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A pneumonia é uma inflamação do parênquima pulmonar causada por diversos microrganismos, incluindo bactérias, micobactérias, fungos e vírus. A pneumonite é um termo mais geral que descreve um processo inflamatório no tecido pulmonar, capaz de predispor ou de colocar o paciente em risco para a invasão microbiana. A pneumonia e a influenza constituem as causas mais comuns de morte por doenças infecciosas nos EUA. Juntas, respondem por quase 60.000 mortes por ano e constituem a oitava causa principal de morte nos EUA (Minino, Heron, Murphy, et al., 2007). Classificação As pneumonias são classificadas em pneumonia adquirida na comunidade (PAC), pneumonia adquirida no hospital (nosocomial) (PAH), pneumonia no hospedeiro imunocomprometido e pneumonia por aspiração (Tabela 23.1). Existe uma superposição no modo pelo qual as pneumonias específicas são classificadas, uma vez que podem ocorrer em diferentes ambientes. Pneumonia Adquirida na Comunidade A PAC ocorre no contexto comunitário ou dentro das primeiras 48 h após hospitalização ou institucionalização. A necessidade de hospitalização para PAC depende da gravidade da pneumonia. Os agentes etiológicos da PAC que exigem hospitalização são, com mais frequência, S. pneumoniae, H. influenzae, Legionella, Pseudomonas aeruginosa e outros bastonetes gram-negativos. O agente etiológico específico é identificado em cerca de 50% dos casos. Estima-se que ocorram mais de 915.000 episódios de PAC anualmente em adultos com 65 anos de idade ou mais nos EUA (Mandell, Wunderink, Anzueto, et al., 2007). O S. pneumoniae (pneumococo) constitui a causa mais comum de PAC em indivíduos com menos de 60 anos de idade sem comorbidade e naqueles com 60 anos de idade ou mais apresentando comorbidade. O S. pneumoniae, um microrganismo gram-positivo que reside naturalmente no trato respiratório superior, coloniza o trato respiratório superior e pode provocar infecções invasivas disseminadas, pneumonia e outras infecções do trato respiratório inferior, bem como infecções do trato respiratório superior, como otite média e rinossinusite. Pode ocorrer na forma lobar ou broncopneumônica em pacientes de qualquer idade e pode desenvolver-se após uma doença respiratória recente. O H. influenzae causa um tipo de PAC que frequentemente acomete indivíduos idosos e aqueles com doenças comórbidas (p. ex., doença pulmonar obstrutiva crônica [DPOC], alcoolismo, diabetes melito). A apresentação é indistinguível daquela de outras formas de PAC bacteriana e pode ser subaguda, com tosse ou febre baixa por várias semanas antes do estabelecimento do diagnóstico. A pneumonia por micoplasma é causada pelo M. pneumoniae. A pneumonia por micoplasma dissemina-se por gotículas respiratórias através de contato interpessoal. Os pacientes podem ser testados para anticorpos antimicoplasma. O infiltrado inflamatório é principalmente intersticial, em lugar de alveolar. Dissemina-se por todo o trato respiratório, incluindo os bronquíolos, e tem a característica de uma broncopneumonia. É comum a ocorrência de otalgia e miringite bolhosa. Pode ocorrer comprometimento da ventilação e difusão. Os vírus constituem a causa mais comum de pneumonia em lactentes e crianças, porém são causas relativamente incomuns de PAC em adultos. Nos adultos imunocomprometidos, o citomegalovírus constitui o patógeno viral mais comum, seguido do herpesvírus simples, adenovírus e vírus sincicial respiratório. O estágio agudo da infecção respiratória viral ocorre dentro das células ciliadas das vias respiratórias, seguido de infiltração da árvore traqueobrônquica. Na pneumonia, o processo inflamatório estende-se para dentro da área alveolar, resultando em edema e exsudação. Com frequência, é difícil distinguir os sinais e sintomas clínicos de uma pneumonia viral daqueles de uma pneumonia bacteriana. Pneumonia Adquirida no Hospital A PAH, também conhecida como pneumonia hospitalar ou nosocomial, é definida como o início de sintomas de pneumonia dentro de mais de 48 h após a admissão de pacientes sem nenhuma evidência de infecção no momento da internação. A PAH, que constitui a infecção hospitalar mais letal, é responsável por cerca de 15% das infecções adquiridas em hospital e constitui a principal causa de morte em pacientes com essas infecções (File, 2007). A incidência estimada de PAH é de 4 a 7 episódios por 1.000 internações (File, 2007). A pneumonia associada ao ventilador (PAV) é considerada como um tipo de pneumonia hospitalar associada à intubação endotraqueal e ventilação mecânica. Esse tipo de pneumonia é definido como uma pneumonia bacteriana que se desenvolve em pacientes com insuficiência respiratória aguda que estavam recebendo ventilação mecânica durante pelo menos 48 h. Certos fatores podem predispor o paciente à PAH, devido ao comprometimento das defesas do hospedeiro (p. ex., doença aguda ou crônica grave), diversas condições comórbidas, posicionamento em decúbito dorsal e aspiração, coma, desnutrição, hospitalização prolongada, hipotensão e distúrbios metabólicos. Os pacientes hospitalizados também são expostos a bactérias potenciais de outras fontes (p. ex., dispositivos e equipamento de terapia respiratória, transmissão de patógenos pelas mãos dos profissionais de saúde). Numerosos fatores relacionados com a intervenção também podem desempenhar um papel no desenvolvimento da PAH (p. ex., agentes terapêuticos que levam à depressão do sistema nervoso central com diminuição da ventilação, remoção prejudicada das secreções ou aspiração potencial; procedimentos toracoabdominais prolongados ou complicados, que podem comprometer a função mucociliar e as defesas celulares do hospedeiro; intubação endotraqueal; uso prolongado ou inapropriado de antibióticos; uso de sondas nasogástricas). Além disso, os pacientes imunocomprometidos correm um risco particular. A PAH está associada a uma elevada taxa de mortalidade, devido, em parte, à virulência dos microrganismos, sua resistência aos antibióticos e distúrbio subjacente do paciente. Tabela 23.1 PNEUMONIAS COMUMENTE ENCONTRADAS Tipo (Agente Etiológico) Epidemiologia Manifestações Clínicas Tratamento Complicações/Comentários Pneumonia Adquirida na Comunidade Pneumonia estreptocócica (Streptococcus pneumoniae) Mais prevalente nos meses de inverno Ocorrência mais frequente em afro- descendentes Maior incidência no idoso e em pacientes com DPOC, insuficiência cardíaca, alcoolismo, asplenia, diabetes e após a influenza Principal causa infecciosa de doença no mundo inteiro entre crianças pequenas, indivíduos com condições de saúde crônicas subjacentes e indivíduos idosos Mortalidade em adultos hospitalizados com doença invasiva: 14% Início abrupto, aparência tóxica, dor torácica pleurítica. Acomete habitualmente um ou mais lobos Infiltrado lobar comum na radiografia de tórax ou padrão de broncopneumonia Não resistente às penicilinas – penicilina G, amoxicilina Resistente às penicilinas – cefotaxima, ceftriaxona, fluoroquinolonas Choque, derrame pleural, superinfecções, pericardite e otite média Haemophilus influenzae (Haemophilus influenzae) Incidência máxima em alcoólicos, pacientes idosos em instituições de cuidados prolongados e clínicas de repouso, pacientes com diabetes ou DPOC e crianças de < 5 anos de idade Responsável por 5 a 20% das pneumonias adquiridas na Início frequentemente insidioso associado a infecção do trato respiratório superior 2 a 6 semanas antes do início da doença. Febre, calafrios, tosse produtiva. Acomete habitualmente um ou mais Não produtor de betalactamase – amoxicilina; produtorde betalactamase – cefalosporina de segunda ou de terceira geração, amoxicilina-clavulanato Abscesso pulmonar, derrame pleural, meningite, artrite, pericardite, epiglotite comunidade Taxa de