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PROBLEMAS AMBIENTAIS TENDÊNCIAS GLOBAIS aula 4

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AULA 4 
PROBLEMAS AMBIENTAIS –
TENDÊNCIAS GLOBAIS 
Prof.ª Aline Bisinella Ianoski 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Embora o solo seja um recurso natural imprescindível para a manutenção 
da vida na Terra, durante muito tempo ele foi explorado de maneira inadequada, 
o que resultou em uma série de modificações, que vão desde alterações físicas 
(como a erosão e a desertificação) até contaminações por pesticidas e 
hidrocarbonetos derivados do petróleo. 
Nesta aula, esperamos que você seja capaz de entender como o solo é 
formado, identificar seus principais problemas ambientais e conhecer as 
alternativas para tratamento e remoção dos seus principais contaminantes. Ao 
final deste material, será relatado um estudo de caso, a fim de exemplificar 
brevemente como identificar o problema e buscar uma solução para ele. 
TEMA 1 – O SOLO 
Nos primórdios, o solo era visto pelo homem apenas como uma base para 
sua locomoção e como suporte para as plantas e animais. À medida que a 
humanidade passou a semear e cultivar alimentos, as comunidades foram se 
estabelecendo em um único local. Enquanto essas civilizações eram pequenas, 
quando o solo se tornava pobre e infértil, toda a comunidade mudava-se em busca 
de um novo local para se estabelecer. Quando essas populações cresceram, a 
mudança constante de lugar tornou-se algo inviável (Braga et al. 2005). 
As populações que foram capazes de manejar o solo adequadamente 
conseguiram se estabilizar e se desenvolver, porém outras comunidades que 
fizeram mau uso desse recurso acabaram extintas (Pérez; Brefin; Polidoro, 2016). 
Alguns anos mais tarde, quando ocorreu a industrialização e o crescimento 
populacional, a demanda por alimentos, combustíveis, áreas para moradia e 
instalações fabris aumentaram. Grandes áreas foram desmatadas para aumentar 
as zonas de plantio e obter o carvão vegetal, muito utilizado na Revolução 
Industrial, além da madeira para edificações. Como resultado, aqueles problemas 
que antes eram locais passaram a ter proporções ainda maiores, resultando nos 
desastres ambientais que vemos até hoje. 
Não se pensava no solo como um recurso fundamental no equilíbrio dos 
ecossistemas, porém ele interage com os demais compartimentos ambientais. A 
essa camada dá-se o nome pedosfera (Molina Júnior, 2017) (Figura 1). 
 
 
 
3 
Figura 1 – Processos interativos do relacionamento da pedosfera com a biosfera, 
atmosfera, hidrosfera e litosfera 
 
Fonte: Adaptada de Lal et al.,1998 citado por Pérez, Brefin e Polidoro, 2016. 
Por meio da Figura 1 podemos concluir que quando alteramos a pedosfera 
estamos influenciando também na sua atuação como reguladora do 
abastecimento de água, recicladora de matérias-primas, agente modificadora da 
atmosfera, meio para as obras de engenharia e para o desenvolvimento da 
agricultura e silvicultura, além de ser o habitat para diversos organismos (Brady; 
Weil, 2013). Para o uso e ocupação adequados do solo é necessário conhecer o 
seu processo de formação, as suas características e as suas limitações. 
1.1 A formação do solo 
A crosta terrestre é formada por 3 tipos de rochas, as magmáticas (ou 
ígneas), as sedimentares e as metamórficas. As rochas magmáticas (ou 
ígneas) são resultado da solidificação do magma, as sedimentares são formadas 
pela deposição de partículas de outras rochas expostas na superfície, e as 
metamórficas são formadas sob altas pressões e temperaturas. 
Quando qualquer uma dessas rochas sofre ação do intemperismo1, ela vai 
se degradando e formando partículas cada vez menores. Essas partículas, ao se 
 
1 Ações físicas, químicas e biológicas que causam a desagregação das rochas e consequente 
formação dos solos (Braga et al., 2005). 
 
