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Análise conformacional de alcanos abertos e fechados APRESENTAÇÃO Quando utilizamos desenhos em zigue-zague para representar um hidrocarboneto, instintivamen te desenhamos essa molécula completamente esticada. Essa conformação é, de fato, a mais estáv el e aquela assumida pelo hidrocarboneto na maior parte do tempo. No entanto, quando vemos u ma representação como a do n-undecano, frequentemente nos esquecemos de que essa molécula está vibrando e girando em torno de suas ligações, dando origem a confôrmeros de diferentes en ergias. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a identificar as conformações mais estáveis de alcanos abertos e fechados. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as conformações mais estáveis de hidrocarbonetos abertos.• Reconhecer as conformações mais estáveis de hidrocarbonetos fechados.• Explicar as estabilidades relativas de alcanos fechados.• INFOGRÁFICO A estabilidade das conformações dos cicloalcanos nos diz muito sobre a reatividade desses com postos. Nesse contexto, podemos usar como referência a tensão angular para avaliar anéis dos m ais variados tamanhos, desde os menores possíveis (os ciclopropanos) até os anéis de mais de oit o membros. Veja, neste Infográfico, uma maneira de identificar se um composto cíclico apresenta estabilidad e conformacional e as possíveis consequências caso exista um grande desvio da idealidade. 132 cAPÍtULo trÊS Alcanos e cicloalcanos: conformações e estereoisômeros cis-trans 3.1 Análise conformacional do etano O etano é o hidrocarboneto mais simples que pode ter conformações distintas. Duas delas, a conformação alternada e a conformação eclipsada, merecem atenção especial e são ilus- tradas com os modelos moleculares da Figura 3.1. Na conformação alternada, cada ligação COH de um carbono bissecta um ângulo HOCOH do outro carbono. Na conformação eclipsada, cada ligação COH de um carbono alinha-se a uma ligação COH do outro carbono. As conformações alternada e eclipsada interconvertem-se por rotação ao redor da liga- ção COC e fazem isso muito rapidamente. Veremos quão rapidamente mais adiante nesta seção. Entre as diversas maneiras como as formas alternadas e eclipsadas são retratadas, os de- senhos de cunha e tracejado, de cavalete e a projeção de Newman são particularmente úteis. Elas são mostradas para a conformação alternada do etano na Figura 3.2 e para a conforma- ção eclipsada da Figura 3.3. Usamos os desenhos de cunha e tracejado em capítulos anteriores; portanto, já temos familiaridade com as Figuras 3.2a e 3.3a. Um desenho de cavalete (Figuras 3.2b e 3.3b) mostra a conformação de uma molécula sem precisar recorrer a diferentes estilos de ligações. Em uma projeção de Newman (Figuras 3.2c e 3.3c), olhamos ao longo da ligação COC e representamos o carbono da frente com um ponto e o carbono de trás com um círculo. Cada carbono tem três outras ligações que são colocadas simetricamente ao seu redor. O aspecto estrutural ilustrado pelas Figuras 3.2 e 3.3 é o relacionamento espacial entre as ligações de carbonos adjacentes. Cada unidade HOCOCOH do etano é caracterizada por um ângulo de torção ou ângulo diedro, que é o ângulo entre o plano HOCOC e o plano COCOH. O ângulo de torção pode ser visto facilmente em uma projeção de Newman para o etano como o ângulo entre as ligações COH dos carbonos adjacentes. Ângulo de torção = 180º Anti H H 180º Ângulo de torção = 60º Gauche H H 60º Ângulo de torção = 0° Eclipsada HH 0º As ligações eclipsadas são caracterizadas por um ângulo de torção de 0º. Quando o ângulo de torção é de aproximadamente 60°, dizemos que o relacionamento espacial é gauche; quando Conformações diferentes do mesmo composto também são chamadas de rotâmeros. As projeções de Newman foram criadas pelo Professor Melvin S. Newman, da Universidade do Estado de Ohio. Conformação eclipsada do etano Conformação alternada do etanoF i g U r A 3.1 As conformações alternada e eclipsada do etano mostradas com o modelo “bola e vareta” no lado esquerdo e com o modelo de preenchimento de espaço no lado direito. 