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Tiago Reis – Med UFMA-ITZ T8 Metabolismo da Bilirrubina Formação e Transporte Quando as hemácias envelhecem (média de 120 dias), tornando-se frágeis, elas acabam sendo sequestradas e destruídas na polpa vermelha do baço. A hemoglobina liberada é fagocitada pelos macrófagos esplênicos e de outros órgãos (chamados em conjunto de sistema reticuloendotelial). A Hb é então dividida em globina e heme. Este ultimo é clivado, fornecendo dois produtos principais: • Ferro livre, que é transportado no sangue pela transferrina ou incorporado à ferrina dos macrófagos; • Protoporfirina, que serve de substrato para a formação de bilirrubina. Cerca de 85% da bilirrubina formada é proveniente da Hb, sendo o restante derivado de outras proteínas que contêm heme, como, por exemplo, o citocromo P450 e a mioglobina. A primeira substancia formada a partir da protoporfina é a biliverdina, que logo é reduzida à bilirrubina livre insolúvel, que é liberada dos macrófagos para o plasma. A bilirrubina se combina com a albumina plasmática, sendo transportada pela corrente sanguínea. A bilirrubina ligada à albumina é camada de bilirrubina indireta ou não conjugada. Metabolismo Hepático O hepatócito desempenha um papel primordial no metabolismo da bilirrubina, e três fases básicas são reconhecidas: Captação, Conjugação e Excreção. Dessas etapas, a excreção parece ser a que limita a velocidade do processo, e é a mais suscetível quando ocorre dano na célula hepática. Captação: A bilirrubina não conjugada ligada à albumina chega ao hepatócito e se dissocia, penetrando a célula e ligando-se a proteínas citoplasmáticas. Conjugação: A bilirrubina insolúvel precisa ser convertida em um derivado hidrossolúvel, para que possa ser excretada do hepatócito pela bile. No citoplasma do hepatócito, a bilirrubina é conjugada com o carboidrato glucoronídeo, através da enzima glucoronil-transferase. Uma vez conjugada ao glucoronídeo, a bilirrubina passa a ser chamada de bilirrubina direto ou conjugada. Excreção para a Bile: Saída da bilirrubina dos hepatócitos para os canalículos biliares. Processo que depende de ATP. Por isso, constitui a etapa limitante do metabolismo da bilirrubina, e é a primeira afetada por distúrbio do hepatócito. Qualquer alteração desta etapa significa acúmulo de bilirrubina direta no hepatócito, que então “regurgita” de volta para o plasma. Fase Intestinal A Bilirrubina Direta (BD) excretada pelo hepatócito ganha os canalículos, ductulos e ductos biliares, juntamente com outros componentes da bile. A bile é secretada e armazenada na vesícula biliar. O destino da bile é ser eliminada na luz do duodeno, pela papila de Vater. Uma vez no intestino grosso, cerca de 50% da bilirrubina conjugada é convertida em urobilinogênio (altamente hidrossolúvel) pelas bactérias intestinais no cólon ascendente. Uma pequena parte do urobilinogênio é reabsorvida pela mucosa intestinal de volta ao fígado e corrente circulatória de onde é excretada pelos rins através da urina em quantidade que não excede 4 mg/dia. Após exposição da urina ao ar, o urobilinogênio se oxida em urobilina, enquanto nas fezes, após oxidação, transforma-se em estercobilina, contribuindo para as colorações características da urina e das fezes. OBS: parte do urobilinogênio que chega ao fígado é excretado novamente na bile. Nas situações em que a excreção hepática está aumentada, como na produção exagerada de bilirrubina (hemólise), os níveis de urobilinogênio urinários podem subir muito, tornando a urina um pouco mais escura (não tanto como na bilirrubinúria!). Nas situações em que a secreção hepatobiliar estiver reduzida (hepatite, colestase), ou quando a flora bacteriana estiver suprimida (uso de antibióticos), os níveis de urobilinogênio fecais tendem a estar baixos, e as fezes tendem a ficar claras (hipocolia ou acolia fecal). Excreção Renal Em condições normais, a bilirrubina não é detectável na urina por métodos convencionais. A BI, em virtude de estar fortemente ligada à albumina (e também por ser insolúvel em água), não é filtrada pelo glomérulo normal. Já a BD, nas condições em que circula no sangue, é filtrada no glomérulo e acaba aparecendo na urina. Portanto, a hiperbilirrubinemia direta acarreta bilirrubinúria... É interessante a capacidade dos sais biliares aumentarem a filtração renal de BD. Na síndrome colestática (incapacidade de drenar a bile recém--produzida), o elevado nível plasmático de ácidos biliares facilita a excreção de BD pelos rins, provocando intensa