 
4 
misturarem com material mineral, matéria orgânica, água e ar, constituem o 
solo, que é a camada que cobre a crosta terrestre (Braga et al., 2005). 
A formação do solo está relacionada a: material de origem (rocha matriz), 
idade (tempo), relevo, clima e matéria orgânica. Esses cinco fatores são 
responsáveis pelos inúmeros tipos e formas de solo que existem (Braga et al., 
2005). As camadas que formam o solo são denominadas horizontes do solo e 
podem ser visualizadas por meio do que chamamos perfil do solo (Figura 2). 
Figura 2 – Perfil do solo 
 
 
Crédito: Khadi Ganiev/Shutterstock. 
Por meio da Figura 2 podemos observar que existem quatro horizontes 
principais em um solo, que diferem entre si (Quadro 1). 
 
 
 
 
O 
 
 
 
 
A 
 
 
 
 
B 
 
 
 
 
C 
 
 
 
 
 
 
5 
Quadro 1 – Os horizontes do solo 
Horizontes do solo 
O 
Há presença de material orgânico em processo recente de decomposição sobre uma 
camada de material em decomposição mais avançada. Geralmente, apresenta coloração 
preta ou marrom. 
A O material orgânico é misturado com o material mineral. A coloração varia de cinza-escuro 
a marrom. A lixiviação2 carrega a argila e outros materiais desta camada para o horizonte B. 
B 
Também é conhecido como zona de acumulação. Há presença de carbonato, argila, sílica e 
óxidos de ferro e alumínio, que podem ser resultado da lixiviação das camadas superiores 
ou simplesmente resultado do intemperismo deste mesmo local. 
C 
Apresenta material parcialmente intemperizado na parcela próxima ao horizonte B pela 
presença de algumas raízes, microrganismos e reações bioquímicas, e um local menos 
intemperizado, mais próximo à rocha solidificada. 
Fonte: Adaptado de Braga et al., 2005; Botkin e Keller, 2011; Brady e Weil, 2013. 
 A avaliação de características, como cor, textura, estrutura, pH e 
composição do material mineral, principalmente silte, argila e areia, nos traz 
informações sobre o tipo de solo e, consequentemente, qual será o uso e a 
ocupação mais adequados. 
Quando não há preocupação em avaliar o solo previamente para definir as 
atividades que podem ou não ser desenvolvidas na região, uma série de impactos 
ambientais, tanto físicos como químicos e biológicos, pode acontecer. 
TEMA 2 – DEGRADAÇÃO DO SOLO 
A degradação do solo pode ocorrer por processos naturais, como o 
intemperismo, e também como reflexo de atividades antrópicas, como a 
agricultura, o turismo ou a urbanização. Entre os processos naturais estão: a 
desertificação, a salinização, a compactação e a erosão. 
A desertificação é um processo que ocorre em regiões áridas, semiáridas 
e subúmidas secas. Ou seja, em locais em que quase não chove, em que se 
evapora muito mais do que se precipita, sendo locais naturalmente frágeis. Essa 
alteração do solo pode ocorrer tanto por ações antrópicas, como o sobrepastoreio, 
quanto por processos naturais, como as secas prolongadas, nas quais o solo 
 
2 Infiltração de água ou outros líquidos no solo que acabam promovendo a dissolução, 
drenagem, lavagem e transporte de materiais, nutrientes, poluentes dentro do solo (Botkin; 
Keller, 2011). 
 