3.1 Análise conformacional do etano 133 ele é de 180°, dizemos que ele é anti. As conformações alternadas têm relacionamentos ape- nas gauche ou anti entre as ligações dos átomos adjacentes. Identifique os alcanos correspondentes a cada um dos desenhos mostrados. CH3 H H H H CH3 (b) Conformação cavalete H HH H CH3 H (a) Projeção de Newman Exemplo de solução (a) A projeção de Newman deste alcano se parece com a do etano, exceto pelo fato de que um dos hidrogênios foi substituído por um grupo metila. O desenho é uma projeção de Newman para o propano, CH3CH2CH3. ProBLEmA 3.1 Das duas conformações do etano, a conformação alternada é 12 kJ/mol (2,9 kcal/mol) mais estável do que a conformação eclipsada. A conformação alternada é a mais estável e a conformação eclipsada é a menos estável. Duas explicações têm sido dadas para a diferen- ça de estabilidade entre essas conformações. Uma explicação diz que as repulsões entre as ligações de átomos adjacentes desestabilizam a conformação eclipsada. A outra explicação sugere que a melhor deslocalização eletrônica estabiliza a conformação alternada. Acredita- -se que a última, entre essas duas explicações, seja a mais correta. Diz-se que as conformações nas quais os ângulos de torção entre as ligações adjacentes são diferentes de 60º têm tensão torsional. As ligações eclipsadas produzem a maior tensão torsional. As ligações alternadas não produzem nenhuma tensão torsional. Como três pares F i g U r A 3.2 Alguns desenhos muito utilizados da conformação alternada do etano. F i g U r A 3.3 Alguns desenhos muito utilizados da conformação eclipsada do etano. H H H H H H (a) Cunha e tracejado H H H H H H (b) Cavalete H HH H H H (c) Projeção de Newman ≥ ≥ H H H H H (a) Cunha e tracejado H HH (b) Cavalete H HH H H (c) Projeção de Newman H H H HH ≥ ≥ 134 cAPÍtULo trÊS Alcanos e cicloalcanos: conformações e estereoisômeros cis-trans de ligações eclipsadas são responsáveis por 12 kJ/mol (2,9 kcal/mol) de tensão torsional no etano, é razoável atribuir um “custo energético” de 4 kJ/mol (1 kcal/mol) a cada par. Neste capítulo aprenderemos outras fontes de tensão sobre as moléculas, as quais, juntamente com a tensão torsional, compreendem a tensão estérica. Em princípio, o etano tem um número infinito de conformações que diferem apenas em pequenos incrementos em seus ângulos de torção. Não apenas a conformação alternada é mais estável do que a conformação eclipsada, como também é a mais estável de todas as con- formações. A eclipsada é a conformação menos estável. A Figura 3.4 mostra como a energia potencial do etano muda durante uma rotação 360º ao redor da ligação carbono-carbono. Três conformações eclipsadas equivalentes e três conformações alternadas equivalentes ocorrem durante a rotação de 360º; as conformações eclipsadas aparecem nos pontos mais altos da curva (energia potencial máxima) e as conformações alternadas aparecem nos pontos mais baixos da curva (energia potencial mínima). A qualquer momento, quase todas as moléculas estarão em conformações alternadas; pouquíssimas delas estarão em conformações eclipsadas. Encontre as conformações da Figura 3.4 nas quais os círculos vermelhos são (a) gauche e (b) anti. ProBLEmA 3.2 Diagramas como os da Figura 3.4 nos ajudam a entender como a energia potencial de um sistema muda durante um processo. O processo pode ser simples, como o descrito aqui: a rotação ao redor de uma ligação carbono-carbono. Ou pode ser mais complicado, como uma reação química. Neste livro veremos as aplicações dos diagramas de energia potencial em uma variedade de processos. Vamos concentrar nossa atenção em uma parte da Figura 3.4. A região que está entre os ângulos