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capitulo-04 (4)

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FHTMESS: Trabalho 
e Espaços Sócio 
Ocupacionais
A Contemporaneidade e a 
Formação Profissional
Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD
Desenvolvimento do material: Vaniele Soares da Cunha Copello
1ª Edição
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Sumário
A Contemporaneidade e a Formação Profissional
Para Início de Conversa... ............................................................................... 4
Objetivos ......................................................................................................... 4
1. Problematizando a Formação Profissional na 
Contemporaneidade .................................................................................... 5
2. Os Desafios da Reconstrução de um Projeto de Formação 
Profissional ..................................................................................................... 8
3. O Projeto de Formação Profissional na Contemporaneidade: 
Exigências e Perspectivas ......................................................................... 13
Referências ........................................................................................................ 15
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 3
Para Início de Conversa...
Trazer o debate acerca da formação profissional em Serviço Social 
na contemporaneidade se torna essencial em um momento em 
que a profissão se depara com inúmeros desafios decorrentes das 
transformações no mundo do trabalho, da contrarreforma do Estado e 
das novas configurações que a sociedade civil vem assumindo.
Nesta unidade, será possível problematizar a formação profissional na 
contemporaneidade, principalmente após o avanço crítico que o Serviço 
Social passou, o que é essencial para não retroceder e encarar a onda 
neoconservadora que sonda a profissão. 
Serão apresentados os maiores desafios para a reconstrução do projeto 
de formação profissional, desafios oriundos das transformações no bojo 
capitalista, a partir da década de 1970, como as mudanças no mundo do 
trabalho, na esfera do Estado e no campo da cultura.
Por fim, será realizada uma análise sobre o projeto de formação 
profissional na contemporaneidade conhecendo suas exigências e 
perspectivas.
Objetivos 
 ▪ Problematizar a formação profissional na contemporaneidade. 
 ▪ Conhecer os desafios na reconstrução do projeto de formação 
profissional.
 ▪ Analisar o projeto de formação profissional na contemporaneidade 
conhecendo suas exigências e perspectivas.
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 4
1. Problematizando a Formação Profissional na 
Contemporaneidade
Falar de formação profissional em Serviço Social na contemporaneidade 
se faz fundamental em um momento em que a profissão se depara com 
inúmeros desafios decorrentes das metamorfoses do mundo do trabalho, 
da contrarreforma do Estado e das novas configurações que a sociedade 
civil vem assumindo.
Na contemporaneidade, a profissão apresenta uma postura renovada, 
tanto no âmbito profissional quanto no âmbito acadêmico, se 
posicionando a favor dos interesses da classe trabalhadora e da defesa 
dos direitos humanos; se comprometendo em afirmar a democracia, a 
igualdade, a liberdade e a justiça social.
Essa postura, nos dias atuais, é fundamental e é resultado do processo 
de renovação pelo qual o Serviço Social passou, um processo de 
ruptura com a herança conservadora, ou seja, um rompimento com o 
tradicionalismo instaurado na profissão desde sua gênese, deixando um 
ideário conservador e assumindo uma postura mais crítica.
Figura 1: Renovação do Serviço Social – a profissão busca e vem buscando romper com o 
conservadorismo através do desenvolvimento de um posicionamento crítico e de uma atuação 
em favor da classe trabalhadora. Fonte: Dreamstime. 
“Entendemos por renovação o conjunto de características novas que, no 
marco das constrições da autocracia burguesa, o Serviço Social articulou, 
à base do rearranjo de suas tradições [...], procurando investir-se como 
instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática, através 
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 5
das respostas a demandas sociais, da sua sistematização e valorização 
teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais.” (NETTO, 
2015, p.172). De acordo com o autor, três direções principais constituíram 
o processo de renovação: a vertente modernizadora, a reatualização do 
conservadorismo e a intenção de ruptura.
A profissão busca e vem buscando romper com o conservadorismo, o 
que proporcionou impactos positivos na formação profissional, na 
revisão do Código de Ética do Assistente Social e na formulação de um 
Projeto Ético-político profissional comprometido com a classe operária, 
com a defesa dos direitos humanos, em favor da equidade social e da 
construção de uma nova ordem societária.
