Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais A Contemporaneidade e a Formação Profissional Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Vaniele Soares da Cunha Copello 1ª Edição Copyright © 2021, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. Núcleo de Educação a Distância www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitoria de Programas de Pós-Graduação Nara Pires Pró-Reitoria de Programas de Graduação Lívia Maria Figueiredo Lacerda Pró-Reitoria Administrativa e Comunitária Carlos de Oliveira Varella Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Márcia Loch Sumário A Contemporaneidade e a Formação Profissional Para Início de Conversa... ............................................................................... 4 Objetivos ......................................................................................................... 4 1. Problematizando a Formação Profissional na Contemporaneidade .................................................................................... 5 2. Os Desafios da Reconstrução de um Projeto de Formação Profissional ..................................................................................................... 8 3. O Projeto de Formação Profissional na Contemporaneidade: Exigências e Perspectivas ......................................................................... 13 Referências ........................................................................................................ 15 FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 3 Para Início de Conversa... Trazer o debate acerca da formação profissional em Serviço Social na contemporaneidade se torna essencial em um momento em que a profissão se depara com inúmeros desafios decorrentes das transformações no mundo do trabalho, da contrarreforma do Estado e das novas configurações que a sociedade civil vem assumindo. Nesta unidade, será possível problematizar a formação profissional na contemporaneidade, principalmente após o avanço crítico que o Serviço Social passou, o que é essencial para não retroceder e encarar a onda neoconservadora que sonda a profissão. Serão apresentados os maiores desafios para a reconstrução do projeto de formação profissional, desafios oriundos das transformações no bojo capitalista, a partir da década de 1970, como as mudanças no mundo do trabalho, na esfera do Estado e no campo da cultura. Por fim, será realizada uma análise sobre o projeto de formação profissional na contemporaneidade conhecendo suas exigências e perspectivas. Objetivos ▪ Problematizar a formação profissional na contemporaneidade. ▪ Conhecer os desafios na reconstrução do projeto de formação profissional. ▪ Analisar o projeto de formação profissional na contemporaneidade conhecendo suas exigências e perspectivas. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 4 1. Problematizando a Formação Profissional na Contemporaneidade Falar de formação profissional em Serviço Social na contemporaneidade se faz fundamental em um momento em que a profissão se depara com inúmeros desafios decorrentes das metamorfoses do mundo do trabalho, da contrarreforma do Estado e das novas configurações que a sociedade civil vem assumindo. Na contemporaneidade, a profissão apresenta uma postura renovada, tanto no âmbito profissional quanto no âmbito acadêmico, se posicionando a favor dos interesses da classe trabalhadora e da defesa dos direitos humanos; se comprometendo em afirmar a democracia, a igualdade, a liberdade e a justiça social. Essa postura, nos dias atuais, é fundamental e é resultado do processo de renovação pelo qual o Serviço Social passou, um processo de ruptura com a herança conservadora, ou seja, um rompimento com o tradicionalismo instaurado na profissão desde sua gênese, deixando um ideário conservador e assumindo uma postura mais crítica. Figura 1: Renovação do Serviço Social – a profissão busca e vem buscando romper com o conservadorismo através do desenvolvimento de um posicionamento crítico e de uma atuação em favor da classe trabalhadora. Fonte: Dreamstime. “Entendemos por renovação o conjunto de características novas que, no marco das constrições da autocracia burguesa, o Serviço Social articulou, à base do rearranjo de suas tradições [...], procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática, através FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 5 das respostas a demandas sociais, da sua sistematização e valorização teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais.” (NETTO, 2015, p.172). De acordo com o autor, três direções principais constituíram o processo de renovação: a vertente modernizadora, a reatualização do conservadorismo e a intenção de ruptura. A profissão busca e vem buscando romper com o conservadorismo, o que proporcionou impactos positivos na formação profissional, na revisão do Código de Ética do Assistente Social e na formulação de um Projeto Ético-político profissional comprometido com a classe operária, com a defesa dos direitos humanos, em favor da equidade social e da construção de uma nova ordem societária. A partir deste processo, abre-se, no interior da profissão, um leque de preocupações