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FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais As Metamorfoses no Mundo do Trabalho Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Vaniele Soares da Cunha Copello 1ª Edição Copyright © 2021, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. Núcleo de Educação a Distância www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitoria de Programas de Pós-Graduação Nara Pires Pró-Reitoria de Programas de Graduação Lívia Maria Figueiredo Lacerda Pró-Reitoria Administrativa e Comunitária Carlos de Oliveira Varella Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Márcia Loch Sumário As Metamorfoses no Mundo do Trabalho Para Início de Conversa... ............................................................................... 4 Objetivos ......................................................................................................... 4 1. Taylorismo e Fordismo ............................................................................... 5 2. Toyotismo/Acumulação Flexível ............................................................. 9 3. As metamorfoses no mundo do trabalho ........................................... 12 Referências ......................................................................................................... 15 FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 3 Para Início de Conversa... Com a aceleração do processo industrial, principalmente no final do século XIX, houve a necessidade em buscar o controle sobre a força de trabalho. Ao longo dos anos, o mundo do trabalho sofreu várias metamorfoses, principalmente a partir dos seguintes modelos de produção: taylorista, fordista e toyotista. Esses modelos de produção metamorfoseiam diretamente o modo de trabalhar e a vida da classe trabalhadora, o que proporcionou um aumento na produção de riquezas, que se concentram nas mãos da classe, detendo os meios de produção. Em contrapartida, aumentam a pauperização dos trabalhadores e a desigualdade entre as classes. Neste capítulo, será possível, a partir da identificação dos modelos de produção taylorista, fordista e toyotista, conhecer as metamorfoses do mundo do trabalho, analisando as principais transformações ocorridas no mundo do trabalho com o advento do regime de acumulação flexível. Objetivos ▪ Identificar as características do taylorismo e do fordismo. ▪ Identificar as características do toyotismo/acumulação flexível. ▪ Conhecer as metamorfoses no mundo do trabalho. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 4 1. Taylorismo e Fordismo Durante a década de 1980, o mundo do trabalho sofreu mudanças significativas, principalmente nos países onde o capitalismo já se encontrava em forma avançada. Essas mudanças podem ser verificadas na estrutura produtiva e nas maneiras como os sindicatos e a própria política serão representados. Não somente as questões no âmbito econômico serão afetadas, mas essas mudanças refletirão diretamente na forma de ser das pessoas. Para que se possa analisar as metamorfoses que o mundo do trabalho sofreu, em sua totalidade, é importante resgatarmos o conceito de sistemas de produção e compreender as principais características dos processos produtivos que já foram utilizados no modo de produção capitalista. Um sistema de produção é formado por uma junção de operações e atividades inseridas no desenvolvimento de um produto ou de um serviço interligados, cada um com sua função. Como resultado dessa integração, o sistema como um todo. O sistema de produção não se restringe ao ambiente interno de produção ao interagir com as demais funções da organização, uma vez que ele sofre influência também do ambiente externo. Podemos ver, no quadro abaixo, as influências sofridas em cada ambiente. Influências no Ambiente Interno Influências no Ambiente Externo Marketing Economia Finanças Políticas e regulamentações governamentais Recursos Humanos Competição Tecnologia Quadro 1: Influências dos ambientes interno e externo Fonte: Elaborado pelo autor. O principal objetivo do sistema capitalista é a obtenção de lucro. Dessa forma, a acumulação do capital se torna umas das características principais deste sistema, que vai se firmar no modo como se explora a força de trabalho, na tentativa de se manter em constante crescimento. Com a aceleração do processo industrial, principalmente no final do século XIX, houve a necessidade em buscar o controle sobre a força de trabalho, com isso o trabalho nas fábricas passou a ter uma carga horária mais rígida, com rotinas determinadas, um controle mais estreito e tarefas com repetições. