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ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO PARA O CUIDADO Lina Sant Anna Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar o padrão do consumo de alimentos no Brasil. � Enumerar os problemas nutricionais que mais afetam a saúde da população brasileira. � Descrever hábitos saudáveis de consumo de alimentos. Introdução O padrão de consumo de alimentos e de atividade física está relacionado com o estado nutricional da população. A população brasileira, nas últimas décadas, passou por transformações que ocasionaram uma elevação de seu padrão socioeconômico, acesso ampliado aos serviços básicos de saúde e maior expectativa de vida. Em contrapartida vê-se um aumento no consumo de alimentos processados e das taxas de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). Desde a década de 70, pesquisas realizadas em conjunto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Ministério da Saúde observam a evolução do padrão de consumo de alimentos das famílias brasileiras e a sua relação com o estado nutricional e o desenvolvimento dessas doenças. Dada a prioridade para reverter esses problemas, há necessidade de melhor compreensão dos fatores determinantes na escolha de alimentos e assim focar naqueles que são passíveis de mudança e intervenções bem-sucedidas. O enfermeiro tem papel fundamental na prevenção dos problemas re- lacionados à nutrição, pois está constantemente envolvido em momentos que oportunizam o ensino, particularmente para cuidados preventivos. O enfermeiro também pode ajudar a rever a dieta de um paciente para melhorar suas escolhas alimentares e ajudá-lo na seleção de alimentos mais saudáveis. Padrão de consumo de alimentos no Brasil Definição de padrão alimentar Denomina-se de padrão alimentar o conjunto de alimentos frequentemente consumidos por indivíduos e populações e que apresenta um retrato geral da ingestão usual. Antigamente, para avaliar os padrões alimentares, levava-se em conta apenas o consumo de nutrientes ou de alimentos isoladamente. Hoje, sabemos que o conhecimento do padrão alimentar de uma população exige analisar a dieta a partir de uma perspectiva ampla, que permita perceber o efeito da dieta na saúde de um indivíduo ou de uma população (CARVALHO et al., 2016). Sabemos que o principal fator que leva um indivíduo a comer é a fome, mas o que ele escolhe para comer não é determinado apenas por necessidades fisiológicas ou nutricionais. Alguns dos fatores que influenciam a escolha de alimentos são explicados a seguir. � Biológicos — Os seres humanos precisam de energia e nutrientes para sobreviver e respondem aos sentimentos de fome e saciedade. Outros fatores biológicos são o gosto e o apetite por determinados alimentos. � Demográficos — A urbanização e a globalização afetam o consumo de alimentos pois, em consequência da migração das zonas rurais para as cidades, o trabalho tradicional na lavoura foi substituído por ativi- dade física menos intensa. Com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, houve a redução do tempo para o preparo de refeições tradicionais. Também se observa a facilidade em adquirir alimentos, principalmente refeições pré-elaboradas e lanches rápidos. � Sociais — Referem-se à influência de uma pessoa ou grupo sobre o comportamento alimentar de outras, seja direto (comprando comida) ou indireto (pelo exemplo); seja consciente (pela transferência de crenças) ou subconsciente. Mesmo quando se come sozinho, a escolha de ali- mentos é influenciada por fatores sociais, porque as atitudes e hábitos se desenvolvem através da interação com os outros. Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos2 � Econômicos — O custo dos alimentos é um dos principais determinantes do padrão alimentar de um indivíduo pois a aquisição depende funda- mentalmente da sua renda e situação socioeconômica. Grupos de baixa renda têm uma tendência mais forte a consumir dietas desequilibradas e, em particular, têm baixa ingestão de frutas e vegetais. No entanto, o maior poder socioeconômico nem sempre é sinônimo de uma dieta de melhor qualidade. � Educacionais — O nível de educação pode influenciar o comportamento alimentar durante a vida adulta. Em contraste, o conhecimento nutricio- nal e os bons hábitos alimentares não estão fortemente correlacionados. Isso ocorre porque o conhecimento sobre a saúde não leva à ação direta quando os indivíduos não sabem como aplicar seus conhecimentos. � Culturais e religiosos — Além de influenciar o consumo e o preparo de determinados alimentos, crenças religiosas podem impor restrições alimentares, como a exclusão de carne, glúten e leite da dieta. As influên- cias culturais são, no entanto, passíveis de transformação. Quando se mudam para um novo país, as pessoas frequentemente adotam hábitos alimentares da cultura local. No Brasil, houve a influência por parte dos colonizadores do país. Portugueses, espanhóis, indígenas, africa- nos, alemães, japoneses, árabes e tantos outros povos influenciaram a culinária brasileira. � Psicológicos — Estresse, ansiedade e depressão são situações caracte- rísticas comuns da vida moderna e podem modificar comportamentos que afetam a saúde, como atividade física, tabagismo ou escolha de alimentos (THE EUROPEAN FOOD INFORMATION COUNCIL, 2006). Os estudos realizados para conhecer o padrão alimentar são relevantes para avaliação e monitoramento das condições de saúde, alimentação e nutrição da população. Os resultados desses estudos podem ser utilizados para definir ações e programas para a melhoria da adequação alimentar e nutricional. 3Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos Pesquisas sobre o padrão alimentar do brasileiro A primeira pesquisa nacional domiciliar a avaliar o consumo alimentar e o estado nutricional dos brasileiros foi realizada na década de 1970 e foi denominada de Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF). Nessa pes- quisa, foi realizada a pesagem de alimentos por sete dias consecutivos, uma metodologia demorada e dispendiosa. Somente quase duas décadas depois foi realizada outra pesquisa com esse objetivo, a denominada Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 1987/88). Seguiu-se a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN/1989) e outras três POFs (em 1995/96, em 2002/03 e, a mais recente, em 2008/09). Por fim, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/2013), promovida pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi a primeira do IBGE a realizar coleta de sangue para exames laboratoriais, a fim de caracterizar o perfil lipídico, de glicemia e de creatinina plasmática de um morador, com mais de 18 anos, em cada domicílio (SPERANDIO; PRIORE, 2017). A mais recente POF começou em junho de 2017 e será finalizada em 2018. Serão visitados cerca de 75 mil domicílios, em 1.900 municípios de todo o país. Além das pesquisas realizadas em domicílio, desde 2006 é realizada uma pesquisa por telefone, denominada Vigilância dos Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), Essa pesquisa monitora os principais fatores de risco e de proteção para o desenvolvimento de DCNTs. Em relação aos inquéritos alimentares, ou seja, às metodologias utilizadas nestes estudos, destacam-se o diário ou registro alimentar, o recordatório de 24 horas, o questionário de frequência alimentar (QFA) e a história alimentar. No Quadro 1 serão descritos esses métodos, suas vantagens e desvantagens. Para conhecer os resultados da pesquisa VIGITEL realizada em 2017, acesse o link a seguir. https://goo.gl/p4RYxQ Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos4 https://goo.gl/p4RYxQ In qu ér it o al im en ta r O q ue é Va nt ag en s D es va nt ag en s Re co rd at ór io de 2 4 ho ra s Re gi st ra a lim en to s e be bi da s i ng er id os e m um d ia ant er io r, po r m ei o de e nt re vi st a in di vi du al . � rá pi da a pl ic aç ão � nã o al te ra a in ge st ão a lim en ta r � po de s er re sp on di da p or p es so as de q ua lq ue r f ai xa e tá ria e p or an al fa be to s � ba ix o cu st o � de pe nd e da m em ór ia d o en tr ev ist ad o � de pe nd e da c ap ac id ad e de o e nt re vi st ad or es ta be le ce r u m a bo a co m un ic aç ão � de ve s er a pl ic ad o pe lo m en os tr ês v ez es , se nd o do is di as s em an ai s e u m d ia d o fim d e se m an a D iá ri o al im en ta r o u re gi st ro a lim en ta r Re co lh e in fo rm aç õe s so br e a in ge st ão at ua l d e um in di ví du o ou d e um g ru po po pu la ci on al . � os a lim en to s s ão a no ta do s n o m om en to d o co ns um o � nã o de pe nd e da m em ór ia � m en or e rro q ua nd o há o rie nt aç ão de ta lh ad a pa ra o re gi st ro � m ed e o co ns um o at ua l � id en tif ic a tip os d e al im en to s e pr ep ar aç õe s c on su m id os e ho rá rio s d as re fe iç õe s � co ns um o po de s er a lte ra do , p oi s o in di ví du o sa be q ue e st á se nd o av al ia do � re qu er q ue o e nt re vi st ad o sa ib a le r e e sc re ve r � há d ifi cu ld ad e pa ra e st im ar a s p or çõ es � ex ig e al to n ív el d e m ot iv aç ão e c ol ab or aç ão � o en tr ev ist ad o de ve c on he ce r m ed id as ca se ira s Q ua dr o 1. T ip os d e in qu ér ito s a lim en ta re s e su as v an ta ge ns e d es va nt ag en s (C on tin ua ) 5Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos Fo nt e: A da pt ad o de F isb er g, M ar ch io ni e C ol uc ci (2 00 9) . Q ua dr o 1. T ip os d e in qu ér ito s a lim en ta re s e su as v an ta ge ns e d es va nt ag en s In qu ér it o al im en ta r O q ue é Va nt ag en s D es va nt ag en s Q ue st io ná ri o de fr eq uê nc ia a lim en ta r Co m po st o po r u m a lis ta d e al im en to s pr ed ef in id a e um a se çã o co m a fre qu ên ci a de co ns um o (n úm er o de v ez es q ue o in di ví du o co ns om e um d et er m in ad o al im en to p or d ia , se m an a, m ês o u an o) . � es tim a a in ge st ão h ab itu al d o in di ví du o � nã o al te ra o p ad rã o de c on su m o; � ba ix o cu st o � cl as sif ic a os e nt re vi st ad os e m ca te go ria s d e co ns um o � el im in a as v ar ia çõ es d e co ns um o do d ia a d ia � a di gi ta çã o e a an ál ise d o in qu ér ito s ão re la tiv am en te sim pl es , c om pa ra da s a o ut ro s m ét od os � de pe nd e da m em ór ia d os h áb ito s a lim en ta re s pa ss ad os e d e ha bi lid ad es c og ni tiv as p ar a es tim ar o c on su m o m éd io e m lo ng o pe río do de te m po p re gr es so � de se nh o do in st ru m en to re qu er e sf or ço e te m po � di fic ul da de s p ar