 
6 
perde nutrientes, umidade e torna-se cada vez mais árido, até se transformar em 
um deserto (Vieira et al.,2015). 
Existem alternativas para a prevenção ou recuperação dessas áreas. Entre 
elas estão: a construção de barreiras subterrâneas para contenção da água, a 
recuperação da mata ciliar e de plantas resistentes, assim como a instalação de 
sistemas de irrigação por gotejamento. Nessas regiões, a erosão geralmente é 
severa, pois, ainda que a chuva seja escassa, ela tende a ser intensa (Botkin; 
Keller, 2005). 
A salinização ocorre em solos que não possuem drenagem e que estão 
em uma região árida ou semiárida, o que favorece a evapotranspiração. Sendo 
assim, quando a chuva cai, a água fica retida, mas quando ela evapora, os sais 
minerais presentes na solução do solo3 continuam no mesmo lugar, não sendo 
lixiviados para as outras camadas, tornando este solo saturado em sais (Allen; 
Metternicht; Wiedmann, 2017). Os principais causadores da salinizaçãodo solo, 
além dos fatores naturais, são a irrigação e a fertirrigação inapropriadas dos 
cultivos (Silva et al., 2013). 
Algumas alternativas para recuperar o solo são: adição de solução de 
sulfato de cálcio (gesso agrícola), que irá auxiliar na permeabilização do solo e na 
lixiviação dos sais, e plantação de espécies tolerantes à salinidade (Sá, 2013; 
Albuquerque et al., 2018). 
A compactação do solo é um processo oriundo da movimentação de 
animais e veículos. Nesse processo há aumento da densidade e redução da sua 
porosidade devido à retirada de ar do solo. Em níveis intermediários a 
compactação do solo pode favorecer a fixação das plantas quando comparada a 
solos muitos desagregados, mas quando existe um alto nível de compactação, o 
enraizamento é prejudicado e a obtenção de água e nutrientes também. 
 As alternativas preventivas podem ser realizadas por meio da manutenção 
da umidade do solo, do controle do tempo de pastagem dos animais e da 
passagem e pressão exercida pelas máquinas, assim como pela colocação de 
esteiras de borracha. Para solos já compactados, existe a possibilidade de 
introdução de minhocas e plantas com diferentes sistemas radiculares e da adição 
de matéria orgânica (Reichert; Suzuki; Reinert, 2007). 
 
3 Corresponde à parte líquida do solo. 
 
 
7 
A erosão é um processo que está relacionado a todos os processos de 
degradação já citados. Por esse motivo, ela será apresentada em um novo 
subitem. 
2.1 Erosão 
A erosão do solo diz respeito à perda de solo de uma região. Ocorre pela 
ação do intemperismo e representa uma etapa natural da pedogênese.4 O 
processo erosivo promove a renovação lenta e constante do solo e se dá em três 
fases: desprendimento, transporte e deposição (Panachuki et al., 2006). 
O desprendimento refere-se à desagregação da estrutura do solo; o 
transporte é o arraste dos fragmentos do solo; e a deposição corresponde à 
sedimentação do material em um novo local. 
Alguns fatores que influenciam na erosão dos solos são: clima, 
declividade do terreno, tipo de solo e manejo do solo (Lepsch, 2010): 
• clima: a água e o vento são os principais agentes erosivos; 
• declividade do solo: conforme a inclinação do terreno, o arraste das 
partículas do solo pode ser lento ou rápido; 
• tipo de solo: as características físicas do solo, como textura, 
permeabilidade e profundidade, determinam a vulnerabilidade dos solos; 
• manejo do solo: o manejo inadequado do solo pode vir a ocasionar o 
aceleramento dos processos erosivos. 
As atividades antrópicas podem causar a aceleração do processo erosivo 
no empobrecimento do solo, a queda da produtividade e qualidade dos alimentos, 
a inundação de cidades no assoreamento dos corpos hídricos pelo transporte e a 
deposição das partículas do solo (Wang et al., 2016). 
A erosão é um problema global e afeta as regiões do mundo de diferentes 
maneiras. Recentemente, foi divulgado que dos 49 sítios pertencentes ao 
Patrimônio Mundial Cultural da Unesco que ficam nas regiões costeiras baixas do 
Mediterrâneo, 42 correm risco de erosão (Reimann et al., 2018). A China sofre 
com erosões caudadas pelo desmatamento e práticas agrícolas intensivas e não 
sustentáveis. No litoral sul da Califórnia, o aumento acelerado do nível do mar e a 
consequente erosão costeira podem acabar com as praias e construções 
localizadas na região costeira (Vitousek, 2017). 
 