bilirrubinúria, quando a urina adquire “cor de Coca-Cola” (colúria). Tiago Reis – Med UFMA-ITZ T8 Icterícia Icterícia é a pigmentação amarelada da pele, da esclerótica e do frênulo da língua pela bilirrubina, resultante de níveis elevados desta na circulação sistêmica. A esclerótica é o local onde mais comumente se identifica um quadro de icterícia. A pigmentação desta estrutura é atribuída à sua riqueza em elastina, que possui especial afinidade pela bilirrubina. A icterícia deve ser distinguida de outras causas de pigmentação amarela, como a hipercarotenemia, que se deve à existência de pigmentos carotenoides na corrente sanguínea, estando associada à coloração amarela da pele, mas não das escleróticas! Classificação Os distúrbios do metabolismo da bilirrubina podem ocorrer através de cinco mecanismos básicos. A doença hepatocelular (hepatite, hepatotoxicidade) interfere com as principais fases do metabolismo da bilirrubina: captação, conjugação e excreção. Entretanto, como a excreção a fase que limita a velocidade do processo, representa em geral o principal distúrbio, fazendo com que a icterícia da hepatite e da hepatotoxicidade seja mista, mas predominantemente à custa de BD. Síndrome de Gilbert Distúrbio hereditário do metabolismo da bilirrubina mais frequente (7% da população caucasiana). Predomina no sexo masculino (3:1) e resulta de uma leve deficiência da enzima que realiza a conjugação da BI dentro do hepatócito (deficiência na glucoronil-transferase). Comporta-se de forma benigna, sem complicações, embora seja crônica, caracterizando-se por hiperbilirrubinemia indireta leve e persistente. Depois da hemólise, a síndrome de Gilbert é a principal causa de hiperbilirrubinemia não conjugada. Colestase (Síndrome Colestática) Colestase é o acumulo de bilirrubina direta e outros componentes da bile (ác. Biliares, colesterol) por um problema existente na drenagem biliar intra ou extra-hepático. A lesão hepatocelular (ex: hepatite) pode causar colestase intra-hepática por meio do bloqueio da excreção de BD pelos hepatócitos. A histopatologia demonstra acúmulo de pigmento biliar nos hepatócitos e células de Kupffer. Nos casos de doença do sistema de drenagem biliar intra ou extra-hepático, observa-se dilatação dos canalículos biliares entre os hepatócitos, edema e degeneração hepatocitária (por efeito detergente dos ácidos biliares), apoptose e alterações nos espaços-porta (proliferação de dúctulos biliares, edema, infiltrado neutrofílico). Clinicamente, o paciente apresenta icterícia (forte predomínio da BD) e o restante da síndrome colestática: além da icterícia, colúria, acolia fecal, prurido. O prurido tem fisiopatogênese desconhecida, e parece estar relacionado a um aumento no tônus opioidoérgico (tanto que melhora com a administração de um antagonista dos receptores opioides, o naloxone). Laboratorialmente, as enzimas presentes na superfície dos canalículos e dúctulos biliares se elevam na corrente sanguínea, pelo efeito detergente dos ácidos biliares. São elas: fosfatase alcalina e gama-GT (gama-glutamil- transpeptidase). Tiago Reis – Med UFMA-ITZ T8 Colestase Intra-hepática: Incluem as condições em que o hepatócito é incapaz de excretar a bile (hepatite), e aqueles em que há algum problema com a drenagem da bile pela arvore biliar dentro do próprio parênquima hepático. • Hepatite viral (especialmente a hepatite A aguda); • Hepatite tóxicae medicamentosa (principalmente fenotiazinas e estrogênios); • Doenças infiltrativas do fígado; • Cirrose biliar primária (uma doença autoimune dos dúctulos biliares). Colestase Extra-hepática Ocorre por obstrução de alguma grande via biliar (principalmente o colédoco). As principais causas de obstrução são os cálculos e as neoplasias. A colangite esclerosante é uma doença autoimune que leva a estenoses múltiplas no sistema biliar extra e intra-hepático. Na síndrome de lesão hepatocelular (hepatite aguda), encontramos grande aumento das transaminases (5-20x) e pouco aumento da fosfatase alcalina e da gama-GT. Já na síndrome de colestase (coledocolitíase, por exemplo) encontramos exatamente o inverso: pouco ou nenhum aumento das transaminases (2-3x) e grande aumento da fosfatase alcalina e da gama-GT. Dentre as “provas de função hepática”, destacam-se a albumina e o tempo de protrombina (TAP). Estas medem o poder de síntese dos hepatócitos; quando gravemente disfuncionantes, sintetizam menos albumina (hipoalbuminemia) e menos fatores da coagulação (TAP alargado). REFERÊNCIAS: Medcurso 2018
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