A partir deste processo, abre-se, no interior da profissão, um leque 
de preocupações que passam a exigir novas respostas profissionais, 
resultando em alterações significativas no âmbito do ensino, da pesquisa, 
da regulamentação profissional e da forma de organização política da 
profissão.
Problematizar a formação profissional em Serviço Social, principalmente 
após todo esse avanço na profissão, se faz fundamental no intuito de 
não retroceder e encarar a onda neoconservadora que sonda a profissão. 
Iamamoto (2015) afirma que “o desafio é, pois, garantir um salto de 
qualidade no processo de formação profissional dos assistentes sociais.”
Debater a formação profissional requer uma atenção no que se refere 
a pensar o levantamento de problemáticas e estratégias para se 
enfrentar as propostas neoliberais de cunho conservador e privatista 
que enxergam o cidadão apenas como um consumidor, enfraquecendo 
as políticas públicas estatais. Isto é, faz-se necessário fazer um balanço 
sobre o Serviço Social, levantar temas que possam ser pesquisados de 
modo a decifrar as novas demandas postas ao Serviço Social.
A formação profissional na contemporaneidade precisa estar articulada 
ao projeto de formação construído coletivamente direcionado pela 
ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, 
que traz a importância de se relacionar as dimensões de ensino, pesquisa 
e extensão.
A ABEPSS criou um documento que contém as diretrizes gerais para 
o curso de Serviço Social. O texto aponta os pressupostos, princípios 
e diretrizes para nortear o projeto pedagógico de cada unidade de 
formação profissional. De acordo com as orientações, “a efetivação de 
um projeto de formação profissional remete diretamente a um conjunto 
de conhecimentos indissociáveis que se traduzem em NÚCLEOS DE 
FUNDAMENTAÇÃO constitutivos da formação profissional. São eles: 1– 
Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social; 2– Núcleo 
de fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da 
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 6
sociedade brasileira; 3– Núcleo de fundamentos do trabalho profissional.” 
(ABEPSS, 1996)
As transformações societárias ocorridas no Brasil a partir da década de 
1990, com a chegada do neoliberalismo, somadas às transformações nos 
processos de produção e reprodução da vida social, afetam diretamente 
o trabalho do assistente social, exigindo novas formas de enfrentamento 
à questão social e trazendo a necessidade e o desafio de se historicizar e 
contextualizaro significado social da profissão.
Desta forma, a ABEPSS (1996), a partir das Diretrizes Gerais para o 
Curso de Serviço Social, traz os seguintes pressupostos norteadores da 
concepção de formação profissional:
O Serviço Social se 
particulariza nas relações 
sociais de produção e 
reprodução da vida social como 
uma profissão interventiva no 
âmbito da questão social, 
expressa pelas contradições do 
desenvolvimento do 
capitalismo monopolista.
A relação do Serviço Social com 
a questão social - fundamento 
básico de sua existência - é 
mediatizada por um conjunto 
de processos sócio-históricos e 
teórico-metodológicos 
constitutivos de seu processo 
de trabalho.
O agravamento da questão 
social em face das 
particularidades do processo 
de reestruturação produtiva no 
Brasil, nos marcos da ideologia 
neoliberal, determina uma 
inflexão no campo profissional 
do Serviço Social. Esta inflexão 
é resultante de novas 
requisições postas pelo 
reordenamento do capital e do 
trabalho, pela reforma do 
Estado e pelo movimento de 
organização das classes 
trabalhadoras, com amplas 
repercussões no mercado 
profissional de trabalho.
O processo de trabalho do 
Serviço Social é determinado 
pelas configurações estruturais 
e conjunturais da questão 
social e pelas formas históricas 
de seu enfrentamento, 
permeadas pela ação dos 
trabalhadores, do capital e do 
Estado, através das políticas e 
lutas sociais.
1 2 3 4
É sempre muito importante fazer uma articulação 
da formação profissional com o mercado de 
trabalho, não dentro de uma perspectiva 
de apenas adequar o estudante de Serviço 
Social às exigências mercadológicas, mas que 
o profissional em formação se sintonize de 
forma crítica com o mundo do trabalho. 