de torção de 60º e de 180º acompanhaa conversão de uma conformação alternada do etano até a seguinte. Ambas as conformações alternadas são equivalentes e iguais em energia, mas, para que uma conformação alternada chegue até a próxima, deve primeiramente passar através de uma conformação eclipsada e precisa ganhar 12 kJ/mol (2,9 kcal/mol) de energia para atingi-la. Essa quantidade de energia é a energia de ativação (Ea) do processo. As molé- culas devem se tornar energizadas para passar por uma reação química ou, como nesse caso, para passar por uma rotação ao redor de uma ligação carbono-carbono. A energia cinética (térmica) é absorvida por uma molécula das colisões com outras moléculas e é transformada em energia potencial. Quando a energia potencial excede Ea, o arranjo instável dos átomos que existe naquele instante pode relaxar para uma estrutura mais estável, liberando sua ener- gia potencial excedente em colisões com outras moléculas ou com as paredes do recipiente. O ponto de energia máxima encontrado pelos reagentes à medida que eles se transformam em O termo estérico é derivado da palavra grega stereos, que quer dizer "sólido", e se refere aos aspectos tridimensionais ou espaciais da química. E ne rg ia p ot en ci al , k ca l/m ol E ne rg ia p ot en ci al , k ca l/m ol 0 60 120 180 240 300 360 Ângulo de torção = 180º 3 2 1 0 12 8 4 0 2,9 kcal/mol 12 kJ/mol F i g U r A 3.4 Diagrama de energia potencial da rotação em torno da ligação carbono-carbono do etano. Dois dos hidrogênios são mostrados em vermelho e quatro em verde, para indicar mais claramente a rotação da ligação. produtos é chamado de estado de transição. A conformação eclipsada é o estado de transi- ção para a conversão de uma conformação alternada do etano para outra. A rotação ao redor das ligações carbono-carbono é um dos processos mais rápidos da química. Entre as maneiras como descrevemos a velocidade de um processo está sua meia- -vida, que é o período necessário para que metade das moléculas tenha reagido. São necessá- rios menos de 10–6 s para que metade das moléculas de uma amostra de etano tenha passado de uma conformação alternada para outra a 25 °C. Assim como em todos os processos químicos, a velocidade de rotação ao redor da ligação carbono-carbono aumenta com a temperatura. O motivo disso é mostrado na Figura 3.5, em que é possível ver que a maioria das moléculas de uma amostra tem energias agrupadas ao redor de um valor médio; algumas têm menos energia, poucas têm mais. Contudo, apenas as moléculas com energia potencial maior que Ea podem passar pelo estado de transição e con- tinuar. O número dessas moléculas é dado pelas áreas sombreadas sob a curva na Figura 3.5. A curva de distribuição de energia fica mais baixa a temperaturas mais altas, e uma proporção maior de moléculas tem energias acima de Ea a T2 (mais alta) que a T1 (mais baixa). O efeito da temperatura é bastante pronunciado. Um aumento de apenas 10 °C produz um aumento de duas a três vezes na velocidade de um processo químico típico. 3.2 Análise conformacional do butano O próximo alcano que examinaremos é o butano. Consideramos as conformações relaciona- das por rotação ao redor da ligação entre os dois carbonos centrais (CH3CH2OCH2CH3). Ao contrário do etano, no qual as conformações alternadas são equivalentes, duas conformações alternadas diferentes ocorrem no butano e são mostradas na Figura 3.6. Os grupos metila são gauche entre si em uma e anti na outra. Ambas as conformações são alternadas, de modo que estão livres da tensão torsional, mas dois dos hidrogênios metílicos da conformação gauche estão dentro de 210 pm entre si. Essa distância é menor que a soma de seus raios de van der Waals (240 pm) e há uma força repulsiva entre eles. A desestabilização de uma molécula que resulta quando dois de seus átomos estão muito próximos uns dos outros é chamada de tensão de van