garantes 
proteção e equidade de direitos e oportunidades para 
esses grupos 
 
a. A Carta Maior: a Constituição brasileira de 1988 
Artigo 20, inciso XI → Estado é proprietário das terras 
indígenas, o que gera conflitos de retomadas até hoje 
(p/ demarcação de terra indígena) 
Artigo 49, inciso XVI → cabe ao Congresso Nacional 
autorizar ou não a exploração de recursos das terras 
indígenas 
Manutenção da tutela do Estado sobre os grupos 
indígenas, negando a autonomia destes 
Capítulo VIII → capítulo dedicado aos indígenas, 
reconhecendo seus direitos 
Artigo 5º, XLII → racismo como crime inafiançável e que 
não prescreve 
Fortalecimento do movimento negro no Brasil → 
autovalorização de suas raízes, de suas influências 
latino-americanas, religião, cultura etc. 
Lei nº 9.459/97 → trata de crimes resultantes de 
preconceito de raça/cor 
Artigo 140, inciso III do Código Penal brasileiro trata da 
injúria 
O que a legislação brasileira diz sobre o racismo: 
“(a) o preconceito racial, expresso verbalmente 
através de ofensas pessoais; 
(b) a discriminação racial, ou seja, o tratamento 
desigual de pessoas, nos mais diversos 
âmbitos da vida social, baseado na ideia de 
raça, restringindo o seu amplo e líquido direito 
constitucional e legal à isonomia de tratamento; 
(c) a expressão doutrinária do racismo ou a 
incitação pública do preconceito.” (p. 67) 
Apenas manifestações públicas de racismo são 
enquadradas na lei vigente 
 
b. Estatutos específicos 
* Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90 
“Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto 
de qualquer forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na 
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, 
aos seus direitos fundamentais” (BRASIL, 1990). 
Crianças e adolescentes passam a ser tratados como 
cidadãos de direito 
 
* Estatuto da Igualdade Racial, Lei nº 12.288/2010 
Pressupostos: quais são os direitos garantidos à 
população afrodescendente no Brasil e como combater 
a discriminação e a intolerância étnica 
Artigo 1º já tem como foco: 
(a) combater a discriminação racial ou 
étnico-racial; 
(b) promover a igualdade racial, nos campos 
político, econômico, social, cultural e outros da 
vida pública ou privada; 
(c) combater as assimetrias de gênero e raça, 
dando condições de inclusão às mulheres 
negras; 
(d) valorizar a autodefinição de cor ou raça às 
pessoas que se autodeclararem pretas e 
pardas, conforme critérios definidos pelo IBGE; 
(e) abrir caminhos para a implantação de 
políticas públicas adotadas pelo Estado com o 
objetivo da promoção da igualdade racial; 
(f) incentivar as ações afirmativas, adotadas 
pelo Estado ou pela iniciativa privada, para a 
promoção da igualdade de oportunidades. 
Tem capítulos específicos para cada direito 
fundamental a ser defendido 
Institui o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade 
Racial (Sinapir) → órgão criado para organizar e 
articular as estratégias para implantação do “conjunto 
de políticas e serviços destinados a superar as 
desigualdades étnicas existentes no país, prestados 
pelo poder público federal” 
 
* Estatuto do índio 
Ainda não determinado 
Durante o século XX, prevaleceu a perspectiva 
assimilacionista (Lei nº 6.001/73, que estabelece os 
indígenas como possuidores de uma cultura inferior e 
primitiva, devendo, assim, serem assimilados pela 
cultura branca) na relação com os índios. Já a partir da 
década de 1980, temos o crescimento da visão 
multiculturalista, que respeita e valoriza a diversidade 
étnica e racial 
Constituição de 88 → reconhece o direito dos indígenas 
de manter e preservar a própria cultura 
Artigo 232 → os indígenas podem processar o Estado 
Problema da posse e demarcação das terras indígenas 
(explicitado anteriormente) 
 
c. Leis e diretrizes educacionais 
* Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
(LDB), Lei nº 9.394/96 
Pressupostos para a ampliação do debate sobre as 
relações étnico-raciais e sobre a afrodescendência 
Artigo 26: “O ensino de História do Brasil levará em 
conta as contribuições das diferentes culturas e etnias 
para a formação do povo brasileiro, especialmente das 
matrizes indígena, africana e europeia” (BRASIL, 
1996). 
 
