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BIOQUÍMICA APLICADA E INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS W BA 07 00 _v 1. 0 22 Fávia Debaigi Rafaela Benatti Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Bioquímica aplicada e Interpretação de exames laboratoriais 1ª edição 33 3 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveira Higa Revisor Iara Gumbreviciu Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Debaigi, Fávia D286b Bioquímica aplicada e Interpretação de exames laboratoriais / Fávia Debaigi, Rafaela Benatti. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. 153 p. ISBN 978-85-522-1550-9 1. Nutrição clínica. 2. Bioquímica. 3. Interpretação de exames. I. Debaigi, Fávia. II. Benatti, Rafaela. III. Título. CDD 610 Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 44 SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 Fundamentos de bioquímica aplicada 6 Interpretação clínica de hemograma e painéis químicos clínicos 31 Exames clínicos para diabetes, dislipidemias, aminoacidopatias e risco de doenças crônicas 53 Exames clínicos relacionados à desnutrição proteico-calórica, anemia nutricional e má absorção de nutrientes 74 Interpretação de exames relacionados a hidratação, função hepática, renal e endocrinopatias 102 Interpretação de exames relacionados a função cardíaca e distúrbios do equilíbrio ácido-base de eletrólitos 127 Principais exames laboratoriais relacionados a enzimologia, inflamação e doenças autoimunes 150 BIOQUÍMICA APLICADA E INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS 55 5 Apresentação da disciplina Prezado aluno, nesse momento você está iniciando ou aprofundando seus conhecimentos em Bioquímica aplicada e Interpretação de exames laboratoriais. A bioquímica é uma ciência extremamente importante, pois estuda e aplica a química da vida e os processos químicos que ocorrem em todos os seres vivos. Além disso, a bioquímica também tem um papel muito importante na interpretação e realização de exames laboratoriais. Muitos são os exames bioquímicos presentes na rotina laboratorial, os quais auxiliam no diagnóstico, prognóstico e avaliação da eficácia do tratamento. Para compreender esse universo, os conteúdos apresentados nessa disciplina são: fundamentos de bioquímica aplicada, interpretação clínica de hemograma e painéis químicos clínicos, exames clínicos para diabetes, dislipidemias, aminoacidopatias ou risco de doenças crônicas, exames clínicos relacionados à desnutrição proteico-calórica, anemia nutricional e má absorção de nutrientes, interpretação de exames relacionados à hidratação, função hepática, renal e endocrinopatias, interpretação de exames relacionados àfunção cardíaca e distúrbios do equilíbrio ácido-base de eletrólitos e os principais exames laboratoriais relacionados à enzimologia, inflamação e doenças autoimunes. Vamos começar? Bons estudos!. 666 Fundamentos de bioquímica aplicada Autora: Flávia Debiag Objetivos • Abordar os fundamentos básicos de bioquímica aplicada, tais como descrição e aplicação das macromoléculas. • Contextualizar a importância das vitaminas e sais minerais para os organismos e as principais doenças relacionadas com a sua deficiência. • Elencar os principais interferentes em exames laboratoriais, abrangendo as etapas pré-analítica, analítica e pós-analítica, bem como a importância de métodos de controle de qualidade. 77 7 1. Fundamentos de bioquímica aplicada Caro aluno, seja bem-vindo à disciplina de bioquímica aplicada e interpretação de exames laboratoriais. Esse primeiro bloco apresenta como tema Fundamentos da bioquímica aplicada e tem como objetivo apresentar a você conceitos básicos empregados em bioquímica aplicada, bem como suas funções nos sistemas biológicos e os principais interferentes dos métodos laboratoriais. Em geral, as células são formadas por água (70%) e por macromoléculas, sendo as principais os carboidratos, proteínas, lipídeos e ácidos nucléicos. Os exames laboratoriais bioquímicos são usualmente empregados para investigação de deficiências nutricionais específicas de determinados nutrientes e verificação do estado de saúde dos indivíduos. O profissional de saúde, ao entender a bioquímica aplicada, bem como as características dos exames laboratoriais, pode contribuir para uma melhor qualidade dos processos metabólicos dos pacientes, por meio de um diagnóstico correto. PARA SABER MAIS Biomoléculas são compostos de carbono associadas a uma grande variedade de grupos funcionais que conferem propriedades químicas específicas à molécula. Exemplos comuns dessas biomoléculas são os alcoóis, que têm um ou mais grupos hidroxila; aminas, com grupos amina; aldeídos e cetonas, com grupos carbonila; e ácidos carboxílicos, com grupos carboxila. 88 ASSIMILE Os exames laboratoriais bioquímicos são empregados para detectar os níveis de um determinado analíto no plasma sanguíneo, por exemplo, níveis séricos de LDL, HDL, colesterol total, albumina, entre outros. Os resultados de um exame são classificados em falso-positivo e falso negativo. Os resultados ou testes falso-positivo apresentam-se anormais em indivíduos que não apresentam a doença que se busca confirmar por meio do exame. Em contrapartida, nos resultados falso-negativos os valores dos exames são considerados normais em indivíduos, que de fato estão com a doença que se procura comprovar. 2. Principais constituintes bioquímicos das células 2.1 Água A água é essencial para a vida, aproximadamente 60% da composição corporal de um adulto de 70 kg é composta por água. Na célula, a molécula encontra-se presente tanto no meio intracelular, quanto no ambiente extracelular, constituído por linfa, plasma e líquidos intersticiais. A compatibilidade de vida na Terra está associada principalmente às características peculiares da água, tais como, dilatação anômala, alto calor específico, capacidade de dissolver um grande número de substâncias, meio reacional de reações químicas do metabolismo celular, agente dispersante do calor produzido no organismo. É importante ressaltar que a concentração de água no organismo deve ser regulada de forma precisa, por meio do hormônio antidiurético (ADH), garantindo assim a homeostasia corporal (BELLÉ e SANDRI, 2014). 99 9 A molécula de água é formada por dois átomos de hidrogênio (H) que se encontram ligados a um átomo de oxigênio (O), ocorrendo o compartilhamento de elétrons. Outra característica importante diz respeito à polaridade da molécula. A água é classificada com uma molécula polar, devido ao átomo de oxigênio exercer uma atração mais forte sobre os elétrons compartilhados, criando um polo negativo e as moléculas de hidrogênio adquirem cargas positivas (Figura 1). A geometria molecular da água, possibilita a interação entre osátomos negativos de oxigênio de uma molécula com os átomos positivos de hidrogênio de uma outra molécula de água vizinha, por meio de ligações de hidrogênio, formando uma cadeia de moléculas de água, e fornecendo a propriedade de tensão superficial em sua forma líquida. (NELSON; COX, 2019). Figura 1 – Estrutura na molécula de água Fonte: PeterHermesFurian/iStock.com. Devido à sua polaridade, a água é reconhecida como solvente universal. Assim, muitas substâncias biológicas (carboidratos, proteínas) são polares, portanto, interagem com a água por meio de ligações de hidrogênio ou por interações iônicas. Entretanto, substâncias apolares (ésteres de colesterol, triacilgliceróis e ácidos graxos) não são capazes de formar ligações de hidrogênio, sendo solúveis somente em solventes orgânicos (PINTO, 2017). 1010 2.2 Aminoácidos e proteínas As unidades fundamentais das proteínas correspondem aos aminoácidos. Atualmente, são conhecidos mais de 300 aminoácidos disponíveis na natureza. Embora somente 20 deles são utilizados na composição de proteínas e enzimas humanas, os quais são denominados de aminoácidos proteinogênicos (PINTO, 2017). Os aminoácidos são formados por um átomo de carbono central que está ligado a um grupo carboxila (-COOH), um grupo amino (-NH2), um átomo de hidrogênio e um grupo “R” (radical). Com exceção da glicina, o carbono central dos aminoácidos é classificado como assimétrico, ou centro quiral, fato que possibilita a formação de estereoisômeros em consequência dos diferentes arranjos espaciais opticamente ativos (Figura 2) (NELSON; COX, 2019). Figura 2 – Fórmula geral de um α-aminoácido, termo que significa que a amina está na posição α ou 2, o carbono vizinho é a carboxila COOH: grupamento carboxila; NH2: grupamento amina; R → cadeia lateral. Fonte: Bacsica/iStock.com. Os aminoácidos se diferem quanto ao grupo R, que varia em estrutura, tamanho e carga elétrica, e afeta a solubilidade dos aminoácidos em água (Figura 3). 1111 11 Figura 3 – Estrutura dos aminoácidos essenciais Fonte: chromatos/iStock.com. De acordo com a natureza das cadeias laterais, os aminoácidos são classificados em polares e apolares. Aminoácidos polares possuem cadeias laterais hidrofílicas, com carga elétrica negativa, positiva ou neutra, originando os aminoácidos ácidos, básicos e polares sem carga, respectivamente, encontram-se basicamente no interior das proteínas. Os aminoácidos apolares são constituídos de cadeias hidrofóbicas e se encontram no interior das proteínas (NELSON; COX, 2019). Os aminoácidos desempenham funções importantes, sendo a principal a formação de peptídeos e proteínas. Além disso, podem atuar como precursores de substâncias biologicamente importantes, como os neurotransmissores, mensageiros químicos, hormônios, mediadores inflamatórios e servir como precursores de outras substâncias. 