Essa sintonia crítica deve ser capaz de proporcionar 
a identificação das demandas do Serviço Social e de 
compreender as contradições que geram as desigualdades sociais e 
as lutas de classes, que envolvem os mais explorados e excluídos da 
proteção social. Ou seja, que venha “apreender as contratendências 
desse processo: ver o reverso da medalha da crise, identificando como 
tais contratendências se refratam no mercado profissional de trabalho.” 
(IAMAMOTO, 2015, p. 172)
Articular a formação profissional a partir dessa consonância com o 
mercado de trabalho é uma forma de preservar a sobrevivência do Serviço 
Social, neste sentido, destaca-se a importância de um alinhamento entre 
o projeto de formação profissional e o novo perfil requisitado pelo 
mercado de trabalho, o qual requer um profissional capaz de oferecer 
respostas aos desafios postos de forma crítica e criativa, para isso se faz 
importante que os currículos de formação profissional estejam atentos 
às metamorfoses ocorridas na contemporaneidade.
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 7
2. Os Desafios da Reconstrução de um Projeto 
de Formação Profissional
As significativas transformações nos padrões capitalistas de produção e 
acumulação ocorridas, principalmente a partir da década de 1970, num 
contexto de crise do modelo fordista/keynesiano, vêm repercutindo de 
forma direta nos processos e mercado de trabalho, bem como na gestão 
e controle da força de trabalho. A partir dessas mudanças, tem-se a raiz 
dos grandes desafios da formação profissional na atualidade.
Pode-se apontar três dimensões resultantes desse processo de 
transformações no bojo capitalista, a partir da década de 1970:
Mudanças no mundo do trabalho → Mudanças na esfera do Estado → 
Mudanças no campo da cultura.
Essas mudanças expressas no âmbito industrial vêm acompanhadas por 
políticas de cunho neoliberal, que trazem implicações na estrutura do 
Estado, passam por uma contrarreforma e trazem mudanças significativas 
no trato com as classes sociais.
Utiliza-se o termo “contrarreforma” para denominar as mudanças 
ocorridas na estrutura do Estado. Esse termo é usado, pois a reforma 
no aparato estatal é marcada por retrocesso nas conquistas da classe 
trabalhadora e na execução das políticas sociais em que o Estado se 
mantém parco no investimento no âmbito social.
Conforme já discutido nas unidades anteriores, algumas medidas foram 
tomadas na tentativa de superar a crise do capital, deixando a produção 
em massa para trás, trazendo posturas mais flexíveis para o mercado, 
utilizando-se de novas tecnologias e introduzindo novas linhas de 
produtos, de modo a acelerar a rotatividade.
Tem-se um novo processo de acumulação, a acumulação flexível, que se 
apoia:
‘‘ [...] Na flexibilidade dos processos de trabalho, do mercado de trabalho, dos 
produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores 
de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços 
financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de 
inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve 
rápidas mudanças nos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre setores 
como entre regiões, criando, por exemplo, um vasto movimento de emprego no 
chamado “setor de serviços” bem como conjuntos industriais completamente 
novos em regiões até então subdesenvolvidas. (HARVEY, Apud, IAMAMOTO, 2015, 
p. 176) ’’
As mudanças no mundo do trabalho começam a ser percebidas ainda 
no ambiente de produção, com a utilização de tecnologia na aceleração 
da produção, acarretando uma maior eficácia, economia e qualidade. 
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 8
As grandes empresas se configuram como 
“montadoras” e dependem de outras 
pequenas empresas para prestar certos 
tipos de serviço, dando origem ao processo 
de terceirização.
Como consequência desse processo tem-se 
uma precarização das relações de trabalho, 
um aumento na quantidade de pessoas 
fora do mercado formal e/ou em contratos 
temporários, resultando em uma perda 
significativa de direitos sociais, além de 
uma crescente taxa de desemprego.