mortalidade: 30% lobos. A bacteriemia é comum. Infiltrado, padrão de broncopneumonia ocasional na radiografia de tórax Doenças dos legionários (Legionella pneumophila) Maior incidência durante o verão e outono Pode causar doença esporadicamente ou como parte de uma epidemia Incidência máxima em homens de meia-idade e idosos, tabagistas, pacientes com doenças crônicas, aqueles que recebem terapia imunossupressora e indivíduos em estreita proximidade com locais de escavação Responsável por 15% das pneumonias adquiridas na comunidade Taxa de mortalidade: 15 a 50% Sintomas semelhantes aos da gripe. Febres altas, confusão mental, cefaleia, dor pleurítica, mialgias, dispneia, tosse produtiva, hemoptise, leucocitose Broncopneumonia, doença unilateral ou bilateral, consolidação lobar Fluoroquinolona, azitromicina Hipotensão, choque e insuficiência renal aguda Mycoplasma pneumoniae (Mycoplasma pneumoniae) Aumento no outono e inverno Responsável por epidemias de doença respiratória Tipo mais comum de pneumonia atípica Responsável por 20% das pneumonias adquiridas na comunidade. Mais comum em crianças e adultos jovens Taxa de mortalidade: < 0,1% O início é habitualmente insidioso. Em geral, os pacientes não estão tão doentes quanto em outras pneumonias. Faringite, congestão nasal, otalgia, cefaleia, febre baixa, dor pleurítica, mialgias, diarreia, exantema eritematoso, faringite. Infiltrados intersticiais na radiografia de tórax Macrolídio, uma tetraciclina Meningite asséptica, meningoencefalite, mielite transversa, paralisia de nervos cranianos, pericardite, miocardite Pneumonia viral (vírus influenza dos tipos A, B, adenovírus, vírus parainfluenza, citomegalovírus, coronavírus, vírus varicela- zoster) Incidência maior nos meses de inverno Ocorre epidemia a cada 2 a 3 anos Microrganismos etiológicos mais comuns em adultos. Outros microrganismos em crianças (p. ex., citomegalovírus, vírus sincicial respiratório) Responsável por 20% das pneumonias adquiridas na comunidade Infiltrado focal, derrame pleural pequeno na radiografia de tórax Na maioria dos pacientes, a gripe começa como uma infecção respiratória superior aguda; outros apresentam bronquite, pleurisia e assim por diante, e outros ainda desenvolvem sintomas gastrintestinais Oseltamivir ou zanamivir Tratamento assintomático Não responde ao tratamento com os agentes antimicrobianos atualmente disponíveis Infecção bacteriana superposta, broncopneumonia Pneumonia por clamídia (Chlamydophilia pneumoniae) Relatada principalmente em universitários, militares e indivíduos idosos Pode constituir uma causa comum de pneumonia adquirida na comunidade ou observada em combinação com outros patógenos A taxa de mortalidade é baixa, visto que os casos são, em sua maioria, relativamente leves. Os indivíduos idosos com infecções coexistentes, comorbidades e reinfecções podem necessitar de hospitalização Rouquidão, febre, calafrios, faringite, rinite, tosse improdutiva, mialgias, artralgias Infiltrado isolado na radiografia de tórax; possível derrame pleural Fluoroquinolona Reinfecção e insuficiência respiratória aguda Pneumonia Adquirida no Hospital Pneumonia por Pseudomonas (Pseudomonas aeruginosa) Incidência maior em pacientes com doença pulmonar preexistente (particularmente leucemia); naqueles com transplante de homoenxertos, queimaduras; indivíduos debilitados; e pacientes que recebem terapia antimicrobiana e tratamentos como traqueostomia, aspiração, e em ambientes pós-operatórios. Quase sempre de origem hospitalar Responsável por 15% das pneumonias adquiridas em hospital Taxa de mortalidade: 40 a 60% Consolidação difusa na radiografia de tórax. Aparência tóxica: febre, calafrios, tosse produtiva, bradicardia relativa, leucocitose Betalactâmico antipseudomonas mais ciprofloxacino, levofloxacino ou aminoglicosídio Cavitação pulmonar. Tem a capacidade de invadir os vasos sanguíneos, causando hemorragia e infarto pulmonar. Em geral, exige hospitalização Pneumonia estafilocócica Incidência maior em pacientes imunocomprometidos, usuários de Hipoxemia grave, cianose, infecção necrosante. A Sensível à meticilina – penicilina antiestafilocócica Derrame pleural/pneumotórax, (Staphylococcus aureus) drogas IV e como complicação da influenza epidêmica Comumente de origem hospitalar Responsável por 10 a 30% das pneumonias adquiridas no hospital Taxa de mortalidade: 25 a 60% O S. aureus resistente à meticilina (MRSA) também pode causar infecção adquirida na comunidade bacteriemia é comum Resistente à meticilina – vancomicina ou linezolida abscesso pulmonar, empiema, meningite, endocardite. Com frequência, exige hospitalização. O tratamento deve ser vigoroso e prolongado, visto que a doença tende a destruir o tecido pulmonar Pneumonia por Klebsiella (Klebsiella pneumoniae [bacilo de Friedländer – bacilo aeróbico gram-negativo encapsulado]) Incidência maior no indivíduo idoso; alcoólicos; pacientes com doença crônica, como diabetes, insuficiência cardíaca, DPOC; pacientes em instituições de cuidados crônicos e clínicas de repouso Responsável por 2 a 5% das pneumonias adquiridas na comunidade e por 10 a 30% das pneumonias adquiridas no hospital Taxa de mortalidade: 40 a 50% A necrose tecidual ocorre rapidamente. Aparência tóxica: febre, tosse, produção de escarro, broncopneumonia, abscesso pulmonar. Consolidação lobar, padrão de broncopneumonia na radiografia de tórax Meropenem ou levofloxacino ou piperacilina/tazobactam mais amicacina Abscessos pulmonares mútiplos com formação de cisto, empiema, pericardite, derrame pleural. Pode ser fulminante, progredindo para um desfecho fatal Pneumonia no Hospedeiro Imunocomprometido Pneumonia por Pneumocystis (PPC) (Pneumocystis jiroveci) Incidência maior em pacientes com AIDS/SIDA e em pacientes submetidos a terapia imunossupressora para câncer, transplante de órgãos e outros distúrbios. Frequentemente observada com infecção pelo citomegalovírus Taxa de mortalidade de 15 a 20% em pacientes hospitalizados e fatal se não for tratada Infiltrados pulmonares na radiografia de tórax. Tosse improdutiva, febre, dispneia Sulfametoxazol/trimetoprima (SMZ-TMP) Insuficiência respiratória Pneumonia fúngica (Aspergillus fumigatus) Incidência maior em pacientes imunocomprometidos e neutropênicos Taxa de mortalidade: 15 a 20% Tosse, hemoptise, infiltrados, bola de fungos na radiografia de tórax Voriconazol ou anidulafungina ou caspofungina Lobectomia para a bola de fungo Disseminação para o cérebro, miocárdio e glândula tireoide Tuberculose (Mycobacterium tuberculosis) Incidência aumentada no indigente, imigrante e populações de prisioneiros, indivíduos com AIDS e moradores de rua Taxa de mortalidade < 1% (dependendo da comorbidade) Perda de peso, febre, sudorese noturna, tosse, produção de escarro, hemoptise, infiltrado inespecífico (lobo inferior), aumento dos linfonodos hilares, derrame pleural na radiografia de tórax Isoniazida mais rifampicina mais etambutol mais pirazinamida (ver seção sobre TB) Reinfecção e infecção respiratória aguda Pneumonia por Aspiração Bactérias anaeróbicas (S. pneumoniae, H. influenzae, S. aureus) Risco: diminuição da consciência, disfagia, distúrbios do trato GI superior; ruptura mecânica do fechamento da glote (tubo endotraqueal, traqueostomia, alimentação nasogástrica) Início abrupto de dispneia, febre baixa, tosse, condição predisponente para aspiração Clindamicina ou antibióticos betalactâmicos A identificação do aspirado potencial é importante para o tratamento AIDS/SIDA, síndrome de imunodeficiência adquirida; DPOC, doença pulmonar obstrutiva crônica; GI, gastrintestinal; TB, tuberculose. Os microrganismos comuns responsáveis pela PAH incluem espécies de Enterobacter, Escherichia coli, H. influenzae, espécies de Klebsiella, Proteus, Serratia marcescens, P. aeruginosa,Staphylococcus aureus