1212 As proteínas são macromoléculas formadas por sequências de aminoácidos (aproximadamente 100 resíduos) unidos por ligações peptídicas, a qual ocorre entre e o grupo amina (-NH2) de um aminoácido, com o grupo carboxila (-COOH) de outro aminoácido adjacente. Nesse processo, ocorre também a eliminação de uma molécula de água (MARZZOCO; TORRE, 2018). Em geral, as proteínas podem apresentar diferente conformação espacial, a qual é classificada em quatro níveis organizacionais, determinados de estrutura primária, secundária, terciária e quaternária. A sequência de aminoácidos unida por ligação peptídica corresponde à estrutura primária de cada proteína. A partir da estrutura primária, tem-se a estrutura secundária, a qual se caracteriza pela formação de arranjos espaciais entre aminoácidos próximos por ligações de hidrogênios. Há duas formas de estrutura secundária, denominadas de alfa-hélice e beta pregueada. Por seguinte, a estrutura terciária se caracteriza por ser compacta, proveniente do enovelamento das cadeias polipeptídicas organizadas em estrutura secundária ou entre regiões sem estrutura definida. O último nível de organização corresponde à estrutura quaternária, a qual é formada a partir da associação de estruturas terciárias (NELSON; COX, 2019). A hemoglobina é um exemplo típico de estrutura quaternária, a qual encontra-se presente nas hemácias, e é responsável por transportar o oxigênio dos pulmões para os tecidos periféricos e o CO2 dos tecidos para pulmão. Devido á presença de um grupo prostético heme em cada uma de suas cadeias, a hemoglobiana é classifica como uma hemoproteína. O grupo heme é formado por um anel porfirínico com quatro anéis pirrólicos, contendo um átomo de Fe+, o qual é responsável pela associação da hemoglobina com o oxigênio (MARZZOCO; TORRE, 2018). 1313 13 Figura 4 – Estrutura quaternária da hemoglobina Fonte: ttsz/iStock.com. A forma de classificação das proteínas pode variar de acordo com a sua composição, estrutura tridimensional das cadeias polipeptídicas e aspectos funcionais. Quanto à sua composição, são denominadas de simples, quando formadas apenas por aminoácidos, por exemplo, a insulina. Em contrapartida, as proteínas conjugadas apresentam grupos prostéticos em sua composição, podendo esse ser de natureza orgânica (carboidratos, lipídeos, etc.) ou inorgânica (íons metálicos). A hemoglobina, já explicada anteriormente, transporta o oxigênio e o gás carbônico no sangue. A lipoproteína LHD (lipoproteínas de baixa densidade) e HDL (lipoproteínas de alta densidade) encontram-se associadas à cadeia de ácidos graxos (lipídeos). Quanto à estrutura tridimensional das cadeias polipeptídicas, algumas proteínas, como o colágeno e α-queratina, apresentam a cadeia de polipeptídeo estendida, são insolúveis e desempenham funções estruturais. Já a mioglobina e a hemoglobina, apresentam um 1414 formato esférico, sendo classificadas como globulares. Ao contrário da hemoglobina, a mioglobina é formada por uma única cadeia de polipeptídeo; um grupo prostético heme está presente principalmente nas células musculares e cardíacas, sendo responsável pelo transporte e armazenamento de oxigênio entregue pela hemoglobina nos capilares (NELSON; COX, 2019). De acordo com a Tabela 1, as proteínas podem desempenhar as mais variadas funções no organismo, as quais abrangem os processos regulatórios, transporte de substâncias, componente estrutural, enzimática nutrição e de reserva energética. Tabela 1 – Classificação das proteínas de acordo com a sua função Função Exemplos Hormonal Insulina, hormônio de crescimento (GH), prolactina, glucagon, hormônio antidiurético Proteção Venenos de aracnídeos e ofídios Coagulação do sangue Fibrinogênio e a trombina Defesa Anticorpos Transporte Hemoglobina, mioglobina, lipoproteínas, albumina Estrutural Colágeno, elastina, queratina Enzimáica α-amilase, protease, lipase Energética Ovoalbumina, gliadina, caseína Fonte: PINTO, 2017. É importante ressaltar que as moléculas de proteínas são mais susceptíveis que outras biomoléculas ao fenômeno de desnaturação, que se caracteriza por promover alterações na estrutura espacial proteica, sem rompimento das ligações peptídicas, ocasionando a perda da sua função. Elevadas temperaturas, emprego de detergentes, agitação mecânica, presença de solventes orgânicos, ácidos e bases fortes e ureia são considerados os principais agentes desnaturantes das proteínas (PINTO, 2017). 1515 15 2.3 Carboidratos Quimicamente, os carboidratos (ou hidratos de carbono) são poli-hidroxialdeídos ou poli-hidroxicetonas, ou substâncias que, hidrolisadas, originam estes compostos. Apresentam, em geral, a fórmula empírica (CH2O)n, da qual deriva a sua nomenclatura. Entretanto, muitos carboidratos não apresentam esta fórmula geral (como a glicosamina, que contém um grupo amino). Além disso, existem compostos com esta fórmula que não são carboidratos (ácido lático, por exemplo). A sacarose, glicose e frutose, são carboidratos de sabor adocicados, podem ser chamados de açúcares e são comuns naalimentação humana. Segundo o número de unidades componentes os carboidratos são classificados em monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos. De acordo com o seu grupo funcional, os carboidratos são classificados em aldoses, que possuem o grupo funcional aldeído (H–C=O), e em cetoses, os quais o grupo funcional corresponde à cetona (C=O). Quanto ao número de unidades componentes, os carboidratos são classificados em monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos (NELSON; COX, 2019). Os monossacarídeos são os açúcares mais simples que apresentam um único grupo funcional aldeído (H–C=O) ou cetona (C=O), sendo denominados de aldoses ou cetoses, respectivamente. O grupo funcional encontra-se associado a uma cadeia de 3 a 7 carbonos unidos por ligação covalente, designados de trioses (3C) tetroses (4C), pentoses (5C), hexoses (6C) e heptoses (7C), e assim sucessivamente. Exemplos de monossacarídeos encontram-se na Figura 5 (MARZZOCO; TORRE, 2018). 1616 Figura 5 – Principais monossacarídeos Fonte: elaborada pela autora. Os oligossacarídeos são formados por 3 a 10 monossacarídeos unidos entre si por ligações glicosídicas, nas quais ocorrem a condensação entre a hidroxila de um monossacarídeo com a hidroxila do carbono anomérico de outro monossacarídeo, resultando na perda de uma molécula de água. Os principais representantes dessa classe são os dissacarídeos (lactose, sacarose e maltose), os quais se encontram descritos na Tabela 2. Tabela 2 – Principais dissacarídeos DISSACARÍDEO COMPOSIÇÃO OCORRÊNCIA LACTOSE D-galactose e D-glicose. Leite e derivados SACAROSE D- glicose e D-frutose Cana de açúcar, beterraba MALTOSE D- glicose e β glicose Malte Fonte: MARZZOCO; TORRE, 2018. 1717 17 Os polissacarídeos são polímeros constituídos de centenas ou milhares de resíduos de monossacarídeos, mais comumente a glicose, unidos por ligações glicosídicas. Os polissacarídeos podem ser lineares (p. ex., celulose) ou ramificados (p. ex., glicogênio e o amido), apresentar centenas ou mesmo milhares de unidades monoméricas, e seu peso molecular ultrapassar um dálton. Entre as funções dos carboidratos, destacam-se de sustentação (celulose nos vegetais, na parede celular dos fungos e no exoesqueleto dos artrópodes) e a reserva (glicogênio nos animais, amido nos vegetais), energética (glicose). Além de poderem estar ligados a lipídios e proteínas, formando os glicolipídios e as glicoproteínas, componentes de membranas (PINTO, 2017). 2.4 Lipídeos Os lipídeos são macromoléculas presentes em todas as células, insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos. Possuem funções importantes biológicas estruturais no organismo, sendo componentes da membrana plasmática. Além disso, atuam como moléculas sinalizadoras, são fontes e reservas energéticas interessantes, auxiliam na manutenção da temperatura corporal e são precursores de hormônios esteroides (MARZZOCO; TORRE, 2018). Os lipídeos mais simples são os ácidos graxos, os quais são moléculas formadas por grupo funcional carboxila (-COOH), ligado a uma cadeia carbônica. O grupo COOH tem a propriedade de reagir prontamente com grupos hidroxila ou amina de outras moléculas para formar ésteres e amidas. A função mais importante dos ácidos graxos é atuar como constituintes das membranas plasmáticas. A cadeia carbônica dos ácidos graxos pode ser saturada, insaturada ou poli-insaturada, a qual possui a relação direta com o estado físico. Em temperatura ambiente, os ácidos graxos saturados são sólidos, enquanto insaturados geralmente são líquidos (NELSON; COX, 2019). 1818 De acordo com a sua forma de obtenção, os ácidos graxos são classificados em não essenciais, aqueles cujo organismo humano é capaz de sintetizar. Os essenciais são aqueles que não podem ser sintetizados pelos mecanismos bioquímicos humanos, necessitam ser obtidos a partir da dieta. Por exemplo, os ácidos graxos essenciais linolênico e linoleico que podem ser obtidos a partir de peixes como salmão e sardinha (PINTO, 2017). Os triacilgliceróis são lipídeos formados a partir de três moléculas de ácidos graxos, unidos com uma molécula de glicerol por ligações ésteres. Ou seja, as três hidroxilas do glicerol encontram-se esterificadas por ácidos graxos, os quais podem ser diferentes. Como reservas de energia, as gorduras são um tipo mais eficiente que o glicogênio, já que são armazenadas na forma anidra. Além disso, uma vez que são menos oxidadas quando comparadas aos carboidratos ou às proteínas, os triacilgliceróis fornecem significativamente mais energia, por unidade de massa, na sua oxidação completa. Em mamíferos, os lipídeos são armazenados na forma de triacilgliceróis no tecido adiposo (BELLÉ; SANDRI 2014). Já os glicerofosfolipídeos, constituintes das membranas biológicas, são formados de glicerol 3-fosfato, com posições C1 e C2 e apresentam ácidos graxos esterificados. As moléculas de glicerofosfolipídios que ocorrem em membranas plasmáticas apresentam cabeças polares, cujos grupos químicos são derivados de alcoóis polares. As esfingomielinas fazem parte das membranas biológicas do sistema nervoso (MARZZOCO; TORRE, 2018). Por fim, os esteroides são lipídeos formados por quatro anéis não planares e rígidos. O colesterol é o precursor dos hormônios esteroides (testosterona, estrógenos, progestógenos, cortisol, aldosterona) e também compõe as moléculas dos ácidos biliares. O colesterol é sintetizado pelo fígado dos animais de acordo com um processo regulado por um sistema compensatório (NELSON; COX, 2019). 