* Lei nº 10.639/2003 e Lei nº 11.645/2008 
10.639 → altera a LDB, adicionando no currículo oficial 
a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-
Brasileira; chama a atenção para a importância do 
estudo da perspectiva étnico-racial 
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino 
fundamental e médio, oficiais e particulares, 
torna-se obrigatório o ensino sobre história e 
cultura afro-brasileira. 
§ 1º. O conteúdo programático a que se refere 
o caput deste artigo incluirá o estudo da História 
da África e dos Africanos, a luta dos negros no 
Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na 
formação da sociedade nacional, resgatando a 
contribuição do povo negro nas áreas social, 
econômica e política pertinentes à História do 
Brasil. 
§ 2º. Os conteúdos referentes à história e 
cultura afro-brasileira serão ministrados no 
âmbito de todo o currículo escolar, em especial 
nas áreas de Educação Artística e de Literatura 
e História brasileiras. 
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 
de novembro como “Dia Nacional da 
Consciência Negra” (BRASIL, 2003) 
11.645 → altera novamente a LBD e a lei 10.639, 
alterando para ensino da temática História e Cultura 
Afro-Brasileira e Indígena 
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de Ensino 
Fundamental e de Ensino Médio, públicos e 
privados, torna-se obrigatório o estudo da 
história e cultura afro-brasileira e indígena. 
§ 1º. O conteúdo programático a que se refere 
este artigo incluirá diversos aspectos da 
história e da cultura que caracterizam a 
formação da população brasileira, a partir 
desses dois grupos étnicos, tais como o estudo 
da história da África e dos africanos, a luta dos 
negros e dos povos indígenas no Brasil, a 
cultura negra e indígena brasileira e o negro e 
o índio na formação da sociedade nacional, 
resgatando as suas contribuições nas áreas 
social, econômica e política, pertinentes à 
história do Brasil. 
§ 2º. Os conteúdos referentes à história e 
cultura afro-brasileira e dos povos indígenas 
brasileiros serão ministrados no âmbito de todo 
o currículo escolar, em especial nas áreas de 
educação artística e de literatura e história 
brasileiras 
 
* Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das 
relações étnico-raciais e para o ensino de história e 
cultura afro-brasileira e africana de 2004 – Parecer 
CNE 003/2004 
Feita para alunos, professores, cidadãos brasileiros e 
todos aqueles interessados ou comprometidos com a 
educação brasileira e no diálogo sobre as relações 
étnico-raciais, na valorização da história e cultura afro-
br., na diversidade, da equidade de direitos etc. 
“[O parecer trata] de [ser] política curricular, fundada em 
dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas 
da realidade brasileira, e busca combater o racismo e 
as discriminações que atingem particularmente os 
negros. Nesta perspectiva, propõe a divulgação e 
produção de conhecimentos, a formação de atitudes, 
posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos 
de seu pertencimento étnico-racial – descendentes de 
africanos, povos indígenas, descendentes de 
europeus, de asiáticos – para interagirem na 
construção de uma nação democrática, em que todos, 
igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua 
identidade valorizada (BRASIL, 2004).” p. 75-76 
Identificou ascontribuições da Lei º 10.639 
Plano Nacional de Implementação das Diretrizes 
Curriculares Nacionais para Educação das Relações 
Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura 
Afro-brasileira e Africana de 2009 → identificado a falta 
de inclusão do plano detalhado acima, este novo plano 
complementar foi publicado; detalha alguns objetivos 
para a educação brasileira: 
A formação dos professores para o trabalho em 
sala de aula na perspectiva das relações 
étnico-raciais; 
A produção de material didático adequado, que 
desfaça os estereótipos de raça/ cor/gênero; 
E a sensibilização de todos os agentes 
envolvidos nesse processo para um 
compromisso efetivo com a implantação da 
igualdade racial na escola e em nosso país. 
Lei nº 11.645/2008 → insere no texto anterior a matriz 
indígena → “os conteúdos referentes à história e cultura 
afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão 
ministrados no âmbito de todo currículo escolar, em 
especial nas áreas de Educação Artística e de 
Literatura e História Brasileiras”. 
 