sensível ou resistente à meticilina (MRSA) e S. pneumoniae. Os pacientes com PAH exibem, em sua maioria, colonização por múltiplos microrganismos. Ocorre pneumonia por Pseudomonas em pacientes que estão debilitados, naqueles com alteração do estado mental e naqueles com intubação prolongada ou com traqueostomia. A pneumonia estafilocócica pode ocorrer através da inalação do microrganismo ou através de disseminação por via hematogênica. Com frequência, é acompanhada de bacteriemia e hemoculturas positivas. Sua taxa de mortalidade apresenta-se elevada. Cepas específicas de estafilococos mostram-se resistentes a todos os agentes antimicrobianos disponíveis, exceto à vancomicina. A administração excessiva e o uso inapropriado de agentes antimicrobianos constituem fatores de risco importantes para a emergência desses patógenos resistentes. Como o MRSA é altamente virulento, devem ser empreendidas etapas para evitar a sua disseminação. Os pacientes com MRSA são isolados em um quarto particular, e são empregadas precauções de contato (avental, máscara, luvas e sabão antibacteriano). O número de pessoas em contato com pacientes afetados é reduzido ao mínimo, e devem-se tomar precauções apropriadas quando esses pacientes são transportados dentro da instituição ou entre instituições. A apresentação habitual da PAH consiste em infiltrado pulmonar recente na radiografia de tórax, associado a evidências de infecção, como febre, sintomas respiratórios, escarro purulento ou leucocitose. As pneumonias causadas por Klebsiella ou outros microrganismos gram-negativos (E. coli, Proteus, Serratia) caracterizam-se pela destruição da estrutura pulmonar e paredes alveolares, consolidação (tecido que se solidifica em consequência do colapso dos alvéolos ou de processo infeccioso, como pneumonia) e bacteriemia. Os pacientes idosos e os alcoólicos, com doença pulmonar crônica ou diabetes correm risco particular. O desenvolvimento de tosse ou o aumento da tosse e da produção de escarro constituem apresentações comuns, juntamente com febre baixa e mal-estar generalizado. Nos pacientes debilitados ou desidratados, a produção de escarro pode ser mínima ou ausente. É comum a ocorrência de derrame pleural, febre alta e taquicardia. Pneumonia no Hospedeiro Imunocomprometido A pneumonia em hospedeiros imunocomprometidos inclui a pneumonia por Pneumocystis (PPC), as pneumonias fúngicas e a pneumonia por Mycobacterium tuberculosis. O microrganismo que provoca PPC é atualmente conhecido como Pneumocystis jiroveci, em lugar de Pneumocystis carinii. O acrônimo PPC continua sendo utilizado, visto que pode ser lido como “Pneumonia por Pneumocystis.” A pneumonia no hospedeiro imunocomprometido ocorre com o uso de corticosteroides ou outros agentes imunossupressores, quimioterapia, depleção nutricional, uso de agentes antimicrobianos de amplo espectro, síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS/SIDA), distúrbios imunes genéticos e tecnologia de suporte de vida avançado a longo prazo (ventilação mecânica). É observada com frequência crescente, visto que os pacientes acometidos constituem uma parcela crescente da população; entretanto, as pneumonias que tipicamente ocorrem em indivíduos imunocomprometidos também podem ser observadas em indivíduos imunocompetentes. Os pacientes com sistemas imunes comprometidos costumam desenvolver pneumonia por microrganismos de baixa virulência. Além disso, quantidades crescentes de pacientes com comprometimento das defesas desenvolvem PAH por bacilos gram-negativos (Klebsiella, Pseudomonas, E. coli, Enterobacteriaceae, Proteus, Serratia). A pneumonia nos hospedeiros imunocomprometidos pode ser causada pelos microrganismos também observados na PAC ou PAH (S. pneumoniae, S. aureus, H. influenzae, P. aeruginosa, M. tuberculosis). A PPC raramente é observada nos hospedeiros imunocompetentes e, com frequência, constitui uma complicação inicial de definição da AIDS. Independentemente de o paciente estar imunocomprometido ou imunocompetente, a apresentação clínica da pneumonia é semelhante. A PPC possui início sutil, com dispneia progressiva, febre e tosse improdutiva. Pneumonia por Aspiração A pneumonia por aspiração refere-se às consequências pulmonares em decorrência da entrada de substâncias endógenas ou exógenas nas vias respiratórias inferiores. A forma mais comum de pneumonia por aspiração é a pneumonia bacteriana devido à aspiração de bactérias que normalmente residem nas vias respiratórias superiores. A pneumonia por aspiração pode ocorrer no contexto comunitário ou hospitalar. Os patógenos comuns consistem em H. influenzae e S. aureus. Outras substâncias, além das bactérias, podem ser aspiradas para dentro do pulmão, como o conteúdo gástrico, conteúdos químicos exógenos ou gases irritantes. Esse tipo de aspiração ou ingestão pode comprometer as defesas pulmonares, causar alterações inflamatórias e levar ao crescimento bacteriano, com consequente pneumonia. (Ver discussão sobre a aspiração, adiante.) Fisiopatologia Normalmente, as vias respiratórias superiores impedem que partículas potencialmente infecciosas alcancem o trato respiratório inferior estéril. A pneumonia origina-se da flora normal presente nos pacientes cuja resistência foi alterada, ou a partir de aspiração da flora presente na orofaringe; com frequência, os pacientes apresentam doença subjacente aguda ou crônica que compromete as defesas do hospedeiro. A pneumonia também pode resultar de microrganismos transportados pelo sangue, que penetram na circulação pulmonar e são aprisionados no leito capilar pulmonar. A pneumonia afeta tanto a ventilação quanto a difusão. Pode ocorrer uma reação inflamatória nos alvéolos, produzindo um exsudato que interfere na difusão do oxigênio e dióxido de carbono. Os leucócitos, em sua maior parte neutrófilos, também migram para os alvéolos e preenchem os espaços normalmente ocupados pelo ar. Áreas do pulmão não são adequadamente ventiladas, devido às secreções e ao edema da mucosa que causam oclusão parcial dos brônquios ou alvéolos, com consequente redução na tensão de oxigênio alveolar. O broncospasmo também ocorre em pacientes com doença reativa das vias respiratórias. Devido à hipoventilação, ocorre um desequilíbrio da ventilação-perfusão na área afetada do pulmão. O sangue venoso que entra na circulação pulmonar atravessa a área hipoventilada e segue até o lado esquerdo do coração com oxigenação deficiente. A mistura de sangue oxigenado e não oxigenado ou pouco oxigenado resulta, por fim, em hipoxemia arterial. Quando uma parte substancial de um ou mais lobos está acometida, a doença é designada como pneumonia lobar. O termo broncopneumonia é utilizado para descrever a pneumonia distribuída de maneira focal, que tem a sua origem em uma ou mais áreas localizadas dentro dos brônquios e que se estende para o parênquima pulmonar circundante adjacente. A broncopneumonia é mais comum do que a pneumonia lobar (Figura 23.2). Figura 23.2 Distribuição do comprometimento pulmonar na pneumonia brônquica e lobar. Na broncopneumonia (à esquerda), ocorrem áreas focais de consolidação. Na pneumonia lobar (à direita), ocorre consolidação de todo um lobo. Fatores de Risco Conhecer os fatores e as circunstâncias que predispõem comumente os indivíduos à pneumonia ajuda a identificar os pacientes de alto risco para a doença. A Tabela 23.2 descreve os fatores de risco para a pneumonia; outros fatores de risco incluem viagem ou exposiçãoa determinados ambientes e residência em uma instituição de cuidados prolongados. Quantidades crescentes de pacientes que apresentam comprometimento das defesas contra infecções são suscetíveis à pneumonia. Alguns tipos de pneumonia, como aquelas causadas por infecções virais, ocorrem em pessoas previamente saudáveis, frequentemente depois