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Conceitos Básicos Profa. Ma. Luana Cristina Silva Santos Psicopatologia II – SDE4027 Psicopatologia “Uma disciplina científica que estuda a doença mental em vários aspectos: suas causas, as alterações estruturais e funcionais relacionadas, os métodos de investigação e suas formas de manifestação (sinais e sintomas)”. (CHENIAUX, 2015). O objetivo da psicopatologia é oferecer um tratado das doenças mentais, que permita aos técnicos que trabalham nas equipes de saúde diagnosticar e tratar de acordo com o propósito, formação e objetivo de cada categoria profissional. Normal e patológico Canguilhem (2010) critica a ideia de que o patológico seria apenas uma variação quantitativa do normal. “Estabelecer uma norma para que se possa afirmar a existência de saúde ou doença apenas transforma estes conceitos em um tipo de ideal”. A visão de que doença pode ser efetivamente uma realidade objetiva – alheia ao processo de vida do sujeito – acessível ao conhecimento científico quantitativo. “Não há nada na ciência que antes não tenha aparecido na consciência e que, especialmente no caso que nos interessa, é o ponto de vista do doente que, no fundo, é verdadeiro”. Normal e patológico A saúde seria, portanto, mais do que ser normal: é ser capaz de estar adaptado às exigências do meio, e ser capaz de criar e seguir novas normas de vida. • “O normal é viver num meio onde flutuações e novos acontecimentos são possíveis". Portanto, o que é considerado patológico não possui uma existência em si mesmo, só podendo ser concebido numa relação contextual. A norma, não sendo uma média estatística, é algo individual, ou seja, uma noção que define as capacidades de uma pessoa. Assim, cada indivíduo teria sua concepção do que é normal para si, sabendo melhor do seu próprio sofrimento e podendo apenas ele contar sua experiência de adoecer. Critérios de normalidade Normalidade como ausência de doença: a ausência de sintomas, sinais ou de doenças é sinônimo de saúde. Normalidade ideal: estabelece-se uma norma ideal do que, supostamente, é um sujeito sadio. Normalidade estatística: o normal é aquilo que se observa com mais frequência. Normalidade como bem-estar. Normalidade subjetiva: o que prevalece aqui é como o sujeito se percebe em elação ao seu estado de saúde. A OMS definiu em 1946 a saúde como o complemento entre o bem-estar físico, mental e o social, e não somente como ausência de doença. Semiologia psiquiátrica Estudo dos sinais e sintomas dos transtornos mentais. Sinais: comportamentos objetivos, percebidos pela avaliação direta do paciente, são verificáveis (solilóquio...). Sintomas: vivências subjetivas relatadas pelo paciente, aparecem nas queixas (dor, sofrimento, ouvir vozes...). Entrevista (Anamnese) Principal instrumento de avaliação das condições psiquiátricas e psicológicas dos pacientes. Estruturada, coerente e organizada. Não pode ser feita de qualquer forma nem a partir só da vontade do entrevistador. Sua função é fornecer elementos para o estabelecimento de três aspectos fundamentais: o diagnóstico psiquiátrico (ou hipóteses diagnósticas), um possível prognóstico e a terapêutica necessária. João Vicente, 23 anos, encarregado de obra, comparece à emergência psiquiátrica por estar deprimido, sem vontade de trabalhar, choroso e ansioso. Ele conta toda a sua história de vida. Fala do trabalho, de sua esposa, dos filhos e de sua mãe. Já ao final da entrevista a psicóloga pergunta sobre o seu pai – do qual ele não havia falado durante toda a entrevista. Nesse momento, João se dá conta de que havia omitido sua relação com o pai, que coincidentemente fazia aniversário de falecimento nessa semana. O fato de a psicóloga estar atenta à omissão e trazer o tema para a entrevista permitiu que João pudesse se dar conta do imenso sofrimento que a falta do pai provocava nele. Estrutura da entrevista • Iniciais do nome completo do paciente, idade, sexo, nacionalidade, grau de instrução, profissão; estado civil, religião, número do prontuário. I. IDENTIFICAÇÃO • Explicita-se o motivo pelo qual o paciente recorre ao serviço em busca de atendimento. • Caso o paciente traga várias queixas, registra-se aquela que mais o incomoda. • Preferencialmente, em não mais de duas linhas, entre aspas, e nas palavras do paciente. • Ex.: “As voz fica na minha cabeça” II. QUEIXA PRINCIPAL (QP) Estrutura da entrevista • Registram-se os sintomas mais significativos; a época em que começou o distúrbio; como vem se apresentando; e