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Ética e Responsabilidade Social das Empresas

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como algo que se revela 
na ação, nas situações reais para as quais seria necessária uma 
virtude específica. 
A virtude da “temperança”, por exemplo, que poderia ser definida 
como a habilidade de julgar de forma justa para tomar decisões, 
é um meio termo entre a “atitude apressada” e a “lentidão nas 
decisões”. Note-se que a virtude da temperança se define em 
relação a dois vícios opostos: de um lado o afobamento e, de outro 
lado, a lentidão, e ela, a virtude, seria exatamente o meio termo (a 
justa medida) entre esses dois vícios. 
Outro exemplo, mais significativo na época de Aristóteles do 
que na nossa mas que nos mostra a estrutura da sua noção de 
virtude é o exemplo da coragem. Essa virtude é entendida como o 
meio termo entre os dois vícios opostos que são a “covardia” e a 
“temeridade (precipitação)”. 
O lugar do ser 
humano e as 
virtudes
As virtudes 
são atributos 
dos indivíduos, 
identificáveis 
em suas ações, 
como fruto de um 
longo processo de 
aprendizado nos 
vários domínios, mas 
principalmente por 
ação de sua vontade.
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ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS
unidade 1
013
Observe o seguinte esquema: 
FIGURA 2 - Justa medida (metron)
Covardia Temeridade
Fugir correndo ao ver a força do 
inimigo, ou ao compreender a 
magnitude do perigo.
Jogar-se contra o inimigo 
sem considerar sua força ou 
desconsiderando a magnitude 
do perigo.
Enfrentar o inimigo, ou o perigo, 
sem se deixar dominar pelo 
medo e pela possibilidade de 
subestimar sua força.
Coragem
Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Anima, 2014. 
Como se vê, a ação corajosa (virtuosa) não significa a eliminação 
do medo, mas a sua adoção na medida certa. O excesso do medo 
produz o vício da covardia, ponto de produzir a fuga. Por outro lado, 
a falta do medo gera o vício da temeridade levando à precipitação e 
à exposição desnecessária ao golpe fatal. 
Se em nossa época soa estranho pensarmos na coragem como 
uma virtude, podemos, por outro lado, estender essa lógica 
da tensão entre virtudes e vícios a qualquer outra virtude que 
queiramos analisar. 
A justiça, por exemplo, era entendida por Aristóteles como 
a virtude máxima a ser desenvolvida nos seres humanos e 
primordial nas atividades de liderança e de governo. A justiça 
é a virtude desenvolvida como meio termo entre, de um lado, 
o vício da supremacia do indivíduo (vício que chamaríamos 
hoje de individualismo) e, de outro lado, o vício da supremacia 
da comunidade. Como meio termo entre essas duas esferas, 
chamadas contemporaneamente de esfera do público e do 
privado, a justiça se destaca como virtude, garantido inclusive o 
equilíbrio e o dinamismo de todas as demais. 
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ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS
unidade 1
014
Observemos, ainda, que nessa concepção algumas ações não 
são passíveis de meio-termo. São as que nelas mesmas já 
encerram algum mal: o despeito, a impudência, a inveja, o roubo, 
o assassinato. Todos os hábitos que levem a essas ações ou que 
essas ações impliquem não são desejáveis em sistema social 
nenhum e, portanto, seriam hábitos a eliminar do ethos humano.
A ética grega nos ensina que a ação virtuosa é aquela que permite 
o encontro do melhor resultado, naquela época chamado de 
bem supremo ou simplesmente de felicidade. O bem supremo 
era entendido como a vida feliz, pautada pela razão. As virtudes, 
enquanto capacidades dos indivíduos de chegar, em suas ações, 
a um meio-termo entre dois possíveis vícios, garantiam que essas 
ações produzissem o bem, por eliminar os extremos representados 
pelos vícios. Assim, a intenção ética seria sempre a de alcançar o 
bem supremo ou a felicidade. 
Para falar sobre a aplicação da ética na prática precisamos recorrer 
ao sentido de moral. Em sua origem, a palavra moral surgiu na 
sociedade romana (latina), também na antiguidade clássica, e era 
usada com o mesmo significado que a palavra ética tinha para os 
gregos. Assim, moral vem do radical mores, que assim como ethos, 
representava a busca pelo “lugar dos seres humanos” enquanto 
localização, “morada” para os mesmos. Isso significa que os termos 
da discussão moral, entre os latinos, seguia a lógica dos gregos 
antigos, sistematizada na ideia de ética.
Todavia, ao longo do desenvolvimento da ética como ciência, os 
autores começaram a diferenciar os dois termos, atribuindo à moral 
um caráter mais prático e aplicado, restando à ética o campo do 
A intenção ética e 
a norma
A ética grega nos 
ensina que a ação 
virtuosa é aquela 
que permite o 
encontro do melhor 
resultado, naquela 
época chamado de 
bem supremo ou 
simplesmente de 
felicidade. 
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ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS
unidade 1
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estudo teórico das condutas do homem. Esta diferenciação foi o 
resultado da interpretação do próprio pensamento dos gregos e dos 
romanos. Os gregos, por sua cultura, acreditavam que toda ação 
humana tende para o bem e que a soma de todos as intenções de 
chegar a esse bem seria garantida pela educação dos mais jovens. 
Já os romanos (latinos), logo depois, acentuam a necessidade de 
uma punição (coerção social) para garantir que as ações humanas 
sigam esse objetivo de buscar o bem. 
Dessa diferença de pensamento entre gregos e romanos teria 
surgido a diferença entre ética e moral, sendo a primeira o estudo 
do conjunto de valores que regem a ação humana num determinado 
contexto social e histórico, enquanto que a segunda seria a aplicação 
prática desses valores pelos homens, dentro de um sistema social 
coercitivo (punitivo, obrigatório). Esse sistema coercitivo pode ser 
chamado de sistema normativo, pois ele transforma os valores em 
normas, como regras de condutas expressamente estabelecidas, de 
caráter obrigatório, sob pena de gerarem algum tipo de repreensão 
ou punição para quem as descumpre.
Assim, as normas morais seriam essas máximas com as quais 
lidamos no seio de uma sociedade, às vezes sem nos darmos conta. 
Você já percebeu que em uma empresa, no dia a dia do trabalho, 
seria absurdo um indivíduo ir trabalhar de calça e sapato muito finos 
e sem camisa, nem casaco? Por que os indivíduos não o fazem? 
Porque estão seguindo a norma moral que proíbe a exposição do 
corpo e que exerce sobre nós um poder de coerção.
Pois bem, são várias as normas morais de uma sociedade 
específica. Algumas delas se tornam difundidas em várias culturas. 
“Não matarás”, “não furtarás”, são normas morais decisivas, 
de grande relevância para a permanência da estrutura social. É 
bom notar que o ato de matar não é algo descartado por si só. É 
a norma moral que lhe dá um sentido negativo ou positivo. Basta 
você lembrar que numa guerra, matar é a regra, ou seja, há normas 
morais que legitimam o ato de matar. Que todos nós queiramos que 
Os gregos, por sua 
cultura, acreditavam 
que toda ação 
humana tende para o 
bem e que a soma de 
todos as intenções 
de chegar a esse 
bem seria garantida 
pela educação dos 
mais jovens. 
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