a a ap lic aç ão c on fo rm e o nú m er o e a co m pl ex id ad e da li st a de al im en to s � qu an tif ic aç ão p ou co e xa ta H is tó ri a al im en ta r Ex te ns a en tr ev ist a co m o p ro pó sit o de ge ra r i nf or m aç õe s so br e os h áb ito s al im en ta re s a tu ai s e pa ss ad os . � el im in a as v ar ia çõ es d e co ns um o do d ia a d ia � le va e m c on sid er aç ão a v ar ia çã o sa zo na l � fo rn ec e a de sc riç ão d a in ge st ão ha bi tu al e m re la çã o ao s a sp ec to s qu al ita tiv os e q ua nt ita tiv os � re qu er e nt re vi st ad or es tr ei na do s � de pe nd e da m em ór ia d o en tr ev ist ad o � te m po lo ng o de a dm in ist ra çã o Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos6 Mudanças no padrão alimentar do brasileiro Sabemos que os padrões alimentares estão em constante evolução e percebemos que houve uma modificação dos padrões alimentares na população brasileira. Ocorreu a redução do consumo de alimentos in natura e minimamente proces- sados (como os vegetais, frutas, carnes, ovos e leite) e o aumento do consumo dos alimentos processados, com teor elevado de açúcares, gorduras e sódio. Essa modificação é consequência de alguns fatores, como a globalização, a melhoria das condições socioeconômicas da população e o êxodo rural. A Figura 1 ilustra a evolução das quantidades adquiridas para consumo no domicílio, entre as POFs 2002–2003 e 2008–2009 para alguns alimentos. Figura 1. Evolução das quantidades adquiridas para consumo no domicílio, entre as POFs 2002–2003 e 2008–2009 para os alguns alimentos. Fonte: Adaptada de Brasil (2009). 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 A rr oz p ol id o Fe ijã o Ba ta ta -in gl es a Fa rin ha d e m an di oc a Fa rin ha d e tr ig o Pã o fr an cê s Aç úc ar c ris ta l Ce rv ej a Ág ua m in er al Re fr ig er an te d e co la 2002-2003 2008-2009 Kg 7Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos Como pode ser visto na Figura 1, os resultados disponíveis nas últimas POF indicam características desfavoráveis da evolução da aquisição de alimentos para consumo domiciliar no Brasil, indicando uma tendência de redução no consumo de arroz, feijão, batata e farinha de trigo e aumento no consumo relativo de pão, cerveja e refrigerante. O prato típico brasileiro, composto por arroz com feijão, apresentou uma redução considerável nas quantidades adquiridas para o consumo domiciliar. Enquanto na POF 2002–2003, a quantidade média per capita adquirida de arroz foi de 24,546 kg, na POF 2008–2009, essa média foi de 14,609 kg. As aquisições médias de feijão diminuíram, no mesmo período, de 12,394 kg para 9,121 kg. Já o grupo dos alimentos industrializados, teve, proporcionalmente, o maior aumento relativo (37%), passando de 2,560 kg, em 2002–2003, para 3,506 kg, em 2008–2009. Vemos que o prato tradicional brasileiro tem perdido espaço para uma dieta com forte presença de alimentos industrializados e altamente processados (BRASIL, 2009). Para Castro Júnior (2013), os dados comparativos das duas POFs (2002–03 e 2008–09) sobre a aquisição de alimentos são indicativos de novos padrões de consumo que levam ao ganho de peso em todas as classes de renda, in- clusive nas de menor nível. De acordo com esses dados, há a substituição de carboidratos, excluídos os açúcares livres, por proteínas de origem animal e por gorduras (sobretudo saturadas e trans), bem como baixa ingestão de fibras (consumo insuficiente em 68% da população), refletindo a ingestão inadequada de macro e micronutrientes por grande parte dos brasileiros. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada em 2013 pelo IBGE, com 63 mil pessoas, observou que apenas 37% da população acima de 18 anos consumia cinco porções diárias de frutas e hortaliças. A proporção de pessoas que referiram consumo de carne ou frango com excesso de gordura foi de 37,2% O consumo regular de refrigerantes ou sucos arti- ficiais foi quantificado em pelo menos cinco dias da semana. No Brasil, 23,4% das pessoas de 18 anos ou mais de idade apresentam esse padrão de consumo. Outro hábito de alimentação considerado não saudável é a ingestão de alimentos doces, como bolos, tortas, chocolates, balas, biscoitos ou bolachas em cinco dias ou maisna semana. No Brasil, o percentual de pessoas que referiram esse hábito foi 21,7%. O consumo excessivo do sal estava presente em 14,2% da população. Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos8 Problemas nutricionais da população brasileira A população brasileira, nas últimas cinco décadas, experimentou transições sociais, demográficas e epidemiológicas que resultaram em mudanças no seu padrão de saúde e consumo alimentar. Algumas das mudanças foram: � maior desenvolvimento econômico — aparecimento das indústrias e consequente crescimento das cidades; � êxodo rural — hoje o Brasil é um país urbano, visto que muitas pessoas que moravam na zona rural buscaram melhores oportunidades nas cidades; � transição demográfica — menor taxa de natalidade e mortalidade in- fantil e aumento da expectativa de vida, resultando, hoje no aumento do número de pessoas com mais de 50 anos de idade; � redução do gasto energético — antigamente a maior parte do trabalho, seja no campo ou nas cidades, exigia muito esforço físico e