der Waals ou impedimento estérico e contribui para a tensão estérica total. No caso do butano, a tensão de van der Waals torna a conformação gauche aproximadamente 3,3 kJ/mol (0,8 kcal/mol) menos estável do que a conformação anti. A Figura 3.7 ilustra as relações da energia potencial entre as diversas conformações do butano. As conformações alternadas são mais estáveis do que as conformações eclipsadas. A qualquer momento, quase todas as moléculas existem em conformações alternadas e estão mais presentes na conformação anti do que na gauche. O ponto de máxima energia potencial fica cerca de 25 kJ/mol (6,1 kcal/mol) acima da conformação anti. A tensão total dessa estru- tura está dividida de modo mais ou menos igual entre a tensão torsional associada a três pares de ligações eclipsadas (12 kJ/mol; 2,9 kcal/mol) e a tensão van der Waals entre os grupos metílicos eclipsados. A estrutura existente no estado de transição também é chamada de estrutura de transição ou complexo ativado . Fr aç ão d e m ol éc ul as co m d et er m in ad a en er gi a Baixa temperatura (T1) Alta temperatura (T2) Ea Energia 3.2 Análise conformacional do butano 135 F i g U r A 3.5 Distribuição de energias. O número de moléculas com energia maior que Ea à temperatura T1 é mostrado como a área sombreada em verde mais escuro. A uma temperatura mais alta T2, a curva é mais baixa, e mais moléculas têm energias maiores do que Ea. 136 cAPÍtULo trÊS Alcanos e cicloalcanos: conformações e estereoisômeros cis-trans Desenhe um diagrama de energia potencial para a rotação ao redor da ligação carbono- -carbono no propano. Identifique cada máximo e mínimo da energia potencial com uma fórmula estrutural que mostre a conformação do propano naquele ponto. O seu diagrama se parece mais com o diagrama do etano ou o do butano? Você espera que a energia de ativação para a rotação da ligação do propano seja maior ou menor que a do etano? E a do butano? ProBLEmA 3.3 CH3 CH3 H H H H CH3 CH3 H H H H Conformação gauche Conformação anti E ne rg ia p ot en ci al , k ca l/m ol 3 kJ/mol 6 5 4 3 2 1 0 E ne rg ia p ot en ci al , k ca l/m ol 25 20 15 10 5 0 0 60 120 180 240 300 360 Ângulo de torção, º 14 kJ/mol F i g U r A 3.6 As conformações gauche e anti do butano, mostradas como modelos “bola e vareta” (esquerda) e como projeções de Newman (direita). A conformação gauche é menos estável do que a anti, por causa da tensão de van der Waals entre os grupos metila. F i g U r A 3.7 Diagrama de energia potencial para a rotação ao redor da ligação carbono-carbono central do butano. 138 cAPÍtULo trÊS Alcanos e cicloalcanos: conformações e estereoisômeros cis-trans Pentano Hexano 3.3 conformações dos alcanos superiores Os alcanos superiores com cadeias de carbono não ramificadas são, assim como o butano, mais estáveis em suas conformações totalmente anti. A diferença de energia entre as confor- mações gauche e anti é semelhante à do butano, e quantidades apreciáveis de conformações anti estão presentes nos alcanos líquidos a 25 °C. Para representar as conformações dos alca- nos superiores, quase sempre é mais útil olhar para elas lateralmente do que de frente, como em uma projeção de Newman. Vistas sob essa perspectiva, as conformações mais estáveis do pentano e do hexano têm suas "espinhas dorsais" de carbonos dispostas em forma de zigueza- gue, como mostra a Figura 3.9. Todas as ligações são alternadas e as cadeias se caracterizam por arranjos anti das unidades COCOCOC. 