1919 19 É importante ressaltar que os lipídeos estão presentes no plasma por intermédio das lipoproteínas, sendo os principais os triacilgliceróis (16%); fosfolipídios (30%); colesterol (14%); ésteres de colesterol (36%); e ácidos graxos livres (4%), a fração de lipídios metabolicamente mais ativa no plasma (MARZZOCO; TORRE, 2018). As principais lipoproteínas e suas respectivas funções encontram-se na Tabela 3. Tabela 3 – Principais lipoproteínas encontradas no plasma e suas respectivas funções Lipoproteínas Características e função Quilomícrons (Qm) Transportam principalmente triacilgliceróis exógenos (cuja fonte é a dieta), são sintetizados no intestino delgado pelos enterócitos e dirigem- se para os tecidos conduzindo triacilgliceróis Lipoproteínas de baixa densidade (LDL): Chamadas também de “colesterol ruim”, são sintetizadas no fígado, constituem as principais transportadoras de colesterol do organismo, as quais são reconhecidas por receptores de LDL nos tecidos onde o colesterol é liberado. Lipoproteínas de alta densidade (HDL): Conhecidas também de “colesterol bom”. Isso ocorre porque elas captam o colesterol liberado no sangue e transportam-no até o fígado para que seja degradado, formando os sais biliares, sendo, assim, excretado. Fonte: NELSON, COX 2019. O quadro de dislipidemia se caracteriza pelo excesso de colesterol no sangue, ou seja, quando a soma do colesterol sintetizado e do colesterol obtido na dieta excede a quantidade necessária para a síntese de membranas, sais biliares e esteróis. O acúmulo patológico de colesterol (placas) pode obstruir os vasos sanguíneos, condição chamada de aterosclerose (NELSON, COX 2019). 2.5 Vitaminas As vitaminas são substâncias essenciais para a homeostasia do corpo dos vertebrados, entretanto, não podem ser sintetizadas pelos organismos e devem, portanto, ser obtidas por meio da alimentação. Os primeiros estudos nutricionais classificaram as vitaminas de acordo com a sua solubilidade, como vitaminas hidrossolúveis e lipossolúveis. 2020 As vitaminas hidrossolúveis podem ser extraídas dos alimentos com solventes aquosos, são exemplo desse grupo a vitamina C (ácido ascórbico), as vitaminas do complexo B. Em contrapartidas, as vitaminas lipossolúveis são solúveis apenas em solventes orgânicos apolares, enquadram-se nesse grupo, as vitaminas A, D, E e K, todos compostos isoprenoides sintetizadospela condensação de várias unidades de isopreno. A vitamina D (colecalciferol) é sintetizada na pele, a partir de 7-desidroco- lesterol em uma reação fotoquímica catalisada pelo componente UV (ultravioleta) da luz solar. A vitamina D não é biologicamente ativa, sendo convertida por enzimas no fígado e no rim ao calcitriol (1α,25- di-hidroxivitamina D3). Esse hormônio regula a captação de cálcio no intestino e os níveis de cálcio no rim e nos ossos. A deficiência de vitamina D pode ocasionar o raquitismo (RODWELL et al., 2017). A vitamina A (β-caroteno) e seus metabólitos oxidados, o ácido retinoico e o retinol, agem nos processos de desenvolvimento, crescimento e diferenciação celular e na visão. A deficiência de vitamina A durante a gestação pode ocasionar malformações congênitas e retardo no crescimento do bebê. Em adultos, a vitamina A é também essencial para a visão, a imunidade e a reprodução. As vitaminas E e K são cofatores de oxirredução, atuam em diferentes reações do metabolismo. A deficiência das vitaminas E e K é rara em humanos e está associada à fragilidade dos eritrócitos e ao retardo da coagulação sanguínea (doença fatal para o recém-nascido), respectivamente. Por fim, os sais minerais encontram-se envolvidos em quase todas as vias metabólicas, são classificados de acordo com a sua necessidade em macrominerais, os quais são necessários em maiores quantidades (Ca, P, Mg, K, Na, Cl, S) e microminerais, sendo esses requeridos em menores proporções (Fe, Mn, Cu, I, Co, Zn, Se e Mo) (MARZZOCO; TORRE, 2018). 2121 21 2.6 Características e etapas dos exames laboratoriais Em geral, os exames laboratoriais bioquímicos não dispõem de um método de análise absolutamente preciso. Para a obtenção de exames bioquímicos idôneos é de grande importância a padronização dos processos envolvidos, que abrange desde a solicitação dos exames pelo profissional de saúde, até a liberação do laudo. Assim, os principais interferentes das qualidades dos exames, constituem as etapas pré-analítica; analítica e pós-analítica (Figura 6 (SANTOS; ZANUSSO JUNIOR, 2015). Figura 6 – Principais interferentes dos exames laboratoriais. Fonte: elaborada pela autora. A fase pré-analítica corresponde a grande parte dos erros, onde se inicia a coleta do material biológico. Nessa fase é de suma importância a orientação correta do paciente. Por exemplo, alguns exames bioquímicos de importância em nutrição, recomendam-se jejum de 12 a 14 horas prévio à coleta da amostra. A realização do teste propriamente dito refere- se à fase analítica, a qual é de responsabilidade do laboratório de análises clínicas. Por fim, a fase pós-analítica, compreende processos de validação e liberação de laudos, sendo concluída com a interpretação desses documentos por parte do nutricionista (COSTA, 2015). 2.7 Variáveis pré-analíticas As variáveis pré-analíticas podem decorrer tanto do paciente (fatores fisiológicos ou biológicos) quanto da manipulação da amostra antes da realização da sua análise. 2222 Fatores fisiológicos ou biológicos Os principais fatores fisiológicos que podem promover alterações nos resultados dos exames laboratoriais compreendem a idade, sexo, ciclo menstrual, gravidez, dieta, jejum, estresse físico e mental, uso ou não de medicamentos para fins terapêuticos, postura durante a coleta e variações cronobiológicas (PINTO, 2017). A idade do paciente influencia de maneira significativa nos resultados de alguns exames, sendo necessário estabelecer intervalos de referência apropriados. Por exemplo, a concentração do hormônio de crescimento (GH) apresenta-se mais elevada no período da puberdade, com posterior diminuição progressiva. Outro parâmetro que pode ser utilizado para exemplificar sua alteração em razão idade é a contagem de eritrócitos e as concentrações de hemoglobina nos recém-nascidos. Devido à baixa concentração de oxigênio útero, os recém-nascidos apresentam maior concentração de eritrócitos e hemoglobina do que nos adultos (WILLIAMSON; SNYDER, 2018). Os resultados dos exames laboratoriais, tais como parâmetros hormonais, bioquímicos e metabólicos também podem estar associados com o sexo. Em mulheres, a porcentagem de células vermelhas varia de 37 a 47%, já para os homens, esses valores compreendem de 40 a 54%, ocorrendo o mesmo com a concentração de hemoglobina, 12 a 16,5 g/ mℓ para as mulheres e 13,5 a 18,0 g/mℓ para homens. (PINTO, 2017). Nas mulheres, durante o ciclo menstrual, além das alterações hormonais comumente conhecidas, existe a elevação pré-ovulatória das concentrações de aldosterona e renina. Já na ovulação, níveis séricos de colesterol são mais baixos do que em outras fases do ciclo menstrual. Mulheres grávidas também apresentam alterações nos valores hematológicos e bioquímicos do sangue. Em virtude da retenção hídrica, durante a gestação pode-se observar uma hemodiluição de proteínas totais e albumina. Outros parâmetros importantes que sofrem alteração na gestação são o aumento das proteínas de fase aguda e a velocidade de hemossedimentação (COSTA, 2015). 2323 23 Pacientes que fazem o uso de determinados medicamentos devem ser questionados e alertados. Os glicocorticoides, estatinas e anti- inflamatórios, por exemplo, podem aumentar os níveis de glicemia, atividade da enzima CK total e os níveis de enzimas hepáticas, respectivamente (WILLIAMSON; SNYDER, 2018). A dieta e o jejum também podem interferir nos resultados dos exames. Em geral, os valores de referência dos testes bioquímicos são estabelecidos em indivíduos em condição de jejum de aproximadamente 8 a 12 horas. Diversos parâmetros bioquímicos (glicemia e lipemia) e de muitos hormônios (GH, cortisol, insulina, paratormônio) podem ser alterados após o consumo da refeição habitual. É importante ressaltar que o jejum acima de 12 horas também pode proporcionar uma condição de estresse, promovendo alterações dos níveis de alguns hormônios, como, por exemplo, cortisol e desidroepiandrosterona. Além disso, dietas ricas em gorduras hipolipídicas, vegetariana ou desnutrição, consumo de fitoterápicos, drogas ilícitas, bebidas alcoólicas e tabaco podem modicar os resultados de vários analítos (NELSON, 2019). Há evidências também que algumas atividades físicas, como subir e descer escada, ou estresses físicos e mentais influenciam as concentrações de muitos elementos do plasma, inclusive cortisol, aldosterona, prolactina, tireotropina, colesterol, glicose, insulina e lactato. O estado febril também influência muitas respostas hormonais, assim como o choque e o traumatismo (PINTO, 2017). Algumas variáveis durante o momento da coleta também precisam ser controladas para a confiabilidade dos resultados. Os laboratórios de análises clínicas padronizam a coleta de sangue, por exemplo, em uma posição única, no sentido de