Muitas pessoas que pertencem à classe 
trabalhadora nunca terão espaço no 
mercado formal, sendo excluídas do 
processo, ficando à mercê da informalidade 
e do não acesso a direitos sociais. Isso gera 
uma “‘nova pobreza’, um excedente de força 
de trabalho que não tem preço porque não 
tem mais lugar no processo de produção.” 
(IAMAMOTO, 2015, p. 179)
Figura 2: Trabalhador informal: precisa se reinventar para sobreviver no mundo capitalista, sem acesso aos direitos dos 
trabalhadores formais. Fonte: Dreamstime.
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 9
Essas mudanças ocorridas no mundo do trabalho refletem na formação 
profissional de assistentes sociais. Sendo assim, é importante que nesse 
processo seja possível compreender, de forma crítica: 
‘‘ [as] tendências do atual estágio da expansão capitalista e suas repercussões 
na alteração das funções tradicionalmente atribuídas à profissão e ao tipo de 
capacitação requerida pela “modernização” da produção e pelas novas formas de 
gestão da força de trabalho; que dê conta dos processos que estão produzindo 
alterações nas condições de vida e de trabalho da população que é alvo dos 
serviços profissionais, assim como das novas demandas dos empregadores na 
esfera empresarial. (IAMAMOTO, 2015, p. 180) ’’
No que se refere às mudanças no aparato estatal, nota-se o Estado 
atendendo às recomendações de organismos estatais, colocando as 
ações governamentais dentro da perspectiva neoliberal, incentivando 
a privatização, a desregulamentação do mercado, a descentralização, o 
investimento mínimo e até grandes cortes orçamentários nas políticas 
sociais.
O cenário que existia no auge das políticas keynesianas, através do 
Estado de Bem-Estar Social, com a expansão dos direitos sociais, passa a 
dar lugar, a partir de uma “contrarreforma” do Estado, a políticas sociais 
focalizadas e precarizadas, bem como ao sucateamento e deterioração 
de instituições e serviços públicos; um projeto de fortalecimento da 
privatização.
A crise de 1970, uma crise inerentemente capitalista, em que os índices 
de produtividadee rentabilidade do capital declinaram, gerou uma 
queda na taxa de lucros e uma diminuição dos fundos fiscais que eram 
fundamentais para a manutenção do Estado de Bem-Estar Social.
O fundo público depende do aumento da 
produtividade do trabalho, sem o 
fundo público, o sistema capitalista 
não consegue sobreviver, pois 
ele financia a ciência, a 
tecnologia, a agricultura 
e também as políticas 
sociais que contribuem 
para a manutenção da 
força de trabalho.
O fundo público passa 
a ser utilizado para 
contribuir com as grandes 
empresas que detêm o 
controle dos mercados, em 
detrimento da reprodução da 
força de trabalho, diminuindo o 
investimento nas políticas sociais.
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 10
Figura 3: Fundo Público: o fundo público deve assegurar recursos suficientes para o 
financiamento das políticas sociais. Fonte: Dreamstime.
O fundo público envolve toda a capacidade de mobilização de recursos 
que o Estado tem para intervir na economia, seja por meio das empresas 
públicas, pelo uso das suas políticas monetária e fiscal, assim como pelo 
orçamento público. Uma das principais formas da realização do fundo 
público é por meio da extração de recursos da sociedade na forma de 
impostos, contribuições e taxas, da mais-valia socialmente produzida. 
(SALVADOR, 2010, p. 3)
O Brasil abre as suas portas para a política neoliberal a partir da 
década de 1990, no então governo Collor, momento de ascensão do 
neoliberalismo também no cenário internacional. Algumas ações 
econômicas no governo Collor foram:
‘‘ a) alavancagem do processo de privatização das empresas nacionais; b) abertura 
econômica para capitais estrangeiros; c) retomada do processo inflacionário; d) 
minimização dos gastos públicos governamentais na área social, entre outras 
características, o que aponta seu perfeito alinhamento com as indicações feitas 
pelos organismos internacionais. (COUTO, 2004, p. 146-147) ’’
O governo de Fernando Henrique Cardoso vai dar continuidade à 
consolidação do neoliberalismo no Brasil, favorecendo o capital 
financeiro internacional. Durante o governo FHC foram realizadas ações 
que colocavam o mercado sobre o Estado e a iniciativa privada sobre a 
pública. 