3.4 As formas dos cicloalcanos: planares ou não planares? Durante o século XIX, acreditava-se incorretamente, como veremos em breve, que os anéis dos cicloalcanos eram planares. Um dos principais defensores dessa visão foi o químico alemão Adolf von Baeyer. Ele observou que os compostos que continham anéis que não se baseavam no ciclopentano e no ciclo-hexano raramente eram encontrados na natureza e eram difíceis de sintetizar. Baeyer ligou as duas observações à estabilidade do cicloalcano, a qual,segundo ele, estava relacionada à proximidade entre os ângulos dos anéis planares e o valor tetraédrico de 109,5°. Por exemplo, o ângulo de ligação de 60° do ciclopropano e o ângulo de ligação de 90° de um anel planar do ciclobutano são muito menores que o ângulo tetraédrico de 109,5°. Baeyer sugeriu que os anéis de três e quatro membros sofrem daquilo que agora chamamos de tensão angular. Tensão angular é a tensão que uma molécula sofre porque um ou mais de seus ângulos de ligação se desviam do valor ideal; no caso dos alcanos, o valor ideal é 109,5°. De acordo com Baeyer, o ciclopentano deve ser o mais estável de todos os cicloalcanos, porque os ângulos de 108º dos anéis de um pentágono estão mais próximos do ângulo tetraédri- co do que os ângulos de qualquer outro cicloalcano. Uma das previsões da teoria das tensões de Baeyer é a de que os cicloalcanos que estão além do ciclopentano devem sofrer cada vez mais tensão e, portanto, ser menos estáveis. Os ângulos de um hexágono regular são de 120° e os ângulos dos polígonos maiores desviam-se cada vez mais do ângulo tetraédrico ideal. Os problemas da teoria das tensões de Baeyer ficam aparentes quando usamos os calores de combustão (Tabela 3.1) para testar as energias relativas dos cicloalcanos. A coluna mais importante da tabela é o calor de combustão por grupo metileno (CH2). Como todos os ci- cloalcanos têm fórmulas moleculares do tipo CnH2n, a divisão do calor de combustão por n permite a comparação direta entre o tamanho do anel e a energia potencial. O ciclopropano tem o mais alto calor de combustão por grupo metileno, o que é consistente com a ideia de que sua energia potencial é aumentada pela tensão angular. O ciclobutano tem uma tensão angular menor em cada um de seus átomos de carbono e calor de combustão menor por grupo metileno. O ciclopentano, como esperado, tem um valor mais baixo ainda. Observe, porém, que, ao contrário da previsão da teoria das tensões de Baeyer, o ciclo-hexano tem um calor de combustão menor por grupo metileno do que o ciclopentano. Se a tensão angular fosse maior no ciclo-hexano do que no ciclopentano, o contrário seria observado. Além disso, os calores de combustão por grupo metileno dos anéis muito grandes são quase todos semelhantes aos do ciclo-hexano. Em vez de aumentar por conta da tensão an- gular maior nos anéis grandes, o calor de combustão por grupo metileno permanece cons- tante em aproximadamente 653 kJ/mol (156 kcal/mol), que é o valor citado na Seção 2.18 Embora seja mais conhecido por sua teoria incorreta de que os cicloalcanos são planares, Baeyer foi responsável por notáveis avanços na química dos corantes orgânicos, como o índigo, e recebeu em 1905 o Prêmio Nobel de química por esse trabalho. F i g U r A 3.9 Modelos de “bola e vareta” do pentano e do hexano em suas conformações totalmente anti (ziguezague). como a diferença entre os membros sucessivos de uma série homóloga de alcanos. Assim, concluímos que os ângulos de ligação dos cicloalcanos grandes não são muito diferentes dos ângulos de ligação dos alcanos propriamente ditos. A previsão da teoria das tensões de Baeyer de que a tensão angular aumenta de modo constante com o tamanho do anel é contes- tada pelos fatos experimentais. A teoria das tensões de Baeyer é útil na identificação da tensão angular como um efeito desestabilizador. Sua falha fundamental é assumir que os anéis dos cicloalcanos são planares. Com exceção do ciclopropano, os cicloalcanos são não planares. As Seções 3.5 a 3.13 des- crevem as formas dos cicloalcanos. Começaremos com o ciclopropano. 