de uma doença viral. Ocorre pneumonia em pacientes com determinados distúrbios subjacentes, como insuficiência cardíaca, diabetes, alcoolismo, DPOC e AIDS. Certas doenças também têm sido associadas a patógenos específicos. Por exemplo, a pneumonia estafilocócica tem sido observada após epidemias de influenza, e os pacientes com DPOC correm risco aumentado de desenvolvimento de pneumonia causada por pneumococos ou por H. influenzae. Além disso, a fibrose cística está associada à infecção respiratória causada por Pseudomonas e estafilococos, e a PPC tem sido associada à AIDS. As pneumonias que ocorrem em pacientes hospitalizados frequentemente envolvem microrganismos que não são observados habitualmente na PAC, incluindo bacilos gram-negativos entéricos e S. aureus. Manifestações Clínicas A pneumonia varia nos seus sinais e sintomas, dependendo do tipo de agente etiológico e da presença de doença subjacente. Entretanto, não é possível diagnosticar uma forma específica de pneumonia (PAC, PAH, hospedeiro imunocomprometido ou por aspiração) baseando-se apenas nas manifestações clínicas. O paciente com pneumonia estreptocócica (pneumocócica) apresenta habitualmente um início súbito de calafrios, febre rapidamente crescente (38,5 a 40,5°C) e dor torácica pleurítica que é agravada pela respiração profunda e pela tosse. O paciente está gravemente doente, com taquipneia pronunciada (25 a 45 incursões/min), acompanhada de outros sinais de angústia respiratória (p. ex., falta de ar, uso dos músculos acessórios da respiração). O pulso é rápido e em salto e, em geral, aumenta em cerca de 10 bpm para cada grau (Celsius) de elevação da temperatura. Uma bradicardia relativa (déficit de pulso-temperatura, em que o pulso é mais lento do que o esperado para determinada temperatura) pode sugerir infecção viral, infecção por micoplasma ou infecção por um microrganismo do gênero Legionella. Tabela 23.2 FATORES DE RISCO E MEDIDAS PREVENTIVAS PARA A PNEUMONIA Fator de Risco Medida Preventiva Condições que produzem muco ou obstrução brônquica e interferem na drenagem normal do pulmão (p. ex., câncer, tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica Promover a tosse e a expectoração das secreções. Incentivar o paciente a parar de fumar. Pacientes imunossuprimidos e aqueles com baixa contagem de neutrófilos (neutropênicos) Instituir precauções especiais contra a infecção. Tabagismo; a fumaça de cigarro rompe a atividade tanto mucociliar quanto dos macrófagos Incentivar o paciente a parar de fumar. Imobilidade prolongada e padrão respiratório superficial Reposicionar o paciente com frequência e promover exercícios de expansão pulmonar e tosse. Iniciar a aspiração e a fisioterapia respiratória, quando indicado. Reflexo de tosse deprimido (devido a medicamentos, estado debilitado ou fraqueza dos músculos respiratórios); aspiração de material estranho nos pulmões durante um período de inconsciência (traumatismo cranioencefálico, anestesia, nível de consciência deprimido) ou mecanismo anormal de deglutição Reposicionar o paciente com frequência para evitar a aspiração e administrar os medicamentos de modo criterioso, particularmente aqueles que correm risco aumentado de aspiração. Realizar a aspiração e a fisioterapia respiratória, quando indicado. Estado de dieta zero; colocação de sonda nasogástrica, orogástrica ou tubo endotraqueal Promover a higiene oral frequente. Minimizar o risco de aspiração verificando a posição do tubo e o posicionamento correto do paciente. Posição de decúbito dorsal em pacientes incapazes de proteger a via respiratória Elevar a cabeceira do leito em, pelo menos, 30°. Antibioticoterapia (em indivíduos muito doentes, a orofaringe tende a ser colonizada por bactérias gram-negativas) Monitorar os pacientes que recebem antibioticoterapia à procura de sinais e sintomas de pneumonia. Intoxicação por álcool (como o álcool suprime os reflexos do corpo, pode estar associado a aspiração e diminui a mobilização dos leucócitos e o movimento ciliar traqueobrônquico) Incentivar o consumo reduzido ou moderado de álcool (em caso de torpor alcoólico, posicionar o paciente para evitar a aspiração). Preparações de anestésico geral, sedativos ou opioides que promovem depressão respiratória, o que causa um padrão respiratório superficial e predispõe ao acúmulo de secreções brônquicas e desenvolvimento potencial de pneumonia Observar a frequência respiratória e a profundidade da respiração durante a recuperação da anestesia geral e antes de administrar medicamentos. Se a depressão respiratória for aparente, suspender a medicação e entrar em contato com o médico. Idade avançada, devido aos possíveis reflexos de tosse e glótico deprimidos e depleção nutricional Promover mudanças frequentes de posição, deambulação e mobilização precoces, tosse efetiva, exercícios respiratórios e dieta nutritiva. Terapia respiratória com equipamento inadequadamente limpo Certificar-se de que o equipamento respiratório está adequadamente limpo; participar no monitoramento contínuo da melhora de qualidade com o serviço de fisioterapia respiratória. Transmissão de microrganismos pelos profissionais de saúde Usar uma higiene estrita das mãos e luvas. Implementar a educação do profissional de saúde. Alguns pacientes exibem infecção do trato respiratório superior (congestão nasal, faringite), e o aparecimento dos sintomas de pneumonia é gradual e inespecífico. Os sintomas predominantes podem consistir em cefaleia, febre baixa, dor pleurítica, mialgia, exantema e faringite. Depois de alguns dias, o indivíduo expectora um escarro mucoide ou mucopurulento. Na pneumonia grave, as bochechas ficam ruborizadas, e os lábios e os leitos ungueais demonstram cianose central (um sinal tardio de baixa oxigenação [hipoxemia]). O paciente pode exibir ortopneia (falta de ar quando deitado), preferindo ficar com a cabeceira do leito elevada ou sentado no leito, inclinando-se para a frente (posição ortopneica), em um esforço de conseguir uma troca gasosa adequada sem tossir nem respirar profundamente. O apetite é insatisfatório, e o paciente apresenta sudorese e cansa-se com facilidade. O escarro é frequentemente purulento; entretanto, isso não representa um indicador confiável do agente etiológico. O paciente pode expectorar um escarro ferruginoso, tinto de sangue na pneumonia estreptocócica (pneumocócica), estafilocócica e por Klebsiella. • • • • • Os sinais e os sintomas de pneumonia também podem depender da condição subjacente do paciente. São observados diferentes sinais em pacientes que apresentam condições como câncer, bem como naqueles que estão sendo submetidos a tratamento com agentes imunossupressores, que diminuem a resistência à infecção. Esses pacientes apresentam febre, estertores e achados físicos que indicam consolidação do tecido pulmonar, incluindo frêmito tátil (vibração vocal detectada à palpação) aumentado, macicez à percussão, sons respiratórios brônquicos, egofonia (quando auscultado, o “E” falado torna-se um “A” anasalado e alto) e pectorilóquia sussurrada (os sons sussurrados são facilmente auscultados através da parede torácica). Essas alterações ocorrem porque o som é mais bem transmitido através do tecido sólido ou denso (consolidação) do que através do tecido normal cheio de ar; esses sons são descritos no Capítulo 21. O escarro purulento ou as alterações discretas nos sintomas respiratórios podem constituiro único sinal de pneumonia em pacientes com DPOC. Pode ser difícil determinar se o aumento dos sintomas constitui uma exacerbação do processo mórbido subjacente ou um processo infeccioso adicional. Histórico e Achados Diagnósticos O diagnóstico de pneumonia é estabelecido com base na anamnese (particularmente uma infecção recente do trato respiratório), exame físico, radiografia de