Foi um período em que ocorreram diversas privatizações, o que diminuiu 
a presença do Estado em atividades produtivas, favorecendo aos 
oligopólios nacionais e estrangeiros, mantendo os privilégios da classe 
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 11
dominante, enfraquecendo a luta dos 
trabalhadores e de grupos políticos 
regionais tradicionais.
Esse processo de privatizações vai 
trazer rebatimentos no trato das 
políticas sociais, principalmente 
no âmbito da assistência social. A 
tendência é, cada vez mais, o Estado 
se desresponsabilizar, passando 
para a iniciativa privada o tocante das 
políticas sociais, o que vai fazer crescer uma 
onda de filantropia social. 
‘‘ Aliado a isso, presencia-se o interesse em se qualificar administradores de 
empresas para a gestão de recursos públicos e privados no campo da “filantropia 
do capital”, por meio de cursos de especialização mantidos por escolas de ponta, 
no país e no exterior. (IAMAMOTO, 2015, p. 182) ’’
Os rebatimentos desse processo no mercado de trabalho do 
assistente social vão proporcionar, de acordo com Iamamoto 
(2015), um redimensionamento de seu perfil. Com a transferência 
de responsabilidade do Estado para a iniciativa privada, tem-se o 
crescimento de Organizações da Sociedade Civil, que passarão a prestar 
os serviços sociais antes executados pela esfera pública. Além disso, 
cada vez mais as empresas privadas vão demandar postos de trabalho 
para os assistentes sociais na esfera de benefícios assistenciais.
Neste sentido, pode-se afirmar que as mudanças ocorridas na esfera do 
Estatal trazem como consequência um menor investimento público na 
área social, subordinando as políticas sociais às dotações orçamentárias 
e à ampliação do campo profissional nas chamadas instituições do 
“terceiro setor”.
Exige-se cada vez mais um profissional que seja capaz de formular 
políticas públicas, esteja apto a trabalhar em equipes interdisciplinares 
e saiba técnicas gerenciais. Sendo assim, é importante que os cursos de 
Serviço Social se atentem em qualificar profissionais que compreendam 
criticamente as mudanças contemporâneas e que não percam espaços, 
restringindo suas possibilidades ocupacionais.
As mudanças no mundo da cultura estão relacionadas ao debate 
realizado acerca da pós-modernidade, na recusa da teoria marxista e, 
principalmente, das dimensões de historicidade, ontologia e totalidade, 
o que pode levar a um empobrecimento da prática profissional e um 
retrocesso ético-político.
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 12
3. O Projeto de Formação Profissional na 
Contemporaneidade: Exigências e Perspectivas
As metamorfoses ocorridas na 
contemporaneidade e, principalmente, 
a partir da década de 1990, no Brasil, 
requerem a construção de um projeto de 
formação profissional em Serviço Social 
conciliado com a história, de forma a 
compreender criticamente as contradições 
que permeiam a profissão em meio a uma 
sociedade capitalista. 
É essencial que durante a formação 
profissional seja moldado um profissional 
fortalecido de uma competência teórico-
crítica fundamentado nas correntes teóricas 
hegemônicas do Serviço Social. A formação 
em Serviço Social deve, além de construir 
um profissional dotado da competência 
técnico-política, ser capaz de responder 
criticamente e criativamente às demandas 
postas tanto no campo da pesquisa quanto 
no da atuação profissional.
Figura 4: Profissional em formação: fortalecimento do arcabouço teórico-metodológico para a compreensão crítica da realidade social. 
Fonte: Dreamstime.
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 13
Faz-se importante a construção de um projeto de formação profissional 
em Serviço Social que vise preparar profissionais comprometidos com o 
Projeto Ético-Político profissional, que se coloque na defesa dos direitos 
humanos e a favor da equidade social e da construção de uma nova 
ordem societária.