6) Africanidades brasileiras e alguns aspectos da 
história africana dos negros no Brasil 
Africanidades brasileiras → processo de valorização e 
resgate da história e cultura africana e afro-brasileira, a 
fim de desfazer os estereótipos raciais construídos 
pelos grupos dominantes (brancos, homens, 
proprietários, livres e ricos); Significa enxergar o mundo 
através de uma lente, sob a perspectiva dos 
afrodescendentes 
 
a. Pegando o fio da história: a África antes de 1500 
Durante os anos, a história da África passou a ser 
esquecida, distorcida ou menosprezada nos livros de 
história 
“Esta indução errônea tem motivos e consequências, e 
elas despolitizam a população negra, tornam as 
identidades negras fragilizadas e permitem a realização 
de uma ampla desqualificação social das populações 
negras. As ideias permitem a prática da produção de 
uma hierarquia social, na qual nada produzido pela 
população negra parece ter importância, tudo que é 
produzido pela população branca é bom e necessário” 
(p. 78) 
A impressão que temos com o que estudamos em 
nossa vida escolar é de que a África, antes do início da 
exploração portuguesa, era um território “perdido no 
mapa”, com povos “primitivos”, sem cultura escrita e 
com tribos selvagens que guerreavam e se 
escravizavam mutuamente. 
Antes dos genocídios culturais ou etnocídios 
financiados por Portugal, a África possuía tecnologias 
muito mais avançadas que este país: a importação de 
mão de obra especializada, principalmente nas áreas 
têxteis, de construção, de materiais como madeira e 
sabão → O acervo de conhecimentos que possibilitou 
a empresa de produção colonial portuguesa no Brasil é 
majoritariamente africano. 
“Devemos também acrescentar que muitas regiões do 
continente africano foram destruídas pelos europeus 
durante 400 anos de guerras para imposição da 
dominação ocidental, política, cultural e econômica. A 
imposição do comércio europeu de produtos africanos 
e do comércio de seres humanos, cativos africanos 
transformados em escravizados nas Américas, foi a 
que produziu maior devastação no continente africano. 
Hoje existe uma desigualdade social e econômica entre 
a África e a Europa em razão de o europeu ter 
subdesenvolvido o continente africano (CUNHA 
JUNIOR, 2010, p. 15).” (p. 81) 
“A história da África não começa no ano de 1500 e não 
pode ser resumida ao episódio da escravidão de suas 
populações durante quatrocentos anos de história do 
Brasil.” (p. 81) 
 
b. Heranças coloniais africanas e a formação de um 
país chamado Brasil 
É mentira o mito da imigração de bandidos portugueses 
para o Brasil 
O objetivo da coroa portuguesa era sustentar os 
próprios luxos e pagar os investimentos feitos pela 
burguesia (que financiava as viagens de navio e 
exploração) 
Primeira matéria-prima explorada → pau-brasil 
Poucos portugueses exploradores → 
conseguiam se “infiltrar”, se assimilar à cultura 
indígena 
No entanto, os indígenas não deixaram que os 
brancos tomassem suas terras de graça; houve 
conflitos 
Problema da coroa → falta de mão de obra: indígenas 
eram um obstáculo para a posse de terra, embora 
fossem uma boa fonte de mão de obra barata. Contudo, 
por conta do genocídio para conquistar as terras, sua 
população diminuiu consideravelmente 
Coroa investe em trazer homens e mulheres da África, 
principalmente Congo e Angola, pois eram grandes 
produtores agrícolas e possuíam tecnologias que 
Portugal não tinha 
 