tórax, hemocultura (com frequência, ocorre invasão da corrente sanguínea [bacteriemia]) e exame do escarro. A amostra do escarro é obtida instruindo o paciente a fazer o seguinte: (1) enxaguar a boca com água para reduzir a contaminação pela flora oral normal, (2) respirar profundamente várias vezes, (3) tossir profundamente e (4) expectorar o escarro desprendido em um recipiente estéril. Podem ser utilizados procedimentos mais invasivos para a coleta de amostras. O escarro pode ser obtido por aspiração nasotraqueal ou orotraqueal com um coletor de escarro ou por broncoscopia de fibra óptica (ver Capítulo 21). Com frequência, a broncoscopia é utilizada em pacientes com infecção grave aguda, naqueles com infecção crônica ou refratária, em indivíduos imunocomprometidos, quando não é possível estabelecer um diagnóstico com uma amostra de escarro expectorada ou induzida, e em pacientes com ventilação mecânica. Prevenção Uma vacina antipneumocócica proporciona uma prevenção específica contra a pneumonia pneumocócica e outras infecções causadas por S. pneumoniae (otite média, outras infecções do trato respiratório superior). Essa vacinação demonstrou evitar a pneumonia em pacientes saudáveis sob os demais aspectos com eficiência de 65 a 85%. Para reduzir ou prevenir as complicações graves da PAC em grupos de alto risco, aconselha-se a vacinação contra a infecção pneumocócica para: Indivíduos com 65 anos de idade ou mais. Indivíduos imunocompetentes que correm risco aumentado de doença e morte associadas à doença pneumocócica, devido a doença crônica (p. ex., doença cardiovascular, doença pulmonar, diabetes melito, doença hepática crônica) ou incapacidade. Indivíduos com asplenia funcional ou anatômica. Indivíduos que residem em ambientes ou contextos sociais onde o risco de doença apresenta-se elevado. Indivíduos imunocomprometidos com alto risco de infecção. Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomendam uma revacinação depois de 5 anos para indivíduos nas categorias de alto risco, incluindo aqueles previamente vacinados há 5 anos e aqueles que tinham mais de 65 anos de idade por ocasião da primeira vacina (CDC, 2007b). QUADRO 23.2 Além disso, os CDC (2004) identificaram quatro estratégias específicas para a prevenção da PAH: (1) educação e participação da equipe na prevenção de infecção, (2) vigilância da infecção e microbiológica, (3) prevenção da transmissão dos microrganismos e (4) modificação do risco do hospedeiro para infecção. As medidas importantes de enfermagem para prevenção da PAH consistem em efetuar intervenções antecipadas e cuidados preventivos. Tratamento Clínico Terapia Farmacológica O tratamento da pneumonia consiste na administração do antibiótico apropriado, conforme determinado pelos resultados da coloração de Gram. Entretanto, o microrganismo etiológico não é identificado em metade dos casos de PAC, quando se institui a terapia. São utilizadas diretrizes para orientar a escolha do antibiótico; todavia, os padrões de resistência, a prevalência dos microrganismos etiológicos, os fatores de risco do paciente, o contexto do tratamento (paciente internado versus ambulatorial), os custos e a disponibilidade de agentes antibióticos mais recentes devem ser considerados. O Quadro 23.2 fornece exemplos de fatores de risco passíveis de aumentar o risco de infecção por determinados tipos de patógenos. Ver a Tabela 23.1 para o tratamento de pacientes com pneumonia causada por patógenos específicos. Fatores de Risco para Infecções Pulmonares Patogênicas Fatores de Risco para Infecção por Pneumococos Resistentes à Penicilina e aos Fármacos • Idade acima de 65 anos • Alcoolismo • Terapia com betalactâmicos (p. ex., cefalosporinas) nos últimos 3 meses • Distúrbios imunossupressores • Múltiplas comorbidades clínicas • Exposição a uma criança que frequenta creche Fatores de Risco para Infecção por Bactérias Gram-negativas Entéricas • Residência em uma instituição de cuidados prolongados • Doença cardiopulmonar subjacente • Múltiplas comorbidades clínicas • Antibioticoterapia recente Fatores de Risco para Infecção por Pseudomonas aeruginosa • Doença pulmonar estrutural (p. ex., bronquiectasia) • Terapia com corticosteroide • Antibioticoterapia de amplo espectro (mais de 7 dias no último mês) • Desnutrição O manejo da PAC inclui a rápida realização de hemoculturas para identificar o patógeno etiológico e a administração imediata de antibióticos (dentro de 4 h) a pacientes com forte suspeita de PAC. No contexto ambulatorial, emprega-se frequentemente o tratamento empírico da PAC, isto é, tratamento baseado na estimativa clínica dos microrganismos etiológicos prováveis. Nos indivíduos previamente saudáveis sem fatores de risco para o S. pneumoniae resistente a fármacos, recomenda-se um antibiótico macrolídio (azitromicina, claritromicina ou eritromicina). Para pacientes ambulatoriais com PAC que apresentam doença cardiopulmonar ou outros fatores modificadores, o tratamento deve incluir uma fluoroquinolona de ação sobre o trato respiratório (moxifloxacino, gemifloxacino ou levofloxacino) ou um agente betalactâmico (cefpodoxima ou cefuroxima) mais um macrolídio (Mandell, et al., 2007). Trata-se apenas de diretrizes, e os esquemas de tratamento podem ser modificados para pacientes individuais. Para pacientes com PAC, os critérios de internação incluem idade, ambiente domiciliar/apoio de cuidadores, gravidade da doença (p. ex., índice de gravidade da pneumonia) e presença de condições comórbidas. Para pacientes que não estão recebendo tratamento intensivo, recomenda-se o uso de uma fluoroquinolona de ação sobre o trato respiratório ou um agente betalactâmico mais um macrolídio. Os critérios para admissão na unidade de terapia intensiva (UTI) incluem necessidade de ventilação mecânica; presença de choque séptico e necessidade de vasopressores; insuficiência respiratória aguda; e pelo menos três critérios menores, incluindo aumento da frequência respiratória, infiltrados multilobares, confusão mental, uremia, leucopenia e hipotermia (Mandell, et al., 2007). Para pacientes em estado crítico na UTI, o tratamento consiste em um agente betalactâmico mais azitromicina ou uma fluoroquinolona. Para a infecção causada por Pseudomonas, administra-se um betalactâmico antipneumocócico, antipseudomonas, juntamente com ciprofloxacino ou levofloxacino. Por fim, para o MRSA adquirido na comunidade, deve-se acrescentar vancomicina ou linezolida ao esquema. Os pacientes internados que recebem terapia intravenosa (IV) devem passar para a terapia oral quando estiverem hemodinamicamente estáveis, com melhora clínica e capazes de tomar medicamentos/líquidos VO, com trato gastrintestinal normalmente funcionante. Tão logo o paciente esteja clinicamente estável, não tenha problemas clínicos e possua um ambiente seguro para cuidado continuado, deve receber alta (Mandell, et al., 2007). A estabilidade clínica é definida por uma temperatura inferior ou igual a 37,8°C, frequência cardíaca inferior ou igual a 100 bpm, frequência respiratória inferior ou igual a 24 incursões/min, pressão arterial sistólica superior ou igual a 90 mmHg e saturação de oxigênio superior ou iguala 90%, com capacidade de manter um aporte oral e estado mental normal (basal). Na suspeita de PAH ou pneumonia hospitalar, o tratamento é habitualmente iniciado com um antibiótico de amplo espectro IV, podendo consistir em monoterapia ou terapia combinada. Nos pacientes sem resistência conhecida a múltiplos fármacos, utiliza-se a monoterapia com ceftriaxona, ampicilina/sulbactam, levofloxacino ou ertapenem. Na presença de resistência comprovada a múltiplos fármacos, pode-se utilizar uma terapia de combinação tríplice; esse esquema pode incluir uma cefalosporina antipseudomonas ou ceftazidima ou carbapenem antipseudomonas ou