que passam a exigir novas respostas profissionais, resultando em alterações significativas no âmbito do ensino, da pesquisa, da regulamentação profissional e da forma de organização política da profissão. Problematizar a formação profissional em Serviço Social, principalmente após todo esse avanço na profissão, se faz fundamental no intuito de não retroceder e encarar a onda neoconservadora que sonda a profissão. Iamamoto (2015) afirma que “o desafio é, pois, garantir um salto de qualidade no processo de formação profissional dos assistentes sociais.” Debater a formação profissional requer uma atenção no que se refere a pensar o levantamento de problemáticas e estratégias para se enfrentar as propostas neoliberais de cunho conservador e privatista que enxergam o cidadão apenas como um consumidor, enfraquecendo as políticas públicas estatais. Isto é, faz-se necessário fazer um balanço sobre o Serviço Social, levantar temas que possam ser pesquisados de modo a decifrar as novas demandas postas ao Serviço Social. A formação profissional na contemporaneidade precisa estar articulada ao projeto de formação construído coletivamente direcionado pela ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, que traz a importância de se relacionar as dimensões de ensino, pesquisa e extensão. A ABEPSS criou um documento que contém as diretrizes gerais para o curso de Serviço Social. O texto aponta os pressupostos, princípios e diretrizes para nortear o projeto pedagógico de cada unidade de formação profissional. De acordo com as orientações, “a efetivação de um projeto de formação profissional remete diretamente a um conjunto de conhecimentos indissociáveis que se traduzem em NÚCLEOS DE FUNDAMENTAÇÃO constitutivos da formação profissional. São eles: 1– Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social; 2– Núcleo de fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 6 sociedade brasileira; 3– Núcleo de fundamentos do trabalho profissional.” (ABEPSS, 1996) As transformações societárias ocorridas no Brasil a partir da década de 1990, com a chegada do neoliberalismo, somadas às transformações nos processos de produção e reprodução da vida social, afetam diretamente o trabalho do assistente social, exigindo novas formas de enfrentamento à questão social e trazendo a necessidade e o desafio de se historicizar e contextualizaro significado social da profissão. Desta forma, a ABEPSS (1996), a partir das Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social, traz os seguintes pressupostos norteadores da concepção de formação profissional: O Serviço Social se particulariza nas relações sociais de produção e reprodução da vida social como uma profissão interventiva no âmbito da questão social, expressa pelas contradições do desenvolvimento do capitalismo monopolista. A relação do Serviço Social com a questão social - fundamento básico de sua existência - é mediatizada por um conjunto de processos sócio-históricos e teórico-metodológicos constitutivos de seu processo de trabalho. O agravamento da questão social em face das particularidades do processo de reestruturação produtiva no Brasil, nos marcos da ideologia neoliberal, determina uma inflexão no campo profissional do Serviço Social. Esta inflexão é resultante de novas requisições postas pelo reordenamento do capital e do trabalho, pela reforma do Estado e pelo movimento de organização das classes trabalhadoras, com amplas repercussões no mercado profissional de trabalho. O processo de trabalho do Serviço Social é determinado pelas configurações estruturais e conjunturais da questão social e pelas formas históricas de seu enfrentamento, permeadas pela ação dos trabalhadores, do capital e do Estado, através das políticas e lutas sociais. 1 2 3 4 É sempre muito importante fazer uma articulação da formação profissional com o mercado de trabalho, não dentro de uma perspectiva de apenas adequar o estudante de Serviço Social às exigências mercadológicas, mas que o profissional em formação se sintonize de forma crítica com o mundo do trabalho. Essa sintonia crítica deve ser capaz de proporcionar a identificação das demandas do Serviço Social e de compreender as contradições que geram as desigualdades sociais e as lutas de classes, que envolvem os mais explorados e excluídos da proteção social. Ou seja, que venha “apreender as contratendências desse processo: ver o reverso da medalha da crise, identificando como tais contratendências se refratam no mercado profissional de trabalho.” (IAMAMOTO, 2015, p. 172) Articular a formação profissional a partir dessa consonância com o mercado de trabalho é uma forma de preservar a sobrevivência do Serviço Social, neste sentido, destaca-se a importância de um alinhamento entre o projeto de formação profissional e o novo perfil requisitado pelo mercado de trabalho, o qual requer um profissional capaz de oferecer respostas aos desafios postos de forma crítica e criativa, para isso se faz importante que os currículos de formação profissional estejam atentos às metamorfoses ocorridas na contemporaneidade. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 7 2. Os Desafios da Reconstrução de um Projeto de Formação Profissional As significativas transformações nos padrões capitalistas de produção e acumulação ocorridas, principalmente a partir da década de 1970, num contexto de crise do modelo fordista/keynesiano, vêm repercutindo de forma direta nos processos e mercado de trabalho, bem como na gestão e controle da força de trabalho. A partir dessas mudanças, tem-se a raiz dos grandes desafios da formação profissional na atualidade. Pode-se apontar três dimensões resultantes desse processo de transformações no bojo capitalista, a partir da década de 1970: Mudanças no mundo do trabalho → Mudanças na esfera do Estado → Mudanças no campo da cultura. Essas mudanças expressas no âmbito industrial vêm acompanhadas por políticas de cunho neoliberal, que trazem implicações na estrutura do Estado, passam por uma contrarreforma e trazem mudanças significativas no trato com as classes sociais. Utiliza-se o termo “contrarreforma” para denominar as mudanças ocorridas na estrutura do Estado. Esse termo é usado, pois a reforma no aparato estatal é marcada por retrocesso nas conquistas da classe trabalhadora e na execução das políticas sociais em que o Estado se mantém parco no investimento no âmbito social. Conforme já discutido nas unidades anteriores, algumas medidas foram tomadas na tentativa de superar a crise do capital, deixando a produção em massa para trás, trazendo posturas mais flexíveis para o mercado, utilizando-se de novas tecnologias e introduzindo novas linhas de produtos, de modo a acelerar a rotatividade. Tem-se um novo processo de acumulação, a acumulação flexível, que se apoia: ‘‘ [...] Na flexibilidade dos processos de trabalho, do mercado de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças nos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões, criando, por exemplo, um vasto movimento de emprego no chamado “setor de serviços” bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas. (HARVEY, Apud, IAMAMOTO, 2015, p. 176) ’’ As mudanças no mundo do trabalho começam a ser percebidas ainda no ambiente de produção, com a utilização de tecnologia na aceleração da produção, acarretando uma maior eficácia, economia e qualidade. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 8 As grandes empresas se configuram como “montadoras” e dependem de outras pequenas empresas para prestar certos tipos de serviço, dando origem ao processo de terceirização. Como consequência desse processo tem-se uma precarização das relações de trabalho, um aumento na quantidade de pessoas fora do mercado formal e/ou em contratos temporários, resultando em uma perda significativa de direitos sociais, além de uma crescente taxa de desemprego. Muitas pessoas que pertencem à classe trabalhadora nunca terão espaço no mercado formal, sendo excluídas do processo, ficando à mercê da informalidade e do não acesso a direitos sociais. Isso gera uma “‘nova pobreza’, um excedente de força de trabalho que não tem preço porque não tem mais lugar no processo de produção.” (IAMAMOTO, 2015, p. 179) Figura 2: Trabalhador informal: precisa se reinventar para sobreviver no mundo capitalista, sem acesso aos direitos dos trabalhadores formais. Fonte: Dreamstime. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 9 Essas mudanças ocorridas no mundo do trabalho refletem na formação profissional de assistentes sociais. Sendo assim, é importante que nesse processo seja possível compreender, de forma crítica: ‘‘ [as] tendências do atual estágio da expansão capitalista e suas repercussões na alteração das funções tradicionalmente atribuídas à profissão e ao tipo de capacitação requerida pela “modernização” da produção e pelas novas formas de gestão da força de trabalho; que dê conta dos processos que estão produzindo alterações nas condições de vida e de trabalho da população que é alvo dos serviços profissionais, assim como das novas demandas dos empregadores na esfera empresarial. (IAMAMOTO, 2015, p. 180) ’’ No que se refere às mudanças no aparato estatal, nota-se o Estado atendendo às recomendações de organismos estatais, colocando as ações governamentais dentro da perspectiva neoliberal, incentivando a privatização, a desregulamentação do mercado, a descentralização, o investimento mínimo e até grandes cortes orçamentários nas políticas sociais. O cenário que existia no auge das políticas keynesianas, através do Estado de Bem-Estar Social, com a expansão dos direitos sociais, passa a dar lugar, a partir de uma “contrarreforma” do Estado, a políticas sociais focalizadas e precarizadas, bem como ao sucateamento e deterioração de instituições e serviços públicos; um projeto de fortalecimento da privatização. A crise de 1970, uma crise inerentemente capitalista, em que os índices de produtividadee rentabilidade do capital declinaram, gerou uma queda na taxa de lucros e uma diminuição dos fundos fiscais que eram fundamentais para a manutenção do Estado de Bem-Estar Social. O fundo público depende do aumento da produtividade do trabalho, sem o fundo público, o sistema capitalista não consegue sobreviver, pois ele financia a ciência, a tecnologia, a agricultura e também as políticas sociais que contribuem para a manutenção da força de trabalho. O fundo público passa a ser utilizado para contribuir com as grandes empresas que detêm o controle dos mercados, em detrimento da reprodução da força de trabalho, diminuindo o investimento nas políticas sociais. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 10 Figura 3: Fundo Público: o fundo público deve assegurar recursos suficientes para o financiamento das políticas sociais. Fonte: Dreamstime. O fundo público envolve toda a capacidade de mobilização de recursos que o Estado tem para intervir na economia, seja por meio das empresas públicas, pelo uso das suas políticas monetária e fiscal, assim como pelo orçamento público. Uma das principais formas da realização do fundo público é por meio da extração de recursos da sociedade na forma de impostos, contribuições e taxas, da mais-valia socialmente produzida. (SALVADOR, 2010, p. 3) O Brasil abre as suas portas para a política neoliberal a partir da década de 1990, no então governo Collor, momento de ascensão do neoliberalismo também no cenário internacional. Algumas ações econômicas no governo Collor foram: ‘‘ a) alavancagem do processo de privatização das empresas nacionais; b) abertura econômica para capitais estrangeiros; c) retomada do processo inflacionário; d) minimização dos gastos públicos governamentais na área social, entre outras características, o que aponta seu perfeito alinhamento com as indicações feitas pelos organismos internacionais. (COUTO, 2004, p. 146-147) ’’ O governo de Fernando Henrique Cardoso vai dar continuidade à consolidação do neoliberalismo no Brasil, favorecendo o capital financeiro internacional. Durante o governo FHC foram realizadas ações que colocavam o mercado sobre o Estado e a iniciativa privada sobre a pública. Foi um período em que ocorreram diversas privatizações, o que diminuiu a presença do Estado em atividades produtivas, favorecendo aos oligopólios nacionais e estrangeiros, mantendo os privilégios da classe FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 11 dominante, enfraquecendo a luta dos trabalhadores e de grupos políticos regionais tradicionais. Esse processo de privatizações vai trazer rebatimentos no trato das políticas sociais, principalmente no âmbito da assistência social. A tendência é, cada vez mais, o Estado se desresponsabilizar, passando para a iniciativa privada o tocante das políticas sociais, o que vai fazer crescer uma onda de filantropia social. ‘‘ Aliado a isso, presencia-se o interesse em se qualificar administradores de empresas para a gestão de recursos públicos e privados no campo da “filantropia do capital”, por meio de cursos de especialização mantidos por escolas de ponta, no país e no exterior. (IAMAMOTO, 2015, p. 182) ’’ Os rebatimentos desse processo no mercado de trabalho do assistente social vão proporcionar, de acordo com Iamamoto (2015), um redimensionamento de seu perfil. Com a transferência de responsabilidade do Estado para a iniciativa privada, tem-se o crescimento de Organizações da Sociedade Civil, que passarão a prestar os serviços sociais antes executados pela esfera pública. Além disso, cada vez mais as empresas privadas vão demandar postos de trabalho para os assistentes sociais na esfera de benefícios assistenciais. Neste sentido, pode-se afirmar que as mudanças ocorridas na esfera do Estatal trazem como consequência um menor investimento público na área social, subordinando as políticas sociais às dotações orçamentárias e à ampliação do campo profissional nas chamadas instituições do “terceiro setor”. Exige-se cada vez mais um profissional que seja capaz de formular políticas públicas, esteja apto a trabalhar em equipes interdisciplinares e saiba técnicas gerenciais. Sendo assim, é importante que os cursos de Serviço Social se atentem em qualificar profissionais que compreendam criticamente as mudanças contemporâneas e que não percam espaços, restringindo suas possibilidades ocupacionais. As mudanças no mundo da cultura estão relacionadas ao debate realizado acerca da pós-modernidade, na recusa da teoria marxista e, principalmente, das dimensões de historicidade, ontologia e totalidade, o que pode levar a um empobrecimento da prática profissional e um retrocesso ético-político. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 12 3. O Projeto de Formação Profissional na Contemporaneidade: Exigências e Perspectivas As metamorfoses ocorridas na contemporaneidade e, principalmente, a partir da década de 1990, no Brasil, requerem a construção de um projeto de formação profissional em Serviço Social conciliado com a história, de forma a compreender criticamente as contradições que permeiam a profissão em meio a uma sociedade capitalista. É essencial que durante a formação profissional seja moldado um profissional fortalecido de uma competência teórico- crítica fundamentado nas correntes teóricas hegemônicas do Serviço Social. A formação em Serviço Social deve, além de construir um profissional dotado da competência técnico-política, ser capaz de responder criticamente e criativamente às demandas postas tanto no campo da pesquisa quanto no da atuação profissional. Figura 4: Profissional em formação: fortalecimento do arcabouço teórico-metodológico para a compreensão crítica da realidade social. Fonte: Dreamstime. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 13 Faz-se importante a construção de um projeto de formação profissional em Serviço Social que vise preparar profissionais comprometidos com o Projeto Ético-Político profissional, que se coloque na defesa dos direitos humanos e a favor da equidade social e da construção de uma nova ordem societária. Iamamoto (2015) ressalta que uma outra dimensão a ser trabalhada é a perspectiva crítico-revolucionária, que está centralizada na prática da vida social e deve ser incorporada de modo que o profissional venha a ter uma atuação voltada para a superação da sociedade capitalista. Essas dimensões supracitadas, ao serem atribuídas à formação profissional, contribuem para dar concretude a uma direção social atenta ao nosso tempo, contribuindo também para que o assistente social, durante sua atuação profissional, consiga antecipar as problemáticas relacionadas à prática profissional, de modo que consiga criar propostas profissionais que tragam alternativas políticas das quais os sujeitos sociais sejam protagonistas. Iamamoto (2015, p. 195) acrescenta que: Mais ainda: uma qualidade de formação que, sendo culta e atenta ao nosso tempo, seja capaz de antecipar problemáticas concernentes à prática profissional e de fomentar a formulação de propostas profissionais que vislumbrem alternativas de políticas calcadas no protagonismo dos sujeitos sociais, porque atenta à vida presente e a seus desdobramentos. Um projeto de formação profissional que aposte nas lutas sociais, na capacidade dos agentes históricos de construírem novos padrões de sociabilidade para a vida social. Construção esta que é processual, que está sendo realizada na cotidianidade da prática social, cabendo aos agentes profissionais detectá-las e delas partilhar, contribuindo como cidadãos e profissionais para o seu desenvolvimento. Outra perspectiva dessa formação é que, de forma a reafirmar o estatuto da profissão, este processo seja capaz de fazer com que os indivíduos em formação compreendam a contradição que os envolve. Isto é, que essas pessoas sejam capazes de formular e implementar políticas sociais na dinâmica do mundo do trabalho, no entanto,que esses profissionais estejam atentos à visão de mundo da classe trabalhadora, “decifrando seus códigos, suas maneiras particulares de expressão de sua vida social em formas culturais.” (IAMAMOTO, 2015, p. 196) A formação profissional deve proporcionar aos futuros assistentes sociais condições para recriar a prática de trabalho, dando para tal uma base teórica, ética e política fortalecida para contribuir aos novos tempos e exigências, de forma crítica. Abordar as exigências e perspectivas do projeto de formação profissional na contemporaneidade se faz fundamental nos dias atuais. Essas exigências surgem a partir das significativas transformações nos padrões de produção e acumulação capitalistas ocorridos principalmente a partir da década de 1970. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 14 Com essas mudanças, tem-se a raiz dos grandes desafios da formação profissional na atualidade, principalmente a partir das três dimensões resultantes desse processo de transformações no bojo capitalista: as transformações no mundo do trabalho, na esfera do Estado e no campo da cultura. Desta forma, a formação profissional deve ser executada de modo a proporcionar aos futuros assistentes sociais condições para recriar a prática profissional, desde que eles tenham uma base teórica, ética e política fortalecida, de modo a contribuir aos novos tempos e exigências. Referências ABEPSS. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social – Com base no Currículo Mínimo aprovado em Assembleia Geral Extraordinária de 8 de novembro de 1996. Rio de Janeiro, Nov. 1996. Disponível em: http://www.abepss. org.br/arquivos/textos/documento_201603311138166377210.pdf COUTO, B. R. O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira: uma equação possível? São Paulo: Cortez, 2004. IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 26 ed. São Paulo: Cortez, 2015. NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social: Uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 17 ed. São Paulo: Cortez, 2015. SALVADOR, E. Fundo público e políticas sociais na crise do capitalismo. Serviço Social & Sociedade. São Paulo, n. 104, oct./ dez. 2010. p. 605- 631. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-66282010000400002 Acesso em: 06 jan. 2021. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 15 http://www.abepss.org.br/briefing/documentos/Lei_de_Diretrizes_Curriculares_1996.pdf https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282010000400002 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282010000400002 _GoBack A Contemporaneidade e a Formação Profissional Para Início de Conversa... Objetivos 1. Problematizando a Formação Profissional na Contemporaneidade 2. Os Desafios da Reconstrução de um Projeto de Formação Profissional 3. O Projeto de Formação Profissional na Contemporaneidade: Exigências e Perspectivas Referências
Compartilhar