sob que condições melhoram ou pioram. • Indaga-se se houve instalação súbita ou progressiva, e se algum fato desencadeou a doença ou episódios semelhantes que pudessem ser correlacionados aos sintomas atuais. Houve alguma alteração em interesses, hábitos, comportamento ou personalidade? Quais as providências tomadas? • Verifica-se se já esteve em tratamento, como foi realizado e quais os resultados obtidos, se houve internações e suas causas, bem como o que sente atualmente. • Pede-se ao paciente que explique, o mais claro e detalhadamente possível, o que sente. • Deve-se anotar se o paciente faz uso de alguma medicação colocar dose, duração e frequência. • Saber como o transtorno se manifesta e com que frequência, intensidade e tratamentos tentados. III. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL (HDA) • Os dados colhidos devem ser organizados da forma mais clara possível: como foi a infância, a adolescência, a vida adulta, como são os pais, o cônjuge, o emprego, os amigos etc. IV. HISTÓRIA PESSOAL (HP) • Aqui são verificadas as relações familiares, a começar pela filiação do paciente: Pais – idade; saúde; se mortos; causa e data do falecimento; ocupação; personalidade; novos casamentos se houver de cada um deles. Verificar se há caso de doença mental em um deles ou ambos. • Irmãos – idade; condições maritais; ocupação; personalidade. Indagar se há caso de doença mental. Apenas referir-se por iniciais. • Cônjuge – idade, ocupação e personalidade; compatibilidade; vida sexual; frigidez ou impotência; medidas anticoncepcionais. • Filhos – número; idades; saúde; personalidade. Também referir-se apenas pelas iniciais. • Lar – neste quesito, descrevem-se, em poucas palavras, a atmosfera familiar, os acontecimentos mais importantes durante os primeiros anos e aqueles que, momento, estão mobilizando toda a família; as relações dos parentes entre si e destes com o paciente. V. HISTÓRIA FAMILIAR (HF) • Investigar os antecedentes mórbidos do paciente. •Devem constar somente as doenças e enfermidades físicas: viroses comuns da infância, desmaios, convulsões e sua frequência, doenças, operações, acidentes, traumatismos (sintomas, datas, duração), internações e tratamentos. VI. HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA (HPP)) • Registro da observação do entrevistador ou terapeuta, no momento da(s) entrevista(s). VII. EXAME PSÍQUICO (EP) Apresentação Refere-se à impressão geral que o paciente causa no entrevistador. Compreende: a. Aparência: tipo constitucional, condições de higiene pessoal, adequação do vestuário, cuidados pessoais. Não confundir com a classe social a que pertence o indivíduo. b. Atividade psicomotora e comportamento: mímica – atitudes e movimentos expressivos da fisionomia (triste, alegre, ansioso, temeroso, desconfiado, esquivo, dramático, medroso, etc.); gesticulação (ausência ou exagero); motilidade – toda a capacidade motora (inquieto, imóvel, incapacidade de manter-se em um determinado local); deambulação – modo de caminhar (tenso, elástico, largado, amaneirado, encurvado etc.). c. Atitude para com o entrevistador: cooperativo, submisso, arrogante, desconfiado, apático, superior, irritado, indiferente, hostil, bem-humorado etc. d. Atividade verbal: quando o sujeito está normalmente responsivo às deixas do entrevistador, não espontâneo (tipo pergunta e resposta), quando fala muito, está exaltado ou fala pouco e está taciturno. Processos psíquicos e suas alteraçõesManuais básicos para critérios diagnósticos O Manual de diagnóstico e estatística dos transtornos mentais, ou DSM-V, foi criado pela Associação Americana de Psiquiatria. A versão atualizada saiu em maio de 2013 e substitui o DSM- IV, criado em 1994 e revisado em 2000. Desde o DSM-I, criado em 1952, esse manual tem sido uma das bases de diagnósticos de saúde mental mais usadas no mundo. A Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (também conhecida como Classificação Internacional de Doenças – CID-10) é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e busca padronizar a codificação de doenças e outros problemas relacionados à saúde. Atualmente, desde 1 de janeiro, passou a vigorar a CID-11. https://icd.who.int/en Que é loucura: ser cavaleiro andante ou segui-lo como escudeiro? De nós dois quem é o louco verdadeiro? O que, acordado, sonha doidamente? O que, mesmo vendado, vê o real e segue o sonho de um doido pelas bruxas embruxado? Carlos Drummond de Andrade
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