eliminar essa fonte de erros, visto que pode haver alterações em relação à posição ortostática ou em decúbito. O horário da coleta, para determinados analitos, é outro fator determinante, sendo essas denominadas de variações cronobiológicas. Por exemplo, os níveis plasmáticos de cortisol são menores no período 2424 da manhã, quando comparados aos valores mensurados à tarde. Variações sazonais também podem influenciar na idoneidade dos exames laboratoriais, como, por exemplo, a concentração de vitamina D se encontra mais elevada no verão (NELSON; COX, 2019). De acordo com Williamson e Snyder (2018), os erros nas etapas pré- analítica correspondem a 61,9%. Aproximadamente 25% desses erros podem ter repercussões para o paciente, seja por demora na liberação do resultado do exame, seja por ameaçar a vida do paciente. Por isso, é de grande importância evitar estes interferentes em uma anamnese correta com o paciente, a fim de evitar erros. Fatores relacionados com a manipulação das amostras Na etapa de manipulação das amostras, a coleta é o processo mais importante. A maioria dos erros pré-analíticos consiste em coleta incorretada amostra, o que abrange erros na identificação do paciente, volume insuficiente para a realização do exame, uso de anticoagulante de forma incorreta e qualidade da amostra (hemólise, coágulos, contaminação e coleta em recipiente errado). Outras variáveis pré-analíticas podem ocorrer durante o armazenamento da amostra (tempo e a temperatura) ou durante a etapa de processamento para a separação do soro ou do plasma ou das células (COSTA, 2015). Para uma amostra de qualidade, é imprescindível uma coleta de sangue precisa ser realizada por profissionais qualificados com equipamentos apropriados em ambiente adequado. O procedimento empregado para a coleta de sangue pode promover alterações nos resultados dos exames laboratoriais, por isso precisa ser realizada com muita atenção a fim de se prevenir erros de identificação de paciente, volume insuficiente e o uso de coagulantes de forma correta. Os principais anticoagulantes empregados nos laboratórios de análises clínicas são a heparina, ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA) e citrato de sódio. Os anticoagulantes se diferem quanto ao mecanismo de ação e a sua escolha depende do analito de interesse (WILLIAMSON; SNYDER, 2018). 2525 25 Os medicamentos também podem influenciar nos resultados dos exames laboratoriais, tanto em in vivo, como já foi explicado no tópico anterior, como in vitro, ou seja, durante o processamento da amostra. Fármacos como anticoagulantes (heparina, varfarina e inibidores diretos da trombina), ácido acetilsalicílico, doses elevadas de vitamina C, transfusão de hemoderivados e componentes de reposição de fatores de coagulação, podem interferir na confiabilidade dos resultados. Por isso, é importante o nutricionista se inteirar dos medicamentos utilizados pelo paciente e dos possíveis efeitos de cada medicamento nos resultados dos exames laboratoriais a fim de se evitar resultados falso-positivos e um diagnóstico errado (COSTA, 2015). Algumas alterações nos resultados também podem ser provenientes do armazenamento incorreto da amostra. Os principais interferentes são a temperatura de armazenagem e a inferência de luz na amostra, a qual pode interferir no doseamento de algumas substâncias fotossensíveis (bilirrubina, betacaroteno, vitamina A, vitamina B6 e porfirinas). A temperatura ideal de coleta do sangue deve ser de 22 a 25°C, enquanto seu armazenamento precisa ocorrer em ambiente entre 2 e 8°C, pois nessa temperatura (2 e 8°C) ocorre a inibição do metabolismo celular e, consequentemente, a estabilização de certos constituintes termolábeis (PINTO, 2017). 2.8 Erros analíticos Os erros analíticos são provenientes de erros das análises executadas pelo laboratório de análises clínicas. Assim, é de suma importância que os exames laboratoriais sejam realizados em laboratórios de análises clínicas, que empregam métodos de controle de qualidade e programas de avaliação de qualidade com aspectos analíticos dos exames. Quatro indicadores (acurácia, precisão, sensibilidade e especificidade) são frequentemente empregados para determinar a confiabilidade de um exame laboratorial. A acurácia e precisão estão associadas ao 2626 desempenho cotidiano do método de exame, sendo estabelecidas e monitoradas frequentemente pelo laboratório de análises clínicas. A sensibilidade e especificidade refletem o quanto o exame diferencia a doença da ausência de alguma enfermidade e são determinados por pesquisa e ensaios clínicos. Vale salientar que os exames laboratoriais devem ser elaborados de modo a serem tão precisos, acurados, específicos e sensíveis quanto for possível, visando sempre o diagnóstico correto do paciente (WILLIAMSON; SNYDER, 2018). 2.9 Erros pós-analíticos Os erros pós-analíticos estão relacionados com os resultados inseridos de forma equivocada no laudo do paciente, entrega de laudo para o paciente errado, faixa de referência incorreta e a interpretação inapropriada desses resultados. Dessa forma, laudos manuscritos e relatados por telefone devem ser evitados. Atualmente, com o uso do sistema computadorizado de entrega de exames nos hospitais, alguns desses erros foram extintos, garantindo assim uma maior confiabilidade nos resultados (PINTO, 2017). 3. Conclusão Como vimos neste capítulo, as biomoléculas possuem na sua estrutura o carbono como composto principal, associado a outros grupos funcionais. Desempenham funções vitais para o organismo, tais como sustentação, energética, enzimática, entre outras. Por isso, é de grande importância a manutenção dos seus níveis séricos dentro da normalidade. Os exames laboratoriais bioquímicos são empregados para quantificar algumas dessas biomoléculas no plasma sanguíneo a fim de garantir um diagnóstico adequado para o paciente. Para a confiabilidade dos resultados, é necessário prevenir os erros interferentes nas etapas pré-análitica, analítica e pós-analítica. 2727 27 TEORIA EM PRÁTICA Maria, 50 anos, apresentou resultados de exames bioquímicos para colesterol total e HDL de acordo com o quadro abaixo: Tipo de material: sangue Valor encontrado Faixa de Referência Colesterol total 430 mg/dℓ Nível desejável – menor que 190 mg/dℓ Nível limítrofe – 200 a 240 mg/dℓ Nível elevado – maior que 240 mg/dℓ HDL 20 mg/dℓ Prognóstico favorável maior que 40 mg/dℓ Maria foi orientada pelo serviço de nutrição que assiste a paciente a realizar uma reeducação alimentar, por meio de um cardápio. Uma frase no texto chamou a atenção de Maria: “a dieta é capaz de modular a expressão hepática de receptores de LDL-colesterol”. A partir dessa informação, responda às questões a seguir. a) De que maneira a dieta é capaz de exercer essa função? b) Por que os níveis plasmáticos de colesterol total representam risco cardiovascular? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Em geral, as proteínas podem apresentar diferente conformação espacial, a qual é classificada em 4 níveis organizacionais, determinados de estrutura primária, secundária, terciária e quaternária. Sabendo-se disso, assinale a alternativa correta: 2828 a. A sequência de aminoácidos unida por ligação peptídica corresponde à estrutura secundária de cada proteína, característico da mioglobina. b. A estrutura primária corresponde à formação de arranjos espaciais entre aminoácidos próximos uns dos outros por ligações de hidrogênios e, como exemplo, pode-se citar o colágeno. c. Há duas formas de estrutura terciária denominadas de alfa-hélice e beta pregueada, sendo que a primeira é encontrada somente em proteínas fibrosas. d. Estrutura quaternária se caracteriza por ser compacta, proveniente do enovelamento das cadeias polipeptídicas organizadas em estrutura secundária ou entre regiões sem estrutura definida. e. O último nível de organização das proteínas corresponde à estrutura quaternária, a qual é formada a partir da associação de estruturas terciárias, sendo característico da molécula de hemoglobina. 2. Os carboidratos são açúcares que podem ser classificados de acordo com o número de carbono em monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos. Assinale a alternativa que apresenta somente exemplos que monossacarídeos. a. Glicose, frutose e ribulose. b. Glicose, maltose e xilulose. c. Amido, quitina e celulose. d. Lactose, frutose, xilose. e. Galactose, frutose e quitina. 2929 29 3. A respeito dos principais interferentes das qualidades dos exames laboratoriais em bioquímica, é incorreto afirmar que: a. A fase pré-analítica corresponde à grande parte dos erros, inicia-se a coleta do material biológico. Nessa fase é de suma importância a orientação correta do paciente. b. Os erros analíticos são provenientes de erros das análises executadas pelo laboratório de análises clínicas. Assim, é de suma importância que os exames laboratoriais sejam realizados em laboratórios de análises clínicas, que empregam métodos de controle de qualidade e programas de avaliação de qualidade com aspectos analíticos dos exames.c. As variáveis pré-analíticas podem decorrer tanto do paciente (fatores fisiológicos ou biológicos) quanto da manipulação da amostra antes da realização da sua análise. d. Algumas alterações nos resultados também podem ser provenientes do armazenamento incorreto da amostra, sendo esse um erro característico da etapa analítica. e. Os erros pós-analíticos estão relacionados com os resultados inseridos de forma equivocada no laudo do paciente, entrega de laudo para o paciente errado, faixa de referência incorreta e a interpretação inapropriada desses resultados. 