as pessoas tinham um maior gasto energético. Hoje, os equipamentos e a tecnologia vêm substituindo a força de trabalho humana e as pessoas tornaram-se menos ativas fisicamente; � redução do consumo de alimentos in natura e minimamente processados por alimentos industrializados — pelo fácil acesso e pela praticidade muitas pessoas optam pelo consumo desses produtos, que apresentam altos teores de gorduras, açúcares e sódio; � maior acesso aos serviços de saúde, saneamento básico, vacinas (BRA- SIL, 2013a). Todas essas transformações acarretaram a diminuição da pobreza e con- sequentemente, da fome e da desnutrição. Por outro lado, observa-se um aumento crescente do excesso de peso em todas as camadas da população, apontando para um novo cenário de problemas relacionados à alimentação e à nutrição. A esse fenômeno, damos o nome de transição nutricional (BRASIL, 2013b). A Figura 2 ilustra a relação da transição nutricional com as transições demográficas e epidemiológicas. 9Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos Figura 2. Relação das transições epidemiológicas e demográficas com a transição nutricional. Fonte: Adaptada de Soares (2017, p. 5). Transição nutricional Transição demográ�ca Transição epidemiológica Envelhecimento da população Baixa fecundidade Alta expectativa de vida Baixa prevalência de doenças infectocontagiosas Baixa desnutrição (fome, falta de saneamento básico e pobreza) Altas CDNTs A transição nutricional é um processo que corresponde às mudanças de padrões nutricionais da população, essencialmente determinadas pelas alterações na dieta e na composição corporal dos indivíduos, resultando em importantes modificações no perfil de saúde e nutrição (SOARES, 2003, p. 2). A transição nutricional tem repercussões negativas na saúde da população, aumentando a prevalência de sobrepeso e da obesidade e, consequentemente, das DCNTs, principalmente diabetes, hipertensão arterial, doenças cardio- Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos10 vasculares e cânceres, acarretando mudanças no padrão da distribuição da morbimortalidade (SOUZA, 2010). O aumento das taxas de DCNT também foi verificado na Pesquisa Nacional de Saúde anteriormente citada. Os resultados mostraram que cerca de 40% da população adulta brasileira, o equivalente a 57,4 milhões de pessoas, possui pelo menos uma DCNT. Essas doenças são consideradas um problema de saúde pública e respondem por mais de 70% das causas de mortes no Brasil, principalmente antes dos 70 anos de idade. Além disso, causam perda da qualidade de vida, gerando incapacidades e alto grau de limitação das pessoas doentes em suas atividades de trabalho e de lazer (BRASIL, 2013a). Para conhecer mais sobre a prevalência de DCNTs no Brasil acesse o link a seguir: Pesquisa Nacional de Saúde de 2013. Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. https://goo.gl/McvtFf Abordaremos agora os principais problemas nutricionais no Brasil, de acordo com as últimas pesquisas realizadas. Excesso de peso e obesidade Tanto o excesso de peso quanto a obesidade são definidos pelo acúmulo ex- cessivo de gordura no corpo. A causa desses problemas é multifatorial, ou seja, vários fatores podem contribuir para isso, como o excesso de consumo de alimentos, a falta de atividade física, a genética, o ambiente e os fatores emocionais. Os malefícios causados por essas condições são muitos, mas as conse- quências variam de acordo com a quantidade de gordura e sua distribuição pelo corpo. Quando a gordura corporal está concentrada na região superior do corpo (abdome), temos a distribuição androide. Quando está concentrada na região inferior do corpo (quadris e coxas), temos a distribuição ginoide. As consequências negativas, tanto de ordem metabólica, quanto cardiovascular, 11Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos https://goo.gl/McvtFf parecem ser mais significativas nas pessoas que possuem distribuição de gor- dura androide, pois a gordura visceral associa-se a um aumento das gorduras em circulação no sangue (triglicerídeos e colesterol), e a outras complicações graves como a hipertensão arterial, o diabetes e a aterosclerose. A Figura 3 mostra os dois tipos de distribuição de gordura. Figura 3. Distribuição da gordura no corpo humano. Fonte: Adaptada de Silva (2012). Tecido adiposo branco Tecido adiposo marrom Órgãos internos Gordura androide Gordura ginoide Os prejuízos causados pela obesidade são: dificuldade para respirar e caminhar; pro- blemas na coluna, nos quadris e joelhos; favorecimento de outras doenças, como hipertensão arterial, diabetes e alguns tipos de câncer. Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos12 Observa-se que, desde 1974, quando foi realizada a primeira pesquisa que avaliou o perfil nutricional da população brasileira, o excesso de peso e a obe- sidade tiveram um aumento contínuo. A última POF, realizada em 2008/2009, verificou que o excesso de peso quase triplicou entre homens. Foi de 18,5% em 1974–75 para 50,1% em 2008-09. Nas mulheres, o aumento foi menor: de 28,7% para 48%. Já a obesidade cresceu mais de quatro vezes entre os homens, de 2,8% em 1974 para 12,4% e mais de duas vezes entre as mulheres, de 8% para 16,9%. A Figura 4 mostra a evolução do perfil nutricional da população brasileira, desde 1974 até 2009. Figura 4. Evolução de indicadores de peso na população de 20+ anos de idade, por sexo – Brasil – períodos 1974-75, 1989, 2002-2003 e 2008-2009. Fonte: Adaptada de Brasil (2009). Dé�cit de peso Excesso de peso Obesidade ObesidadeExcesso de peso Dé�cit de peso 60 50 40 30 20 10 0 Masculino Feminino 1974-1985 (1) 1989 (2) 2002-2003 2008-2009 8,0 4,43,11,8 18,5 29,9 41,4 50,1 2,8 5,4 9 12,4 11,8 6,45,63,6 28,7 41,4 40,9 48 8 13,2 13,5 16,9 A última edição da VIGITEL (BRASIL, 2018) observou que a frequência de excesso de peso foi de 54%, sendo maior entre homens (57,3%) do que entre mulheres (51,2%). E a de adultos obesos foi de 18,9%, sem diferença entre os sexos. 13Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos Hipertensão arterial A hipertensão arterial, também conhecida como pressão alta, é uma doença crônica controlável e um importante fator de risco para o mau funcionamento de alguns órgãos, como o coração, o cérebro e os rins. É considerada uma doença silenciosa, ou seja, a maioria das pessoas não apresenta nenhum sin- toma, embora tonturas, dores de cabeça, zumbidos no ouvido e dores no peito possam ser sinais de alerta. Segundo a PNS (BRASIL, 2014), a proporção de indivíduos de 18 anos ou mais que referem diagnóstico de hipertensão arterial no Brasil foi de 21,4%, o que corresponde a 31,3 milhões de pessoas. 35,9% afirmaram obter pelo menos um medicamento para hipertensão. Na pesquisa VIGITEL (BRASIL, 2018) a frequência de diagnóstico médico de hipertensão arterial foi de 24,3%, sendo maior em mulheres (26,4%) doque em homens (21,7%). Diabetes melito O diabetes melito se caracteriza como um transtorno metabólico causado pela deficiência ou ausência da insulina, que leva a um estado de hiperglicemia (ou elevação da glicose sanguínea). A função da insulina é transportar a glicose do sangue até as células, para que a mesma seja utilizada como fonte de energia. Na falta desse hormônio, porém, o açúcar permanece no sangue e pode ser prejudicial ao organismo, causando problemas nos rins, coração, olhos e circulação. No Brasil, o diabetes representa uma das principais causas de morte, além de provocar problemas renais, amputação (remoção) dos membros inferiores (pernas e pés), cegueira e doenças cardiovasculares (BRASIL. 2009). Em 2013, a PNS estimou que 6,2% da população brasileira de 18 anos de idade ou mais referiram diagnóstico médico de diabetes, o que equivale a um contingente de 9,1 milhões de pessoas (BRASIL, 2014). Dentre as pessoas de 18 anos ou mais que referiram diagnóstico médico de diabetes, foi investigado se obtiveram pelo menos um medicamento para diabetes na farmácia popular. A pesquisa estimou que essa proporção foi de 57,4%. A pesquisa VIGITEL (BRASIL, 2018) verificou que houve um aumento, em 2013, na proporção dos diagnosticados com diabetes. A frequência aumentou para 7,6%, sem diferença entre os sexos. Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos14 Câncer Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm, em comum, o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos. O câncer pode começar quase em qualquer lugar do corpo humano, que é composto de trilhões de células. Normalmente, as células humanas crescem e se dividem para formar novas células, conforme o corpo precisa delas. Quando as células envelhecem ou ficam danificadas, elas morrem e novas células tomam o seu lugar. Quando o câncer se desenvolve, no entanto, esse processo ordenado se decompõe. À medida que as células se tornam cada vez mais anormais, as células velhas ou danificadas sobrevivem quando deveriam morrer, e novas células se formam quando não são necessárias. Essas células extras podem se dividir sem parar e podem formar tumores malignos ou benignos. Trata-se de uma doença causada por vários fatores, como tabagismo; hábitos alimentares inadequados; fatores genéticos e o próprio processo de envelhecimento. Em 2013, a PNS estimou que 1,8% das pessoas de 18 anos de idade ou mais (2,7 milhões de adultos), referiram diagnóstico médico de câncer no Brasil. Entre as mulheres diagnosticadas, o câncer de mama foi relatado por 39,1% e o de colo de útero por 11,8%. O câncer de pele correspondeu a 16,2%. O câncer de próstata foi relatado por 36,9% dos homens. Por fim, a pesquisa estimou que 3,0% dos primeiros tipos de câncer diagnosticados entre pessoas de 18 anos ou mais de idade foi o de estômago, enquanto 1,3% foi a proporção para os casos de câncer de pulmão (BRASIL, 2014). Como permitem verificar as pesquisas, as DCNTs estão em contínuo crescimento no país. Para deter seu avanço, o Ministério da Saúde lançou, em 2011, o Plano de Enfrentamento das DCNTs, estabelecendo metas e ações previstas até 2022, com o objetivo de reduzir em 25% a mortalidade por essas enfermidades. Verificou-se também que as desigualdades sociais, a baixa escolaridade, as desigualdades no acesso à informação e no acesso aos bens e aos serviços de saúde, são alguns dos fatores de risco de desenvolvimento das DCNTs. Há também fatores relacionados ao comportamento do indivíduo, que incluem o tabagismo, consumo de bebida alcoólica, a inatividade física e a alimentação inadequada. Assim, as metas relacionadas a esses fatores são: � redução do consumo de sal em 30%; � aumento