3.5 Anéis pequenos: ciclopropano e ciclobutano A análise conformacional é muito mais simples no ciclopropano do que em qualquer outro ci- cloalcano. Os três átomos de carbono do ciclopropano são, por necessidade geométrica, copla- nares, e a rotação em torno de suas ligações carbono-carbono é impossível. Você viu na Seção 3.4 como a tensão angular no ciclopropano leva a um calor de combustão extraordinariamente grande. Agora veremos o ciclopropano com mais detalhes para saber como nosso modelo de ligação de hibridização de orbitais pode ser adaptado às moléculas com geometria incomum. As ligações sp32sp3 fortes não são possíveis no caso do ciclopropano, porque os ângu- los de ligação de 60° do anel não permitem que os orbitais sejam alinhados adequadamente para produzir uma sobreposição efetiva (Figura 3.10). A sobreposição menos efetiva que ocor- re leva àquilo que os químicos chamam de ligações “curvadas” (“bent” bonds). A densidade eletrônica nas ligações carbono-carbono do ciclopropano não está ao longo do eixo internuclear, mas, sim, distribuída ao longo de um arco entre os dois átomos de carbono. As ligações do anel do ciclopropano são mais fracas do que as outras ligações carbono-carbono. Consistente à descrição de “ligação curvada” da Figura 3.10, a distância da ligação carbono-carbono do ciclopropano (151 pm) é ligeiramente mais curta que a do etano (153 pm) e a do ciclo-hexano (154 pm). Calor de combustão Calor de combustão por grupo de CH2 kJ/mol (kcal/mol) kJ/mol (kcal/mol)Cicloalcano Número de grupos de CH2 Ciclopropano 3 2 091 (499,8) 697 (166,6) Ciclobutano 4 2 721 (650,3) 681 (162,7) Ciclopentano 5 3 291 (786,6) 658 (157,3) Ciclo-hexano 6 3 920 (936,8) 653 (156,0) Ciclo-heptano 7 4 599 (1 099,2) 657 (157,0) Ciclo-octano 8 5 267 (1 258,8) 658 (157,3) Ciclononano 9 5 933 (1 418,0) 659 (157,5) Ciclodecano 10 6 587 (1 574,3) 659 (157,5) Cicloundecano 11 7 237 (1 729,8) 658 (157,3) Ciclododecano 12 7 845 (1 875,1) 654 (156,3) Ciclotetradecano 14 9 139 (2 184,2) 653 (156,0) Ciclo-hexadecano 16 10 466 (2 501,4) 654 (156,3) TABELA 3.1 Calores de combustão (– ∆H °) dos cicloalcanos C C (a) C H H H H H H (b) 3.5 Anéis pequenos: ciclopropano e ciclobutano 139 F i g U r A 3.10 “Ligações curvadas” do ciclopropano. (a) Os orbitais envolvidos na formação da ligação carbono-carbono sobrepõem-se em uma região que é deslocada do eixo internucelar. (b) As três áreas de maior potencial eletrostático negativo (em vermelho) correspondem àquelas previstas na descrição da ligação curvada. DICA DO PROFESSOR Dentre todos os cicloalcanos estudados, o que apresenta maior destaque é o cicloexano. Esses co mpostos são anéis de seis membros cuja conformação mais estável é a que se assemelha a uma c adeira. Essa conformação pode sofrer o que chamamos de inversão, fazendo com que os carbon os migrem e mudem sua posição. Nesta Dica do Professor, veremos quais fatores governam a conformação preferencial nesses co mpostos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. EXERCÍCIOS Isômeros são substâncias químicas diferentes que apresentam propriedades físicas e q uímicas diferentes, mas que possuem a mesma fórmula molecular. Sabendo disso, obse rve os pares de dimetilcicloexanos abaixo: 1) Levando em consideração os dois confôrmeros em cadeira de cada molécula, é correto afirmar que o isômero mais estável de cada par é: A) a) cis, b) cis, c) cis. B) a) trans, b) trans, c) trans. C) a) trans, b) cis, c) cis. D) a) cis, b) trans, c) cis. E) a) trans, b) cis, c) trans. Em um isômero cis os grupos ligantes iguais ficam do mesmo lado do plano espacial en quanto que em um isômero trans os grupos ligantes iguais ficam de lados opostos do pl ano espacial. Diante disso, observe as estruturas abaixo e indique a posição (axial/equa 2) torial) das metilas e indique se o composto é cis ou trans: A) (I) As duas Axiais/ CIS (II) As duas Equatoriais/ TRANS (III) As duas equatoriais/ TRAN S e (IV) Duas axiais/ CIS B) (I) As duas equatoriais/ CIS (II) As duas axiais/ TRANS (III) As duas axiais/ TRANS e (I V) Uma axial e uma equatorial/ CIS C) (I) As duas Axiais/ CIS(II) As duas Equatoriais/ TRANS (III) As duas equatoriais/ CIS e ( IV) Uma Axial e uma equatorial/ CIS D) (I) As duas Axiais/ TRANS (II) Uma Axial e uma equatorial/ TRANS (III) Uma Axial e u ma equatorial/ CIS e (IV) Uma Axial e uma equatorial/ CIS E) (I) As duas Axiais/ TRANS (II) As duas Equatoriais/ TRANS (III) Uma Axial e uma equat orial/ CIS e (IV) As duas axiais/ CIS Em um isômero cis os grupos ligantes iguais ficam do mesmo lado do plano espacial en quanto que em um isômero trans os grupos ligantes iguais ficam de lados opostos do pl ano espacial. Diante disso, observe as estruturas abaixo e indique a posição (axial/equa torial) das metilas e indique se o composto é cis ou trans: 3) A) (I) As duas Axiais/ CIS (II) As duas Equatoriais/ TRANS (III) As duas equatoriais/ TRA NS e (IV) Duas axiais/ CIS B) (I) As duas Axiais/ TRANS (II) As duas Equatoriais/ TRANS (III) Uma Axial e uma equat orial/ CIS e (IV) As duas axiais/ CIS C) (I) As duas Axiais/ TRANS (II) Uma Axial e uma equatorial/ TRANS (III) Uma Axial e u ma equatorial/ CIS e (IV) Uma Axial e uma equatorial/ CIS D) (I) As duas Axiais/ CIS (II) As duas Equatoriais/ TRANS (III) As duas equatoriais/ CIS e ( IV) Uma Axial e uma equatorial/ CIS E) (I) As duas equatoriais/ CIS (II) As duas axiais/ TRANS (III) As duas axiais/ TRANS e (I V) Uma axial e uma equatorial/ CIS A projeção de Newman pode ser descrita como a análise ortogonal entre dois carbonos 4) que se ligam, isto é, indica o que um observador veria se olhasse para a molécula no se ntido de uma das ligações carbono-carbono. A análise através da projeção de Newman permite analisar de maneira mais intuitiva os efeitos estéricos sobre cada um dos conf ôrmeros. Sabendo disso, analise a molécula abaixo: Qual das alternativas abaixo apresenta a projeção de Newman de seu confôrmero mai s estável? A projeção de Newman mostrada na figura a seguir, com bromo e metila equatoriais. A) B) A projeção de Newman mostrada na figura a seguir, com bromo e metila axiais. A projeção de Newman mostrada na figura a seguir, com bromo e metila axiais. C) D) A projeção de Newman mostrada na figura a seguir, com bromo e metila equatoriais. Os iodos alternados e um deles em gauche com a metila, conforme figura abaixo. E) 5) Os cicloalcanos são hidrocarbonetos cíclicos que possuem pelo menos uma cadeia car bônica fechada. A fórmula geral dos cicloalcanos simples é CnH2n e A geometria e es tabilidade dos cicloalcanos varia conforme o número de carbonos do anel. Marque V para verdadeiro e F para falso sobre as afirmações acerca da geometria e estabilidade de cicloalcanos e alcanos: ( ) Em um alcano aberto, uma interação do tipo gauche é mais desfavorável do que u ma interação de eclipsamento. ( ) O ciclopropano é o único cicloalcano planar. ( ) Em um alcano aberto, sempre que possível substituintes volumosos em carbonos vi zinhos devem ficar em uma conformação anti. Assinale a alternativa que contém a ordem correta de preenchimento das lacunas, de cima para baixo: A) F, V, F B) V, V, F C) F, F, V D) V, F, F E) F, V, V NA PRÁTICA Os carboidratos são biomoléculas cuja principal função é fornecer energia aos seres vivos, sendo um dos mais importantes nutrientes da célula. Neste sentido, a glicose é um monossacarídeo e é um dos carboidratos mais importantes na biologia. Ela é obtida por meio da alimentação e sua c oncentração no sangue é regulada pelos hormônios insulina e o glucagon. A partir dos conhecim entos que envolvem a análise conformacional, é possível compreender e entender a estrutura e e stabilidade da β-D-glicose, na qual o grupo mais volumoso encontra-se em posição equatorial. Neste Na Prática, você verá a importância da análise conformacional para a elucidação de carboi dratos. Mais especificadamente, estudará mais sobre a β-D-glicose, o carboidrato mais importan te para o bom funcionamento dos seres vivos.
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