4 Processo de formação do solo. 
 
 
8 
No Brasil, o desmatamento, a pecuária e a agricultura são atividades 
antrópicas que se destacam como potencialmente capazes de provocar o 
aceleramento do processo erosivo. Isso porque o desmatamento expõe o solo às 
intempéries, a pecuária transforma áreas enormes em pasto (além do solo ser 
constantemente pisoteado e compactado pelo gado), e a agricultura é praticada 
de modo insustentável e intensivo, sem avaliar a capacidade de recuperação do 
solo. 
Ao remover a cobertura vegetal de um solo, retira-se a sua proteção. Sem 
as plantas e suas raízes, as gotas de chuva caem com mais impacto, a força do 
vento não é dissipada e a infiltração ocorre mais rapidamente, lavando as 
partículas de solo e levando os seus nutrientes para as regiões sedimentares. 
Progressivamente, esse solo perderá a sua fertilidade e o seu potencial de 
produtividade. 
Existem quatro formas de erosão: a laminar, os sulcos, as ravinas e as 
voçorocas. 
A erosão laminar remove a camada superficial do solo. Já os sulcos são 
representados por incisões rasas na superfície. As ravinas e voçorocas 
representam erosões em estágios mais avançados, sendo a primeira resultante 
do aprofundamento dos sulcos e a segunda, a mais grave, é resultado da 
combinação da ação das águas do escoamento superficial e subterrâneo, 
formando grandes valas no terreno e de difícil recuperação. 
Para prevenir a erosão é necessário manter a cobertura do solo, já que as 
plantas impedem o seu carregamento pela chuva e pelo vento, assim como 
permitem a constante troca de nutrientes. Nos casos em que o processo erosivo 
já acontece, mas não está em estágio avançado, há a possibilidade de se repor a 
vegetação e assim estabelecer novos caminhos para a água da chuva por meio 
da correção do sistema de drenagem. 
Nos casos em que o processo erosivo já está bem avançado nem sempre 
é possível ou vantajoso economicamente solucionar o problema. Porém, caso a 
área seja pequena e exista a necessidade de proteger áreas ainda não atingidas 
pela erosão, pode-se captar a água da chuva e desviá-la por manilhas antes que 
atinjam as áreas susceptíveis, como também construir barreiras físicas e colocar 
mantas orgânicas (fibra de coco) para reforçar os declives (Verdum; Vieira; 
Caneppele, 2016). 
 
 
9 
TEMA 3 – CONTAMINAÇÃO DO SOLO 
A contaminação do solo pode ocorrer de diversas maneiras. Neste tópico 
falaremos sobre as três principais fontes de contaminação do solo: os resíduos 
sólidos urbanos, os pesticidas e os hidrocarbonetos derivados do petróleo: 
benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno (BTEX). 
3.1. Resíduos sólidos urbanos (RSU) 
Os resíduos sólidos compreendem todos os materiais resultantes das 
atividades domésticas, industriais, comerciais, hospitalares, de limpeza urbana, 
da construção civil e agrícola. 
Na nossa rotina é quase impossível não gerar ao menos um resíduo sólido 
durante o dia. Porém é necessário refletir sempre que possível para não gerar 
resíduos. Caso contrário, deve-se seguir os 3 Rs da sustentabilidade: Reduzir, 
Reutilizar e Reciclar. É preciso ter em mente que os resíduos sólidos, quando mal 
destinados, causam não só problemas ambientais, mas também sociais e de 
saúde. 
O último relatório do Banco Mundial intitulado What a Waste: A Global 
Review of Solid Waste Management (2012) traz dados quanto à geração e coleta 
dos resíduos sólidos urbanos (RSU) para os países, conforme mostra a Tabela 1. 
Tabela 1 – Geração de RSU por país - Dados atuais e projeções para 2025 
País 
Dados referentes ao ano de 2012 Projeção para o ano de 2025 
População 
Urbana 
Geração de 
RSU per 
capita 
(kg/capita/dia) 
Geração 
de RSU 
(ton/dia) 
População 
Urbana 
Geração de 
RSU per 
capita 
(kg/capita/dia) 
Geração 
de RSU 
(ton/dia) 
Angola 8,973,498 0.48 4,329 18,862,000 0.7 13,203 
Brasil 144,507,175 1.03 149,096 206,850,000 1.6 330,960 
China 511,722,970 1.2 520,548 822,209,000 1.7 1,397,755 
Itália 39,938,760 2.23 89,096 42,205,000 2.05 86,520 
Fonte: Hoornweg e Bhada-Tata, 2012. 
De acordo com esse relatório, em 2025, acredita-se que o número de 
humanos no planeta será de 4,3 bilhões vivendo nas áreas urbanas e será 
produzido aproximadamente 1,42 kg / capita / dia de RSU, o que corresponderá a 
2,2 bilhões de toneladas por ano. 
 