da ingestão de frutas, legumes e verduras em 10%; 15Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos � redução do uso do tabaco em 30%; � redução do consumo abusivo de álcool em 10%; � aumento da prática de atividade física em 10% (BRASIL, 2018). O Plano de Enfrentamento das DCNTs prevê também metas específicas para a alimentação, como: � promover alimentação saudável no Programa Nacional de Alimentação Escolar e no Programa Saúde na Escola (PSE); � aumentar a oferta de alimentos saudáveis — por meio de parcerias e acor- dos com a sociedade civil (agricultores familiares, pequenas associações) para o aumento da produção e oferta de alimentos in natura e do apoio a iniciativas para o aumento da oferta de alimentos básicos e minimamente processados, no contexto da produção, do abastecimento e do consumo; � regular a composição nutricional de alimentos processados — por meio de acordos com a indústria de alimentos e parcerias com a população, para a redução do sal e do açúcar nos alimentos processados; � reduzir os preços dos alimentos saudáveis — por meio da redução de impostos, taxas e de aumento dos subsídios para os produtores; � regulamentar a rotulagem de alimentos — aprimorar as normas de rotulagem de alimentos e promover ações de regulação de publicidade de alimentos e bebidas não alcoólicas e de alimentos na infância. � prevenir a obesidade — implantar o Plano Intersetorial de Obesidade (BRASIL, 2018). Anemia ferropriva A anemia não se define como uma DCNT, porém sua frequência no Brasil é muito alta. Seus dados variam de acordo com a região do país sendo de 22 a 77%. Essa condição compromete, principalmente, alguns grupos mais sensíveis à escassez de ferro devido ao crescimento rápido ou ao aumento de demanda, como ocorre principalmente com crianças entre seis meses e cinco anos de idade, adolescentes do sexo feminino, mulheres em idade fértil, gestantes e nutrizes (AMARANTE, 2015). A anemia ferropriva ocasiona uma redução da hemoglobina no sangue e essa condição ocorre devido ao consumo de alimentos pobres em ferro ou devido à dificuldade do organismo em absorver o ferro. Pessoas que têm anemia apresentam cansaço, palidez, falta de apetite, risco de infecções, Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos16 fraqueza e, nos casos mais graves, sangramento nas gengivas e palpitações no coração. Nas crianças, pode também comprometer o desenvolvimento motor, da coordenação, da linguagem e da aprendizagem (BRASIL, 2009). Hábitos saudáveis de consumo de alimentos Uma alimentação saudável deve incluir o consumo diário de água, carboidratos, lipídeos, proteínas, fibras e os micronutrientes, pois são indispensáveis ao organismo, ou seja, o indivíduo precisa incluir todos os nutrientes para que o crescimento, desenvolvimento e manutenção da saúde sejam adequados. Entretanto, para facilitar o entendimento da população sobre alimentação saudável, os especialistas afirmam que se deve focar no alimento e não no nutriente. As pessoas não consomem nutrientes, mas alimentos palpáveis, com cheiro, cor, textura e sabor. Assim, podem-se estabelecer metas mais realistas de consumo, identificando alimentos específicos em grupos, conforme o Quadro 2. Grupo Nutrientes Cereais e tubérculos Contribuem com carboidratos complexos, vitaminas do complexo B e magnésio. Vegetais e frutas Contribuem com vitamina A, C, potássio e fibras e são pobres em gordura, colesterol e sódio. Carnes e ovos As carnes contribuem com proteínas, fósforo, vitamina B6, B12, zinco, ferro heme; os ovos contêm proteínas, gordura e vitamina A. Leite e derivados São fontes de cálcio, proteínas, gorduras, vitamina B2. Leguminosas São os alimentos vegetais mais ricos em proteínas, além de serem excelentes fontes de fibras, ferro não heme e outros micronutrientes. Óleos; gorduras e açúcares Algumas gorduras possuem ácidos graxos mono (abacate, azeite oliva) e poli-insaturados (peixes, linhaça). Os açúcares devem ser consumidos com moderação, pois são considerados calorias vazias. Quadro 2. Alimentos saudáveis por grupo 17Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos O ferro heme é o ferro mais facilmente absorvido pelo corpo e está presente em alimentosde origem animal. Já o ferro não heme é menos absorvido e está presente em alimentos de origem vegetal. As orientações nutricionais baseadas em alimentos são facilmente compre- endidas por todas as pessoas e, assim, quando o indivíduo ingere uma varie- dade de alimentos de todos os grupos, ele assegura uma dieta com conteúdo suficiente de todos os nutrientes, visto que nenhum alimento isoladamente preenche todas as necessidades nutricionais. A variedade na dieta é importante para que o indivíduo obtenha todos os nutrientes. A carne possui proteínas e ferro, mas não possui carboidrato ou cálcio. Ovos fornecem gorduras e vitamina A. O leite de vaca contém cálcio, mas pouco ferro. Percebe-se, portanto, que os nutrientes estão espalhados pelos alimentos e por isso não é consi- derado um hábito saudável consumir apenas um grupo. Outro hábito saudável de consumo de alimentos é a moderação. Comer moderadamente significa ingerir pequenas porções de alimentos, fazendo um planejamento das refeições ao longo do dia, de modo a não consumir um ou mais nutrientes de forma excessiva. O consumo excessivo também pode ocorrer quando o indivíduo faz uso desnecessário de suplementos alimentares, sem acompanhamento profissional. A moderação está relacionada a ingerir determinado alimento de forma suficiente. Se o indivíduo consumiu muito açúcar em forma de refrigerante no almoço, deve reduzir o consumo de açúcar nas outras refeições. Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos18 Também é importante verificar a densidade nutricional e a densidade calórica dos alimentos. Dizemos que um alimento tem alta densidade nutri- cional quando fornece grande quantidade de nutrientes com teor relativamente baixo de calorias em comparação com outras fontes. Quanto mais alta for a densidade nutricional do alimento, melhor ele será como fonte de nutrientes. Geralmente a densidade nutricional é determinada em relação a nutrientes específicos. Como exemplo, podemos citar as frutas que contêm vitamina C em comparação com seu baixo teor calórico; em relação a essa vitamina, as frutas possuem alta densidade nutricional. O leite é muito mais denso em relação a vitamina A e cálcio do que, por exemplo, o refrigerante. O consumo de alimentos de alta densidade nutricional é especialmente importante para pessoas que devem seguir uma dieta baixa em calorias, como é o caso de idosos ou de pessoas que fazem dieta para perda de peso. Já a densidade calórica é o parâmetro mais adequado para medir o teor de calorias de um alimento e é determinada pela quantidade de calorias que ele contém por unidade de peso. Dizemos que tem alta densidade calórica um alimento rico em calorias e cujo peso é relativamente baixo. Como exemplos, podemos citar nozes e amêndoas, frituras, alimentos desidratados, como frutas. Na outra ponta, são exemplos de baixa densidade calórica os vegetais, legumes, os caldos. O consumo de alimentos de baixa densidade calórica ricos em fibras leva à saciedade sem aumentar o aporte de calorias. Uma dieta com alimentos de baixa densidade calórica, portanto, pode ajudar na perda ou manutenção do peso. Sobretudo, porém, como já vimos anteriormente, o equilíbrio, a moderação e a variedade são essenciais para manter hábitos alimentares saudáveis (WARDLAW, 2013). Alguns bons hábitos de consumo de alimentos podem ser adquiridos a partir dos Dez Passos para uma Alimentação Saudável criados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2013c). Este guia oferece orientações práticas sobre ali- mentação para indivíduos a partir dos dois anos de idade. As orientações são: � fazer com que alimentos in natura ou minimamente processados sejam a base da alimentação; � utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao tem- perar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias; � limitar o consumo de alimentos processados; � evitar o consumo de alimentos ultraprocessados; � comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia; 19Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos � fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados; � desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias; � planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece; � dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora; � ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre ali- mentação veiculadas em propagandas comerciais (BRASIL, 2014). Diferentes classificações de alimentos, de acordo com o seu grau de processamento � Alimentos in natura — Alimentos obtidos diretamente de plantas ou de animais e que não sofrem qualquer alteração após deixar a natureza (leite, carne, frutas e verduras). � Alimentos minimamente processados — Alimentos in natura submetidos a processos de limpeza, remoção de partes não comestíveis, fracionamento, mo- agem, secagem, fermentação, pasteurização, refrigeração, congelamento e que não receberam sal, óleos, gorduras e açúcar (carne congelada, farinhas, frutas secas, iogurte, café). � Óleos, gorduras, sal e açúcar — Produtos extraídos de alimentos in natura ou da natureza por processos como prensagem, moagem, trituração, pulverização e refino. São usados nas cozinhas das casas e em refeitórios e restaurantes para temperar e cozinhar. � Alimentos processados — Possuem a adição de sal ou açúcar ou outra substância de uso culinário o que prolonga seu tempo de vida e os tornam mais agradáveis ao paladar (enlatados, embutidos, conservas). � Alimentos ultraprocessados — Formulações industriais feitas principalmente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas), derivadas de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor para dotar os produtos de propriedades sensoriais atraentes, salgadinhos, empanados, pudins, biscoitos recheados, macarrão instantâneo, margarina, refrigerantes). Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos20 1. O padrão alimentar é definido como o conjunto de alimentos frequentemente consumidos por indivíduos e populações e que apresenta um retrato geral da ingestão usual. Sabe-se que os padrões alimentares são influenciados por vários fatores. Assinale a alternativa correta que lista esses fatores. a) O padrão alimentar pode ser influenciado pelos fatores biológicos, comerciais, sociais e demográficos. b) O padrão alimentar pode ser influenciado pelos fatores biológicos, culturais, sociais e econômicos. c) O padrão alimentar pode ser influenciado pelos fatores biológicos, culturais, econômicos e industriais. d) O padrão alimentar pode ser influenciado pelos fatores sociais, demográficos, econômicos e estratégicos. e) O padrão alimentar pode ser influenciado pelos fatores sociais, culturais, educacionais e logísticos. 