3030 Referências bibliográficas BELLÉ, L. P.; SANDRI, S. Bioquímica aplicada: Reconhecimento e Caracterização de Biomoléculas, 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. COSTA, M. J. C. Interpretação de exames bioquímicos para o nutricionista, 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2015. MARZZOCO, A. Bioquímica básica, 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. NELSON, D. L.; COX, N. M. Princípios de bioquímica de Lehninger, 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. PINTO, W. J. Bioquímica clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 628 p. RODWELL, V. W., et al. Bioquímica ilustrada de Harper. 30. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. SANTOS, A.P.; ANUSSO JUNIOR, G. Controle de qualidade em laboratórios clínicos. Revista Uningá, 45, p. 60-67, 2015. WILLIAMSON, M. A.; SNYDER, L.M. Wallach: interpretação de exames laboratoriais, 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. 1203 p. Gabarito Questão 1 – Resposta E Estrutura quaternária se caracteriza por ser compacta, proveniente do enovelamento das cadeias polipeptídicas organizadas em estrutura secundária ou entre regiões sem estrutura definida. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente. Questão 2 – Resposta A Os monossacarídeos são açúcares simples, tais como glicose, frutose e ribulose. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente. Questão 3 – Resposta D Os erros analíticos podem ocorrer durante o processo da análise propriamente dita, realizada pelo laboratório. Os erros que ocorrem durante a armazenagem são classificados como erros pré-analíticos, portanto a alternativa D está incorreta. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente. 3131 31 Interpretação clínica de hemograma e painéis químicos clínicos Autora: Flávia Debiag Objetivos • Abordar a composição do tecido sanguíneo, incluindo seus elementos, como plasma, hemácias e leucócitos. • Descrever as características do hemograma, leucograma e coagulograma. • Relacionar os principais tipos de anemias com as possíveis alterações no hemograma. 3232 1. Introdução O sangue periférico é constituído por três tipos de células, denominadas de glóbulos vermelhos, eritrócitos ou hemácias; glóbulos brancos ou leucócitos; e plaquetas ou trombócitos. O hemograma e o coagulograma compreendem ao conjunto de exames capazes de avaliar as três linhagens de células sanguíneas, quanto ao seu número e função. O termo hemograma engloba a contagem de hemácias, dosagem de hemoglobina, determinação do hematócrito, índices hematimétricos e exame microscópico do esfregaço de sangue corado. Embora não faça parte do hemograma, a contagem de reticulócitos também pode auxiliar em sua avaliação e interpretação. O coagulograma corresponde a exames de tempo de sangramento, tempo de coagulação, tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial e contagem de plaquetas. As alterações observadas no hemograma permitem ao profissional de saúde avaliar doenças relacionadas à série vermelha (anemias, policitemia, malária), branca (leucemias, infecções diversas) e plaquetas (púrpuras, trombocitopenias) e relacioná-las aos achados clínicos observados no paciente. PARA SABER MAIS Anemia ferropriva se caracteriza pela deficiência de ferro e representa a causa mais comum da doença. O diagnóstico se caracteriza por: • Hemograma com anemia microcítica e hipocrômica. • Ferritina < 10 ng %. • Ferro sérico < 30 mcg %, o que denota baixo estoque. • Capacidade de ligação ao ferro (TBIC) alta. Fonte: Calixto-Lima e Reis (2012). 3333 33 Neste capítulo, você irá aprender sobre as características do hemograma, reticulócitos, leucograma e coagulograma, bem como sua relevância para a prática do profissional de saúde. ASSIMILE No hemograma, a série vermelha, a série branca e as plaquetas são avaliadas quanto ao número e à citomorfologia. Para a série vermelha são analisadas a contagem de eritrócitos (hemácias), valor do hematócrito, quantidade de hemoglobina, volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média (HCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM). Já na série branca são analisados os leucócitos, células especializadas na defesa do organismo. 1.1 Tecido sanguíneo O sangue corresponde aproximadamente a 8% da massa corporal de um adulto, ou seja, cerca de 5l de sangue. Nessa quantidade, o tecido sanguíneo contém, em média, 30 trilhões de glóbulos vermelhos, 45 bilhões de glóbulos brancos (ou leucócitos) e 1,5 trilhão de plaquetas. Na Figura 1, encontram-se descritos os principais componentes do sangue e a sua respectiva formação. 3434 Figura 1 – Componentes do sangue e sua formação Fonte: ttsz/iStock.com. Como pode ser observado na Figura 1, o tecido hematopoético é responsável pela origem no sangue. Na fase embrionária, o sangue é formado a partir de células na vesícula vitelínica. Na sequência, o fígado e o baço tornam-se os responsáveis pela formação do sangue. Após o nascimento, a medula dos ossos torna-se responsável pela hematopoiese. Dois tipos de células se originam a partir da medula óssea: as mieloides e as linfoides, que, não possuindo a capacidade de renovação, dependem das células-tronco hematopoiética. As células- tronco mieloides produzem as hemácias, plaquetas e os leucócitos (neutrófilos, basófilos, eosinófilos e monócitos). Em contrapartida, as células-tronco linfoides originam os linfócitos B e T (SILVA et al., 2016). O sangue pode ser denominado como um tipo de tecido conjuntivo pelo fato de apresentar as suas células (eritrócitos, leucócitos e plaquetas) separadas por uma abundante matriz extracelular, denominada plasma, o 3535 35 qual perfaz cerca de 55% do sangue. O plasma corresponde a um líquido amarelado, constituído em sua maior parte por água (90%), juntamente com proteínas, glicose, sais minerais, vitaminas, hormônios, amônia, ureia, gases respiratórios, etc. O principal constituinte celular do sangue corresponde aos glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos) (Figura 2). Figura 2 – Estrutura das hemácias Fonte: jarun011/iStock.com. De acordo com a Figura 2, as hemácias são células anucleadas em forma de disco, com dimensões variadas (Figura 2), especializadas no transporte de oxigênio dos pulmões aos tecidos e do dióxido de carbono no sentido inverso, devido à presença de hemoglobina no seu interior (cerca 35%). A hemoglobina é uma proteína formada por quatro cadeias polipeptídicas, cada uma das quais contém um grupo heme, que possui um anel protoporfirínico com um átomo de ferro na forma ferrosa (Fe++), o qual é responsável pela interação com o oxigênio (HOFFBRAND; MOSS, 2018). Os leucócitos ou glóbulos brancos são células sanguíneas esféricas, dotadas de núcleo, sem hemoglobina, as quais apresentam formas variadas, especializadas na defesa do organismo frente a ação de agentes estranhos. Os leucócitos (glóbulos brancos) são compostos por quatro tipos de fagócitos (neutrófilos, eosinófilos, basófilos e monócitos) e pelos linfócitos. Os fagócitos protegem o organismo contra infecções bacterianas e fônicas. Já os linfócitos, incluem as células B, envolvidas 3636 na produção de anticorpos, e as células T (CD4 auxiliares e CD8 supressoras), relacionadas à resposta imune e à proteção contra vírus e corpo estranho. Os leucócitos têm uma sobrevida amplamente variada. Em um ser humano adulto, os glóbulos brancos apresentam uma concentração entre 6.000 a 10.000por milímetros cúbicos de sangue. Em casos de infecções ou inflamações, esse número pode aumentar (HOFFBRAND; MOSS, 2018). As plaquetas correspondem a pequenos fragmentos anucleados, responsáveis pela coagulação sanguínea. Por exemplo, durante o processo inflamatório de uma lesão, as plaquetas são ativadas, se aderem ao local e liberam uma enzima, conhecida como tromboplastina, que, mediante a presença de íons cálcio do plasma e outras moléculas, catalisa a reação de conversão da protrombina em trombina, a qual converte o fibrinogênio (proteína do plasma) em fibrina, promovendo a recuperação de vasos sanguíneos para evitar a perda de seus componentes. A Tabela 1 apresenta de forma resumida os principais constituintes das células sanguíneas, com as suas respectivas funções (SILVA; RIBEIRO NETO, 2017). Tabela 1 – Principais constituintes das células sanguíneas e suas respectivas funções Células Função Eritrócitos Transporte de oxigênio e dióxido de carbono Plaquetas Coagulação sanguínea Leucócitos Neutrófilos Proteção contra bactérias e fungos Monócitos Proteção contra bactérias e fungos Eosinófilos Proteção contra parasitas Basófilos Reações de hipersensibilidade imediata Linfócitos Células B: síntese de imunogloblinas Células T: proteção contra vírus; funções imunes Fonte: SILVA; RIBEIRO NETO (2017). 3737 37 Para análise dos constituintes celulares é de fundamental importância a realização de exames como hemograma (glóbulos vermelhos), leucograma (leucócitos) e coagulograma (plaquetas). O uso de análises bioquímicas associadas à interpretação correta é imprescindível para o diagnóstico específico do paciente, visando sempre a sua qualidade de vida. 1.2 Hemograma O hemograma é empregado para avaliar os glóbulos vermelhos, leucócitos e plaquetas, o qual é considerado a principal ferramenta diagnóstica em hematologia, sendo constituído pelos seguintes exames: • Contagem total de hemácias. • Dosagem de hemoglobina. • Determinação do hematócrito. • Índices hematimétricos: Volume corpuscular médio, hemoglobina corpuscular média, concentração de hemoglobina corpuscular média, distribuição dos tamanhos das hemácias. • Contagem total de leucócitos. • Contagem diferencial de leucócitos. • Exame microscópico do esfregaço corado. • Contagem de plaqueta (opcional). O hemograma é realizado em quatro etapas, a qual se inicia pela coleta e processamento da amostra de sangue periférico. Em seguida, é realizada a contagem das células, incluindo determinações dos índices da série vermelha. Depois é realizado o leucograma diferencial e por último a microscopia do esfregaço de sangue periférico para avaliação de potenciais anormalidades morfológicas (DALANHOL et al., 2010). 