Iamamoto (2015) ressalta que uma outra dimensão a ser trabalhada é 
a perspectiva crítico-revolucionária, que está centralizada na prática da 
vida social e deve ser incorporada de modo que o profissional venha a 
ter uma atuação voltada para a superação da sociedade capitalista.
Essas dimensões supracitadas, ao serem atribuídas à formação 
profissional, contribuem para dar concretude a uma direção social atenta 
ao nosso tempo, contribuindo também para que o assistente social, 
durante sua atuação profissional, consiga antecipar as problemáticas 
relacionadas à prática profissional, de modo que consiga criar propostas 
profissionais que tragam alternativas políticas das quais os sujeitos 
sociais sejam protagonistas. Iamamoto (2015, p. 195) acrescenta que: 
Mais ainda: uma qualidade de formação que, sendo culta e atenta ao 
nosso tempo, seja capaz de antecipar problemáticas concernentes 
à prática profissional e de fomentar a formulação de propostas 
profissionais que vislumbrem alternativas de políticas calcadas no 
protagonismo dos sujeitos sociais, porque atenta à vida presente e a 
seus desdobramentos. Um projeto de formação profissional que aposte 
nas lutas sociais, na capacidade dos agentes históricos de construírem 
novos padrões de sociabilidade para a vida social. Construção esta 
que é processual, que está sendo realizada na cotidianidade da prática 
social, cabendo aos agentes profissionais detectá-las e delas partilhar, 
contribuindo como cidadãos e profissionais para o seu desenvolvimento.
Outra perspectiva dessa formação é que, de forma a reafirmar o estatuto 
da profissão, este processo seja capaz de fazer com que os indivíduos em 
formação compreendam a contradição que os envolve. Isto é, que essas 
pessoas sejam capazes de formular e implementar políticas sociais na 
dinâmica do mundo do trabalho, no entanto,que esses profissionais 
estejam atentos à visão de mundo da classe trabalhadora, “decifrando 
seus códigos, suas maneiras particulares de expressão de sua vida social 
em formas culturais.” (IAMAMOTO, 2015, p. 196)
A formação profissional deve proporcionar aos futuros assistentes sociais 
condições para recriar a prática de trabalho, dando para tal uma base 
teórica, ética e política fortalecida para contribuir aos novos tempos e 
exigências, de forma crítica. 
Abordar as exigências e perspectivas do projeto de formação profissional 
na contemporaneidade se faz fundamental nos dias atuais. Essas 
exigências surgem a partir das significativas transformações nos padrões 
de produção e acumulação capitalistas ocorridos principalmente a partir 
da década de 1970.
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 14
Com essas mudanças, tem-se a raiz dos grandes desafios da formação 
profissional na atualidade, principalmente a partir das três dimensões 
resultantes desse processo de transformações no bojo capitalista: as 
transformações no mundo do trabalho, na esfera do Estado e no campo 
da cultura.
Desta forma, a formação profissional deve ser executada de modo a 
proporcionar aos futuros assistentes sociais condições para recriar a 
prática profissional, desde que eles tenham uma base teórica, ética e 
política fortalecida, de modo a contribuir aos novos tempos e exigências. 
Referências
ABEPSS. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. 
Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social – Com base no Currículo 
Mínimo aprovado em Assembleia Geral Extraordinária de 8 de novembro 
de 1996. Rio de Janeiro, Nov. 1996. Disponível em: http://www.abepss.
org.br/arquivos/textos/documento_201603311138166377210.pdf
COUTO, B. R. O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade 
Brasileira: uma equação possível? São Paulo: Cortez, 2004.
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e 
formação profissional. 26 ed. São Paulo: Cortez, 2015.
NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social: Uma análise do Serviço Social no 
Brasil pós-64. 17 ed. São Paulo: Cortez, 2015.
SALVADOR, E. Fundo público e políticas sociais na crise do capitalismo. 
Serviço Social & Sociedade. São Paulo, n. 104, oct./ dez. 2010. p. 605-
631. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0101-66282010000400002
Acesso em: 06 jan. 2021.
FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 15
http://www.abepss.org.br/briefing/documentos/Lei_de_Diretrizes_Curriculares_1996.pdf
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282010000400002
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