piperacilina- tazobactam mais fluoroquinolona antipseudomonas ou aminoglicosídio mais linezolida ou vancomicina. É preciso avaliar o estado do paciente dentro de 72 h após o início do tratamento, e os antibióticos devem ser mantidos ou modificados com base nos resultados da cultura (File, 2007). Um aspecto preocupante é o aumento crescente de patógenos respiratórios que se mostram resistentes aos antibióticos disponíveis (Siegel, Rhinehart, Jackson, et al., 2006). Os exemplos incluem o enterococo resistente à vancomicina (ERV), MRSA e o S. pneumoniae resistente a fármacos. Existe uma tendência dos médicos a fazer uso de antibióticos de modo agressivo e inapropriado; podem usar agentes de amplo espectro quando os agentes de espectro estreito são mais apropriados. Os mecanismos para monitorar e minimizar o uso inapropriado de antibióticos estão em destaque. É importante instruir os médicos sobre o uso de diretrizes baseadas em evidências no tratamento da infecção respiratória, e algumas instituições implementaram algoritmos para ajudar os médicos na escolha dos antibióticos apropriados. O monitoramento e a vigilância dos padrões de sensibilidade dos patógenos também são importantes. Outros Esquemas Terapêuticos Os antibióticos são ineficazes nas infecções virais do trato respiratório superior e pneumonia viral, e seu uso pode estar associado a efeitos adversos. O tratamento das infecções virais com antibióticos constitui um importante motivo para o uso excessivo desses medicamentos nos EUA. Os antibióticos só estão indicados para uma infecção respiratória viral na presença de pneumonia bacteriana secundária, bronquite ou rinossinusite. Com a exceção do uso da terapia antimicrobiana, o tratamento da pneumonia viral é idêntico ao da pneumonia bacteriana. O tratamento da pneumonia viral é basicamente de suporte. A hidratação constitui uma parte necessária da terapia, visto que a febre e a taquipneia podem resultar em perdas hídricas insensíveis. Podem ser utilizados antipiréticos para tratar a cefaleia e a febre; podem ser utilizados medicamentos antitussígenos para a tosse associada. As inalações úmidas e mornas são úteis para aliviar a irritação brônquica. Os anti-histamínicos podem proporcionar benefício com a redução dos espirros e da rinorreia. Além disso, podem ser utilizados descongestionantes nasais para tratar os sintomas e melhorar o sono; entretanto, o seu uso excessivo pode causar congestão nasal de rebote. O repouso no leito é prescrito até que a infecção exiba sinais de resolução. Se o paciente estiver hospitalizado, é cuidadosamente observado até a melhora da condição clínica. Se houver desenvolvimento de hipoxemia, administra-se oxigênio. A oximetria de pulso ou a análise da gasometria arterial são realizadas para determinar a necessidade de oxigênio e para avaliar a eficiência da terapia. A gasometria arterial pode ser usada para obter uma medida basal da oxigenação e do estado acidobásico do paciente; todavia, a oximetria de pulso é usada para monitorar continuamente a saturação de oxigênio do paciente e a resposta à terapia. As medidas mais agressivas de suporte respiratório incluem a administração de altas concentrações de oxigênio (fração de oxigênio inspirado [FiO2], intubação endotraqueal e ventilação mecânica. Podem ser necessárias diferentes modalidades de ventilação mecânica; ver o Capítulo 25. Considerações Gerontológicas A pneumonia nos pacientes idosos pode ocorrer como diagnóstico primário ou como complicação de doença crônica. Com frequência, as infecções pulmonares nos indivíduos idosos são difíceis de tratar e resultam em uma taxa de mortalidade mais elevada do que nas pessoas mais jovens. A deterioração generalizada, a fraqueza, os sintomas abdominais, a anorexia, a confusão, a taquicardia e a taquipneia podem sinalizar o início da pneumonia. O diagnóstico de pneumonia pode passar despercebido, visto que os sintomas clássicos de tosse, dor torácica, produção de escarro e febre podem estar ausentes ou mascarados nos pacientes idosos. Além disso, a presença de alguns sinais pode ser enganosa. Por exemplo, sons respiratórios anormais podem ser causados por microatelectasia, que ocorre em consequência da mobilidade diminuída, diminuição dos volumes pulmonares ou outras alterações da função respiratória. Podem ser necessárias radiografias de tórax para diferenciar a insuficiência cardíaca crônica, que é frequentemente observada no indivíduo idoso, da pneumonia como causa dos sinais e sintomas clínicos. O tratamento de suporte consiste em hidratação (com cautela e com avaliação frequente, devido ao risco de sobrecarga hídrica no indivíduo idoso), terapia com oxigênio suplementar e assistência com a respiração profunda, tosse, frequentes mudanças de posição e deambulação precoce. Todas essas medidas são particularmente importantes no cuidado a pacientes idosos com pneumonia. Para reduzir ou evitar as complicações graves da pneumonia no indivíduo idoso, recomenda-se a vacinação contra as infecções pneumocócicas e influenza (Fiore, Shay, Haber, et al., 2007). Complicações Choque e Insuficiência Respiratória As complicações graves da pneumonia consistem em hipotensão e choque, assim como em insuficiência respiratória (principalmente na presença de doença bacteriana por microrganismos gram-negativos em pacientes idosos). Essas complicações são encontradas sobretudo em pacientes que não receberam tratamento específico ou cujo tratamento foi inadequado ou tardio. Essas complicações também são encontradas quando o microrganismo infectante é resistente ao tratamento, quando a pneumonia é complicada por uma doença comórbida, ou quando o paciente está imunocomprometido. Se o paciente estiver gravemente doente, a terapia agressiva pode incluir suporte hemodinâmico e ventilatório para combater o colapso periférico, manter a pressão arterial e fornecer uma oxigenação adequada. Pode-se administrar um agente vasopressor por infusão IV contínua, em uma velocidade ajustada de acordo com a resposta da pressão. Podem ser administrados corticosteroides por via parenteral para combater o choque e a intoxicação em pacientes extremamente doentes com pneumonia e com risco aparente de morte devido à infecção. Os pacientes podem necessitar de intubação endotraqueal e ventilação mecânica. A insuficiência cardíaca, as arritmias cardíacas, a pericardite e a miocardite também constituem complicações da pneumonia que podem levar ao choque. Derrame Pleural Os derrames pleurais parapneumônicos ocorrem em pelo menos 40% das pneumonias bacterianas. O derrame parapneumônico refere-se a qualquer derrame pleural associado a pneumonia bacteriana, abscesso pulmonar ou bronquiectasia. Uma vez detectado o derrame pleural em uma radiografia de tórax, pode-se realizar uma toracocentese para remover o líquido. O líquido é enviado ao laboratório para análise. Existem três estágios dos derramespleurais parapneumônicos com base na patogenia: não complicado, complicado e empiema torácico. Ocorre empiema quando o líquido purulento e espesso acumula-se dentro do espaço pleural, frequentemente com desenvolvimento de fibrina e uma área loculada (isolada por paredes), onde se localiza a infecção (ver discussão mais adiante). Pode ser inserido um dreno torácico para tratar a infecção pleural, estabelecendo uma drenagem apropriada do empiema. A esterilização da cavidade do empiema requer 4 a 6 semanas de antibióticos, que podem consistir em clindamicina, meropenem ou piperacilina/tazobactam (Bartlett, 2007). Algumas vezes, há necessidade de tratamento cirúrgico. PROCESSO DE ENFERMAGEM O PACIENTE COM PNEUMONIA Histórico O histórico de enfermagem é crítico na detecção da pneumonia. A ocorrência de febre, calafrios ou sudorese noturna em um paciente que também apresenta sintomas respiratórios deve