 
10 
Além de ocuparem um enorme espaço no planeta, os RSU ainda estão 
relacionadosà poluição dos ecossistemas e à inúmeras zoonoses. Eles estão 
presentes em todas as esferas da Terra, desde a atmosfera até as profundezas 
dos oceanos. 
Dessa forma, inovações desse setor buscam trazer alternativas de 
destinação e tratamento dos resíduos sólidos que agreguem valor econômico a 
esses materiais e a seus subprodutos. 
Alguns exemplos são os biodigestores compactos, que apresentam baixo 
custo operacional e degradam rapidamente os resíduos orgânicos. O efluente 
gerado pode ser utilizado na irrigação de hortas ou descartado na rede de esgoto, 
e o gás produzido pode ser utilizado como combustível. 
Há projetos que captam os gases gerados em aterros sanitários, na 
produção de suínos e nas estações de tratamento de esgoto, por exemplo, e os 
aplicam na geração de energia elétrica. Outra possibilidade é fazer uso da 
biomassa residual (bagaço de cana-de-açúcar) da indústria sucroalcooleira para 
a produção de biogás. 
Embora existam alternativas para a reutilização e reciclagem dos resíduos 
sólidos, é preciso verificar a sua disponibilidade e sua vantagem energética e 
econômica, que nem sempre são viáveis, principalmente para os países menos 
desenvolvidos. 
3.2 Pesticidas 
Décadas atrás, os pesticidas surgiram como um “produto mágico” capaz de 
atender a demanda da população, que não parava de crescer, por alimentos. 
Contudo, não havia conhecimento sobre quais as consequências que o seu uso, 
mesmo quando realizado de acordo com as orientações do fabricante, poderiam 
causar em longo prazo ao meio ambiente. Dessa forma, quanto mais resistente 
uma praga tornava-se, mais pesticida era aplicado. 
O desenvolvimento de equipamentos laboratoriais capazes de detectar 
esses compostos, mesmo em concentrações muito baixas, possibilitou o avanço 
das pesquisas acerca da sua distribuição nos ecossistemas e na sua interferência 
na saúde dos seres vivos. Hoje, eles estão presentes em todos os compartimentos 
ambientais e são relacionados a diversas doenças, como o Parkinson e o câncer. 
No Brasil, inúmeros dos herbicidas que são autorizados e aplicados nas 
plantações são proibidos em outros países. A Figura 3 compara o número de 
 
 
11 
pesticidas autorizados para algumas culturas no Brasil e que estavam proibidos 
na União Europeia nos anos 2015 e 2017. 
Figura 3 – Número de agrotóxicos autorizados por cultura no Brasil e proibidos 
na União Europeia 
 