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 5 Figura 1: Cena do filme “Tempos Modernos” que demonstra um controle mais estreito e tarefas com repetições. Fonte: Wikimedia. As transformações oriundas do acirramento industrial foram sentidas na maneira de se produzir, em que a produção manual passa a ser substituída pela produção em massa. O modo de viver também foi modificado, a sociedade urbana foi substituindo a sociedade rural, mudaram-se os valores e o racionalismo substituiu o humanismo. Assim, estratégias para organizar e controlar o trabalho foram foco de estudo de alguns autores da economia clássica; no entanto, foi um engenheiro americano, Frederick Winslow Taylor, quem introduziu a ideia de administração científica. Frederick Taylor foi um engenheiro mecânico, nascido na Pensilvânia, nos Estados Unidos, que desenvolveu o conceito de Administração Científica. Suas ideias revolucionaram o sistema produtivo no início do século XX. No ano de 1903, Taylor publicou seu primeiro livro com o seguinte título: “Shop Management” (Direção de Oficinas), no qual apresenta pela primeira vez suas ideias sobre a racionalização do trabalho, o que seria chamado mais tarde de administração científica. Frederick Taylor morreu em 1915, aos 59 anos, em razão de uma pneumonia. A partir das ideias de Frederick Taylor, tem-se o que é chamado de taylorismo, um novo método de organizar o trabalho, no qual as tarefas são fragmentadas e o trabalho mental é separado do trabalho físico. Uma das características do taylorismo é a gerência científica do trabalho, na qual há uma substituição de métodos empíricos por métodos científicos e testados para o controle do trabalho nas empresas capitalistas. Nesse sentido, a proposta de Taylor era uma gerência que FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 6 pudesse criar regras e maneiras padrões de execução do trabalho. Havia a preocupação em otimizar o tempo e o movimento, assim, os instrumentos, materiais e movimentos dos trabalhadores eram padronizados, no intuito de se garantir a eficiência. Outro ponto que se pode destacar do taylorismo é a expropriação do conhecimento dos trabalhadores, em que eram separadas a execução e a concepção do trabalho. De acordo com Taylor (1987, p. 35) “está claro, então, na maioria dos casos, que um tipo de homem é necessário para planejar e outro tipo diferente para executar o trabalho”. Nesse sentido, para Taylor, o trabalhador, ao deter um conhecimento sobre o processo de trabalho, pode favorecer possibilidades de resistência e de “se fazer cera”. Para Taylor, o ato de “fazer cera” é uma posição política dos trabalhadores na qual se acredita que, trabalhando menos, estaremos preservando postos de trabalhos para a classe, assim como evitando uma exploração excessiva da força de trabalho. (RIBEIRO, 2015, p. 67). Pode-se afirmar que, ao buscar a separação entre a execução e a concepção do trabalho, de forma separada, e fazer com que os trabalhadores não alcancem o conhecimento de todo o processo de trabalho, têm-se formas de fazer com que o controle do processo de trabalhoseja assegurado pela gerência e de deixar a mão de obra mais barata. O objetivo era obter o rendimento máximo dos trabalhadores, com um modelo rígido de trabalho, reduzindo a quantidade de operações desnecessárias, do tempo de execução e dos gastos de energia física e mental dos trabalhadores, além de diminuir a ociosidade dos equipamentos e intervalos entre uma operação e outra. Dando continuidade e intensificação às ideias de Taylor, o dono de uma indústria automobilística, Henry Ford, criou um procedimento industrial com base na linha de montagem, de modo que se alcance uma produção em grande escala, que deveria ser consumida em massa. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 7 Ford introduziu na indústria a esteira rolante, o que proporcionou um aumento na produtividade ao fixar o trabalhador em uma única posição. O fordismo, nome dado ao modelo de produção elaborado por Ford, não trouxe apenas mudanças no interior das fábricas, com uma organização do trabalho e da produção de forma racional, mas trouxe mudanças significativas também no modo de viver. Mesmo o fordismo continuando e intensificando o taylorismo em sua dinâmica, notamos algumas diferenças essenciais entre eles. Não se tinha apenas a intenção de organizar o trabalho, mas fazer com que os trabalhadores aderissem à inovação. ‘‘ Produção de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência da força de trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática [...]. O Fordismo equivale ao maior esforço coletivo para criar, com velocidade sem precedentes, e com uma consciência de propósito sem igual na história, um novo tipo de trabalhador e um novo tipo de homem. Os novos métodos de trabalho são inseparáveis de um modo específico de viver e de pensar a vida. (HARVEY, 1992, p. 121). ’’ Gramsci vai denominar esse novo tipo de trabalhador como “operário- massa”, e o novo tipo de vida, como “americanismo”. O uso da esteira rolante vai ocasionar um intenso desgaste físico aos trabalhadores, o que vai gerar uma rotatividade grande e muitos trabalhadores não vão aceitar essa nova forma de gerência e controle. Foi então que Ford elevou os salários como forma de aceitação por parte dos trabalhadores, combinando coerção com consenso. A elevação dos salários proporcionou que a classe trabalhadora pudesse consumir mais, e a “manutenção de altos padrões de consumo era fundamental para alimentar o crescimento da indústria de massa”. (RIBEIRO, 2015, p. 70). Passa-se a ter um novo estilo de vida com determinados padrões de consumo e alguns bens, como carro e casa, passam a ser objetos de desejo. O controle sobre o operário vai ultrapassar os muros das fábricas, um conjunto de princípios será criado, dentro de uma perspectiva moralizante, para condicionar a vida do trabalhador e ele consiga reservar energia para o trabalho. No ano de 1916, foram enviados por Ford aos lares dos trabalhadores assistentes sociais para fiscalizar se eles tinham o tipo certo de probidade moral, de vida familiar e capacidade de consumir prudentemente e racionalmente para atender às necessidades e às expectativas da corporação. Algo que o fordismo focava, diferentemente do taylorismo, era a hegemonia, não apenas para controlar o processo de trabalho, mas ganhar a adesão dos trabalhadores, necessitando que se extrapole os FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 8 muros das fábricas. Para isso, o Estado assume um papel importante. Foi necessário criar novos mecanismos de regulação e intervenção estatal, assim, o fordismo alinha-se ao keynesianismo. Após a Segunda Guerra Mundial, a produção fordista se aliou à reprodução keynesiana para contribuir com o processo de desenvolvimento capitalista. Elas, juntamente com o Estado de Bem-estar Social, ocorreram nos países centrais capitalistas. O Keynesianismo foi uma teoria econômica implementada com o objetivo de atingir o pleno emprego a partir da intervenção do Estado na economia. Isto é, o Estado se coloca como interventor e regula as relações entre capital e trabalho. O fordismo conseguiu proporcionar um aumento nos padrões de vida das populações dos países capitalistas avançados e proporcionou um ambiente moderadamente estável para os lucros corporativos; no entanto, a partir da década de 1970, com uma crescente recessão, começa-se a erguer um novo sistema de acumulação. Pode-se elencar alguns fatores que contribuíram para a crise do fordismo: ▪ Os impactos do choque do petróleo na economia, ocorridos em 1973. ▪ O surgimento da concorrência japonesa, com sua nova concepção de gestão e produção automobilística. ▪ Mudanças tecnológicas. ▪ Fusões e incorporações de empresas. ▪ Surgimento de novas necessidades no que se refere ao consumo. Com essas transformações, o regime fordista-keynesiano entra em crise e deixa de ser necessário, tornando-se ineficiente e até mesmo negativo para o capital. Dessa forma, para superar a crise, ele precisa ser substituído por uma nova estratégia econômica, na qual as conquistas trabalhistas sejam anuladas e que a superexploração do trabalho seja permitida. O regime substituto foi um regime de acumulação, que Harvey (1992) denominou acumulação flexível. 