Prévia do material em texto
Neurologia EPILEPSIA INTRODUÇÃO ● Estima-se que acometa 65 milhões de pessoas ● Crise epiléptica não é o mesmo que convulsão → A epilepsia não é só a crise convulsiva, ou seja, a crise tônico-clônico generalizada: o paciente pode ficar parado, ausente ou mesmo sentir formigamentos de forma paroxística. ● Se o paciente apresenta uma queixa de forma paroxística, ou seja, que se apresenta como convulsões ou espasmo agudo, sempre investigar epilepsia É normal ter epilepsia aos 65 anos? Sim. A incidência é grande nos primeiros anos de vida (por conta de síndromes genéticas ou complicações da gestação) e também após 65 anos. → É uma doença bimodal Qual a diferença entre convulsão e crise epiléptica? Convulsão = crise tônico-clônico generalizada. O paciente fica rígido e se debate Crise epiléptica = ocorrência transitória de sinais ou sinais decorrente de atividade neuronal excessiva e assíncrona Toda convulsão é uma crise epiléptica mas nem toda crise epiléptica é uma convulsão ETIOLOGIA Quais fatores podem provocar epilepsia? ● Infecção ● Eclampsia ● Tumor cerebral ● Trauma 2 ● Retirada abrupta de medicação (anticonvulsivante, antidepressivo) ● Doença cerebrovascular Muitas vezes a etiologia é multifatorial. Ex: causa genética e estrutural. Qual a fisiopatologia? Há uma mudança na na rede neuronal cortical que estimula vários neurônios a disparar de maneira excessiva → excesso de atividade excitatória e perda de atividade inibitória. Assim as sinapses ocorrem de maneira desregulada e excessiva. O paciente pode evoluir com manifestações clínicas ou apenas eletrográficas. Qual o local de acometimento mais comum? Epilepsia do lobo temporal é a mais comum Como investigar etiologia? Exames de imagem, exames genéticos e laboratoriais DIAGNÓSTICO Inicialmente, é feito a partir da história clínica e, se necessário, utilizamos exames como EEG e exames de imagem. Durante a anamnese, muitas vezes, além do paciente, ouvimos o acompanhante, pois o paciente não sabe relatar/ não lembra como a crise começou e como se comportou durante a crise 1. Detalhar sintomas durante a anamnese - Como foi o evento? - O que ele sentiu? - Houve sintomas precedentes (aura)? → esses sintomas ajudam a identificar o início da crise e falam a favor de crise focal 2. Definir se é uma crise mesmo - A manobra vagal pode simular uma síncope seguida de crise, e não é epilepsia, mas sim uma síncope vasovagal. Causa: longos períodos de pé, alteração postural, calor, alteração emocional, síncopes tem sintomas precedentes (visão borrada, afasia, visão turva, diaforese, desconforto abdominal…) - CNEP: crise não epiléptica de origem psicogênica - Delirium, tiques, estereotipias… → também não são epilepsia, importante diferenciar 3 3. Definir se a crise é provocada, sintomática aguda ou reflexa - Crise provocada = tem algum fator causal. Ex: paciente com hipoglicemia teve uma crise. - Crise reflexa = crise provocada por sentido sensorial. Ex: crise toda vez que toma banho gelado/ se alimenta - Crise sintomática aguda: Crise que ocorre com íntima relação temporal de até 7 dias e que agrida o SNC. Ex: AVC hemorrágico/ isquêmico, hematoma subdural. Quando o evento cessa, a chance da pessoa ter uma crise é muito pequena. - Crise remota: crise depois de 7 dias da instalação de um AVC, hematoma, etc Critérios: (para diagnóstico é preciso pelo menos 1) 1. Pelo menos duas crises não provocadas ou reflexas que ocorrem em um intervalo maior que 24h 2. Uma crise não provocada e uma chance de pelo menos 60% de recorrência nos próximos 10 anos 3. Diagnóstico de uma Síndrome epiléptica Os pacientes que preenchem estes critérios devem ser medicados Quais os fatores preditores de recorrência nos próximos 10 anos? ● A crise ocorreu a noite ● Paciente que tem tumor cerebral ● Paciente com alteração eletrográfica Ex: Quando o paciente chega ao PS por conta de uma crise possivelmente epiléptica, o ideal é fazer o eletroencefalograma. Se tiver alguma alteração, como paroxismo generalizado, ele tem 60% de chance de recorrer em 10 anos. O que é síndrome epiléptica? Síndrome epiléptica = manifestação clínica característica + manifestação eletrográfica característica O que são CNEP? Crises não epilépticas de origem psicogênicas. Porém, o paciente não finge conscientemente os movimentos. Conscientemente, o paciente acredita que teve crise. O que fala a favor de CNEP? ● Curso flutuante (abalos que começam rápido e diminuem de intensidade) ● Mexer muito a cabeça durante a crise 4 ● Bascular o quadril ● Em CNEP, geralmente mordem a ponta da língua, e em crises epilépticas geralmente mordem a lateral ● Sem alterações no EEG concomitantes aos movimentos. Ou seja, não tem alterações neurológicas que causam crise ● Muitas vezes, os pacientes com CNEP tem transtornos psiquiátricos É difícil diferenciar, por isso, muitas vezes é necessário internar e utilizar EEG. Os pacientes com CNEP devem ser medicados? A maior parte dos pacientes com CNEP são epilépticos, por isso não retire os medicamentos por conta disso, se já estiverem tomando. Como