Fonte: Bombardi, 2017 citado por MAPA/Agrofit. 
Podemos observar que o número de pesticidas liberados para uso no Brasil 
em relação à União Europeia só não aumentou para a banana, mas para todas as 
outras culturas pesquisadas esse número aumentou até 94% num período de dois 
anos. 
Uma vez aplicados na lavoura, os herbicidas podem ficar retidos no solo, 
serem transformados (degradação, biodegradação e mineralização) ou 
transportados (volatilização, escoamento superficial e lixiviação). A mobilidade do 
pesticida no solo lixiviado pela água da chuva pode chegar às camadas mais 
profundas e contaminar inclusive o lençol freático (Bittencourt Júnior; e Soares, 
2013). 
Ao entrar em contato com o solo, o pesticida também atinge todos os seres 
vivos que ali habitam, como os cupins, as formigas e as minhocas, que são 
importantes para pedosfera por abrirem caminhos dentro do solo para a 
passagem de água e gases, além de atuarem na melhoria da fertilidade do solo. 
 Existem algumas formas alternativas de produção de visam a não 
aplicação ou a redução na aplicação dos pesticidas, como o controle biológico das 
pragas, o uso de defensivos naturais e o investimento em tecnologias que 
otimizem a aplicação dos produtos, evitando a necessidade de repetição da 
aplicação na mesma safra. 
Para recuperação dos solos contaminados, uma alternativa é a 
biorremediação, ou seja, a degradação do pesticida por fungos, e a utilização de 
 
 
12 
espécies fitorremediadoras, que são espécies de plantas capazes de absorver e 
retirar os pesticidas do solo. Pode-se ainda estimular o aumento natural da 
microbiota presente no solo por meio da adição de material orgânico no mesmo. 
3.3 Hidrocarbonetos derivados do petróleo: benzeno, tolueno, etilbenzeno 
e xileno (BTEX) 
O petróleo e seus derivados estão entre os compostos que mais despertam 
preocupação quanto à contaminação ao meio ambiente e ao risco à saúde. Dentre 
esses compostos destacam-se os hidrocarbonetos benzeno, tolueno, etilbenzeno 
e xileno (BTEX). 
O BETX faz parte dos compostos orgânicos voláteis (COV), portanto 
contaminam não só o solo mas também a atmosfera. Eles estão presentes na 
gasolina e em outros derivados do petróleo. Além de voláteis, eles são 
persistentes, de difícil degradação, solúveis em água, principalmente quando 
misturados ao etanol, sendo capazes de contaminar grandes áreas (Oliveira, 
2017). 
A contaminação do solo e da água por essas substâncias acontece 
principalmente por vazamentos ou derramamentos acidentais durante a sua 
exploração, refino, armazenamento e transporte. O BTEX apresenta potencial 
tóxico e carcinogênico mesmo quando presente no ambiente em pequenas 
quantidades (Andrade; Augusto; Jardim, 2010). Esses compostos devem ser 
constantemente monitorados a fim de localizar o mais rápido possível a fonte e a 
área contaminada. 
O tratamento dos hidrocarbonetos derivados do petróleo representa um 
problema ambiental de difícil solução e por esse motivo será abordado no próximo 
tópico. 
TEMA 4 – ALTERNATIVAS PARA O TRATAMENTO DO BTEX NO SOLO 
Neste tópico serão apresentadas características e vias de tratamento dos 
hidrocarbonetos derivados do petróleo, mas cabe salientar que muitas vezes a 
contaminação do solo ocorre de maneira semelhante para diferentes 
contaminantes. Por isso, algumas das classificações e tecnologias aqui ilustradas 
também são aplicáveis para outros compostos, como os pesticidas. 
 