2. Toyotismo/Acumulação Flexível Harvey (1992) vai definir a acumulação flexível com uma série de práticas com o intuito de quebrar a rigidez do fordismo, apoiando-se na flexibilidade dos processos de trabalho e padrões de consumo, uma nova maneira que o capitalismo encontrou para superar sua crise. Dessa forma: FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 9 ‘‘ A acumulação flexível se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulagdo flexivel envolve rápidasmudançasdos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas [...]. (HARVEY, 1992, p. 140). ’’ Com as mudanças tecnológicas de grande proporção, principalmente na década de 1980, somadas à automação, ao desenvolvimento da robótica no ambiente fabril, às relações de trabalho e de produção, os cenários vão se modificando. O fordismo/taylorismo vão perdendo espaço e sendo substituídos por um novo padrão de produção, o toyotismo. Toyotismo é um modelo de produção industrial, idealizado por Eiji Toyoda. A economia japonesa desapontou com um crescimento fabuloso, sustentada em altos índices de produtividade do trabalho. O Japão havia saído destruído da Segunda Guerra Mundial e houve, por parte do governo, um forte apelo ao trabalho para a reconstrução do país e para reerguer a economia. Esse quadro cultural e histórico contribuiu para o surgimento de um novo padrão de produção, denominado toyotismo. (RIBEIRO, 2015, p. 74). O que no fordismo/taylorismo era rígido, no toyotismo terá lugar um novo processo de produção muito mais flexível. A produção, que era em série e de massa, passa a se adequar à lógica estabelecida pelo mercado. O toyotismo apresenta algumas características específicas que contribuem para o processo de acumulação capitalista. Pode-se mencionar o sistema de emprego vitalício como uma delas. Embora não haja nenhum contrato formalizando essa vitalidade, é oferecida aos trabalhadores essa vantagem, em troca do aumento da produtividade e qualidade. O trabalhador admitido, não para ocupar um posto específico, mas para a empresa, tem um determinado cargo e salário e pode ser promovido portempo de serviço. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 10 O sistema de organização também mudou muito em referência ao fordismo, principalmente com a adesão ao just-in-time, que seria algo relacionado a se produzir no tempo certo uma determinada quantidade, sem excesso. O propósito do just-in-time é produzir somente o necessário, na quantidade e no momento necessários, para que não sobre estoque ou tenha o mínimo. Precisava-se de ter a capacidade de atender aos pequenos e variados pedidos. Figura 2: Just in time: produzir somente o necessário, na quantidade e no momento necessários Fonte: Dreamstime. Outra característica do toyotismo é a utilização do sistema kanban, que seria um fluxo de informações entre as células de produção por meio de placas ou senhas de comando, para repor as peças e o estoque. Traduzido do japonês, kanban significa quadro visual. Ele serve para trazer informações, em tempo real, de algo que possa atrapalhar o processo de trabalho. Há uma preocupação com a qualidade dos produtos com o envolvimento dos trabalhadores. Assim, são criados os CCQs - Círculos de Controle e Qualidade. A partir dos CCQs, a produção é controlada pelos próprios trabalhadores, que participam e trazem sugestões de como melhorar a qualidade e a produtividade. ‘‘ O Just-in-time, o kanban, os CCQ (círculos de controle de qualidade) são formas, antes de tudo, de eliminar os tempos mortos da produção. O trabalho em equipe, a suposta não separação entre execução e concepção tendo em vista que o modelo japonês demanda a participação do trabalhador, seu saber e iniciativa no processo de trabalho é, antes de tudo, uma forma de expropriação do saber do trabalhador. Se alguns pensadores consideram que o modelo japonês recuperou a unidade entre concepção e execução, permitindo ao trabalhador usar sua capacidade de iniciativa e criatividade. (RIBEIRO, 2015, p. 75). ’’ O trabalho passa a ser organizado em grupo de trabalhadores, destacando o trabalho em equipe. Além disso, o trabalhador passa a exercer diversas funções e/ou operar diversas máquinas, o que chamamos de trabalhador FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 