alertar a enfermeira quanto à possibilidade de pneumonia bacteriana. A avaliação respiratória identifica também as manifestações clínicas da pneumonia: dor de tipo pleurítico, fadiga, taquipneia, uso dos músculos acessórios para a respiração, bradicardia ou bradicardia relativa, tosse e escarro purulento. A enfermeira monitora o paciente para o seguinte: alterações na temperatura e no pulso; quantidade, odor e coloração das secreções; frequência e intensidade da tosse; grau de taquipneia ou falta de ar; alterações nos achados do exame físico (principalmente avaliados através de inspeção e ausculta do tórax); e alterações nos achados da radiografia de tórax. Além disso, é importante avaliar os pacientes idosos quanto a comportamento incomum, alteração do estado mental, desidratação, fadiga excessiva e insuficiência cardíaca concomitante. Diagnóstico • • • • • • • • • • • Diagnósticos de Enfermagem Com base nos dados do histórico, os principais diagnósticos de enfermagem podem incluir os seguintes: Eliminação traqueobrônquica ineficaz relacionada com as secreções traqueobrônquicas copiosas. Intolerância à atividade relacionada com o comprometimento da função respiratória. Risco de déficit de volume de líquido relacionado com a febre e a frequência respiratória rápida. Nutrição alterada: aporte inferior às necessidades corporais. Déficit de conhecimento acerca do esquema de tratamento e medidas de saúde de prevenção. Problemas Interdependentes/ Complicações Potenciais Com base nos dados do histórico, os problemas interdependentes ou as complicações potenciais que podem ocorrer incluem os seguintes: Persistência dos sintomas após o início da terapia. Choque. Insuficiência respiratória. Atelectasia. Derrame pleural. Confusão. Planejamento e Metas As principais metas podem consistir em melhora da permeabilidade das vias respiratórias, repouso para conservar a energia, manutenção de um volume apropriado de líquidos, manutenção da nutrição adequada, compreensão do protocolo do tratamento e das medidas de prevenção e ausência de complicações. Prescrições de Enfermagem Melhora da Permeabilidade das Vias Respiratórias É importante remover as secreções, visto que as secreções retidas interferem na troca gasosa e podem retardar a recuperação. A enfermeira incentiva a hidratação (2 a 3 ℓ/dia), visto que a hidratação adequada liquefaz e amolece as secreções pulmonares. A umidificação pode ser utilizada para amolecer as secreções e melhorar a ventilação. O uso de uma máscara facial com alta umidade (usando ar comprimido ou oxigênio), que libera ar umidificado e aquecido para a árvore traqueobrônquica, ajuda a liquefazer as secreções e alivia a irritação traqueobrônquica. A tosse pode ser iniciada seja voluntariamente ou por reflexo. As manobras de expansão pulmonar, como a respiração profunda com espirômetro de incentivo, podem induzir a tosse. Para melhorar a permeabilidade das vias respiratórias, a enfermeira incentiva o paciente a realizar uma tosse efetiva e dirigida, que inclui posicionamento correto, manobra de inspiração profunda, fechamento da glote, contração dos músculos expiratórios contra a glote fechada, abertura súbita da glote e expiração explosiva. Em alguns casos, a enfermeira pode ajudar o paciente a colocar ambas as mãos sobre a parte inferior da caixa torácica (anterior ou posteriormente) para concentrar o paciente em uma respiração profunda e lenta; a seguir, auxilia manualmente o paciente aplicando uma pressão externa constante durante a fase expiratória. A fisioterapia respiratória (percussão e drenagem postural) é importante no amolecimento e na mobilização das secreções (ver Capítulo 25). As indicações para fisioterapia respiratória incluem a retenção de escarro que não responde à tosse espontânea ou dirigida, história de problemas pulmonares previamente tratados com fisioterapia respiratória, evidência continuada de secreções retidas (sons respiratórios diminuídos ou anormais, alteração dos sinais vitais), achados anormais na radiografia de tórax compatíveis com atelectasia ou infiltrados e deterioração da oxigenação. O paciente é colocado na posição correta para drenar os segmentos pulmonares acometidos, e, a seguir, o tórax é percutido e vibrado manualmente ou com um percussor mecânico. Outros aparelhos, como o aparelho flutter (Axcan Pharma), ajudam na remoção das secreções. A enfermeira pode consultar o fisioterapeuta respiratório para os protocolos de expansão de volume e protocolos de processamento das secreções, que ajudam a direcionar o cuidado respiratório ao paciente e atendem às necessidades do paciente com esquemas de tratamento apropriados. Depois de cada mudança de posição, a enfermeira incentiva o paciente a respirar profundamente e a tossir. Se o paciente estiver muito fraco para tossir de modo efetivo, pode ser necessário que a enfermeira remova o muco através de aspiração nasotraqueal (ver Capítulo 25). Pode levar tempo para mobilizar as secreções e deslocá-las para as vias respiratórias centrais para expectoração. Por conseguinte, é importante que a enfermeira monitore o paciente quanto à tosse e produção de escarro após o término da fisioterapia respiratória. A enfermeira também administra e ajusta a oxigenoterapia, conforme prescrição ou de acordo com os protocolos. A eficiência da terapia com oxigênio é monitorada através da melhora dos sinais e sintomas clínicos, conforto do paciente e valores adequados de oxigenação, com base nas medidas da oximetria de pulso ou análise da gasometria arterial. Promoção do Repouso e Conservação da Energia A enfermeira incentiva o paciente debilitado a repousar e a evitar esforços excessivos e uma possível exacerbação dos sintomas. O paciente deve assumir uma posição confortável para promover o repouso e a respiração (p. ex., posição semi-Fowler) e deve mudar de posição com frequência, a fim de estimular a remoção das secreções e a ventilação e perfusão dos pulmões. É importante instruir os pacientes ambulatoriais a não fazer esforço excessivo e a engajar-se apenas em atividades moderadas durante as fases iniciais do tratamento. Promoção do Aporte de Líquidos A frequência respiratória dos pacientes com pneumonia aumenta, devido à carga de trabalho aumentada imposta pela respiração laboriosa e pela febre. A frequência respiratória aumentada leva a um aumento na perda hídrica insensível durante a expiração, podendo resultar em desidratação. Por conseguinte, é importante incentivar um aumento no consumo de líquidos (pelo menos 2 ℓ/dia), a não ser que haja alguma contraindicação. É importante assinalar que a hidratação deve ser realizada mais lentamente e com monitoramento cuidadoso empacientes com condições preexistentes, como insuficiência cardíaca. Manutenção da Nutrição Muitos pacientes com falta de ar e fadiga apresentam diminuição do apetite e só consomem líquidos. Os líquidos com eletrólitos (bebidas comercialmente disponíveis, como Gatorade) podem ajudar a fornecer líquido, calorias e eletrólitos. Outras bebidas nutricionalmente enriquecidas ou milk-shakes podem ser úteis. Além disso, podem ser administrados líquidos e nutrientes IV, se necessário. Promoção do Conhecimento dos Pacientes O paciente e família são instruídos acerca da causa da pneumonia, tratamento dos sintomas, sinais e sintomas que devem ser notificados ao médico ou à enfermeira e necessidade de acompanhamento. O paciente também precisa de informações sobre os fatores (tanto os fatores de risco do paciente quanto os fatores externos) que podem ter contribuído para o desenvolvimento da pneumonia e sobre estratégias para promover a recuperação e evitar a recidiva. Se o paciente estiver hospitalizado, é instruído sobre a finalidade e a importância das estratégias de tratamento que foram implementadas, bem como sobre a importância