 
13 
Os hidrocarbonetos derivados do petróleo podem ser classificados de 
acordo com a sua densidade (Quadro 2), o que auxilia a compreensão de seu 
comportamento no solo. 
Quadro 2 – Classificação dos compostos de fase líquida não aquosa (NAPL) de 
acordo com a sua densidade 
LNAPL — Compostos de fase líquida 
leve não aquosa 
Caracterizados por serem mais leves que a água. 
Exemplos: benzeno, tolueno e xileno (BTEX). 
DNAPL — Compostos de fase 
líquida densa não aquosa 
Caracterizados por serem mais densos que a água. 
Exemplos: 1, 2 dicloroetano. 
Fonte: Moreira e Dourado, 2005. 
Por serem mais leves que a água, os compostos BTEX são os primeiros 
derivados do petróleo a atingirem o lençol freático. Portanto, para avaliar uma área 
contaminada pelo vazamento de hidrocarbonetos de petróleo deve-se observar 
inicialmente duas propriedades: a persistência e a mobilidade do composto. 
A persistência refere-se à degradação desse composto no solo, quanto 
menos degradável, mais tempo ele irá durar na área subterrânea, podendo até 
mesmo apresentar-se como recalcitrante. 
A mobilidade é a capacidade de locomoção desses poluentes no solo, 
ligada principalmente a sua densidade e solubilidade, que podem atingir longas 
distâncias desde a fonte de contaminação. 
O caminho que o BTEX percorre forma a pluma de contaminação. Essa 
pluma sofre várias etapas de degradação pela microbiota presente no solo 
durante o seu espalhamento (Figura 4). 
 
 
14 
Figura 4 – Zonas de degradação de hidrocarbonetos 
 
 
Fonte: Rabus; Heiter, 1998. 
Vale relembrar que esses compostos e seus produtos de degradação, 
embora biodegradáveis, são tóxicos e, portanto, podem acabar com a microbiota 
do solo quando presentes em altas concentrações. Dessa forma os BTEX 
continuam no solo. Existem diversas tecnologias empregadas na remediação dos 
solos contaminados. Elas podem ser físico-químicas e biológicas. Algumas 
dessas alternativas são apresentadas no Quadro 3.5 
Quadro 3 – Algumas tecnologias de remediação dos solos contaminados 
 TecnologiaDescrição Aplicação 
Tr
at
am
en
to
 b
io
ló
gi
co
 
Biorremediação 
Estimulação da atividade dos microrganismos que 
ocorre naturalmente na área contaminada para 
reforçar a degradação biológica dos contaminantes 
orgânicos. 
In situ 
Landfaming 
(assumindo 
escavação) 
Degradação biológica de resíduos em uma camada 
superior de solo, que é periodicamente revolvida para 
promover aeração. 
Ex situ 
 
5 Sugestão de leitura: Guia de Elaboração de Planos de Intervenção para o Gerenciamento 
de Áreas Contaminadas. 1. ed. São Paulo: IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado 
de São Paulo: BNDS, 2014 
 
 
15 
Compostagem 
(considerando 
escavação) 
O solo contaminado é escavado e 
misturado com materiais orgânicos, tais 
como lascas de madeira, resíduos animais e vegetais, 
com o objetivo de aumentar 
a porosidade e o conteúdo orgânico da mistura a ser 
decomposta. 
Ex situ 
Enriquecimento 
em oxigênio 
por Air 
Sparging 
Ar é injetado sob pressão, abaixo do 
nível d’água, para aumentar a 
concentração de oxigênio na água 
subterrânea e para aumentar a taxa de 
degradação biológica de contaminantes orgânicos por 
microrganismos que ocorrem naturalmente. 
In situ 
Ex situ 
Tr
at
am
en
to
 fi
si
co
-q
uí
m
ic
o Escavação 
e disposição 
O material contaminado é removido e 
transportado para fora da área contaminada até 
aterros apropriados para a disposição do material 
escavado. Pode haver necessidade de pré-tratamento 
do material. 
In situ 
 Ex situ 
Lavagem 
de solo 
Contaminantes adsorvidos nas 
partículas finas do solo são separados por um 
sistema de base aquosa com base no tamanho 
das partículas. A ação da água de lavagem pode ser 
aumentada com o uso de um agente de 
lixiviação básico, surfactante, ajuste de pH ou 
quelante para ajudar a remover 
os materiais orgânicos e os metais pesados. 
Ex situ 
Tr
at
am
en
to
 té
rm
ic
o 
Dessorção 
térmica à alta 
temperatura 
Os resíduos são aquecidos a 315–540° C 
para volatilizar a água e os contaminantes orgânicos. 
Um sistema de coleta de gases ou sistema de vácuo 
transporta água e os orgânicos volatilizados para um 
sistema de tratamento de gases. 
Ex situ 
Extração de 
vapor do solo 
forçada 
termicamente 
Injeção de ar/vapor quente ou aquecimento 
por radiofrequência 
são usados para aumentar a mobilidade de 
compostos voláteis e facilitar sua extração. O 
processo inclui um sistema para manipulação 
dos gases extraídos. 
In situ 
Fonte: Moraes; Teixeira; Maximiano, 2014 citado por DOD ETTC, 1994; Clarinet, 2002. 
 