11 polivalente. O trabalhador e a equipe são responsabilizados pela qualidade e produtividade do trabalho. O toyotismo vai trazer influências no processo organizativo político dos trabalhadores. Na tentativa de combater o sindicalismo japonês, cria-se o sindicalismo de empresa, integrado à política de gestão do trabalho, combinando repressão com cooptação. De acordo com Antunes (2016, p. 32) “essas práticas subordinam os trabalhadores ao universo empresarial, criando as condições para a implantação duradoura do sindicalismo de envolvimento, em essência um sindicalismo manipulado e cooptado”. Pode-se considerar que o toyotismo foi responsável pela terceirização da economia em razão do sistema de relações interempresas. Nesse sistema, as relações entre as empresas são muito hierarquizadas e uma grande empresa subcontrata pequenas e microempresas. Essa rede de subcontratação foi essencial para o modelo japonês de produção, uma vez que aumentou o desemprego no setor das indústrias e levou a mão de obra para o setor de serviços, em que os empregos se concentram mais na distribuição de mercadorias do que propriamente em sua produção. Outra característica é a desregulamentação da política salarial e a flexibilização do salário direto. Há uma flexibilização dos direitos, com o mínimo de trabalhadores possíveis, aumentam-se as horas extras e ampliam-se as contratações temporárias ou as subcontratações. A flexibilização é definida da seguinte maneira: ‘‘ Fragmentação, segmentação dos trabalhadores, heterogeneidade, individualização, fragilização dos coletivos, informalização do trabalho, fragilização e crise dos sindicatos, e a mais importante delas, a ideia de perda – de direitos de todo tipo – e da degradação das condições de saúde e de trabalho. Noções que dão conteúdo à ideia de precarização, considerada como a implicação mais forte da flexibilização. (DRUCK, 2007, p. 8). ’’ Essas são as características principais do toyotismo e foram aderidas pelas indústrias no ocidente, principalmente nos Estados Unidos, que mesmo ainda utilizando o regime fordista, deram início ao novo tipo de acumulação e produção no sistema capitalista, que é a chamada acumulação flexível. 3. As metamorfoses no mundo do trabalho O mundo do trabalho, no decorrer das últimas décadas, vem sofrendo diversas metamorfoses. Muitas dessas transformações se devem à evolução tecnológica, somadas à implementação do sistema de acumulação flexível. Uma das mudanças está relacionada ao perfil do trabalhador, no qual acontece uma diminuição do trabalhador industrial e o aumento do FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 12 trabalhador no setor de serviços. Antunes (2016) chama esse processo de desproletarização do trabalho industrial, fabril. Nesse processo, há também a incorporação das mulheres no mercado de trabalho; a exclusão dos mais jovens e idosos e o aumento da terceirização com uma precarização das relações de trabalho, principalmente a partir da subcontratação. Com o avanço tecnológico, principalmente da robótica, temos o surgimento do desemprego estrutural, que é o desemprego gerado pela substituição da força física do trabalhador por máquinas, e seu comando intelectual, pelo computador. Figura 3: Avanço tecnológico: substituição da força física do trabalhador por máquinas Fonte: Dreamstime. A subproletarização é outra tendência no mundo do trabalho. Cada dia mais, têm se tornado comuns as formas precárias de trabalho, a partir do trabalho parcial, da contratação temporária, da terceirização, da subcontratação e do aumento da informalidade. Como resultado dessa tendência, temos a desregulamentação das leis trabalhistas, a perda de direitos sociais e a precarização dos postos de trabalho e dos salários. Há uma propensão no mundo do trabalho em substituir trabalhadores centrais por outros que custem menos à demissão, como os trabalhadores temporários e/ou terceirizados, o que possibilita uma exploração intensificada. No processo de subproletarização, o trabalho feminino aparece como um traço marcante. O emprego das mulheres na sociedade capitalista industrial vem do desejo em usar trabalho barato e de baixo prestígio, pois elas não exercem funções de liderança e, sim, de comando, o que favorece a apropriação de mais valor. Até os dias de hoje, na divisão sexual do trabalho, a desigualdade de gênero define a qualificação das tarefas, os salários de homens e mulheres. Às mulheres são destinados os menores salários, mesmo ocupando os mesmos cargos que os homens, e os cargos diretivos têm menor possibilidade de serem ocupados por mulheres. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 13 em máquinas computadorizadas, programa-as e repara os robôs em caso de necessidade”. Em direção contrária à intelectualização do trabalho social, ocorre o processo de desespecialização dos trabalhadores, que são os trabalhadores que não conseguem se qualificar. Dessa forma, o capitalismo se apropria desses trabalhadores para exercerem funções em postos de trabalhos terceirizados e ocupar as vagas de subemprego, o que gera uma mão de obra barata. Para compreender as metamorfoses que o mundo do trabalho sofreu, em sua totalidade, foram resgatados os principais sistemas ou modelos de produção. Os modelos de produção taylorismo, fordismo e toyotismo apresentam algumas semelhanças e diferenças, no entanto, pode-se destacar que todos esses modelos buscavam a conservação de domínio de uma classe sobre a outra. Outro ponto semelhante é a tentativa de controlar o tempo ou o cálculo dele, seja a partir da gerência científica, no taylorismo, pelo ritmo estabelecido pela esteira rolante, no fordismo, ou por meio de uma dinâmica de organização do trabalho voltada para uma produção ininterrupta, como nojust-in-time, no toyotismo. A busca pela igualdade de gênero é uma urgência da história, à medida que a diferença entre homens e mulheres é uma construção social, e a imagem mais frágil atribuída à mulher é mais interessante ao capitalismo. O capitalismo se apropria das relações de raça e sexo, em sua dinâmica de exploração da força de trabalho, para atribuir salários mais baixos e condições precárias de trabalho, alargando, assim, seu poder de exploração. Cada vez mais o trabalho morto está tomando o lugar do trabalho vivo, ou seja, as máquinas vão ocupando os lugares dos trabalhadores nas fábricas. No decorrer dos anos, algumas funções vão desaparecendo e outras vão surgindo, gerando a necessidade de maior qualificação para acompanhar essas mudanças, pois, muitas vezes, elas são de cunho tecnológico, gerando uma intelectualização do trabalho social. De acordo com Antunes (2016, p. 56) “o trabalhador já não transforma objetos materiais diretamente, mas supervisiona o processo produtivo FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 14 O toyotismo pode ser considerado o sistema responsável pela terceirização da economia. O trabalhador subcontratado e terceirizado permite ao capital dispor, quase na sua totalidade, da mão de obra de acordo com as suas necessidades. As leis trabalhistas são flexibilizadas, passando a vigorar um acordo sobre a lei, e esses acordos, produzidos numa relação desigual, ampliam ainda mais a desigualdade. A partir da implementação do toyotismo, o mundo do trabalho sofreu metamorfoses significativas, principalmente nos países onde o capitalismo já se encontrava em forma avançada, não somente nas questões de âmbito econômico que foram afetadas, mas essas mudanças refletiram diretamente na forma de ser das pessoas. Referências ANTUNES, R. L. C. Adeus ao trabalho?: ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 2016. DRUCK, G.; FRANCO, T. Terceirização: a chave da precarização do trabalho no Brasil, In: NAVARRO, V.; PADILHA, V. (orgs.). Retratos do trabalho no Brasil. Uberlândia: EDUFU, 2007. HARVEY, D. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola. 1992. RIBEIRO, A. F. Taylorismo, fordismo e toyotismo. Lutas Sociais, v. 19, n. 35, São Paulo, p. 65-79, jul./dez. 2015. Disponível em: https://revistas.pucsp. br/ls/article/view/26678. Acesso em: 17 dez. 2020. TAYLOR, F. W. Princípios de administração científica. São Paulo: Atlas. 1987. FHTMESS: Trabalho e Espaços Sócio Ocupacionais 15 https://revistas.pucsp.br/ls/article/view/26678 https://revistas.pucsp.br/ls/article/view/26678 _GoBack As Metamorfoses no Mundo do Trabalho Para Início de Conversa... Objetivos 1. Taylorismo e Fordismo 2. Toyotismo/Acumulação Flexível 3. As metamorfoses no mundo do trabalho Referências
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