de aderir a elas durante e após a permanência hospitalar. As explicações devem ser fornecidas de maneira simples e em uma linguagem que o paciente possa compreender. Se possível, devem-se fornecer instruções e informações por escrito, e apresentados formatos alternativos para pacientes com perda da audição ou da visão, se necessário. Em virtude da gravidade dos sintomas, pode ser necessário repetir várias vezes as instruções e explicações ao paciente. Monitoramento e Tratamento das Complicações Potenciais persistência dos sintomas após o início da terapia. O paciente é observado quanto à sua resposta à antibioticoterapia. Em geral, os pacientes começam a responder ao tratamento dentro de 24 a 48 h após o início da antibioticoterapia. Se o paciente tiver iniciado os antibióticos antes de uma avaliação através de cultura e antibiograma dos agentes etiológicos, pode ser necessário trocar os antibióticos após a obtenção dos resultados. O paciente é monitorado quanto a alterações do estado físico (deterioração da condição ou resolução dos sintomas) e febre recorrente persistente, que pode resultar de alergia aos medicamentos (possivelmente indicada pelo aparecimento de exantema); resistência aos medicamentos ou resposta lenta (mais de 48 h) do microrganismo sensível à terapia; derrame pleural; ou pneumonia causada por um microrganismo incomum, como P. jiroveci ou Aspergillus fumigatus. A ausência de resolução da pneumonia ou a persistência dos sintomas, apesar das alterações na radiografia de tórax, levantam a suspeita de outros distúrbios subjacentes, como câncer de pulmão. Conforme descrito anteriormente, os cânceres de pulmão podem invadir ou comprimir as vias respiratórias, causando atelectasia obstrutiva que pode levar à pneumonia. Além de monitorar a persistência dos sintomas de pneumonia, a enfermeira também monitora outras complicações, como choque e falência múltipla de sistemas, assim como atelectasia, que podem desenvolver-se nos primeiros dias do tratamento com antibióticos. CHOQUE E INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA. A enfermeira investiga a presença de sinais e sintomas de choque e insuficiência respiratória através da avaliação dos sinais vitais do paciente, valores da oximetria de pulso e parâmetros de monitoramento hemodinâmico. A enfermeira relata os sinais do estado de deterioração do paciente e ajuda na administração de líquidos e medicamentos IV prescritos para combater o choque. A intubação e a ventilação mecânica podem ser necessárias se ocorrer insuficiência respiratória. O choque é descrito de modo pormenorizado no Capítulo 15, enquanto o cuidado ao paciente que recebe ventilação mecânica é descrito no Capítulo 25. DERRAME PLEURAL. Se houver desenvolvimento de derrame pleural, e a toracocentese for realizada para a remoção do líquido, a enfermeira ajuda no procedimento e o explica ao paciente. Depois da toracocentese, a enfermeira monitora o paciente quanto ao pneumotórax ou à recidiva do derrame pleural. Se for necessária a inserção de um dreno torácico, a enfermeira monitora o estado respiratório do paciente (ver Capítulo 25 para maiores informações sobre o cuidado aos pacientes com drenos torácicos). CONFUSÃO. O paciente com pneumonia é avaliado quanto à presença de confusão mental e outras alterações mais sutis do estado cognitivo. A confusão mental e as alterações do estado cognitivo em decorrência da pneumonia constituem sinais de prognóstico sombrio. A confusão pode estar relacionada com a hipoxemia, febre, desidratação, privação de sono ou desenvolvimento de sepse. As condições comórbidas subjacentes do paciente também podem desempenhar certo papel no desenvolvimento da confusão. As prescrições de enfermagem importantes consistem em abordar os fatores subjacentes e garantir a segurança do paciente. Promoção do Cuidado Domiciliar e Comunitário ENSINO SOBRE O AUTOCUIDADO AOS PACIENTES. Dependendo da gravidade da pneumonia, o tratamento pode ser realizado no hospital ou no ambiente ambulatorial. A orientação do paciente é essencial, independentemente do contexto, e é importante a administração correta dos antibióticos. Em alguns casos, o paciente pode ser inicialmente tratado com antibióticos IV como paciente internado e, em seguida, pode receber alta para continuar os antibióticos IV em casa. É importante que seja mantido um sistema de cuidados contínuos para o paciente desde o hospital até a sua casa; isso engloba a comunicação entre as enfermeiras que cuidam do paciente em ambos os ambientes. Se forem prescritos antibióticos orais, é importante ensinar o paciente sobre a sua administração correta e sobre os efeitos colaterais potenciais. O paciente deve ser instruído sobre os sintomas que precisam ser comunicados ao profissional de saúde: dificuldade na respiração, agravamento da tosse, febre recorrente/crescente e intolerância aos medicamentos. Após a resolução da febre, o paciente pode aumentar suas atividades de modo gradativo. A fadiga e a fraqueza podem ser prolongadas depois da pneumonia, especialmente nos idosos. A enfermeira incentiva os exercícios respiratórios para promover a eliminação das secreções e a expansão do volume. O paciente que está sendo tratado em base ambulatorial deve ser contatado pela equipe de saúde ou instruído a entrar em contato com o profissional de saúde dentro de 24 a 48 h após iniciar a terapia. O paciente também é instruído a retornar à clínica ou ao consultório médico para efetuar uma radiografia de tórax de acompanhamento e exame físico. Com frequência, a melhora nos achados da radiografia de tórax apresenta um atraso em relação à melhora nos sinais e sintomas clínicos. A enfermeira incentiva o paciente a abandonar o tabagismo. Fumar inibe a ação ciliar traqueobrônquica, que constitui a primeira linha de defesa do trato respiratório inferior. O tabaco também irrita as células mucosas dos brônquios e inibe a função dos macrófagos alveolares (células depuradoras). O paciente é instruído a evitar o estresse, a fadiga, mudanças súbitas da temperatura e consumo excessivo de álcool, todos os quais diminuem a resistência à pneumonia. A enfermeira revê com o paciente os princípios de nutrição e repouso adequados, visto que um episódio de pneumonia pode tornar o paciente suscetível a infecções recorrentes do trato respiratório. cuidado continuado. O paciente que está gravemente debilitado ou que não pode cuidar de si próprio pode precisar de encaminhamento para cuidado domiciliar. Durante asvisitas domiciliares, a enfermeira avalia o estado físico do paciente, monitora as complicações, observa o ambiente domiciliar e reforça o ensino prévio. A enfermeira verifica a adesão do paciente ao esquema terapêutico (i. e., se ele toma os medicamentos conforme prescrição, realiza os exercícios respiratórios, consome quantidades adequadas de líquidos e nutrientes e evita o cigarro, o álcool e as atividades excessivas). A enfermeira ressalta para o paciente e família a importância de monitorar as complicações ou a exacerbação da pneumonia. A enfermeira incentiva o paciente a vacinar-se contra a influenza nos momentos prescritos, visto que a influenza aumenta a suscetibilidade à pneumonia bacteriana secundária, particularmente aquela causada por estafilococos, H. influenzae e S. pneumoniae. A enfermeira também estimula o paciente a procurar aconselhamento médico sobre a vacina (Pneumovax) contra S. pneumoniae. Evolução Resultados Esperados do Paciente Os resultados esperados do paciente podem incluir os seguintes: 1. Apresenta melhora na permeabilidade das vias respiratórias, conforme evidenciado pela oxigenação adequada na oximetria de pulso ou na análise da gasometria arterial, temperatura normal, sons respiratórios normais e tosse efetiva.
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