c. Diáspora, travessia dos escravizados e o 
constrangimento de seres humanos à condição de 
objetos 
A partir de 1550 → começam a chegar os escravizados 
Escravidão já era extinta na Europa, mas retornou com 
um capitalismo moderno, baseado na exploração 
colonial, com uma economia mercantil e trabalho não 
assalariado 
“Índios e negros têm uma posição demarcada num 
sistema de relações sociais concretas, sistema que é 
orientado de modo vertical: para cima e para baixo, 
nunca para os lados.” (p. 84) 
Desumanização dos escravizados → colocando-os em 
condições deploráveis de sobrevivência e apagando 
sua cultura e história 
“Desterrados de seu continente, separados de seus 
laços de relação pessoal, ignorantes da língua e dos 
costumes, os recém-chegados se transformavam em 
boçais (na época, boçal queria dizer “aquele que não 
conhece a língua” e era o termo oposto a ladino, que se 
referia aos cativos já ambientados ou nascidos no 
país). Entendido como propriedade, uma peça ou coisa, 
o escravo perdia sua origem e sua personalidade.” (p. 
86) 
Aspectos da forte presença africana na formação do 
Brasil, segundo Munanga e Gomes (2006): 
Campo econômico → escravizados, 
construíram as riquezas e a sustentar a 
empresa colonial portuguesa 
 Campo demográfico → povoamento do país 
Campo cultural → influência linguística, 
religiosa, artística 
 
d. Resistência negra e movimento abolicionista: 
antes e depois da Lei Áurea 
Alguns historiadores distinguem a resistência negra 
contra a escravidão em dois tipos: a passiva e a ativa. 
No entanto, fazer esse tipo de distinção acaba levando 
a desvalorização da dita resistência passiva, que dá a 
entender que os escravizados ficaram numa posição 
passiva, sem ação, apenas aceitando sua condição 
Um dos principais exemplos de resistência contra o 
regime de escravatura foram os quilombos → eram 
unidades básicas de resistência dos escravizados; 
“Nele se incluem não apenas negros fugitivos, mas 
também índios perseguidos, mulatos, pessoas 
perseguidas pela polícia em geral, devedores do fisco, 
brancos pobres, mulheres sem profissão ou prostitutas” 
(p. 89) 
“Na África, a palavra quilombo refere-se a uma 
associação de homens, abertas a todos. [...]” (p. 89) 
Nos quilombos, havia uma forma de viver diferente 
daquela implantada pelos escravizadores e 
colonizadores; existiam novas formas de organização 
social 
O movimento de resistência pouco se relaciona ao 
movimento abolicionista, cujo objetivo era diminuir os 
impactos da abolição para os escravizadores. Existiram 
três grandes leis abolicionistas: Ventre Livre (1871), 
Sexagenários (1885) e Áurea (1888) 
“Não houve qualquer planejamento do poder público no 
sentido de incorporar a mão de obra negra 
recém-liberta ao novo mercado de trabalho nacional 
naquele momento, tampouco se pensou em qualquer 
forma de indenização aos escravos pelos anos (e 
séculos) de exploração sem qualquer tipo de 
remuneração. Ao contrário, as leis abolicionistas 
garantiam aos senhores, donos dos escravos, altas 
indenizações quando da libertação de cada um de seus 
trabalhadores.” (p. 89) 
Migração do povo para as periferias dos 
centros urbanos 
Exposição do grupo a um processo de 
competição desigual por conta do projeto de 
“branqueamento”, que trazia imigrantes “mais 
capacitados” 
“Essa tática de enviar negrosà guerra [do Paraguai] 
serviu, de um lado, para branquear a população 
brasileira e, de outro, para justificar a política 
imigrantista que era patrocinada por parcelas 
significativas do capitalismo nativo e pelo governo de D. 
Pedro II.” (p. 90) 
 