3838 Para a realização do hemograma, utiliza-se como amostra o sangue total, empregado o EDTA (etilendiaminotetra-acetato) como anticoagulante. O jejum não é obrigatório, mas se recomenda pelo menos 4 horas de jejum para eliminar os interferentes de turvação do plasma após as refeições. A confiabilidade dos resultados depende de alguns fatores, principalmente a qualidade da amostra a ser analisada (WILLIAMSON; SNYDER, 2018). 1.2.1 Série vermelha Os principais testes empregados para avaliar os parâmetros da série vermelha correspondem aos métodos de contagem de eritrócitos (hemácias), valor do hematócrito, quantidade de hemoglobina, volume corpuscular Médio (VCM), hemoglobina corpuscular média (HCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM). Para análise do número total de eritrócitos por ml de sangue, realiza-se a hematimetria, cujos valores de referência variam de acordo com a idade e o sexo (Tabela 2). Tabela 2 – Valores de referência do hemograma para avaliação dos eritrócitos Paciente Contagem total de Hemácias (milhões de células/mm3) Dosagem de Hemoglobina (g/dl) Determinação do Hematócrito (%) Homem 4,5 a 6 13,5 a 18 40 a 54 Mulher 4 a 5,5 12 a 16 37 a 47 Recém-nascido 4 a 6 13,5 a 19,5 44 a 60 Índices Hematimétricos VCM (volume corpuscular médio) 80 a 100 fl HCM (hemoglobina corpuscular media) 27 a 33 pg CHCM (concentração de hemoglobina corpuscular média) 32 a 35% RDW (distribuição do tamanho das hemácias) 14,5 a 11,5% Fonte: Calixto-Lima e Reis (2012). 3939 39 De modo geral, elevada concentração de hemácias, condição conhecida como policitemia, pode estar associada a casos de diarreias, desidratação, queimaduras, policitemia vera, cardiopatia crônica, intoxicações com álcool etílico ou fármacos, vômitos e acidose metabólica. Em contrapartida, valores abaixo da média também podem ser observados em casos de anemias, leucemias, após hemorragias intensas e em infecções graves. A hemoglobina (Hb) corresponde à principal proteína presente nas hemácias, possuem seus valores aumentados ou diminuídos, praticamente em todas as condições que determinam o aumento e diminuição das hemácias, respectivamente. Além disso, fatores como gravidez, indivíduos fumantes, desidratação, raça, mudança da posição em decúbito para a posição ereta na pré-coleta, dentre outros fatores, podem alterar os níveis de Hb aferidos no hemograma (COSTA, 2015). No hemograma, também se encontram valores do hematócrito, o qual corresponde à porcentagem de massa de hemácias em relação ao volume original de sangue. Valores aumentados no índice do hematócrito podem estar associados a situações de hemoconcentração, como nas policitemias, desidratações, queimaduras, diarreias e vômitos intensos. Redução nos valores dos hematócritos ocorre em situações de anemias, leucemias e infecções. Os índices hematimétricos correspondem ao VCM, HCM e CHCM (Tabela 1). O volume corpuscular médio (VCM) avalia o tamanho médio das hemácias e classifica as anemias em macrocíticas (> 100 fl), microcíticas (< 80 fl) ou normocíticas (80-100 fl). Pode ser calculado dividindo o valor do hematócrito pelo valor da hematimetria e multiplicando-se por 10 (Equação 1). (CALIXTO-LIMA; REIS 2012). 4040 Equação 1 – Cálculo do volume corpuscular médio (VCM) HT = Hematócrito HM = Hematimetria Fonte: Calixto-Lima e Reis (2012). As causas mais comuns de valores de VCM reduzido (menor que 80 fl) são devido à deficiência crônica de ferro, anemias crônicas, alfa e betatalassemia. Enquanto valores maiores que 100 fl associam- se à deficiência de folato ou de vitamina B12, hepatopatia crônica, quimioterapia citotóxica, reticulocitose e alcoolismo crônico. A hemoglobina corpuscular média (HCM) indica a quantidade (peso) de hemoglobina em média no eritrócito. Pode ser calculado dividindo o valor da hemoglobina pela hematimetria (Equação 2). O índice de HCM varia entre 27 a 33 pg, sendo que valores menores que 27 pg indicam a presença de hipocromia (baixa taxa de hemoglobina nos eritrócitos) e relacionam-se com as anemias não hemolíticas, mesmo com valores de ferro normais. Valores maiores que 33 pg são comuns em anemias hemolíticas ou carências após o consumo de ferro (MARTY; MARTY, 2015). Equação 2 – Cálculo hemoglobina corpuscular média (HCM) Hb = Hemoglobina HM = Hematimetria Fonte: Calixto-Lima e Reis (2012). A concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) avalia a porcentagem de hemoglobina em 100 ml de hemácias e pode ser calculada dividindo-se o valor da hemoglobina pelo hematócrito e 4141 41 multiplicando-se por 100. Valores de CHCM menores que 32% são indicativos de hipocromia, ou seja, a taxa de hemoglobina nos glóbulos vermelhos é menor do que a taxa normal, são geralmente vinculados por deficiência de ferro. Valores de CHCM maiores que 35%, estão relacionados à presença de esferócitos (eritrócitos com alterações na membrana e mais frágeis) nas amostras, o que caracteriza situações hemólise intravascular, lipemia grave, esferocitose (eritrócitos redondos que carecem da palidez central) e tabagismo (HOFFBRAND; MOSS, 2018). Equação 3 – Cálculo da concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) Hb = hemoglobina HT = hematócritoFonte: Calixto-Lima e Reis (2012). O método de distribuição do tamanho das hemácias (RDW – distribuição do diâmetro dos eritrócitos) avalia o índice de anisocitose, ou seja, a heterogeneidade das hemácias em relação ao seu diâmetro. Valores de RDW maiores do que 14,5% indicam maior dispersão do tamanho das hemácias, sendo que valores menores que 11,5% não apresentam significado clínico. A avaliação qualitativa do hemograma tem o objetivo de analisar a morfologia do esfregaço de sangue periférico. A seguir, algumas das alterações morfológicas importantes das hemácias: • Esferócitos – Hemácias esféricas com ausência de palidez central; estão associadas com a perda da integridade do citoesqueleto. Encontrados em esferocitose hereditária, anemia hemolítica autoimune, entre outros. • Esquizócitos ou fragmentação eritrocitária – Hemácias fragmentadas em uma série de formas e tamanhos. Estão associados às anemias hemolíticas microangiopáticas, incluindo 4242 púrpura trombocitopênica trombótica (PTT), síndrome hemolítico- urêmica (SHU), coagulação intravascular disseminada (CIVD) e causas mecânicas, como em próteses valvares. • Corpúsculo de Howell-Jolly – São hemácias com fragmentos na cromatina e no núcleo, uma ou poucas inclusões nas hemácias. Ocorre após esplenectomia ou em doenças com redução funcional do baço. • Células em lágrima ou gota (dacriócitos) – Indicam mecanismo de estresse (deformação) da hemácia na medula óssea ou em sua passagem pelo baço. Aparecem em talassemias e em várias outras condições, como na invasão medular por neoplasias e infecções e na mielofibrose. • Corpúsculos de Pappenheimer – Várias inclusões nas hemácias compostas de agregados de ribossomos, ferritina e mitocôndria. Achados nas anemias congênitas, como as hemoglobinopatias, ou nas anemias adquiridas, como as megaloblásticas. • Acantócitos – Acantócitos são hemáceas (eritrócitos) espiculadas irregulares, encontradas em pacientes contendo uma deficiência congênita de beta-lipo-proteínas. Estes pacientes também apresentam graves perturbações neurológicas. Células semelhantes podem ser observadas em pacientes com grave disfunção hepato-celular. • Rouleaux – Presença de hemácias empilhadas devido à sua aglutinação. É um fenômeno decorrente da concentração elevada de fibrinogênio ou de globulinas, visto especialmente nas gamopatias monoclonais (MARTY; MARTY, 2015). Outro parâmetro para as células vermelhas correspondem aos reticulócitos, que são designados de hemácias jovens e policromatofílicas devido ao seu RNA residual. A dosagem dos reticulócitos avalia a produção medular das hemácias, sendo de grande importância para diferenciar as anemias hemolíticas das não hemolíticas 4343 43 e também para verificar a eficácia do tratamento. As contagens são expressas em porcentagens (número de reticulócitos em 100 hemácias) ou em números absolutos por milímetros cúbicos. O valor normal dos reticulócitos se encontra na faixa de 0,5 a 1,5%. Altas contagens ocorrem quando a medula óssea está com a produção de hemácias aumentada, como, por exemplo, quando existe hemólise, perda aguda de sangue ou ainda na resposta medular ao tratamento de anemias (MARTY; MARTY, 2015). Todos os parâmetros da série vermelha do hemograma já descritos anteriormente, se analisados de maneira adequada, permitem o diagnóstico de várias doenças que levam à alteração da quantidade de hemoglobinas, hematócritos ou eritrócitos, principalmente a anemia. As anemias correspondem a um conjunto de distúrbios hematológicos com redução do número de glóbulos vermelhos do sangue, quantidade de hemoglobina ou o número do volume de glóbulos vermelhos compactados (hematócrito). As anemias podem estar associadas a vários fatores e são classificadas de acordo com critérios morfológicos (normocítica/normocrômica; microcítica/hipocrômica; macrocítica/ normocrômica). As principais consequências do quadro anêmico incluem hipoxia e redução da capacidade de transporte de oxigênio (XAVIER; DORA; BARROS, 2016). O quadro clínico de anemia se caracteriza quando a concentração de hemoglobina (Hb) no sangue for inferior a 13 g/dl, em homens, e inferior a 12 g/dl, em mulheres. Os sistemas de classificação das anemias enfatizam tanto o tamanho da hemácia quanto o mecanismo que reduz o número de células vermelhas (CALIXTO-LIMA; REIS 2012). A investigação laboratorial inicial consiste na realização dos seguintes exames: • Hematócrito, hemoglobina e contagem de eritrócitos para avaliar o grau de anemia. 