2. A partir da década de 70, houve uma modificação dos padrões alimentares na população brasileira, ocorrendo a redução do consumo de alimentos in natura e minimamente processados como os vegetais, frutas, carnes, ovos e leite e o aumento do consumo dos alimentos processados com elevados teores de açúcares, gorduras e sódio. Sobre os padrões alimentares do brasileiro vistos na última Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada em 2008/2009, assinale a alternativa correta. a) Os dados indicam uma tendência de redução no consumo de ervilha, pão, batata e farinha de trigo e aumento no consumo relativo de fubá, farinha de mandioca, cerveja e refrigerante. b) O prato típico brasileiro composto por arroz com feijão manteve seu consumo constante apresentando um leve decréscimo na quantidade per capita adquirida. c) Houve aumento do consumo de alimentos industrializados que são ricos em proteínas e fibras. d) Os dadosmostram que os padrões de consumo atual levam ao ganho de peso principalmente nas famílias que possuem menor poder socioeconômico. e) No Brasil, o consumo de fibras é insuficiente por, pelo menos, um quarto da população. 3. Os resultados da Pesquisa Nacional de Saúde realizada em 2013 mostraram que cerca de 40% da população adulta brasileira possui pelo menos uma DCNT. Essas doenças são consideradas um problema de saúde pública e respondem por mais de 70% das causas de mortes no Brasil, principalmente antes dos 70 anos de idade. Sobre as DCNTs, assinale a alternativa correta. 21Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos a) Os prejuízos causados pela obesidade são dificuldade para respirar e caminhar, problemas na coluna, nos quadris e joelhos. b) A obesidade também favorece o aparecimento de outras doenças como anemia, diabetes e osteoporose. c) No Brasil, o diabetes representa uma das principais causas de morte, além de provocar problemas renais, amputação (remoção) dos membros inferiores (pernas e pés), asma e lúpus. d) O câncer pode ser causado por vários fatores como tabagismo, hábitos alimentares inadequados; fatores genéticos e pela prática de atividade física. e) A proporção de indivíduos de 18 anos ou mais que referem diagnóstico de hipertensão arterial no Brasil foi de 58% 4. Os Dez Passos para uma Alimentação Saudável, criados pelo Ministério da Saúde em 2014, fornecem, de forma prática, orientações sobre alimentação para indivíduos a partir dos dois anos de idade. Assinale a alternativa correta sobre essas orientações. a) Não é orientado utilizar óleos, sal, açúcar e manteiga no preparo dos alimentos. b) É orientado comer de preferência fora de casa, em ambientes apropriados e em companhia. c) É orientado fazer de alimentos processados e in natura a base da alimentação e evitar os alimentos ultraprocessados. d) É orientado comprar alimentos em grandes redes de supermercados pela maior oferta e variedade. e) É orientado planejar o uso do tempo preparar as refeições e comer sempre com regularidade e atenção. 5. Assinale a alternativa correta sobre o fenômeno de transição nutricional. a) A transição nutricional é um processo que corresponde à diminuição da taxa de natalidade e mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida. b) A transição nutricional é um processo que corresponde ao aumento das doenças infecciosas e diminuição das DCNTs. c) A transição nutricional é um processo que corresponde às mudanças de padrões nutricionais da população, essencialmente determinadas pelas alterações na dieta e na composição corporal dos indivíduos. d) A transição nutricional é um processo que corresponde à diminuição da prática de atividade física devido aos equipamentos e tecnologia que substituem a força de trabalho humana. e) A transição nutricional é um processo que corresponde à redução das taxas de desnutrição pelo maior acesso aos serviços básicos de saúde, saneamento e vacinas. Saúde e nutrição no Brasil: consumo de alimentos22 AMARANTE, M. K. et. al. Anemia Ferropriva: uma visão atualizada. Biosaúde, Londrina, v. 17, n. 1, p. 34-45, 2015. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/ biosaude/article/view/25298>. Acesso em: 12 set. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Módulo 10: alimentação e nutrição no Brasil. Brasília: Universidade de Brasília, 2009. 92 p. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=610- alimentacao-e-nutricao-no-brasil&Itemid=30192>. Acesso em: 12 set. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Alimentação e nutrição no Brasil. 4. ed. atual. e rev. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso; Rede e-Tec Brasil, 2013a. 86 p. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ docman/fevereiro-2016-pdf/33501-04-disciplinas-de-ft-ae-caderno-10-alimentacao-e- nutricao-no-brasil-pdf/file>. Acesso em: 12 set. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. 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