7) Identidade, interação e diversidade: por uma 
educação cidadã 
Mesmo após a abolição, o preconceito e frases que 
colocam os negros como inferiores aos brancos 
continuaram a ser perpetuados em diversas mídias 
Destaque: livros de Monteiro Lobato → “Essa é uma 
crítica corrente entre os estudiosos e militantes do 
movimento negro, que veem nos textos de Monteiro 
Lobato a reprodução dos estereótipos do negro como 
submisso e subserviente, visto que, ‘embora liberto, 
não poderia sobreviver sem a tutela do senhor, pois era 
hereditariamente predisposto ao trabalho servil e 
desprovido de qualquer autonomia enquanto pessoa’; 
além disso, em suas descrições físicas de negros, os 
traços africanos se comparam muito aos de animais, 
fato que, inclusive, foi objeto de fortes críticas a um de 
seus livros escolhido pelo MEC para ser distribuído aos 
alunos da rede pública” (p. 93) 
Literatura clássica brasileira ajudou a manter intactos 
os estereótipos de cunho racista, com a mídia atual não 
é diferente → negros com posições subalternas, 
inferiores; tais representações são internalizadas pelos 
próprios negros (“aceitação passiva”) 
“Em primeiro lugar, a sociedade que discrimina a 
população de ascendência negra se supõe 
branco-europeia. Contudo, não o é. Em segundo lugar, 
essa sociedade discriminadora é marcadamente negra 
em termos culturais. Vive, consome e tem 
internalizados em sua cultura valores negros. Estranho, 
não? Flagramos agora uma ironia peculiar da terra 
brasilis: aqui, os brancos (ou supostos), quando 
agridem os negros, ofendem a si mesmos. Isso porque 
eles também são meio negros/meio brancos, curtindo e 
vivenciando a cultura negra (SANTOS, 2001, p.149).” 
(p. 94-95) 
A teoria de Pierre Bourdieu, sociólogo francês, 
oferece-nos outra forma de compreender a 
configuração desse racismo à brasileira, por meio do 
que ele denominou violência simbólica. Bourdieu 
entende os mecanismos sutis de dominação social 
utilizados por indivíduos, grupos ou instituições e 
impostos sobre outros. Nesse sentido, por meio da 
violência simbólica, a construção da identidade 
brasileira enraíza-se na interiorização por todos os 
brasileiros (todos mestiços, afinal), de normas 
enunciadas pelos discursos dos estrangeiros que nos 
colonizaram (tipificado pelo “branco homem europeu 
capitalista”). Explicando melhor, seria assumir o 
universo simbólico de outro sem perceber que essa 
“transferência” é feita na forma de uma dominação no 
plano simbólico.” (p. 95-96) 
“O caso é que uma criança negra, por exemplo, que 
assiste a essas cenas cotidianamente, percebe e 
interioriza a mensagem transmitida pelas atitudes da 
professora: “não estou sendo elogiada porque não sou 
tão bonita, não tenho um corte de cabelo tão bonito, não 
estou tão bem vestida, não sou tão inteligente...”, isto é, 
esses estereótipos vão sendo assimilados como 
verdades pela criança, que é vítima dessa violência 
simbólica ao ponto de, quando crescer um pouco, 
querer alisar seus cabelos e pintá-los de loiro, por 
exemplo, reproduzindo então os discursos construídos 
anteriormente a partir de um referencial branco” (p. 96) 
“Esse sentimento está pautado pela mensagem 
transmitida às crianças de que, para ser 
humanizado, é preciso corresponder às 
expectativas do padrão dominante, ou seja, ser 
branco.” (p. 96) 
 
a. O processo de construção da identidade na 
infância e na juventude: a igualdade jurídica em 
meio a uma sociedade hierárquica 
Identidade → junção/intersecção entre os valores do 
grupo social (que existem antes do nascimento do 
indivíduo) e da experiência do sujeito, de como ele 
interioriza esses valores e age sobre o mundo 
Socialização ou endoculturação → Processo 
que explica a transmissão e a aprendizagem de 
comportamentos dentro de uma mesma cultura 
(geralmente quando se é criança), feito pela 
educação, pela imitação e pelo 
condicionamento do meio social. 
Cabe a cada um selecionar, entre as coisas 
previamente dadas pelo ambiente social, aquilo 
que para ele faz maior ou menor sentido 
Cultura não é algo acabado; está sempre em 
movimento, sendo fruto e síntese do diálogo e da inter-
relação entre os sujeitos 
A construção da identidade brasileira não pode deixar 
de levar em consideração a miscigenação e a 
pluralidade de culturas que constituem o povo 
A identidade se constrói no plano simbólico, com os 
significados, com os valores, crenças etc. que vão se 
assumindo na relação com o outro 
“A consciência de uma cultura própria vence o 
sentimento de inferioridade diante da cultura opressora” 
(p. 99) → “A força advinda da (re) apropriação dos 
valores de origem certamente propicia a passagem do 
medo e vergonha de não ser branco ao orgulho de ser 
negro e estimula o impulso de reivindicação de direitos 
humanos, entre os quais os de cidadania” (p. 100) 
Interculturalidade → “prática de vida que pressupõe a 
possibilidade de convivência e coexistência entre 
culturas e identidades, [...] visando a superação da 
intolerância e da violência entre indivíduos e grupos 
sociais culturalmente distintos” (p. 99) 
Professor → uma das principais figuras no processo 
de ressignificação da identidade 
 