4444 • Índices hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) para determinar se os eritrócitos são, em média, normocíticos, macrocíticos, ou microcíticos e hipocrômicos. • Contagem de reticulócitos para estimar se a resposta medular sugere incapacidade da produção ou hemólise ou perda sanguínea recente. • Exame microscópico da distensão sanguínea (lâmina de sangue periférico) para avaliar o aspecto dos eritrócitos e as alterações concomitantes dos leucócitos e das plaquetas. As anemias podem ser classificadas quanto à proliferação (pelo índice de reticulócitos) e quanto à morfologia (pela ectoscopia da hemácia ou valores de VCM e HCM) (Figura 3). Figura 4 – Classificação das anemias de acordo com o VCM Fonte: elaborada pela autora. 4545 45 Os principais sintomas associados aos diferentes tipos de anemia dependem da idade, da capacidade física, do grau de anemia e do tempo de evolução. Os sintomas usuais apresentados pelos pacientes compreendem astenia, cansaço, fraqueza, falta de ar e palpitações. A anemia por deficiência nutricional de ferro é mais comum, seguida pela anemia megaloblástica, que se caracteriza pela deficiência de vitamina B12, essas patologias serão tratadas de forma detalha no capítulo 4 (XAVIER; DORA; BARROS, 2016). 1.2.2 Série branca O leucograma corresponde a um exame de contagem total de leucócitos, os quais exercem papel importante no processo de defesa dos organismos. Os leucócitos compreendem as únicas células nucleadas no sangue dos mamíferos, cujos valores de referência podem variar de acordo com a idade (Tabela 3). Tabela 3 – Valores de referência para leucometria global Paciente Contagem total de leucócitos (células/mm3) Adultos 4.000 a 11.0000 Recém-nascidos 10.000 a 18.000 Fonte: Calixto-Lima e Reis (2012). Denomina-se leucocitose quando o quadro clínico apresenta valores acima dos de referência, a qual pode estar associada ao aumento de um, dois e até três tipos de células, sendo as mais importantes: os neutrófilos, eosinófilos e linfócitos. A leucocitose pode ser decorrente de estresse orgânico com liberação de cortisol, decorrentes de infecções agudas causadas por bactérias, pós-operatórios, processos inflamatórios ou neoplásicos, uso de corticosteroides, septicemia, leucemia, etc. Em contrapartida, a redução dos leucócitos é denominada leucopenia e pode estar associada a um padrão transitório como a dengue, rubéola, caxumba e a leishmaniose visceral, uso de medicamentos como anti- 4646 inflamatórios e quimioterápicos; ou pode assumir padrão definitivo dado por intoxicação por solventes orgânicos ou aplasia medular. Na maioria das vezes, a leucopenia é devida à baixa de neutrófilos. Os leucócitos também podem ser analisados empregando o método de leucometria diferencial de leucócitos, o qual é baseado nos principais leucócitos encontrados no sangue, descritos na Tabela 4 (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). Tabela 4 – Valores de referências para leucometria diferencial Principais leucócitos encontrados no sangue Valor de referência Neutrófilos 55% a 65%(3.000 a 5.000 células/mm3) Eosinófilos 2% a 6% (100 a 300 células/mm3) Basófilos 0% a ¨1%(50 a 80 células/mm3) Monócitos 4% a ¨8% (200 a 650 células/mm3) Linfócitos 20% a 30%(1.500 a 2.500 células/mm3) Fonte: Calixto-Lima e Reis (2012). O aumento dos valores de referência na leucometria diferencial pode ser decorrente de diferentes causas, sendo denominados de neutrofilia, eosinofiliabasofilia, monocitose e linfocitose. Neutrofilia relaciona-se com o aumento no número de neutrófilos, geralmente está associada a infecções bacterianas, leucemias e em processos inflamatórios. Eosinofilia indica o aumento dos níveis de eosinófilos e pode ser observado em parasitoses e processos imunoalérgicos. Basofilia compreende o aumento do número de bastonetes, a qual geralmente aparece na leucemia mielode crônica. A monocitose é decorrente do aumento do número de monócitos, decorrentes principalmente de sepse e tuberculose. Os casos de linfocitose são decorrentes do aumento dos linfócitos e característicos de infecções virais aguas e infecções crônicas (tuberculose e sífilis, leucemia linfocítica crônica e nos processos ganglionares) (COSTA, 2015). 4747 47 1.3 Coagulograma O coagulograma compreende uma série de exames que avaliam tanto a hemostasia primária quanto as proteínas da cascata de coagulação, sendo constituído pelos seguintes exames: • Contagem de plaquetas. • Tempo de sangramento. • Tempo de coagulação. • Tempo de protombina. • Tempo de tromboplastina parcial. Para a realização dos exames do coagulograma, o jejum não é obrigatório, mas recomenda-se pelo menos 4 horas de jejum para eliminar os possíveis interferentes da turvação do plasma após as refeições. Os exames que fazem parte do coagulograma podem auxiliar o profissional de nutrição clínica no acompanhamento de pacientes com hipovitaminose K, uma vez que a produção hepática dos fatores de coagulação II, VII, IX e X é altamente dependente de vitamina K, o exame de tempo de protrombina adquire especial importância nesses casos. O exame de contagem total de plaquetas, também possui aplicação na área da nutrição (PINTO, 2017). Além da importante função no processo de coagulação e fenômenos trombóticos, as plaquetas também desempenham um papel na inflamação. Uma média dos valores de referência da são de 150.000 a 400.000 plaquetas/mm3. O aumento do número de plaquetas pode ser decorrente de doenças mieloproliferativas, febre reumática, artrite reumatoide, colite ulcerativa, carcinomas, doença de Hodgkin e outros linfomas. As plaquetopenias, diminuição do número de plaquetas, podem ser hereditárias ou adquiridas, sendo estas mais comuns e geralmente causadas por anemias aplástica e megaloblástica, doenças autoimunes, malária, dengue, entre outras (XAVIER; DORA; BARROS, 2016). 4848 2. Conclusão Os exames hematológicos podem auxiliar no tratamento e acompanhamento, das anemias carências, sobretudo das anemias ferropriva e megaloblástica, sendo de grande valia para os profissionais de saúde. Em caso de suspeita de caso anêmico, deve-se solicitar exames complementares para o diagnóstico correto do paciente. TEORIA EM PRÁTICA Mulher de 50 anos de idade chega ao departamento de nutrição clínica eupneica, acianótica, anictérica e afebril. Apresenta funções excretoras normais e relata boa aceitação da alimentação. A paciente relatou que foi encaminhada ao nutricionista pela UBS – Unidade Básica de Saúde do seu bairro – e trouxe consigo laudo de alguns exames laboratoriais, os quais encontram-se na Tabela 1: Tabela 1 – Hemograma e coagulograma da paciente Exames Valores obtidos Valores de referência Hemácias 3,43 milhões/mm3 4 a 5,5 milhões/mm3 Hemoglobina 9,05 g/dl 12 a 16 g/dl Hematócrito 27,7% 40 a 52% Índices Hematimétricos VCM 70 fl 82 a 92 fl HCM 28 pg 27 a 33 pg CHCM 25% 32 a 35% Coagulograma Plaquetas 100.000 150.000 a 400.000 plaquetas/mm3 De acordo com os resultados apresentados, qual o possível diagnóstico da paciente? Justifique sua resposta. 4949 49 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. O sangue periférico é constituído por três tipos de células, denominadas de glóbulos vermelhos, eritrócitos ou hemácias; glóbulos brancos ou leucócitos; plaquetas ou trombócitos. A respeito dos constituintes do sangue, assinale a alternativa correta: a. O maior constituinte celular do sangue são os glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos), os quais possuem a hemoglobina no seu interior, sendo responsável pelo transporte de gases do organismo. b. A hemoglobina é uma proteína presente no interior dos glóbulos brancos, formada por quatro cadeias polipeptídicas, as quais são responsáveis pela interação com o oxigênio. c. Os leucócitos ou glóbulos brancos são células sanguíneas esféricas, sem núcleo, sem hemoglobina, as quais apresentam formas variadas, especializadas na defesa do organismo frente á ação de agentes estranhos. d. As plaquetas são células grandes nucleadas, responsáveis pela coagulação sanguínea, que são ativadas durante o processo inflamatório de uma lesão. e. Todos os constituintes do sangue estão envolvidos no transporte oxigênio, isso é possível devido à presença de hemoglobina, nos eritrócitos, leucócitos e plaquetas. 5050 2. O hemograma é empregado para avaliar os glóbulos vermelhos, leucócitos e plaquetas, o qual é considerado a principal ferramenta diagnóstica em hematologia. Assinale alternativa que corresponde aos exames obrigatórios do hemograma: a. Contagem total de hemácias, dosagem de hemoglobina, determinação do hematócrito, Índices hematimétricos, contagem total de leucócitos, contagem diferencial de leucócitos, coagulograma. b. Contagem total de hemácias, dosagem de hemoglobina, determinação do hematócrito, Índices hematimétricos, contagem total de leucócitos, contagem diferencial de leucócitos, exame microscópico do esfregaço corado. c. Contagem total de VDL e HDL, dosagem de hemoglobina, determinação do hematócrito, Índices hematimétricos, contagem total de leucócitos, contagem diferencial de leucócitos, exame microscópico do esfregaço corado. d. Ureia, creatinina, dosagem de hemoglobina, determinação do hematócrito, Índices hematimétricos, contagem total de leucócitos, contagem diferencial de leucócitos e exame microscópico do esfregaço corado. e. Contagem total de hemácias, dosagem de proteína, determinação do hematócrito, índices do perfil lipídco, contagem total de leucócitos, contagem diferencial de leucócitos e exame microscópico do esfregaço corado. 