 
16 
TEMA 5 – ESTUDO DE CASO 
Sempre que pensamos em áreas contaminadas, devemos levar em conta 
alguns fatores, como: 
• histórico da área; 
• tipo de solo; 
• fonte de contaminação; 
• amostragem; 
• pluma de contaminação; 
• a tecnologia de remediação que será aplicada; 
• a medida preventiva que será adotada. 
Ao herdar o posto de combustíveis, que pertence a sua família há mais de 
40 anos, João foi informado de que durante todo esse tempo nunca havia sido 
realizada a verificação de possíveis contaminações no solo ou lençol freático ou 
mesmo uma adequação à legislação vigente do órgão ambiental do estado e à 
Resolução do CONAMA 420/2009. 
Com medo de que um possível vazamento pudesse acontecer e resultar 
em grandes gastos, ele decidiu contratar uma empresa de gerenciamento de 
áreas impactadas para verificar se tudo estava bem e o que poderia ser feito para 
se prevenir. Ao avaliar a área, a empresa enviou um laudo a João com as 
informações presentes no Quadro 4. 
Quadro 4 – Laudo do posto de combustíveis 
Histórico da área Ausência de monitoramento de contaminação 
Tipo de solo Silte argiloso com alta porosidade e horizonte O 
bem desenvolvido 
Fonte possível de contaminação Tanque de armazenamento de combustível 
Profundidade do lençol freático 22 metros da superfície 
Direção de migração da água 
subterrânea Sudoeste 
Amostragem (análise dos gases, do 
solo e da água subterrânea) Negativo para presença de contaminantes 
Pluma de contaminação Não há 
Tecnologia de remediação que será 
aplicada Sem necessidade 
17 
Medida preventiva que será adotada 
Sugere-se: troca do tanque de armazenamento de 
combustíveis; análises rotineiras nos poços de 
monitoramento 
Para alegria de João, os resultados mostraram que não há vazamentos no 
tanque de armazenamento de combustíveis. Porém ele já está fora do prazo de 
validade, que é de aproximadamente 25 anos, sendo necessário realizar a sua 
troca. João então providenciou a troca do tanque de armazenamento de gasolina, 
conforme sugerido pela empresa. 
Durante a troca, houve um pequeno derramamento acidental de gasolina 
residual do tanque antigo, para o desespero de João! 
Algumas ações já foram tomadas rapidamente, como a retirada do solo 
visivelmente contaminado pela gasolina e a sua destinação para tratamento em 
Landfarming. Posteriormente foi realizada a extração de vapor do solo forçada 
termicamente. Amostras de solo e da água subterrânea foram novamente 
coletadas dos poços de monitoramento e os resultados avaliados durante o 
período de um ano, para alívio de João, mostraram que não houve contaminação 
do lençol freático, e o pouco que restou de contaminação do solo poderá ser 
remediada in situ por meio da técnica biorremediação, favorecida pelo 
horizonte bem desenvolvido na região. 
O alívio de João não foi à toa, já que a maior preocupação quando há um 
solo contaminado é que esta contaminação atinja o lençol freático, pois a 
remediação da área torna-se mais complexa, longa e, principalmente, cara do 
ponto de vista legal. Além disso haveria a possibilidade de contaminação da água 
de abastecimento de toda uma cidade, resultando em penalidades que muitas 
vezes levam ao fechamento do estabelecimento. 
 
 
18 
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