 
 
b. Diversidade e currículo: desafios para a prática 
educativa 
Importância do livro didático → fonte de leitura (muitas 
vezes a única fonte de leitura disponível para o aluno e 
sua família ou para o preparo das aulas por parte do 
professor) 
Pesquisas mostram que a maioria dos livros didáticos 
peca em minimizar os fatos históricos e acaba por 
estigmatizar ou caricaturar segmentos sociais como 
idosos, mulheres, negros, trabalhadores etc., o que 
reforça os estereótipos. Além disso, há a invisibilidade 
desses grupos sociais desfavorecidos 
“A falta de representatividade negra e indígena ou de 
figuras de pessoas negras desempenhando os mais 
diversos papéis sociais, por exemplo, faz com que a 
criança afrodescendente não tenha parâmetros de 
igualdade e diversidade para a construção de sua 
identidade étnico-racial. Ou mesmo dos índios fora da 
visão estigmatizada de uma cultura parada no século 
XVI, quando os portugueses aqui chegaram” (p. 102-
103) 
“A invisibilidade e o recalque dos valores históricos e 
culturais de um povo, bem como a inferiorização dos 
seus atributos adscritivos, através de estereótipos, 
conduz esse povo, na maioria das vezes, a desenvolver 
comportamentos de autorrejeição, resultando em 
rejeição e negação dos seus valores culturais e em 
preferência pela estética e valores culturais dos grupos 
sociais valorizados nas representações.” (p. 104) 
Professores devem trabalhar ativamente na 
desconstrução de estereótipos, na representatividade 
de todos os segmentos sociais e na valorização das 
diversidades étnico-raciais 
Todos os envolvidos na educação brasileira devem 
tomar a decisão política pela igualdade nas relações 
étnico-raciais. Todos eles estão convocados para 
realizar mudanças nos currículos (pela Lei nº 
10.639/2003), nos planos de ensino, nos materiais 
didáticos etc. 
O objetivo é promover o reconhecimento, o respeito e a 
garantia das diversidades culturais e, de forma 
especial, da população afrodescendente no Brasil. 
 
8) Educação e promoção da igualdade racial: 
estratégias e possibilidades 
Além de revisar os livros didáticos e os planos de aula, 
é importante que o professor conheça a realidade dos 
alunos, de modo a implementar projetos que sejam 
mais efetivos e de acordo com a realidade sociocultural 
dos educandos 
Para Silva (2003), existem alguns passos importantes 
que os professores devem seguir: 
 • Ouvir as concepções préviasdos alunos 
• Fazer com que os alunos entendam que as 
concepções resultam do que as pessoas falam 
e das nossas observações e estudos (?) 
• Desafiar os alunos para que reformulem suas 
concepções prévias por meio da pesquisa e do 
debate 
• Incentivar a observação ativa/crítica da vida 
cotidiana 
• Combater os próprios preconceitos e ter 
desejo sincero em superar sua própria 
ignorância 
• Organizar planos de trabalho que coloquem o 
aluno em ação 
Existem, também, três pontos principais da pedagogia 
antirracista: 
 • Respeito 
 • Reconstrução do discurso pedagógico 
• Estudo da recriação das diferentes raízes da 
cultura brasileira (de modo que não sejam mais 
baseadas na visão dos colonizadores, mas de 
modo a dar mais ênfase à realidade dos 
afrodescendentes e enfatizar também sua 
participação na história brasileira) 
“Precisamos, no nosso trabalho cotidiano, incorporar o 
discurso das diferenças não como um desvio, mas 
como algo enriquecedor de nossas práticas e das 
relações entre as crianças” (p. 107) 
Quando à realidade indígena: 
 • Pensar na realidade dos povos 
• Desvincular a ideia de que todos foram 
exterminados 
• Dar ênfase nas socio diversidades dos 
indígenas 
• Evidenciar a participação histórica dos 
indígenas 
Luta diária contra o assujeitamento (maneira de 
modelar as pessoas de uma mesma forma)

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