5151 51 3. O volume corpuscular médio (VCM) avalia o tamanho médio das hemácias e classifica as anemias em macrocíticas, microcíticas ou normocíticas. Assinale a alternativa que corresponde às denominações corretas: a. Hemácias macrocíticas possuem volume maior que 80 fl, microcíticas menor que 100 fl e normocíticas entre 80 e100 fl. b. Hemácias macrocíticas possuem volume maior que 300 fl, microcíticas menor que 100 fl e normocíticas entre 100 e 300 fl. c. Hemácias macrocíticas possuem volume maior que 100 fl, microcíticas menor que 80 fl e normocíticas entre 80 e100 fl. d. Hemácias macrocíticas possuem volume maior que 200 fl, microcíticas menor que 70 fl e normocíticas entre 70 e200 fl. e. Hemácias macrocíticas possuem volume maior que 500 fl, microcíticas menor que 100 fl e normocíticas entre 100 e 500 fl. Referências bibliográficas CALIXTO-LIMA, L.; REIS, N. T. Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica. Rio de Janeiro: Rubio, 2012. 489 p. COSTA, M. J. C. Interpretação de Exames Bioquímicos Para o Nutricionista. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2015. 272 p. DALANHOL, M. et al. Efeitos quantitativos da estocagem de sangue periférico nas determinações do hemograma automatizado. Revista Brasileira de Hematologia Hemoteria. 32,1 São Paulo, 2010. 5252 HOFFBRAND, A. V.; Moss, P. A. H. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. 384 p. MARTY, E; MARTY, R. M. Hematologia laboratorial. São Paulo: Érica, 2015. 120 p. PINTO, W. J. Bioquímica clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 628 p. SILVA, A.M.; RIBEIRO NETO, L.M. Hematologia: Métodos e Interpretação. São Paulo: Roca, 2017. 450 p. SILVA, P. H et al. Hematologia Laboratorial: Teoria e Procedimentos. Porto Alegre: Artmed, 2016. 448 p. XAVIER, R.M.; DORA, J.M.; BARROS, E.B. Laboratório na Prática Clínica:Consulta Rápida. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. 1056 p. WILLIAMSON, M. A.; SNYDER, L.M. Wallach: Interpretação de Exames Laboratoriais.10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. 1203 p. Gabarito Questão 1 – Resposta A A única afirmativa correta é: o maior constituinte celular do sangue são os glóbulos vermelhos, os quais possuem a hemoglobina no seu interior, sendo responsável pelo transporte de gases do organismo. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente. Questão 2 – Resposta B A única afirmativa correta é: os exames que compreendem o hemograma são contagem total de hemácias, dosagem de hemoglobina, determinação do hematócrito, Índices hematimétricos, contagem total de leucócitos, contagem diferencial de leucócitos, exame microscópico do esfregaço corado. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente. Questão 3 – Resposta C A única afirmativa correta é: hemácias macrocíticas possuem volume maior que 100 fl, microcíticas menor que 80 fl e normocíticas entre 80 e100 fl.l. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente. 5353 53 Exames clínicos para diabetes, dislipidemias, aminoacidopatias e risco de doenças crônicas Autora: Flávia Debiag Objetivos • Abordar sobre as principais características do diabetes mellitus, bem como os exames bioquímicos empregados para o seu diagnóstico e classificação. • Discorrer sobre as dislipidemias, bem como as suas características e exames bioquímicos. • Discutir sobre as doenças crônicas não transmissíveis e seus principais fatores de riscos associados. 5454 1. Introdução Este capítulo descreve os exames laboratoriais mais comumente empregados para diagnóstico de diabetes, dislipidemias, aminoacidopatias e risco de doenças crônicas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (2017) pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) apresentam maior risco para eventos cardiovasculares, entre os quais a dislipidemia provavelmente exerça o papel mais importante. Nesses pacientes, a hiperglicemia ocasiona a apoptose das células β pancreáticas e também contribui para o acúmulo do LDL (lipoproteína de baixa densidade) nas veias e arteriais. As aminoacidopatias são doenças raras, ocasionadas por uma anomalia genética do metabolismo de determinados aminoácidos, são herdadas de forma autossômicas, sendo as principais fenilcetonúria e doença da urina de xarope de bordo. PARA SABER MAIS Os principais métodos empregados para diagnóstico da resistência à insulina são: TOTG (teste oral de tolerância à glicose) HOMA IR (modelo matemático de avaliação da homeostase para resistência à insulina); QUICKI: índice quantitativo de verificação da sensibilidade à insulina; circunferência da cintura; relação cintura-altura; circunferência do pescoço; diâmetro abdominal sagital; fenótipo cintura hipertrigliceridêmica e índice TyG. Para o profissional da área da saúde, os exames laboratoriais constituem uma ferramenta diagnóstica importante e de grande valor clínico. Os exames laboratoriais bioquímicos possuem a função de colaborar ou contradizer uma hipótese diagnóstica previamente elaborada pelo clínico. Além disso, também proporciona subsídios importantes no acompanhamento e na evolução do tratamento. 5555 55 ASSIMILE O diagnóstico laboratorial do diabetes mellitus (DM) deve ser realizado por meio de glicemia de jejum, glicemia 2 horas após teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e hemoglobina glicada (HbA1c). O perfil lipídico é definido pelas determinações do colesterol total (CT), triglicerídeos (TG), pelas frações de HDL-c (colesterol contido nas HDL), LDL-c (colesterol contido nas LDL) e não HDL-c. 2. Diagnóstico do Diabetes Mellitus O diabetes mellitus (DM) pode ser descrito como um conjunto de doenças metabólicas, as quais apresentam hiperglicemia resultante de defeitos na secreção da insulina e/ou sua ação. Os principais sintomas são poliúria, polidipsia, perda de peso, polifagia e visão nebulosa De acordo com a sua etiologia o dibetes mellitus pode ser classificado em dibetes mellitus (DM1), dibetes mellitus (DM2), dibetes mellitus gestacional (DMG). (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017). Quadro 1 – Classificação etiológica do DM DM1 - Tipo 1A: defciência de insulina por destruição autoimune das células β comprovada por exames laboratoriais. - Tipo 1B: defciência de insulina de natureza idiopática. DM2 Perda progressiva de secreção insulínica combinada com resistência à insulina. DMG Hiperglicemia de graus variados diagnosticada durante a gestação, na ausência de critérios de DM prévios. Outros - Monogênicos (MODY). - Diabetes neonatal. - Secundário a endocrinopatias. - Secundário a doenças do pâncreas exócrino. - Secundário a infecções. - Secundário a medicamentos. DM: diabetes mellitus; DM1 diabetes mellitus tipo 1; DM2 diabetes mellitus tipo 2; DMG diabetes mellitus gestacional MODY: diabetes de início da maturidade do jovem. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes (2017). 5656 Alguns exames bioquímicos são empregados para a classificação de tolerância à glicose. Na glicemia em jejum emprega-se o sangue periférico coletado após jejum calórico de no mínimo 8 horas. No teste de tolerância à glicose (TOTG), primeiramente coleta-se uma amostra de sangue em jejum para determinação da glicemia, em seguida ingere-se 75 g de glicose dissolvida em água, coleta-se outra, então, após 2 horas da sobrecarga oral. Importante reforçar que a dieta deve ser a habitual e sem restrição de carboidratos pelo menos nos 3 dias anteriores à realização do teste. Permite avaliação da glicemia após sobrecarga, que pode ser a única alteração detectável no início do DM, refletindo a perda de primeira fase da secreção de insulina. O teste de hemoglobina glicada corresponde a uma medição indireta da glicemia, que reflete os níveis glicêmicos dos últimos 3 a 4 meses, sofre menor variabilidade dia a dia e independe do estado de jejum. Para a confirmação do diagnóstico de DM é necessária a repetição dos exames laboratoriais alterados, quando a ausência de sintomas evidentes de hiperglicemia. Pacientes com sintomas clássicos de hiperglicemia, tais como poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento, devem ser submetidos à dosagem de glicemia ao acaso e independente do jejum, não havendo necessidade de confirmação por meio de segunda dosagem, caso se verifique glicemia aleatória ≥ 200 mg/dl. Os critérios laboratoriais para diagnóstico de normoglicemia, pré-diabetes e DM, adotados pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 2017) encontram-se descritos na Tabela 1. Tabela 1 – Critérios laboratoriais para diagnóstico de normoglicemia, pré-diabetes e diabetes mellitus Glicose em jejum (mg/dl) Glicose 2 horas após sobrecarga com 75 g de glicose (mg/dl) Glicose ao acaso (mg/dl) HbA1c (%) Normoglicemia < 100 < 140 - < 5,7 Pré-diabetes ou risco aumentado para DM ≥ 100 e < 126* ≥ 140 e < 200# - ≥ 5,7 e < 6,5 5757 57 Diabetes estabelecido ≥ 126 ≥ 200 ≥ 200 com sintomas evidentes de hiperglicemia ≥ 6,5 HbA1c: hemoglobina glicada. * Categoria também conhecida como glicemia de jejum alterada. # Categoria também conhecida como intolerância oral à glicose. Fonte: Sociedade Americana de Diabetes (2019). O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) ocorre principalmente em crianças, adolescentes e adultos jovens com até 30 anos, e representa 5% a 10% de todos os casos diagnosticados de DM. O diabetes mellitus tipo 1 se caracteriza pela destruição das células β pancreáticas, causando geralmente deficiência absoluta de insulina, que pode ser detectado por autoanticorpos circulantes como antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD), anti-ilhotas e anti-insulina. Existem duas formas distintas de DM1: • Imunomediada: ocasionada por uma agressão ambiental, podendo ser infecciosa ou tóxica, as células do pâncreas de indivíduos predispostos geneticamente. Assim, o sistema imunológico destrói tanto o agente estranho,
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