proceder diante de uma pessoa que teve a primeira crise? ● O primeiro evento pode ser crise sintomática aguda ou provocada. Investigar fatores que poderiam provocar (já descritos na parte de Etiologia) ● Depois de uma primeira crise não provocada, a pessoa tem chance de recorrer em 30% em 5 anos. → por isso o tratamento não é indicado ● A partir da segunda crise, a chance é 75% → por isso devemos tratar nesse momento O que fala a favor da crise focal e o que fala a favor da crise generalizada? Crise focal: consegue avisar antes que ocorra a crise Crise generalizada: geralmente não consegue avisar antes → tem um apagão e não lembra de mais nada CLASSIFICAÇÃO DA CRISE A crise pode ser focal, generalizada ou inclassificável Focal ● Perceptiva/ Crises parciais simples: o paciente mantém a consciência do estado ao seu redor, ou seja, não há comprometimento do nível de consciência. Ex: paciente continua conversando durante a crise. Pode ser de 4 tipos: 1. Com sinais motores (inclusive crises jacksonianas, vesivas e posturais) 5 2. Com sintomas sensoriais (inclusive visuais, somatossensitivos, auditivos, olfativos, gustativos e vertiginosos) 3. Com sintomas psíquicos (inclusive disfasia ou alterações dismnésias, alucinatórias e afetivas) 4. Com sintomas autonômicos (inclusive sensação epigástrica, palidez, rubor e alterações pupilares) ● Disperceptiva/ Crises parciais complexas: não é sinônimo de perder a consciência. A pessoa não interage, não sabe o que está acontecendo ao redor, mas quem olha não percebe. Pode ser de 3 tipos: 1. Início como uma crise parcial simples, seguida de comprometimento da consciência 2. Com o comprometimento da consciência desde o início 3. Com automatismos ● Focal evoluindo para tônico-clônica bilateral/ Crises parciais que evoluem para crises generalizadas secundárias: começa com um sintoma (ex: mal estar gástrico) e depois evoluir para convulsão Crises epilépticas generalizadas de origem não focal (convulsivas ou não convulsivas) ● Motor: - Tônica: contração ou elevação bilateral dos membros. Ex: estender os braços de maneira sustentada e manter a posição por alguns segundos. - Atônica: perde o movimento de uma parte do corpo - Mioclônicas: abalos focais breves, súbitos - Hipercinética: movimento brusco e repetitivo. Fala a favor do acometimento de lobo frontal. ● Não motor: - Autonômica: sensação gastrointestinal ou qualquer outra alteração autonômica - Crises de ausência: olhar para o nada. As crises de ausência são desencadeadas por movimentos respiratórios. Por isso, quando investigamos, pedimos para o paciente assoprar durante a realização do EEG. - Cognitiva: o paciente tem um déficit cognitivo várias vezes por dia → sensação de déjà-vu ou jamais-vu, alucinação, sensação de estar saindo do corpo - Emocional: crise gelástica (começa a rir do nada) - Sensorial:sensação de formigamento em um membro 6 Normalmente, não consegue avisar antes da crise Como investigar isso na anamnese? Geralmente, nos casos em que o paciente não se lembra da crise, perguntamos a ele ou ao acompanhante se ele percebe o que está acontecendo ao redor durante a crise. Início desconhecido: não sabemos como começa. Ex: o paciente tem a crise dormindo e não consegue nos relatar isso. Quando fazer um EEG? Nas primeiras 12h TRATAMENTO ● Utiliza-se o termo MAC (Medicação anti crise), porque entendemos que a medicação não trata a epilepsia, e sim a crise. ● Inicialmente, fazer monoterapia com a menor dose possível. 30% evoluem para epilepsia refratária e precisam adicionar outro medicamento. 7 ● Se a epilepsia for generalizada, utilizar medicação de amplo espectro. Medicações de amplo espectro ● Levetiracetam ● Clobazam ● Felbamato ● Lamotrigina ● Brivaracetam ● Rufinamida ● Topiramato ● Ácido valpróico ● Zonisamida Epilepsia focal e focal evoluindo para crise tônico-clônica bilateral ● Carbamazepina ● Etosuximida ● Gabapentina ● Lacosamida ● Oxcarbazepina ● Fenobarbital ● Fenitoína ● Primidona ● Vigabatrina Politerapia racional: associar duas medicações com mecanismos de ação diferentes Múltiplos mecanismos de ação ● Ácido valpróico ● Lamotrigina ● Zonisamida Inibidor de anidrase carbônica ● Topiramato ● Acetazolamida ● Zonisamida Quando fazer profilaxia secundária? Ex: paciente teve AVC hemorrágico seguido de crise epiléptica. Tem indicação de fazer profilaxia secundária? A maioria dos guidelines indicam fazer profilaxia secundária. A profilaxia primária não é indicada. Em crises estruturais: profilaxia secundária por 6 meses a 1 ano. Em crises por causa infecciosa/ metabólica: profilaxia secundária por 7 dias 8 Quando o paciente é classificado como epilepsia resolvida? Quando o paciente está há 10 anos sem crise e, durante esse período, passou 5 anos sem medicação Quando pensar em suspender a medicação ou iniciar desmame? Paciente há 2 anos sem crise com o uso da medicação. REFERÊNCIAS Merritt tratado de neurologia / Elan D. Louis, Stephan A. Mayer, Lewis P. Rowland ; tradução Carlos Henrique de A. Cosendey ... [et al.]. 13. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2018.